Hai to Gensou no Grimgar – Extras – Vol 6 - Anime Center BR

Hai to Gensou no Grimgar – Extras – Vol 6

Capítulos Extras

 

A Besta que em Breve Provocará a Destruição

As cores crepusculares que tingiam os céus anunciavam a aproximação do fim.

— Em breve, o Lorde Demônio das trevas surgirá, e o mundo se renderá ao desespero que essas sombras trazem…

O homem que agora se fazia passar pelo nome transitório de Inui neste mundo olhou para o céu em Altana, a cidade da destruição.

— Heh… — Ele pigarreou e esboçou um sorriso.

O sino tocou, marcando o tempo da ruína. Desavisadas de sua destruição iminente, as massas insensatas seguiam com seus afazeres enquanto o vento da profecia soprava.

— Tenho a impressão de que sou o único a ter uma compreensão plena da realidade que permeia este mundo material… —

Com um sutil ar de solidão, Inui adentrou um beco.

— Eles não são fáceis de encontrar, parece… meus companheiros predestinados, aos quais estou ligado pelos laços de nossa vida passada… —

De repente, ao sentir o olhar de outro sobre ele, Inui levantou os olhos. A besta negra o observava do alto do edifício em frente ao beco. Olhos âmbar. Pupilas redondas da cor da escuridão.

— Você… não pode ser… — murmurou Inui.

— Miau — respondeu a besta negra com uma voz ridícula.

— Sua forma usualmente falsa, vejo — disse Inui. — Achou que me enganaria?

— Miiiiiau.

— Quer lutar, não é? Heh… admiro sua coragem… — Inui acenou para a besta. — Venha. Venha a mim. Eu enfrentarei você.

A criatura negra inclinou a cabeça e, em um instante, desapareceu de vista. Teria ela antecipado sua derrota iminente e optado por se retirar? Não se tratava de uma tola, ao contrário dos humanos, frequentemente impulsivos. Inui franziu a testa e, ao balançar a cabeça, estava prestes a se voltar e se afastar.

Foi então que aconteceu. Com um pouso suave, a criatura negra reapareceu, aproximando-se dele de maneira inesperada.

— Eu já sabia… — Inui abriu o olho não coberto pela pala. Com calma, baixou os quadris e estendeu a mão direita em direção à criatura negra. — Estou plenamente ciente de suas fraquezas. Você realmente acredita que será capaz de me superar?

A besta negra parou, hesitando, talvez tomada pelo temor. É compreensível que sentisse receio de Inui, sem dúvida. Contudo, mesmo assim, a besta negra se dispôs a desafiá-lo. Inui já havia enfrentado inúmeras batalhas semelhantes e tinha a capacidade de discernir essas situações. E, de fato, sua intuição se confirmou.

A besta negra avançou com cautela, aproximando o focinho da mão direita de Inui. Ao estender o dedo indicador, Inui permitiu que o animal o cheirasse. Em seguida, a besta roçou seu queixo contra o dedo de Inui, emitindo um suave ronronar. Inui sorriu ao presenciar a interação.

— Você nunca poderia me derrotar… Heh… Heheheh… Hahhh! Ha, ha, ha, ha, ha…

No entanto, talvez ele tenha baixado a guarda. Enquanto acariciava o pescoço da besta negra, virou-se para olhar atrás de si. Seus olhos encontraram os de outro.

— …Reforços, é isso?

Havia uma besta branca, várias bestas listradas, e uma grande besta negra. Elas se aproximaram de Inui sem medo. Que audácia!

— Vocês acham que podem me derrotar confiando nos números? — Inui perguntou. — Vocês me subestimam! Não pensaram que eu preveria sua trama e me prepararia?

Inui rapidamente pegou a besta negra no colo, puxando vários pedaços de carne seca do bolso. Havia fome nos olhos das bestas.

— Estou bem familiarizado com seus hábitos. Conhece-te a ti mesmo, conhece o teu inimigo, e não temerás o resultado de cem batalhas!

As bestas se aglomeraram ao redor da carne seca que ele jogou para elas. A besta negra nos braços de Inui se debatia, querendo um pouco da carne seca para si.

— Calma… Eu tenho para você também.

Inui retirou mais carne seca do bolso e a ofereceu à besta negra que estava em seu colo. A besta parecia faminta, pois, ao esquecer que estava nos braços de Inui, não apresentou resistência enquanto ele a acariciava delicadamente. Ela se alimentava de forma voraz da carne seca.

Inui estreitou o olho direito.

— No fim, você não foi páreo para mim… É só isso. Meh…

— Miau.

— Miiiiau.

— Mrrrrau.

— Miau.

— Miau.

— Miau.

Vozes. Vozes. Vozes. Vozes… Vozes de todas as direções.

 

Inui olhou ao redor. No telhado, do outro lado do beco, e também no lado oposto, havia bestas, bestas, bestas. Eram mais de dez… não, eram dezenas delas. Segurando a besta negra ainda concentrada na carne seca, Inui enfiou a mão no recipiente.

— …A batalha apenas começou, pelo visto. Heh.


 

Mesmo

— Ta-dá! Quem chegou? Hey, sou eu, Kikkawa! É isso aí! Huh? Não gostou disso? Perdão? Uau! Bem, seja como for, vamos em frente. O quê, o quê? Vocês vão embora? Estão indo embora? Tipo, sério? Tipo, de verdade? Tá, tudo bem. Entendi. Até mais. Talvez na próxima, beleza? Amanhã, certo? Amanhã! Eu amo vocês! Preciso de vocês! Tchau tchau! Eu amo muito, muito mesmo!

Kikkawa sorriu ao ver as duas mulheres saindo, depois piscou para Ranta, que voltava correndo.

— Foi mal, foi mal! Fui rejeitado de novo! — chamou Kikkawa. — Estou totalmente fora do ritmo hoje. Isso já é a sétima! Vamos chegar a dez! É isso aí! Dez, dez, deeez!

— …Cara, com todas as vezes que você já foi rejeitado, fico surpreso que ainda tenha tanta energia — respondeu Ranta.

— Hã? Quero dizer, a próxima pode dizer sim, né? Pode haver uma garota ainda mais fofa por aí, só esperando por mim, sabe? Quando você pensa assim, não te dá uma empolgação? Fogo, fogo! Tá, na próxima, Ranran, você vai ser meu apoio! Vamos fazer isso!

— Eu… prefiro não — disse Ranta.

— Por quê, por quê, por quê? Como assim, como assim?

— …Eu só estou me sentindo exausto, de algum jeito. Aliás, qual é a sua taxa de sucesso?

— Hmm. Não sei. Eu não conto, então, tipo, sei lá, cara. Às vezes consigo de primeira, às vezes fico na seca a noite toda. Bem, é assim que funciona, acho. E você, Ranran?

— Eu não… Espera aí. Quem você tá chamando de Ranran?

— Ranran-ra-ran! Não soa divertido? Sinta isso! Yay! Então, então, então, Ranran, como é a sua taxa de sucesso? — perguntou Kikkawa.

— Eu… Bem, sabe como é? Quando dá certo, dá certo, quando não, não dá, acho…

— Igualzinho a mim, hein! Somos pássaros da mesma pena! Yay! E aí? Vai pra próxima?

Ranta recusou.

Seria meio estranho simplesmente ir para casa, então os dois decidiram beber. Escolheram o bar para o qual Renji o tinha levado, na beirada do Beco Celestial. Era pequeno, mas tinha uma boa variedade de bebidas. Um lugar bacana.

— Ooh, Ranchicchi, você bebe em lugares assim, hein? — chamou Kikkawa. — Tão maduro. Você é tão adulto. Você é legal. Você é o melhor!

— Tá tirando com a minha cara, parceiro? — perguntou Ranta.

— Nada disso, cara, é um bom lugar. Ei, garçom, vou querer o que você sugerir! Algo que tenha um bom sabor! Nada muito forte, talvez. Vou nessa!

— Pra mim, um conhaque — disse Ranta.

— Uau! Conhaque! Ranchicchi, você é tão legal! Bem, talvez eu… não faça o mesmo! Algo diferente pra mim, por favor! Sem motivo nenhum pra isso!

— …Kikkawa, cara, você tem energia demais. Eu poderia te matar, e você provavelmente ainda continuaria indo e indo.

— Nada disso, cara, se você me matasse, eu ficaria bem morto. …Ops.

— Hã? O quê? — perguntou Ranta.

— Nada, foi mal. Por, tipo, falar sobre morrer e tal.

— Ahhh, isso. De boa, cara. Quero dizer, fui eu quem começou.

— Bem, é, eu sei. Eu sei disso, mas mesmo assim… — Kikkawa virou a bebida que lhe trouxeram e soltou um suspiro. — Eu não entendia muito bem, sabe. O jeito que vocês se sentem. Pois é. Fico pensando que eu devia ter sido mais compreensivo. Só depois de passar por aquela situação em que parecia que, “Ei, talvez estejamos ferrados de vez” que eu entendi. A ideia de perder alguém, é assustadora, cara. Vocês tiveram que passar por isso e superar. Por isso, né? Por isso vocês nos salvaram.

— …Vai saber — disse Ranta.

— Eu pensei que podia ser isso.

— Vocês também nos ajudaram. Diria que estamos quites.

— Acha mesmo?

— É assim que é. É a vida, cara. …Vamos parar. Não é divertido falar sobre isso.

— É.

Kikkawa sorriu, levantando seu copo de vidro.

— Essa é por minha conta. Deixa comigo a conta.

— É bom que seja mesmo — Ranta deu uma risada nasal. — Depois eu pago no próximo lugar. É assim que funciona, sabe?


Não dá para parar

— Você acha que aquele velhote esquisito fugiu? — Tokimune riu e ajustou o aperto na espada. Seu escudo estava jogado em algum lugar por perto. Ele não conseguia mais usar a mão esquerda, nem o braço inteiro.

— Quem sabe? — perguntou Tada. — Não faz diferença pra mim.

Tada carregava sua espada de duas mãos sobre o ombro. Sua respiração ofegante fazia parecer menos que ele estava deliberadamente baixando o centro de gravidade e mais que ele estava exausto e forçado a isso.

Eles estavam nas Minas Cyrene. Não lembrava mais em qual camada. Não importava se olhavam para frente, para trás, para a esquerda ou para a direita, só havia kobolds, kobolds, kobolds. Talvez houvesse mais kobolds anciões bem construídos do que os normais. Os dois estavam completamente cercados.

Os kobolds estavam todos enfurecidos, mas não avançavam. Mesmo naquele estado excitado, ainda mantinham cautela. Alguns kobolds que haviam saltado contra os dois humanos haviam sido abatidos com apenas um golpe.

— Tada — chamou Tokimune.

— O quê?

— Eu tava pensando, cara, você é guerreiro, por que não usa elmo?

— Ei, amigão, você é paladino, por que não usa também? — retrucou Tada.

— Ah, é muito apertado, não gosto.

— Bem, eu sou forte, então não preciso de um.

— Faz sentido.

— …Além disso, não consigo enxergar direito sem meus óculos — confessou Tada.

— Ahhh. Sim, óculos e elmos não combinam muito bem, né?

— De qualquer forma, eu não preciso de um.

— Você é um cara teimoso, Tada. — Tokimune riu e virou a cabeça. Os kobolds ainda não tinham atacado. — Eles estão com medo, hein. Ei, Tada. Tá afim de uma competição? Ver quem mata mais?

— Nem pensar.

— Hã? Por quê?

— Eu sei que venceria. Não faz sentido. Vamos fazer algo melhor.

— O quê? — perguntou Tokimune.

— Ver quem sai das Minas Cyrene primeiro.

— Gosto disso. Tô dentro.

— Eu vou ganhar. — Tada deu um passo à frente e desferiu um golpe com sua espada de duas mãos. Um uivo. Um kobold caiu.

Não querendo ficar para trás, Tokimune avançou, cravando sua espada na boca de um kobold. Logo, perdeu a oportunidade de observar como Tada estava lutando. Depois de derrubar o kobold, ele usou o corpo como escudo de carne enquanto matava outro.

— Ha ha! Ha ha! — Ele podia ouvir Tada rindo.

Ele estava se divertindo tanto que, mesmo quase sendo enterrado em uma pilha de corpos de kobolds, Tokimune sorriu. Com um sorriso, ele enfiou sua espada através de uma brecha entre os corpos.

— Gah…!

Era a voz de Tada. Tokimune se virou para olhar. Tada estava de quatro. Será que ele tinha sido atingido? Melhor ir ajudá-lo, pensou Tokimune, mas ele não conseguia abrir caminho através dos corpos.

— Você não ia ganhar essa, Tada?! — ele gritou.

Tada tentou se levantar. Não conseguiu. Não foi rápido o suficiente. Um kobold ancião alcançou Tada.

Alguém agarrou aquele kobold ancião violentamente por trás, quebrando seu pescoço.

— …Velhote! — gritou Tokimune.

— Meu nome é Inui! — O ladrão, Inui, que parecia o retrato de um homem de meia-idade, continuou a quebrar o pescoço de outro kobold. — Eu sou Inui, o Lorde Demônio! Contemplem minha supremacia!

— Você não faz sentido nenhum! — Tada se levantou com calma, então girou sua espada de duas mãos, cortando os kobolds ao redor. Tokimune empurrou os corpos de lado, também, chutando um kobold e enfiando sua espada nele.

— Sendo o velho que é, achamos que você tinha dado no pé! — gritou Tokimune.

— O Lorde Demônio nunca foge! Ele nunca puxa o saco! Pão de Manteiga! — Inui parecia estar em um estado mental estranho. Ele circulava quebrando pescoços de kobolds, clack, clack, um atrás do outro. — Além disso! Eu só tenho vinte anos! Não sou um velho!

— Sério? — Tokimune ficou tão surpreso que ficou parado por um segundo. Não era bom. Ele estava completamente exposto. Os kobolds, no entanto, não aproveitaram. Inui e Tada estavam em tal frenesi que eles não tiveram tempo para isso. Naturalmente, Tokimune não tinha intenção de deixar os dois se divertirem sozinhos.

— Inui! Você entra nessa também! — ele gritou. — O primeiro a sair das Minas Cyrene vence! Entendeu?!

— Que as trevas da ruína se espalhem pelo alvorecer do mundo! Eu, o Lorde Demônio, serei vitorioso!

— Eu vou ganhar! — Tada gritou.

— Nem pensar! Eu é que vou vencer! — Tokimune respondeu.


 

Enciclopédia de animais raros e bizarros

What the hell? — Anna-san se agachou, desanimada. Ela estava completamente sozinha na Cidade Velha de Damuro. Talvez tivesse sido uma má ideia se afastar dos companheiros para se aliviar. Mas o que mais poderia ter feito? O estômago de Anna-san estava incomodando desde aquela manhã. Em outras palavras, ela disse que ia dar uma mijada, mas havia o risco de não acabar ali. Por isso, não dava pra fazer aquilo por perto.

— Afinal, Anna-san é uma dama, né? Né…?

Pra piorar, levou bastante tempo. Mas ela não podia simplesmente parar no meio e voltar para pedir que esperassem. Isso teria sido muito constrangedor. Além do mais, embora os chamasse de companheiros, não era como se fossem próximos. A party parecia uma mistura de pessoas sobrando, que nem tinha se formado há muito tempo.

Já fazia pouco mais de trinta dias desde que ela havia chegado a Grimgar. Anna-san já tinha passado por várias equipes. Ela sabia por quê. Era por causa da sua linguagem. Não se sabia o motivo, mas, embora ela conseguisse entender mais ou menos tudo o que os outros soldados voluntários e os residentes de Altana diziam, ela não conseguia falar a mesma língua que eles muito bem.

Ninguém mais era como Anna-san. Isso era chocante e deixava a situação complicada. Mesmo assim, Anna-san tentava expressar o que pensava. Se não o fizesse, se sentiria desconfortável. No entanto, não importava o que ela dissesse, ninguém tentava entendê-la.

Poucos a enfrentavam abertamente, mas todos não gostavam de tê-la por perto, e ela era tratada como um incômodo. Se ela protestasse contra o tratamento injusto, as coisas só pioravam, e, no fim, a party se desfazia. Porém, depois, Anna-san às vezes descobria que todos, exceto ela, estavam trabalhando juntos novamente. Ou seja, eles tinham combinado de fingir a separação da party só para se livrar dela. Não precisavam ter tanto trabalho—podiam simplesmente ter expulsado Anna-san. Obrigada por nada!

Ela sabia o que estava acontecendo. Dessa vez foi diferente, mas era a mesma coisa. Anna-san estava atrapalhando seus companheiros. Foi por isso que, quando ela se afastou para se aliviar e demorou para voltar, eles aproveitaram a oportunidade para ir embora. Anna-san foi deixada para trás. No meio da Cidade Velha de Damuro, infestada de goblins. Basicamente, disseram a ela: go to hell. Idiotas!

Um som veio de trás dela. Anna-san se virou, surpresa. Quando viu algo que parecia um goblin à distância, ela entrou em pânico e rapidamente tentou se esconder na sombra de um prédio próximo. Por um tempo, prendeu a respiração e ficou imóvel. Quando espiou timidamente, o goblin não estava mais lá. Ela ficou aliviada, mas então seu estômago voltou a doer.

OwWowNo… Dores de barriga…

Anna-san suava profusamente e se contorcia de dor. Enquanto fazia isso, achou que ouviu algo como uma respiração. Quando se virou para olhar, curiosa, o goblin estava bem ao lado dela, espada levantada acima da cabeça. Ele estava prestes a desferir um golpe contra Anna-san.

— …Oh, my God!

Nunca lhe ocorreu a ideia de fugir. Sua mente ficou em branco. Anna-san estava prestes a ser morta antes mesmo de ter tempo de pensar Estou morta.

Até que uma mulher cortou o goblin, ou melhor, pulverizou-o com sua espada.

— Hah!

Havia uma guerreira incrivelmente grande na party. Ela usava um elmo com chifres, cota de malha e, apesar de ser mulher, era a mais alta da equipe. Aquela guerreira apareceu subitamente por trás do goblin.

Ela acertou o goblin na cabeça com a lateral da lâmina, e não com o fio da espada, por algum motivo. Foi um golpe incrivelmente amplo. Isso só significava que era ainda mais poderoso, porque o goblin foi jogado de lado e caiu no chão. A guerreira então saltou no ar e pisou com força na cabeça do goblin. Houve um som molhado quando a cabeça afundou e o sangue espirrou para todos os lados, até no rosto de Anna-san.

— O qu-qu-quê… Como…? — Anna-san engasgou.

— Tá bem? — Sem expressão no rosto, a guerreira ofereceu sua mão para Anna-san. Como Anna-san estava tremendo, a mulher a pegou pelo braço, a puxou para cima e então a ergueu, carregando-a. — Você não parece bem.

— V-Você… O quê…? — Anna-san balbuciou.

— Sua criatura fofa — disse a guerreira. — Fiquei preocupada, então vim te procurar.

Criatura fofa? A guerreira disse algo que parecia um absurdo para Anna-san, e então franziu um pouco a testa.

— Os outros se mandaram. Lixo inútil. Estou de saco cheio deles.

Why you… — Anna-san começou.

— Você é fofa. Fiquei preocupada. — A guerreira começou a andar, ainda carregando Anna-san. — Pode me chamar de Mimorin.

— …Mimorin?

— Sim. Mimorin. E você é Anna-san. Certo?

— …okay — Anna-san respondeu.

Mimorin sorriu levemente.

Anna-san continuou olhando para o rosto de Mimorin por um longo tempo.


 

O Yorozu Sonolento

A Companhia de Depósitos Yorozu operava o ano todo, sem nunca tirar um feriado, das sete da manhã às sete da noite. A qualquer momento, para qualquer propósito, a quarta Yorozu estaria esperando em sua janela para atender os negócios.

Havia sempre um fluxo constante de clientes—ou pelo menos era o que ela gostaria de dizer, mas, ocasionalmente, havia momentos em que o movimento era estranhamente fraco.

Yorozu estava sentada atrás do balcão em sua cadeira de couro pessoal. Ela vestia um traje vermelho e branco com detalhes em dourado, feito sob medida especialmente para ela, além de usar um monóculo de aro dourado. Também carregava um cachimbo dourado.

A quarta Yorozu mantinha uma postura elegante, com um ar de serenidade. Claro que sim. Afinal, ela era uma Yorozu. Não importava o que acontecesse ou quando, uma Yorozu sempre deveria ser capaz de responder com astúcia. Mesmo se tivesse “tempo livre”, isso não mudava nada. Uma Yorozu devia fazer uso apropriado desse “tempo livre”. Sim, por exemplo, naquele momento, a atual Yorozu estava pensando em seu predecessor.

O Yorozu anterior tinha sido seu bisavô. Ele permaneceu no serviço até os 92 anos, reinando em sua gloriosa posição na janela da Companhia de Depósitos Yorozu. Então, apenas meio ano após ceder seu lugar para essa quarta Yorozu, ele morreu por causas triviais. Por vontade de seu bisavô, ela herdou a posição e se tornou a quarta Yorozu.

Houve resistência dentro da empresa à ideia de uma jovem como ela se tornar Yorozu. A verdade é que até seu próprio pai e avô se opuseram a seu bisavô nisso. Apesar disso, seu bisavô se manteve firme. A razão era clara. Quando comparada a seu pai, seu avô, seus irmãos mais velhos, ao chefe do balcão, aos vendedores e aos aprendizes, em comparação com qualquer outra pessoa, ela era a mais apta a ser Yorozu. Foi por isso que ela se tornou a Yorozu. Essas palavras de seu bisavô estavam profundamente gravadas em sua mente:

Não se torna um Yorozu. Não se pode se tornar um Yorozu. Um Yorozu nasce um Yorozu.

Ela entendia bem o que seu predecessor queria dizer. Desde que conseguia se lembrar, ela nunca havia esquecido uma única coisa. Quando percebeu que sua memória era anormalmente boa, ela se preparou para se tornar a Yorozu. Somente seu bisavô sabia o quanto ela estava preparada. Seu pai, seu avô, seus irmãos mais velhos… ninguém mais sabia. Isso porque seu bisavô era exatamente como ela. Um Yorozu conhece outro Yorozu. Apenas um Yorozu pode entender um Yorozu.

Parecia que, enquanto estava abraçando as memórias de seu predecessor, com quem compartilhava uma proximidade única e absoluta, e por quem sentia um afeto ilimitado, a Yorozu, de todas as pessoas, havia adormecido em seu posto.

Quando abriu os olhos, viu um jovem de rosto meio sem graça e olhos sonolentos parado ali, sem fazer nada.

— O q-quê você está fazendo, insolente? — perguntou a Yorozu, indignada.

— Uh… Parecia que você estava tirando um cochilo. Você parecia estar curtindo, então eu fiquei com pena de te acordar, sabe.

— E-eu não estava fazendo tal coisa. A Yorozu não tira cochilos.

— É assim, então? — o insolente perguntou.

— D-De fato. A Yorozu é uma Yorozu, entende?

— Uau… Deve ser difícil. Quero dizer, numa tarde como essa, a gente fica com um sono danado, não é? — Quando o insolente cobriu a boca com uma das mãos enquanto bocejava, quase fez a Yorozu bocejar também.

A Yorozu bateu com o cachimbo dourado no balcão.

— A Yorozu não está com sono, e não tem tempo livre para desperdiçar com conversa fiada. Diga logo o que deseja, insolente!

— Você parece bem cansada, viu?

— O seu assunto!

— Certo… Espera, até quando você vai continuar me chamando de “insolente”?

— Para sempre! Enquanto a quarta Yorozu for a Yorozu, Haruhiro, você sempre, seeeeempre será o insolente!

— Whaa… — O insolente coçou a parte de trás da cabeça e suspirou. — Bom, acho que tudo bem.

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