Capítulo 9 (Parte 4)

Por quê?

— É… — Kuzaku deu uma risadinha dentro do elmo, então completou: — Sim! — Foi claramente um grito para se animar.

— Vamos manter a atenção enquanto avançamos. — Mary levantou seu cajado e ficou ao lado de Shihoru, fazendo o sinal do hexagrama. — Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre você. Protection.

Shihoru olhou para o hexagrama que apareceu em seu pulso e assentiu.

— Um de cada vez… e com certeza!

— Por enquanto… — Yume encaixou uma flecha e a disparou. — Comecem por ali!

A flecha disparada por Yume acertou um guorella macho jovem, a cerca de cinquenta metros, que estava devorando um gumow, mas ricocheteou.

— Enba, ajude-os. — Setora segurava Kiichi nos braços e deu ordens ao golem. — Não tem escolha. Estamos todos no mesmo barco aqui.

O macho jovem avançou em uma fúria desenfreada diretamente na direção deles.

Um de cada vez, e com certeza. Era algo simples, mas Shihoru estava certa. Os guorellas eram inimigos assustadores, mas não sozinhos. O método de Kuzaku, Yume e Enba atraírem a atenção do inimigo para que Haruhiro se aproximasse com Stealth e desse o golpe final funcionava até mesmo contra um redback. Por isso, evitavam enfrentar dois ou mais ao mesmo tempo sempre que possível.

Se fossem obrigados a lutar contra vários guorellas, usariam o Dark de Shihoru para imobilizar um, e Haruhiro o eliminaria rapidamente. Nesse intervalo, Kuzaku e os outros aguentariam o máximo possível, reduzindo o número de inimigos um a um. Podiam ser cinquenta ou cem. O princípio era o mesmo.

Os guorellas haviam cometido um erro fatal: o local. Eles atacaram a aldeia. Talvez tenham pensado que era um campo de caça ideal. Mas, para a party, podiam usar as construções para separá-los. Os guorellas estavam embriagados pela matança, focados apenas em devorar, o que tornava tudo mais fácil.

Mesmo agora, um gumow após o outro estava sendo morto. Diante dos olhos de Haruhiro e sua party, vários gumows perderam suas vidas. Quem sabia quantas vítimas já havia?

Vamos fazê-los pagar. Eles estão ferrados. Vamos matá-los.

Haruhiro se esforçava para não pensar assim. Não podia deixar seu coração se inflamar. Por ora, apenas reduzir o número dos guorellas, um por um. Esse era o único foco.

Ele não podia eliminar erros. Porém, podia reduzir o número que cometia. Não, mas…

Isso está quase perfeito, não está?

Ele percebeu que, tirando seu próprio ferimento causado pelos chifres peludos dos guorellas, ninguém estava precisando da ajuda de Mary. Até mesmo Kuzaku, o tanque da party, estava com mais espaço para manobrar graças a Enba, e não sofria ferimentos que precisassem de cura com magia de luz.

Haruhiro matou catorze machos e três fêmeas. Pelo que parecia, Jessie estava liderando um grupo de rangers habilidosos para eliminar os guorellas um a um, e eles se cruzaram várias vezes.

Não havia mais aldeões circulando do lado de fora. Todos os sobreviventes deviam estar dentro de casa.

Agora, os guorellas estavam começando a fugir ao ver Haruhiro e sua party.

Eles não haviam eliminado nenhum redback ainda. Na verdade, nem estavam vendo um. Isso chamou sua atenção como algo estranho.

— …Achei — disse Haruhiro. — Ali está um.

Estava praticamente de pé no meio de um cruzamento, olhando na direção deles.

Quando seus olhos encontraram os de Haruhiro, aquele guorella abriu a boca e mostrou a língua, vocalizando algo como “Wuehh”.

Haruhiro soube imediatamente. Era aquele redback.

— Eu vou matá-lo! Kuzaku, vai!

— Beleza!

Quando Kuzaku avançou com sua armadura rangendo, o redback entrou calmamente na construção à esquerda deles. Estava agindo descaradamente, como se fosse o dono do lugar.

Kuzaku deu uma olhada para trás, mas continuou avançando.

Por que eu não o parei? Haruhiro pensou. É isso. Preciso pará-lo. Algo está errado. Precisamos tomar cuidado com esse redback.

— Kuzaku, pa—

Era tarde demais. Kuzaku foi jogado para fora como se tivesse sido arremessado por uma explosão. Sem perder tempo, um guorella saltou sobre ele.

Era um guorella. Mas o que havia de errado com aquele guorella? Era grande, mas seus chifres peludos… Eram longos, mas tinham muito volume também. Pareciam uma juba de leão. Eles eram vermelhos.

Não, mais que vermelhos. Vermelho profundo.

Era um Redback.

Não. Comparado aos Redbacks que tinham visto até agora, era metade maior e tinha o dobro de chifres peludos. Era claro que não era um Redback comum.

Seria ele? O Redback entre os Redbacks? Era isso?

Dark! — Shihoru chamou Dark e imediatamente o mandou. — Vai!

O grande Redback saltou, esmagou Kuzaku e tentou devorá-lo.

Dark voou com um som sobrenatural, shuvwoooong, atingindo o grande Redback bem na lateral.

— Guhh… — O grande Redback gemeu por um momento, com o corpo inteiro tremendo, e parou. Mas só por um instante.

— Haaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhh! — O grande Redback levantou os dois braços e os abaixou com toda a força.

Kuzaku não estava apenas recebendo pancadas. Ele tentava se defender com o escudo. Mas conseguiria se defender completamente?

Bum, bum, bum, bum. O grande Redback parecia ter confundido o escudo de Kuzaku com algum tipo de instrumento de percussão. Haruhiro só podia assumir que sim. Ele estava golpeando o escudo com as duas mãos, batendo loucamente.

Se Kuzaku estava recebendo tantos golpes, mesmo com o escudo, devia ser difícil. Seria difícil mesmo que não fossem sequenciais. Haruhiro não suportaria nem um único golpe.

— Kuza… Kuzaku! — Haruhiro gritou e tentou pular sobre o grande Redback.

Mas foi jogado para trás com apenas um braço. O impacto foi tão forte que ele pensou que seu corpo tinha sido rasgado ao meio. Que poder incrível.

Haruhiro caiu de braços e pernas abertos.

— …Ohhhh… — gemeu. Estava doendo, ou melhor, sentia como se cada nervo de seu corpo tivesse se desfeito, e era impossível se mover.

Eu não tenho tempo para isso. Levanta. Fica de pé. Rápido, levanta e se acalma. Isso não vai funcionar. Preciso esfriar a cabeça e fazer isso direito. Dá para dizer que é a minha única arma aqui.

— Haru-kun! — Yume o ajudou a se levantar.

Mary estava correndo em sua direção.

Kuzaku. E o Kuzaku?

— Ugaaaahhh, gooooohhh! — e — Oh-booooohhhh, duaaaaaahhhh! — rugia o grande Redback.

— Hungh! Gahh! Hyagh! — Kuzaku gritava.

Kuzaku estava em apuros. O grande Redback o tinha à sua mercê.

Que diabos é aquilo? É loucura demais. Que se dane! Ninguém falou nada sobre isso! Não dá. Preciso me acalmar. Como se eu pudesse. Mexe. Meu corpo não se move. Por quê? Estou com medo? Sim, estou com medo. Claro que estou com medo. Reconheço isso. Mas, mesmo com medo… ainda estou vivo. Há coisas que posso fazer. O quê? O que estou dizendo que posso fazer?

— Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre você. Cure! — Mary curou os ferimentos de Haruhiro. Mas não dava para saber exatamente quais eram suas lesões.

Pensa.

Enba apareceu. Ele não lutou corpo a corpo com o grande Redback, nem desferiu um chute voador, mas subiu para o topo do corpo massivo do Redback. Ele podia fazer coisas assim?

Enba conseguiu subir no grande Redback. Ele se agarrou ao corpo dele. Enba tinha apenas um braço, mas ainda tinha duas pernas. Contudo, se ele ia se segurar assim, obviamente os chifres peludos o espetariam.

Haruhiro conseguia lidar um pouco com aquilo, mas não chegaria tão longe. Parecia que os golems não sentiam dor, então talvez Enba estivesse bem.

Também parecia que aquilo era problemático para o grande Redback. Ele interrompeu seu ataque a Kuzaku e levantou os dois braços. Tentou sacudir Enba de cima dele.

Haruhiro olhou para Setora. Ela segurava Kiichi com força, uma expressão intensa no rosto.

Seus olhos se encontraram com os de Shihoru. Shihoru assentiu.

Dark!

— Yume, salve o Kuzaku! — ordenou Haruhiro. — Mary, prepare-se para curar!

— Miau!

— Okay!

Eles conseguiam fazer isso, e iriam fazer. Provavelmente só teriam uma chance. Não podiam errar o momento.

O grande Redback finalmente pegou Enba.

— Enba! — gritou Setora.

Sua força era absurdamente poderosa. Aconteceu em um instante. Carne, ossos e armadura voaram por todos os lados. Parecia que Enba tinha sido despedaçado.

Ao presenciar aquilo, por mais cruel que fosse, Haruhiro conseguiu confirmar para si mesmo: Bom. Estou calmo.

— Vai! — Shihoru lançou o Dark.

Mas não era um Dark comum. Era um Dark pequeno, muito pequeno, que tinha sido refinado ao máximo possível. O menor Dark, com poder total.

Se isso não funcionar, nada vai, Haruhiro disse a si mesmo. É o nosso máximo agora. Vai, vai, vai, vai!

O grande redback ainda não tinha notado o Dark mínimo, mas de poder máximo. Ele acertou o pescoço do guorella.

Shwoop! Foi absorvido pelo pescoço do grande redback.

— Agora! — Haruhiro deu a ordem.

Corra. Corra. Corra!

— Hah… — o grande redback inspirou. — Koh! — fez um som estranho. — Ah! — arqueou para trás e começou a se contorcer de dor. — Na-goaaahh! — tropeçou, afastando-se de Kuzaku.

Haruhiro correu para chegar ao lado de Kuzaku. Ele estava caído sob o escudo.

Ele está vivo? Por favor, esteja vivo.

Haruhiro enfiou as mãos debaixo das axilas de Kuzaku e começou a puxá-lo. Yume também estava ajudando.

— Mary! — Ele nem precisava ter chamado. Mary já estava ali.

— Ó luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre você! Sacrament!

Luz, flua, brilhe em Kuzaku, cure seus ferimentos, estou contando com você—

Haruhiro voltou à realidade. Ele se virou.

Shihoru. Ela estava sozinha. Shihoru estava. Eles a tinham deixado sozinha.

Depois de usar o Dark mínimo e de poder máximo, ela devia estar exausta. Talvez nem conseguisse se mover direito. Mas eles a tinham deixado sozinha. Mesmo sabendo que havia outro redback. Eles tinham esquecido? Que erro. Um erro terrível.

O redback sorridente. Quando ele tinha saído da construção? Haruhiro queria gritar: “Atrás de você!” E avisá-la. Mas parecia que não daria tempo. Afinal, ele já estava bem ao lado de Shihoru, se aproximando por trás. Por isso, honestamente, Haruhiro desistiu, achando que era impossível.

— Marc em Parc! — uma voz gritou.

E foi por isso… que, só desta vez, Haruhiro não poderia estar mais agradecido. Ele estava tão agradecido que poderia jurar lealdade àquele homem para o resto da vida.

Jessie. Ele chegou no momento exato.

Jessie lançou seu Magic Missile contra o lado do rosto do redback sorridente, forçando-o a recuar.

— Ho?! — o redback sorridente tropeçou, tentando olhar na direção de Jessie.

— Marc em Parc! — Outra esfera de luz voou, acertando a nuca do redback sorridente dessa vez.

Yume entrou em ação, puxando Shihoru pela mão. Shihoru tropeçava, mas conseguiu acompanhar Yume de alguma forma.

Jessie disparou uma série de Magic Missiles contra o redback sorridente, que finalmente fugiu para um beco.

— Shihoru é a minha favorita, sabia? — gritou Jessie. — Não gostaria que ela fosse morta!

Jessie deu ordens aos rangers que o seguiam, incluindo Tuoki, Yanni e outros, com um tom incomumente afiado para ele. Parecia que planejava mandar os rangers atrás do redback sorridente. Mas a party ainda precisava lidar com o outro.

— Ufa… Gah…! — Kuzaku se levantou com um salto.

Do, do, do, do, do, do, do, do, do! O grande redback batia no peito com as duas mãos. O som ecoava, fazendo os estômagos deles vibrarem.

Mas—ele era enorme! Quando se levantou, era absurdamente grande! Fazia Kuzaku, com seu escudo e grande katana, parecer uma criança.

— Marc em Parc! — Jessie tentou acertar um Magic Missile nele, mas o grande redback balançou o braço e o dissipou.

Shihoru estava recuando, sendo puxada por Yume. Não retornaria para a linha de frente tão cedo. Eles teriam que matar aquela coisa com apenas Haruhiro, Kuzaku, Mary e Jessie? Não, havia outros também.

— Eeeeeeeeahhhhhhh! — Setora soltou um grito de batalha e avançou contra o grande redback. Ela não estava com Kiichi. Ela estava segurando algo que parecia uma vara extremamente longa, talvez um pedaço de material de construção, com as duas mãos. O grande redback sequer parecia estar prestando atenção nela.

Setora se aproximou com facilidade e enfiou a ponta da vara na garganta dele.

— Deeeeeeyahhh!

Claro, era apenas uma vara comum que ela havia pego de alguma casa desmoronada. O grande redback mal se moveu, a vara quebrou, e Setora foi arremessada para trás. Por que Setora fez algo assim?

— Como ousa fazer isso com Enba?! — ela gritou.

Oh, era por isso.

Haruhiro achava que aquilo era uma estupidez. Mas ele não podia culpar Setora. Além disso, isso lhe deu uma ideia.

— Ataque! — Haruhiro ordenou a Kuzaku. — Você não consegue se defender totalmente, então ataque com tudo que tiver, Kuzaku! Você tem uma força que nenhum de nós tem!

— Tá bom! — Kuzaku jogou o escudo de lado e desenhou um hexagrama com sua grande katana. — Ó Luz, que a proteção divina de Lumiaris esteja sobre você! Saber! — Em um instante, ele segurou a grande katana envolta em luz com ambas as mãos e avançou contra o grande redback.

Não, eu sei que disse para atacar, mas isso foi direto demais, pensou Haruhiro. Você não podia ter pensado em algo mais engenhoso?

Mas talvez truques fossem desnecessários. Kuzaku avançou contra o grande redback, curvou o corpo para trás o máximo que pôde e então desferiu um golpe com a grande katana. O grande redback não recuou nem tentou desviar.

Foi pego de surpresa? Ou confiava que sua pele, semelhante a uma carapaça, o protegeria? Cometeu um grande erro.

— Uau! — Jessie gritou.

Sério? Caramba. Kuzaku, cara, quanta força bruta você tem? Haruhiro claramente o havia subestimado. Nunca pensou que Kuzaku fosse tão forte.

— Zweeeeeeeeeaaaaaaaaaaeeeeeeeeeh!

A grande katana de Kuzaku cortou a pele em forma de carapaça do grande redback, penetrando profundamente em seu ombro esquerdo. O corte foi tão fundo que continuou diagonalmente até o meio do torso, talvez um pouco abaixo, tudo de uma só vez.

— Ohh-ah… Uhhh… Goh… — parecia que o grande redback não entendia o que tinha acontecido com seu corpo. Talvez Kuzaku também não entendesse. Ele estava completamente encharcado pelo sangue do grande redback. O sangue não escorria; ele jorrava como uma erupção.

— Hã? Quê? S-Sangue?! — gritou Kuzaku.

Haruhiro suspirou.

O grande redback. O redback entre os redbacks. O líder aterrorizante e excepcional desse bando de guorellas. Honestamente… É. Eu não achava que era possível. Achei que talvez não pudéssemos derrotá-lo. Kuzaku. Foi o Kuzaku, hein. Kuzaku conseguiu. Eu achava que ele precisava melhorar seus ataques, mas, pensar que ele tinha tanto potencial não explorado assim. Foi um erro feliz de cálculo. Não, o grande redback ainda não morreu. A grande katana de Kuzaku provavelmente alcançou seu coração. Mesmo assim, ele não caiu ainda. Embora pareça que está prestes a desabar, continua de pé. Acho que é só uma questão de tempo. Esse ferimento poderia tê-lo matado instantaneamente. Logo, o bando de guorellas vai perder o grande guorella. Seu líder. Quando isso acontecer…

Algo caiu do céu. Haruhiro, reflexivamente, deu um salto para trás, desviando.

A coisa que atingiu o chão usava um manto verde. Era um ranger gumow. Os braços, pernas e pescoço do gumow estavam dobrados de maneira estranha. Haruhiro achava difícil distinguir os rostos dos gumows, mas reconheceu a pele púrpura.

Ele se virou, olhando para cima, lançando o olhar na direção de onde o ranger havia sido arremessado. No topo de uma construção próxima, estava lá. No momento em que estreitou os olhos e sorriu, Haruhiro percebeu que havia entendido errado. O grande redback não era o líder do bando.

— …É você, hein.

— Fooo, fooo, fooo — começou a assobiar.

Estava zombando deles novamente—

Não.

Não.

Haruhiro gritou: — Inimigos! — Foi tudo que conseguiu dizer.

Do topo daquela construção, daqui, dali, do beco à frente, de trás, os guorellas apareceram de uma só vez.

Era um sinal. Aquele assobio. Era provavelmente um chamado para que viessem.

De algum lugar, ouviram uma voz gritar: — Tiarg! Jessie! — Provavelmente era Yanni. Yanni ainda estava viva. Ela estava avisando Jessie sobre algo. Tinha que ser sobre isso.

Os guorellas eram inteligentes. Mas ainda eram apenas bestas, então poderiam ser eliminados um por um. Era o que Haruhiro havia pensado.

De fato, tinha sido assim até então, e quando derrotaram o grande redback, Haruhiro estava setenta ou oitenta por cento certo de que tinham vencido.

E, ainda assim, em algum momento, foram cercados.

Os guorellas avançaram de todas as direções.

— Todos! — Haruhiro ordenou. — Fiquem juntos, não se separem! Yume, Shihoru! Venham para cá!

— Droga, Haruhiro! Meu escudo…! — gritou Kuzaku.

— Esquece isso! Balance a espada!

— Shihoruuu, você tá bem? — gritou Yume. — Vem com a Yume!

— Sim, estou bem!

— Setora, levanta! — chamou Mary. — Vamos, você tem o Kiichi, não tem?! E o Haru também!

— Silêncio, sacerdotisa! Não preciso que você me diga o que fazer!

— Haruhiro! Use a prisão! — gritou Jessie. — Se você estiver lá dentro…!

— E você, Jessie-san?! — ele gritou de volta.

— Vou procurar a Yanni e os outros! Vá!

Kuzaku estava balançando sua grande katana como um louco. Haruhiro conseguiu, de alguma forma, se juntar a Shihoru, Yume, Mary e Setora, e seguiu em direção à prisão. Mas será que conseguiriam chegar?

— Kuzaku, por aqui! — ele chamou.

— Sim, eu sei!

Claro, ele sabia, mas se Kuzaku parasse de balançar sua grande katana por um instante que fosse, seria derrubado na mesma hora.

Por sua parte, Yume e Mary estavam fazendo o possível, claro, mas até Shihoru usava seu cajado, e Setora ameaçava os guorellas com aquela vara quebrada que havia encontrado em algum lugar; eles mal conseguiam aguentar.

É por isso que depende de mim, Haruhiro disse a si mesmo. Eu preciso fazer isso. Eu vou. Eu. Nesta situação, cercado por inimigos? Sim. Faça. Afunde. Stealth.

Quando era encurralado, ele realmente conseguia fazer.

Silêncio… Não era exatamente isso, mas nenhum dos ruídos o incomodava. Porque não precisava ouvi-los, sem dúvidas.

Haruhiro afastou-se de seus companheiros, caminhando sozinho entre os guorellas.

Ele podia ver a linha. Brilhando vagamente. Ele não se movia, apenas a seguia. Já estava decidido que Haruhiro seguiria aquela linha. Direção, ângulo, velocidade, ele não precisava pensar em nada disso.

Seu campo de visão subitamente se elevou. Como se estivesse olhando de cima, num ângulo. Ele mesmo, seus companheiros, os guorellas, Jessie, Yanni e os outros. Ele sabia onde todos estavam, talvez não como a palma de sua mão, mas quase isso.

Primeiro, este aqui. O jovem macho que Mary acabou de atingir com seu cajado. Vou envolver meu braço esquerdo em seu pescoço e cravar o estilete em seu olho direito.

Depois, este. O que Kuzaku fez recuar ao balançar sua grande katana. Também um jovem macho. Vou matá-lo.

Depois, este que está tentando atacar Shihoru. Seus chifres peludos têm um pouco de vermelho. Ele também morre.

Com isso, abriu-se um caminho estreito.

— Corram para a prisão! — gritou Haruhiro para seus companheiros e imediatamente afundou novamente.

Stealth. Eu tenho que remover os obstáculos, aqueles que atrapalham meus companheiros. É possível. Para mim. Só eu posso fazer isso.

Não acho que tenho poderes especiais. Não tenho. É só porque é agora. Neste momento, estou desempenhando o papel que me foi dado. Só isso. Se me encher de mim mesmo, vou tropeçar. Já falhei inúmeras vezes assim. É por isso que sei.

Eles estavam quase na prisão onde Setora tinha sido mantida.

— Entrem primeiro! Eu entro por último! — gritou Kuzaku, ainda balançando sua grande katana. Sua resistência e determinação eram admiráveis.

Shihoru, Setora, Mary e então Yume correram para dentro da prisão. Kuzaku estava se atrapalhando na entrada.

Eu posso ajudar, pensou Haruhiro. O macho, aquele que estava teimosamente avançando e recuando, atacando Kuzaku. É um redback. Se eu derrubá-lo, Kuzaku terá mais facilidade. Sem problemas. Posso lidar com isso. Veja.

Haruhiro já estava atrás dele. Agarrou-o, envolveu o braço esquerdo em seu pescoço e cravou repetidamente seu estilete em seu olho direito. Como de costume.

Está bem. Vá. Ele nem precisou dizer antes que Kuzaku entrasse correndo na prisão.

Haruhiro o seguiu.

Ele foi tomado por tontura. Estava ficando sem forças. Não conseguia se manter de pé. Caminhar estava fora de questão…

Mas ele ainda continuou pelo corredor, ajoelhando-se em frente a Mary. Ele se apoiou de quatro. O que Kuzaku estava fazendo?

— Oraah! Rahh! — Pelo que parecia, ele estava segurando os guorellas que tentavam entrar na prisão com sua grande katana. Nada bom. Mary e os outros diziam algo.

Oh, certo. Sangue. Cada vez que matava um guorella, era ferido pelos chifres peludos deles e perdia sangue.

— Mary, cura… desculpa — ele disse de forma fragmentada. Sentia que ia desmaiar. Não podia deixar isso acontecer.

Mary usou magia de luz nele. Cure.

Ele se sentiu um pouco melhor. Ou pelo menos pensou. No mínimo, conseguia ficar de pé. Mas ainda era difícil respirar.

— Droga! — gritou Kuzaku. — É difícil usar minha katana! Tá tão apertado que só consigo estocar aqui dentro!

— E agora? — alguém gritou.

…Shihoru, né? Kuzaku. Está ruim? Quem foi mesmo que disse pra gente vir até a prisão? Jessie, né? Aquele cara. Mas, em um lugar mais aberto, poderíamos fazer mais. Será que é hora de pensar nisso? Não, né? Precisamos agir.

— …Aquele ali — murmurou ele.

Certo. Precisamos matá-lo. É o líder. Se o derrubarmos, isso acaba. Se não, nunca vai terminar.

— Eu vou fazer isso… — ele murmurou. — Um ataque, com tudo que tenho. Vou… sair. Vou encontrá-lo… e acabar com isso. Por mim mesmo…

— Certo, mas…! — Yume tentou argumentar.

— Eu vou fazer! — ele gritou, interrompendo-a. — Não temos escolha. Se continuar assim, seremos exterminados. Todo mundo vai morrer. Eu vou fazer isso. Escutem, todos contra-atacam juntos. Nesse tempo, eu saio. Um, dois…!

— Zuooooahhh! — Kuzaku se jogou contra vários guorellas, derrubando-os. Ele chutou o guorella à sua frente e balançou sua grande katana. Kuzaku provavelmente estava usando o restante de suas forças. Sua katana grande cortou a cabeça de um guorella.

Ao ver os guorellas recuarem assustados, Yume gritou: — Miaurrr! — e foi atrás de Kuzaku.

Shihoru mandou um Dark. Setora jogou algo. Haruhiro tentou se concentrar.

Stealth

Ele não conseguiu usar. O que está acontecendo? Estranho.

Deslizando pela brecha entre Yume e Kuzaku, um guorella macho entrou na prisão. Ele precisava detê-lo. Precisava lutar. O guorella estava vindo em sua direção. Por que ele não tinha força na mão que segurava o estilete? O inimigo estava bem ali.

— Não! — Mary avançou, acertando a cabeça do guorella com seu cajado. Ele achou que a viu imediatamente recuar o cajado, tentando desferir outro golpe.

Ela não conseguiu.

O guorella segurou o cajado com as duas mãos, puxando-a para si.

Shihoru gritou: — Mary! — e Setora berrou: — Solte-o!

Isso mesmo, Mary. Você tem que soltar.

Com o cajado ainda em mãos, Mary caiu em direção ao guorella.

Foi então que, finalmente, Haruhiro conseguiu se mover.

— Ohh… — Ele gemeu, e ouviu um som de algo se quebrando.

Mary fez o que Setora disse e soltou o cajado. Mas o guorella não tinha interesse no cajado e agarrou outra coisa, ou melhor, a abraçou.

— Ahh! — Shihoru deixou escapar um grito fraco.

Naquela mesma posição, o guorella mordeu a área entre o ombro e a nuca de Mary.

Logo depois, Haruhiro o agarrou. Ele praticamente se pendurou no guorella enquanto cravava seu estilete no olho direito da criatura.

Os olhos de Mary se arregalaram, e ele conseguiu ver.

Eu preciso me apressar. Depressa. Depressa. Tenho que matá-lo. Ou será tarde demais. Tarde demais? Para o quê…?

Quando o guorella morreu, Mary caiu no chão com ele. Foi difícil tirar o guorella de cima dela. A força—Ele não tinha força. Nem nos braços, nem nas pernas, nem em lugar algum.

Enquanto fazia algo…

— Como ela está?! — Setora perguntou.

Haruhiro não respondeu.

Os olhos de Mary estavam semicerrados, e ela tremia. Tossiu, e sangue saiu.

— Magia! — Haruhiro chamou por ela. — Mary, use magia. Você precisa se curar. Depressa. Mary.

Mary tentou levantar a mão direita. Parecia que não conseguia movê-la. Era uma lesão? Os ossos? Estavam quebrados? Onde? Como?

Haruhiro largou o estilete e levantou a mão direita dela com as suas. Mary gemeu e balançou a cabeça.

Estava doendo? Muito? O que ele podia fazer?

Magia. O sinal do hexagrama. Para isso, ela precisava da mão. O encantamento. Não dava certo só com o canto? Se ela não podia mover a mão, não conseguia usar magia de luz? Que droga. Como isso funcionava?

— Mary? Mary?! — ele gritou. — O q-que eu devo…?

Algo. Mary estava tentando dizer algo. Haruhiro aproximou o ouvido dos lábios dela.

— Mary? O quê? Mary, o que você está dizendo?!

— Ha.

— Sim. O quê?

— …Haru.

— Hein?

— Eu…

— Sim.

— Haru… você é quem… eu…

— Quem o quê? O que foi, Mary…?

Mary inalou profundamente.

Mary estava tentando respirar? Ou dizer algo? Haruhiro afastou o rosto um pouco e olhou para ela.

Por quê? Por que ela estava sorrindo? Não estava sofrendo? Não doía? Não estava com medo?

Por que você está sorrindo?

Mary.

Fim do volume…

Notas finais do tradutor:

E assim termina este volume! (No meio da ação.)

Comentem ai o que estão achando, na verdade sempre comentem nos capítulos.

Qualquer dúvida entrem em contato comigo ou com a equipe no Discord QThNS27.

Enquanto esperam vocês podem ler:

Prévia do Próximo Volume

O que eu quis dizer com subir um degrau?

O que eu quis dizer com vou desenvolver o Kuzaku?

O que eu quis dizer com minha intuição está afiada?

O que eu quis dizer com consigo ver o redback entre os redbacks na minha mente?

Eu não entendi nada.

Não consegui fazer nada.

Não fui capaz de fazer nada.

E foi assim que isso aconteceu.

Está tudo acabado. Ou deveria estar.

Aquele homem diz: — Existe um caminho. Apenas um.

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