Capítulo 9 – Se houver luz lá. (Parte 2)
Isso era verdade. Eles haviam sido salvos. Por enquanto, pelo menos.
Eu tenho uma ideia, Lala havia dito. Se isso fosse verdade, eles tinham alguma esperança, pelo menos.
Haruhiro olhou para seus companheiros. Cada um deles, sem exceção, estava coberto de suor e muco, sujos de terra e poeira, um verdadeiro caos de exaustão. Que ainda estivessem vivos e nem estivessem tão feridos assim era difícil de acreditar. Ele estava tão aliviado que suas forças quase se esvaíram.
…Não. Não baixe a guarda. Ainda não. Estamos só começando. Temos que viver. Continuar vivos. Todos juntos. O que posso fazer para que isso aconteça? O que devo fazer? Seguir Lala e Nono. Não tenho outro plano, então é tudo o que posso fazer agora. Apenas mantenha a cautela, não faça nada imprudente e conserve o máximo de energia possível. Estamos correndo agora, mas estamos apenas dobrou o ritmo de uma caminhada. Nono está carregando Shihoru, então conseguimos acompanhar.
De vez em quando, Lala parava e se agachava, sinalizando para que os outros também se abaixassem. Nono, claro, obedecia imediatamente, e Haruhiro e os outros seguiam seu exemplo.
Lala devia ter uma visão muito boa ou um incrível senso de perigo. Mesmo quando os inimigos estavam bem longe, ela era a primeira a detectá-los e tentava evitá-los. Para que os inimigos não os encontrassem, eles evitavam terrenos elevados, optando por se mover por áreas mais baixas. Assim que Shihoru conseguiu andar sozinha novamente, eles começaram a emboscar grupos de cultistas e a eliminá-los sempre que tinham a vantagem numérica.
Não havia conversas desnecessárias. Quando saíram das áreas baixas e deram de cara com um grupo de cultistas e gigantes brancos, Ranta abriu a boca e gritou: — Uou! — pela primeira vez em um bom tempo.
Lala escolheu fugir sem lutar. Justo; embora houvesse menos de dez cultistas, o gigante branco era uma ameaça, mesmo sendo da classe de quatro metros.
Lala e Nono começaram a acelerar o passo. Será que planejavam usar a party de Haruhiro como isca enquanto fugiam? Ele nem conseguia se irritar com isso. Para os dois, Haruhiro e os outros deviam ser apenas uma espécie de seguro caso as coisas dessem errado. Ele achava isso desde o começo.
Mas não era como se Haruhiro não estivesse pensando em nada.
— Lala-san, eu tenho uma ideia! — ele gritou.
Por um momento, Lala olhou para trás. Não houve resposta.
Se vão embora, vão, ele pensou. Eu não me importo. Ele estava grato a Lala e Nono. Graças aos dois, haviam conseguido tempo para recuperar o fôlego. Mesmo se os dois os abandonassem agora, eles dariam um jeito. Pelo menos, lutariam até o fim. Ele havia se recuperado o suficiente para pensar assim.
— Por aqui! Vamos! — Haruhiro gritou. — Todos, me sigam! Continuem tentando!
Quando Haruhiro mudou de direção, Lala olhou para trás novamente. Parecia que ela estava tendo dificuldade em decidir o que fazer.
Faça o que quiser, ele pensou. Ele vinha prestando muita atenção ao local onde estavam durante o caminho. Se Haruhiro não estivesse enganado, esse deveria ser o lugar certo.
— Malditos sejam esses dois! — Ranta cuspiu.
Lala e Nono haviam sumido de vista. Eles realmente tinham fugido, né? Não era como se isso não o desapontasse.
— Não se preocupe com isso! — Haruhiro gritou. — Está tudo bem! Deixem comigo!
— Isso não soa nada como você, Parupiro! Você não diz coisas assim!
Ah, cala boca. Eu sei disso. Ele me irrita. Mas, bem, é o Ranta. Nada de novo aí. Como sempre, não se preocupe com o que já passou. Foque no agora. Coloque tudo nesse momento. Eu vou viver.
Corra pelos caminhos fáceis, onde o terreno não é muito irregular, e não erre as direções. Todos estão acompanhando. Shihoru parece estar tendo dificuldade, no entanto. Continue. Sério, continue. Estamos quase lá. Tivemos sorte. Não está longe agora.
— Entendi! — Do lado esquerdo, em um ponto elevado que parecia um aterro, Lala e Nono apareceram de repente. — Então, é isso que você está planejando! Se funcionar, eu vou te elogiar!
Eles não tinham fugido, afinal? Haruhiro sorriu para Lala.
Eles corriam por suas vidas, com os cultistas e o gigante branco os perseguindo. Havia muitas subidas e descidas ali, e eles não podiam ver muito à frente.
— O quê?! — Yume gritou. Parecia que ela tinha entendido.
O terreno nivelou e o campo de visão se abriu.
Haruhiro abriu os braços e foi para a esquerda.
— Espalhem-se! Não pisem neles!
Havia redes cobertas de grama, mas, se olhasse com atenção, não demorava muito para perceber o que eram. Não eram perfeitas, mas, se você não soubesse nada sobre elas, poderiam ser surpreendentemente difíceis de notar.
Não demorou muito até ele ouvir um som de queda atrás dele. Quando se virou, um cultista tinha caído direto em uma armadilha de buraco. Havia um afundamento na rede, e a grama voava pelo ar.
Haruhiro, Kuzaku e Mary estavam correndo pelo lado esquerdo do buraco, enquanto Ranta, Yume e Shihoru estavam do lado direito. Mais um cultista correu sobre a armadilha e caiu. Os outros cultistas ficaram parados, incapazes de se mover. O gigante branco pode ter tentado parar, mas já era tarde demais, porque ele tombou para a frente e caiu.
Eles não haviam sido de muita ajuda na tentativa de derrotar a hidra ou o deus gigante, mas Haruhiro estava feliz por terem cavado as armadilhas. Claro, isso era fácil de dizer em retrospecto. Eles tinham dado sorte. E era só isso.
A sorte ou o azar poderiam ser a diferença entre a vida e a morte. Por uma pequena, mas decisiva margem, Haruhiro e sua party ainda estavam desse lado. O lado dos vivos.
Os cultistas que não haviam caído nas armadilhas estavam tendo dificuldade em decidir se deveriam continuar perseguindo Haruhiro e a party, ou o que fazer. Enquanto isso, Haruhiro e os outros corriam o mais rápido que podiam, sem hesitação, tentando aumentar a distância entre eles e os inimigos.
Quando os cultistas desapareceram de vista, Lala e Nono estavam na frente de Haruhiro. Eles eram inacreditáveis. Mas Lala havia dito que tinha uma ideia. Os dois estavam planejando usá-los, então Haruhiro tinha toda a intenção de usá-los também.
— Você não ia me elogiar?! — ele disse.
— Tente pedir de novo daqui a cem anos! — Lala gritou.
Então era assim que ia ser, né. Ela estava agindo exatamente como a dominatrix que parecia ser, aquela Lala. Sério, ela era inacreditável.
Independentemente disso, as outras armadilhas de buraco estavam longe, então eles não poderiam reutilizar o mesmo truque. Haruhiro acabou ficando com o estômago embrulhado novamente. Embora parecesse que eles estavam vendo menos inimigos aos poucos, não podiam baixar a guarda. Quando Ranta começou a falar bobagens estúpidas, ele ficou barulhento e irritante, o que só aumentou o estresse.
Quando Lala ocasionalmente fazia uma pausa, ela mandava Nono ficar de quatro e o usava como uma cadeira. Isso, por si só, já era esquisito, mas o pior era que ela fazia questão de cruzar e descruzar as pernas, posando de um jeito que destacava seu busto. Era tentador olhar. Não que ele realmente quisesse ver, mas, sabe como é, não dava para evitar.
Mas que tipo de relação Lala e Nono tinham…?
Haruhiro não tinha coragem de perguntar, e havia outras coisas que ele preferia saber primeiro. Como, por exemplo, para onde estavam indo.
Ele tentou perguntar, mas Lala não quis dizer. Parecia que ele teria que ficar quieto e apenas segui-la.
Preparando-se para o pior, Haruhiro fez exatamente isso. Lala e Nono agora não faziam nenhuma tentativa de fugir. Eles simplesmente caminhavam. Caminhavam, e caminhavam, e caramba, como caminharam.
Haruhiro e sua party não tinham um relógio. Lala às vezes tirava um de bolso durante as pausas. Quando ele perguntou as horas, ela respondeu: — E de que te adiantaria saber isso?
Então, embora ele não soubesse o horário exato, achava que provavelmente já estavam caminhando há mais de um dia inteiro.
Eles estavam em um lugar que parecia semelhante ao vale onde a base dos soldados voluntários havia sido montada. No entanto, não havia nenhuma fonte no fundo deste vale. Nem plantas. Era um vale pequeno e seco, pelo que parecia.
— Nós andamos bastante pelo Reino do Crepúsculo — disse Lala em um tom cantarolado, descendo a encosta. — Encontramos uma grande variedade de coisas diferentes. Vendemos a maior parte dessas informações, mas não contamos a ninguém sobre este lugar. As descobertas verdadeiramente fascinantes guardamos para nós. Só nós sabemos sobre elas. Não é maravilhoso?
Todos os pelos do corpo de Haruhiro se arrepiaram. Lala e Nono poderiam, de repente, mostrar suas garras e tentar matar Haruhiro e a party. Era essa a sensação que ele tinha. Seria um receio sem fundamento?
Lala e Nono desceram ao vale sem preocupação aparente. No entanto, não custava nada ficar alerta.
Quando Haruhiro diminuiu o ritmo, seus companheiros perceberam e o acompanharam. Mas, quando chegaram ao fundo do vale e viram o que havia ali, tudo isso foi varrido para longe.
Debaixo de uma saliência que parecia o beiral de um telhado, havia uma abertura escancarada. Por conta disso, eles provavelmente não a teriam notado se não tivessem descido até o fundo do vale.
É um buraco.
Tenho certeza de que não é uma caverna qualquer. Mas por que tive essa impressão?
Haruhiro rapidamente percebeu a resposta. Era por causa da colina inicial.
Tinha uma atmosfera ou aparência semelhante à da colina inicial—não, ao que a colina inicial tinha sido. Ela já não existia mais. Mas isso era igual esse buraco, a saída.
Lala e Nono entraram no buraco sem parar.
Haruhiro e Ranta se entreolharam. Ranta parecia perplexo.
Haruhiro tinha uma expressão sonolenta nos olhos, sem dúvida.
— …Você sabe o que eu estou pensando? — Ranta perguntou.
— Não, não sei — Haruhiro respondeu imediatamente. — Não faço ideia do que se passa na sua cabeça. Tenho quase certeza de que seria uma má ideia se eu soubesse.
— O que isso quer dizer?!
— Exatamente o que ele disse… — Shihoru respirou fundo. — Vocês acham que isso leva de volta para casa?
— Funya?! — Os olhos de Yume se arregalaram e ela soltou um grito estranho. — Curryru?! Onde fica isso?!
— Não existe nenhum lugar chamado assim, sua idiota! — Ranta gritou. — Curryru, sério! O que diabos é Curryru?!
— Se você fala Curryru, tem que ser curry roux, né? — disse Yume. — Hein? O que é curry, mesmo…?
— É picante… — Mary inclinou a cabeça de lado, pensativa. — …Eu acho? Eu lembro que era… comida?
— Ah, é. — Kuzaku murmurou. — Tinha algo assim, não tinha? Era meio marrom… Marrom…?
— …Era. — Haruhiro assentiu. Ele estava salivando. As palavras que Shima havia sussurrado voltaram à sua mente.
“Estamos procurando uma forma de voltar ao nosso mundo original.”
O mundo original deles.
Ele olhou para o buraco, depois para o céu multicolorido.
Precisamos voltar.
Haruhiro olhou ao redor para seus companheiros. Seus rostos estavam todos sujos. Era quase cômico.
— Vamos — ele disse.
Ninguém foi contra.
Eles entraram no buraco em fila única, com Haruhiro, Kuzaku, Mary, Yume, Shihoru e Ranta nessa ordem. O interior era completamente escuro, mas havia luz mais à frente.
Lala e Nono os aguardavam. A fonte de luz era a lanterna que Nono carregava. Lala apenas sorriu levemente, continuando a caminhar em silêncio. O caminho era sinuoso. Não era íngreme, mas havia uma inclinação descendente. Eles podiam sentir uma brisa. O ar estava fluindo em direção ao vale de onde tinham vindo.
É igual, pensou Haruhiro. Não apenas semelhante, mas exatamente igual.
Eventualmente, o caminho se nivelou. Não estavam mais descendo; o solo era plano.
— Descobrimos os gremlins há anos — disse Lala de repente, com sua voz cantarolada. — Mantivemos eles em segredo, mas vocês também os encontraram, então pensamos, bem, tudo bem. A propósito, aquele não foi o primeiro lugar onde encontramos os gremlins.
— Hã…? — Haruhiro parou de andar sem querer. — Não foi… lá?
— Sim — ela disse. — Eles são criaturas muito fracas. Se reproduzem rapidamente, mas não são agressivos e não têm poder para lutar contra predadores. Porém, eles têm um poder estranho, ou uma característica, e são sobreviventes teimosos. Essa é a nossa hipótese.
Lala e Nono não pararam de andar. Haruhiro apressou-se em segui-los.
O caminho continuava. Havia uma luz fraca à frente. Ele conseguia ouvir um ruído.
— Eles têm o poder de cruzar de um mundo para outro — disse Lala. — Ou o poder de encontrar as fissuras entre eles. Ou talvez apenas a tendência de encontrá-las e fugir para elas.
Lá estavam. Nas paredes de pedra, havia inúmeros buracos grandes e pequenos, de onde emanava uma luz azulada. Eles estariam nesses buracos ou pendurados na beirada deles, falando incessantemente.
O ninho. Essas eram suas casas, lar dos ri-komo—ou melhor, dos Gremlins.
— Mas é isso — Lala se virou, estufando o peito com orgulho. — Foi até aqui que exploramos.
— Hã? — Haruhiro estava tão impressionado com a Lala aparentemente orgulhosa que deu um passo para trás. — E-Então, você sabe que tipo de mundo isso leva, talvez…?
— Nenhuma ideia — Lala respondeu com um largo sorriso. — É um total mistério.