Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 9 – Volume 21 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Capítulo 9 – Volume 21

Capítulo 9

Esmagar tudo.

Ainda era cedo, então decidiram ir para Damuro. Embora Haru não parecesse muito interessado, Yori queria conhecer o lugar, e Manato também estava interessado nos vassalos de Skullhell. Riyo provavelmente acompanharia Yori aonde quer que fosse.

Damuro, tanto em relação aos vestígios da fortaleza Observação Deadhead quanto em comparação à Velha Altana, possuía uma escala completamente diferente. Tsunomiya, no Japão, também era uma grande cidade, mas em termos de área, Damuro provavelmente não ficava atrás.

Segundo Haru, Damuro estava dividido em duas seções principais: a cidade nova de Damuro, localizada a noroeste, e a cidade velha de Damuro, situada a sudeste.

Resumindo, Damuro era uma cidade humana, mas há cerca de duzentos anos, foi invadida e destruída por outras raças. O velho distrito ficou em ruínas, e os goblins que se tornaram os novos governantes de Damuro reconstruíram o novo distrito.

Parece que há cem anos, os goblins também foram aniquilados. Depois, os vassalos de Skullhell chegaram e se estabeleceram.

— Quase todos os vassalos estão no novo distrito. As bordas do velho distrito ainda estão destruídas, como vocês podem ver…

Damuro costumava ser totalmente cercada por muralhas. Hoje, há apenas alguns vestígios antigos. Na verdade, só existem pedras empilhadas aqui e ali, não havia realmente uma muralha que pudesse ser chamada assim.

Ao passar pelos restos da muralha, havia escombros espalhados que um dia formaram edifícios, e às vezes se empilhavam e se elevavam. A vegetação crescia e havia arbustos aqui e ali. Embora pequenos animais e insetos fossem vistos, não havia sinais dos vassalos.

— O velho distrito está desabitado? — perguntou Yori.

Haru negou com a cabeça.

— Não. Tem um criadouro.

— Criadouro? Eles também criam animais?

— Sim, criam animais… é isso mesmo.

Após caminharem por um tempo pela periferia da cidade velha, que parecia prestes a se transformar em uma área verde, avistaram um muro. Além dele, conseguiam ver as sombras de edificações negras e imponentes. Manato lembrou-se de uma ocasião em que viu um enorme ninho de vespas na montanha. Esse ninho não estava nos galhos, mas inflado na base da árvore. Aquelas construções se assemelhavam a um ninho de vespas gigantesco, porém muito, muito maior.

Será que aquilo era realmente um prédio? Mas não parecia algo natural.

Antes de mais nada, havia a parede do muro.

Haru levou Manato e os outros até um conjunto de árvores que pareciam oferecer uma boa camuflagem. De lá até a parede ainda havia uma certa distância. Mesmo correndo, provavelmente levaria cerca de dez segundos para chegar até lá.

— A altura deve ter uns seis metros? — Yori olhou por entre as sombras das árvores. — A largura deve ter cerca de duzentos ou duzentos e cinquenta metros, se não me engano. Está cercando algo? Pode ser que seja o criadouro?

Haru não confirmou nem negou, apenas apontou para a borda da parede do muro.

— Tem um guarda. A corrupção já tomou conta de todo o corpo dele. É um soldado vassalo.

De fato, no local apontado por Haru, havia alguém em pé. Embora tivesse uma forma humana, essa pessoa parecia vestir-se de maneira semelhante a Haru, completamente de preto. Toda a sua pele era de um tom escuro. Manato, que tinha a melhor visão entre seus antigos companheiros, conseguia enxergar bem tanto de perto quanto de longe. A essa distância, conseguia distinguir o rosto, mas não estava seguro de como o guarda parecia.

— Quantos guardas há aproximadamente?  — perguntou Yori.

Haru inclinou levemente a cabeça.

— Não tenho certeza. Os vassalos não aparentam estar organizados como os devotos. Tenho observado bastante os vassalos de Damuro, e a situação varia de tempos em tempos. Os soldados vassalos fixos no criadouro são dois ou três. Não creio que haja apenas um. Quando ocorre um envio, outros soldados vassalos aparecem.

— Envio…? Dos animais do criadouro?

— Eu nunca vi os devotos comendo nada. Bem, pelo menos até agora. Mas os vassalos comem.

— Eles cozinham a carne? A principal comida deles é a carne dos animais do criadouro?

— Não cozinham. Pelo menos, não que eu saiba.

— Fazem sashimi? — Manato também comia vísceras e carne crua das presas de vez em quando. Nem tudo era comestível, mas havia partes que eram bastante saborosas se estavam frescas. Seus pais lhe ensinaram isso.

— … Não sei se eles fazem isso. Mas os vassalos comem carne crua, seja viva ou morta, sem cozinhar. Parece que também caçam, mas isso não parece ser o suficiente.

— Ei, Haru, você já tinha comentado isso antes, né? Disse que as grandes feras diminuíram muito. Foi porque os vassalos as caçaram até acabar com elas?

— Isso mesmo. Eles comem e se reproduzem.

— Mas não é isso que todos os seres vivos fazem? — Yoli deu de ombros. — No fundo, Yoli e os outros são semelhantes. Eles precisam se alimentar para viver e se reproduzir para manter a espécie.

— O que eles criam ali dentro é goblins.

— … O quê?

Yori e Riyo se olharam, ambas pareciam surpresas.

— Goblins? — Provavelmente, ele nunca havia ouvido falar deles no Japão. Eles tinham aparecido várias vezes nas histórias de Haru. Manato tentou se lembrar.

Damuro? Quem ocupou esse lugar? Ah, eram uns seres parecidos com humanos? E… eles comem essas criaturas que parecem humanos?

 

* * * *

 

Existem várias instalações de criadouros na cidade velha de Damuro. Segundo Haru, esses lugares não eram apenas cercados por muros de pedra, mas também tinham o solo escavado, servindo como locais destinados à criação de goblins.

No muro, existe apenas um único portão. Neste momento, Manato e os outros estavam escondidos entre árvores e destroços, observando esse portão. O portão era feito de barras de ferro entrelaçadas, bastante enferrujadas. O cadeado estava colocado do lado de fora, indicando que sua função era impedir que alguém saísse de dentro.

Enquanto o sol se punha, algo se aproximava vindo da cidade nova. Era uma carroça de quatro rodas, muito maior do que as que se costumam ver no Japão, pelo menos o dobro do tamanho. Parecia mais uma jaula sobre rodas. As carroças no Japão têm motor, mas essa não possuía. Duas pessoas estavam puxando a carroça por uma alça em forma de U que se estendia para a frente. Não apenas uma pessoa, mas duas. Eram bastante grandes… Seriam humanos? A pele deles era verde.

— Orcs… — murmurou Yori.

Uma raça com pele verde: os orcs. Agora que pensava nisso, havia alguns entre os soldados divinos. Os dois orcs estavam segurando a alça e puxando a carroça-jaula. Os orcs soldados divinos tinham olhos brilhantes, mas os desses dois eram completamente escuros. Os orcs vassalos tinham olhos totalmente escuros. A jaula estava vazia. Não levava nada dentro. No entanto, sobre a jaula estava sentada uma criatura humanoide de pele escura. Não era um orc. Ele se parecia com os guardas mencionados anteriormente; sua pele estava infectada de maneira semelhante. Segundo Haru, era um Vassalo.

Quando a carroça parou em frente ao portão, os orcs começaram a retirar o cadeado e a abrir o portão. Embora os orcs parecessem ter bastante força, estavam tendo dificuldades para abri-lo. Isso poderia ser devido à ferrugem ou à deformação. Aparentemente, a estrutura estava bastante desalinhada.

O soldado vassalo sobre a jaula limitava-se a cruzar as pernas e assumir várias posturas, sem tentar se mover. Não parecia ter intenção de ajudar os orcs.

Finalmente, o portão se abriu. Os orcs voltaram a puxar a carroça e entraram no criadouro pelo portão.

Havia um guarda no topo do muro, mas ele não era muito visível de onde estavam.

O portão permaneceu aberto. Logo, a jaula desapareceu da vista.

Como o interior do criadouro era escavado e profundo. Talvez a carroça tivesse descido para essa área mais baixa.

Ouviram-se alguns sons que pareciam vozes. Palavras que Manato não entendia, mas tinham um tom de gritos. Esses gritos agudos, o que eram? Era um som diferente dos gritos de raiva. Eram gritos de dor? Havia muito barulho.

— O que eles estão fazendo? — perguntou Yori a Haru, apenas expressando sua dúvida.

Haru permaneceu em silêncio.

Yori foi quem propôs investigar o criadouro. Haru queria voltar.

Manato não entendia muito bem. Caçar e comer bestas era algo muito natural para ele. Também poderia acontecer de humanos serem atacados e comidos por bestas. Ele não considerava isso algo terrível. No entanto, mesmo que estivesse com fome, não tinha certeza se queria matar e comer outros humanos.

Se não quisesse comer, mas a alternativa fosse morrer, então teria que comer.

Mas, por exemplo, se lhe perguntassem se ele comeria um companheiro como Junza caso estivesse morrendo de fome, qual seria sua resposta?

Não importa a situação, eu nunca comeria um companheiro.

E se, por acaso, estivesse prestes a morrer e seus companheiros estivessem morrendo de fome? Se não houvesse outra comida, talvez pensasse: “De qualquer forma, vou morrer em breve, podem me comer, prefiro até que meus companheiros me comam”. Mas mesmo que Manato quisesse isso, seus companheiros o comeriam? A menos que fosse uma situação extrema, provavelmente não fariam isso.

E se não fosse um companheiro, eles o considerariam comida?

Nas ruas das cidades, exceto em Tsunomiya, muitas vezes havia cadáveres jogados na estrada, infestados de moscas e outros insetos, e eram devorados por corvos, cães e porcos. Como caçador, caçava todo tipo de animal: aves, cães selvagens, javalis, até cobras e insetos. Se bestas e insetos podem comer cadáveres humanos, não deveria ser um problema que humanos comessem humanos.

No entanto, Manato sentia que não conseguiria comer humanos.

Embora não soubesse o porquê, os humanos não comiam humanos.

Provavelmente, porque era algo que não deveria ser feito.

— Os goblins são humanos? — perguntou Manato a Haru em voz baixa, segurando sua capa.

Haru respondeu após uma breve pausa.

— No passado, matei muitos goblins na cidade velha de Damuro. Eles possuíam sua própria língua e cultura, semelhantes aos humanos. No entanto, não os considerávamos humanos. Era habitual a prática de canibalismo entre eles. Sem receio de mal-entendidos, acreditávamos que os goblins pertenciam a uma raça inferior: menos inteligentes, mais feios e mais selvagens do que nós, humanos.

— Isso é sério mesmo?  — interveio Yori. — Os goblins podem ser pequenos, mas têm mais resistência e força explosiva do que os humanos. Eles não são estúpidos. A prática de consumir seus próprios mortos possui um significado cerimonial. Embora os goblins do Continente Vermelho continuem com essa prática, os que se mudaram para o Reino Unido a abandonaram para coexistir com outras raças. Muitos domadores de dragões são goblins. É uma profissão perigosa e respeitada. A propósito, o mestre domador de dragões de Yori e Riyo é um goblin.

— Entendo. Então os goblins agora estão no Continente Vermelho e ao sul das Montanhas Tenryu. — Haru suspirou. — Não me surpreende que tenham se tornado amigos deles. Eles criaram seu próprio reino na cidade nova de Damuro e alguns goblins até interagiam com outras raças.

— E aqui eles os criam como gado? — Yori olhou para baixo e apertou os lábios. Parecia realmente zangada. Ou melhor, estava zangada desde o começo. — Não é possível. Por que fariam algo assim…?

Yori levantou a cabeça porque Riyo tocou levemente seu braço.

Além do portão aberto, surgiu uma jaula. Parecia que tinha descido e agora estava subindo novamente.

O soldado vassalo que se encontrava sentado na carroça-cela quando chegaram não estava mais visível.

A carroça, que antes estava vazia, agora estava carregada com algo. Poderia afirmar que estava repleta de pessoas, ou melhor dizendo, pessoas que haviam sido forçadas a entrar ali.

Eram pequenos. Do tamanho de uma criança humana. Seus braços e pernas eram finos, seus peitos estreitos e planos. Suas costelas estavam marcadas, mas suas barrigas estavam inchadas. Em comparação com seus corpos, suas cabeças pareciam grandes. Ou talvez parecessem grandes porque estavam magros.

A pele dos orcs era verde, enquanto a deles tinha uma cor semelhante, mas um pouco amarelada. Diferentemente dos dois orcs que vestiam roupas resistentes, eles estavam nus.

— São… goblins — murmurou Yori com uma voz rouca.

Alguns goblins estavam sentados. Outros estavam de pé. Os goblins que podiam sentar, o faziam, e os que não tinham espaço para sentar, ficavam em pé. Os goblins que estavam de pé do lado de fora da carroça se agarravam à jaula, e os que não conseguiam alcançar a jaula se apoiavam nos goblins próximos. A carroça balançava, então, sem algo para se apoiar, poderiam cair. Pareciam incrivelmente apertados, e, embora devessem estar se empurrando, não pareciam ter energia para isso. Pareciam enfraquecidos.

A carroça passou pelo portão. O soldado vassalo estava atrás da carroça. Ele segurava algo na mão enquanto caminhava.

O que era aquilo? Não era pequeno.

Parecia ter o tamanho de um braço. Estava dobrado na metade.

Os orcs se afastaram da carroça e começaram a fechar o portão.

O soldado vassalo caminhava lentamente ao lado da carroça, aproximando o que tinha na mão do rosto.

O que ele estava fazendo?

O que era aquilo?

O soldado vassalo tinha o corpo inteiro coberto por algo escuro, como escamas negras.

Ele abriu a boca, ou pelo menos parecia. Sua mandíbula inferior se moveu para baixo. O interior de sua boca também era escuro.

— Ele está… comendo — murmurou Yori, cobrindo a boca com uma mão.

Tinha o tamanho de um braço. Estava dobrado no que seria o cotovelo. Era verde, com um tom amarelado. Em algumas partes, era avermelhado.

Não era apenas do tamanho de um braço.

Era um braço.

O soldado vassalo estava comendo o braço de um goblin.

O portão do criadouro se fechou e foi trancado com um cadeado. Os orcs se alinharam e começaram a puxar a carroça. Parecia que o soldado vassalo caminharia ao lado da carroça.

Os goblins dentro da jaula permaneciam em silêncio. Ali mesmo, o soldado vassalo mastigava e triturava o braço de um de seus companheiros. Embora alguns goblins o observassem da jaula, não proferiam uma palavra. Ficavam imóveis.

— Uh… então — Manato olhou para a carroça, depois para Yori e Riyo, uma a uma. — Não vamos ajudar eles? Essas… pessoas?

— Eh… — Riyo arregalou os olhos, surpresa. Yori colocou uma mão no punho de sua espada vermelha e se agachou.

— Não, pare… — Haru interrompeu Yori, que estava prestes a sair correndo. — Espere, Yori. Damuro é o território dos vassalos. Não se pode subestimar nem mesmo um único soldado vassalo. Se juntarem dois ou três, não sei se conseguiremos lidar com eles. Além disso, mesmo que libertemos esses goblins da jaula…

— Haruhiro. Entendo o que você quer dizer. Yori não é uma tola.

— … Não estou pensando isso.

— De verdade? Yori está agindo impulsivamente, tentando ajudar esses goblins sem pensar nas consequências. Não é isso que você pensa, Haruhiro? Estou te dizendo, você está completamente errado.

— O que você está… planejando?

— Há vários criadouros de goblins, certo?

— Na Cidade Velha, provavelmente quatro.

— Vamos destruir todos eles.

— … O quê?

— É complicado resgatar todos os goblins que estão aprisionados. Mas não vamos permitir que continuem com a criação. Yori não permitirá isso de forma alguma. Primeiro, vamos impedir os envios. Em seguida, destruiremos os criadouros um a um. Vamos aniquilá-los. Riyo.

Quando sua irmã a chamou, Riyo assentiu em silêncio.

Se Yori tinha essa intenção, Riyo certamente a ajudaria. Embora fossem irmãs, não se pareciam tanto. Não eram gêmeas e tinham um ano e meio de diferença de idade. A irmã mais nova era mais alta que a mais velha. Além da aparência, suas personalidades eram completamente distintas. Mesmo assim, as duas definitivamente eram uma só alma.

— Haru.

Manato deu um leve tapinha no ombro de Haru. Não havia nada de engraçado nisso, mas isso o fez rir um pouco.

— … Entendido. — Haru baixou a cabeça. — Mas me prometam que vamos recuar quando necessário. Os vassalos de Skullhell estão por toda Grimgar. Há muitos criadouros. Esta será uma luta muito mais longa do que você imagina.

— Você acha que Yori vai desistir? Ela herdou o sangue dos bisavós.

— Bem! — Manato estendeu sua mão direita para baixo.

— O que é isso? — Yori inclinou a cabeça enquanto colocava sua mão direita sobre a de Manato.

Riyo, provavelmente porque sua irmã o fez, também colocou sua mão direita sobre a de Yori.

— … O que estão fazendo?

Haru não estendeu a mão.

— Mm.

Quando Manato fez um movimento com o queixo, Haru finalmente colocou sua mão direita sobre a mão direita de Riyo.

— O que é isso? — Yori parecia perplexa.

— Quem sabe? — disse Riyo.

Manato riu. — É como uma espécie de “vamos nos esforçar juntos”.

— Juntos… — Riyo olhou para Yori, depois para Haru, e finalmente para Manato. Então, assentiu levemente.

— Vamos nos esforçar. Juntos.

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