Capítulo 102 – Comerciante de Tecidos
Quanto mais Klein pensava nisso, mais provável parecia. Caso contrário, quem teria emprestado aquelas edições do jornal aleatórias sem motivo?
“Sim, a pesquisa sobre o pico principal da cordilheira Hornacis é um campo bastante impopular. Além dos respectivos palestrantes e professores associados, o amador comum nunca teria ouvido falar disso. Até o Klein original, que era formado em história, só sabia dele pelo caderno da família Antigonus… Embora Tingen seja uma cidade universitária, não há muitas pessoas interessadas no assunto. E mesmo que haja alguém interessado, a maioria permanece dentro das dependências das universidades. Não haveria necessidade de pegar emprestado o livro da Biblioteca de Deweyville.”
“O ponto mais importante é que o livro foi emprestado só recentemente…”
“Ao analisá-lo desta forma, há mesmo um problema. Eu não fui perspicaz o suficiente e não percebi… Sigh, parece que não tenho talento para ser detetive ou agir como Sherlock Holmes…”
Enquanto esses pensamentos corriam por sua mente, o chefe do Bar do Dragão Maligno, Swain, perguntou perplexo:
— Algum problema?
Como havia clientes e atendentes por perto, ele só pôde perguntar indiretamente.
— Nada mesmo. Só estou pensando em como posso investigar esse cavalheiro. Como você sabe, Hanass Vincent morreu em casa — Klein há muito preparou sua desculpa.
Ele não queria que os Punidores Mandatários se interessassem pelas antigas relíquias do pico principal da cordilheira Hornacis.
— Vincent era um dos adivinhos mais famosos da Cidade de Tingen. Ele costumava vir aqui — Swain de fato deu uma resposta superficial, mas, como se lembrou, disse:
— Agora que penso nisso, o cavalheiro no retrato se encontrou com Vincent bem no começo…
— Isso é exatamente o que eu queria saber. Você se lembra do nome dele? — Klein pressionou de imediato.
Swain balançou a cabeça e riu.
— Não vou pedir nomes ou identidades de meus clientes, a menos que os conheça, como o Velho Neil.
— Tudo bem então — Klein revelou um deliberado olhar triste.
Para ele, não importava se Swain sabia, porque poderia verificar na Biblioteca Deweyville.
Para pegar livros emprestados de uma biblioteca privada, ele tinha que deixar informações pessoais, e sua identificação deveria ter credibilidade suficiente!
Afinal, Klein contou com uma carta de apresentação de um professor associado sênior antes de obter um cartão de biblioteca.
“Mesmo que o cavalheiro tenha forjado suas informações, é muito provável que ele tenha deixado algumas pistas que podem ser úteis para minha adivinhação…” Klein observou Swain enquanto ele voltava ao balcão do bar antes de entrar na sala de bilhar em profunda reflexão.
Klein não estava com pressa de ir à Biblioteca Deweyville para suas investigações. Ele planejava concluir suas compras primeiro. Afinal, não se sabia se encontraria perigo e seria obrigado a usar magia ritualística para desenvolvimentos subsequentes.
Depois de passar por algumas salas, Klein chegou ao mercado negro. Havia apenas algumas barracas e clientes, uma indicação clara de que ainda não era hora de pico.
Assim que ele deu um passo à frente, de repente viu o monstro, Ademisaul, que podia sentir o cheiro da morte, parado em um canto.
O jovem estava pálido e seus olhos exalavam terror e loucura. Ele também notou o olhar de Klein.
Ao fazerem contato visual, Ademisaul de repente estendeu as mãos para cobrir o rosto. Ele se moveu em direção ao canto da parede em estado de pânico.
Logo, ele se moveu para uma porta lateral ao lado dele e cambaleou ao sair correndo.
“Isso é necessário? Eu quase te ceguei da última vez… Mas eu não fiz nada… Sério, é como se eu fosse o diabo.” A expressão facial de Klein era um tanto rígida.
Klein balançou a cabeça e sorriu, parando de pensar no monstro e chegando a uma barraca. Ele começou a fazer compras com um objetivo em mente.
Após cerca de meia hora, Klein gastou algumas libras, que era a maior parte de seu estoque secreto de dinheiro.
Ele contou as três libras e dezessete solis que lhe restavam e sentiu um aperto no coração. No entanto, tocou a pequena garrafa de metal no bolso interno de seu blusão preto.
— Esta é a essência floral, Amantha, que Madame Daly usou antes.
— Este é um pó misturado com casca e folhas de dragoeira.
— Óleo essencial que é extraído das flores do sono.
— Pétalas de camomila secas.
— Este é o Pó Noturno Sagrado que eu mesmo produzi antes.
…
Klein relembrou os itens guardados em cada bolsinho dele e os repetiu. Ele fez isso para evitar que não encontrasse o ingrediente de que precisaria em um momento crucial.
Confiando em seus traços únicos no misticismo, ele rapidamente terminou de memorizá-los e caminhou em direção à porta.
De repente, ele viu uma figura um tanto familiar pelo canto dos olhos.
Era uma jovem com um vestido verde casual. Seu cabelo preto liso era macio e brilhante. Ela tinha um rosto redondo com olhos longos. Eles lhe davam uma aparência doce e um porte refinado.
“É a garota que estava tremendo estranhamente no vagão público? Ela é bonita… Eu nunca esperei que ela fosse uma entusiasta do misticismo…” Klein desacelerou e pensou por alguns segundos antes de enfim se lembrar de quem ela era.
Ele teve que admitir que, além de Justiça, que ele nunca tinha visto com clareza, a jovem era a garota mais bonita que já tinha visto desde que transmigrou para este mundo.
A doce e refinada moça parou diante de uma banca que vendia livros de misticismo e, quebrando a etiqueta, ajoelhou-se para esfregar os dedos em um livro antigo.
O livro antigo tinha uma capa dura preta. A capa do livro tinha as palavras Livro das Bruxas em Hermes.
— Ele registra a magia negra das bruxas. Embora eu não tenha ousado experimentá-la, alguém que conheço tentou e de fato funcionou — O vendedor aproveitou a oportunidade para promover o livro.
A bela dama pensou e perguntou:
— Na sua cabeça, como é uma bruxa?
— Uma bruxa? Uma pessoa perversa que traz calamidades, doenças e dor — O vendedor respondeu depois de pensar um pouco.
Klein não ouviu a conversa porque já tinha saído rapidamente pela porta da frente. Ele estava correndo para a Biblioteca Deweyville com pressa para resolver tudo antes de voltar para casa para preparar o jantar para seu irmão e irmã. Sopa de rabo de boi com tomate estava no menu.
…
Backlund. Clube Relva Coroada.
Audrey Hall usava um longo vestido branco com engageantes e babados nas pontas, além de renda no peito. Ela ficou em uma sala VIP e observou os cavalos galopando.
Ela usava um chapéu velado decorado com fitas azuis e flores-de-seda e um par de luvas de rede de cor clara. Seu olhar frio e distante parecia deslocado no local movimentado.
No momento em que o cavalo de corrida batia na fita, seu amigo, o Visconde Glaint, aproximou-se e disse com voz abafada:
— Audrey, toda vez que a vejo, você está linda de um ângulo diferente.
— Como posso ajudá-lo? — No passado, Audrey poderia ter se deliciado com o elogio do jovem, mas agora ela podia ver os motivos ocultos de Glaint por meio de sua fala e atitude.
Devido ao falecimento precoce do pai de Glaint, ele herdou seu título de nobreza aos vinte anos. Seu corpo era um pouco magro. Ele olhou para a esquerda e para a direita, depois riu baixinho ao dizer:
— Audrey, eu conheço um verdadeiro Beyonder, um Beyonder que não pertence à família real.
“Você me desapontou toda vez que disse isso…” Audrey olhou para frente e respondeu com elegância:
— Sério?
— Eu juro pelo nome do meu pai. Eu vi os poderes Beyonder dele — Glaint respondeu com um sussurro.
Audrey não era mais a mesma de antes em que deveria estar animada com a notícia. Ela agora era uma Beyonder, mas para evitar que Glaint suspeitasse, arregalou os olhos e fingiu um sorriso surpreso. Ela perguntou com a voz trêmula:
— Quando posso vê-lo?
“Sim, seria ótimo conhecer outros Beyonders. Não posso resolver todas as trivialidades através do Clube de Tarô… Além disso, devo reunir meus próprios recursos para trocá-los com o Sr. Louco e o Sr. Enforcado… Nem tudo se resolve com dinheiro… Sigh, agora que mandei as mil libras, terei que ser mais frugal…”
Glaint ficou muito satisfeito com a resposta de Audrey. Ele olhou para o hipódromo e disse:
— Amanhã à tarde haverá uma reunião de literatura e música em minha casa.
…
Dentro da Biblioteca Deweyville.
Klein tirou do bolso sua carteira de identidade e distintivo e os mostrou aos poucos bibliotecários.
— Sou inspetor estagiário do Departamento de Operações Especiais da Polícia do Condado de Awwa. Preciso da sua colaboração numa investigação — disse Klein com voz grave, lembrando-se dos filmes policiais que assistia.
Os bibliotecários olharam a carteira de identidade e o crachá antes de trocarem olhares e acenarem uns para os outros.
— Vá em frente e pergunte, policial.
Klein recitou os nomes de revistas como Nova Arqueologia e, ao terminar, disse:
— Quero os registros de empréstimos da revista nos últimos dois meses.
Ele percebeu que um dos bibliotecários o atendera antes, mas era óbvio que o homem não o reconhecia.
— Tudo bem. Espere um segundo — Os bibliotecários começaram a procurar e rapidamente encontraram os registros de empréstimos recentes.
Klein folheou os registros com seriedade, procurando o homem que tinha emprestado a mesma edição que ele.
Não havia muitos nomes, apenas um. Ele tinha emprestado o periódico várias vezes, incluindo a edição que Klein conhecia. A entrada mais antiga foi no final de maio, e a mais recente foi no último sábado, um dia antes da morte de Hanass Vincent.
Klein passou o dedo pelas informações do mutuário e as memorizou.
“Sirius Arapis, comerciante de tecidos, residente da Rua Howes, 19…”