Capítulo 4: O que Deveria ter Sido Escondido é Trazido a Luz
Tradução: Reiki Project
As chamas carmesins dançavam enquanto a fumaça negra enrolava-se tal qual uma enorme serpente.
De pé em meio aos cadáveres de sua família e das marionetes despedaçadas,
— Ten… você fez isso?
Havia um ligeiro tremor na voz de Raishin enquanto ele confrontava as costas de seu irmão.
— Você… matou o nosso pai…?
Tenzen não se virou para encará-lo, mas continuou a olhar para baixo, para o corpo de sua irmã, e respondeu secamente.
— Sim.
— E a mãe…?
— Eu fiz isso.
— Por que você faria…
— Eles estavam me atrapalhando.
— E a Na- Nadeshiko…?
— Eu a dissequei.
— Por que… por que você…!?
— Foi necessário.
Ele sentiu sua cabeça queimando.
Raiva e tristeza. As duas emoções estavam descontroladamente furiosas dentro dele, agitando-o como um navio perdido em meio a uma tempestade.
Por outro lado, talvez aquilo fosse um pesadelo. Ele estava gritando dentro de sua cabeça para que tudo aquilo não fosse real.
Ainda não estava claro o que realmente estava acontecendo. Raishin continuava a gritar uma pergunta atrás da outra.
— Por que… o que você quis dizer com “foi necessário”!? Por que você faria isso com a Nadeshiko…!?
Ele respirou e cuspiu. Seu irmão mais velho, no entanto, estava completamente desprovido de emoções quando respondeu.
— Para criar Deus.
A resposta vaga e vazia ressoou dentro do coração de Raishin.
Para criar Deus…
O que era aquilo?
O que diabos era aquilo…!?
Quem era essa pessoa? Este não é o irmão que eu conheço.
Eu não entendo. Nada está fazendo sentido. Eu não entendo, eu não…!
Seu mundo estava lentamente se rasgando e sua visão estava se transformando em um borrão. Do mesmo modo, seu coração parecia estar prestes a se romper,
— Rai… shin…
Dentro do rugido áspero das chamas ao redor, houve um pequeno gemido.
Raishin recuperou os sentidos, virando-se.
— Pai!
Mesmo agora, com sua cabeça aberta, seu pai ainda estava respirando e estava chamando por ele.
Sem pensar, Raishin correu até seu pai, que estava fazendo gestos com as mãos.
Aos pés de seu irmão, algo que ele tinha pensado ser os restos de um autômato subitamente ganhou vida, brandindo uma espada.
Quando seu irmão se esquivou, a marionete usou a abertura para arremessar a espada para longe e correr em direção a Raishin.
Era um autômato de sexo feminino que se parecia com sua mãe. O autômato apertou Raishin com um abraço, voando em direção aos céus.
— Você deve… viver!
Era algo que seu pai realmente havia dito a ele ou aquelas palavras teriam sido apenas uma alucinação?
Segurando um Raishin seminu com uma força contra a qual ele não poderia lutar, o autômato levou Raishin para fora da propriedade.
Assim que o colocou no chão do jardim, o autômato subitamente desabou no momento em que a corda de energia mágica presa a ele se desfez em pedaços.
Com um assobio, as chamas tornaram-se ainda maiores e, de uma só vez, consumiram completamente o restante da propriedade.
Enquanto as chamas queimavam diante dele, Raishin lamentou desesperado em frente à sua casa, a qual estava caindo aos pedaços bem diante de seus olhos.
Pela primeira vez em sua vida, Raishin amaldiçoou seu irmão mais velho.
E amaldiçoou a sua própria impotência.
Parte 2
— Nadeshiko!
Chocado, Raishin fixou seus olhos na donzela parada atrás dele.
Ela parecia a mesma daquela época. Sua aparência era exatamente a mesma das memórias de Raishin.
No entanto, isso não poderia ser verdade. Nadeshiko estava morta. Raishin havia pessoalmente reunido suas cinzas. E essas cinzas agora estavam com ele.
E é por isso que, mesmo que esta donzela tivesse o mesmo rosto da Nadeshiko, ela não poderia ser a Nadeshiko.
Ele pôde sentir seu sangue ferver em todo o seu corpo. Ao mesmo tempo, no entanto, seu coração congelou.
— …extravagante encontrá-lo em um lugar como este.
Com seu tom de voz transbordando de raiva, Raishin disse para a escuridão a sua frente.
— Isso deve ser algum tipo de destino, Magnus.
Sem produzir nenhum som, uma figura surgiu da escuridão.
Uma máscara prateada cobria seu rosto e ele estava usando um casaco, como de costume.
Sua autoconfiança estava transbordando— não, não era isso.
Os mais fortes organismos vivos sobre esta terra, mesmo aqueles que não tivessem autoconfiança, nada iriam temer. Este era um conceito que superava a simples ideia de confiança. Eles percebiam e aceitavam o fato de que eram os mais fortes.
Transcender seria uma boa forma de explicar isso. Este homem havia transcendido a própria força.
Raishin afiou seus sentidos, procurando pela presença de autômatos.
…não havia nenhum. Ele não podia baixar a guarda, mas, ao menos, parecia que a donzela solitária era a única marionete o seguindo.
Magnus não disse nada. Ele estava… assistindo Raishin analisar a situação?
(…será que devo fazer isso?)
Ele ficou tenso das pernas para cima. A distância entre eles era de apenas alguns metros. Se ele fosse recorrer ao uso da marionete ao seu lado, Raishin poderia chutá-lo antes que ele sequer tivesse tempo para concentrar sua energia mágica.
A tensão começou a crescer. A atmosfera tornou-se tensa e ficou tão densa que poderia ser cortada com uma faca.
— Oh céus, havia mais alguém aqui?
Uma voz fingindo ignorância de repente surgiu.
A voz pertencia a um homem no auge de sua vida. Ele era esplendidamente bem constituído e Raishin não teria nenhuma dificuldade de acreditar caso alguém lhe dissesse que este homem pertencia ao exército.
Seu rosto era bronzeado, ele tinha um bigode e haviam rugas nos cantos externos dos olhos. Ele podia ser chamado de velho bem-humorado, mas ele ainda era um pouco jovem demais para este rótulo e estava cheio de vitalidade. Ainda assim, seu rosto sorridente deixava a impressão de que ele fosse mesmo um homem velho e bem-humorado.
Este homem apareceu por trás de Magnus, sorrindo alegremente para Raishin.
— Você é o Raishin Akabane, não é?
— …estou honrado que o Diretor se lembre de um humilde estudante como eu.
— É claro que eu me lembro de você. Você é um marionetista que tem um futuro promissor, afinal.
Ele sorriu para Raishin. Era um sorriso indefeso, mas Raishin estremeceu mesmo assim.
(Esse cara também é um monstro…!)
Quando ele recebeu sua luva durante a cerimônia, ele havia ficado frente a frente com o Diretor. No entanto, o Diretor daquele momento e o de agora eram pessoas completamente diferentes. Agora que eles estavam em um lugar com poucas pessoas ao redor, não havia nada para obstruir o poder do Diretor.
Entrando em contato direto, Raishin pôde sentir a intimidante quantidade de energia mágica. Além disso, ele havia treinado bem os seus músculos. Se Raishin começasse uma briga bem na frente dele, não havia como dizer o que poderia acontecer a ele.
Enquanto exalava uma temível presença e transbordava de força, o Diretor continuou a sorrir para Raishin.
— O que há de errado? Parece que você viu um fantasma.
Estreitando bruscamente os olhos, seu olhar sobre Raishin foi tão afiado quanto qualquer lâmina.
— Você talvez, tenha visto algo estranho?
— …não, particularmente não.
— Está tudo bem, então. O Magnus aqui está agindo como o meu guarda-costas. Eu devo pedir desculpas por ele ter assustado você.
— Guarda-costas…?
— Você deve ter sido pego pelo colapso anterior. Hum, e a jovem senhorita ali…
Reconhecendo Henri, ele bateu com o punho na palma da mão.
— Ah, você deve ser a outra filha Belew.
— …! Ah, sim… meu nome é Henriette.
Henri se contraiu ao ver o Diretor, mas ela ainda se lembrava da etiqueta, pois ela se curvou educadamente para ele.
— Então você é a irmã da Charlotte. O Conde era um marionetista excepcional.
— Eh… você conhecia o meu pai?
— Claro. Entretanto, seria melhor se deixássemos este assunto para um outro momento.
O Diretor encerrou o assunto e alegremente iniciou outro.
— Como companheiros sobreviventes pegos no colapso, devemos nos unir e esperar juntos pela ajuda. Não se preocupem, eu tenho certeza de que a minha diligente secretária já fez arranjos para o nosso resgate.
Mais uma vez, o olhar em seu rosto tornou-se tão afiado quando o de um falcão.
— Então eu lhe peço para se abster de fazer o que bem entender. Está tudo bem, Raishin?
Eu não irei tolerar uma luta, era isso que ele estava dizendo. A aura que ele estava liberando dava a entender que aquela era sua palavra final.
Tendo acabado de falar, ele sentou-se.
Magnus sentou-se ao lado dele. E ao lado dele, sentou-se o seu autômato.
Completando o círculo, estavam Raishin e Henriette, que estavam sentados de frente para eles, um pouco distantes do fogo.
O Diretor começou a discutir artes mágicas de alto nível com o Magnus. Raishin sentia-se grato por eles terem sido deixados sozinhos. Ele observou Magnus atentamente, como se estivesse esperando por uma abertura para assassiná-lo.
Abruptamente, o autômato levantou a cabeça e murmurou.
— Peço desculpas por interromper, Mestre. Eu deveria ir buscar ajuda?
— …não, você está proibida de sair do lado do Diretor.
— Nesse caso, e se eu quebrar o teto?
Raishin recebeu um golpe duplo. Ela tinha acabado de dizer algo incrivelmente perigoso.
O Diretor apressadamente abriu a boca para interpor.
— Aguarde. Você não deve fazer isso. Magnus, certamente você entende. Qualquer forma de ataque direto seria perigoso, uma vez que nós não sabemos o que poderia cair sobre nós ou onde iria cair.
— Você não precisa se preocupar. Vou esmagar cada uma das rochas, grande ou pequena, até que elas não sejam mais nada além de pó…
Magnus ergueu a mão e seu autômato ficou em silêncio.
— Não faça algo tão desnecessário. Tudo o que você precisa fazer é proteger o Diretor.
— Sim, Mestre. Como desejar.
Desapontada, ela baixou a cabeça. Seu rosto de perfil parecia muito familiar para Raishin, tanto que uma voz começou a soar dentro de sua cabeça.
Onii-sama. Onii-sama. Onii-sama…
(Maldição… tem que haver algo que eu possa fazer!)
Um tipo diferente de irritação do que a que ele sentiu quando estava preocupado com o bem-estar de Charl surgiu dentro de seu peito.
Ele estava ali, bem na frente de Raishin, mas não havia nada que ele pudesse fazer!
Duas semanas se passaram desde o início da Festa Noturna. Esta noite seria a vez do 86º Assento subir ao palco. Se ele contasse com o 87º Assento, que não havia aparecido ontem, ele ainda teria que lutar contra mais oitenta e seis pessoas para poder chegar ao Magnus.
Claro, isso significaria ter que derrotar a Frey, o Loki e a Charl.
Era um longo caminho… mas agora ele estava literalmente ao lado dele. Tão perto e tão longe.
Então, mais uma vez, ele poderia chegar ao nível do Magnus apenas derrotando oitenta pessoas estranhas em combate?
Raishin havia sido treinado pela Shouko para este fim, mas se esse dia realmente chegasse, sua força atual ainda estava muito distante da do Magnus. Se eles se encontrassem, seria semelhante a situação do momento. Magnus estaria ali, bem na frente dele, em um lugar em que Raishin poderia facilmente alcançá-lo, mas ele não possuiria a força necessária para derrotá-lo.
— …Raishin?
A voz de Henri o trouxe de volta aos seus sentidos. Parece que ele estava, inconscientemente, liberando energia mágica.
— Desculpe. Parece que eu fiquei um pouco distraído.
— …qual é o problema? Você está agindo desde agora há pouco.
Usando o crepitar do fogo para esconder sua voz, ele falou com Henri de modo que apenas ela pudesse ouvi-lo.
— Eu jurei vingança contra aquele cara pelo meu Clã… e pela minha irmã.
Henri ficou surpresa. Arregalando os olhos, ela olhou para um lado e para o outro, para Magnus e para Raishin.
Tendo dito isso tão repentinamente, não havia nenhuma maneira de que ela pudesse apreciar a gravidade da situação. Ela ficou mais surpresa com o que Raishin havia dito do que com a gravidade da situação em si. O próprio Raishin também estava surpreso com o que havia dito. Ele não tinha planejado contar isso a ninguém…
Mas as palavras que ele guardava foram saindo uma após a outra.
— Eu vim para esta Academia para matá-lo. Ele é reverenciado como o Marechal, líder de um Esquadrão, mas desta vez ele trouxe apenas uma marionete em vez do conjunto completo.
Henri engoliu em seco.
— …você… você vai fazer isso agora?
— Embora me doa dizer isso, não. Esta poderia ser uma chance única na vida, mas minha parceira não está aqui ao meu lado. Ou você espera que eu faça isso sozinho?
— Por que… você não está fazendo isso?
— Hum?
— Se você realmente quisesse fazer isso, você… você já deveria ter feito alguma coisa a essa hora.
Essa garota tinha enxergado através dele. Raishin deu um suspiro de autodepreciação enquanto esticava as pernas.
— Eu não vou lutar batalhas que eu não posso vencer. Se eu perder e for morto, eu não seria capaz de mostrar meu rosto para a minha irmã. Além disso, você está aqui. Eu não vou tentar nada estúpido até que eu tenha, ao menos, levado você de volta para a terra firme.
— Eu não… valho a pena. Não há nenhum valor em me proteger… você deveria me deixar de lado e apenas fazer o que realmente quer fazer.
— Vale a pena?
— Estou… bem com qualquer coisa. Eu sou apenas uma garota inútil tirada de uma pilha de lixo. Eu não tenho nenhuma energia mágica, eu não sou bonita, eu sou uma covarde… e eu sou fra- fraca.
— Você está se comparando com a Charl quando pensa nessas coisas?
Bingo. Henri manteve a boca fechada e balançou a cabeça com tanta força que seu queixo bateu em seu peito.
Raishin não pôde fazer nada além de deixar escapar uma risada enquanto ele advertia Henri.
— Não conte a ninguém sobre a minha vingança; nem mesmo a Charl sabe disso, afinal.
— Eh… nem mesmo a Onee-sama? Então, por que você diria algo tão importante para alguém como… eu?
— Eu não penso em você como uma estranha.
Por alguma razão, essas palavras pareceram ressoar dentro do coração de Henri.
Henri subitamente ergueu a cabeça, voltando-se para Raishin.
— …hum. A verdade é que eu não sou realmente uma estudante aqui.
— Hum? O que quer dizer com isso?
— Esta não é uma escola para a qual alguém como eu poderia esperar se qualificar algum dia… eu sou apenas uma mensageira enviada para…
De repente, Raishin sentiu uma forte intenção assassina na parte de trás de seu pescoço.
A escuridão atrás dele estava oscilando. Uma súbita rajada de vento soprou em suas costas, fazendo com que seu cabelo ficasse de pé.
No instante seguinte, um duro golpe o acertou diretamente no pescoço.
Parte 3
A parede era excessivamente branca, tornando-a simples e desprovida de sentimentos.
Esta era a ala usada por pacientes internados no consultório médico.
Loki estava sentado em sua cama. Havia uma expressão dura em seu rosto enquanto ele estava debruçado sobre uma revista de pesquisa em Biologia.
Ao seu lado, havia uma grande espada encostada na parede— seu autômato, Cherubim, estava descansando. As duas luzes indicavam que seus olhos estavam fixos em seu mestre, que estava estudando concentrado.
De repente, houve o barulho dos sapatos de alguém do lado de fora do corredor, assim que ele notou uma presença se aproximando.
Abruptamente, Kimberly enfiou a cara no quarto.
— Você parece solitário sem o Penúltimo aqui, sabia?
— Até parece!
Loki gritou, mas depois percebeu que reagir de forma exagerada a piada dela seria sua derrota, então ele se acalmou e abaixou seu tom de voz.
— Agora que o barulhento se foi, este lugar tornou-se o local tranquilo que deveria ser, Professora Kimberly.
— Então eu acho que você prefere que o status quo seja mantido do jeito que está.
— O que você quer comigo? Eu não acho que você fosse vir até aqui apenas para brincar comigo… certo?
— Isso também seria muito divertido. No entanto, eu estou aqui porque há algo que eu preciso discutir com você.
— …eu estou cansado das suas ‘discussões’. Essa é apenas uma maneira agradável de você dizer que está prestes a tentar usar algum tipo de artifício.
— Isso está exatamente correto. Sob o pretexto de ter uma discussão, meu outro motivo aqui é fazer com que você pague o favor que me deve.
— O que eu tenho que fazer?
— Bem, é algo simples, sério. Você apenas deve proteger um determinado indivíduo.
— Proteger? Eu sou apenas um estudante da Academia…
— Eu obviamente sei disso.
Suas palavras foram atadas com mistério. Loki deu de ombros, suspirando casualmente.
— Hmph… parece que eu não tenho o direito de recusar.
— Não fique emburrado. Eu sou uma professora tranquila e agradável, afinal. Se você fizer sua tarefa bem o bastante, eu irei compensá-lo por seus esforços.
— Eu não quero seu dinheiro.
— Não estou falando de dinheiro. É algo que você quer tão desesperadamente que você iria me implorar por isso por vontade própria. Para ser mais precisa, é algo que vocês dois iriam querer.
Kimberly tirou um livro, mostrando-lhe o título.
Era uma escrita esotérica sobre artes mágicas. Vendo o título, os olhos de Loki se arregalaram devido a surpresa.
— O Organum…!
O conteúdo do livro tratava de órgão internos. Este era claramente um livro proibido!
Em meio a sua crescente excitação, Loki sentiu seu coração bater mais depressa. Ele respirou profundamente algumas vezes para se controlar.
— Isso é uma piada de mau gosto, Professora. Este livro está sob a estrita supervisão da Nectar…
No meio de sua sentença, ele subitamente percebeu.
O Organum não era um livro perdido.
Só porque ele estava sob estrita proteção, não queria dizer que era algo a que ele não pudesse obter acesso.
— Não tire conclusões erradas. Não há nenhuma maneira de que eu possa dar algo assim para você.
Kimberly sorriu, um sorriso devorador de homens se formou em seu rosto.
— Em princípio, grimórios proibidos só estão autorizados a ser replicados a mão. Recentemente, houve uma conversa sobre compilar este livro em particular. Então, eu estive procurando por um assistente temporário. Alguém em quem eu possa confiar para fazer este trabalho.
— …que mulher astuta e ardilosa.
— Eu prefiro que você diga que eu sou uma professora boa e gentil. E antes que eu me esqueça, eu devo avisá-lo para que não tenha nenhuma ideia engraçada. Você pode ser capaz de descobrir muitos segredos disso, mas no fim, o único autorizado a praticá-los é o Wiseman.
Os lábios de Loki deslizaram, formando um sorriso no rosto de Loki, normalmente sisudo.
Realmente— que mulher astuta e ardilosa ela era.
Parte 4
Raishin sentiu que o golpe em seu pescoço parecia com o coice de um cavalo.
Era uma força grande o bastante para esmagar vértebras humanas. Raishin voou como uma bala de canhão, colidindo com o morro de areia.
Caindo, ele reflexivamente ficou de pé. Embora ele tivesse sido golpeado e então saltado por conta própria, isso ainda não diminuía a dor que atravessava seu cérebro.
Um pouco tarde demais, Henri gritou, curvando-se em posição fetal no lugar em que ela estava.
No momento, Raishin não podia se dar ao luxo de se preocupar com ela. Ele apertou os olhos, tentando identificar seu agressor.
De repente, a figura de seu atacante surgiu.
Um calafrio desceu por sua espinha. Por reflexo, ele atirou-se para a frente, dando cambalhotas em uma manobra evasiva. Um chute acertou o lugar em que ele estava até um momento atrás, fazendo a areia jorrar como em uma fonte.
Foi muito rápido. Quando é que a figura misteriosa tinha se movido para atrás dele? Enquanto rolava no chão, ele procurou pela presença da figura misteriosa. Quando ele finalmente a localizou, ele ficou surpreso ao descobrir que ela possuía uma forma humana.
Pela luz do fogo, ele viu que a figura tinha cabelo prateado— ou seria dourado?
Ele usava um terno bem costurado, parecia que tinha por volta de vinte anos e seu rosto estava escondido atrás de um par de óculos escuros.
O homem estava flutuando no ar. Seus sapatos engraxados praticamente deslizavam sobre a superfície da areia.
O homem deslizou suavemente no ar, silenciosamente avançando em direção a Raishin.
Como ele pensava, esse cara era rápido. A trajetória de seu movimento era praticamente a mesma usada por Cherubim, mas definitivamente haviam algumas diferenças. O homem acelerou de repente. Obviamente, os reflexos de Raishin eram lentos demais para que ele reagisse.
Ele não poderia se esquivar disso— ele iria ser morto!
Houve um misterioso ‘whoosh’ e uma sombra rosa surgiu em sua frente.
(Nadeshiko?)
No entanto, ele sabia a verdade. Aquela não era a Nadeshiko.
A donzela autômato protegeu Raishin, bloqueando o chute do homem.
Houve um baque surdo quando o pesado chute atingiu o alvo. No entanto, a donzela não quebrou, afastando-o facilmente com uma única mão.
— Hotaru. Pegue-o.
— Sim, Mestre. Como quiser.
Tendo recebido o comando de seu mestre, ondas de energia mágica começaram a circundar o corpo da garota.
Uma névoa de calor se formou, distorcendo o ar circundante. A medida em que ficava mais quente, o ar começava a brilhar.
Era tão brilhante que passava a impressão de que o sol havia nascido. A atmosfera ao redor da donzela ficou incandescente e uma nuvem de areia explodiu quando ela acelerou na ofensiva.
Raishin não sabia ao certo quando foi que ela havia a sacado, mas a donzela estava brandindo uma faca enquanto ia em direção ao homem.
Quando ela cortou, a atmosfera foi literalmente dilacerada. No entanto, o homem viu através de seu ataque. Sem temer por sua velocidade, ele se esquivou da faca que se aproximava.
Ele chutou, ela bloqueou. Ela cortou, ele se esquivou e devolveu o golpe. A onda de choque gerada desta vez criou uma tempestade que rugiu por todo o lugar. Henri cobriu a cabeça com as mãos, incapaz de suportar. O Diretor estava— desaparecido. Raishin não podia se dar ao luxo de olhar para os lados.
Ele continuou a assistir a batalha, incapaz até mesmo de piscar.
Os movimentos do homem não tinham inércia sendo gerada por seus impulsos. Além disso, parecia que ele não era afetado pela gravidade. Era como se ele fosse um homem tubarão movendo-se livremente dentro do oceano.
Por outro lado, Hotaru— a falsa Nadeshiko também era um enigma. Ele se perguntou quais os limites dela, pois além de seu poder explosivo temível, ela também estava exibindo notável resiliência e resistência.
(Que tipo de circuito mágico esse cara instalou dentro dela…!?)
Era parecido com a Yaya. No entanto, uma vez que havia uma névoa quente envolvida, talvez fosse uma arte mágica relacionada ao calor…?
Isso fez com que ele se lembrasse de Cherubim. Entretanto, isso era claramente diferente do circuito Jet. A donzela não estava usando ar quente para impulsionar a si mesma, era definitivamente o poder de suas pernas que estava gerando a força dos saltos.
De repente, uma dúvida óbvia surgiu na cabeça de Raishin.
Quem ou o que era o atacante?
Suas razões para atacar eram desconhecidas, assim como, em primeiro lugar… ele era mesmo humano?
O homem estava lutando de igual para igual com um dos autômatos de Magnus. Os movimentos que ele estava realizando definitivamente não eram humanos. No entanto, não importa o quão duro ele procurasse, Raishin não conseguia localizar a presença de um marionetista.
Além disso, os chutes do homem finalmente haviam quebrado a faca da donzela.
O calcanhar do homem estava indo em direção ao lado direito da cabeça dela. Se ele fizesse contato direto, ela seria decapitada em um só chute, mas a donzela cruzou os braços e bloqueou o chute do homem.
Um forte vento explodiu. Soprada pelo vendaval, Henri acabou sendo derrubada no lugar em que estava. Agarrando seu ombro, Raishin puxou-a para perto enquanto continuava a olhar para a fonte do vendaval.
Os dois eram fortes. Quando eles se engajaram em uma nova troca de golpes, um feixe de luz brilhou subitamente.
Era fraco, mas seguramente era um feixe de luz. Iluminando a escuridão, talvez fosse algum tipo de holofote ou algo parecido.
O homem reagiu instantaneamente à luz. Sem demora, ele saltou para o ar, acelerando de imediato, como era seu hábito, desaparecendo na escuridão.
— …ele escapou, ou ao menos é o que parece.
Ambos ainda estavam de pé, então por que ele tinha fugido?
Quem era ele? Qual era o significado de tudo aquilo? Eu era o seu alvo desde o começo?
Sem nenhuma pista do que estava acontecendo, Raishin só pôde permanecer estupefato quando um súbito bater de palmas surgiu atrás dele.
— Bravo, Magnus.
Era o Diretor. O grande homem estava sorrindo amplamente enquanto alegremente elogiava o Magnus.
— Que destreza magnífica. Se você fosse enfrentá-lo com força total, certamente ele não seria páreo. Sinto-me orgulhoso em saber que um marionetista tão bom quanto você está estudando na minha Academia.
Magnus fez uma pequena reverência. Silenciosamente, a falsa Nadeshiko também curvou-se.
— Hum, parece que ele estava atrás de mim.
O Diretor falou como se estivesse dando um lembrete a eles.
Ou melhor, Raishin tinha a sensação de que ele o Diretor estava dizendo isso para que eles entendessem dessa forma.
— É uma pena que ele foi embora, mas tudo fica bem quando acaba bem. Tudo bem com você, Raishin?
— …ah, sim, eu estou bem.
— Bom, bom. Vejam, a ajuda chegou.
Os sons de vários passos se aproximando foi acompanhado por holofotes.
Finalmente, acompanhada de vários marionetistas atrás dela, uma bela mulher loira apareceu. Com eles, estavam dois autômatos que tinham braços que pareciam ter sido talhados a mão e três Heimguarders.
A bela mulher tinha uma expressão severa no rosto. Por alguma razão, ela exalava o mesmo ar que a Kimberly, mas em vez de uma saia, ela usava um par de calças. A espada estava descuidadamente pendurada em torno de sua cintura.
O cheiro de sangue exalava do sabre… ou era isso que ele sentia.
— Diretor, o senhor está bem?
— Hum, é como você pode ver, Avril.
— Isso é decepcionante, então.
Ela falou sem sequer esboçar um sorriso, bruscamente latindo ordens para os seus subordinados.
— Todas as unidades, ao lado direito. Peguem as crianças e as escoltem até a superfície. E também, enquanto estão nisso, vocês podem levar o vovô também.
— Avril…
A bela mulher ignorou a voz lamentável do Diretor e começou a andar à frente dos outros.
Parte 5
Uma vez que Henri não podia andar, ela estava sendo transportada por um autômato.
Era um autômato do tipo gigante que parecia ser muito forte. Seus grandes braços davam a ele uma forte sensação de tranquilidade, tornando-o surpreendentemente agradável.
Depois de uma longa e rotunda viagem, eles finalmente conseguiram voltar para a superfície. No momento em que eles surgiram do subsolo, já passava das três da tarde.
O aumento repentino no brilho da luz exterior queimou as retinas de Raishin, fazendo com que ele protegesse os olhos com as mãos.
O céu ocidental tinha uma ligeira coloração amarelada, informando a todos que o crepúsculo se aproximava rapidamente.
Parece que a chegada deles já havia sido anunciada de antemão, pois o pessoal da segurança e os membros do Comitê Executivo vieram recebe-los. Eles estavam perto do campo usado para simulações de batalhas e emergiram por um edifício que continha dezenas de barras de ferro dispostas em uma estrutura, como se o lugar inteiro fosse uma grande prisão.
Há muito tempo atrás, uma instalação destinada a ser usada para experimentação de artes mágicas foi planejada para ser construída aqui, para fazer uso desta caverna natural. Entretanto, como se viu, o lugar era muito grande e perigoso e, por isso, esteve selado até o dia de hoje.
O Diretor explicou isso a ele. Embora ele sentisse que aquilo era como uma panela de barro cheia de mentiras, Raishin fingiu compreensão.
Depois de terem recebido um check-up da equipe médica, a primeira ordem que eles receberam foi a de desfazer seu pequeno grupo.
— Raishin!
Uma voz familiar chamou por ele, vindo do campo de batalhas simuladas.
Saltando sem dificuldades por sobre os guardas de segurança, Yaya veio voando em sua direção.
Agarrando-se na cintura dele, Yaya começou a chorar.
— A Yaya estava tão preocupada… tão preocupada…!
Raishin coçou o cabelo enquanto ela falava,
— Desculpe. Mas você não tem que chorar assim. Eu não vou morrer tão facilmente.
— E se o Raishin e aquela megera acabassem… fazendo?
— Entendo. Da próxima vez, preocupe-se mais com a minha segurança.
— Eu me preocupei! Se a sua vida estiver em perigo, o medo ajuda a tornar mais forte o amor entre um homem e uma mulher!
— Você já leu livros demais. Não aconteceu nada… tudo bem?
— Você desviou o olhar! Raishin, por que você desviou o olhar!?
— Não, sério, realmente não aconteceu nada… tudo bem?
Ele não sabia se era mesmo o efeito ponte suspensa, mas não havia como negar que a distância entre ele e Henri havia diminuído.
Afastando Yaya, Raishin procurou por Henri.
Em meio ao mar de pessoas da segurança e de membros do Comitê Executivo que andavam de um lado para o outro, ele avistou uma figura familiar.
O rosto de perfil era suave. Era a responsável pelo Dormitório Grifo. O braço dela estava enrolado sobre o ombro de outra garota, que estava de costas para Raishin e olhando para longe— Henri. Ele queria ir até lá para verificar como ela estava e acariciar sua cabeça, mas uma vez que a responsável pelo dormitório já estava lá, ele sentiu que não precisava se preocupar, embora ele sentisse que era lamentável não falar com a Henri.
— …hum, Yaya? Ei, o que você está fazendo?
Yaya tinha agarrado a mão dele a força e agora estava arrastando Raishin para um outro lugar.
Ele não entendia o que estava acontecendo, mas ele logo percebeu que agora estava sendo arrastado para longe do campo de batalhas simuladas, em direção ao bosque.
Arrastando-o para dentro do matagal, Yaya tinha um leve tom de queixa em sua voz.
— Tire suas calças!
— Eu recuso! Por que essa solicitação súbita!?
— Nesse caso, basta me mostrar o seu corpo nu!
— Dá na mesma, sua idiota!
— Ah, já chega!
Yaya, com lágrimas se formando em seus olhos, encarou Raishin.
— Por que é que você se recusa a abraçar a Yaya o tempo todo!?
— Abra… pelo menos diga isso de forma indireta, sua idiota!
— Intenções sex…
— Isso é ainda pior— espereespereespere! Por que você está se despindo agora?
Yaya afrouxou a corda em sua roupa, expondo a parte superior de seu corpo com um floreio.
Pele branca impecável, tão bonita que era quase doloroso de se olhar. A área dos ombros até o seu peito estava totalmente exposta, mas o obi em torno de sua cintura ainda estava bem amarrado, fazendo a aparência dela parecer incrivelmente erótica.
Tudo isso apesar de haver uma grande multidão a menos de dez metros de onde eles estavam. Yaya estava ignorando completamente o lugar e a situação em que eles se encontravam. Yaya lentamente se aproximou de um Raishin em pânico.
Então, de repente, ela retrucou.
— Então você realmente… odeia a Yaya… afinal…
— Vista-se. Eu já disse que não odeio você.
— Mas… você nem sequer reage a isso…
— Para onde é que você está olhando? No que uma jovem donzela está fixando o olhar?
— Não é como se o Raishin fosse incapaz, eu já confirmei isso…
— Quando foi que você!? Além disso, apresse-se e coloque suas roupas!
Agarrando a gola do quimono, ele a forçou a se vestir. Depois de cobrir o peito dela, ele se sentiu seguro. Assim que ele deu um suspiro aliviado, houve o som de vidro quebrando.
Os olhos de Yaya rapidamente perderam a sua vitalidade, como se ela tivesse se transformado em uma boneca de verdade.
Ela tinha parado de chorar e havia um sorriso vago e sem vida se formando em seu rosto.
— Ufufu… oh… Raishin fufu… não faça isso…
Ela estava falando sozinha?
Não. Ela estava desfrutando de uma conversa, mas era com o carvalho diante dela!
Parecia que ela estava sob a ilusão de que o carvalho era o seu Raishin ideal.
Yaya estava encostada na árvore, com um sorriso feliz no rosto.
— Sim, Raishin. Yaya sempre estará aqui. Para todo o sempre <3
Raishin estremeceu.
Isso era ruim. Yaya valia tanto quanto um navio de guerra. Se ela quebrasse, Raishin nunca seria capaz de pagar o custo do reparo. Além disso, se Yaya não estivesse por perto, ele não seria capaz de participar da Festa Noturna!
Raishin desesperadamente agarrou Yaya pelos ombros, sacudindo-a para frente e para trás.
— Yaya, recomponha-se! Por favor volte!
— Fufufu… Raishin… Raishin… Raishin… Raishin… Raishin… <3
Yaya não estava olhando em sua direção, mesmo que agora ele estivesse tão perto dela!
Sua insatisfação e o ressentimento reprimidos, juntamente com sua preocupação se Raishin estava vivo ou morto e sobre quando ele voltaria, estava fazendo com que suas emoções se descontrolassem.
Sem mencionar que Raishin continuava a afastá-la. Yaya tentava expressar seu amor com todo o seu corpo, mas ele sempre a recusava friamente.
— Neste ponto, ele já não poderia apenas esconder isso dela.
Se ele não se explicasse claramente agora, Yaya nunca seria capaz de entender.
— …de todas as pessoas, eu particularmente não quero te dizer isso.
Com isso como introdução, Raishin finalmente contou o segredo que ele vinha escondendo dela há dois anos.
— Eu tenho uma noiva.
— Eh…!?
Funcionou. Yaya voltou a si, mordendo a isca.
— Isso é uma mentira! Raishin… estamos juntos há dois anos e essa é a primeira vez que eu estou ouvindo tal coisa…!
— Não encontrei um bom momento para contar a você. Além disso, bem, quero dizer… eu estava apavorado.
— Você estava apavorado em destruir o seu relacionamento com a Yaya…?
— Não, eu estava apavorado que você destruísse meu corpo.
— Raishin… como você pôde… mentir para a Yaya todo este tempo…
— Espe… Espere um pouco. Eu nunca menti para você, tudo bem? Eu não fiz nada assim. Em todo caso, ouça até o final… acalme-se!
Ele estava sendo estrangulado e sendo erguido pelo pescoço. Ele podia sentir o fluxo de sangue sendo cortado e sua consciência estava desaparecendo rapidamente. Pouco antes de sua garganta ser esmagada, Raishin conseguiu gritar.
— E- Eu não estou me casando!
— …eh?
— Eu estava tentando dizer a você que eu não tenho nenhuma intenção de me casar!
Yaya tinha um olhar confuso em seu rosto. Quando ela liberou a força em seus dedos, Raishin caiu no chão.
Tossindo e cuspindo, Raishin respirou profundamente, recebendo o oxigênio vital de volta em seu sistema.
— Você está dizendo que não vai se casar?
— I- Isso foi algo que meus pais decidiram por conta própria e, além disso, o Clã Akabane está completamente destruído agora. Seguir com esse casamento agora seria totalmente ridículo. No entanto, o compromisso não foi oficialmente cancelado ainda. E assim, até que o noivado seja rompido, eu não vou me aproximar de outras mulheres. Meu senso de dever me impede.
— …o Raishin é uma pessoa certinha.
— Você acabou de estalar a língua?
Raishin esfregou a garganta, dando uma risada autodepreciativa.
— De todo modo, ela é como uma flor da montanha, completamente fora do meu alcance. Nós não funcionaríamos bem juntos.
— Isso… isso quer dizer que você a ama tanto…!?
— Não! Não crie um grande mal-entendido como esse!
— Mas se você realmente não sente nenhuma afeição por ela, por que você ainda não cancelou o noivado!?
— Bem, isso é… foi a outra parte que se recusou a cancelar…
Assim que essas palavras saíram de sua boca, ele congelou. Dizer essas palavras perigosas era quase o mesmo que uma tentativa de suicídio.
Felizmente, Yaya pareceu não ter entendido. Ela tinha rapidamente se animado e agora estava sorrindo alegremente.
— Se você não tem nenhuma intenção de se casar, então isso quer dizer que não há nenhum obstáculo no caminho do nosso amor, certo?
Yaya estava radiante. Raishin sentia-se aliviado. Não havia preocupação por trás daquele sorriso. A atual Yaya era a mesma de antes dele ter conhecido a Frey.
— Sim, não há.
— Nesse caso, por favor, tire as suas calças!
— Maldição, você chegou mesmo a ouvir alguma palavra que eu disse?!
Enquanto isso estava acontecendo, havia um certo alguém escondido entre as arvores, espionando as proximidades.
Agarrando os joelhos, ela estava sentada ao lado de um grande cão-lobo de pelo preto.
Era a Frey. Ela estava com o grupo de pessoas que tinham ido recebê-los, mas como o pessoal da segurança tinham impedido a entrada dela, ela tinha perdido a chance de chamar por Raishin.
Quando ela o ouviu falar sobre uma noiva, Frey congelou.
Com ambas as mãos, inconscientemente ela começou a apertar o cachecol ao redor do seu pescoço.
Noiva. Noiva. Frey era especialmente sensível a este som. Quando Raishin tinha dito a palavra, ela tinha sentido claramente que havia um calor estranho em sua voz.
Ela mordeu o lábio com a aparição de uma forte rival.
— …não pode ser…
A figura de alguém surgiu em sua mente, assustando-a, provavelmente, não era nada além de intuição feminina. E depois, possivelmente isso não passava de uma fantasia.
A inquietação cresceu e se espalhou dentro de seu peito, fazendo Frey tremer levemente.
Seu parceiro, Rabi, começou a farejar, empurrando seu nariz contra ela em uma tentativa de consolá-la.
Frey acariciou o pelo macio dele, escondendo o rosto no pescoço de Rabi.
Ele cheirava a luz do sol, terra e grama.
O cheiro de Rabi a ajudou a se acalmar e, escondendo sua presença, ela se levantou.
Montando nas costas de Rabi, ela começou a se afastar. Correndo velozmente para fora do bosque, ela voltou para a rua principal. De repente, porém, Rabi chegou a um impasse, erguendo as orelhas.
Com sua cabeça erguida, ele começou a olhar ao redor da área. Claramente, algo o tinha alertado e ele agora estava em guarda.
Finalmente, acompanhado da vibração das asas, uma grande sombra desceu dos céus.
Era uma figura digna e heroica. O próprio Rabi era um cão de grade porte, mas aquilo tinha um tamanho muitas vezes maior.
Era uma silhueta com quatro asas e havia alguém parado em suas costas, olhando na direção de Frey.
— T-Rex!
Os olhos de Frey se arregalaram de surpresa quando ela olhou para uma caloura, que estava no mesmo dormitório que ela— embora agora ela estivesse “desaparecida”— ela a chamou por seu título.