Capítulo 4: Quando as coisas mudam, elas mudam
Tradução: Reiki Project
Aproximadamente dois meses se passaram desde que Raishin passou a morar de graça na residência de Shouko.
O verão tinha acabado de começar, e o tempo ainda estava ameno. As árvores do jardim estavam frescas e as folhas verdes exalavam uma vitalidade vibrante.
O corpo de Raishin estava completamente recuperado. Ele corria e saltava sem desconforto e podia se submeter a um treinamento absurdo, mas apenas por pouco tempo. Ele ainda estava exposto a ataques noturnos, como de costume, mas como havia se acostumado com isso, se ferir era coisa do passado.
No início da tarde, quando o sol ardia intensamente. Raishin fez uma boneca de madeira realizar uma demonstração de artes marciais, uma postura de mãos vazias. Ele passou por maus bocados para fazê-la andar há dois meses, mas agora isso era algo muito fácil.
Enquanto Raishin ficava coberto de suor, esforçando-se intensamente,
— Raishin-dono, minha mestra chama por você.
Irori apareceu na varanda e chamou Raishin.
— A Shouko-san? Por quê?
— Por favor, pergunte diretamente a mestra Shouko. Você também, Yaya.
Raishin ficou surpreso e se virou no jardim. Ele pensou que estivesse sozinho ali, mas a copa de uma das árvores se moveu e Yaya desceu de um dos galhos.
Ao que parece, ela havia apagado sua presença para poder observá-lo.
Ninguém disse mais nada. Irori guiou Raishin para o interior da casa em silêncio.
Shouko estava em uma sala voltada para o norte. Ela estava sentada na varanda, com os pés em um balde. Ela aproveitava a brisa fria gerada por um mecanismo semelhante a um moinho, mas não parecia nada composta.
Quando ela notou a presença deles, Shouko olhou na direção de Irori e,
— Água…
Ela implorou.
— Por favor controle-se, mestra. Você vai acabar pegando um resfriado.
Shouko suspirou, parecendo arrependida, mas desistiu e virou-se para Raishin.
— Jovem, posso pedir que você seja meu mensageiro?
— Mensageiro? Onde?
— No quartel em Sjizuoka, além de Hakone. A Yaya conhece o lugar.
— Então eu vou ter que levar ela junto…?
Ele roubou um olhar na direção de Yaya, que estava ao seu lado, e ficou abatido. Yaya contra-atacou,
— A Yaya também não gosta da ideia de ter que ir com você. Se a Yaya for a mensageira, então ela pode ir sozinha.
— Yaya!
Irori a repreendeu. Yaya ficou mal-humorada e mergulhou no silêncio.
Shouko riu um pouco e falou para encerrar a discussão.
— Vocês dois irão.
— …Entendido.
— …Sim.
Ambos aceitaram relutantemente ao mesmo tempo.
Shouko tirou uma carta lacrada de dentro de sua manga e a apresentou a Raishin.
— Por favor, entregue esta carta ao Tenente General Sakaki. Você irá entender muitas coisas quando o fizer.
— Tenente General? Por que uma pessoa importante dessas…?
Raishin ficava cada vez mais desanimado. Ele não era muito bom em conhecer pessoas assim tão importantes.
— Por favor, partam imediatamente. Porém não há problemas em não apressar sua jornada. Há uma fonte termal no caminho, então aproveitem seu tempo antes de cruzar a passagem.
— Hum? Ooh…
Raishin inclinou a cabeça. Se ele fosse de trem, com uma distância dessas ele certamente poderia ir e voltar antes que o dia acabasse— mas por que especificamente ela estava sugerindo uma parada em uma fonte termal para um banho?
Ele sentiu que aquilo não fazia sentido, mas decidiu acatar obedientemente a ordem de Shouko.
Raishin voltou para o seu quarto e terminou seus preparativos rapidamente.
Ele encontrou Yaya no portão e partiu.
Raishin tinha avançado cerca de vinte metros e já teve que parar de andar.
Yaya não havia saído do lugar, e ainda estava diante do portão.
— Ei, o que você está fazendo? Vai escurecer.
— …
— Ei, Yaya! Ao menos me responda!
— Por favor não pronuncie meu nome com tanta familiaridade. Você contamina meus ouvidos.
— O quê!? Você está me xingando!?
— Por que tenho que viajar com um homem assim…?
Ela murmurou, aparentemente incomodada do fundo de seu coração. Raishin estava no fim de sua paciência. Quem queria reclamar era ele próprio. Como ele estava agora, vingar sua irmã mais nova não passava de um sonho dentro de um sonho.
Eles se dirigiram até a estação mais próxima enquanto suspiravam repetidamente.
Eles desembarcaram em Kouzu e seguiram de carruagem até a pousada que ficava na cidade antes da passagem da montanha. “Por que eu preciso cruzar a passagem da montanha a pé?”, questionou Yaya, insatisfeita, mas ele a convenceu que tinham que fazer isso porque eram as instruções de Shouko.
O lado leste da passagem da montanha estava ficando escuro bem depressa. O cume, que estava contra o brilho forte do sol poente, passava uma sensação de opressão como se pesasse sobre as costas dos dois.
Era íngreme. Uma densa floresta se espalhava ao longo da rodovia, deixando para trás os traços da Era Meiji.
Raishin, que olhou para aquele terreno, ficou confuso por um momento.
— …Sua mandíbula está deslocada. Sua estupidez está à vista de todos.
Yaya se aproximou por trás dele e fez um comentário sarcástico.
— No meio da estrada… você realmente é um homem constrangedor.
— Ho. Então você me reconheceu como seu companheiro?
Ele sorriu e contra-atacou, e Yaya ficou sem palavras por um momento.
— …Se você disser algo estúpido assim novamente, talvez eu deva quebrar o seu pescoço?
Ela disse com olhos escuros. Apavorante. Raishin fugiu às pressas e entrou na estalagem próxima.
Ele declarou a Yaya para que ela pudesse ouvir— em vez dos funcionários da estalagem.
— Vamos ficar aqui por cerca de uma semana.
— …Você é um homem cansativo. Ainda é nosso primeiro dia e você já está afrouxando?
— A Shouko-san disse para aproveitarmos nosso tempo em uma fonte termal, não foi?
— Com o dinheiro da Shouko… que sem vergonha…
— Sem objeções?
— Entendido. Se ficarmos aqui por sete dias, então você vai querer rastejar para o meu quarto à noite pelo menos uma vez, não é?
— Como se eu quisesse morrer!
— A Yaya está sempre pronta, entendeu? Seu cadáver será atirado na passagem da montanha.
Aquilo não soou como uma piada. Raishin entrou em seu quarto guiado pela anfitriã enquanto tremia de medo.
Ele deu uma gorjeta, colocou a bagagem lá dentro e saiu da pousada sem jantar.
Ele rapidamente fez uma inspeção preliminar, elaborou um plano e voltou para a pousada quando já era tarde da noite.
No dia seguinte, e no dia seguinte a este, Raishin saiu quase o dia todo.
Às vezes ele voltava cheio de arranhões, e às vezes estava coberto de grama. Yaya, que havia descoberto que ele estava usando o dinheiro, estava suspeitando de como, porém, não o questionou diretamente. Ela fingiu— estar aproveitando e relaxando na fonte termal com um olhar desinteressando no rosto.
E no dia da partida.
Os dois, que haviam partido logo antes do meio dia, mostraram que eram bons de caminhada e subiram a encosta rapidamente.
Raishin parou um pouco antes do cume.
— …Por que você está tão devagar? Desse jeito não vamos passar pelo pico da montanha antes do fim do dia!
Yaya disse descontente. Raishin rapidamente começou a falar com ela.
— Yaya. Lute contra mim.
— Eh?
— Se eu vencer, você será minha boneca. E você irá me obedecer de agora em diante.
Essas palavras carregavam uma determinação absoluta. Raishin estava falando sério.
A menos que ele deixasse claro quem era o mestre, o relacionamento entre eles não mudaria.
Eles não podiam seguir em frente ou encontrar outro caminho.
Era por este motivo que ele iria resolver tudo agora. Mesmo se ele sofresse uma derrota definitiva.
Yaya ergueu os olhos para Raishin com uma expressão que mostrava que ela estava duvidando de sua sanidade.
— …Tem certeza? Embora você tenha dito que “não queria morrer”.
— Eu não tenho intenção de morrer.
— Humm…
A parte interna das sobrancelhas de Yaya se aproximaram.
— Uma luta contra a Yaya, e você acha que vai sair ileso?
— Sair ileso seria impossível. Mas eu não vou perder.
— …Interessante.
Seu belo rosto endureceu. Ao que parece, seu orgulho como Setsugekka havia sido ferido, e ela ficou irritada.
O poder mágico vazou por conta própria do corpo de Yaya e um ar fantasmagórico se ergueu de seus ombros. As árvores ao redor deles faziam barulho e os pássaros saíram voando.
Os viajantes que cruzavam a passagem da montanha também sentiram uma presença extraordinária e correram para longe.
— Você não tem tempo para saborear vagarosamente a força sobre-humana da Yaya, não é?
Assim que disse isso, ela atacou Raishin antes mesmo que ele pudesse se preparar.
Parte 2
Mordomo era um título que só fez sentido no quarto dia de Raishin como servo.
Griselda, que estranhamente havia levantado cedo naquela manhã, foi para a cidade. Raishin saltou o trabalho doméstico e chamou Komurasaki para o pátio [enquanto o demônio estava fora].
Enquanto Epsilon olhava para eles com grande interesse enquanto balançava sua espada, Raishin arrumou duas varas e uma faca um tanto grande no gramado.
— Raishin, o que é essa faca?
— Parece que os caçadores usam facas assim para cortar galhos e grama na floresta aqui perto. A sensação que eu tive quando tentei segurá-la foi bem parecida com a de uma espada curta. Ela pode ser muito útil se afiada corretamente.
— Eh…? Por acaso, Raishin… Estava pensando, posso treinar com você?
— Sim.
— Sério!? Obrigada!
Ela comemorou, parecendo feliz. Vendo aquele sorriso inocente, o peito de Raishin doeu.
Conceder o desejo de Komurasaki e transformá-la completamente em uma arma era mesmo uma coisa boa?
…Vou ignorar esse pensamento.
Raishin sorriu ironicamente e entregou uma das varas para Komurasaki.
— Eh? O que é isso?
— É fácil de entender. Eu afiei um pouco e aproximei o equilíbrio com o da faca.
A expressão de Komurasaki se turvou rapidamente, como se o sol fosse escondido por nuvens.
— …Será que o Raishin está me dizendo para usar uma arma?
— Komurasaki… o que há de errado desuu?
Epsilon, que notou a mudança de Komurasaki, mostrou uma expressão estranha.
Para aqueles que não a conheciam, a dor de Komurasaki poderia parecer insignificante. No entanto, Raishin compreendia o sentimento doloroso. Ele disse com um tom de voz gentil e de forma detalhada.
— Ouça, Komurasaki. Tanto a Yaya quanto a Irori possuem magia própria que podem usar como poder de ataque. Mas com sua magia, você não é capaz de derrubar um oponente, não é?
— Eu sei disso! Mas eu também sou uma Setsugekka!
— A forma como eu disse não foi a melhor, hein. Em quantos anos você pretende se tornar forte?
— Bom, isso seria… agora mesmo!
— Sério? Levará vários anos até que você aprenda o básico de técnicas de batalha para poder ser utilizável em um combate real. A lâmina irá reduzir esse tempo. Aprender a usar uma espada curta não é algo simples, mas você pode conseguir aprender em um ou dois meses.
Komurasaki baixou a cabeça. Ela parecia ainda não concordar com aquilo.
— Não pense tanto sobre isso. Nem todas as melhores bonecas lutam de mãos vazias. Na verdade— todo o esquadrão do Magnus usa armas.
E ele se gabava de seu terrível poder de ataque.
— …Sim, eu entendo.
Talvez porque finalmente tinha entendido, Komurasaki agarrou sua vara e assumiu uma postura, olhando Raishin nos olhos de alguma forma.
Sua postura e a forma como segurava a vara eram de uma amadora. No entanto, sem explicar isso a ela, Raishin,
— Então, vamos tentar começar com o básico por enquanto?
— O que faremos?
— Vou te ensinar com atenção.
Ele virou sua mão direita para Komurasaki e disparou seu poder mágico.
Com uma força que normalmente não usava, ele manipulou Komurasaki à vontade.
Komurasaki agarrou a vara com uma pegada invertida e dobrou a cintura, alcançando metade de sua altura.
A forma como ela estava segurando a arma— sua mão direita estava a sua frente, e sua mão esquerda estava para trás. Exatamente como na esgrima, ao contrário do caratê.
Era natural que ela optasse por segurar a arma do modo mais comum, mas para usar da melhor forma possível as habilidades de corrida de Komurasaki, uma pegada invertida seria o ideal.
Manipulada por Raishin, Komurasaki assumiu uma postura sem lacunas. Epsilon deixou escapar uma voz de admiração. Como era de se esperar, uma vez que ela era uma usuária de espada, ainda que fosse de uma escola diferente, ela parecia ter compreendido a intenção da postura.
— Tente forjar o modo de andar e usar a espada pouco a pouco— estes são os fundamentos.
Ao mesmo tempo, o pé direito de Komurasaki deu um passo à frente e ela cortou para cima diagonalmente a partir do canto inferior direito.
Este era o poder de ataque básico, que permitiria que ela atacasse velozmente com o menor dos movimentos.
Raishin repetiu isso duas, três vezes. Komurasaki ficou fazendo isso com uma expressão de desespero no rosto. Ela ainda não havia compreendido completamente.
Raishin segurou a outra vara em sua mão esquerda e se aproximou de Komurasaki. Ele propositadamente deixou escapar uma intenção assassina.
Sentindo que o plano dele era cruzar espadas, Komurasaki ficou confusa.
— Eh? Eh? Espere um pouco, Raishin!
Ele não esperou. Raishin a golpeou sem falar mais.
Com reflexos que eram muito superiores ao de uma pessoa comum, ela se defendeu do golpe de Raishin. Ela estava usando uma ferramenta desconhecida e repeliu o golpe de maneira inesperada e precisa, conseguindo evitar a esgrima de Raishin de frente.
O rosto de Komurasaki ficou distorcido. Seus braços pareciam dormentes. No entanto, seus músculos estavam bem.
— Agora, venha me atacar.
Ele balançou sua vara de madeira e a convidou a atacar.
Obviamente, Komurasaki hesitou.
— Isso… o que devo fazer?
— Não seja um bebê. Você não quer ficar forte?
Ele agiu com frieza de forma deliberada. Komurasaki pareceu triste por um momento— mas ao que parece seu espírito competitivo adormecido se acendeu e suas sobrancelhas ficaram tensas.
Ela pegou impulso e atacou.
Afiado! Como seria de se esperar de uma boneca criada pela Shouko. Ela era muito superior a um ser humano comum!
Desta vez, Raishin golpeou diretamente na horizontal. Komurasaki, que teve que se esquivar disso, perdeu a postura. Ela cairia caso tentasse se segurar a força, mas Komurasaki, sem tentar ir contra o ímpeto do movimento, usou o impulso para se virar e encará-lo ainda mais.
Seus músculos realmente estavam bem. Ela sabia instintivamente como usar seu corpo.
Raishin, que foi golpeado várias vezes, começou a ser empurrado. A habilidade física estava em favor do outro lado, e Raishin também estava usando apenas sua mão esquerda. Além disso, se ele não atacasse, então este desenvolvimento seria o esperado.
— Komurasaki, você consegue desuu! Bata neste aprendiz inútil e estúpido até que ele morra desuu!
— Não, não me mate!?
No instante em que ele respondeu instintivamente, Komurasaki deu um passo à frente com todas as suas forças.
Ele reagiu tarde demais. Ele desviou a vara assumindo uma postura desfavorável. O peito de Raishin ficou exposto, uma chance nasceu.
— Aqui!
Raishin enviou poder mágico para Komurasaki. Ela girou usando o impulso gerado pelo golpe repelido e avançou com um golpe diretamente para o peito exposto de Raishin—
— É isso!
Ela de repente parou logo antes de atingir o peito dele.
— Como foi? A experiência é a melhor professora. De algum modo você entendeu, certo?
— Você. Você é mau, Raishin!
Quantas vezes Komurasaki havia ficado zangada e se aproximado dele?
— Você me forçou agora! Isso não foi feito por minha própria força!
— Idiota. Conseguir me atingir assim usando sua própria força vai levar pelo menos mais um ano.
— …Isso é inesperadamente pouco tempo.
Raishin sorriu ironicamente. Bom, ele realmente não queria ser deixado para trás dentro de apenas um ano.
— Eu te controlei desta vez, mas você teve a sensação de estar no comando?
— …Sim.
— 80% de uma luta com espadas consiste em técnicas defensivas. Vai levar alguns anos antes de você se tornar uma espadachim de primeira…
Provavelmente sabendo o que ele queria dizer, Komurasaki olhou para as próprias mãos como se de repente tivesse entendido.
— Sim, você não precisa de defesa. Ou de uma finta para derrubar um oponente. Se você possuir habilidades confiáveis para atacar, então você poderá vencer satisfatoriamente.
Se ele atacasse usando o Yaegasumi de Komurasaki, ele poderia atacar unilateralmente sem sequer ser notado pelo adversário.
No entanto, se o oponente tivesse uma percepção que os permitisse detectar a invisibilidade, como no caso de Griselda, eles poderiam ser contra-atacados.
Se havia modos de se evitar isso, então este era um deles.
Raishin apontou para Epsilon.
— Agora use-a a como sua oponente e treine seus movimentos com a espada curta contra ela.
*Ack* não decida isso arbitrariamente desuu!
— Por favor. Se a oponente não for uma mestra como você, o treinamento da Komurasaki será inútil, não concorda?
— Ehehe se você colocar dessa forma, então não tenho como evitar desuu♡.
Epsilon sentiu-se envergonhada e encantada. Raishin se desculpou mentalmente.
Desculpe, Epsilon. Estou me aproveitando da sua estupidez.
Ele entregou uma das varas para a motivada Epsilon e deu instruções para Komurasaki.
— Enfim, lutem entre si com as espadas de madeira. Não há problema em não pensar demais sobre a maneira correta de golpear. No caso de vocês, mesmo apenas com técnicas amadoras de esgrima e com sua força física é possível causar ferimentos.
— Certo, entendi— eh, Raishin?
— Eu vou estudar.
— Estudar!? O Raishin vai…!?
— Não fique tão surpresa! Eu sou um estudante, afinal de contas!
Raishin deixou o pátio enquanto sentia-se um pouco indignado.
Ele caminhou pelo corredor silencioso até a sala designada. Ele se acalmou ao sentar-se na mesa simples, tirou do bolso do peito um pergaminho, e o desenrolou.
Era a especificação do circuito Yaegasumi dada a ele por Shouko antes de sua partida.
A fim de realizar o desejo de Komurasaki, uma espada curta preparada às pressas não seria o bastante.
Além disso, o fato de Shouko ter lhe dado aquilo significava que era necessário que ele aprendesse.
Ele se lembrou do grupo que atacou a cidade alguns dias atrás. Se eles fossem pessoas ruins, então provavelmente atacariam novamente. Sua vida estaria em perigo a menos que ele dominasse o Yaegasumi.
Nas horas seguintes, Raishin lutou com o pergaminho.
Ele provavelmente não tinha entendido metade das coisas escritas ali, mas houve descobertas incríveis.
Havia outras formas de usar o Yaegasumi…!?
Se pudesse usá-las, ele não seria invencível em disputas um contra um?
Três horas se passaram em um piscar de olhos e o sol começou a se pôr. Ele teria que ir logo para a cozinha preparar o jantar. Raishin voltou a enrolar o pergaminho e se levantou.
Naquele momento, a porta se abriu e Epsilon entrou de repente.
— Aprendiz inútil e estúpido! Minha mestra está te chamando desuu!
Seus olhos brilhavam como os de um cachorro passeando, provavelmente porque ela estava lutando durante todo aquele tempo até agora.
Por outro lado, ela parecia estar tentando controlar sua raiva reprimida.
Epsilon olhou para o rosto de Raishin e começou a chorar em um piscar de olhos.
— uu… é tão frustrante… por um homem assim… eu o amaldiçoo desuu!
*Choro*
Ela gritou e desapareceu. Essa garota, como dizer, era como uma tempestade.
— …O que há com ela?
Raishin inclinou a cabeça— e se dirigiu até o quarto de Griselda enquanto tinha um mau pressentimento.
Parte 3
Um trem de carga de oito vagões viajava pela linha férrea tingida pelo crepúsculo.
Era uma viagem de ida e volta entre Sheffield e a Cidade das Máquinas. Na viagem de ida o trem estava completamente carregado com minério de ferro, então agora quase todos os vagões estavam vazios.
Doze homens haviam embarcado em um dos vagões pretos e enferrujados.
Não havia assentos, então eles estavam de pé, encostados em uma das paredes. Os homens estavam vestidos com ternos escuros e levavam autômatos padronizados com eles.
Havia uma pessoa na parte de trás do vagão, do lado oposto dos demais, e que não tinha um autômato consigo.
Ele usava um capuz preto. O cabelo que saía do capuz era loiro e ele tinha uma linda aparência. Ele tinha o ar de um jovem nobre, mas o brilho em seus olhos era afiado, e a presença que ele emanava era terrivelmente perigosa.
Ele não era uma pessoa comum. Os marionetistas ao seu redor estavam obviamente com medo dele.
Um som abafado foi ouvido dentro do vagão silencioso e sem sussurros.
Por um momento, a tensão se espalhou por todos no vagão. Os marionetistas concentraram seu poder mágico e se prepararam para um ataque. Porém, antes que eles fizessem qualquer coisa, o homem loiro os conteve com uma mão.
Eles ouviram passos no teto. Os passos seguiram até a frente do vagão— e a porta foi aberta casualmente.
Quem apareceu foi um homem vestido de preto.
Os marionetistas ficaram igualmente petrificados. Eles se lembravam da aparência do intruso!
Cabelo preto, pupilas pretas. Boa aparência. Vestido de preto da cabeça aos pés. Acompanhado por um autômato blindado azul que fora desenhado com formas aerodinâmicas.
— Saúdem Sua Alteza, Edmund!
Quando alguém gritou, os marionetistas bateram continência todos ao mesmo tempo.
— Ó, pare com isso. Bem quando estou finalmente livre daquela guarda de honra.
Edmund riu ironicamente. Com uma maneira calma de caminhar, ele passou pelo centro do vagão e se aproximou do jovem parado ao fundo.
— Olá, Räikkönen. Parece que você conseguiu mais soldados, estou certo?
Seu tom de voz estava relaxado, como se ele estivesse conversando com um velho amigo.
Räikkönen não respondeu. Edmund começou a gargalhar.
— Ó, será que você está irritado? Parece que Sua Excelência não está interessado nesta missão.
— …Por que o Príncipe traidor está em um lugar como este?
— Decidi que tenho que deixar o país por uns tempos. Então eu queria ver o rosto do meu amigo antes de partir.
— …Eu não gosto de piadinhas.
— Nossa, que frio.
Edmund deu de ombros.
— Bem, na verdade, atrevo-me a dizer que há uma utilidade para a velha— não, os velhos governando o país.
— Você não tem intenção de esconder suas más intenções em relação às rosas. Você é um homem nojento.
Ele disse como se estivesse cuspindo. Houve um eco, que mais soou como uma espécie de reprovação ao ato precipitado.
Algo semelhante a uma gélida intenção de matar subitamente tomou conta dos olhos azuis de Räikkönen.
— …Parece que você queria que o Tenente General Glendan morresse em batalha, estou enganado?
— Sim, infelizmente. Eu perdi um homem valioso. Eu gostava do General.
Edmund olhou para o céu e lamentou grandiosamente.
— Eu quero bons subordinados que qualquer forma. No entanto, o General era uma pessoa teimosa. Para se tornar um bajulador, ele precisou se desligar da divisão e seguir em frente, e acabou criando uma situação como esta… mas um pirralho engraçado o atrapalhou— ó, o que me lembra, o General era seu professor, não era?
Edmund aproximou seu rosto de Räikkönen sem demonstrar timidez.
— Vou dar um conselho ao meu amigo. “Não seja presunçoso”. Estes são tempos em que até mesmo o General acabou sendo morto. O mundo está tentando acabar com a velha ordem.
— …Eu já ultrapassei a habilidade do meu mestre. Com a mesma idade que você tem agora.
— Eu imaginei algo assim. Você é o Wiseman de três anos atrás, o grande e inspirador [O Carmesim].
Ouvindo essas palavras, os marionetistas ao redor dos dois endureceram.
Seus rostos se enrijeceram. Se ouvissem este nome novamente, não seriam capazes de conter seu medo como companheiros marionetistas.
— O Wiseman que também é o General de um exército, mas foi enviado com a [missão] de cuidar de uma garotinha. Não seria constrangedor se eu, um membro da realeza, recebesse ordens ultrajantes assim. Kukuku.
Ele riu.
— Ambos estamos em posições complicadas. Vamos nos dar bem.
— …Você é um homem que não sabe como calar a boca.
— Eu nasci falando. Então, sobre o comando da velha companhia—
Edmund enfiou a mão no bolso da camisa e tirou um pequeno frasco.
A parte inferior era arredondada. Ele continha um líquido translúcido que brilhava com um tom esmeralda.
— Vou dar isso a você, um presente de seu lorde.
— Um elixir?
— Isso mesmo. É um sake Alpha Cycle de alto nível.
— …
— Isso não é um mecanismo, então não pode ser reutilizado, e também não é tão poderoso quanto o original— mas uma vez que você o provar, suas chamas poderão transformar o cinturão de Sheffield em Muspelheim
Os marionetistas prenderam a respiração. Supondo que as palavras de Edmund não fossem exageradas, então aquilo não era apenas mais uma magia, mas algo equivalente a uma arma de destruição em massa, com a qual os cientistas viviam sonhando.
— É exatamente isso que este néctar é. Tome. Pegá-lo é a coisa certa. Porque eu estou certo.
Edmund ofereceu o pequeno frasco. Räikkönen rapidamente desviou os olhos.
— Eu não sou como você. Não caí a ponto de precisar confiar em algo assim.
Edmund caiu na gargalhada. Enquanto ele ria, segurando a cintura em ambos os lados,
— Bom! Bom, isso é o melhor! Eu gosto disso em você!
Räikkönen desviou o rosto. No entanto, Edmund puxou o rosto dele para que Räikkönen o encarasse.
— Você é um bastardo hostil como sempre. Eu— você não fica tentando obter favores do homem que irá se tornar o Rei do mundo mais cedo ou mais tarde. Mas você não liga para isso. Quando eu fantasio sobre quebrar essa sua agressividade e fazer você me obedecer a força, eu realmente me sinto excitado.
— …Você é vulgar. É bom ter sonhos impossíveis.
— Eu devo fazer isso. Meu trabalho está encerrado aqui, se me der licença— oops, Wiseman-kun.
Ele estava prestes a deixar o veículo, mas parou como se tivesse se lembrado de algo.
— A princesa, a [Labirinto], parece ser uma velha amiga sua. Não, devo dizer uma ‘aluna’?
*Silêncio*
O ar ficou frio.
Uma ligeira agitação se espalhou entre os marionetistas. Ao que parece, era a primeira vez que ouviam sobre isso.
Räikkönen respondeu, mantendo sua voz fria para acalmar a agitação deles.
— Ela não é uma amiga. Eu apenas fui seu tutor particular quando ela era estudante.
— Se é este o caso, não seria estranho se apegar a ela, não é?
— …O que quer dizer com isso?
— Nada. A propósito, aquela sua pupila, aquela que também é chamada de Wiseman, ela é bonita?
Chamas mágicas explodiram.
Um poder mágico branco-azulado jorrou dos ombros de Räikkönen. No mesmo instante, sua sombra cintilou.
Algo rastejou para fora da sombra de Räikkönen!
Um vermelho carmesim profundo e brilhante. Seu contorno estava embaçado e oscilava como uma onda de calor.
Uma vez que ele era um mago, era possível compreender de imediato o quanto aquilo era perigoso. Havia uma enorme quantidade de poder mágico e calor armazenados dentro dele. O ar estava quente e ele brilhava com uma cor branca de incandescência.
Os marionetistas ao redor deram gritinhos abafados e se afastaram com um salto. As peles de suas mãos ficaram vermelhas. Parecia que tinham sido afetados pelo calor.
Edmund não parecia sentir o calor. Ele riu com um ar indiferente.
— Ó céus. Sua chama parece ansiosa para me matar.
— …Você não é mais um Príncipe.
Räikkönen olhou para Edmund com olhos de falcão e disse friamente.
— Ninguém vai morrer por você. Seria bom se lembrar disso.
— Você é duro. Sim, vou levar essa crítica a sério.
Ele riu disso. Edmund saiu do vagão, sem nunca ter deixado de sorrir. Ele saltou sobre o autômato Icarus e partiu do trem em movimento.
Por fim, o trem diminuiu a velocidade e chegou a uma pequena cidade antes de Sheffield.
Os marionetistas se prepararam. Eles desceram do trem um após o outro para evitar os olhares do público.
Eles desapareceram silenciosamente na escuridão com movimentos controlados.
Räikkönen, o último que restou, de repente explodiu em chamas.
Como se chamas saíssem de seu corpo inteiro— não, ele mesmo se transformou em chamas.
As chamas se extinguiram instantaneamente. Nem mesmo um único fio de cabelo restou no local.
Parte 4
O quarto de Griselda ficava no terceiro andar, o último da mansão.
A vista era boa, mas por causa disso o local tendia ser alvo de ataques mágicos. Era realmente estressante fazer esse tipo de local ser um quarto privado.
Ele nunca tinha estado lá dentro. Ele bateu na porta de ferro enquanto estava curioso.
— En… Entre!
Uma voz abafada. Ele forçou a porta sem reservas e o cheiro de ferro chegou a suas narinas.
Ele rapidamente soube o motivo para isso. Espadas e armaduras estavam alinhadas dentro do pequeno quarto.
Todas pareciam bem conservadas, suas superfícies estavam polidas e todas exibiam um brilho metálico. A dona do quarto, que supostamente deveria ser preguiçosa, parecia ter feito tudo aquilo.
Essa era a entrada, por assim dizer. O quarto continuava para os fundos.
O interior parecia uma biblioteca e, desta vez, o cheiro dominante era o de mofo.
Raishin ficou impressionado com a enorme quantidade de livros. Era uma grande coleção de volumes alinhados em estantes altas. Todos eram livros de magia. Isso certamente melhorava a reputação dela como uma Wiseman.
— Humm… Oshishou-sama? Onde está você?
— Ve-venha aqui para trás. Por aqui!
Uma entrada sem porta escondida pelas estantes. A voz dela estava vindo de lá.
Ele tentou entrar e aquela parte do quarto mais parecia uma sala.
A vista era maravilhosa. A cidade que escurecia lentamente podia ser vista através da pequena janela.
Uma mesa simples estava posta, e era algo que não combinava em nada com uma senhora de terras. Um tapete gasto estava espalhado no chão e fotos de família adornavam a lareira.
Griselda estava perto da janela. Ela olhou para Raishin, parada diante da poltrona.
Ela estava com raiva de alguma coisa? Griselda estava usando um vestido— um vestido!?
Raishin inconscientemente teve que olhar duas vezes para ela. Griselda estava usando roupas femininas!
Um design que apertava seu tronco com um espartilho. A saia tinha babados e era muito curta. Griselda tentava esconder suas coxas puxando a saia curta com as duas mãos. Ao fazer isso, seu traseiro acabava ficando visível, e isso era algo sério, mas ele não notou.
O cabelo estava bem preso em um rabo de cavalo. No entanto, ela parecia não mostrar a parte esquerda do rosto, e sua franja ainda estava muito grande.
Ela estava ligeiramente maquiada, e parecia mais alegre que de costume. Seu rosto estava vermelho, como se ela estivesse corando, mas não era por causa do blush.
Por um momento, ele pensou que fosse uma pessoa diferente, mas uma vez que ela estava armada com uma espada e tinha essa aparência, então realmente era a pessoa em questão.
Raishin estava se sentindo terrivelmente inquieto.
Ele conhecia os modos femininos de Charl, que fora apelidada de [T-Rex] pelos demais alunos. Mesmo a obstinada professora Kimberley e a feroz secretária Avril tinham a aparência de uma [mulher competente], e ainda assim exibiam a sensualidade característica de uma mulher.
Griselda, que era a falta de jeito em pessoa e não tinha nenhuma relação com essa tal [feminilidade], corou timidamente e, como dizer, isso tinha um tipo de força destrutiva completamente diferente.
As palpitações de Raishin se aceleraram, o que não era característico dele, e ele desviou o olhar reflexivamente.
Assim que ele o fez, o humor de Griselda piorou.
— Por que está desviando os olhos? Você quer morrer?
— Isso é… bem… é constrangedor?
— O quê—!? Então eu realmente pareço deplorável!? Raishin, como você ousa me ver assim!? Eu vou arrancar seus olhos fora!
— Foi você que me mostrou! Além disso, não foi isso que eu quis dizer!
— Se-se é assim, então o que foi que você quis dizer!?
— Bem…
— Diga claramente! Ou você vai morrer!
— Você vai me matar!? Para simplificar— eu fiquei com vergonha. Você estava… assim tão… bonita.
Ele disse, envergonhado. Raishin queria fugir.
— Nesse caso…
Griselda começou a olhar nervosamente em todas as direções, e depois de um curto momento,
— Estou agora ao menos… um pouco mais feminina?
Perguntou enquanto inclinava sua cabeça para cima para olhar para Raishin.
Raishin respondeu honestamente, apesar de corar e estar se sentindo atraído por ela.
— …Sim. Quase não te reconheci. Combina com você.
Os joelhos de Griselda de repente perderam força e ela desabou na poltrona.
— Ei, o que houve? Você está bem?
— Não é nada… apenas estou exausta. Fuu…
Ela suspirou como se estivesse esvaziando os pulmões.
— Bom, estou aliviada… Fiquei tão envergonhada que se você tivesse dito que isso não combinava comigo eu teria que me livrar de dois cadáveres…
— Não diga nada que me deixe assim tão envergonhado. Então, quem são esses “dois”?
— Alícia, da loja de roupas, e você. Por me tratarem como uma boneca. Humph!
Ela se virou com uma expressão zangada. Ao que parece, ela tinha voltado a sua atitude habitual.
— Mas por que isso tão de repente? Por que usar roupas femininas? Você mudou de ideia?
— …Seu desgraçado, você quer morrer!?
*Raiva*
— Por que você ficou irritada!? Guarde a espada!
— Seu desgraçado, você zombou de mim e disse que não sou feminina, então mostrei minha feminilidade, que também é um dos orgulhos da Família Weston!
Raishin ficou muito impressionado. Se ela tinha chegado assim tão longe apenas porque odiava perder, então ele a respeitava por isso.
— Fu… entendo, combina comigo, hein.
Griselda recuperou o ânimo na hora e sacudiu a barra da saia.
— Nesse caso, vou ficar assim por um tempo. É vibrante e um pouco tranquilizador, então vou deixar meu aprendiz não qualificado aproveitar minha beleza um pouco mais.
— Você não precisa me dizer isso duas vezes.
Griselda sorriu para sua imagem refletida no vidro da janela. Quando parou para pensar sobre isso, ele notou que não havia nenhum espelho ou penteadeira naquele quarto. Essa poderia muito bem ser a primeira vez que Griselda apreciava a própria beleza.
Ela era uma [grande Senpai]. Suas idades não eram assim tão diferentes, mas em termos de habilidade eles estavam muito distantes um do outro.
Mas por que será? Ela parecia agradável, como se ele estivesse olhando para uma irmã mais nova.
Quando ele se acalmou, a espada desceu repentinamente.
— —Isso passou perto! O que você está fazendo assim do nada!?
— Você… você estava me desprezando agora, não estava?
— Eu não estava te desprezando! Eu apenas pensei que havia algumas coisas fofas sobre você!
— Vo-você está dizendo que está me menosprezando!
Griselda ergueu a Stratocaster, mas pareceu mudar de ideia no meio do caminho.
— Humph… bem, eu vou te perdoar desta vez. Afinal, eu sou uma mulher muito tolerante!
— A intensidade disso é igual ao recipiente esburacado que é a sua paciência!
— Estou me sentindo bem hoje. Agora, vamos praticar um pouco antes do jantar?
— Sério!?
— Sim. Aqui.
Griselda assentiu prontamente e voltou os dedos de sua mão esquerda para Raishin.
Por um instante, um forte choque atingiu o coração de Raishin. Um intenso poder mágico jorrou das pontas dos dedos de Griselda e invadiram Raishin.
Ele não conseguia respirar. Raishin caiu onde estava, coçou a garganta e gemeu.
O chão começou a girar diante dele.
Ele se lembrava daquela sensação. Sim, a angústia que sentiu quando quase se afogou. Raishin era um bom nadador, mas ele quase se afogou uma vez no passado. Além disso, foi em um riacho raso em uma montanha.
A consciência de Raishin voou para as montanhas ao longo de Hakone mais uma vez—
Parte 5
Raishin se esquivou do golpe de Yaya usando nada além de seu instinto.
Rachaduras surgiram onde ele estava até então.
— Você realmente acha que pode derrotar a Yaya?
Nas montanhas ao longo de Hakone, Yaya lentamente deu meia-volta no caminho através da floresta, fora da estrada principal.
Raishin sorriu ironicamente. Mesmo se ele mantivesse uma expressão impassível, ele não podia conter o suor frio.
Yaya perguntou com uma voz gélida, enquanto fazia com que todo o seu corpo fosse preenchido por poder.
— Como definimos o fim da batalha?
— Vamos ver… que tal até que um de nós diga “Eu desisto”?
— A Yaya não vai dizer “Eu desisto” mesmo se estiver com o corpo destruído.
— Nós realmente não nos damos bem, hein. Eu não vou dizer isso mesmo que eu morra.
Yaya pegou impulso novamente. Ela saltou em linha reta e avançou na direção de Raishin como se fosse uma bala. Raishin saltou e se esquivou do ataque dela— mas o punho cerrado de Yaya perfurou o declive e rachou o solo.
Seu apoio desabou e Raishin escorregou encosta abaixo. Ele perdeu o equilíbrio e precisou se rastejar de quatro.
— Você é uma pessoa estúpida por escolher um terreno como este!
Yaya atacou. Ele imediatamente usou uma árvore como escudo, mas o tronco da mesma foi facilmente quebrado.
Ele relutantemente desceu a encosta com a árvore caída e escapou para baixo. Mas ele não poderia fugir. Yaya surgiu diante dele, bloqueando o caminho. Ela tinha chegado ali saltando sobre as árvores?
De fato, para alguém com habilidades atléticas como as de Yaya, a floresta seria um atalho conveniente.
Se eu fosse lutar normalmente, hein.
Raishin sorriu e se jogou do penhasco.
Yaya ficou assustada. No entanto, Raishin não estava nem um pouco desesperado.
Um som agudo ressoou e Raishin saltou da parte inferior do penhasco.
Ele voou no ar!
— Não! Ele se moveu com uma corda. Um truque primitivo usando uma polia. Havia um mecanismo parecido com aqueles usados em playgrounds infantis.
Parece que Yaya finalmente tinha descoberto o que Raishin esteve fazendo nos últimos dias. Ao mesmo tempo, ela compreendeu como ele estava usando o dinheiro. Uma polia— e talvez ele tenha precisado de alguma mão de obra.
— O que houve? Você não pode acompanhar os passos de um mero humano?
Raishin, que saltava de um galho para outro, provocou Yaya.
— Não seja estúpido!
Yaya saltou, respondendo a provocação. Raishin saltou do galho com agilidade e evitou o golpe de Yaya se utilizando da velocidade da queda. Yaya o perseguiu, chutando os galhos no caminho. Naquele momento, Raishin já havia saltado em outra direção, onde havia outra polia.
No momento em que Yaya tentou persegui-lo ainda mais, um tronco surgiu voando lateralmente.
Uma armadilha instalada por Raishin. E Yaya foi atingida como se fosse o corpo de um sino sendo acertado por um badalo. Incapaz de lidar com aquilo em pleno ar, Yaya foi atirada uns dez metros para longe.
Ela foi atingida em cheio… Sinto muito, Yaya!
Sem revelar a dor que sentia no peito, Raishin riu alto.
— Como você pode ter caído em um truque tão bobo!? É isso que são as Setsugekka!?
— O… o… o que você disse——!?
Vapor saía da cabeça de Yaya. Ela perdeu o controle sobre si mesma enquanto mirava Raishin.
Ele fugiu apressado. Mesmo que ele pudesse dizer que tudo estava saindo de acordo com o plano, isso não mudava o fato de que o nível de perigo havia aumentado. Ele usou a polia para se mover para um nível inferior, ganhando distância. Enquanto isso, Yaya pegou impulso no tronco e saltou de árvore em árvore como se fosse um esquilo voador.
Incapaz de suportar a força das pernas de Yaya, as árvores iam caindo uma após a outra. Não apenas isso, Yaya estava atirando pedras e árvores enormes.
Certamente, estavam causando uma grande destruição ambiental. O terreno ao redor das montanhas de Hakone estava mudando bem diante dos seus olhos.
O mais assustador era aquela força sobre-humana. Ele rapidamente cruzou as sete cordas preparadas.
Aquele jogo de pega-pega já durava cinco minutos, na melhor das hipóteses, quando Raishin foi encurralado em um penhasco íngreme logo abaixo da metade da montanha.
Yaya passou através de uma plantação de bambus, aproximando-se com um olhar demoníaco no rosto. Cada vez que Yaya dava um passo à frente, Raishin sentia que perdia um ano de vida.
Algo explodiu ao lado de Yaya.
Uma arma feita a base de bambu e molas atingiu Yaya lateralmente.
Naturalmente, ela não se feriu. Mas Yaya, que rastejou encosta acima, estava respirando pesadamente. Ela estava completamente exausta.
— Es… es… esse… humano… baixo!
Uma maneira instável de caminhar. Yaya cambaleou e caiu de costas ali mesmo.
——Ela ficou sem poder mágico.
Yaya era uma boneca criada através de artes secretas proibidas— ela poderia criar seu próprio poder mágico para ativar seu circuito mágico. No entanto, seu poder não era infinito.
Houve um vencedor. A estratégia de Raishin funcionou perfeitamente.
No entanto, Raishin murmurou para si mesmo, sem se declarar como vencedor.
— Bom, devemos parar agora.
Yaya ficou perplexa.
Raishin olhou diretamente para Yaya e disse com sentimentos honestos.
— Fazer você me obedecer por pura força e te forçar a fazer o que eu disser não é da minha natureza. Se possível, eu gostaria de obter sua ajuda.
— …Humano tolo. Você acha… que já venceu?
Yaya blefou. Raishin não respondeu e disse como se apelasse a ela,
— Eu certamente sou um novato estúpido de terceira classe, mas vou aperfeiçoar minhas habilidades. E vou me transformar em um marionetista adequado para você. Então, torne-se minha boneca.
Ele olhou Yaya diretamente nos olhos, colocando seu desejo naquelas palavras.
— Sua boneca…?
Um sorriso apareceu de repente nos lábios de Yaya.
— Eu recuso! A Yaya não quer ser usada por alguém como você!
Raishin, cujo entusiasmo fora rejeitado, de repente ficou louco. A palavra ‘você’ foi o que mais o irritou. Embora ele odiasse isso, aquilo o lembrava das diferenças com seu irmão mais velho e sua irmã mais nova.
— Por quê!? Eu disse que vou me esforçar, não disse!? Isso não é bom o bastante!? Você prefere ser usada por um marionetista de primeira classe!?
— Não é isso que estou dizendo!
— Então por que!? Diga claramente!
— Humanos… não entendem os sentimentos da Yaya!
— !
Yaya gritou e, ao mesmo tempo, saiu correndo.
E ela o agarrou de forma imprudente. Embora ela não estivesse mais sob o efeito da Força sobre-humana, as palavras de Yaya foram tão surpreendentes que Raishin acabou reagindo tarde demais.
Ele não conseguiu se desviar dela. Inevitavelmente, ele usou o ímpeto de Yaya e a jogou para trás.
Ela girou sobre a própria cintura e atingiu uma árvore na beira do precipício.
A árvore quebrou, embora o impacto não tenha sido grande.
Estava seca—!?
Ou será que estava podre? Yaya foi atirada ao ar com a árvore quebrada.
O precipício tinha cerca de vinte metros.
No entanto, aquela era uma altura fatal para Yaya, que não conseguia usar sua força sobre-humana agora.
No momento em que ele pensou que aquela era uma situação ruim, seu corpo já estava em movimento.
Ele agarrou o braço de Yaya e a puxou para trás com força.
O corpo de Raishin flutuou no ar como se os dois tivessem apenas trocado de lugar.
As pupilas de Yaya se arregalaram em um instante, como se ela estivesse surpresa. Raishin caiu no fundo do vale.
Nota:
1 – A Era Meiji (明治時代) corresponde ao período de 45 anos do Imperador Meiji no Japão. Ela se estendeu de 3 de fevereiro de 1867 até 30 de julho de 1912. Nesta fase, o Japão viveu uma grande modernização, vindo a se tornar uma potência mundial.