Capítulo 4
O que ele disse naquele dia.
Tradução: Tinky Winky
“Quero dizer, há algo estranho sobre ele, certo?” Kuzaku perguntou. “Esse cara Kejiman. Estou certo disso.”
Mesmo depois que as luzes foram apagadas e a sala ficou completamente escura, Kuzaku e Haruhiro ainda estavam falando sobre coisas que não importavam. Ou melhor, Kuzaku estava basicamente falando, e Haruhiro estava apenas balançando a cabeça. Afinal, ele estava muito cansado.
“Bem, sim”, disse Haruhiro.
“Mas, bem, então, novamente, se ele não fosse um pouco estranho, eu pensaria que algo estava acontecendo.”
“Você tem um ponto.”
“Não parece que ele é totalmente ignorante. Mais como se eu estivesse um pouco fora disso.”
“Sim,” Haruhiro disse.
“Mas ei, ele pode estar fingindo. Tipo, nós poderíamos ter um rapito jogado em nós aqui.”
“Você tem que ter cuidado, hein?”
“Eu vou deixar você lidar com essa parte, Haruhiro. Quanto a mim, bem, você sabe.”
“Sim.”
“Zzz…”
“Está vindo?”
“Zzzzzzzzzzz…”
“Cara, você com certeza adormece rapidamente…”
Eu não me importo, realmente. Haruhiro se virou na cama.
A janela ainda estava aberta. Havia uma leve brisa. Ele ainda estava um pouco quente, então ele só tinha um cobertor fino sobre ele até a barriga.
A realidade da riqueza não tinha realmente batido nele quando ele estava no navio, mas agora que eles estavam hospedados em uma pousada como esta, ele se sentia como um homem rico, e isso o deixava inquieto.
Mil de ouro. Eles estavam escondidos debaixo da cama agora. O que você deve fazer sobre isso? Se eles o levassem com eles, ele temia que fosse roubado, ou talvez pessoas estranhas se reunissem ao redor deles.
Isso não era muito bom do ponto de vista da saúde mental, então ele só queria explodir tudo em algo, mas isso não era algo que Haruhiro deveria decidir por si mesmo. Além disso, havia uma maneira adequada de gastá-lo?
Por exemplo, mesmo se Kuzaku recebesse um conjunto completo de armadura sob medida, não custaria nem cem de ouro. Com mil ouros, eles poderiam comprar uma casa e ter dinheiro de sobra. Eles provavelmente poderiam até comprar um navio.
Dito isso, casas e barcos não serviam para soldados voluntários. Eles não podiam lidar com essas coisas sozinhos, e era estúpido apenas pagar manutenção para sempre.
“…Podemos desistir. Não é como se não fosse uma opção,” ele se atreveu a sussurrar para si mesmo.
Kuzaku estava respirando suavemente em seu sono.
Afinal, eles tinham mil ouros. Mesmo se eles deixassem de fora a parte de Yume e a dividissem em 6 partes, seriam cento e sessenta e seis de ouro cada. Ele não sabia se isso era suficiente para viver pelo resto de suas vidas, mas se eles não fossem estúpidos com dinheiro, eles poderiam viver confortavelmente por dez ou vinte anos.
Dez a vinte anos pode ser muito tempo, mas relaxar por um ano ou dois não seria uma coisa ruim. Por que ninguém sugeriu isso?
Eles haviam prometido encontrar Yume em meio ano em Altana. Dito isto, não havia nada que dissesse que eles deveriam permanecer ativos como soldados voluntários durante esse período.
Eles iriam para Altana. Reencontrar Yume em meio ano. Fora isso, eles eram livres. Eles poderiam desfrutar de um longo descanso.
Se eles fossem se aposentar como soldados voluntários, isso seria um grande alívio, então pode ser uma boa ideia fugir e fazer outra coisa por um tempo. No entanto, nenhum deles, incluindo Haruhiro, parecia estar considerando isso.
Sim, Haruhiro também não. Ele estava analisando todas as possibilidades em sua cabeça para ter certeza. Eles provavelmente ainda estavam trabalhando duro no negócio de soldados voluntários, assim como estavam todo esse tempo.
Mas por quanto tempo eles poderiam manter?
Se bem me lembro, Akira-san dos Day Breakers estava na casa dos quarenta. Ele tinha sido um soldado voluntário por mais de vinte anos. Duas décadas.
Quantos anos se passaram desde que a mulher chamada Hiyomu trouxe Haruhiro e os outros para o Escritório do Corpo de Soldados Voluntários? Cinco? Seis? Parecia que tinha sido eras antes, mas na realidade tinha sido menos de dois anos. A ideia de fazer isso por vinte anos era incompreensível.
Mais dezoito anos disso, hein?
Honestamente, ele não conseguia se ver sobrevivendo. Qual foi a taxa de sobrevivência dos soldados voluntários? Não poderia ser muito alto. Haruhiro esteve em situações suficientes em que poderia facilmente ter morrido.
O suficiente? Não. Mais do que suficiente.
Tendo estado à beira da vida e da morte muitas vezes, ele desenvolveu a capacidade de evitar o perigo. Ele esperava que fosse verdade, mas Haruhiro acabara de ter um encontro com a morte recentemente.
Naturalmente, ele não estava se arriscando pela emoção disso, e estava sendo o mais cauteloso que podia, mas continuou acontecendo.
De vez em quando, ele pensava nisso. Eventualmente, em um futuro não muito distante, ele provavelmente iria morrer.
Eu posso morrer. Ele poderia notar um dia que, como Akira-san, ele tinha sido um soldado por vinte anos, mas era muito mais provável que algo assim não acontecesse.
Não era como se ele quisesse morrer jovem. Então, se ele ia viver uma vida longa, ele tinha que parar na hora certa.
Akira-san não era um gênio. Isso foi o que seu camarada Gogh disse sobre ele. Ele não era um gênio. Akira-san sobreviveu.
Tendo tido a sorte de sobreviver, Akira-san teve tempo. E assim, ele se tornou forte.
Ele não sobreviveu porque ficou mais forte. Ele tinha ficado mais forte porque tinha sobrevivido.
“Mas eles podem dizer o que quiserem,” Haruhiro murmurou. “Quero dizer, é tudo coisa que eles estão inventando depois do fato.”
Mesmo assumindo que Haruhiro sobreviveu, ele poderia ficar mais forte como Akira-san? Pelo que ele sabia, Haruhiro levou as coisas a sério, pairando à beira da morte todo esse tempo. As pessoas não eram as mesmas. Realmente havia coisas como potencial inato, talento e os limites das habilidades de uma pessoa. Olhando para o quadro todo, Akira-san era claramente extraordinário, enquanto Haruhiro era normal.
Talvez mesmo uma pessoa medíocre como ele pudesse, com um excesso de sorte, sobreviver vinte anos como soldado voluntário. Bem, pelo menos ele não podia descartar a possibilidade. Mas quanto a se tornar um lendário soldado voluntário como Akira-san, isso nunca aconteceria. De maneira nenhuma.
Mas, para Haruhiro, isso não era o importante.
Haruhiro não queria ficar rico ou famoso. Ele não discordaria se alguém lhe dissesse que ele poderia lidar com ser ganancioso ou ter mais ambição, mas ele não iria colocar muito esforço nessas coisas. Se eles nunca chegassem perto dele, tudo bem.
O problema era que, mesmo que Haruhiro sobrevivesse, seus companheiros poderiam morrer. Amanhã, Kuzaku, que acabara de começar a roncar na cama ao lado dele, seria capaz de dar seu último suspiro e se transformar em um corpo frio e morto.
Haruhiro se levantou. A cama rangeu um pouco. Kuzaku estava dormindo profundamente.
Haruhiro calçou os sapatos, levantou-se da cama e saiu silenciosamente do quarto.
As luzes estavam apagadas no corredor. Parecia que ainda havia lâmpadas acesas na escada, e a luz estava brilhando dessa maneira.
O lugar onde eles estavam hospedados, o Golden Goat Fish Inn, era um prédio de quatro andares. Do segundo ao quarto andar eram todos quartos. Os quartos do segundo andar eram quartos quádruplos, este terceiro andar era para quartos duplos, e o quarto andar tinha quartos grandes com vários quartos menores dentro.
Ao contrário de Altana, Vele tinha muitos prédios de quatro e cinco andares.
Haruhiro desceu as escadas para o segundo andar. Sem querer, ele olhou para a porta do quarto onde as meninas estavam hospedadas. Todo mundo já estava dormindo? Ou elas estavam acordadas e conversando?
Shihoru e Mary eram boas juntas, mas como adicionar Setora lá mudou o clima? Shihoru e Mary eram os tipos quietas, então era difícil imaginar que havia uma conversa alta acontecendo.
“Se Yume estivesse por perto…” ele murmurou.
Haruhiro passou pelo banheiro feminino sem fazer barulho, abrindo a porta no entroncamento no final do corredor. Havia um deck de madeira além. Ele teve uma premonição em algum lugar em sua cabeça que talvez alguém pudesse estar lá, mas não havia ninguém.
“Por que estou tendo tantas esperanças?” Ele riu um pouco para si mesmo enquanto se segurava no corrimão. Então ele soltou um suspiro.
O Golden Goat Fish Inn (Pousada da Cabra Dourada) ficava em uma área tranquila e elegante, e ele podia ver as lanternas dos guardas patrulhando de lá. A segurança apertada era um dos pontos de venda das muitas pousadas e hotéis da região. Não eram apenas os objetos neles; a segurança também tinha de ser comprada com dinheiro ou assegurada pelos próprios meios.
Haruhiro apoiou os cotovelos na grade e o rosto nas mãos. Em uma cidade tão grande, tinha que haver um bom número de ladrões profissionais. Também pode haver assaltos à mão armada e assassinatos. Alguém poderia ser morto, e não seria surpreendente se, neste exato momento, uma ou duas pessoas estivessem prestes a morrer de doença também.
E ainda por cima, mesmo que você se defendesse adequadamente e tentasse cuidar bem da sua saúde, não haveria resposta contra um desastre natural que ninguém esperava.
Mesmo que não fossem soldados voluntários, morreriam quando chegasse a hora. Isso era verdade, mas nesse comércio, eles poderiam ganhar dinheiro suficiente para compensar o número de vidas que seriam encurtadas.
Nenhum soldado voluntário queria morrer, mas eles sabiam que tinham que correr riscos de morte.
Eventualmente, Haruhiro ficaria entorpecido. Não, ele já era bastante insensível.
Pensando nisso, quando ele começou como soldado voluntário em treinamento, ele era muito mais tímido do que era agora. Até mesmo um goblin de lama desarmado era insuportavelmente aterrorizante para ele.
“Há vidas em jogo aqui!” Manato um dia gritou.
Aquelas palavras… Haruhiro as havia esquecido completamente. Vidas estavam em jogo em ambos os lados no negócio chamado soldados voluntários. Estava cheio de desafios que não poderiam ter riscos mais sérios.
“Não tem como ser fácil… uh…” ele murmurou.
Nenhuma pessoa, nenhum ser vivo, quer morrer, Manato dissera. Então, mesmo que ele não quisesse, Manato morreu antes do resto de seus companheiros. Foi aí que tudo começou para Haruhiro e os outros.
Quão longe eles tinham vindo deste lugar que agora parecia tão distante?
“Não, não é isso…” ele murmurou.
Eles não tinham realmente progredido.
Eles tinham apenas uma vida, e se morressem, tudo estaria acabado. Ele não mudaria esse princípio por nada.
Não haveria mudanças, então mesmo que eles melhorassem suas habilidades ou enfrentassem oponentes mais desafiadores, era essencialmente o mesmo. Eram criaturas que não queriam morrer matando outras criaturas que não queriam morrer, alimentando-se delas, lucrando e passando pelas alegrias e tristezas da vida.
Se isso parecia pecaminoso, ele já havia desistido e aceitado.
Ele não estava interessado em pisar naqueles que havia matado e se deleitar com o resplendor da morte, mas não achava que fosse uma pessoa tão boa para não fazê-lo.
Ele roubou a única vida de uma criatura, sem ser torturado por qualquer sentimento de culpa ou responsabilidade, e mesmo que devesse deixar um gosto ruim, ele nem sentia mais.
Bem, é o mesmo para nós. Colocamos nossas vidas em risco e simplesmente vencemos. Se perdermos, morremos. As condições são as mesmas, então eventualmente estaremos do outro lado.
Ele pode pensar algo egoísta como: cada um de nós só tem uma vida, então não guarde rancor contra nós.
“Mas…” Haruhiro pressionou a cabeça contra a grade.
Mas e se isso não fosse verdade?
Fim do capítulo…
