Capítulo 1: A Eva da Festa Noturna
Tradução: Reiki Project
Parte 1
— Você está falando sério?! Como você poderia?! Não acredito nisso!
Era uma animada tarde de Sábado. Os estudantes lotavam a cafeteria, a qual fora construída com concreto reforçado, com uma única parede inteiramente de vidro. Dentro desta moderna construção, a voz de uma garota podia ser claramente ouvida.
Ela pertencia a uma garota dotada de uma beleza élfica, Charlotte Belew.
Compartilhando a mesma mesa que ela, estavam Raishin e Yaya. E também um pequeno dragão — o parceiro de Charl, Sigmund, estava em cima da mesa, comendo um pouco de frango.
— Você não tem que gritar comigo três vezes.
Raishin desviou os olhos do olhar dela. Charl pegou seu garfo e o apontou na direção de Raishin,
— Você deixou alguém que disse “Eu vou assassinar você” ir embora? Você é algum tipo de covarde desprezível?!
— Não me chame assim. O que, supostamente, eu deveria fazer?
— Eu teria retaliado ali mesmo.
— Como esperado, o processo de pensamento da grande T-Rex está em outro nível.
Com um sorriso irônico, Raishin enfiou o garfo em seu peixe frito.
— Infelizmente, eu sou uma pessoa civilizada. Eu não vou apelar para algo bárbaro.
— Você, civilizado? Ha! Isso é muito engraçado vindo de alguém que me atacou e usou de violência para tentar roubar de mim a coisa mais importante de uma mulher.
— Não diga isso de um jeito estranho! As pessoas que estão comendo aqui vão ter a ideia errada!
Seus temores rapidamente tornaram-se realidade. Os sussurros baixos foram acompanhados de ondas de hostilidade em sua direção. Mesmo sem
se virar, ele podia sentir os cruéis olhares das estudantes, postos em cima dele.
Yaya mordeu o lábio inferior, sua voz tremia enquanto ela tentava pôr para fora as palavras.
— Raishin… você… você realmente… fez isso…!
— Não acredite nela, Yaya. Na verdade, você não esteve comigo durante todo o tempo durante aquele incidente?
— Isso é tão cruel, Raishin! Mesmo que Yaya até mesmo tenha pedido que você a usasse se você se sentisse desse jeito!
Yaya havia irrompido em lágrimas. Tentar explicar as coisas agora seria uma perda de tempo. Sentindo uma dor de cabeça chegando, Raishin esfregou as têmporas e continuou,
— Vamos deixar isso de lado, por enquanto.
Ele decidiu ignorar Yaya completamente. Yaya exclamou “Deixar isso de lado!?” e continuo a chorar, ainda mais alto. Raishin usou a mão para tapar a boca dela e continuou falando.
— Retaliar teria sido inútil. Não é como se ela fosse uma participante da batalha que se aproxima de qualquer forma.
— Você diz isso, mas a verdade é que você não tinha confiança que a derrotaria, certo?
Com um sorriso provocante no rosto, Charl tirou um caderno e rapidamente verificou as páginas.
— Cabelo branco, com um cão a seguindo constantemente por aí; há apenas uma pessoa que se encaixa nessa descrição.
Ela apontou uma das entradas com o dedo.
— Terceiro Ano, Frey — Código de Registro Rugido Silencioso. Ela estava, originalmente, na 100ª posição. Ela subiu duas posições e caiu uma. Agora ela ocupa a 99ª posição. Sua oponente na primeira batalha.
— O quê? Aquela garota… é uma participante da Festa Noturna?
Ele não podia imaginá-la possuindo uma luva. O rosto fraco dela e sua natureza tímida não pareciam se ajustar a isso, mas, o mais importante, ele não podia imaginar que ela tivesse a habilidade para se qualificar.
— O que, você não sabia?
— As pessoas no topo da classificação podem ser capazes de se lembrar com um único olhar, mas nós, meros mortais, precisamos passar por um duro processo de memorização para nos recordarmos de tais detalhes.
— Hmpf, tão franco. Você realmente é uma pessoa irritantemente rude.
Uma aura misteriosa estava emanando de uma silenciosa Yaya. Acenando com seu caderno, Charl estufou o peito e continuou, destemida.
— É como você pode ver. Você já demonstrou sua força, então existirão pessoas que tentarão fazê-lo desaparecer antes do início da Festa Noturna.
— Por que passar por todos esses problemas? Como minha ‘primeira oponente’, nós nos encontraríamos no campo de batalha de qualquer jeito.
— Você é idiota? Você tem desejo de morrer? Você nunca irá vencer com esse tipo de mentalidade.
— —
— Estou muito chocada. Você realmente não tem autoconsciência. Depois de tudo, você derrotou o líder do Comitê Disciplinar…
Ela parou de falar. Um momento depois, ela continuou fortemente, como se estivesse usando palavras para deixar o passado para trás.
— Você derrotou Felix Kingsfort. Para os cem participantes da Festa Noturna, você é um perigoso azarão. Todos os classificados abaixo da 50ª posição estão com medo de suas habilidades.
Nesse momento, Sigmund ergueu a cabeça, após rasgar um pedaço da pele do frango.
— Embora isso, provavelmente, seja apenas fofoca.
Ele estava olhando pela janela. Charl, Raishin e Yaya viraram-se para olhar também. Na frente da cafeteria, a Rua Principal se estendia de Norte a Sul. E bem no centro dela, alguém armava uma jaula, daquelas que se usa para prender ursos.
Mesmo que ele estivesse cansado dele, o cabelo cor de pérola dela se destacava. E, é claro, uma vez que a pessoa em questão não era outra se não Frey, o leal parceiro dela, Rabby, também podia ser visto. Como resultado do impressionante poder que aumentava seu tamanho, Rabby estava empurrando a jaula para sua posição.
Uma vez que ele parou, Frey ergueu as barras de ferro e entrou na jaula.
Ela tirou uma revista questionável, cuja capa era uma garota seminua.
Ela a colocou no centro da jaula. Parecia que a revista era uma… isca.
Ele não podia acreditar no que estava vendo. Ele não queria acreditar nisso.
(Ela realmente acredita que eu sou do tipo de cara que cairia nisso!?)
Enquanto Raishin permaneceu ali, mortificado, com certeza o suficiente — como se ele esperasse por isso, a trava de segurança das barras de ferro caiu e, com um grande estrondo, fecharam-se.
Ficando trancada, Frey permaneceu em transe por alguns segundos.
Depois de cerca de dez segundos, ela pareceu, finalmente, entender a realidade da situação em que se encontrava. Em pânico dentro da jaula, ela correu freneticamente dentro dela, caindo após tropeçar em seu longo cachecol.
Ela se esforçou para se levantar… Assim como no incidente com a rede, ela parecia irremediavelmente lenta.
Rabby estava do lado de fora, nervosamente circulando a jaula. Parecia que ele também não era muito brilhante.
De repente, as orelhas dele se levantaram. Notando algo, Rabby virou-se.
Um esbelto estudante havia parado diante da jaula.
Ele tinha um meio-manto envolto por sobre seu ombro e seu rosto tinha uma aparência graciosa. Não seria exagero chamá-lo de bonito, mas seus olhos eram afiados e o olhar em seu rosto faria um homem se encolher e recuar.
E o cabelo dele — era da cor de uma brilhante pérola.
Atrás dele, estava um autômato de aparência grotesca. Parecia que várias chapas de aço haviam sido trituradas de uma só vez, para formar uma aparência humanoide.
Se uma palavra fosse usada para descrevê-lo, esta seria “doloroso”. Protuberâncias semelhantes a espinhos cobriam todo o seu corpo, que era coberto por várias bordas finas. O corpo inteiro era de metal, fazendo com que ele parecesse uma existência completamente artificial. Ao invés de mãos, duas grandes lâminas estavam no lugar. As lâminas tinham, mais ou menos, a mesma altura de Yaya. Estas eram, provavelmente, lâminas que contavam com seu peso, para forçar seu caminho através dos objetos.
Olhando para o estudante, Charl disse com uma voz surpresa.
— É o Imperador da Espada, Loki.
— Imperador da Espada… Você quer dizer a Chama Sagrada?
— Correto. Um dos treze membros dos Rounds, assim como alguém que é conhecido como um rival em potencial para o Marechal. Ele está invicto em todas as suas simulações de batalha. Mesmo ele sendo apenas do Segundo Ano, ele já está entre os dez mais fortes da escola.
— Uau. Mas, como posso dizer… ele meio que lembra a Frey. Especialmente a cor do cabelo.
— Bem, isso é óbvio. Eles são irmãos.
— Irmãos—?
Tendo ouvido isso, quando ele olhou mais de perto, seus rostos eram meio parecidos, de algum modo. Entretanto, eles não pareciam ser um par de irmãos que se davam bem. Parecia que eles estavam apenas trocando palavras entre eles, quando—
De repente, Loki agarrou o cachecol de Frey, puxando-a contra as barras.
Por reflexo, Raishin se levantou. Charl ficou assustada.
— Espere, Raishin! Você está planejando se meter naquilo?
— Eu apenas vou dar uma olhada na situação. Vamos, Yaya.
— Espere! Loki não é um daqueles magos cavalheirescos. Se você se meter com ele com sua atitude anterior, não ache que você poderá resolver tudo de modo tão simples quanto da última vez!
Ignorando seu amável aviso, Raishin saiu.
— Ótimo! Eu não me responsabilizo pelo que acontecer depois!
Charl voltou a comer seu macarrão, irritada. Sigmund, porém, já havia terminado sua refeição e estava lambendo o prato limpo, com a cauda balançando de satisfação.
Parte 2
Diante de Frey, que estava presa na jaula, seu irmão mais novo, Loki, havia aparecido subitamente.
— Que loucura você está fazendo agora?
Frey empalideceu e desviou os olhos dele, com medo.
O olhar de Loki perfurou o peito de Frey. Sobre seus montes abundantes, havia uma brilhante luva branco pérola saindo de seu bolso — a prova de que ela era uma das participantes da Festa Noturna.
Do outro lado das barras de ferro, o olhar de Loki escureceu.
— Você ainda está carregando isso? Pensei ter lhe dito para se retirar. Não há nenhuma chance de você vencer contra ninguém. Você não vai sobreviver. Retire-se agora, antes que você se machuque.
— … Mas eu…
— Você não quer se machucar, certo? Apenas me escute obedientemente.
— … Mas eu…
— Silêncio!
Agarrando o cachecol de Frey, Loki puxou-a com força em sua direção. A testa dela bateu nas barras de ferro, faíscas saiam de seus olhos.
— Os fracos não têm que dizer nada! Eles apenas devem obedecer os fortes!
— Woof!
Sentindo que sua dona estava em perigo, Rabby começou a latir. Entretanto, após Loki lançar lhe um olhar, ele retirou-se com o rabo entre as pernas. Embora ele parecesse impressionante, sua natureza fraca era muito parecida com a de sua dona.
Loki violentamente soltou Frey, lançando-a para trás.
— Se você deseja completar sua missão sendo tão ruim, eu vou te mostrar o quão longe você realmente está de alcançar seu objetivo — Cherubim!
Ao seu comando, o autômato começou a se mexer. As partes do seu corpo começaram a girar, expandindo-se, como um conjunto de asas. Em cada uma, haviam oito pequenas espadas, semelhantes a espinhos, que haviam se formado.
[Comando]
Soando como se estivesse ao telefone, o autômato falou com uma voz mecânica.
Aumentando sua insegurança, Frey dirigiu-se a parte mais interna da jaula.
— Uu… Vamos fazer isso, Rabby.
— Woof!
— Eu também sou… uma marionetista…!
Focando seu espírito, ela lançou energia mágica da palma de sua mão. Fluindo para Rabby, isso ativou seus circuitos mágicos.
Autômatos desenvolvidos após a Renascença não eram apenas simples soldados. “Ítens Mágicos” também eram instalados para que artes mágicas pudessem ser ativadas.
Isso era a Maquinagem. Liberando magia de ritos complicados e círculos mágicos, é dessa forma que a magia moderna foi criada.
O pelo de Rabby se eriçou, enquanto algo como eletricidade começava a correr através de seu rosto. Energia começava a se reunir e, uma vez que a carga estava completa, Rabby uivou, lançando “algo” que parecia uma bola silenciosa de eletricidade.
Isso gerou algum tipo de incrível pressão sonora, a qual bloqueava os ouvidos enquanto viajava. Esmagando pedras em seu caminho e lançando grandes quantidades de poeira no ar, “algo” seguiu em frente.
Cherubim não se mexeu para desviar, mas balançou sua lâmina na direção desse “algo”.
Uma anormalmente grande rajada de vento foi acompanhada pelo alto rugido do vendaval resultante. Sem usar nenhuma magia, o “algo” de Rabby foi facilmente dispersado por Cherubim.
Os olhos de Frey arregalaram-se. O tremor de suas pupilas vermelhas sinalizava a percepção de que a derrota era iminente.
Neste ponto, o resultado era óbvio, mas Loki ordenou friamente ao seu autômato: “Vai.”.
[Estou pronto.]
Cherubim saltou. Uma não natural rajada de vento se formou e, em seguida, seguiu Cherubim. Montando-a, o autômato fez algumas manobras rápidas em pleno ar, com o objetivo de esmagar Rabby quando descesse.
Rabby habilmente se esquivou. Entretanto, os movimentos de seu oponente eram mais rápidos. Um segundo ataque. E então um terceiro. Sob persistente ataque de Cherubim, Rabby viu-se encurralado.
A lâmina era extremamente pesada. Com um grande rugido, a espada de ferro desceu, com o objetivo de acertar o pescoço de Rabby—
— —?
Da posição de Frey, tudo o que ela podia ver era escuridão.
Era uma suave escuridão que se estendia. Esse era o cabelo de uma garota e as mangas de seu quimono.
A bela jovem havia se inserido entre Rabby e Cherubim. Um de seus braços magros estava suportando todo o peso da pesada espada, enquanto o outro gentilmente empurrava Rabby para fora do caminho.
— Você é… do Raishin Akabane…!
Frey permaneceu com os olhos arregalados devido ao choque. Se este autômato estava ali, isso só podia significar uma coisa.
— Sério, você é muito sanguinário. Você não pode esperar até que a Festa Noturna comece amanhã?
Era uma voz misturada com um suspiro exagerado.
Como ela pensava, Raishin Akabane estava ali, com um olhar de ignorância fingida em seu rosto.
Parte 3
— É um grande prazer encontrá-lo neste lugar, Imperador da Espada. Ou eu deveria tratá-lo como Sua Majestade?
Embora seu tom fosse leve, a guarda de Raishin estava alta, enquanto ele estudava cuidadosamente seu oponente.
Agora que ele os via lado a lado, ele podia ver que Loki e Frey possuíam algumas semelhanças. Obviamente, a cor de seus cabelos era a mesma, o mesmo se aplicava a suas pupilas e tom de pele. Seus rostos graciosos também eram semelhantes.
Entretanto, suas constituições eram distintas. Deixando de lado a diferença entre seus peitos, Frey era mais delicada e frágil. Loki, por outro lado, era como uma mola comprimida, cheio de vigor. Parecia que ele também seria forte em combate corpo a corpo.
Esse cara vai ser duro de lidar… enquanto pensava nisso, ele voltou sua atenção para o autômato de Loki.
A força necessária para balançar essas enormes lâminas não era algo que ele pudesse desprezar. Além disso, o ataque de Rabby ter sido ineficaz significava que, provavelmente, ele tinha algum circuito mágico misterioso instalado. Ele também reparou nas inúmeras lâminas menores em seu corpo.
O marionetista era problemático e seu autômato também. Isso não seria uma disputa direta. Sentindo um leve frio, ele virou-se para confrontar o Imperador da Espada, Loki.
O olhar de Loki paralisou Raishin. Nesse momento, Raishin tremeu um pouco.
(Esse cara… Ele é um monstro por dentro…!)
Seu corpo estava envolto por uma energia mágica extraordinária. Eles não estavam mentindo quando disseram que ele poderia alcançar o Marechal!
Com uma voz fria, que poderia congelar o inferno, Loki falou.
— Quem é você?
— Eu sou um marionetista do Japão, Akabane Raishin.
— Eu sinto muito que você tenha se desviado do seu caminho para me encontrar assim, mas agora não é um bom momento. Suma.
— Eu recuso.
— Eu vou matá-lo.
— Eu também recuso isso.
— … Se me permite dizer, eu sou uma pessoa tolerante. Entretanto, existem três coisas neste mundo que eu não posso perdoar. Pessoas que me dão ordens. Pessoas que me desafiam. E também, Orientais que não conhecem o seu lugar.
— Que coincidência. Eu também odeio Ocidentais arrogantes.
Olhando um para o outro, faíscas invisíveis aos olhos piscavam entre eles. Era um barril de pólvora prestes a explodir. Não querendo se envolver, todos os curiosos que haviam se reunido, rapidamente recuaram.
Após um momento, Loki suspirou.
— Que idiota. Você tem minhas mais sinceras condolências. Você, obviamente, não consegue ver a diferença entre nossos poderes, certo?
— Você é o idiota. Normalmente, a pessoa que sai por aí chamando os outros de idiota é o maior idiota entre eles.
— Pare de brincar. A média de minhas notas é AAA+.
— Pensar que as notas são a única forma de se medir a inteligência é a prova de que você é idiota. Além disso, julgar as pessoas por sua colocação na vida é o cúmulo da idiotice.
— É isso que você diz a si mesmo para proteger o pouco orgulho que tem? Sua tolice beira ao trágico. Eu aposto que você é do tipo de repete aulas, certo? E você, provavelmente, também tem que assistir aulas de composição e de reforço, certo?
— Idiota. Eu acabei de me transferir, então é óbvio que eu teria que repetir algumas aulas, para alcançar a todos. E quanto as aulas de composição… Bem, o que tem se eu tiver que assisti-las?
— Como eu pensei. Você realmente é um idiota.
— Não, você é.
— Você.
— Você.
— Não, você.
— É você.
Perto o bastante para que suas testas praticamente se tocassem, esse argumento inútil continuou.
— Um… Raishin?
— Loki…
Yaya e Frey timidamente levantaram suas vozes. No entanto, os dois jovens estavam tão absortos em sua discussão infantil que não as notaram.
— Oriental desprezível. Acho que a única linguagem que você consegue entender é a da força bruta!
Antes mesmo dele terminar sua sentença, o autômato de Loki havia começado o ataque. Assim como Raishin ordenou a Yaya que bloqueasse o impacto.
Uma torrente deslumbrante de luz irradiava entre eles.
A luz cortou a jaula em que Frey estava presa, arremessando para longe as barras.
— Já basta. E também, o que é que vocês dois estavam pensando, agindo como pirralhos?
A garota com feições bonitas tinha um olhar atordoado no rosto quando os interrompeu. Atrás dela, estava um dragão com cerca de oito metros de comprimento. Suas escamas de aço tinham um brilho aveludado, enquanto suas asas mantinham-no, majestosamente, no ar.
Sua presença impressionante fez Frey tremer e cair de bunda dentro da jaula.
Os olhos afiados de Loki tornaram-se ainda mais nítidos, quando ele olhou para a bonita garota.
— Você também pretende ficar em meu caminho, Charlotte Belew?
— É Charlotte. Eu realmente não me importo se vocês dois quiserem se destruir, mas, como parte dos Gauntlets, vocês deveriam estar cientes do seu entorno. Se vocês se soltarem aqui, vão causar problemas a todos.
(Olha quem fala, desastre ambulante—) era o que todos ao redor pensavam, mas, é claro, ninguém teve coragem de dizer isso em voz alta.
— Se você está pensando em levar isso adiante, você terá que lidar comigo.
— Então, você está planejando ajudá-lo?
— Na-não! Eu não estou ajudando ninguém. Eu não poderia me importar menos com o que acontece a esse pervertido aqui, mas, de acordo com as regras da Nobreza, eu preciso manter a ordem pública e, para retribuir o favor que devo a ele, eu tenho que enfrentá-lo no campo de batalha, de acordo com o Código dos Samurais.
— Favor…?
Suas finas sobrancelhas estreitaram-se juntas. O olhar de Loki mudou enquanto encarava Raishin, como se tivesse tido um vislumbre. Assemelhava-se a forma como o predador via sua presa.
— Entendo. Então, esse idiota foi quem derrotou o Felix… Penúltimo, hum?
— O que tem isso?
Reunindo sua energia mágica, os dois se encararam.
Enquanto os espectadores prendiam a respiração assistindo-os, Loki desviou o olhar.
Ele virou-se como se tivesse perdido totalmente o interesse. Seu autômato cessou as preparações, baixando a lâmina. As partes que formavam as “asas” retraíram-se de volta para seu corpo.
Movendo-se para partir, ele parou e olhou para Raishin por cima do ombro.
— Retire-se da Festa Noturna. E nunca mais volte a se envolver comigo ou com minha irmã.
Em meio a risadas, Raishin respondeu.
— Eu recuso.
Com seu autômato metálico ao seu lado, Loki se afastou.
De repente, Raishin se deu conta de que havia suor frio descendo por suas costas.
Com Charl se juntando, era uma batalha de três contra um. Isso devia ser uma grande desvantagem para ele. Entretanto, Loki não havia recolhido seu autômato devido a “desvantagem”. Ele tinha a confiança de que, mesmo nesse tipo de situação, ele ainda poderia vencer. É por isso que ele foi capaz de dar as costas a eles de modo tão casual.
Uma vez que Loki havia desaparecido de vista, uma bola de luz envolveu Sigmund, quando ele retornou a sua forma menor.
Estranhamente, Yaya deu um suspiro de alívio.
A medida em que a multidão começou a se dispersar, Raishin entrou na jaula e estendeu a mão para Frey. Frey estava assustada, mas assentiu com a cabeça quando Raishin perguntou.
— Você pode se levantar?
— Acho que você não tem nada para me dizer? Quanta grosseria!
Rabby aproximou-se de uma Charl petulante, cheirando seus pés e abanando a cauda. Charl sorriu sem pensar, então voltou a franzir a testa, disfarçando com uma tosse.
Assim que Frey se levantou, ela virou-se na direção de Raishin e se curvou.
— Uh… Obrigada… por proteger o Rabby.
— Eu só fiz o que tive vontade de fazer. Mais importante, por que você e o garoto Imperador da Espada não se dão bem?
Se havia uma resposta, ela não a conhecia.
Após ser resgatada, uma explicação era esperada… normalmente. Mas, assim que ela abriu a boca para falar, Frey voltou a fechá-la, percorreu com os olhos todo o lugar e, eventualmente, olhou para o chão, na tentativa de se esconder, antes de falar.
— Loki… me odeia.
— Odeia? O que quer dizer?
Frey não estava dizendo mais nada além disso. Curvando-se para Raishin mais uma vez, ela virou-se e saiu correndo. Rabby perseguiu sua solitária figura.
O comportamento dela era o mais curioso. Raishin, estranhamente, ignorou Yaya—cujos olhos arregalaram-se devido ao choque com isso—e virou-se na direção de Charl, que estava de pé ao lado de uma Yaya emburrada.
— Ela está no Terceiro Ano, então ela já deve ter escolhido sua especialização. A que departamento ela pertence?
— Eu não sou sua enciclopédia, seu cara insolente.
De mau humor, Charl o repreendeu, irritada, antes de olhar para o alto e pensar.
— Deixe-me ver, Frey deve estar… no departamento de Táticas Mecânicas. Ela deve estar na Faculdade de História.
— Entendo. Obrigado.
— … Você não está pensando em ir investigar, está?
— Vamos, Yaya.
— Espe— Você está falando sério!? Eu o avisei para não fazer isso.
— Mas, parece que algo aconteceu com ela—
— É por isso que estou te dizendo para parar.
Com um olhar frio em seus olhos, ela disse categoricamente.
— Uma vez que você conheça as circunstâncias do seu adversário, você não será capaz de vencer.
Ele entendeu o que Charl estava tentando dizer.
Perseguir esse conhecimento seria sobrecarregá-lo. E, uma vez no campo de batalha, qualquer hesitação poderia ser fatal.
Entretanto—
— Se eu derrotá-la sem saber de nada, eu, provavelmente, irei me lamentar ainda mais.
— Você acha que sua vitória está assegurada? Você está confiante demais!
— Eu não tenho intenção de ser derrotado. É por isso que quero investigar. Depois de tudo, isso foi o que eu fiz da última vez e, no fim, você não concorda que foi uma boa coisa eu não ter roubado sua Qualificação de Entrada?
Ao ouvir isso, Charl corou furiosamente.
— Tudo bem, então, faça como quiser! Eu definitivamente não irei ajudá-lo!
Parte 4
— É aquele.
Na direção em que o dedo de Charl apontava, havia um edifício antiquado, que o fazia lembrar de uma tartaruga velha.
O edifício havia sido construído em pedra e a maioria das bordas estavam desgastadas pelo tempo. As inúmeras peças caídas das esculturas, davam ao local uma falsa sensação de envelhecimento.
— O que há com esse olhar vago? Você realmente é um homem estúpido. Apresse-se e vamos.
Você não tinha dito que não iria ajudar?
… Aquelas palavras haviam chegado até a sua garganta, mas então ele se lembrou que a língua é a raiz de todo o mal. Mantendo sua observação para si mesmo e tentando seu melhor para olhar o menos possível para trás, ele seguiu atrás de Charl. E seguindo logo atrás dele, emitindo uma fantasmagórica aura negra, estava Yaya.
Quando eles adentraram o edifício, gritos de pânico puderam ser ouvidos.
Como esperado de uma pessoa famosa. O saguão estava repleto de estudantes pacíficos e quietos, mas uma vez que avistaram o rosto de Charl, toda a calma foi perdida. Houveram até mesmo pessoas que torceram suas costas e deslizaram para fora dos bancos, em pânico.
O resto das pessoas ficou impressionado e sem palavras. Os olhares caíram sobre Raishin, o herói do incidente do Canibal Candy. Naturalmente, o mar de estudantes se abriu, visto que eles eram pessoas perigosas.
Desajeitados como eram, Charl e os outros dois começaram a perguntar ao redor. Eles foram até o laboratório em que Frey, supostamente, deveria estar e, pegando alguns estudantes lá dentro, eles começaram a investigar a situação dela.
— E-eu nunca falei com ela. Ela é antissocial e nunca sorri…
— E-ela sempre fica para trás, para estudar até mais tarte.
— Re-relacionamento com ela? Des-des-desculpem, eu não sei de nada!
— Os seios dela são realmente grandes~
E assim por diante. No fim, nenhum deles havia conseguido nenhuma informação útil.
Charl estava olhando para Raishin com os olhos semicerrados.
— Que diabos? Você acha que eu quero escutar algo tão inútil?
— Não diga isso para mim. Diga para as pessoas quando estivermos os interrogando.
Como nos rumores, Frey era ruim em fazer amigos. Ou melhor, ela evitava pessoas. Das informações que eles haviam coletado, o que se destacava era que ela era uma garota tímida que, zelosamente, estudava por conta própria. Mesmo com essa atitude, devido a sua deslumbrante aparência, ela naturalmente se destacava, fazendo dela uma personagem lamentável.
(De certa forma, ela se assemelha a alguém…)
O olhar de Raishin recaiu sobre Charl e ela começou a agir de forma suspeita.
— O-o que você está olhando? Pervertido.
— Eu acho que seria mais rápido se nós fossemos perguntar ao professor da classe dela. Vamos tentar isso.
— … Ei.
Era uma voz tímida. Charl estava estranhamente inquieta e ela não olhava Raishin nos olhos.
Yaya havia, provavelmente, pulado direto para conclusões estranhas, pois a luz em seus olhos desaparecia depressa.
Falando honestamente, ele estava com um pressentimento realmente ruim sobre o que estava vindo. Raishin se preparou.
— … O que foi agora?
— Você… realmente… gosta deles grandes, afinal?
— Gosto do que grandes?
— Você é estúpido? O seu tecido cerebral apodreceu? Leia o contexto. Realmente, se eu soubesse que você é tão idiota, eu nem teria perguntado em primeiro lugar!
— Ok, ok. Eu apreciaria se você desse algum tipo de explicação para este idiota que sou eu, minha dama.
— Mm… Obviamente, nós estamos falando sobre seios!
O rosto de Charl ficou vermelho até a ponta das orelhas.
As pupilas de Yaya agora estavam completamente sem luz, negras como um lago sem fundo.
Por que de repente ela veio com isso?
Será que ela queria escutar a opinião de um garoto sobre o assunto?
Em todo caso, não havia dúvidas de que Charl tinha um complexo de inferioridade quando o assunto era essa área do corpo. Raishin roubou um rápido olhar na direção dos seios de Charl, antes de decidir ir com uma resposta segura.
— Eu acho que se eu realmente gostar da pessoa, então o tamanho dos seios não fará nenhuma diferença para mim.
— En-então é assim?
— Isso é mentira. Raishin realmente gosta de seios grandes e saltitantes, assim como os da Frey.
Yaya entrou na conversa e o sorriso no rosto de Charl desapareceu instantaneamente. Os cantos de seus olhos voltaram-se para cima e inúmeras veias começaram a aparecer em sua testa.
— Traidor infiel! Homem indecente! Aqueles que julgam uma mulher pelo tamanho de seus seios são a pior forma de existência! Tudo isso porque “Eu quero saber mais sobre a situação dela”! Você só estava atraído pelos seios dela, seu pervertido!
Houve um estalo rápido e a bochecha de Raishin ficou vermelha.
Charl marchou em um acesso de raiva. Sigmund, que estava descansando sobre a boina dela, virou-se. Raishin não conseguia entender a expressão no rosto do dragão, mas, de algum modo, parecia que ele estava lhe dando um olhar simpático.
Esfregando o rosto inchado, Raishin voltou-se para Yaya.
— Yaya…
— Sim?
— Eu sinto meu peito sendo preenchido com essa profunda escuridão. Eu me pergunto que tipo de sentimento, extremamente obscuro, é esse que tenho em meu coração agora.
— Mas…! Aquela megera estava te olhando de um jeito estranho…!
— Diabos que ela estava! Ela estava apenas discutindo seus problemas comigo!
— Idiota. Raishin é um idiota!
Os dois estavam fazendo barulho no corredor da Faculdade de História.
De repente, por cima de suas cabeças, o solene som de um sino ecoou.
— Raishin… Esse é o sino indicando o começo das aulas.
Raishin empalideceu e, então, saiu correndo da Faculdade de História.
Parte 5
— Magia é a combinação de ambos, consciência e inteligência. Portanto, um marionetista inconsciente será incapaz de liberar energia mágica. Entretanto, no caso de Bandolls, uma vez que eles possuem partes humanas neles, não é impossível que eles gerem energia mágica por conta própria—
A suave voz monótona era acompanhada pelo som do giz no quadro negro.
Depois do almoço, a sonolência atacava Raishin. Assim que ele reprimiu um bocejo, a professora virou-se e atirou o giz nele.
As lágrimas deixaram sua visão embaçada, então os reflexos de Raishin estavam lentos. O giz o atingiu, espetacularmente, bem no meio da testa.
— Raishin! Você está bem?!
Deixando o lápis de lado, Yaya esfregou a testa dele.
— Como de costume, você tem coragem, Penúltimo. Não apenas não trouxe os livros, mas também teve a coragem de chegar atrasado e agora não está prestando atenção na minha aula.
A dona da voz era uma bela mulher, de aparência inteligente, vestida de branco. Seu cabelo estava preso sobre a cabeça e ela usava um par de óculos com aros de prata. Era a professora titular de Rishin, a cabeça do departamento de Física das Máquinas, Kimberly.
Seu olhar frio podia ser sentido por trás das lentes.
— Todos os participantes da Festa Noturna têm excelentes notas… todos, exceto você, a única pessoa a ter entrado ao vencer uma batalha. Consequentemente, suas habilidades acadêmicas estão muito atrás das do restante dos participantes. Por causa de um garoto lamentável, alguém está tendo que mencionar todas as partes importantes do plano de estudos do Primeiro Ano e, na verdade, você deveria estar beijando os pés do gênio que condensou o plano de estudos—quem é esse alguém a quem você deveria estar agradecendo?
— Eu devo tudo a professora Kimberly.
— A Festa Noturna começa amanhã. Você tem certeza que tem tempo para ficar brincando por aí? Eu não desejo importuná-lo, mas você, ao menos, poderia ser um pouco mais sério sobre isso.
Kimberly foi rigorosa, mas seu tom de voz era suave. Era estranho que ela estivesse ensinando um assunto tão tedioso como este. Isso era muito chocante.
Incapaz de continuar em silêncio, Raishin abriu a boca.
— Mesmo se você disser isso, a Festa Noturna é conduzida pelo uso da Maquinagem. Na prática, não só um idiota como eu, mas também os estudantes de honra, que compõem os Rounds, não estamos sob as mesmas condições iniciais?
Os óculos no rosto de Kimberly caíram. Eles revelaram um olhar chocado em seu rosto.
— É possível que… você, na verdade, não tenha ideia? Isso não foi ensinado a você na aula de orientação?
— Pode ter ou não ter sido, mas devido a uma combinação de ansiedade e falta de sono—eu fui derrotado pelo demônio do sono.
— Oh, garoto… Eu acho que isso foi mencionado anteriormente, mas o funcionamento da Academia é completamente meritocrático. Se não fosse, não haveria meios de uma garota jovem e vivaz, como eu, ser capaz de tornar-se uma professora.
— Vivaz é uma palavra obsoleta, isso mostra o quão velha você é de fato.
O giz voou em sua direção mais uma vez. Raishin apressadamente levantou a mão para bloqueá-lo.
— A Festa Noturna também é um universo meritocrático. Os mais espertos ganham tratamento melhor e os mais lentos acabam ficando na parte mais fina do galho. A 100ª posição, ou em outras palavras, a menor colocação é, francamente, a mais dura de todas. Por exemplo, a ordem da batalha.
— Ordem? Eu pensei que a Festa Noturna fosse uma batalha real.
— Não. É uma batalha de sobrevivência.
Ela já tinha escutado essa frase antes. No passado, quando magos se enfrentavam em batalhas, para aumentar a excitação dos espectadores, esse estilo único de batalha foi inventado.
— Na primeira noite, o 100º colocado—em outras palavras, você e o 99º colocado irão batalhar.
Ele seria abruptamente empurrado para a batalha. E então, sua adversária seria Frey?
— Se uma das partes conseguir roubar luva da outra, então a luta termina aí. Aconteça o que acontecer, o 98º colocado irá se juntar a batalha no dia seguinte. E então, o 97º. Toda noite, um novo oponente irá se juntar ao campo de batalha. Não haverá tempo para descansar.
— Então, é sempre uma luta de um contra um?
— Não é necessariamente assim. Há um tempo limite para cada batalha. Olhe para a torre do relógio ali. Vocês têm até a meia noite para lutar. Se não houver uma conclusão na batalha até então,
— —A batalha irá ser considerada como tendo chegado ao dia seguinte.
Kimberly assentiu. Então essa era a essência da Festa Noturna. Como uma luta pela sobrevivência, o estado do campo de batalha seria caótico. É até mesmo possível que os últimos classificados se unam para derrotar os mais altos colocados…
Raishin pensou por um momento.
— Então, é possível apenas escapar de todos até a última noite e lutar contra o Marechal sem ter perdido nenhum esforço?
— Eu disse antes, a Festa Noturna é um universo meritocrático. A primeira batalha, entre o 100º e o 99º colocados—sua situação pode parecer igual à primeira vista, mas eles não estão em condições de igualdade.
Essa era uma resposta enigmática. O que ela queria dizer?
— É possível que o 99º colocado sabote você.
— Mas eu não tenho esse direito.
— Sim. Você terá que ficar no campo de batalha por, pelo menos, uma hora. … Bem, há exceções nisso também, mas você não tem que se preocupar com isso agora.
— Eu acho que entendi. Então, quando chegar o dia seguinte, o 98º colocado tem o direito de evitar a batalha—
— O 99º colocado tem o direito de sabotar apenas você. Quanto mais alta sua posição, mais vantagens você tem sobre os demais. Depois de tudo, não há limites para o que você pode fazer para sabotar os demais.
— Pergunta. É possível que o 99º colocado evite lutar comigo até o último momento?
— Esse cenário não é o ideal. A Festa Noturna não dura apenas uma noite. Se você estiver lutando contra alguém de posição mais elevada e, subitamente, aparece alguém de posição mais baixa, o que você acha que aconteceria?
— Seria um dois contra um… Dependendo da situação, isso poderia ser desastroso.
— Em teoria, as posições mais baixas vão tentar se eliminar na noite em que aparecerem. Fazendo isso, eles preservariam a condição de um contra um.
Se isso fosse verdade, então, certamente, a existência de Raishin era um obstáculo em potencial para Frey. Lutando com alguém de posição superior, se Raishin ficasse correndo de um lado para o outro, ela não seria capaz de manter o foco na luta, e não havia nada mais perigoso do que isso.
Nesse caso, como Charl disse, Frey estava tramando para assassinar Raishin porque o queria fora do caminho?
Frey era tímida e fraca. Ele não podia imaginá-la matando pessoas porque ela tinha o objetivo de se tornar a Wiseman. Ou talvez, ela tenha alguma razão para ir tão longe…?
Perdido em um mar de pensamentos, o som do sino tocando quebrou sua concentração.
— Esse é o sino do final da aula. Oh, garoto, todo esse falatório inútil comeu muito de nosso tempo. Estude o restante por conta própria e compile um relatório resumido para mim. No mínimo trinta páginas.
Fechando os livros sobre a mesa, Kimberly virou-se e saiu rapidamente. Ele podia apenas olhar, amargamente, para a figura que se afastava.
— Trinta páginas… Ela está falando sério?
Raishin empalideceu enquanto olhava para os livros emprestados. Ele tinha que ler tudo aquilo escrito em Inglês? E então resumi-los em trinta páginas?
— … Falando nisso, por causa de todo o tempo gasto com conversa fiada hoje, nós acabamos não terminando de cobrir o assunto dos livros, não é? Mesmo eu tendo tentado o meu melhor, isso ainda foi inútil, certo?
— Anime-se Raishin. Yaya vai ajudar com os relatórios.
— Sim… Eu estarei dependendo de você então, Yaya. Bastante.
Sentindo-se como se fosse chorar, ele recolheu os livros. Ao contrário, agora que Raishin estava contando com ela, Yaya fechou seu caderno alegremente.
Saindo do prédio escolar, eles caminharam por um pequeno caminho até os dormitórios. Por causa do calor do sol, eles caminharam sob as sombras das árvores, suas figuras se misturando com a escuridão.
Enquanto caminhavam, Raishin murmurou como se estivesse falando sozinho.
— … Irmãos, hum.
— Sim. Estou certa que Irori será uma excelente cunhada para o Raishin e vice-versa.
— Eu não poderia me importar menos com suas fantasias pervertidas. Não estou falando disso, estou pensando sobre os dois desta tarde.
Escutar as palavras “Eu não poderia me importar menos” deixou Yaya depressiva. Entretanto, ela rapidamente se recompôs.
— Você está falando sobre Frey e Loki?
— Sim.
— Eles não se parecem em tudo. Suas presenças são completamente diferentes uma da outra.
— Não. Eles se parecem nisso também.
Força e fraqueza. A primeira vista, Loki e Frey possuíam expressões contraditórias, mas os dois eram estranhamente parecidos. Não havia vida em seus olhos e nenhum dos dois jamais sorria.
— Se eles são irmãos, por que não podem se dar bem um com o outro?
— …
Percebendo sua língua solta, o espírito de Yaya rapidamente despencou. Sua voz soava chocada enquanto ela chorava.
— Desculpe… Yaya não devia…
— I-di-o-ta. O que está te deixando para baixo?
Descansando a mão sobre sua cabeça, ele sorriu para ela, como sempre fazia.
— Mesmo irmãos tem coisas que acontecem entre eles. Ou talvez, coisas que aconteçam por eles serem irmãos.
— Raishin…
— E também, quando você perde um, você acaba entendo muitas coisas.
Com isso, Raishin mergulhou no silêncio, imerso em pensamentos.
Yaya correu suavemente a frente e, virando-se de frente para Raishin, olhou para a pessoa por quem ela tinha sentimentos.
— Raishin… você está interessado naquilo?
— Sim.
— Abra seus olhos! Eles são apenas montes de gordura!
— Não nos seios dela! Ela disse que ia me assassinar, lembra? Eu estou interessado no porquê dela ter dito isso.
— Mentiras! Olhe nos olhos de Yaya e repita isso.
— Eu direi quantas vezes você desejar. Eu não tenho interesse naqueles balões… nos seios dela.
— Você desviou o olhar! Desviou! Desviou!
— Não, sua idiota, isso foi porque, uh, a luz do sol estava em cima—quero dizer, nos meus olhos.
— Você está atrapalhado com suas palavras~!
Ter seu pescoço torcido era insuportável. Raishin rapidamente correu para a segurança de seu quarto.
Parte 6
Raishin estava em seu quarto, passando por um rigoroso “interrogatório” de Yaya.
Ao mesmo tempo em que isso estava acontecendo, algo mais estava. Dentro da Academia, havia uma sala de espera, construída no interior do sólido portão. Dentro dela, um solitário nobre relaxava em um sofá.
Ele tinha um corpo longo e delgado. Seu semblante experiente dava a ele a aparência de um pesquisador.
O nobre ergueu a xícara de chá vermelho e olhou pela janela, contemplando o pôr do sol.
— … Esse lugar não mudou nada.
Olhando como se golpeasse o chão com uma espada, ele observava a silhueta da torre do relógio.
— Está igual a última vez—apodrecendo.
Nesse momento, uma batida na porta pode ser ouvida.
Uma solitária garota, escoltada por um segurança pessoal, entrou na sala.
Era uma estudante com cabelo cor de pérola. Atrás dela, um cão-lobo autômato a seguia.
— Uu… Você chamou… por mim, pai…?
Era uma voz um pouco mais alta do que um sussurro. Ela não olhou para o nobre quando falou, mas manteve seus olhos firmemente em seus próprios pés.
O nobre deu um sorriso caloroso, levantou-se e acenou para que a garota se aproximasse.
— Não seja tão dura, Frey. Eu só vim até aqui para checar a situação atual.
— Situação…?
— Finalmente, a Festa Noturna irá começar amanhã, certo?
Frey recuou, surpresa. O nobre colocou uma mão em seu ombro e disse.
— Eu tenho grande esperança em você.
— Em mim…? Não no Loki…?
— Ele é especial. Compará-la a ele serviria apenas para diminuir sua autoconfiança e isso seria algo idiota a se fazer. Eu compreendo suas habilidades melhor do que qualquer outro. Eu também sei o quão duro você tem trabalhado.
Frey olhou para o nobre, inquieta. Seu rosto estava preocupado, hesitante sobre a possibilidade de acreditar naquelas palavras.
— Você parece não ter problemas com suas despesas. Embora, se você achar que isso não é o suficiente, você sempre pode falar comigo. … Ah, sim, eu tenho um presente para você.
Levando a mão até o bolso de seu paletó, ele tirou de lá uma foto.
Na fotografia haviam dez cães. Eles eram todos de raças diferentes, embora houvessem dois cães de caça e dois da raça terrier, mas todos vestiam a mesma armadura.
Ao ver a foto, a princípio, a tensão de Frey desapareceu.
Entretanto, sua expressão logo tornou-se nublada.
— Uu… Então, pai… Sobre a promessa…?
— É claro que eu não me esqueci. Não se preocupe, tudo o que você tem que fazer é completar sua missão. Se o teste se mostrar um sucesso, você poderá viver com todos novamente.
— … Sim, pai. Obrigada pela fotografia.
Agora, o olhar perdido nas pupilas vermelhas da garota, praticamente, havia desaparecido.