Capítulo 5

Uma Condição para Você (Parte 2)

— E-Er… Que bom? Devo ficar feliz com isso?

— Você é diferente dos homens da vila. Há algo de fresco em você.

— …É mesmo?

— Haru — disse Mary com um tom ríspido, então percebeu que estava agindo irritada. — Por que está sorrindo?

— Não estou sorrindo?! Tipo, não é hora pra isso, né?!

— É mesmo? — Mary desviou o olhar. — Por algum motivo, parecia que você estava um pouco feliz.

— Não estou feliz, não!

— A propósito, Haruhiro — disse Setora.

— Sim?! O-O que foi…? Erm, Setora-san, p-poderia me soltar… por favor?

— Acha que está em posição de me pedir favores? — perguntou Setora friamente.

— Eu diria que isso é uma coisa, mas essa é outra.

— Um argumento justo.

— Eu sabia, né…?

— Mas isso não significa necessariamente que eu vá aceitar. Talvez você não saiba, mas eu era conhecida por ser uma pessoa difícil, mesmo na vila.

— Ah, dá pra perceber! P-Por favor, me solte! — Haruhiro se desvencilhou do aperto de Setora e se levantou. — Foi uma promessa, então eu vou te dar meu olho esquerdo quando você quiser! Mas não te devo mais nada!

— Oh-ho — disse Setora, arregalando os olhos de forma exagerada. — Em outras palavras, você não precisa mais da minha ajuda? Nesse caso, mandarei todos os meus nyaas recuarem agora mesmo. E também pegarei seu olho esquerdo agora. Se nos separarmos aqui, talvez nunca mais nos encontremos.

Haruhiro abaixou a cabeça.

— Isso seria…

Um problema. Mary não queria admitir, mas precisava.

A verdade era que Haruhiro e Mary estavam apenas esperando que seus companheiros aparecessem. Tinham quebrado a cabeça pensando no que fazer, se deveriam tentar isso ou aquilo, mas no fim não havia mais nada a fazer. Não havia movimentos que pudessem realizar.

— Embora eu não possa fazer imediatamente… — Setora dobrou os joelhos e olhou para o rosto de Haruhiro de baixo. — Se eu mandar meus nyaas se concentrarem em encontrar seus companheiros, tenho certeza de que conseguiriam. Meus nyaas conhecem esta área melhor do que eu mesma. E vocês? Se estão familiarizados com o terreno, talvez não precisem da minha ajuda? Eu prevejo que amanhã será um dia incomumente claro, então a visibilidade será boa. Há outros problemas que surgem em dias sem neblina no Vale dos Mil. O que farão? Procurar com todas as forças?

Essa mulher. Shuro Setora.

Ela parece gostar de Haruhiro, mas, apesar disso, está o provocando, fazendo-o sofrer e se divertindo com isso. Ela disse que era uma pessoa difícil, mas, na verdade, é apenas cruel.

Não deveria pensar isso depois de ela ter me salvado, e com esses nyas tão fofos, não quero pensar mal dela.

Mesmo assim, não consigo gostar dela. Talvez realmente a odeie.

Mesmo que Mary odiasse Setora, seria imaturo expulsá-la por causa disso, e, falando realisticamente, seria uma péssima ideia. Muito péssima. No entanto, será que Setora realmente os ajudaria só porque Mary abaixou a cabeça para ela? Difícil.

Haruhiro. Setora provavelmente estava se abaixando porque queria ver Haruhiro pedir sua ajuda. Mais que isso, ela queria que ele se submetesse. Queria que ele a obedecesse, não queria? E Haruhiro sabia o que precisava fazer como líder da party. Por Mary—por uma de suas companheiras—ele já havia sacrificado o olho esquerdo. Talvez até jogasse sua vida fora por ela.

— Setora-san. — Haruhiro se curvou, abaixando a cabeça quase até a altura dos joelhos. — …Por favor. Nos ajude a encontrar nossos companheiros.

— Muito bem. — Setora respondeu de forma altiva. E então acrescentou, tão rápido que mal deu tempo de reagir: — Mas tenho uma condição.

Eu já esperava por isso.

Que tipo de condição ela proporia? Mary apertou os dentes. Se Setora dissesse algo estranho, Mary gostaria de impedir Haruhiro, mas não podia. A menos que fosse algo realmente grave—não, mesmo que fosse—Haruhiro provavelmente aceitaria. Setora o tinha decifrado, então podia muito bem propor algo completamente absurdo.

— Qual é? — Haruhiro manteve a cabeça abaixada, olhando para Setora com os olhos erguidos. — A condição.

— Antes disso, tenho uma pergunta.

— Claro… Pode perguntar.

— Você e aquela mulher estão apaixonados?

— Hã?! — Haruhiro exclamou, e Mary disse: — O que você– — antes de ficar em silêncio, sem palavras.

— Não acho que seja uma pergunta que justifique tanta surpresa. — Setora arqueou as sobrancelhas, parecendo ofendida. — Vocês são companheiros, não são? Se duas pessoas que passam o tempo todo juntas desenvolvessem esse tipo de relação, não seria algo incomum. Na vila, as pessoas das casas inferiores geralmente se casam com quem são próximas e têm filhos. Além disso, Haruhiro, você estava disposto a morrer para salvar aquela mulher. Não seria normal pensar que vocês são mais do que simples companheiros?

— N-Não… — Haruhiro virou-se para Mary, desviou o olhar imediatamente e então balançou não só a cabeça, mas o corpo todo de um lado para o outro. — Não é isso, tá bom?! Não temos nada assim, somos apenas bons companheiros! Companheiros, certo?! T-Tá bom…?! Somos companheiros!

Setora fixou os olhos em Mary por algum motivo.

— Isso é verdade?

— Claro! — Mary prendeu a respiração e quase tossiu. — …Companheiros. É isso que Haru e eu somos. Nada mais, nada mais além disso.

— Há algum motivo para você ter dito “mais” duas vezes?

— N-Não?! N-Nós não somos nada além disso, nada a mais e nada a menos! É só isso!

— Entendo. — Setora assentiu levemente duas vezes. — Então não deve haver problema, Haruhiro.

— Q-Qual… é?

— Haru. — Quando Setora corrigiu a forma de chamá-lo, Mary sentiu uma fisgada na têmpora e uma leve dor.

O que foi isso? Ela está sendo íntima demais com ele.

De repente, Mary percebeu. Se isso fosse verdade, ela também estava sendo íntima demais ao chamá-lo de Haru.

Originalmente, quando tentou se aproximar de seus companheiros, havia pensado em mudar a forma como os chamava, como uma demonstração do tipo de relação que aspirava ter com eles. Debateu consigo mesma sobre o que fazer. Decidiu começar pelo líder, e a primeira opção inofensiva que lhe veio à mente foi adicionar um “kun” ao nome dele. Embora fosse fácil de se acostumar e ela até gostasse, “Haruhiro-kun” era um pouco longo. Usar “Haru-kun” acabaria se sobrepondo ao que Yume usava. Além disso, enquanto era fofo para uma garota como Yume chamá-lo de “Haru-kun”, não seria desconcertante se Mary fizesse o mesmo? Usar “san” seria estranho, ou pareceria formal demais. Nesse caso… que tal “Harupin”? Nem pensar. Não fazia sentido. “Harurin”, então? “Haruriron”? “Harumero”? Exagerar de vez e chamá-lo de “Haruharu”? “Haruchin”? Não, não, isso era claramente demais…

Depois de muito hesitar, escolheu o simples e prático “Haru”. Era seguro. Parecia funcionar. No entanto, na hora de realmente chamá-lo assim, hesitou.

Mary estava quase repensando sua decisão. No entanto, ao seguir o impulso e tentar chamá-lo daquela forma uma vez, tinha sido surpreendentemente aceitável. Pelo menos, foi assim que ela se sentiu. Mas talvez ela tivesse agido de forma excessivamente íntima?

Mas, deixando isso de lado, por que essa mulher havia começado a chamar Haruhiro de “Haru” de repente?

— Haru. — Setora o chamou assim novamente, esboçando um leve sorriso. — Até eu me cansar e dizer o contrário, você vai agir como se fosse meu amante. Essa é a condição.

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