Machine-Doll wa Kizutsukanai - Volume 1 - Capítulo 6 - Anime Center BR

Machine-Doll wa Kizutsukanai – Volume 1 – Capítulo 6

Capítulo 6: Verdadeiro

Tradução: Reiki Project

 

A noite anterior.

Após inspecionar o autômato devorado, Lisette chamou por Raishin no momento em que ele estava prestes a ir embora.

Ela o informou dos perigos em associar-se com a Tyrant Rex e o avisou para ter cuidado. Ela também havia dito que Sigmund era uma Bandoll.

Pouco depois disso.

— Você ainda tem dúvidas?

— Sim, eu — O jovem em sua frente falou levemente— mas seus olhos tinham um brilho intenso enquanto falava.

— Por que você estava lá enquanto o Canibal Candy devorava sua presa?

Os olhares deles se encontraram. Ela podia sentir sua sobrancelha começando a se contorcer. Lisette ajeitou seus óculos por cima do nariz, respondendo-lhe com o rosto escondido.

— Você está tentando dizer que eu sou o Canibal Candy?

— Mas você estava lá, não estava?

— Não. Eu apenas recebi o relatório e fui rapidamente para o local. Quando cheguei, porém, o Canibal Candy já havia desaparecido.

— Oh? Eu fiquei com a impressão de que você havia visto o momento do ataque.

— … Por que você pensaria isso?

— Hm. Então é assim? Entendo.

— Por favor, pare com suas insinuações. Isso é extremamente perturbador.

Raishin deu-lhe um olhar lateral. Era um olhar forte, tão pesado que fez com que um arrepio de medo, que ela não pode suprimir, corresse por sua espinha.

— Você identificou uma das marionetes atacadas como sendo a portadora da Estrela da Manhã, não é?

— … Sim.

— Como você sabe disso? O rosto dela estava esmagado, você não deveria ser capaz de identificá-la perfeitamente.

— Qualquer um que a visse chegaria a mesma conclusão. Havia aquela bola de ferro…

— Que esmagou as pernas da marionete devorada, não é?

Lisette fora pega de surpresa. Ela finalmente percebera o que Raishin estava querendo dizer.

— Sim, parece que você entendeu agora. Qualquer um que visse a situação, normalmente iria supor que foi o portador da Estrela da Manhã quem atacou. Para alguém concluir que a arma fora usada contra seu próprio usuário, deveria ter algum tipo de conhecimento prévio. Como — se desde o início você já soubesse que a marionete devorada foi a Estrela da Manhã… por exemplo.

— … Isso se você pensar normalmente sobre o assunto.

Desesperadamente tentando manter sua voz calma, Lisette fez seu contra-argumento.

— Eu não acho que o autor fosse deixar para trás uma evidência que fosse tão obviamente incriminadora. Se o Canibal Candy estivesse usando alguma arma, ele certamente a levaria consigo ao deixar o local.

— É assim mesmo? Ele parece ser mais do tipo que deixa suas sobras para trás.

—Isso em si não é considerado único em seu M.O.

— Então essa foi a lógica por trás de sua conclusão.

— Pare de procurar falhas onde elas não existem! Eu sou totalmente inocente!

Raishin riu com ironia e levantou as mãos em um gesto de paz.

— Não fique tão exaltada. É só uma dúvida que estava me incomodando há algum tempo.

Afastando-se, ele começou a andar de forma descuidada.

— Isso é tudo que eu queria te perguntar. Bem, então— Oh, certo.

Ele parou. Virando a cabeça por sobre o ombro,

— Eu acho que você entendeu algo errado. Em nenhum momento eu disse que você era o Canibal Candy.

— —!

— Eu só perguntei se você estava lá.

— … Parece que eu me enganei.

Com uma risada irritante, Raishin deixou a sala.

Lisette mordeu o lábio com força— e no instante seguinte, atacou o púlpito do professor.

O púlpito foi facilmente destruído, com os pedaços espalhando-se pelo chão.

A luz da lua não era capaz de chegar até ali, a escuridão era profunda e impenetrável.

‘Aqui’ era um túnel formado por árvores que ficava um pouco além da Rua Principal. Mesmo durante o dia era escuro como o breu.

Em meio a escuridão, Charl andava em um ritmo acelerado.

Seu corpo se inclinava para frente, ela dava grandes passos com ombros determinados.

Atrás dela, Sigmund batias as asas para alcançá-la.

— Vamos voltar, Charl.

Charl o ignorou e continuou avançando.

— Por quanto tempo você pretende agir dessa forma?

— Você está sendo bastante barulhento. Fique quieto.

— Pare de fazer adições a sua lista de crimes cometidos. Volte para cama.

— Hmpf. Não é um crime se eu não for pega.

— Pare com essa tolice, Charl.

Sigmund voou para frente de Charl e mostrou suas presas. Enquanto habilmente voava para trás, ele começou a repreendê-la como um velho ranzinza.

— A essa altura, você já deveria saber disso. Mesmo que você obtenha sucesso, fazer as coisas dessa maneira não irá lhe trazer felicidade. Você planeja viver toda a sua vida como um pária social? O que você precisa no momento é do reconhecimento de outras pessoas. Pare de tentar resolver tudo por si mesma. Não há ninguém no mundo que não precise de um amigo com quem possa contar.

— Eu já disse para você ficar quieto, não disse!?

Ela jogou Sigmund para longe.

— Se você continuar assim, eu irei mudar sua comida para amendoins.

Sigmund teimosamente recuperou sua postura e voltou a voar na frente de Charl mais uma vez.

— Por que você está tão agitada? Felix disse algo para você?

Os lábios de Charl fecharam-se.

Sigmund suspirou em resignação.

— Está escrito na sua cara. Algumas vezes você é tão fácil de se ler.

— Quieto. Se você entendeu, então cale-se e me ajude.

— Mais uma razão para recusar, Charl. Se você, realmente, quer ser reconhecida por este homem, pare com essa imprudência. Pare de ser tão impaciente. Lute e vença de forma justa na Festa Noturna e você irá acabar com todas as fofocas sobre você.

Charl parou de repente.

Talvez as palavras de Sigmund tenham-na perturbado, mas havia uma expressão angustiada em seu rosto.

— Mas eu não posso perdoar isso… Como você pode esperar que eu fique sentada calmamente e assista a tudo isso…!?

— Você não é uma representante da lei e nem um membro do Comitê Disciplinar. Esse vigilantismo é apenas seu próprio egoísmo.

— Essa é a lógica de um covarde! A Nobreza tem obriga—

O fogo em seus olhos se apagou quase no mesmo instante que se acendeu.

Sem que Sigmund precisasse apontá-lo, ela já havia percebido o próprio erro.

Charl estava usando a indignação pública como pretexto para substituir sua própria raiva e ódio.

Sigmund pousou suavemente sobre seus ombros caídos.

— Você tem um precioso sonho. Não manche-o em batalhas sem sentido. Você tem que pensar em sua família—

— … É o bastante, Sigmund.

Sua voz estava estranhamente tensa. Sigmund imediatamente ficou em silêncio, levantou sua cabeça e olhou para a escuridão que os rodeava.

Finalmente, ele notou algo.

Cinquenta metros à frente, a direita de sua posição atual, havia um estranho objeto contorcendo-se!

A sombra estava rastejando sobre quatro patas, na base de uma árvore, escondida dentro da escuridão impenetrável.

Não mostrava sinais de respiração e movia-se silenciosamente— aquilo não era humano. Considerando o tempo e o lugar, não havia nenhum ser humano que estaria rastejando sobre quatro patas a essa hora.

Então, aquilo era um autômato.

Os cantos dos lábios de Charl torceram-se. Por um instante, seu rosto aristocrático transformou-se em uma terrível máscara de ferocidade, tal como uma besta selvagem.

— Finalmente, parece que encontramos a nossa presa.

— Espere, Charl. Antes, devemos nos certificar de quem ou do que é isso.

— Todos os bons garotos e garotas deveriam estar na cama agora. O único tipo de pessoa que estaria dando voltas por aí a essa hora da noite…

Charl começou a irradiar energia mágica de seu cabelo até os ombros. Dentro da escuridão, a luz branco-azulada brilhava como o luar. Estendo a mão para Sigmund, sua energia mágica fundiu-se em um feixe de luz que fluía para o dragão.

O corpo de Sigmund começou a reagir, mas ele não cresceu.

— Isso não é bom, Charl. Não há luz o suficiente aqui.

— Está tudo bem mesmo que você esteja assim. Certifique-se de mantê-lo vivo, Canhão Raster!

O pequeno dragão abriu sua mandíbula. Incontáveis agulhas de luz emergiram da boca de Sigmund, voando em direção a sombra e espetando-a. Como o próprio nome indica, não era a explosão de um canhão, mas continha o menor poder explosivo de um raio.

O autômato quadrúpede caiu após o ataque.

Todos os quatro membros foram perfurados, prendendo-o ao chão.

— Consegui!

Charl alegrou-se. Assim que ela saiu correndo para confirmar o que havia abatido,

— Não se mova!

Vozes intensas e raivosas cercaram-na por todos os lados.

Escondidas nas copas das árvores e nas sombras, inúmeras presenças humanas revelaram-se.

Charl percebeu que havia sido completamente cercada. Haviam oito— dez indivíduos. Todos tinham lampiões apontados em sua direção. Chamar suas atitudes de hostis seria mero eufemismo.

Além disso, todos tinham uma braçadeira em torno do braço.

(O Comitê Disciplinar…!?)

Com suaves e esvoaçantes cabelos dourados, alguém caminhou até a frente de uma Charl desconcertada.

— Sincronismo perfeito, Charl. Ou melhor, devo dizer que este momento é mais do que perfeito.

— Felix—

Felix virou-se melancolicamente para o autômato quadrúpede, apontando para ele.

— Este é um dos meus autômatos sobressalentes. Eu pensei que poderia tentar atrair o Canibal Candy, então soltei três iscas.

Charl estava confusa. Ela não compreendia o significado por trás das palavras de Felix. Ele estava chateado porque ela havia interferido em sua busca?

— Charl, você sabe por que eu estou aqui?

— … Essa é uma operação de captura.

Felix assentiu.

— Ouvi dizer que você esgueirou-se para fora de seu quarto. Na chance de algo acontecer, eu pedi que isolassem a área.

Ela estava sendo suspeita de ser…?

Assim que ela percebeu isso, foi tomada por um medo indescritível.

— Não! Eu pensei que aquele autômato fosse o Canibal Candy!

— Então você estava tentando capturá-lo, certo?

Seu olhar estava cheio de desconfiança. Sendo olhada dessa forma, Charl sentiu sua explicação deslizar de volta por sua garganta.

— Você é uma candidata agendada da Festa Noturna. Mesmo assim, o Canibal Candy ainda seria uma ameaça para você. Entretanto, certamente ele não representava uma ameaça tão grande a ponto de você precisar caçá-lo por si mesma, ou representava?

— Eu só… Eu pensei… Isso é imperdoável…

— A chefe do dormitório já testemunhou ter visto você se esgueirar para fora do dormitório outras vezes.

Charl estremeceu de surpresa.

Aquilo certamente era verdade.

Por mais trivial que possa ter sido, Charl quebrara as regras, e ela havia feito isso diversas vezes.

— Você acha que sua ausência passaria despercebida?

— Mas eu não estava fazendo nada pelo qual deva me sentir culpada! Eu escapei do dormitório—

— Para procurar pelo Canibal Candy.

— … Isso mesmo!

— Oh, Charl… Você não acha que já é o bastante dessa atuação?

— —!

Felix balançou a cabeça. Ele tinha uma expressão amarga em seu rosto, uma mistura de resignação e de traição. O olhar em seus olhos não era mais gentil ou amável.

— Agora que penso sobre isso, suas ações têm sido incompreensíveis há algum tempo. Você continua falando com indignação sobre o Canibal Candy— mas isso também é estranho.

Felix suspirou. Quando ele voltou a falar, o calor em seu tom de voz havia desaparecido.

— Você odeia as pessoas e você não se mistura muito com os outros. Como você espera que eu acredite que você sinta qualquer simpatia pelos estudantes que foram atacados? E também—

Não havia emoção em sua voz, enquanto ele continuava a falar no mesmo tom.

— Você tornou-se próxima de Raishin Akabane. Alguém que odeia as pessoas como você, ficou próxima de alguém tão insensível quanto ele.

— Não—!

— Em outras palavras, o seu ódio pelo Canibal Candy— não passa de uma atuação sua.

— Não! Eu realmente—!

— Se assumirmos que tudo o que você fez foi para não levantar suspeitas, então todas as peças se encaixam.

— Por que!? Como você pode dizer isso!? Que evidências existem!?

— Há uma evidência. Nós a encontramos em seu quarto.

Os olhos de Charl arregalaram-se. Eles não podiam ter— eles tinham achado aquilo!?

— Espere, eu posso explicar! Aqueles circuitos mágicos—

Os membros do Comitê Disciplinar agitaram-se. Charl percebeu seu erro.

— Charl… Então, eles foram mesmo escondidos por você.

Felix tinha um olhar triste no rosto. Por um lado, havia a possibilidade de uma terceira pessoa tê-los escondido— Alguém que tivesse algum rancor de Charl ou mesmo o Canibal Candy poderia tê-los colocado lá para incriminá-la. No entanto, Charl havia mencionado os circuitos mágicos por si mesma, por isso os circuitos agora eram provas incriminatórias.

Entretanto, ela não podia ser ajudada e nem se defender. A verdade era que Charl havia mesmo escondido uma grande quantidade de circuitos mágicos em seu quarto.

— Até agora, você prejudicou um grande número de estudantes.

Mais uma vez, ela nada podia dizer, pois era verdade.

— Você sempre foi distante e solitária e ao seu redor não havia nada além de inimigos. Nessas circunstâncias, você não teria sido consumida pelo ódio?

— O que você está insinuando?

Felix falou devagar, como se estivesse tentando confirmar algo.

— A razão pela qual nossa investigação nunca levou a captura do Canibal Candy, é que ele é um solitário, assim, ninguém possuía indícios a respeito de seus movimentos.

— …

— Depois de descobrir que Raishin Akabane iria ajudar o Comitê Disciplinar, você sentiu-se em uma situação perigosa. Por quê? Porque ele não teve medo de você e tentou se aproximar apesar de suas rejeições. Se alguém chegasse perto de você, iria sentir o cheiro podre.

— …

— E é por isso que você saiu com ele. Para criar um álibi e afastar a suspeita de você. Ou talvez você estivesse tentando levá-lo para o seu lado? Felizmente para você, é portadora de uma grande beleza.

Seus ombros tremeram. Isso era humilhante. Pensarem que ela era alguém que destruia autômatos sem nenhuma boa razão e que usava a sedução como meio para alcançar um objetivo.

— Você já deve ter entendido o que estou tentando dizer, não?

Felix deu um longo e profundo suspiro, como se estivesse esvaziando os pulmões.

Encarando Charl com um amargo desgosto, Felix, finalmente, falou.

— Em outras palavras, Charlotte Belew. Você é o Canibal Candy.

Raishin foi arremesado devido ao violento golpe que recebeu nas costas.

Colidindo com o armário, os vidros quebraram-se quando ambos colidiram com a parede, fazendo com que o som violentamente alto ressoasse por todo o edifício.

Lentamente, o sangue começou a se espalhar pelo chão.

Depois que a poeira baixou, Raishin estava preso debaixo do armário, completamente imóvel.

Lisette assistia, sem emoção, ao caos.

Após terem escutado o barulho, os guardas vieram depressa. Dois guardas entraram no quarto, sem fazer muito barulho, com seus autômatos logo atrás.

Eles estavam em alerta máximo e em posição de batalha. Com seus autômatos a frente, eles tinham Lisette como alvo. As vozes dos marionetistas foram extremamente frias quando perguntaram,

— … O que aconteceu aqui?

Lisette ofegava descontroladamente e sua voz elevou-se quando respondeu.

— Cha-chamem o Comitê Executivo, por favor.

— O que aconteceu? Você está bem?

— Ele… Ele ia destruir o autômato aqui, então, infelizmente, eu tive que atacá-lo.

Ainda permanecendo em estado de alerta, um deles moveu-se para o interior da sala, para confirmar a história de Lisette.

— Entendo. Uau, isso está muito ruim.

O marionetista fez uma careta quando a luz de seu lampião iluminou o sangue no chão.

— Você mesma fez isso?

— Por sorte, o meu autômato estava aqui.

Ela apontou para o armário. O guarda estava um pouco desconfiado, mas não insistiu no assunto e voltou-se para o corpo de Raishin.

— Ele ainda está respirando, ainda que fracamente.

— Tentei evitar de acertar seus pontos vitais. No entanto, seria melhor que o levássemos ao consultório médico imediatamente.

— Nós iremos providenciar isso. Deixe conosco.

Sinalizando para seu parceiro, eles começaram a se virar para ir embora, mas Lisette gritou para eles.

— Por favor, esperem. Existe a possibilidade dele— Raishin Akabane, estar trabalhando junto do Canibal Candy.

— O que você quer dizer?

— Ele pode ter tentado criar uma perturbação aqui com o intuito de cobrir os movimentos do Canibal Candy. Algo que ele disse insinuou isso. Então, só para ter certeza, você poderia fazer algo em relação ao autômato em frente ao edifício…?

— Tudo bem. Nós iremos contê-lo.

— Por favor.

— E quanto a você?

— Eu preciso me encontrar com o restante do Comitê Disciplinar e relatar isso a eles. Existe a possibilidade de que o Canibal Candy vá mover-se— não, há a possibilidade dele já ter feito seu movimento.

— Hm… Você é a testemunha ocular deste tumulto. Eu prefiro que você permaneça aqui.

— Nesse caso, eu voltarei o mais rápido possível. Meu nome é Lisette Norden, terceiro ano, Classe F.

Ela entregou seu cartão de identificação escolar. Com isso, o guarda pareceu ter um pouco de fé nela. Sua filiação estava claramente definida, e ela também era a assistente do presidente do Comitê Disciplinar. Alguém desse calibre… Com isso em mente, ele decidiu que poderia permitir que Lisette deixasse a cena.

Lisette selou seu armário antes de deixar apressadamente a sala.

Em frente ao edifício em formato de lápide— O Armário, havia um certo tumulto acontecendo.

A pessoa no centro da multidão não era outra senão Raishin. Ele estava atualmente recebendo os primeiros socorros—Ele estava sendo envolto por ataduras mais ou menos de forma indiscriminada.

Ao seu redor estavam guardas e alguns membros do Comitê Disciplinar. Enquanto tratavam dele, alguns foram checar os danos causados no interior do edifício.

Raishin estava completamente mole enquanto faziam o que quisessem com seu corpo. Seus olhos estavam entreabertos, mas não havia luz em suas pupilas. Após terminarem os primeiros socorros, ele foi carregado em uma maca. Durante todo o tempo seu corpo não havia demonstrado qualquer reação.

— Tem um barulho terrível vindo daqui. Tem algum festival acontecendo e eu não fiquei sabendo?

Sua intenção assassina estava bem clara em seu tom de voz. Ignorando os olhares, como se não fosse nada relacionado a ela, uma mulher casualmente passou por eles, vindo de um pequeno atalho. Vestindo um uniforme de educadora, era uma mulher alta usando um jaleco branco.

— Professora Kimberly… Por que está aqui?

Alguém falou. Kimberly tinha um ar de indiferença sobre ela.

— Eu, por acaso, sai para caminhar por essa área.

— Eh? Você saiu para caminhar… a essa hora?

— Eu fui forçada a oferecer minha opinião de especialista em algo incômodo, então eu pensei em dar um passeio, aproveitando o vento noturno para me refrescar. É lógico, não é?

— Uh… Eu acho…

Inserindo-se a força no interior do anel de pessoas, ela começou a rir de Raishin preso na maca.

— Que horrível, Penúltimo. Você está péssimo com esses ferimentos.

Entretanto, Raishin não respondeu aos insultos dela.

— … Hum? Ele perdeu a consciência ou algo assim?

— Sim. Ele foi nocauteado.

— Para desmaiar com os olhos entreabertos… que sujeito assustador. Hum… sua respiração está fraca e sua temperatura corporal baixa.

Tocando a pele de Raishin, ela imediatamente percebeu o perigo que ele corria.

— Se eu não estiver enganada, as costelas dele estão quebradas e seus pulmões foram perfurados. Apresse-se e mova-o daqui.

Tendo sido alertadas, as pessoas que manipulavam a maca tornaram-se menos ásperas em seu manuseio. Embora elas, definitivamente, não o tratassem como um objeto frágil. Com Raishin balançando perigosamente de um lado a outro na maca, eles começaram a transportá-lo para o consultório médico.

Vendo-os partir com um rosto sombrio, Kimberly perguntou a ninguém em particular.

— Ele foi linchado ou algo assim? Todo o seu corpo estava machucado.

— Não, quem fez isso foi uma estudante do terceiro ano, Lisette Norden. Aparentemente, ele estava indo causar estragos no interior do Armário.

— Uma luta de um contra um… E ele foi espancado dessa forma?

Seus olhos arregalaram-se de surpresa. Kimberly começou a ficar inquieta quando perguntou,

— Onde está o autômato dele? Ela é uma pequena garota com cabelos negros.

— Ah, ela está bem ali.

O guarda apontou para onde a garota estava sendo transportada, cercada pelos autômatos dos guardas.

Suas mãos estavam amarradas em suas costas, e ela estava sendo carregada pelos tornozelos. A parte de trás do corpo estava coberta por feridas de corte, que expunham a carne vermelha. Havia uma grande quantidade de sangue e todo seu corpo estava coberto por hematomas. Kimberly estava chocada com o fato de que sua pele poderia sangrar. Ela era exatamente como um ser humano.

Enquanto olhava para Yaya, Kimberly fez uma careta.

— … Hmpf. Parece que aquela está meio morta também.

— Ah, não, eu quero dizer… Ela estava furiosa, então tivemos que…

Sentindo-se um pouco culpado, o guarda tentou explicar a situação.

— Fúria? Hmpf… Você diz isso, mas eu não vejo nenhuma ferida condizente com autodefesa.

Pelo contrário, parecia que ela não havia resistido em momento algum. O dano infligido limitava-se as suas costas, já que seus braços e rosto pareciam não ter nenhum ferimento. Parecia que eles tinham, furtivamente, atacado de surpresa, a fim de evitar quaisquer aborrecimentos.

— Você não acha que exageraram um pouco? Dois anéis de isolamento de nível E e três códigos de isolamento mágico— vocês acham que estão lutando contra um dragão lendário?

— Mas nós escutamos que esse autômato derrotou dez Benchwarmers.

Enquanto os amaldiçoava internamente por optarem pela segurança, Kimberly perguntou.

— O que vocês planejam fazer com ela?

— Vamos levá-la para o Comitê Executivo. Raishin Akabane pode estar relacionado com o Canibal Candy de alguma maneira. Ele terá que passar por um interrogatório.

— Vocês acham que ele é cumplice do Canibal Candy?

Uma presença perigosa preencheu o ar. Havia um penetrante olhar no rosto de Kimberly quando ela disse.

— Isso deveria ser uma piada? É esse tipo de piada que as pessoas contam nos dias de hoje?

— Não, eu quero dizer, eu mesmo não tenho certeza dos detalhes…

— —!?

De repente, Kimberly pôs-se em guarda. Torcendo a parte superior do corpo, ela enfiou a mão no bolso do peito. Suas ações eram quase de natureza mecânica, como se ela tivesse um soldado do exército rigorosamente treinado dentro dela.

— … Professora? Qual é o problema?

— Agora mesmo— aquele autômato se moveu, não foi?

O guarda virou-se para olhar Yaya, que estava tão sem vida quanto um peixe morto em uma tábua de corte, refutando sua inquietação anterior.

— Não tem como. Sem chance que ela seria capaz disso. Ela está selada, depois de tudo.

— Não, eu posso jurar que ela se moveu.

— Você deve estar vendo coisas, Professora. Sua energia mágica foi completamente cortada dela. No estado atual, ela não seria capaz nem mesmo de falar. Em primeiro lugar, sua estrutura já recebeu uma quantidade considerável de danos.

— Para trás! No chão, agora!

Quando gritou, Kimberly já havia saltado para trás.

O guarda não conseguiu reagir. Mal tinha virado a cabeça, quando foi arremessado.

Houve o som alto de uma explosão, e uma luz branco-azulada disparou.

Uma colossal energia mágica emanava dela. Algo parecido com ar quente estava sendo expelido por todo o corpo de Yaya para a atmosfera ao redor.

(Que diabos…? Isso… Isso é como um tipo de… monstro…?)

Em meio ao ar quente, Kimberly podia ver Yaya arrancando suas restrições como se fossem feitas de papel.

Sua silhueta estava distorcida devido ao efeito do ar quente.

A combustão de energia mágica era intensa. Como em um queimador de gás, a chama branco-azulada era disparada para cima.

(Aquilo é… um chifre…?)

O luar refletiu nele, dando-lhe um brilho puramente branco. Estava em sua testa, brilhando como se fosse feito de diamante. Sem parar para verificar seu corpo, a atmosfera ao redor de Yaya começava a se rasgar a medida em que ela se movia.

Sua figura estava a cara de um yaksha.

Um instante depois, a sombra de Yaya havia desaparecido completamente—

Deixando para trás os guardas que, pasmos, ficaram parados e uma Kimberly confusa.

O som da forte explosão atingiu o lugar em que Charl estava.

O chão tremeu e, então, houve uma forte ventania. Inquietação começou a se espalhar entre os membros do Comitê Disciplinar.

— O que foi isso?

— Soou como se tivesse vindo do Armário.

— Aconteceu algo com a assistente do Presidente…?

Felix levantou a mão para conter a inquietação.

— Equipes C e D vão naquela direção. Muito provavelmente há algum problema acontecendo onde Lisette está. Ela irá precisar de suporte. O restante de vocês, recuem e formem um cordão de segurança a cinquenta metros daqui.

Um dos membros do Comitê Disciplinar ficou surpreso pela ordem e falou.

— Presidente, esse é um movimento arriscado. Sua adversária é a T-Rex!

— Eu ficarei bem. Depois de tudo, eu sou um membro dos Rounds—

Felix sorriu, colocando seu habitual sorriso de volta no rosto.

— E meu autômato acaba de chegar.

Logo em seguida, algo surgiu atrás de Felix. Ou melhor, o correto seria dizer que algo desceu atrás de Felix. Era uma silhueta feminina, e aterrissou com um baque suave.

Era um autômato vestido de armadura—se tivesse que resumir em apenas uma palavra, era uma Valquíria. Vestia uma armadura antiga e carregava uma espada larga. O capacete cobria completamente o rosto, de modo que parecia com uma máscara demoníaca.

(Esse é… o autômato do Felix?)

Era a primeira vez que Charl o via pessoalmente. Parecia ser a primeira vez dos membros do Comitê Disciplinar também, já que eles olhavam fascinados. Sigmund cresceu cautelosamente, dando um rosnado baixo.

— Bem, agora todos vocês recuem, por favor.

Os membros do Comitê Disciplinar olharam uns para os outros, hesitantes.

— Presidente, essa é uma ordem a qual não podemos seguir. O inimigo não é apenas a T-Rex, ela é o Canibal Candy também—

— Vocês ainda não entenderam?

A voz de Felix ficou, repentinamente, fria.

— Vocês vão ficar no meu caminho, é isso que estou tentando dizer.

Todos ficaram com medo. Acabara de ficar claro para eles o que iria acontecer em seguida.

Seguindo a ordem de Felix, eles se organizaram em círculo, movendo-se nas quatro direções.

Suas presenças rapidamente desapareceram ao longe. Eventualmente, a área ao redor de Felix e Charl ficou completamente em silêncio. Felix falou normalmente, com seu sorriso de sempre de volta ao seu rosto.

— Vamos ter uma boa e longa conversa, Charl.

Seu coração congelou. Aquele sorriso normal agora disseminava o medo para dentro dela, e ela perguntou,

— … Você acredita mesmo que eu seja o Canibal Candy?

— É claro, eu estou sério a respeito disso. Seria um problema se eu não estivesse.

—O que ele quis dizer com isso?

Entretanto, antes que ela pudesse expor sua dúvida, Felix continuou.

— Honestamente, o plano original era que ele— Raishin Akabane derrotasse você. Eu fui capaz de atraí-lo com sucesso, sob o pretexto de que você havia desaparecido… Pelo menos essa parte ocorreu sem problemas. Bem, isso não importa mais. Eu diria que ele já fez o bastante por mim.

— … Raishin?

Ela tinha um mal pressentimento. Sentiu a garganta secar rapidamente quando perguntou.

— … Você fez algo com ele também?

— Acabei de tomar conta dele. Meus camaradas irão cuidar do resto.

— Você o matou!?

— Não. Eu apenas o quebrei, e a sua marionete também.

— Por quê…!?

— Ele estava realizando atividades subversivas no Armário.

— —!?

— Em primeiro lugar, ter que fazer isso foi apenas uma pequena mudança no plano. Ele ainda tinha algum valor para mim, então foi uma pena eu ter que fazê-lo. Se ele abrisse o meu armário, então estaria tudo bem. Mas ele tinha que ir e abrir o único armário que eu não queria que ninguém abrisse— Então eu não poderia mais deixá-lo vagar livre por aí.

Valor? Armário?

Charl não fazia ideia sobre o que ele estava falando.

O cérebro de Charl estava concentrado em algo diferente, que Felix havia dito anteriormente.

Raishin foi atraído— porque ele estava procurando por mim?

— Por que!? Eu não entendo! Em primeiro lugar, você é o único que o arrastou para isso!

— … Oh, Charl. E pensar que eu valorizava tanto você. Você não é muito esperta, não é?

Felix suspirou. Dando-lhe um olhar de desprezo, ele encolheu os ombros.

Naquele momento, como se uma lâmpada acendesse sobre sua cabeça, Charl compreendeu.

Ela finalmente podia ver todo o quadro. E, por mais que não quisesse acreditar, era o pior dos cenários.

Ela mordeu o lábio. Seus joelhos tremeram. Falando devagar, como se estivesse emergindo de um estado de confusão,

— Você… me… usou…?

— Essa era uma oportunidade boa demais para deixar passar, Charl. Se você quiser odiar algo, odeie o fato de que estávamos destinados a nos encontrar. Amaldiçoe os céus por colocar você e eu na Academia no mesmo ano.

Não… Felix balançou a cabeça quando disse.

Como uma rachadura gigante na terra, um sorriso seco surgiu no rosto de Felix.

— Amaldiçoe o fato do seu Canhão Roster ser parecido com o meu Predador.

Finalmente, Charl entendeu tudo.

A situação era essa o tempo todo.

Tudo que ela achava que sabia estava errado.

Felix não havia sido gentil com ela porque suas magias eram similares.

Era porque suas magias eram similares que ele havia tentado se aproximar dela.

Tudo havia sido friamente calculado.

Ele fingiu preocupar-se com Charl para se aproximar dela.

Tudo o que ele dizia era meticulosamente preparado com antecedência. Sua gentileza havia sido uma farsa.

Ele iria enquadrar Charl, com todos os seus pecados, e matá-la como sendo o Canibal Candy— Esse era o seu plano traiçoeiro.

Em resumo, Felix havia sido o inimigo durante todo o tempo.

Felix era o Canibal Candy!

Naquele momento, o mundo de Charl, literalmente, caiu na escuridão.

Não havia nenhum som, nenhuma luz. Tudo havia desaparecido. Seus músculos pareciam ter sido substituídos por chumbo, um peso morto que havia recaído sobre ela.

Quem iria acreditar na versão de Charl?

Era a palavra dela contra a do Presidente do Comitê Disciplinar. Todas as provas, convenientemente, apontavam para ela. Na verdade, podiam haver até mais algumas que foram fabricadas para ajudar a incriminá-la.

Não havia uma única pessoa que fosse acreditar, entender ou defendê-la. Mesmo que ela tivesse se lembrado do conselho de Sigmund para que fizesse amigos, agora já era tarde demais para isso.

Algo quente começou a escorrer por suas bochechas.

Suas emoções enfureceram dentro dela. No entanto, não havia nada que ela pudesse fazer, e ela sentiu-se extraordinariamente desamparada. Soluçando como um bebê, tudo o que Charl podia fazer era deixar que as lágrimas saíssem.

— Isso… é muito cruel…

— É lamentável. Se serve de consolo, ao menos eu estou te contando toda a verdade.

— Mas por quê…? Por que você iria…?

— Não seja estúpida. Que outra razão poderia haver para se matricular nesta Academia?

O tom de Felix era calmo e refrescante.

— Para me tornar o Wiseman, é claro. Eu irei me tornar o rei do mundo mágico.

Charl sentiu como se um soco a atingisse em cheio. Ela sentiu seu cérebro ficar dormente e seus sentidos entorpecendo.

Felix tinha um sorriso no rosto, e seu tom suave de voz lembrava seu estado normal.

— A Festa Noturna é uma impiedosa batalha pela sobrevivência, na qual a pessoa que elimina todos os obstáculos em seu caminho ganha tudo— isso era o que você sempre dizia.

— …

— Eu gostava dessa parte de você. Para falar a verdade, eu concordo com você de todo o coração. É só que—

Seus olhos tornaram-se frios quando ele terminou a frase.

— —Havia algo em você que eu não podia suportar. — Sua ingenuidade.

Ele estendeu a mão para o autômato ao lado dele.

Energia mágica fluiu de sua mão, ligando-o ao autômato e ativando o mesmo.

O circuito mágico começou a ativar-se. Com o autômato como um condutor, a energia mágica de Felix foi expressa como um fenômeno de alteração física.

A energia mágica começou a acumular-se, antes de ser liberada.

Em um clarão, uma corrente de luz foi disparada da ponta da espada do autômato.

Na verdade—Era o brilho da água.

Como uma flecha, a corrente feroz de água voou diretamente em sua direção. A água tomou a forma de uma lança pontiaguda, apontada diretamente para a testa de Charl.

Sigmund entrou em ação, usando seu pequeno corpo para proteger Charl.

A corrente furou sua pele, fazendo com que sangue fresco caísse no chão. O pequeno dragão foi arremessado para trás, caindo no chão.

— O que você está fazendo Charl…!? Recomponha-se e me dê suporte…!

Sigmund chamou por ela, mas sua voz não chegou até os ouvidos de Charl.

Felix preparou seu próximo ataque, concentrando sua energia mágica. Ainda que ela não estivesse em seu campo de visão.

Charl permaneceu presa ao chão, incapaz de fazer outra coisa além de chorar.

Sua mente era um borrão, mas uma coisa se destacava.

Como eu irei me desculpar?

Se fosse apenas ela, então estaria tudo bem. Essa era a punição por suas próprias tolices.

Entretanto, os esquemas de Felix também haviam envolvido outras pessoas além de Charl.

Por causa da minha estupidez, aqueles dois—

Ele era uma pessoa rude, mas tinha boas intenções.

Seu autômato também, foi arrastada para esse caso confuso.

Agora eles estavam sofrendo por culpa dela.

— Raishin… Me desculpe — Assim que o pedido de desculpas saiu de sua boca, o brilho da água indicava que algo cortava o ar.

Transformando-se em uma forma letal, a ponta afiada estava prestes a perfurar perfeitamente Sigmund e ela — Entretanto. Com um tinido, um som metálico agrediu seus tímpanos.

Ela estalou de volta para a realidade. Sacudindo a cabeça por reflexo, a mais bela visão entrou diante de seus olhos.

A luz da lua brilhava deslumbrantemente, refletida através das gotas d’água.

O jato de água em forma de lança fora bloqueado por eles, dispersando-o sem que causasse danos.

Duas sombras apareceram diante de Charl.

Aquela que parara a lança fora uma pequena e esbelta garota.

Diretamente atrás dela, com a mão em suas costas, havia um jovem.

Suas ataduras balançavam com o vento, e o cabelo da garota fazia o mesmo. Seu corpo inteiro estava encharcado de sangue. A gravidade de seus ferimentos era óbvia para Charl, mesmo na escuridão da noite.

— Não se desculpe, sua idiota.

De costas para ela com o dorso sujo de sangue, sua voz foi curta, mas havia um estranho calor nela.

— Você não fez nada pelo que tenha que se desculpar.

Ele virou-se para encarar o inimigo.

Para proteger Charl, ele estava indo lutar.

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