Capítulo 103 – Satisfazendo o Coração
“Ele reside na Rua Howes, 19?”
Enquanto memorizava as informações, Klein notou com atenção uma informação.
“Sim, Welch morava na Rua Howes. O Clube de Adivinhação fica na Rua Howes. Este comerciante de tecidos chamado Sirius Arapis também mora na Rua Howes… Pelo que parece, não é nada estranho que Welch tenha conhecido Hanass Vincent também. Eles podem até ter se conhecido através de Sirius Arapis…”
De repente, Klein sentiu que tinha unido as pistas à medida que seus pensamentos se tornavam claros.
Ele estava originalmente confuso sobre como Welch tinha conhecido Hanass Vincent, já que esse filho de um banqueiro não estava muito interessado em misticismo. Para ele, o dinheiro era mais importante que as adivinhações. Mas agora Klein sentia que tinha uma ideia de como eles se conheceram.
“De acordo com as descrições de várias revistas, os moradores de classe média e alta visitam de bom grado seus vizinhos da mesma classe social para formar um círculo social que os beneficie. Da mesma forma, Welch e o comerciante de tecidos, Sirius, com certeza tinham a motivação e a oportunidade de se tornarem amigos, já que ambos moravam nas vizinhanças da Rua Howes…”
“Não é difícil entender como Sirius conheceu Hanass Vincent, que frequentava o Clube de Adivinhação na Rua Howes com regularidade. Talvez tenha sido um encontro casual, ou talvez Hanass o tenha ajudado antes. Independentemente disso, possibilitou que os dois, que se encontravam na mesma área com frequência, ficassem mais próximos um do outro….”
“Hanass Vincent queria vender seus livros antigos e, assim, Sirius o apresentou a Welch, que era estudante do departamento de História…”
“No sonho de Hanass, havia a figura do suposto deus maligno, o Verdadeiro Criador. Ele também conhecia o formato de encantamento adequado. Isso prova que ele tinha se aprofundado muito no reino do misticismo. A possibilidade de que ele tenha sido membro de alguma organização secreta não pode ser descartada.”
“Não posso descartar a possibilidade de que ele se juntou a alguma organização secreta sob a influência de Sirius.”
…
Com as ideias surgindo com tanta facilidade, Klein percebeu que a informação que o homem tinha deixado para trás apresentava um certo nível de credibilidade, mesmo sem usar métodos de adivinhação.
“Mesmo que não se chame Sirius Arapis, nem trabalhe como comerciante de tecidos, e não more na Rua Howes, 19, ele com certeza mora, pelo menos, em algum lugar próximo!”
Enquanto essas ideias passavam por sua mente, Klein examinou os registros de empréstimos mais uma vez com essa nova linha de pensamento.
“A última vez que ele veio à Biblioteca Deweyville foi no último sábado, um dia antes da festa de aniversário de Selena, que também foi um dia antes da morte de Hanass Vincent. Já se passaram vários dias desde então, mas ele não devolveu os exemplares emprestados.”
“De acordo com registros anteriores, se ele pegasse emprestado apenas duas edições, geralmente as devolvia no dia seguinte.”
“Isso pode indicar que ele sabia da morte de Hanass e estava com tanto medo de ser suspeito a ponto de não ousar mais voltar à Biblioteca Deweyville.”
“Sim, ele começou pegando emprestado vários livros e periódicos de história não relacionados até reduzir ao que precisava, o que é muito semelhante ao que eu fiz…”
“Isso significa que não havia ninguém ensinando-o. Não havia nenhum Professor Associado Sênior do departamento de história de uma universidade. Ele fez isso apenas por tentativa e erro.”
“O que um alvo chocado faria? Duas escolhas. Um, se ele tivesse todas as informações necessárias, iria direto para o pico principal da cordilheira Hornacis. Dois, se ele ainda não as tivesse, ficaria quieto e observaria a situação. Ele só se mostraria de novo se tivesse certeza de que a morte de Hanass não o implicaria.”
Tendo chegado a essa conclusão, Klein fechou os registros de empréstimo e os devolveu aos bibliotecários. Ele então pegou o retrato e perguntou se alguém tinha visto o homem. Infelizmente, muitas pessoas vinham pegar livros emprestados todos os dias, e os bibliotecários não tinham a menor impressão de uma pessoa comum.
— Tudo bem, obrigado pelo seu tempo — Klein guardou seus documentos de identificação e seu distintivo.
Ele não tinha intenção de continuar a investigação sozinho. Isso não era apenas perigoso, mas também problemático. Ele planejava ir para a Rua Zouteland mais uma vez e entregar o caso ao Capitão e seus companheiros. Em seguida, iria para casa e prepararia sua sopa de rabo de boi com tomate para seus irmãos antes de ir para o mundo acima da névoa cinza para adivinhar o paradeiro e a condição do alvo.
— Policial, há mais alguma coisa? — Um bibliotecário perguntou com sinceridade enquanto soltava um suspiro de alívio.
Klein assentiu de leve e respondeu:
— Não, voltarei se houver novas pistas.
Ele segurou sua bengala preta com a mão esquerda e foi até a porta.
Neste momento, ele viu um homem entrar na biblioteca com a cabeça baixa. Ele estava vestido com um casaco trespassado, com golas altas.
Quando passaram um pelo outro, Klein percebeu que o homem tinha sobrancelhas grossas e bagunçadas, com um par de olhos azul-acinzentados!
Essas eram coisas que o colarinho alto não conseguia esconder!
“Sirius? Sirius Arapis? Uma coincidência?” Klein congelou. Ele não esperava encontrar seu alvo aqui!
“Que tipo de sorte é essa!”
“Não é muita coincidência?”
Klein avaliou a própria condição física e sentiu seus músculos doloridos. Assim, ele agiu como se nada tivesse acontecido e continuou caminhando em direção à porta.
“Bem, temos que seguir o que nosso coração nos diz! Segurança em primeiro lugar!”
“Não importa se perdi esta oportunidade desde que Sirius ainda esteja em Tingen!”
Nesse momento, o homem de jaquetão chegou diante do balcão e entregou os periódicos a um dos bibliotecários.
— É uma devolução — Ele disse com um tom suave e abafado.
O bibliotecário recebeu os exemplares casualmente e quando os viu, congelou de repente.
Ele olhou para cima por instinto e de forma diferente, pois seu corpo não podia deixar de tremer.
— Algum problema? — O homem perguntou com uma voz profunda.
Sua pergunta parecia uma faísca que acendeu um fusível, fazendo com que o bibliotecário perdesse o autocontrole no mesmo instante. Ele correu para o lado e gritou:
— Policial!
— O criminoso está aqui!
Nesse momento, Klein, que não tinha saído do prédio, xingou loucamente em seu coração.
Ele pegou o coldre com a mão direita por instinto e sacou o revólver.
Aquele homem congelou por um momento antes de se virar e começar a correr.
Mas ele não se dirigiu para a porta. Em vez disso, fugiu na direção da janela oriel1 ao lado, como se quisesse quebrar o vidro e pular para a rua.
Klein, que estava apressado, virou a cabeça para ver a cena quando sentiu uma calma repentina.
Ele percebeu que, embora estivesse com medo do alvo, seu alvo tinha mais medo dele!
“O homem deve ser incapaz de determinar minhas habilidades em um encontro tão abrupto. Ele não tem certeza das minhas aptidões e, portanto, evitará um confronto direto por natureza e procurará outras maneiras de escapar!” Confiante em sua análise, Klein ergueu o revólver e puxou o gatilho.
Nesse momento, o homem de jaquetão rolou de repente no chão na tentativa de desviar da bala.
Em seguida, ele pressionou o chão com a mão direita e se lançou no ar em direção à janela oriel.
Click!
A primeira bala de Klein errou.
Mas isso era algo esperado. Ele aproveitou a incapacidade de Sirius de se esquivar enquanto estava no ar para mirar em seu torso e puxou o gatilho.
Bang!
As balas prateadas antidemônios rasgaram o ar e penetraram direto nas costas de Sirius.
Crash!
O vidro se estilhaçou e Sirius voou pela janela, deixando gotas de sangue carmesim nos fragmentos de vidro cristalino e no parapeito da janela.
Klein não estava mais com medo agora que o alvo estava ferido. Ele correu e pulou pela janela com a ajuda de uma cadeira.
Esta era a área nos fundos do andar térreo da Biblioteca Deweyville. Uma fileira de árvores isolava um campo verdejante.
O ferido Sirius correu para o lado, na tentativa de entrar em um pequeno beco entre dois prédios. Não tendo praticado tiro em alvos em movimento, Klein não ousou atirar às cegas. Ele só pôde carregar sua bengala em uma mão e sua arma na outra enquanto perseguia o homem de casaco preto.
Tap! Tap! Tap!
Klein seguiu o rastro de sangue no chão e tentou diminuir a distância.
Com uma curva chegando, a velocidade do ferido Sirius tornou-se cada vez mais lenta. Klein, que esperava uma oportunidade para capturá-lo, de repente sentiu um pouco de medo. Ele teve a sensação de que o homem à sua frente não era humano, mas um lobo ou um tigre, que abrigava perigos terríveis.
Este era um instinto que ele tinha como Vidente, e também um aviso dado a ele por sua espiritualidade!
Klein diminuiu a velocidade de imediato, seus olhos examinando o sangue no chão.
Comparado com o sangue que ele tinha visto antes, o sangue de Sirius agora era preto!
Nesse momento, um vento violento o dominou. O rosto de Sirius refletiu nos olhos de Klein.
Sobrancelhas grossas e bagunçadas. Olhos azuis acinzentados. Múltiplas verrugas salientes. Uma boca aberta com duas fileiras de dentes brancos.
Sirius estava lançando um contra-ataque neste momento!
Isso tornou o rosto refletido nos olhos de Klein mais visível. Ele podia até sentir um fedor bem pútrido!
Sirius saltou a uma distância de sete ou oito metros, muito mais do que qualquer ser humano normal poderia pular. Mas como Klein tinha parado de persegui-lo bem a tempo, ainda havia uma distância de quase dez metros entre eles.
Quando a distância foi encurtada para dois metros, a saliva pegajosa causada pela baba e as repugnantes verrugas densas formaram uma cena angustiante que deixou os nervos de Klein tensos.
Sem pensar, ele aproveitou a imobilidade temporária causada pelo ataque de Sirius para levantar a mão direita. Ele atirou sem parar, deixando que as balas caíssem na cabeça do alvo.
Bang! Bang! Bang! Bang!
Atirar de uma distância tão próxima permitiu que as balas de prata antidemônios perfurassem a cabeça de Sirius. O sangue espirrou por toda parte enquanto seu rosto ficava cada vez mais mutilado, até que ele cambaleou para trás.
Klein esvaziou as balas de seu revólver em um instante. Por instinto, ele quis dar alguns passos para frente para confirmar os resultados dessa batalha.
Mas nesse momento, Sirius deu a Klein o maior choque de sua vida, tentando ao máximo ficar em pé. Klein ergueu a bengala na mão esquerda de repente.
Smack!
A robusta bengala preta incrustada de prata atingiu o pescoço de Sirius, deixando uma marca vermelha escura.
Smack! Smack! Smack!
Klein agiu por instinto, desferindo golpes em seu oponente até que Sirius desabasse tropeçando no chão.
Huff! Puff! Huff!
Klein apoiou-se na bengala e respirou fundo. Seus olhos estavam focados em seu alvo, com medo de que Sirius de repente voltasse à vida.
Nesse momento, a cabeça de Sirius estava praticamente esmagada em uma polpa, e as verrugas diminuíam aos poucos. Seu corpo parou de se mover após algumas convulsões.
Klein não tinha pressa em examinar o cadáver. Em vez disso, ele jogou a bengala para o lado, tirou as balas antidemônios em sua posse e recarregou seu revólver.
Depois de fazer isso, ele se recompôs e lutou contra seu desgosto, ajoelhando-se para vasculhar os bolsos do casaco trespassado de Sirius.