Capítulo 9 (Parte 2)
Por quê?
— Dei ordens para não saírem de suas casas — explicou Jessie enquanto caminhavam. — Parece que estão obedecendo por enquanto. A propósito, os gumows com mantos verdes como o meu são diferentes. Eu os chamo de Esquadrão Ranger. São como minhas mãos e pernas, por assim dizer. São tão bons quanto os soldados voluntários de Altana.
A casa onde Haruhiro e Mary estavam ficava na extremidade da aldeia. Não havia mais construções ao redor por um bom tempo. Aquela estrada já estava no meio dos campos. Havia várias chamas à distância. Não pareciam grandes, mas aparentemente eram torres de vigia.
— Quantos são? — perguntou Haruhiro. — Hum… Desses rangers, quero dizer.
— Vinte e quatro — respondeu Jessie.
Jessie liderava o caminho, Haruhiro vinha logo atrás, e Shihoru e Mary caminhavam lado a lado, fechando o grupo.
To, to, to, to, to, to… To, to, to, to, to, to… To, to, to, to, to, to, to, to, to…
O som das batucadas não parava. Vinham de um lado, e do outro também.
— Algum dano? — perguntou Haruhiro.
— Não… — Jessie começou, mas balançou a cabeça. — Não tenho certeza. Ainda não.
Era culpa deles?
Haruhiro e os outros haviam trazido os guorellas para Jessie Land. Isso poderia ser verdade, mas Jessie também tinha sua parcela de responsabilidade. Ele poderia ter expulsado Haruhiro e os outros, ou matado todos. Não era claro o motivo, mas ele não fez isso. Este era o resultado. Então, podia-se dizer que ele havia causado isso a si mesmo.
Jessie entrou em uma trilha estreita. Havia uma pequena cabana adiante.
Na frente da cabana, alguém gritou alto: — Ahhh!
E começou a balançar uma tocha.
— É o Haru-kun! Shihoruuu! Mary-chan também!
— Yume! — gritou Haruhiro.
Além de Yume, havia outro gumow ranger de manto verde na cabana.
Jessie disse: — Este é Tuoki. — Então apresentou Haruhiro e os outros. O ranger de rosto púrpura acenou com a cabeça.
— Uh, olá… Eu sou Haruhiro.
— O Tuokin aqui é um cara bem capaz, sabia?! — Yume deu um tapa nas costas de Tuoki, fazendo-o tossir.
— Yume, você é amiga dele? — Haruhiro perguntou, surpreso.
— Meio que. Yume acabou de conhecê-lo, sabe? Mas talvez Yume e Tuokin estejam virando amigos. Né, Tuokin?
— Ha-Ah…
— Parece que ele tá meio confuso com isso… — comentou Shihoru.
Yume gritou: — Miauquê?! — Seus olhos se arregalaram, e ela girou para olhar bem para o rosto de Tuoki. — Tuokin, Yume tá te incomodando? É cedo demais pra chamá-la de amiga?
— …Wah.
— Yume… — Mary balançou a cabeça. — Ele provavelmente não entende você.
— Nuoh, então é isso! — Yume cutucou Jessie nas costelas. — Jessie, se for assim, interpreta o que Yume tá dizendo por um tempo!
— É… Não, não temos tempo pra isso… — respondeu Jessie.
— Funya! É verdade! Haru-kun, estamos numa baita ameixa aqui!
— Encrenca, você quis dizer. É encrenca, não ameixa…
Bem, honestamente, isso era só Yume sendo Yume, então talvez estivesse tudo bem como estava. Haruhiro realmente não tinha tempo para corrigir isso.
A cabana parecia ser um depósito ou um abrigo de descanso, mas havia uma escada do lado de fora da construção, com uma torre de vigia simples incorporada ao telhado. Jessie pediu que Tuoki e Haruhiro o acompanhassem e subiu até a torre de vigia.
Era apertado lá em cima. No máximo, caberiam quatro pessoas. A torre ficava só um pouco mais alta que um segundo andar, mas não havia obstáculos, então era possível enxergar uma grande distância.
Excluindo a torre onde estavam agora, havia um total de outras oito torres com algum tipo de fogo aceso. Elas pareciam posicionadas nos pontos cardeais e intercardeais: norte, sul, leste, oeste, nordeste, sudeste, noroeste e sudoeste.
— Aquela direção é o norte — disse Jessie, apontando e explicando.
Como Haruhiro imaginava, as torres estavam localizadas nas direções cardeais e intercardeais.
To, to, to, to, to, to, to, to…
Se ouvissem com atenção, havia batucadas de guorella vindo de três direções: norte, oeste e sudoeste.
— Isso é uma situação excepcional — disse Jessie, dando de ombros. — Em um bando de guorellas, só o macho dominante faz esses sons. Para ser preciso, não é que nunca aconteça, mas, se um macho que não seja o dominante o fizer, é visto como um desafio. Normalmente, as fêmeas e os jovens se aliam ao dominante, e o macho desafiador é esmagado.
— Ouvi o mesmo — Haruhiro assentiu.
— Daquela mulher da aldeia oculta? — perguntou Jessie.
— Você quer dizer Setora, né? Sim, é isso. Estávamos em Darunggar, um mundo diferente de Grimgar, e…
— Já ouvi o resumo disso pela Shihoru. A Montanha do Dragão de Fogo, né? Parece interessante. Vocês encontraram Unjo em Darunggar, pelo que ouvi?
— Ele é… alguém que você conhecia?
— Não. Não o conheço. Pelo menos não da minha parte.
— …Huh?
— Jessie! — Tuoki gritou. Ele estava olhando para o nordeste.
Olhando naquela direção, uma das fogueiras nas torres se apagou.
— Ah, droga — Jessie bufou. — Os barulhos eram uma distração? Impressionante.
Ele tinha razão, era impressionante. Os guorellas usaram as batucadas para demonstrar sua presença, dizendo: “Estamos aqui, e vamos atacar vocês agora.” Era intimidação. Enquanto faziam isso, se esgueiraram e atacaram por outra direção.
— Huh, não sei se esse é o momento para se impressionar — comentou Haruhiro.
— Justo. Tuoki.
Jessie deu alguma ordem a Tuoki. Ele assentiu e desceu a escada apressado. Provavelmente iria interceptar os guorellas que vinham do nordeste.
As sete fogueiras restantes permaneciam acesas. Os barulhos de batucadas continuavam.
— Não pode ser que aquele fosse o principal alvo deles… certo? — disse Haruhiro.
— Haruhiro, se fosse você no lugar deles, o que faria com a linha de frente? — perguntou Jessie, assentindo.
— Em vez de usar um ataque leve para nos conter, eu entraria o mais fundo possível. Isso mesmo, os mais jovens… Se eu fosse os guorellas, enviaria os machos jovens, cheios de vigor, para atacar.
— Concordo. Parece que vamos nos dar bem.
— Não tenho tanta certeza disso…
— Não pode simplesmente dizer que vamos nos dar bem, por enquanto?
— Não precisa me ameaçar. Farei o que puder. Mesmo que não fosse nossa intenção, acabamos trazendo os guorellas para cá, no fim das contas.
— São um bando bem inteligente — comentou Jessie. — Eles sabiam que vocês eventualmente iriam para uma aldeia humana, então os deixaram livres. Vocês mataram um redback. Aquele tamborilar… Devem haver vários redbacks. E um grande chefe liderando vários bandos.
— Onde está Kuzaku? — perguntou Haruhiro.
— O grandalhão? Acho que logo estará aqui. Pedi que o trouxessem.
— Setora e Enba?
— Pessoalmente, não confio em pessoas da aldeia oculta.
— Podemos usá-los — disse Haruhiro. — Kiichi também.
— É o nyaa, né? Vou considerar.
— Os aldeões que não são rangers… não sabem lutar?
— Nunca ensinei. São criaturas tão bondosas. Os rangers são os únicos que carregam armas. Acho que há uma faca ou algo do tipo em cada casa. Ferramentas agrícolas também.
— Que lugar é este? — perguntou Haruhiro.
— Jessie Land — respondeu Jessie, com um sorriso satisfeito que parecia completamente fora de lugar. — O campo principal do jogo que estou jogando.
— Jogo…?
Uma vez, Manato tinha deixado escapar essa palavra. Ele tinha dito que isso era como um jogo. No entanto, embora a palavra fosse a mesma, parecia diferente quando Jessie a dizia. Não, não um pouco, completamente diferente.
— Você parece distante, Haruhiro.
— …Eu pareço?
— Parece. Não importa a vida que levemos, no fim, é como um jogo. Você entende isso, não é?
— Você e eu talvez não nos demos bem.
— Não — disse Jessie. — Você só pensa assim porque ainda não sabe de nada. Se aprender, verá claramente o que quero dizer.
— Não importa o que eu aprenda, isso não vai mudar. Não é um jogo. Não estamos brincando.
Haruhiro não encarou Jessie com raiva. Suas emoções estavam à flor da pele. Parecia estar irritado. No entanto, mesmo que discutisse alto, não poderia provar que estava certo, e não queria realmente provar que Jessie estava errado ou convencê-lo.
Ainda assim, mesmo que não tivesse significado, sentia a necessidade de dizer isso.
Haruhiro respirou fundo.
— Se morrermos, acabou tudo, e perdemos tudo. Podemos nos sentir pequenos e insignificantes. Pode ser um incômodo, pode ser doloroso, e podemos nos cansar disso. Mas até eu penso, de vez em quando, que estou feliz por estar vivo. Afinal, isso significa que podemos rir e chorar.
— Então você está dizendo que a vida é importante?
— Não é questão de ser valiosa ou não. Não sei qual é o valor da vida. De qualquer forma, enquanto eu puder pensar, não quero deixar o que tenho. Não tenho escolha a não ser me agarrar a isso. Quando comecei a fazer isso, eventualmente me vi cercado por tantas coisas que não era mais tão fácil simplesmente jogar tudo fora.
— Na verdade, se você simplesmente se desfizer delas, verá que é surpreendentemente fácil.
— É mesmo? — disse Haruhiro. — Bem, tenho certeza de que você também não quer perder esta aldeia.
— Se os aldeões da minha Jessie Land, que eu tanto me esforcei para construir, fossem exterminados pelos guorellas, talvez eu ficasse um pouco triste, acho.
— Faremos de tudo para evitar que isso aconteça. É melhor preparar todos para uma batalha defensiva.
— Vamos fazer isso — Jessie ergueu a sobrancelha esquerda. — Ainda não é game over.
Pouco depois, Kuzaku foi trazido para a cabana por uma ranger feminina. O fogo na torre ao norte apagou-se em seguida.
Esta cabana ficava a cerca de duzentos metros da aldeia. A torre norte estava a cerca de um quilômetro.
— Haruhiro, vá você — aparentemente, Jessie não pretendia sair da cabana por enquanto.
Quando Haruhiro assentiu, Jessie deu uma ordem à ranger feminina que trouxera Kuzaku. Provavelmente estava dizendo para ela acompanhá-los e observá-los, ou algo assim.
Quando ele desceu a escada, Kuzaku gritou: — Hey! — e estendeu o punho. Haruhiro deu um leve toque com o seu. — É bem mais fácil com você por perto, Haruhiro — disse Kuzaku. — Quero dizer, sem você eu fico tão inquieto. É difícil, cara.
— Tá me assustando um pouco — respondeu Haruhiro.
— Hã?! É assim que você responde?!
— Nah, tô brincando. Ou talvez não…
— Cruel, cara. Mas meio que fiquei feliz, acho.
— Huh? Por quê?
— Quero dizer, você tá sendo um pouco mais rude comigo do que antes. Isso não é bom?
— Você é um total masoquista — murmurou Shihoru.
— Não sou! — Kuzaku negou imediatamente, mas inclinou a cabeça de lado. — Ahhh. Mas também não sou sádico. Isso não combina comigo. Talvez eu não seja um total masoquista, mas, se for pra falar de S e M, bem, talvez eu seja um pouco M…
— A Yume é L, né? Ou talvez F?
— F…? — Mary franziu a testa, parecendo pensar seriamente no assunto.
Lá no alto da cabana, na torre, Jessie ria de forma contida.
— Wolla! — A ranger feminina deu um tapa no traseiro de Kuzaku.
— Sim, senhora! — Kuzaku empurrou Haruhiro pelas costas. — Haruhiro, vamos nessa! A Yanni-san é gente boa, mas dá medo quando fica brava!
A mulher de rosto creme, aparentemente chamada Yanni, gritou: — Waouf! — Sim, ela era uma gumow assustadora.
— Certo, vamos lá — disse Haruhiro. — Se carregarmos tochas, seremos um alvo fácil, então vou contar com você, Kuzaku. Vá na frente. Yume, fique bem atrás, cuidando da Mary e da Shihoru. Isso pode ser uma batalha longa, então economize energia por enquanto, Shihoru. Eu vou ficar logo atrás do Kuzaku.
— Tá!
— Miau!
— Certo!
— …Entendido!
Quando começaram a caminhar, Yanni rapidamente passou por Haruhiro e foi até Kuzaku. Diferente de Kuzaku, o tanque da party, Yanni não usava armadura nem elmo. Não era perigoso estar na linha de frente? Claro, ela provavelmente tinha sido designada para vigiá-los, mas poderia fazer isso de trás. No entanto, mesmo que dissesse isso, era provável que ela o ignorasse ou até lhe desse uma bronca. De qualquer forma, ela não entenderia suas palavras.
Haruhiro pretendia cortar caminho pelos campos, mas Yanni seguiu pela estrada, e, se Kuzaku tentava se afastar dela, ela gritava: — Wolla!
Andar pelos campos era difícil, e Yanni provavelmente conhecia melhor o terreno em Jessie Land. Haruhiro decidiu deixar a escolha do caminho por conta dela.
To, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to, to… To, to, to, to, to, to, to, to, to… To, to, to, to, to, to, to, to…
O som agora vinha do leste, oeste e sudeste. Se bem lembrava, originalmente vinha do norte, oeste e sudoeste.
Eventualmente, eles ouviram os “Uho, uho, uho, uho!” dos guorellas. Provavelmente haviam notado Haruhiro e os outros.
— Parem! Estão vindo, Kuzaku! — gritou Haruhiro.
— Okay!
Yanni gritou: — Seinea! — e arrancou a tocha da mão de Kuzaku. Ele imediatamente sacou sua grande katana. Aqueles dois estavam estranhamente sincronizados.
Haruhiro empunhou seu estilete também. Respirou fundo, relaxando os ombros e quadris.
— Ho! Ho! Ho! Ho! Ho! Ho!
— Direita, esquerda e à frente! — gritou Yume, disparando uma flecha para a direita.
Ela acertou? Errou? Não estava claro.
— Dark! — gritou Shihoru, invocando o elemental.
— Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre você. Protection! — Mary entoou seu feitiço, e um hexagrama brilhante apareceu nos pulsos esquerdos deles.
Haruhiro percebeu. Não tinha uma base concreta, mas provavelmente não era um redback. Já tinham sido atacados muitas vezes antes, então ele conseguia perceber. Era um macho jovem.
— Shihoru, à esquerda! — ele chamou.
— Certo!
— Está aqui — murmurou Haruhiro.
Primeiro, à frente. Era um guorella. Um macho jovem, como ele esperava.
Quando o Macho A saltou em sua direção, Kuzaku gritou: — Ragh! — e o empurrou com o escudo. Kuzaku não perderia em uma disputa de força quando tinha uma boa pegada no escudo. Não contra um guorella que não fosse um redback.
— Miauuu! — gritou Yume, disparando outra flecha antes de imediatamente descartar o arco e sacar sua katana. Ela desferiu dois golpes contra o Macho B, que avançava ferozmente, e rapidamente circulou para o lado dele.
— Chai, chai, chai!
Yume desferiu golpes poderosos contra o Macho B.
Mas os golpes foram repelidos pela pele semelhante a uma carapaça do Macho B, portanto ele não sofreu dano algum. No entanto, devido aos movimentos incessantes e ataques de Yume, o Macho B estava claramente desorientado. Eventualmente, o Macho B recuperaria o controle, mas, se necessário, Mary ajudaria Yume. Não, antes que chegasse a isso, Haruhiro acabaria com a situação.
Um Macho C vinha diagonalmente pela frente, pela esquerda, pisoteando as plantas parecidas com cevada enquanto avançava. Apesar de ser macho, era menor que um redback e, em vez de andar ereto, caminhava com os nós dos dedos no chão, parecendo menos intimidador.
Ainda assim, se Haruhiro fosse atingido de frente, não sairia ileso, e, com um pouco de azar, poderia até morrer. Ele não era resistente como Kuzaku. Não tinha intenção de enfrentá-lo de frente.
Por isso, Haruhiro correu para a esquerda.
O Macho C rugiu, perseguindo-o de perto.
— Vai! — gritou Shihoru, lançando Dark.
Shuvwooooooooong. Dark voou com um som sobrenatural, e o Macho C não conseguiu desviar.
Foi um acerto.
O Macho C gritou e começou a se contorcer. Era isso que Haruhiro esperava. O momento perfeito para agir.
Haruhiro saltou sobre o Macho C, envolvendo seu braço esquerdo ao redor do pescoço do guorella. Os chifres peludos que cresciam densamente da parte de trás de sua cabeça até as costas o espetavam dolorosamente, mas ele ignorou. Segurando o estilete na posição invertida, Haruhiro o cravou no olho direito do Macho C.
Fundo. Mais fundo. O mais fundo que conseguisse.
Ele retirou a lâmina, ajustou o ângulo levemente e cravou novamente. Repetiu o processo. Uma, duas, três… Oito vezes. Depois disso, o Macho C desabou e parou de se mover completamente.
Haruhiro afastou-se rapidamente do Macho C e deu uma olhada nos outros inimigos. Kuzaku estava golpeando o Macho A com sua grande katana, afastando-o. Yanni o chutava e batia nele com a tocha, enfrentando-o em igualdade de condições. Apesar da dificuldade de acertar um golpe fatal em um guorella, aqueles dois não pareciam ceder tão cedo.
Yume estava um pouco mais distante. Saltando para lá e para cá, ela tentava manter o Macho B longe de Shihoru e Mary.
Mary segurava seu cajado, parecendo indecisa. Deveria apoiar Yume ou ficar ao lado de Shihoru?
Shihoru olhou para Haruhiro. Seus olhos pareciam perguntar se deveria lançar outro Dark.
Haruhiro balançou a cabeça. Stealth. Ele imaginou-se afundando nas profundezas da terra.
Ele estava na mentalidade certa.
Abaixou a cabeça e avançou.
Yume continuava seus movimentos frenéticos, indo para a direita, para a esquerda e para trás.
— Geh! Nyah! Hnghyah! Nyoh! — ela exclamava, balançando sua katana.
Os movimentos de Yume não tinham perdido vigor, e ela não parecia cansada. No entanto, o Macho B parecia ter se acostumado ao padrão dela. Em vez de ser ela quem brincava com o inimigo, agora o Macho B parecia persegui-la. A qualquer momento, poderia pegá-la.
Claro, não vou deixar isso acontecer— era algo que Haruhiro tentava evitar pensar. Ele precisava apenas continuar fazendo o que era necessário. Estava estranhamente desapegado.
Talvez houvesse alguma verdade nisso. Ele achava que tinha de haver.
As emoções tinham grande impacto na percepção e no controle manual. Haruhiro sabia disso. Às vezes, as emoções podiam trazer uma explosão de força, mas, em muitos casos, o efeito era o oposto. Sentimentos abalados causavam erros e deslizes.
— Caramba! — gritou Yume.
O Macho B afastou a katana de Yume com o braço. A espada quase voou de suas mãos, mas Yume tentou firmar os pés. Por causa disso, parou de se mover. Por um momento, ela entrou em pânico. O Macho B não perdeu tempo, aproximando-se e envolvendo-a com seus dois braços.
Haruhiro se lançou sobre as costas do Macho B, enlaçando seu braço esquerdo em torno do pescoço da criatura. Os chifres peludos penetraram em sua carne, mas ele não sentiu dor real.
Ah, estão me espetando, foi sua única reação. Ele poderia reclamar da dor depois.
Haruhiro cravou seu estilete no olho direito da criatura. O mesmo método de antes: crava o estilete e tira, repetidamente, sem nenhuma hesitação.
— Funyaaa…! — Yume empurrou o Macho B com as duas pernas. Isso fez o Macho B rolar, e Haruhiro quase acabou por baixo dele.
Ele pulou para o lado, evitando o impacto, levantando os ombros, soltando o ar e relaxando enquanto se afastava. Ao mesmo tempo, inclinou a cabeça para o lado.
Seus olhos deviam parecer incrivelmente cansados naquele momento. Embora, na verdade, ele não estivesse tão exausto assim.
— H-Haru-kun, obrigada!
— Tudo bem… — Haruhiro respondeu, acenando vagamente, mas então os olhos de Yume se arregalaram.
— V-Você tá sangrando! Tá pingando por todo lado!
— Estou bem.
Ele já havia previsto que os chifres peludos poderiam acertá-lo, e não havia ferimentos particularmente graves. Embora doesse. Seu peito e braços começavam a sentir a dor gradualmente, mas isso não o atrapalharia em combate, e ele achava que poderia aguentar. Bastava pedir para Mary curá-lo mais tarde.
— Yume, volte para onde Mary e Shihoru estão. Podem aparecer novos inimigos.
— C-Certo! E você, Haru-kun?
— Parece que sou o mais rápido para acabar com os guorellas.
Respire fundo. Solte o ar.
Afunde. Stealth.
Será que ele tinha pegado o jeito? Algo assim? Estava conseguindo entrar no ritmo mais facilmente do que antes.
Melhorar era algo estranho, não era como escalar uma encosta gradualmente. Em vez de ganhos lentos e incrementais, parecia acontecer em saltos. Ele praticava dia após dia, testando várias estratégias, mas parecia que nada mudava. Então, depois de um tempo assim, de repente, ele subia um degrau. Algo que antes o frustrava por não conseguir fazer, de repente, ele conseguia.
Será que ele tinha subido um degrau? Mesmo que fosse isso, não podia deixar isso subir à cabeça. Precisava manter a cautela.
Kuzaku usava Block para defender os ataques do Macho A, ocasionalmente usando Bash e Thrust para contra-atacar. Yanni, por sua vez, usava Kuzaku como um escudo humano enquanto focava em desestabilizar o Macho A.
Eles não pareciam improvisados. Quanto mais Haruhiro observava, mais pareciam uma boa dupla. Mas faltava-lhes a capacidade de desferir um golpe decisivo.
Sabendo da força de Kuzaku, não seria impossível para ele penetrar a pele semelhante a uma carapaça de um guorella com sua grande katana. Porém, ele precisaria de um golpe com bastante impulso ou um balanço incrivelmente forte para conseguir. Para fazer isso, precisaria primeiro imobilizar o guorella ou, ao menos, desequilibrá-lo.
O estilo de luta de Kuzaku era confiável. Ele atraía o máximo de inimigos possível, forçava-os a atacá-lo, resistia a todos os golpes e protegia seus companheiros. Ele estava dando tudo de si em seu papel como tanque.
Isso, por si só, não era ruim, claro. Na verdade, era algo digno de elogio. Ele havia crescido muito até aqui.
Gostaria de poder elogiá-lo sem reservas, mas… pensou Haruhiro. Honestamente, ainda não é o suficiente.
Se fosse ousar dizer, Moguzo cumpria seu papel como tanque enquanto ainda tinha poder para decidir o desfecho das batalhas. Moguzo era um guerreiro, enquanto Kuzaku era um paladino defensivo.
Ainda assim, apesar dessa diferença, Kuzaku tinha altura, braços longos e uma força incomum que superava a de Moguzo. Ele deveria ser capaz de fazer mais. Agora que sua defesa estava quase completamente sólida, isso deveria dar vida aos seus ataques. Conhecendo sua personalidade, Kuzaku certamente queria contribuir mais para a party. Além desse desejo, ele tinha capacidade.
Kuzaku era focado ao ponto de ser obstinado. Isso era uma força. Porém, uma vez que escolhia um caminho, ele avançava como um javali enfurecido, sem olhar para os lados.
Haruhiro era o líder, então cabia a ele segurá-lo pelas rédeas, direcionando Kuzaku para cá ou para lá. Se Kuzaku começasse a estagnar, a culpa seria de Haruhiro. Por mais pretensioso que fosse dizer isso, não era dever de Haruhiro desenvolver Kuzaku em um paladino que fosse mais do que apenas um tanque? Mesmo assim, não seria bom se Kuzaku se esforçasse demais, e por enquanto, as coisas estavam bem como estavam.
Eu vou terminar isso.
Haruhiro não estava sendo excessivamente entusiasmado. Sentia que era algo natural e inevitável que ele faria.
Haruhiro se moveu pelo campo, circulando por trás do Macho A.
Não era apenas o Macho A; todos, inclusive seus companheiros, haviam parado de prestar atenção em Haruhiro. Por isso, o Macho A não se virou.
Weruu, ruu, ruuuu, ruu, ruu, weruuuuuu!
Houve um som que eles ainda não tinham ouvido antes. Provavelmente, não estava muito longe.
O som não vinha de algumas dezenas de metros; estava a pelo menos cem, ou algo em torno disso. Pelo timing, no instante em que o Macho A ouviu, ele fez uma curva brusca—e seus olhos cruzaram com os de Haruhiro.
Haruhiro não conseguiu evitar ficar atordoado com isso. Não havia como prever tal coisa.
Mas, bem, a vida era assim. Coisas desse tipo aconteciam. Se ele conseguisse evitar morrer com um único golpe, não estava sozinho, tinha seus companheiros, eles dariam um jeito.
Haruhiro abaixou o corpo, assumindo uma postura defensiva. Tudo bem, venha, pensou ele.
No entanto, o Macho A não foi em direção a Haruhiro. Ele passou ao lado, embora não muito perto, correndo com os punhos no chão em alta velocidade até um ponto mais afastado.
Nesse caso, isso não é andar com os punhos, é correr com os punhos, né? Bem, é muito trabalho diferenciar isso, então “andar” está bom, pensou Haruhiro para si mesmo.
Ele sequer tinha sido considerado uma ameaça. O Macho A recuou sem nem ao menos lançar um olhar para Haruhiro. Provavelmente, aquele som era o grito de um guorella, um sinal de retirada.
— Ele… fugiu? — Kuzaku disse, com os ombros subindo e descendo a cada respiração. — Você acha que foi isso?
Yanni se moveu lentamente, segurando a tocha, enquanto olhava ao redor, inquieta.
Weruu, ruu, ruuuu, ruu, ruu, weruuuuuu!
Lá estava aquela voz de novo.
Haruhiro pensou por um instante, pediu a Mary para curá-los e decidiu ir até a torre de vigia ao norte. É claro que ele não baixaria a guarda, mas provavelmente não encontrariam inimigos.
Isso não era complacência. Havia um fluxo nas coisas. Os guorellas haviam recuado. Eles provavelmente não atacariam novamente tão cedo.
Embora fosse chamada de torre, era alta o suficiente apenas para alguém pular sobre ela, sem telhado, mais parecendo uma plataforma simples. A torre de vigia ao norte havia desmoronado, e as pernas de suporte e a cesta que segurava a fogueira tinham sido destruídas, ficando jogadas no chão por perto.
Havia um único ranger caído de bruços ao lado da madeira queimada da fogueira, que não tinha sido completamente apagada. Mary correu até ele, tentando erguê-lo, mas parou no meio do movimento, com os ombros caídos.
Yanni virou o ranger no lugar dela. Ele não tinha rosto. Fora atacado de surpresa pelos guorellas e teve o rosto arrancado a mordidas. Obviamente, o ranger estava morto.
Eles ouviram aquele mesmo “Weruu, ruu, ruuuu!” cinco vezes, e então o som cessou. Depois disso, começaram a ouvir, ou não ouvir, batucadas vinda de todas as direções.
Eles voltariam para Jessie ou ficariam ali? Era uma decisão difícil, mas Yanni não se afastava do corpo do ranger morto. Haruhiro não se sentia confortável em deixá-la ali, e, se quisesse que voltassem, Jessie provavelmente enviaria um mensageiro.
Ele e os outros decidiram permanecer nos restos da torre ao norte e observar o que o inimigo faria. Mas Haruhiro tinha certeza de que eles não se moveriam.
Ele não achava, por um momento, que aquilo era o fim, mas provavelmente os guorellas os intimidariam com as batucadas durante a noite e não os atacariam. Por alguma razão, Haruhiro estava quase certo disso.
Como ele previu, as batucadas pararam quando o céu começou a clarear, e, no fim, os guorellas só realizaram aquele único ataque naquela noite.
Pouco depois do nascer do sol, Jessie apareceu. Alisando a barba, ele perguntou a Haruhiro: — O que acha?
— Acho que eles vão voltar.