Capítulo 4: Você não Pode me Parar
Tradução: Reiki Project
Isso aconteceu ontem.
Depois que a Yaya saiu da Enfermaria, ela tinha encontrado uma garota solitária na floresta.
A garota se chamava Alice Bernstein—
— Agora, por favor, pare de chorar. Você é mesmo uma linda boneca.
Alice de forma suave e gentilmente limpou as bochechas de Yaya com um lenço.
Yaya estava confusa quanto as ações dela, mas permitiu que Alice continuasse a enxugar suas lágrimas.
Alice sorriu gentilmente. Seu cabelo prateado brilhava de forma deslumbrante e seus traços eram tão perfeitos quanto os de uma boneca requintada. Era praticamente intolerável quando Yaya pensava que alguém como ela fosse humana.
Alice olhou para Yaya e, em seguida, assentiu como se tivesse enxergado através dela.
— Entendo. Você está apaixonada pelo Raishin Akabane.
— !
— Não é estranho que eu saiba disso. Vocês dois continuam causando grandes perturbações em todo o Campus e ambos são muito atraentes.
Ela riu levemente e, em seguida, olhou para Yaya com pena nos olhos.
— …Como é trágico. Você é uma boneca e ele é um ser humano.
Yaya começou a fungar novamente e rapidamente desviou o olhar.
Inclinando-se sobre o ombro dela, Alice posicionou seu rosto ao lado do da Yaya e sussurrou em seu ouvido.
— Além disso, você está fazendo com que ele não precise de você.
— Is-Isso não é verdade!
— Mas você é fraca, não é?
— A Yaya… é fraca…?
— Por que é que ele sempre está ferido? Por que ele tem sempre que lutar de forma tão imprudente?
— Vocês três, irmãs, são bem conhecidas mesmo aqui, na Europa. Neve, lua, flor— três autômatos com três diferentes tipos de circuitos instalados. E falando sobre a boneca da neve—
As palavras dela eram tranquilas, mas tão pesadas quanto o martelo de um gigante.
— Ela é capaz de aniquilar inimigos sem sequer sofrer um arranhão, ou estou errada?
— Se fosse a Onee-sama…
Yaya não podia se comparar ao controle de área e ao domínio de espaço da Irori.
Se ela tivesse estado lá durante o incidente com o Canibal Candy—
Irori teria congelado a forma líquida do Canibal Candy e o feito em pedaços com facilidade.
Se ela tivesse estado lá durante o tempo em que se infiltraram no Instituto da D-Works—
Irori teria pulverizado as espadas curtas e anulado o circuito Jet.
Raishin teria sido capaz de lutar contra o Loki sem ser prejudicado.
— Se você está realmente pensando nele, deveria sair do lado dele.
Foi como um golpe em seu crânio.
Grandes lágrimas começaram a se formar e a cair pelo seu rosto.
— Ahh, eu sinto muito. Eu feri os seus sentimentos, não foi?
Alice novamente começou a limpar o rosto de Yaya com o lenço.
— Não chore. Eu acho que ainda há uma maneira de você ser útil a ele.
— …?
— Há uma excelente solução para tudo isso. É muito, muito boa. Ela irá permitir que o Raishin use a boneca da neve, vai impedir que você seja repreendida pela Karyuusai e, acima de tudo isso—
Ela sussurrou docilmente.
— Você poderá se tornar humana.
Os olhos de Yaya arregalaram-se e ela involuntariamente virou-se para encarar Alice.
Alice subitamente se afastou, falando sem rodeios.
— Parece que tem alguém vindo. Nós vamos continuar essa conversa em outro momento.
— Es-Espere!
— Não posso fazer isso. No entanto, você deveria se lembrar bem disso. Se você realmente sente o que diz sentir, a melhor coisa a se fazer agora é dizer adeus a ele.
— Dizer adeus…
— Vai ser apenas por pouco tempo. Se você puder simplesmente suportar isso durante esse pouco tempo, ambos poderão encontrar a felicidade.
Com seu cabelo prateado balançando ao vento, Alice virou-se e foi embora.
— Pense nisso com cuidado, minha linda bonequinha.
Com um sorriso bonito, ela caminhou para fora da floresta.
Yaya ficou ali, estupefata, observando seu longo cabelo prateado desaparecer.
Eventualmente, a respiração dos tipos Garm pôde ser ouvida se aproximando a distância.
Parte 2
Quebrando ainda mais a janela, Raishin foi arremessado para o ar.
Junto com os cacos de vidro, ele foi lançado ao chão, a uma distância considerável em relação à onde ele estava antes
Entretanto, antes que ele atingisse o solo, algo bateu em suas costas.
Houve um som de crepitação e, em seguida, o de alguma coisa quebrando. O vidro— não, era gelo!
O barulho continuou enquanto ele colidia com camada após camada de gelo. Raishin começou a se acalmar. A velocidade de sua queda estava diminuindo. As múltiplas camadas de gelo estavam fazendo com que ele desacelerasse!
Eventualmente, Raishin pousou no chão tão suavemente quanto se ele tivesse caído em um monte de algodão.
O gelo se quebrou em pedaços minúsculos, envolvendo a atmosfera circundante com ar frio.
— Tudo bem com você, Raishin!?
Saltando de um galho, alguém veio voando suavemente pelo ar. Seu cabelo prateado estava tingido com um tom azulado enquanto ela flutuava e, quando ela pousou ao seu lado, Raishin já tinha se assegurado de que Irori havia chegado.
— Irori! Desculpe os problemas! Obrigado por ter vindo!
— Eu tenho várias coisas que gostaria de dizer, mas vou ter que deixar isso para mais tarde. O inimigo está se aproximando!
Seus olhos semicerrados eram ainda mais estreitos dos que o da Yaya e estavam analisando o céu com uma tensão evidente.
— Então você já está equipado com a boneca da neve. Bastante impressionante, Senhor Akabane.
Shin tinha admiração em sua voz quando pousou suavemente.
Pressionando a área na qual acabara de ser chutado, a pergunta chegou a Raishin em meio a sua respiração pesada.
— … Estou perguntando apenas por perguntar, mas você planeja lutar contra mim agora?
— Você quase me matou agora há pouco e ainda quer perguntar isso?
Shin lançou um olhar longo e duro para Raishin e, de repente, começou a rir como se tivesse encontrado algo engraçado.
— Eu posso ser hábil em ser o mordomo da Família Bernstein, mas não vou dizer que sou completamente perfeito. Se eu tivesse que apontar uma falha, seria minha impetuosa disposição.
— No entanto, vocês conseguiram roubar a Yaya. Certamente eu não tenho mais nenhuma utilidade para vocês, certo?
— … Parece que você desconhece o seu próprio valor. Você faz alguma ideia de quão valiosa é a obtenção de um Akabane vivo?
— Então vocês vão me roubar também? Esse é o raciocínio de um ladrão?
— Não, é o raciocínio de um Cavaleiro.
— O que—
— Você cair em nossas mãos é algo secundário. Meu verdadeiro objetivo é a sua eliminação. Eu acredito que você tenha dito algo mais cedo, “Eu devo ser capaz de pegá-los desprevenidos com isso”? Para dizer isso de forma simples, com essas palavras você apenas me deu uma razão para ficar inquieto e, ao mesmo tempo, me deu a desculpa que eu precisava para eliminar você.
Ele mostrou uma intenção assassina tão poderosa que quase chegou a atingir Raishin fisicamente.
Com a súbita explosão de energia mágica, um violento vento surgiu ao redor deles.
Irori preparou-se, colocando-se diante de Raishin para protegê-lo.
— Você é perigoso.
Shin falou francamente.
— Mesmo durante o nosso último encontro, você quase fez minha Senhora— cuja natureza podre e distorcida é tal que ela ama mais enganar as pessoas do que ter três refeições ao dia— ficar encurralada. Se estivéssemos em condições ligeiramente diferentes, minha Senhora poderia até mesmo ter sido derrotada.
— E por essa razão você que fazer com que eu desapareça?
— Não interessa o quão perigoso você seja, se não for capaz de fazer absolutamente nada, então não há a menor possibilidade de você causar algum prejuízo para a minha Senhora.
— Você não está sendo um pouco apressado demais? Se a Academia descobrir que você me atacou, sua preciosa Senhora vai acabar perdendo seu Assento para a Festa Noturna, certo?
— Sua preocupação não é necessária. Estou agindo por minha própria vontade. Uma vez que meu Coração de Eve seja retirado e tenha seu registro inspecionado, eles irão descobrir que eu agi sem ser controlado pela energia mágica de ninguém— será constatado que eu era um autômato que perdeu o controle.
Raishin olhou para Shin, pasmo.
Seu rosto mostrava que Shin não estava brincando. Ele estava falando sério.
— Estou chocado… Se você decidiu ser desmontado, isso deve significar que você realmente a adora. Isso pode não significar muito vindo de mim, mas você é louco. Como alguém com uma cabeça tão podre quanto a da sua Senhora pode ser tão importante para—
Em um instante, Shin se moveu, furioso.
Era uma aceleração explosiva. Alcançando sua velocidade máxima em apenas um instante, ele estava indo na direção de Raishin.
Ele preparou um violento chute frontal. Se aquilo acertasse Raishin, sem dúvidas iria quebrar sua espinha— porém, Irori tinha se posicionado a frente de Raishin.
Cintilante sob o sol da tarde, uma grossa parede de gelo apareceu, parando o chute de Shin.
O gelo era incrivelmente denso, parecendo uma rocha sólida e muito dura. Um chute forte o bastante para jogar Sigmund longe foi parado em um instante!
Além disso, seria necessário um breve momento para destruir completamente a parede de gelo.
— Raishin! Sua energia mágica, por favor!
Empurrando Raishin pelas costas, ela gritou. Raishin imediatamente concordou, canalizando sua energia mágica.
Ele não entendia o mecanismo do circuito mágico Himokagami. Portanto, ele renunciou o controle a Irori. Mesmo assim, não houve problemas quando o circuito mágico de Irori foi ativado.
Destruindo a parede de gelo, Shin veio em sua direção. Fragmentos de gelo voaram sobre ele, em resposta.
Os fragmentos de gelo começaram a ficar maiores e mais longos, formando cones pontiagudos de gelo que atacavam Shin por todas as direções.
Eram como lanças feitas de gelo. Inúmeras lanças investiam contra Shin.
Obviamente, elas não perfuravam seu corpo. No entanto, o ataque feroz era como uma chuva de balas. Tendo de suportar o incessante ataque, a energia mágica do Shin estava visivelmente diminuindo.
A esse ritmo, ele iria esgotar sua energia mágica!
Shin desistiu do ataque, alterando sua direção de forma abrupta e recuando.
— !?
Atrás dele, uma névoa de gelo estava esperando para emboscá-lo.
Ela brilhava como pó de diamante. Ele mergulhou na névoa. No instante seguinte, o vapor de água na atmosfera congelou instantaneamente, cobrindo Shin com uma camada branca de gelo.
Seus movimentos agora estavam entorpecidos. Seu corpo estava prestes a parar em nível molecular.
— Ouça-me, Marionete Alemã. Você já está dentro do meu <Inverno>.
Revestida por uma camada de ar frio, Irori falou com um tom gélido de voz.
— Pereça em minha prisão — Shimokuguri.
Com um súbito e agudo estalo, o corpo de Shin foi instantaneamente congelado.
Parecendo um fruto preservado em âmbar, ele foi trancado em um sólido bloco de gelo.
O golpe final… foi o que pensou Raishin, mas o inimigo era um adversário formidável, então isso ainda não havia terminado.
Estourando o bloco de gelo, Shin saiu voando.
Ele forçadamente puxou suas mãos e pés congelados, fazendo com que partes de sua pele fossem rasgadas e caíssem. O sangue fresco tingia o bloco de gelo com um profundo tom de vermelho. Entretanto, Shin não vacilou. Mal agarrado à própria vida e a esperança, ele retirou-se a toda velocidade.
Subindo ao céu, ele fugiu na direção do bosque. Algum tipo de cortina de fumaça formou-se atrás dele, fazendo com que a visão de Raishin fosse obstruída— Parecia que alguém estava usando uma arte mágica de ilusão.
Ser incapaz de ver o alvo os deixou sem saída. Irori desistiu, voltando-se para encarar Raishin.
— Minhas desculpas, Raishin. Eu o deixei fugir.
Raishin observou em silêncio do início ao fim.
Que poder assustador! A dupla formada por Raishin e Charl— ou melhor, os quatro tinham lutado duramente contra o Shin e a Irori sozinha havia o forçado a recuar.
— Irori… Eu… Obrigado. Você foi de grande aju—
— No que diabos você estava pensando!?
Sendo subitamente repreendido por Irori, Raishin calou-se, constrangido.
— Como você ousa fugir da Enfermaria sem sequer dizer uma palavra para sua parceira!? Tenha mais fé em mim!
— …Eu sinto muito. No entanto, você disse uma coisa errada.
— Errada…
— Você não é minha parceira. Você é a da Shouko.
— Por isso, eu tive que sair para recuperar a minha.
— Não seja ridículo! O que você poderia fazer com seu corpo nesse estado!?
Irori gritava tanto que seu rosto estava ficando azul enquanto andava até Raishin.
Entretanto, Raishin manteve-se preso a suas convicções até o fim.
— Você infligiu uma ferida no Shin— O que significa que agora é nossa chance. Eu vou me esgueirar até a base deles e recuperar a Yaya.
— Quer dizer que você pretende enfrentá-los!? Eu não vou permitir! Isso significaria começar uma guerra!
— Eu não vou deixar que isso aconteça. Eu não planejo causar nenhum problema para a Shouko.
Eles estavam argumentando sobre planos diferentes.
Irori percebeu que discutir sobre isso seria um grande desperdício de tempo. Suspirando, ela falou friamente.
— …Você está dizendo que está determinado a ir, não importa o que aconteça?
— Sim.
— Sendo assim, eu vou cumprir o meu papel como parceira da Shouko.
O cabelo prateado de Irori começou a flutuar no ar, espalhando-se de forma espiral.
— Mesmo que isso signifique prender você no gelo.
Irori começou a irradiar uma energia mágica selvagem e uma intenção assassina. O poder dela fez com que as feridas de Raishin recomeçassem a doer.
No instante seguinte, a arte mágica de Irori foi ativada, prendendo os membros de Raishin com correntes de gelo.
Parte 3
A luz de uma lâmpada piscava indistintamente no quarto escuro em que Yaya estava.
Ela estava abraçando os joelhos, encolhida na cama macia.
Não havia nenhuma janela e o ar estava úmido e frio, mas ainda assim era um quarto muito confortável.
Havia uma pequena mesa ao pé da cama. Tapeçarias foram penduradas nas paredes de pedra. O quarto tinha cerca de vinte tatames de tamanho e tudo lá era reservado para o uso pessoal da Yaya.
O copo de chá preto deixado por Yaya sobre a mesa havia já há muito tempo ficado frio.
Yaya fez a si mesma uma pergunta. Quanto tempo teria se passado desde que ela chegou ali?
Ela já havia perdido completamente a noção de tempo.
Abraçando os joelhos, ela os apertou contra sua testa.
Vir para cá realmente tinha sido o melhor a se fazer?
Ela perguntou a si mesma se ainda estava se sentindo preocupada com o Raishin.
Ela balançou a cabeça vigorosamente, dissipando as inúmeras dúvidas em sua mente.
(Isso é… tudo pelo bem do Raishin…)
Bem do Raishin, bem do Raishin, ela repetia isso para si mesma como se fosse uma espécie de mantra enquanto as lágrimas caíam por seu rosto.
A ausência da Yaya beneficiaria o Raishin— essa era a dura verdade.
Enquanto um soluço estava prestes a escapar de sua garganta, alguém repentinamente bateu na porta.
— Como está se sentindo, boneca da lua?
Sem esperar por uma resposta, a garota de cabelo prateado entrou.
Alice Bernstein. Para manter as aparências, ela era filha de um Barão Americano, mas, na verdade, o sobrenome Bernstei— era de um dos descendentes da Nobreza Germânica.
— Você está chorando novamente? Você é como um bebê chorão.
Alice riu, limpando as lágrimas de Yaya com um lenço. Seu tom de voz lembrava o de um garoto, mas seus gestos e maneirismos eram bastante femininos e gentis.
Yaya permite que Alice continue o que estava fazendo, enquanto pergunta a ela com um tom suplicante em sua voz.
— Será que isso realmente… vai ajudar o Raishin?
— Claro. Mas, para você, isso pode parecer terrivelmente cruel.
Alice riu, tirando uma bola de cristal do decote.
— Vá em frente, dê uma olhada.
— … Raishin!
A imagem de Raishin estava sendo exibida dentro da bola de cristal.
E ele estava no meio de uma batalha!
— Esse impertinente Shin o atacou de surpresa. No entanto, não há com o que se preocupar. Veja—
O chute certeiro de Shin colidiu com uma parede de gelo, uma que estava protegendo Raishin do ataque.
Depois disso, o circuito mágico da Irori violentamente veio a vida.
Seu poder destrutivo era esmagador.
Colocando os arredores sob seu controle em apenas um instante, Shin foi congelado em um piscar de olhos e forçado a recuar.
Irori era forte. Muito mais forte que a Yaya.
— Agora você compreende? Existe apenas uma pessoa que é a mais adequada para ficar ao lado dele.
— … Sim… Sim.
Yaya cobriu o rosto com as mãos enquanto soluçava.
Alice sentou-se ao lado de Yaya, sussurrando palavras de conforto em seu ouvido.
— Não chore. Vai ficar tudo bem. As técnicas do nosso país irão transformá-la em um ser humano e, assim, você será capaz de voltar para o lado dele. Desta vez, não como uma ferramenta, mas como uma garota humana.
Com uma expressão abatida no rosto, Yaya assentiu repetidamente.
Uma fenda se abriu no rosto de Alice quando ela sorriu.
— Você não pode deixar os terrenos da Academia e não pode voltar para a Karyuusai. No entanto, podemos escondê-la aqui. E Raishin Akabane vai unir forças com a boneca da neve para vencer a Festa Noturna.
— Sim…
— Você não precisa se preocupar com nada. Embora tenhamos nos posicionado como inimigos, não temos nenhum desejo de entrar em conflito com a boneca da neve. Porque se o fizéssemos, acabaríamos sofrendo pesadas baixas.
— Sim…
— Estamos apenas esperando por uma oportunidade de unirmos forças com o Raishin Akabane. O objetivo dele é o Magnus e enquanto ele não possuir nenhum desejo pelo trono do Wiseman, nossos objetivos são mutuamente benéficos. Afinal de contas, ele é um tipo de pessoa que não gosta de batalhas desnecessárias, não é?
— Sim…
Até agora, Yaya esteve apenas repetindo isso, de modo totalmente vazio.
A luz em seus olhos negros havia desaparecido e suas funções vitais tinham sido reduzidas a ponto de que ela conseguia apenas produzir lágrimas.
Ela tinha se tornado literalmente uma boneca. Alice semicerrou os olhos, satisfeita.
— Você pode apenas descansar aqui até que a Festa Noturna termine.
— Sim… Muito obrigada.
Alice sentou-se ao lado da Yaya, enxugando suas lágrimas sem demonstrar quaisquer sinais de cansaço por repetir tal ação, até que Yaya finalmente parou de chorar.
Parte 4
— Me prender no gelo… Isso não parece nada bom.
Raishin sorriu ironicamente, quebrando o gelo que se reunia ao redor de seus membros.
As sobrancelhas estreitas de Irori torceram-se em uma carranca.
— Nesse caso, por favor, abstenha-se de fazer algo assim tão tolo!
— Eu me recuso.
Os olhos de Irori brilharam. Em um instante, o vapor de água na atmosfera congelou, formando singelos cristais de gelo no ar.
Um dos cristais de gelo atingiu o braço do Raishin, cortando alguns centímetros de sua pele.
Uma dor aguda percorreu seus nervos e sangue começou a escorrer pelo singelo buraco aberto.
Quando o cristal de gelo perfurou Raishin, Irori falou com frieza.
— Você prefere que eu congele seu sangue? Ou prefere perder um braço desse jeito?
Ela tinha uma fria intenção assassina. Sua aura estava fazendo com que o ar ao redor dela chegasse a temperaturas abaixo de zero, fazendo-a parecer uma Yuki-onna das lendas.
Fazendo-se de valente apesar da dor, Raishin falsificou um sorriso superficial.
— Tudo bem, faça.
— Tome meu braço, ou mesmo a minha perna, caso também a queira.
— Eu vou para onde a Yaya está, mesmo que eu precise rastejar para chegar até lá. Se você quiser me parar, esqueça isso de tomar um braço ou uma perna. É melhor você tomar minha vida para me impedir de ir.
Esmagando o cristal de gelo, ele deu as costas a ela.
— Por favor, abstenha-se de ir, Raishin!
Suas emoções desintegraram-se. Agarrando as costas dele, Irori suplicou que ele parasse.
— Por favor! Por misericórdia! Se você fizer algo tolo agora…
— Então você está me dizendo para desistir da Yaya?
— Sim!
— Então por que é que você está chorando?
Irori então percebeu.
Surpresa, ela tocou seu próprio rosto, percebendo que ele estava completamente molhado.
— Eu… disse para desistir, não disse!?
Ela firmemente manteve suas convicções, mesmo com lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Então… Raishin… Você também deveria desistir…!
— Eu recuso.
— Eu vou servir a você como uma substituta! Eu vou me esforçar para compensar a perda da Yaya, então—
— Ouça bem, Irori. Minha parceira é o melhor autômato do mundo. Não há ninguém nesse mundo que seja capaz de substituir a Yaya!
Os olhos de Irori arregalaram-se e, em seguida, a expressão severa em seu rosto vacilou.
As lágrimas começaram a transbordar. Com sua energia mágica sendo liberada de forma incontrolável, as gotas transformavam-se em gelo antes de atingirem no chão, caindo como granizo.
— A Yaya é uma ferramenta que estou usando para minha vingança. Dizer para eu desistir dela porque a perdi, ou para descartá-la porque não posso mais usá-la— Se eu realmente a tratasse como uma ferramenta, eu seria o pior tipo de demônio que existe.
— Esta Irori acredita que sua vontade e seu espírito sejam muito admiráveis… No entanto, neste mundo apenas o espírito… não pode criar a mudança necessária para vencer uma situação desesperadora!
Com seus ombros tremendo, a voz de Irori estava tensa.
— Mesmo antes… Se eu não estivesse presente, você certamente teria sido morto, sem dúvidas quanto a isso. Uma queda daquela altura significaria uma morte certa, ou estou enganada?
— Mas você veio.
— É verdade que apenas a convicção não me levaria a nada. Mesmo assim—
Ele riu e apontou para algum lugar atrás dela.
— É a convicção que une os seres humanos, certo?
Virando-se para o lugar para o qual Raishin tinha apontado, os olhos de Irori arregalaram-se de surpresa.
Aparecendo das sombras, haviam cinco autômatos em forma de cão.
Liderando o grupo estava um cão parecido com um lobo e havia uma estudante com cabelo branco pérola montada sobre ele.
Atrás dela, de pé em meio ao bosque, um estudante estava encostado em uma grande árvore.
Seus braços estavam cruzados e ele tinha uma expressão solene no rosto. Ao lado dele havia uma grande espada.
De repente, o som de asas batendo foi ouvido no céu. Olhando para cima, ela viu um dragão cor de aço pousando. Montada sobre o dragão estava uma linda garota de cabelo loiro.
Eram três marionetistas e seus respectivos autômatos.
Irori ficou chocada e virou-se para Raishin, como se para confirmar a situação. Raishin virou-se primeiro na direção da Frey.
— Yo, Frey. Você, talvez, tenha vindo junto para o nosso passeio?
— Uu… Eu falei sobre umas coisas com o Loki e me decidi.
Frey balançou a cabeça em afirmação.
— Mesmo para mim… essa é a melhor maneira de permanecer na Festa Noturna. Associar-me com a Yaya… cooperar com o Raishin é a melhor forma de lutar contra os Kreuzritter.
Frey virou a cabeça para o lado.
— Uu… Charl, você está indo também?
— Se eu deixasse esse rei dos idiotas por conta própria, seria o mesmo que deixá-lo morrer à beira da estrada.
— Portanto, você está preocupada com o Raishin…
— Na-Na-Não! Eu estou apenas protegendo os fracos! Isso é parte das Obrigações da Nobreza!
Ignorando a perturbação de Charl, Raishin chamou por Loki.
— Loki. Você está indo conosco?
— Não faça perguntas ridículas, seu idiota… A Frey já respondeu à sua pergunta, não foi?
— Não tente começar uma briga agora, seu idiota! Apenas seja logo honesto e diga que vai ajudar!
— Você é que é o idiota! Quem iria ajudar alguém como você, sua bala idiota!
— Cale a boca, sua bala de canhão idiota!
— Vá se danar, seu navio de guerra idiota!
— Seu raio laser idiota!
— Calem. Já. Essa. Boca! Vocês dois são idiotas!
Charl intrometeu-se, parando a briga.
Raishin e Loki pigarrearam e viraram a cabeça em direções opostas. Eles estavam agindo completamente como crianças. Sigmund suspirou, em uma mistura de irritação e resignação.
No entanto— mesmo que eles estivessem brigando feito crianças.
Os três ali haviam lhe emprestado suas forças.
Foi por isso que Raishin foi capaz de se virar para Irori com um sorriso.
— Agora você entende, Irori? Há outros que reconhecem minha situação e, mesmo assim, estão dispostos a ir comigo em uma missão impossível. É por isso que agora eu posso te dizer— Você não pode me parar.
Os lábios de Irori tremiam, incapaz de conter suas emoções.
— Chame a Komurasaki. E também, eu tenho um grande favor para pedir a você.
— Um favor…?
— Você terá a parte mais importante. Você será a peça central do meu movimento incrivelmente estúpido.
Irori enxugou as lágrimas, piscando como se tivesse acabado de ver algo muito curioso.
Parte 5
— Sério, que grande confusão você causou, Shin.
Eles estavam dentro de uma grade sala sem janelas, iluminada pela luz de uma arte mágica.
Um tecido vermelho simples havia sido posto em todas as paredes e uma resistente mesa redonda havia sido posicionada no centro da sala. Cinco estudantes estavam sentados ao redor da mesa. Cada um dos estudantes tinha seu respectivo autômato atrás dele. Cada um dos autômatos estava vestindo uma armadura de corpo inteiro e todos carregavam suas próprias armas.
Isso parecia exatamente com uma reunião estratégica dos Cruzados dos tempos antigos.
Um homem vestido de mordomo arrastou-se para diante da mesa.
Ambas as suas mãos estavam manchadas de sangue. Apenas de olhar aquilo já parecia doloroso. O processo de cura já havia começado, mas os pedaços de pele pendurados expunham a carne viva, dando a ela uma aparência grotesca.
Um dos estudantes sentados ao redor da mesa redonda— a beldade de cabelo prateado, Alice, continuou falando com um tom provocativo em sua voz.
— Eu sei que disse a você para sofrer uma falsa derrota, mas não disse nada sobre você precisar ser tão espancado assim.
— Peço desculpas pela minha vergonhosa aparência.
— Eu tive que gastar uma grande quantidade de energia mágica apenas para salvar você, sabia? Ainda assim, graças a tudo isso, conseguimos obter uma maior compreensão sobre o circuito mágico da boneca da neve— o poder Himokagami.
Ela virou-se alegremente para o estudante sentado mais ao fundo na sala.
— Você também viu isso, certo, Rosenberg? Parece que vai ser uma festa bem divertida.
— …Tu és sempre assim. Essa tua atitude descuidada acabará por levar-te a tua própria ruína.
— Estou ansiosa por isso.
— Ei, Alice.
Um estudante de cabelo vermelho— Schneider cortou a fala de Rosenberg. Ouvindo sua Senhora ser abordada de forma tão rude, a raiva de Shin aumentou visivelmente, mas Schneider o ignorou e continuou a falar.
— Não é cedo demais para ficar proclamando que previu tudo? Se eles não se moverem de acordo com sua previsão, então aqueles que não se encontram aqui terão sido enviados em uma missão tola.
As duas garotas, que estavam de ambos os lados de Rosenberg, entraram na conversa enquanto riam.
— Não apenas uma missão tola, mas também para uma morte tola!
— Uma morte tola, uma morte tola!
— Ruhe, Zwei und Drei.
Silenciando as garotas que estavam muito animadas, Rosenberg virou-se para Alice.
— Você também compartilha da preocupação do Fünf?
— Bom, eu seria capaz de me divertir de qualquer modo, então…
Schneider começou a irradiar uma intenção assassina. Como se para bloquear sua linha de visão, Shin posicionou-se entre os dois. No entanto, Alice suavemente colocou a mão em seu peito, empurrando-o de volta.
— Não há necessidade de se preocupar. Minhas previsões nunca falharam antes.
— …Herr. Sinto que tenho algo a dizer antes da batalha.
Schneider levantou-se, olhando para Rosenberg com olhos flamejantes.
— Eu não posso compreender porque deixamos cinco pessoas perderem suas qualificações na noite passada. Tratá-los como peões de sacrifício e enviá-los de volta para suas terras natais? E agora, se me disser que faremos a mesma coisa com aqueles que restaram—
— Então, o que tem se for isso mesmo?
Rosenberg olhou para Schneider com uma expressão fria.
Ambos liberaram energia mágica e seus olhares colidiram, fazendo faíscas voarem por todos os lados.
O ar começou a ficar pesado por cauda da tensão. Atrás de Rosenberg, o pequeno Cavaleiro ergueu seu escudo de corpo e, atrás de Schneider, o Cavaleiro de corpo magro ergueu sua Claymore.
Com o ar ainda tenso, Rosenberg falou com um tom de voz dominante.
— O Shin ali— Ele é o Mark 4 dos Maschinensoldat e nós temos o Mark 5— protótipos usados para testes militares. O que o Neun e os demais possuíam era o Mark 3— modelos antigos e que estavam incompletos.
Ele continuou insensivelmente, com uma voz imparcial.
— Se fôssemos medir o seu potencial em uma escala, eles seriam um quinto do nosso poderio militar— havia algum outro uso para eles além de servirem como peças descartáveis?
— Eu não estou falando sobre as marionetes! Estou falando sobre os nossos brethren!
— Tudo bem, já chega.
Uma voz brilhante se intrometeu na conversa e interrompeu o apaixonado Schneider.
— Veja desse modo. Se a mais forte das espadas e o mais forte dos escudos começarem uma disputa verbal, isso não acabaria em uma contradição? Uma discussão entre amantes é algo em que nem mesmo um cão se envolveria— Acredito que este seja um ditado Oriental.
Piscando e mostrando um lindo sorriso para ambos, Alice repreendeu o par.
— Fünf— Schneider. Suas preocupações são válidas, mas improcedentes. Em primeiro lugar, os quatro membros que não se encontram aqui não foram enviados a uma missão tola.
Ela estendeu a bola de cristal, dizendo para que ele olhasse lá dentro.
— Ah! O Raishin está vindo aqui!
— Ele está vindo, ele está vindo! E a T-Rex, o Imperador da Espada e a Rugido Silencioso estão vindo com ele!
As garotas numeradas como Dois e Três estavam animadas. Assim como elas disseram, haviam várias outras figuras além do Raishin sendo refletidas na bola de cristal.
Os olhos de Rosenberg estreitaram-se drasticamente.
— Eu vejo cinco tipos Garm… Mas isso é inexplicável. Eu não vejo o Cherubim do Imperador da Espada e nem o Sigmund da T-Rex.
Uma dedução afiada apenas por dar uma olhada. Não importa como a imagem na bola de cristal fosse girada, tudo o que eles podiam ver era a Irori e os tipos Garm. Os outros autômatos não podiam ser vistos em parte alguma.
— Ao que parece, o circuito mágico Yaegasumi os escondeu. Aparentemente, eles planejam nos atacar por um ponto cego.
Alice riu alegremente.
— Você não acha que está parecendo um pouco assustado demais, Rosenberg?
— …Isso não é muito estranho? Se eles fizeram suas marionetes desaparecer, por que eles não fizeram o mesmo em si próprios?
— Eles fizeram.
— !?
— Minha Visão de Águia reage a todas as coisas vivas. Ela é capaz de até mesmo penetrar artes mágicas a um certo nível. É por isso que mesmo que eles devessem ter desaparecido, estão sendo mostrados dessa forma—
Alice deu de ombros ligeiramente, antes de continuar a falar alegremente.
— Um autômato tem uma resposta mais fraca do que a de um humano. É por isso que, graças ao efeito adicional do Yaegasumi, eles não aparecem. Os tipos Garm são essencialmente cães modificados, então aparecem. Quanto a boneca da neve— sua construção inesperadamente assemelha-se muito com a dos nossos próprios Cavaleiros, não?
— …Tudo bem, tanto faz. Eles nos perceberam?
— Eu não acho que eles tenham nos percebido. Devemos atacá-los de surpresa?
Alice virou-se para encarar Rosenberg.
Shin, Schneider e as gêmeas também se viraram para encará-lo.
Rosenberg pensou sobre o assunto durante algum tempo, antes de dar sua resposta em um tom baixo.
— Isso pode ser parte do plano deles. Seria melhor não fazermos nada descuidado durante essa fase. Nós iremos interceptá-los conforme o planejado.
— Que chato, Rosenberg. Você é uma pessoa muito covarde.
Foi uma declaração provocativa. No entanto, não houve resposta. Alice riu levemente.
— Nesse caso, estão todos liberados. Eles estão se movendo exatamente de acordo com o que eu previ— então, cada um de vocês, sinta-se livre para interceptá-los da forma que quiser. E também, pessoal, deem o seu melhor para não acabarem feridos.
Cada um com um Cavaleiro o seguindo, Rosenberg e Schneider deixaram a sala. Atrás deles, as gêmeas saltaram para fora da sala, com seus Cavaleiros também as seguindo.
O que fez com que apenas Alice e Shin restassem dentro da sala.
Parte 6
A escuridão estava caindo sobre a floresta e a luz do sol poente estava sendo fracamente filtrada através da copa das árvores.
Como o Verão estava se aproximando, os dias estavam ficando mais longos. Mesmo assim, considerando o tempo— Já passava de sete da noite— o sol já estava se pondo a oeste, desaparecendo no horizonte.
— Então, por aqui?
Debruçando-se sobre um mapa iluminado pela luz de uma lanterna, Raishin olhou para cima.
Na frente dele havia um muro alto. Atrás deste, ficava uma antiga instalação de pesquisas. Espiando por entre as rachaduras no muro, era possível ver que o lugar estava abandonado e agora, eram praticamente ruínas cobertas de musgo.
— Uu… Aqui. Nos fundos.
Frey assumiu a liderança. Atrás dela estava Raishin, em seguida Charl e Loki, todos andando em fila única. Entrando nas ruínas pelas portas dos fundos, eles se dirigiram para o incinerador. Parando diante dele, Raishin usou a lanterna para iluminá-lo por dentro.
Uma grade de ferro tinha sido inserida ali, o que significava que aquilo tinha que ser algum tipo de entrada.
Frey apontou para os arredores do incinerador.
— Há um monte de pegadas… aqui. O cheiro da Yaya está aqui também.
O faro dos tipos Garm tinha os levado até este local.
A carta que tinha sido posta sobre a cama de Raishin anteriormente— era uma nota apontando para este local. Após o incidente daquela manhã, Frey havia conduzido sua própria investigação sobre o assunto.
— Obrigado, Frey. É graças a vocês que podemos atacá-los assim.
— Uu… nós estamos no mesmo bote, de todo modo.
Frey disse isso como se não fosse nada. Mesmo assim, seu rosto normalmente inexpressivo mostrava um ligeiro tom de alegria. Por outro lado, Charl ficou um pouco mal-humorada.
— Então o que, agora vamos entrar em um labirinto subterrâneo? Nós não sabemos o que vai acontecer se fizermos isso, certo?
Encarando cautelosamente a grade de ferro, Charl estava estranhamente nervosa. Era possível que ela estivesse assustada.
Frey pensou por um momento e, em seguida, inclinou a cabeça para o lado.
— …Está tudo bem em nos revelarmos?
— Sim, eu acho que já fomos expostos, de todo modo— o que você está planejando?
— Isso…
Frey fez os tipos Garm se alinharem diante do incinerador. Depois disso, ela soprou um apito.
Os tipos Garm começaram a uivar em uníssono.
Parecia que não era apenas um uivo simples. Havia energia mágica presa aos seus sons. O Yaegasumi da Komurasaki perdeu o efeito e os tipos Garm perderam sua discrição.
Frey fechou os olhos e colocou as mãos sobre os ouvidos, concentrando-se profundamente.
Ela fez isso durante alguns minutos. Tomando o mapa das mãos de Raishin, ela começou a rabiscar algumas figuras complicadas nele. Parecia que ela estava fazendo algum tipo de esboço.
— Uu… É assim que o interior parece ser.
— O interior… Espere, você consegue ver lá dentro!?
Frey assentiu. Raishin estalou a língua, espantado.
— Isso é incrível. Como você faz isso?
— Reflexão das ondas sonoras… É porque eu estou conectada com esses garotos…
— Conectada…? Você consegue até mesmo fazer algo assim?
— Que tolice, você realmente não sabia disso?
Charl ficou ainda mais irritada, falando com um tom aborrecido.
— Para marionetistas mais competentes, algo como compartilhar as percepções dos autômatos sob seu controle é essencialmente uma coisa fácil de se fazer. No entanto, o marionetista fica completamente indefeso durante esse período.
Para marionetistas qualificados, era possível compartilhar uma parte das percepções de seu autômato. Era essencialmente uma continuação das antigas tradições, nas quais um familiar e seu invocador compartilhavam uma ligação.
— Uau… Isso não é uma coisa que eu conseguiria fazer. Você é de grande ajuda, Frey.
— Eu acho que sou apenas uma inútil, afinal, não sou!? Hmph!
Por alguma razão, Charl estava lacrimejando. Raishin estava perplexo com o comportamento dela, quando uma voz ao seu lado a interrompeu.
— Guardem essa conversa inútil para mais tarde. Baseado nesse mapa, existem duas entradas. Nós vamos pela da frente?
Loki examinava o mapa, falando com um tom mais agudo.
Os olhos dos demais também se voltaram para o mapa. O interior do edifício parecia ser complicado, como se fosse um labirinto. Além disso, parecia que, além do incinerador, havia também uma outra forma de entrar.
— …Você está certo. Há um risco de que eles tenham escondido a Yaya nos fundos. Devemos nos separar. Eu vou pela frente. Loki, deixo os fundos por sua conta.
— Não me mande para os fundos. Você é que deveria ir pelos fundos, seu idiota.
— Pare de tentar discutir comigo, seu idiota!
— Uu… Não briguem!
— Da forma como eu vejo— acredito que a Frey deva ir pelos fundos.
Sigmund, que estava descansando em cima da cabeça da Charl, disse.
A opinião de um ancião era sempre valiosa.
Loki e Raishin pararam de discutir, virando-se para olhar para ele.
— O que você quer dizer com isso, Sigmund?
— Você viu a capacidade de sensoriamento espacial dos tipos Garm, certo? É exatamente por essa razão.
— Ah, entendo. Eles podem facilmente detectar se o inimigo decidir fugir e não haverá preocupações quanto a sofrerem uma emboscada. Seria melhor se a Frey guardasse a entrada dos fundos.
Charl rapidamente compreendeu as intenções de Sigmund e as expressou em palavras. Raishin também concordou.
— Então, nesse caso, o Loki realmente deveria ir pela entrada dos fundos, afinal.
— Não decida as coisas por conta própria, seu idiota.
— Neste caso, o que você propõe que façamos, meu caro Loki?
— Hmph. Seria desvantajoso para mim se a Rugido Silencioso sair da Festa Noturna na noite de hoje.
— Então você irá pelos fundos, não é!?
— Pare de ladrar igual a um pirralho! Se posso dizer por mim mesmo, eu sou uma pessoa tolerante, mas não tenho tempo para crianças.
— Por que você…!
Raishin começou a tremer de raiva. Charl rapidamente os cortou ao remexer-se e deliberadamente tossir alto.
— Ne-Ne-Nesse caso, eu vou pela frente. Porque essa é a única opção que resta. Na-Não há nenhum outro motivo por trás disso.
Ela estava certa. Pela entrada da frente iria a dupla formada por Charlotte e Raishin. Raishin se recompôs.
— Estou contando com você, Sigmund.
— Mm.
— Eh? Mas… e quanto a mim…?
Enquanto olhava para Charl, que havia subitamente se acalmado, Raishin virou-se para Frey com alguma suspeita.
— Tenha cuidado, Frey. Eles não vão conseguir matar esse idiota do Loki mesmo que tentem, mas se acabarmos perdendo você, então terá sido tudo em vão.
— Uu… Obrigada.
— Quem você está chamando de idiota, seu idiota!? Você é o único aqui que não morreria nem se eles tentassem matá-lo. Seu cérebro deve ser composto de algum gás nobre.
— Você está pronto para brigar agora!? Seu cérebro de mercúrio!
— Seu cérebro de metais pesados!
— Não briguem!
Frey intercedeu e tanto Raishin quanto Loki estalaram a língua. De todo modo, eles estavam se dividindo em duas equipes e cada uma delas preparava-se para avançar por sua respectiva rota.
— Vamos, Charl. Você sabe o que fazer, certo, Irori?
Raishin gritou para a pessoa atrás dele.
Escondida na escuridão, a garota de cabelo prateado, que tinha permanecido em silêncio até agora, assentiu fracamente.
— Nesse caso, é hora de atacarmos o castelo dos Cruzados.
Raishin sorriu, derrubando a grade de ferro.