Capítulo 5: Interceptação
Tradução: Reiki Project
Shouko estava sentada em uma cadeira confortável, com o cachimbo na mão enquanto olhava para o sol vespertino, prestes a desaparecer.
Sua visão do sol foi bloqueada pelo súbito aparecimento de alguém no parapeito de sua janela.
Era uma mulher solitária, vestida de manto negro e capuz.
— Eu não esperava encontrá-la novamente dessa forma. Bom dia, Karyuusai— oh, minhas desculpas, julgando pela sua aparência atual, parece que seu dia tem sido tudo, exceto bom.
— De fato. Especialmente agora, estou com o pior humor possível.
— A culpa é minha? Peço desculpas se for esse o caso.
— Não, é por causa daquele garoto incorrigível. Ele está se metendo em alguma coisa mais uma vez…
Ela bateu o cachimbo com irritação. As cinzas voaram para fora dele, sujando o chão.
Depois disso, ela deu um sorriso íntimo para sua visitante.
— Bem-vinda, Professora Kimberley. Que tipo de visita caseira é esta, surgindo sem aviso prévio em minha janela e entrando sem dizer nada além de um olá?
— Eu peço desculpas pela minha falta de cortesia. Existem várias circunstâncias atenuantes também de minha parte.
— Eu me pergunto o que os bandidos reunidos aí em frente estão fazendo.
— Não diga isso dessa forma. Eles todos são marionetistas de primeira linha, é bom que você saiba. Portanto, ter um mago que está em um nível ainda maior do que os de primeira linha é um pouco cruel para com eles.
— Fufu… Então, o que esse mago acima dos de primeira linha quer com uma marionetista do terceiro mundo?
— Apenas fazer uma visita a grande Karyuusai. Pense nisso como sendo uma visita de cortesia.
— A esta hora e sem uma marcação prévia? Eu gostaria que você considerasse o tempo e o local de forma mais apropriada.
— Obviamente, não é necessário dizer que eu fiz isso.
Como uma deixa, o som de uma explosão surgiu atrás de Kimberley.
Pedaços do edifício foram desintegrados e a poeira começou a subir. Não havia cheiro de pólvora e nem flashes de luz. A explosão não havia sido causada por explosivos convencionais. Era uma arte mágica!
Os sons de berros e de gritos irritados podiam ser ouvidos. Parece que a equipe de segurança estava entrando em ação.
— …O que está acontecendo?
— Parece que um grupo de indivíduos — muito mais rudes do que eu — acabou de chegar.
— Um ataque…? Komurasaki, venha!
Ela chamou alguém de fora do quarto… mas não houve resposta.
No lugar de uma intrigada Shouko, Kimberley chamou alguém que estava do lado de fora da janela.
— Vamos, entre. Sua senhora está chamando por você.
Em resposta a isso, uma garota veio voando, embora com um pouco de receio e alguma dificuldade.
Vestindo um quimono da cor das folhas de Outono, seu cabelo estava amarrado em twintails. Comparada a sua expressão habitual, ela tinha um olhar mais obscuro em seu rosto. Ainda assim, este era, sem dúvidas, o rosto da Komurasaki.
Olhando fixamente através de seu tapa-olho, Shouko deixou escapar um enorme suspiro.
— O que diabos… você está pensando, garoto…!?
Com um olhar de descrença em seu rosto, ela murmurou essas palavras enquanto ajustava a lente de seu tapa-olho. Varrendo a sala, ela pôde ver através das paredes, o que a permitiu ver como a batalha se desenrolava.
— Há quatro marionetes e quatro marionetistas… Oh céus, parece que os militares estão os tratando como crianças. Atacar uma pessoa importante de outro país sem uma declaração formal de guerra, que ultrajante. Não há um único Cruzado valente o bastante lá fora para vir galantemente resgatar essa lastimável marionetista?
— A Nectar é uma organização formada apenas por espectadores covardes. Nosso objetivo é assistir e observar— Infelizmente, tudo o que eu posso fazer é assistir.
Kimberley falou sem rodeios. Ver a Shouko em tal situação parecia dar a ela um certo prazer.
O som da luta em curso estava se aproximando. O som de alguém sendo atacado ressoou por todo o edifício vindo diretamente do andar inferior ao que elas estavam e um grito de agonia pôde ser ouvido. Parecia que mais um dos marionetistas da equipe de segurança tinha sido derrotado.
Imediatamente depois disso, o chão explodiu e um autômato irrompeu dele.
Parte 2
Raishin andou pelo corredor escuro, guiado pela luz de uma lanterna.
Logo atrás dele estavam Charl e Sigmund e atrás deles havia uma figura usando um quimono azul— Irori estava cobrindo a retaguarda.
Primeiramente, isso parecia ser uma instalação usada para experimentos que não podiam ser mostrados ao público. As passagens subterrâneas tinham curvas que criavam um padrão muito complicado, tornando o lugar todo muito estranho.
— Ah, puxa, o que há com toda essa umidade!?
Charl resmungou. Ela estava muito preocupada com seu cabelo.
— Esqueça seu cabelo e preste mais atenção aos seus pés. Pode haver armadilhas que desconhecemos.
— Hmph, você é um idiota. Dizer algo assim é como se você estivesse implorando para que uma armadilha apareça nesse exato momento—
De repente, o corpo de Charl despencou. Logo depois de dizer aquilo, uma armadilha tinha aparecido!
Ela caiu rapidamente. Agarrando firmemente seu pulso inesperadamente magro, ele a puxou para cima.
Suas costelas gemeram por causa do esforço e ele começou a suar frio. Felizmente, Charl estava bem. O assoalho voltou ao normal, retornando para sua posição original, fechando novamente o buraco.
Parecia uma armadilha em forma de buraco que já tinha sido usada por inúmeras vezes. Havia uma luz estranha vindo lá de baixo e algo semelhante a uma massa de água podia ser vista lá embaixo. Era uma queda acentuada. Se ela tivesse caído, isso poderia até mesmo tê-la matado.
Charl caiu no chão, seu rosto era como uma máscara branca de tão pálido. Raishin riu ironicamente.
— Parece que as suas palavras tinham mais força para erguer uma flag do que as minhas.
— …Raishin. Dizer algo assim é um convite para outra armadilha.
Assim que Sigmund terminou de falar, houve um estalido. Algo foi posto em movimento.
Qual mecanismo havia sido ativado ficou óbvio em apenas um instante. Vinda do final do corredor, uma grande torrente de água estava avançando na direção deles!
— Charl!
— Deixa comigo! Canhão Lustre!
Sigmund abriu sua mandíbula, explodindo a torrente com uma inundação de luz.
A onda de água foi dissipada de forma magnífica, espirrando água para todos os lados. No entanto, o fluxo de água continuou ininterrupto e uma segunda onda surgiu logo em seguida. O nível da água estava crescendo— a esse ritmo, eles iriam se afogar!
— Charl, mire no chão!
Sigmund imediatamente apontou o pescoço para baixo. Charl não entendeu nada, mas, mesmo assim, disparou um segundo tiro. Perfurando a água que surgia, a torrente de luz foi em direção ao chão.
Exatamente como Raishin esperava, um buraco se abriu. Ao mesmo tempo, algo inesperado também aconteceu.
O grande volume de água foi em direção ao buraco, mas tanto Raishin quanto Charl também foram arrastados junto com a correnteza.
Eles caíram no buraco. Caindo de uma grande altura, eles atingiram a superfície da água com um estrondo.
Assim como ele tinha visto antes, eles estavam em uma piscina. Raishin apressadamente tentou se orientar. Baseando-se na luz que vinha de outras fontes, ele nadou em direção ao que ele pensava ser a superfície.
No meio do caminho, ele viu Charl, que aparentemente estava afundando. Agarrando-a, ele nadou por suas vidas e, finalmente, chegou a superfície. No momento em que ele fez isso, no entanto, ele tomou uma cotovelada.
— Onde é que você pensa que está tocando, seu pervertido?
— Onde… no seu estômago?
— Este é o meio peito! Como você se atreve, seu… Waaaah!
Raishin pisou em uma mina terrestre. Charl começou a gritar com ele, socando-o com seus pequenos punhos. Lutando contra o impulso de deixá-la sozinha, ele começou a procurar por algum tipo de terra, na direção da qual eles pudessem nadar.
— Por aqui, Raishin, há uma ilha artificial.
Sigmund sobrevoava, guiando-os em direção à ilha. Exatamente como Sigmund havia dito, havia uma massa de terra feita de pedras bem no centro da piscina.
Uma garota vestida com um quimono já estava esperando por eles lá e ajudou a puxar o Raishin para cima.
— Raishin. Você está… bem?
— Sim, estou bem.
A verdade era que suas costelas ficaram feridas por causa do impacto ao cair na água, mas ele não deixava que isso transparecesse em seu rosto. Ele olhou em volta, para confirmar mais uma vez o que havia ao redor deles.
A piscina era grande. Dois ginásios da Academia poderiam caber ali dentro. O teto era alto e a água ainda estava fluindo pelo buraco que eles tinham aberto antes. A ilha em que eles estavam dividia a piscina exatamente ao meio e no centro da mesma havia uma área do tamanho de duas quadras de tênis—
Quatro pessoas estavam paradas lá.
— Eles caíram!
— Sim, eles caíram!
— Eles não são desajeitados!?
— Sim, sim, muito desajeitados!
Havia um par de garotas rindo.
Atrás delas, seus Cavaleiros estavam parados, com lanças nas mãos.
— Hmph… Elas revelaram sua presença rápido demais.
Charl apertou sua saia, que estava encharcada, falando com uma voz confiante.
— Eu vou fazer vocês se arrependerem de mostrarem seus rostos diante de mim!
Parte 3
Houve um estrondo ecoando por todo o chão, fazendo Yaya erguer a cabeça.
Havia uma sensação de formigamento em sua pele, ao mesmo tempo em que ela sentia uma poderosa onda de energia mágica. Não havia dúvidas. Tinha uma batalha acontecendo em algum lugar.
Naquele momento, a porta se abriu com um clique e alguém entrou no quarto sem sequer ter batido antes.
— A-Alice! O que está acontecendo?
— O Raishin Akabane veio ver você.
Yaya saltou e ficou de pé. No entanto, antes mesmo dela dar um único passo, Alice agarrou firmemente o ombro da Yaya, impedindo-a. Ela era notavelmente forte, possuindo uma força que parecia incompatível com o seu sexo.
— Você supostamente o abandonou. Onde pensa que está indo?
— Obviamente, a Yaya está indo para onde o Raishin está…
— E depois disso?
— Bem…
— Bom, eu não me importo em deixar você ir vê-lo.
— Sério?
— Mas apenas se você tiver a confiança necessária para dizer adeus a ele com suas próprias palavras.
Yaya ficou paralisada, como se tivesse sido atingida por um raio.
Lágrimas começaram a escorrer por seu rosto.
Isso… Isso era verdade. Ela tinha decidido se afastar dele. Esse afastamento era completamente pelo bem do Raishin, para começar…
— Não chore. Pense em toda felicidade que está prestes a surgir em seu caminho.
Alice falou suavemente, como se estivesse tentando acalmar uma criança.
— Talvez ter dito a você que o Raishin estava vindo tenha sido um pouco cruel demais? Mas é bom que você saiba disso, eu tenho fé em você. Sua força é magnífica— mesmo os autômatos de países inimigos não podem restringi-la.
— …Eu sinto muito.
— Se ele te disser para voltar com ele, sua determinação poderá ser abalada. Na verdade, você poderia até mesmo sucumbir e voltar com ele. Entretanto, você sabe que se fizer isso a desgraça voltará a cair sobre sua cabeça.
Yaya escondeu o rosto entre as mãos, continuando a soluçar.
— Você não precisa se preocupar, não temos nenhuma intenção de infligir mais danos a ele. A razão para tudo isso— é que o Raishin trouxe a boneca da neve com ele.
Sua voz era gentil— mas suas palavras eram tão pontiagudas quanto agulhas.
A expressão no rosto de Yaya desapareceu. Alice sorriu com doçura, provocando ainda mais.
— Se ele tivesse trazido você. Não teríamos escolha além de eliminá-lo, porque você é fraca. No entanto, uma vez que a boneca da neve está com ele agora, não podemos nos dar ao luxo de tentar fazer isso.
— …
— Eu sei o que ele quer. Ele vai nos pedir para devolvermos você.
— ….!
— É isso mesmo, ele está invadindo uma base inimiga apenas para recuperar você. Não acha que assim ele está novamente colocando a própria vida em perigo por sua causa?
Estou colocando a vida do Raishin em risco outra vez…
Yaya sufocou outro soluço, antes de perguntar a Alice com uma voz trêmula.
— Raishin… O que você está planejando fazer com o Raishin?
— Nada de ruim. Pessoalmente, eu gostaria que, se possível, ele se tornasse nosso aliado. Ao menos é assim que eu penso.
— A-Aliado…?
— Exatamente. Se isso acontecer, você seria capaz de ficar com ele mais uma vez, certo?
As pupilas de Yaya ampliaram-se visivelmente.
— Juntos… juntos… nós poderíamos ficar… juntos…
Yaya parecia ter travado nessa parte, repetindo as mesmas palavras de novo e de novo.
Alice puxou Yaya para perto e a abraçou, suavemente sussurrando seu golpe final.
— Uma vez que ele usar a boneca da neve para derrotar o Magnus, você será capaz de ficar ao lado dele e nós iríamos obter o trono do Wiseman. Todos ficarão felizes assim, certo?
— Todos…?
— Exatamente. Por esta razão— você pode suportar isso, não pode, Yaya?
A expressão de Yaya desapareceu até que ela ficasse completamente pálida, muito parecida com uma boneca, ao mesmo tempo em que ela assentia com a cabeça.
Alice saiu do quarto de Yaya e, esperando por ela do lado de fora, no corredor, Shin estava com uma cara pensativa.
Alice seguiu em frente com indiferença. Uma ferramenta mágica iluminou o corredor, revelando que ele estava impecavelmente limpo. De pé na diagonal a esquerda de suas costas, Shin seguia silenciosamente a sua Senhora.
— Você tem algo a dizer, Shin?
— O espírito da minha Senhora pode ser tão deformado quanto as torções do intestino, mas manter o controle da boneca da lua apenas com palavras… é perigoso.
— Eu não posso dizer que aprovo aqueles que me espionam.
— Protestar contra a imprudência de sua Senhora também é o dever de um mordomo.
— Você tem alguma coragem para chamar isso de imprudência. Um gênio como eu a tem completamente aprisionada.
— O fedor de sua esmagadora autoconfiança é muito repugnante como sempre, mas você realmente está pensando em colocar a pátria em perigo apenas por causa de sua arrogância miserável e do seu hedonismo deplorável?
— Tudo bem, Shin. Eu vou fazer você chorar mais tarde.
— Eu sinto uma grande vontade de chorar neste exato momento.
— Ora, ora. Primeiro o Rosenberg e agora você? Todos vocês são muito covardes.
— A minha Senhora é que está sendo corajosa demais. Temo que isso possa terminar com ovos sendo atirados ao seu rosto.
— Essa é uma forma muito educada de dizer que vou parecer uma idiota. Não há necessidade de você se preocupar. Eu tenho a boneca da lua completamente sob meu controle— corpo, coração e alma.
— Mesmo assim, eu sinto que seria prudente usar algum tipo de restrição física. Esse quarto pode ser protegido contra energia mágica, mas ele pode ser destruído por dentro.
— Restrições físicas? Isso que eu estou detectando é covardia, Mark 4?
Alice virou-se para olhar para ele. Frieza e desprezo podiam ser vistos em seus olhos.
— Pense na batalha anterior. Você conseguiu fazer o Raishin e a T-Rex recuarem de uma só vez. Além disso, agora eu estou controlando você, não estou? Não existe nenhuma maneira lógica de nós perdermos.
— Porém, nós também precisamos dividir nossas forças do nosso lado. Acima disso, o objetivo da minha Senhora é…
— Oh? Você parece bastante descontente. É sobre aquilo de trazer o Raishin para o nosso lado?
— Sim. Eu posso ser hábil em ser o mordomo da Família Bernstein, mas se eu tivesse que apontar um defeito, eu diria que sou extremamente religioso. Ainda esta manhã, eu tive um sonho com minha falecida mãe.
— Profundamente religioso… Essa pode ser a melhor piada que escuto você contar há um bom tempo.
— Por favor, reconsidere. Raishin Akabane é um indivíduo perigoso.
Alice, de repente, parou.
Virando-se, ela levou sua mão, carregada de energia mágica, em direção ao rosto do Shin.
A metade superior do corpo do Shin tremeu violentamente e um hematoma vermelho formou-se em sua bochecha. Alice tinha exercido o controle forçado sobre Shin, usando sua energia mágica para impedi-lo de resistir, forçando-o a receber todo o impacto do tapa.
— Eu sou uma pessoa gananciosa, Shin. Eu quero tudo… para então poder destruir tudo.
Ela beliscou a bochecha do Shin como se quisesse arrancá-la. A pele recobrindo a bochecha dele começou a se soltar e gotas vermelhas de sangue começaram a escorrer.
Alice empurrou Shin para longe.
— Agora, vá. Traga-o para o salão.
— …Como quiser.
Com o sangue ainda escorrendo por seu rosto, Shin reverentemente curvou-se em respeito.
Deslizando pelo ar, ele voou para o fim do corredor.
Observando-o desaparecer, Alice sorriu alegremente.
Ela sorriu durante algum tempo.
Enquanto continuava a rir, ela se afastou. Seus passos eram elegantes, mas, de algum modo, havia um toque de tristeza neles.
Parte 4
Olhando de um lado para o outro entre as duas garotas, Charl murmurou suavemente depois de respirar.
— Aquelas são as gêmeas Weizsäcker. Elas são um par de estudantes irritantes, frívolas e que nunca se separam— mas elas são fortes. Em todas as simulações de batalhas em dupla realizadas na Academia, elas sempre ficam em primeiro entre as duplas das turmas do Terceiro Ano.
— Terceiro Ano… Elas são nossas… senpais?
Por reflexo, ele lançou um olhar penetrante na direção delas.
Seus corpos, seus gestos, suas expressões— não importava como Raishin olhasse para elas, ele concluía que elas tinham que ser, no mínimo, cinco anos mais novas que ele.
— Ah! Ele está duvidando de nós! Ele está pensando que somos apenas crianças!
— Sim, ele está! Ele está pensando que somos apenas engraçadinhas!
— Talvez nós devêssemos mostrar a ele os nossos encantos femininos?
— Sim, sim, vamos mostrar a ele!
As gêmeas deram um high five, antes de subitamente levantarem suas blusas.
Charl foi pega de surpresa. Agitando os braços, ela desesperadamente bloqueou o campo de visão do Raishin.
— O-O-O que você está fazendo!? Não olhe, seu pervertido! Agressor sexual!
— Por que você está me chamando de pervertido!? Não me trate como se eu fosse um criminoso sexual!
As gêmeas deram uma risada despreocupada, colocando suas blusas de volta.
— Então? Muito femininas, certo?
— Cheias de apelo sexual, certo, certo?
— Bom, eles certamente são maiores que os da Charl….
No meio de sua frase, Raishin foi jogado pelo ar, caindo na piscina.
Olhando para trás, ele viu Charl prestes a dizer alguma coisa. As bordas de seus olhos estavam cheias de lágrimas e mesmo que elas não estivessem sendo congeladas, os olhos de Charl tinham uma incrível frieza dentro deles.
Raishin subiu cambaleando de volta para terra firme, voltando a ficar frente a frente com as gêmeas, que ainda estavam sorrindo alegremente.
Como ele pensava, elas eram apenas crianças. Acima disso—
Uma vez que seus sentidos haviam sido forçados anteriormente, ele tentou, sem sucesso, detectar qualquer traço de hostilidade nelas. Sigmund também parecia ter notado isso. Ele estava observando as gêmeas intensamente, com um olhar prudente no rosto.
— A propósito, vocês duas… vocês realmente gostam de matar?
As gêmeas ficaram perplexas com a pergunta repentina e olharam uma para a outra.
— Você gosta de dissecar sapos? Será que a visão de sangue anima você? Você tem interesse em arrancar globos oculares, cortar intestinos, serrar ossos—
Enquanto Raishin falava, as gêmeas visivelmente ficavam pálidas, começando a tremerem de medo.
— As pessoas ja-ja-japonesas parecem bárbaras.
— Sim, ba-ba-bárbaras. E brutais.
Elas olharam para Raishin como se ele fosse uma espécie de monstro. Raishin sentiu-se decepcionado.
Ele pensou que, sob sua fachada inocente, elas seriam frias máquinas de matar.
Se elas realmente eram garotas puras… talvez ele pudesse falar com elas?
— Ei, onde está a Yaya? Eu não quero lutar contra vocês duas. Apenas me digam onde ela está.
— …Dizer isso a você é um não-não, tudo bem?
— Sim, sim, não podemos dizer. Ou então o Rosenberg vai ficar bravo com a gente!
As gêmeas se viraram simultaneamente para o Raishin.
— Não vamos dizer!
— Não vamos dizer!
Raishin coçou a cabeça e, em seguida, pegou o esboço que Frey tinha dado a ele, o qual estava agora, infelizmente, encharcado.
— Aqui é… a sala mais interna?
— Não vamos dizer!
— Não vamos dizer!
— Nesse caso, aqui é— esta sala pequena aqui, que parece estar conectada a algum tipo de corredor. É isso?
— Na-na-não vamos dizer!
— Na-na-não vamos dizer!
A reação delas era ridiculamente fácil de ler.
— Obrigado. Vocês me salvaram de uma tonelada de preocupações. Vamos nos apressar, Irori—
— Você não pode—!
— Você não pode—!
As gêmeas, em pânico, correram para se colocarem a frente de Raishin. Os dois Cavaleiros empunhando lanças moviam-se em esplêndida sincronia, cruzando suas lanças para impedirem a passagem de Raishin e sua parceira.
— Não significa não!
— É verdade, você não pode!
Por alguma razão, as gêmeas pareciam estar à beira das lágrimas.
Sendo tão loucas como elas eram, Raishin sentiu que empurrá-las a força para fora do caminho seria embaraçoso.
— Nós não podemos chegar a algum tipo de acordo…?
— Você é um grande idiota. A solução não é simples? Nós apenas precisamos eliminá-las se insistirem em ficar no nosso caminho.
Charl falou friamente. Havia um olhar perigoso em seu rosto.
Ela começou a concentrar uma grande quantidade de energia mágica. Sigmund abriu a boca e um flash de luz foi disparado de sua garganta.
— Ah, ei, espere um pouco!
— Se vocês querem amaldiçoar alguma coisa, amaldiçoem seus próprios peitos! Canhão Lustre!
Um feixe luminoso irrompeu da mandíbula do dragão. Era como um canhão explosivo feito de luz. Seu poder destrutivo era temível o bastante, capaz de aniquilar tudo em seu caminho, e agora ele ia em direção as gêmeas e seus Cavaleiros.
No entanto, os Cavaleiros permaneceram de pé, posicionados com suas lanças cruzadas, sem mostrar nenhuma preocupação em se esquivarem. O Canhão Lustre estava prestes a engoli-los por completo— mas, logo antes disso, ele fez uma meia volta.
O feixe foi refletido de volta para eles. Passando muito perto de Charl, ele queimou a ponta de sua boina.
Essa passou por muito perto. Se a direção do feixe fosse alterada mesmo que ligeiramente, Charl teria deixado de existir neste mundo.
— Elas… refletiram…!?
Os olhos de Raishin arregalaram-se devido a surpresa. Qual era o significado disso? Mesmo o Shin não tinha esse tipo de habilidade. Seria possível que os autômatos delas não fossem do mesmo modelo que o Shin…!?
— A T-Rex parece chocada!
— Ela parece, ela parece! Aposto que ela molhou as calças!
— O-O-O-O que é isso de molhar as calças!? Não digam coisas estranhas!
— Calma, Charl! Você não está fazendo sentido aqui!
Raishin rapidamente a interrompeu e Charl, emburrada, fechou a boca.
Essas duas, mal acumularam energia mágica mais cedo…
Sem qualquer concentração e sem qualquer comando visível, elas tinham, de alguma forma, conseguido ficar em completa sincronia uma com a outra, controlando os dois autômatos e ativando uma arte mágica forte o bastante para refletir a explosão do Canhão Lustre.
— Essas duas podem ter personalidades idiotas, mas definitivamente são excelentes marionetistas. Além disso, é óbvio que esta é uma péssima situação de batalha para você. Devemos recuar por hora e formularmos um plano.
— Não seja ridículo. Eu sou Charlotte, da Casa Belew. Você acha que eu vou simplesmente lamber minhas feridas e me retirar do campo de batalha quando estou sendo desprezada?
A expressão de Charl ainda tinha alguma segurança. Talvez ela tivesse algum tipo de plano?
— Você segue em frente. Eu vou ficar aqui e pará-las.
— Hum!? Sua idiota! Preste atenção na situação! Tem duas delas! Como você pretende enfrentá-las sozinha—
— Idiota!? Você me chamou de idiota!? Quem chama os outros de idiota é o verdadeiro idiota!
— A Charl está certa, Raishin.
Sigmund falou com uma voz calma.
— É você que deveria observar melhor a situação. Se demorarmos aqui, eles terão mais tempo para fugirem com a Yaya. Além disso— agora você não é nada além de um obstáculo.
Raishin rangeu os dentes. Tão vergonhoso quanto poderia ser, Sigmund estava absolutamente correto.
— Você não tem com o que se preocupar. A constante angústia e a necessidade de ser resgatada que ela sempre mostra quando está na sua frente não passam de atuação.
— Quem você está acusando de ficar atuando por aí!?
— Ela é uma marionetista muito mais esplêndida do que você acredita que ela seja. O rótulo de Round não é apenas para se mostrar.
Raishin estava em conflito. Era verdade que ele queria alcançar a Yaya tão depressa quanto possível. Além disso, agora que eles tinham invadido, se possível ele não queria dar ainda mais tempo para que eles se preparassem.
— …Entendido. Eu vou deixar elas com você. Vamos indo, Irori.
Raishin estendeu a mão para seu cinto, pegando um recipiente circular de uma bolsa presa a ele.
Puxando o pino, ele atirou o recipiente a seus pés.
A pólvora estava um pouco úmida, mas, mesmo assim, ele conseguiu acender sem maiores problemas. Densas nuvens de fumaça preta surgiram, rapidamente bloqueando a visão de todos no campo. Escorregando para dentro da cortina de fumaça, Raishin saiu correndo.
— Eh, o que aconteceu!?
— O que, o que!?
Ignorando as gêmeas confusas, ele conseguiu passar pelas duas.
Fique segura, Charl.
Oferecendo uma oração silenciosa, Raishin deixou a piscina para trás.
Parte 5
Cortando o mato a frente, Cherubim seguia avançando.
Atrás dele estavam Loki, Frey e seus cinco cães.
Após continuarem adiante por algum tempo, o bosque subitamente se abriu, tornando claro o campo de visão de todos.
Diante deles havia uma área semicircular, que os fez pensar em um daqueles antigos anfiteatros.
No entanto, não havia nenhuma chance de que aquilo fosse um anfiteatro… então talvez fosse uma área que costumava ser usada como campo de testes para artes mágicas?
— Parece que a entrada é ali.
Loki olhou para a área que ficava no centro do palco do anfiteatro, onde havia um buraco.
Subitamente virando-se, Loki saiu de entre as árvores.
— Nós vamos interceptá-los. Espalhe os cães. Vamos manter nossa posição aqui mesmo.
— Uu… Não vamos entrar?
— Eu não vou lutar às cegas. Tanto para você quanto para mim é mais vantajoso lutar ao ar livre.
— Mas… E se eles não saírem?
— Eles definitivamente vão sair.
Loki afirmou com firmeza. Frey inclinou a cabeça para o lado, incapaz de acompanhar a lógica dele.
— Use sua cabeça. Uma vez que voltarmos a nos encontrar com os outros, nossa força de batalha irá aumentar exponencialmente. Agora, enquanto a T-Rex e o Imperador da Espada estão separados, é o melhor momento para eles atacarem.
Frey assentiu em entendimento. A expressão de Loki se anuviou.
— Se eu estivesse no lugar deles, então o mais perigoso deles seria o Shin… e ele estaria esperando por Raishin no centro de sua sede, o que quer dizer que é o Rosenberg que virá até aqui. Além disso, o Cherubim não pode cortar o autômato dele.
Subitamente notando a expressão obscura no rosto de Loki, Frey foi surpreendida.
— Agora, se você finalmente já entendeu, disperse seus cães. Temos que emboscá-los entre essas árvores.
Enquanto Loki dizia a ela o que fazer, Frey instruía os tipos Garm a tomar suas posições. Eles formaram um semicírculo, cercando o anfiteatro.
Supondo até mesmo que o inimigo ficasse surpreso por ter sua retaguarda sendo atacada e fugisse do anfiteatro, em última análise eles ainda estariam concentrados na linha de fogo. Balas sônicas não tinham muito efeito, porém sobrepujar o inimigo com inúmeras balas garantiria que algumas, eventualmente, causassem danos. Tudo isso havia sido provado antes, durante a luta entre Raishin e Shin.
Uma estratégia condizente com o intelecto do Loki. Assim que a tensão começou a afetar os ombros da Frey,
— Guh… Wooooooaaaahhh!
As costas de Loki subitamente se abriram e sangue começou a jorrar de sua ferida.
— Droga… Em um momento como este…!?
Loki freneticamente agarrou seu peito esquerdo.
Frey soube instintivamente o que havia acontecido. O coração dele estava fora de controle!
A própria Frey já tinha sofrido tal experiência traumática anteriormente. Uma vez que o limitador fosse retirado, o sangue, a carne e os órgãos internos seriam todos convertidos em força, proporcionando uma quantia quase ilimitada de energia mágica para uso do autômato.
Agora que eu paro para pensar nisso…!
Mais cedo naquela tarde, ela tinha visto a ferida nas costas de Loki logo após o ataque do Schneider.
Aquela não era apenas uma ferida fresca— talvez o coração dele já tivesse começado a agir assim desde aquele momento!
Loki soltou um grito angustiado, caindo sobre os joelhos.
O sangue continuava a jorrar dele. Frey não pôde suportar aquela visão por mais tempo e tomou uma decisão.
— Loki… Eu sinto muito sobre isso!
Ela soprou seu apito, convocando os tipos Garm de volta.
Canalizando sua energia mágica para eles, os tipos Garm começaram a uivar. Seu uivo estava carregado de energia mágica, distorcendo a atmosfera. Uma onda de ar eventualmente foi atirada e, ao mesmo tempo, Loki começou a ter espasmos.
Ele estendeu a mão para cima— e então caiu no chão.
Tendo seus tímpanos diretamente atacados, isso desestabilizou o cérebro de Loki, fazendo-o desmaiar. O coração de Loki finalmente se acalmou. Sua energia mágica parou de vazar e seus batimentos cardíacos também diminuíram.
Aliviada, Frey delicada e carinhosamente acariciou as costas de Loki.
Seus tendões ainda não haviam se curado completamente. As várias feridas de lâminas infligidas por seu padrasto, Bronson, ainda estavam ali. Todas essas feridas foram resultado dos esforços de Loki para proteger os tipos Garm e sua irmã.
— Obrigada, Loki…
Subitamente, as orelhas de todos os cães ergueram-se.
No pior momento possível, os passos de alguém puderam ser ouvidos vindos da saída.
— Uu… Cherubim!
Frey virou-se para Cherubim, um olhar suplicante encontrava-se em seu rosto.
Cherubim não respondeu, permanecendo olhando fixamente para seu mestre, que ainda estava deitado no chão.
Sua capacidade operacional tinha sido consideravelmente reduzida. Como ele era construído de materiais inorgânicos— o que quer dizer que não era uma Bandoll— o fato de seu mestre ter perdido a consciência significava também que Cherubim não seria capaz de batalhar. Além disso, Frey não tinha ideia se seria capaz de sequer alcançar a marionete, para começar.
Entretanto, ela não desistiu.
— Cherubim. Estou deixando o Loki para você… Por favor, proteja-o!
As luzes que representavam seus olhos moveram-se lentamente, parando na direção da Frey.
[Hum… Sim… Sim, estou pronto.]
Parecia que ele havia entendido o que ela dissera.
Frey ficou aliviada por um momento e, em seguida, se recompôs.
Correndo para fora do bosque, ela se dirigiu para o anfiteatro, mesmo sem possuir um plano.
Eventualmente, dois estudantes, com seus Cavaleiros logo atrás, apareceram pela saída.
O que estava na frente atirou algo para o ar. Disparando para cima como uma arma, aquilo ficou parado no ar e começou a iluminar toda a área circundante. Provavelmente era um holofote ou alguma ferramenta mágica que exalava um efeito luminescente similar. Embora isso expusesse completamente a posição da Frey, por outro lado isso significava que os dois estudantes também poderiam ser facilmente identificáveis.
O cabelo loiro cor de mel pertencia ao Rosenberg e o cabelo vermelho flamejante era do Schneider.
Atrás deles haviam um pequeno e esbelto Cavaleiro segurando um enorme escudo de corpo e um Cavaleiro alto e magro que segurava uma grande Claymore.
Rosenberg voltou seu olhar na direção de Frey.
— Eu não vejo o Imperador da Espada por aqui.
— Ele provavelmente está escondido em algum lugar nos arredores.
Vigilante, Schneider analisou os arredores. Rosenberg virou a cabeça para encará-lo.
— Nay— A presença dele eu não sinto. Portanto, eu agora farei uma pergunta a ti, Rugido Silencioso.
No instante em que ele voltou seu olhar para Frey, todos os pelos do corpo dela se eriçaram.
— Mesmo tão descuidada quanto tua arte possa eventualmente ser, certamente tu não tens a intenção de nos enfrentar sozinha, correto?
Os joelhos dela tremiam incontrolavelmente. Suas pernas pareciam que iriam ceder a qualquer momento. Reunindo toda a sua força de vontade, Frey gritou,
— Pessoal!
Os tipos Garm uivaram em resposta, disparando cinco tiros de ar.
As ondas sonoras geradas foram reunidas pela energia mágica, densamente compactadas e rotacionadas. As balas sonoras tinham o poder destrutivo de uma broca enquanto se dirigiam velozmente em direção ao inimigo.
As explosões dos cinco cães ressoavam umas com as outras, unindo-se e focando o poder em um único tiro que colidiu com o inimigo.
A explosão foi comparável a um tiro de uma arma principal de um navio de guerra. A onda de choque gerada rasgou o chão do anfiteatro, atirando uma grande quantidade de areia para o ar. A explosão atingiu, fazendo com que uma grande nuvem de poeira pairasse no ar, no entanto, assim que a poeira baixou—
Parado lá estava o pequeno Cavaleiro com seu grande escudo de corpo em mãos.
Ele estava absolutamente ileso. Não havia uma única mancha ou amassado sobre o escudo!
Rosenberg olhou para Frey, falando com um tom gélido.
— Posso tomar isto como uma declaração de guerra?
O sangue foi drenado de seu rosto. Assim que ela começou a procurar por uma rota de fuga, ela percebeu algo.
Schneider estava de pé atrás de Rosenberg, mas ao lado de Schneider— não havia ninguém!
No instante seguinte, uma Claymore foi brandida para baixo, na direção das costas indefesas de Frey.
Parte 6
Cada vez mais fundo, ele foi decididamente indo em direção ao coração do edifício.
Raishin percorreu os túneis do labirinto, guiado pelo mapa que ele estava segurando em suas mãos.
Em algum ponto, a luminosidade nas imediações aumentara, fazendo com que a lanterna passasse a ser desnecessária.
Yaya… Espere por mim, Yaya!
Ele estava prestes a alcançar seu objetivo, um daqueles quartos.
— Você tem estado muito silenciosa. Qual é o problema, Irori?
Enquanto corria adiante, ele gritou para a pessoa atrás dele. No entanto, não houve resposta. Sua parceira temporária apenas olhou para ele com uma expressão inquieta em seu rosto.
Raishi compreendia perfeitamente a razão pela qual ela estava se sentindo assim no momento.
Raishin pegou o mapa que estava segurando e o apertou com ainda mais força entre suas mãos pálidas.
— Se a hora da verdade chegar, você deve escapar.
— …Eh?
— Se for apenas você, tenho certeza que poderia escapar com facilidade. Depois que eu transmitir minha energia mágica para você, use sua arte mágica e vá direto para a saída. Se você ficar séria, eles não vão ter a menor chance de capturar você… Cuidado!
Raishin subitamente a agarrou e saltou para o lado.
Próximo ao lugar em que Raishin tinha estado apenas um momento atrás, uma súbita rajada de vento soprou.
Obviamente, não era uma simples rajada de vento. Havia alguém junto com o vento.
Era alguém que tinha o comportamento de um mordomo. Com óculos escuros e cabelo penteado para trás, ele tinha uma aparência graciosa, mas, ao mesmo tempo, ele transmitia um ar de tubarão feroz. Obviamente, ele só poderia ser—
— Yo, Shin. Você não acha que deveria olhar melhor para onde está indo?
— Minhas desculpas. Eu não podia ver a sua figura, por isso o meu senso de distância acabou sendo um pouco equivocado.
— Seu mentiroso. A arte mágica da Komurasaki deve ter sido liberada há muito tempo. Você deveria ser capaz de nos ver tão claramente quanto um cristal.
— Acredito que isso seja verdade, considerando que eu posso vê-lo enquanto conversamos.
Não havia nem mesmo a menor sugestão de sorriso em seu rosto enquanto ele respondia categoricamente. Raishin estava tão indignado que deixou a raiva escapara e acabou rindo ironicamente.
Shin encarou Raishin e a garota atrás dele, falando em tom de réplica.
— Eu temo que não possa elogiar sua entrada ilegal nestas instalações, Senhor Akabane. Embora este seja um prédio escolar, atualmente esta área está fora dos limites para os estudantes. Além disso—
— Essa é a base dos Kreuzritter, certo?
— Exatamente. Mesmo animais selvagens sabem como respeitar o território alheio.
— Culpa minha. Mas a porta não estava trancada, então eu acabei entrando.
Raishin disparou de volta com sua própria resposta, antes de voltar a olhar para Shin.
— Onde está aquela linda Senhorita que está sempre com você?
— Eu me pergunto… Onde mesmo ela está?
— Pare de fazer pose. Se a Irori fosse lutar contra você agora, não existiria a menor chance de você conseguir alguma oportunidade para se vingar. Sem sua marionetista para ajudá-lo, você não tem chances de vencer.
— Isso está perfeitamente claro para mim. Entretanto, eu lhe direi isso. ‘Se eu for destruído, a boneca da lua também seria destruída’.
— Que clichê. Faz eu querer vomitar.
— Esse tipo de ameaça é a mais eficiente contra pessoas como você. Isso é algo que a minha Senhora, cujo caráter é completamente depravado, sabe muito bem.
Era verdade. Com tal ameaça o rondando, não havia nada que Raishin pudesse fazer agora.
Enquanto Raishin hesitava, Shin deu de ombros.
— De qualquer modo, você não tem o luxo da escolha. Se tivéssemos que lutar agora, a vitória seria minha.
— Essa que você tem aí é uma grande confiança, considerando o que aconteceu na última vez.
— Eu já enxerguei o seu trunfo e, além disso, aquela última batalha—
— Você não estava lutando para valer, é isso que você pretende dizer?
— É como você diz.
Shin falou sem hesitação. Parecia que ele estava dizendo a verdade. Ele tinha se segurado durante seu último encontro.
Se fosse esse o caso… para começar, por que ser derrotado? Havia alguma razão para que ele perdesse?
— Seja como for, você não tem nada com o que se preocupar no momento. A boneca atrás de você pode optar por fugir. Eu prometo que não irei persegui-la.
— …Diga-me uma coisa.
— O que é?
— A Yaya está bem?
— Sim. Nós temos a tratado com a melhor hospitalidade possível.
— Você não a conteve usando força bruta, não é?
— Não. Nós temos a deixado completamente à vontade.
— O quê?
Raishin não podia acreditar em seus próprios ouvidos. Sendo assim, ele não podia acreditar que o que Shin havia dito era mesmo verdade.
A Yaya realmente… não estava sendo reprimida?
Se for assim, então por que ela não estava tentando escapar?
…Espere, pode haver alguma verdade nisso.
Durante a tarde, quando ele tinha a encontrado no meio do bosque, a Yaya não havia sido restringida ou capturada contra sua própria vontade.
— Oh, cara. Que tipo de magia vocês usaram para seduzir o coração da Yaya dessa forma?
— Essa é uma pergunta que você deveria estar fazendo a si mesmo, não?
— ….
— A razão de tudo isso não é a sua incapacidade para controlá-la de forma eficaz?
Naquele momento, Raishin entendeu.
Entendo… Então era isso.
Com as palavras de Shin, ele entendeu. Ele agora era capaz de juntar mais ou menos a série de eventos que haviam acontecido.
Ele sabia porque Yaya tinha ido até eles.
E porque ela não havia retornado.
Porque o Shin tinha perdido especificamente para a Irori. Em outras palavras—
Raishin deixou escapar um profundo suspiro e, em seguida, começou a rir ironicamente.
— Sua Senhora realmente é… o caráter dela é mesmo deturpado, mas vou admitir isso. Ela é uma dama incrível.
— Isso é sarcasmo?
— Não, eu estou sendo honesto. Ser capaz de manipular a Yaya— ser capaz de manipular as pessoas da forma como ela faz.
Era o oposto da situação com a Charl. Desta vez, ela não estava usando um refém, mas sim tinha aberto um buraco no coração da própria Yaya.
— A Yaya não foi tomada à força de mim. Ela saiu por vontade própria. Então você fingiu perder para a Irori de propósito, para poder manipular ainda mais o coração dela. Portanto, em outras palavras…
Fervendo de raiva que já não tinha mais para onde escoar, Raishin olhou para Shin.
— Ao mostrar o quão impotente ela era, vocês inseriram nela o pensamento de que a Irori era uma parceira mais adequada para mim.
Em todas as suas batalhas até agora, Raishin sempre lutou enquanto estava ferido de várias formas.
Isso era algo com que a Yaya estava preocupada. Era algo pelo que ela sempre se culpava e sempre se desculpava com o Raishin. Mesmo que a Yaya sempre estivesse ao seu lado e apesar dela estar ao lado dele, Raishin sempre acabava sendo ferido.
Minha fraqueza é a causa de tudo isso.
Yaya… Eu sinto muito…!
Raishin respirou fundo e então, resolutamente ergueu a cabeça.
— Irori, volte.
Ele podia ouvir a respiração agitada atrás dele.
— A Shouko vai me matar se eu perder duas das Setsugetsuka. Volte para a superfície enquanto eles estão dispostos a deixar você escapar.
— …Mas!
— Volte. Obrigado por me acompanhar até tão longe.
Ela olhou atentamente para Raishin, com um olhar insuportavelmente triste no rosto. Depois disso, ela forçosamente se virou, correndo pelo túnel do qual tinham vindo.
Shin não a perseguiu, permanecendo de olho em Raishin em vez disso. Era como se ele estivesse o avaliando. Ele então ofereceu uma mão ao Raishin.
— Neste caso, vamos indo. Senhor Akabane, se puder.
— Certo.
Segurando o braço de Raishin, Shin suavemente deslizou pelo ar. Ele começou a voar com uma estabilidade notável. Embora os estreitos corredores tivessem várias curvas de noventa graus, Raishin não era afetado de forma alguma pela inércia.
Eventualmente, Shin pousou em um salão.
— Sinta-se em casa, Senhor Akabane. Eu agora irei preparar o chá.
Soltando Raishin violentamente, Shin falou com um tom seco.
Raishin caiu sobre o concreto, dando uma cambalhota completa antes de se levantar. Enquanto tossia, ele suportou a dor aguda em suas costelas, dando uma olhada ao redor de onde estava.
Ele estava em um grande salão. O teto era muito alto. O lugar tinha que ter, no mínimo, três andares de altura.
Cortinas escarlates estavam penduradas nas paredes e também uma bandeira com um leão no centro.
E então, bem no meio do salão.
— …Bom, isso foi fácil. Eu pensei que fosse ter que passar por inúmeras armadilhas, mas eu nunca pensei que eles fossem me trazer diretamente até ela.
Havia uma mesa redonda de madeira e uma garota sentada lá.
Raishin provisoriamente deu alguns passos em direção a ela. Ela não pareceu se importar, então ele foi ainda mais para o meio do salão.
Raishin agora estava sozinho com ela, embora isso tivesse sido um pouco fácil demais.
Raishin olhou para a mesa redonda e, em seguida, virou-se para a garota de cabelo preto, antes de suspirar.
— …Eu estive procurando por você.
Aqueles grandes olhos estavam preenchidos por uma imensa dor, como se o fim do mundo tivesse acabado de chegar.
A imagem de Raishin estava sendo refletida naqueles olhos negros enquanto a garota olhava para ele com tristeza—
Era a Yaya.