Capítulo 1: O Quarto da Rainha
Tradução: Reiki Project
Academia Real. Os sinais da chegada do outono se aprofundavam nos primeiros dias de outubro.
Raishin, Loki e Frey estavam avançando tranquilamente pela Festa Noturna.
Por exemplo, três noites atrás
— Ei, é isso?
— É isso…? Mas acabou de começar, certo?
Os alunos sussurravam em uníssono dos assentos para os espectadores que cercavam o campo de batalha.
Eles estavam no Coliseu. Era como um antigo anfiteatro, que também havia se tornado o palco para a Festa Noturna. Embora não houvesse tantos alunos quanto no dia da reabertura, um grande número de estudantes e personalidades da cidade lotava as arquibancadas, que não estavam longe de atingir sua capacidade máxima.
Explosões ocorreram e uma fumaça negra pairou sobre todo o palco.
— Force o caminho! Tiger Tank!
Liu um estudante estrangeiro da China, ordenou para seu autômato.
O que ele controlava era um autômato que se parecia com um tigre. Um cano de arma se projetou da boca do tigre, girando como uma metralhadora clássica, cuspindo bolas de fogo em sucessão. Exatamente como um tanque.
Ele tinha um poder de fogo terrível. O ar estava aquecido, de modo que o ar quente atingia até mesmo os espectadores.
Nesse caso, não importava quem fosse o oponente, ele poderia forçar unilateralmente seu avanço. Porém
— Vejam, o Penúltimo não está ferido!
Exatamente como declarado, Raishin e Yaya surgiram ilesos de dentro das chamas.
Apenas as mangas do quimono de Yaya estavam ligeiramente queimadas, mas nenhum dos dois tinha um ferimento sequer.
— Como pensei, aquele cara não pode ser derrotado com um ataque deste nível!
— O quê? Quem deu a ele a alcunha de Penúltimo!?
Raishin enviou poder mágico para Yaya enquanto ignorava os gritos dos espectadores com um sorriso amargo no rosto.
— Vamos por trás. Oitavo Movimento: Som de Sopro!
— Entendido!
Recebendo o poder mágico de Raishin, Yaya saltou tal qual um projétil sendo disparado.
Ela correu pelo palco em alta velocidade, fez uma curva em arco e deu a volta.
O Tiger Tank mudou de direção, saltando rapidamente tal qual um tigre de verdade faria.
— Como se eu fosse deixar você usar um ataque em pinça!
— Não, essa batalha acabou.
Raishin apareceu no ar, logo atrás do Tiger Tank que havia acabado de se virar.
Raishin havia encurtado a distância entre eles muito mais depressa do que Liu poderia imaginar!
Um chute em diagonal vindo de cima, que ainda incluía uma espiral enquanto ele girava como um pião.
O Tiger Tank voou para longe, dando uma cambalhota no ar. A pesada armadura parecia ter suportado o impacto do chute— mas naquele momento, Yaya já estava alto no céu.
Ela caiu como um meteorito de uma grande altura. Com este golpe, o Tiger Tank desmoronou rapidamente.
— …Eu perdi!
Liu cuspiu as palavras com pesar. Ele então sorriu fracamente e atirou sua luva para Raishin.
No momento em que Raishin agarrou a luva, os espectadores de repente irromperam em uma salva de palmas.
— Demorou muito.
Do lado de fora do campo de batalha, uma voz chegou aos ouvidos de Raishin.
Quando ele se virou, Loki, acompanhado por seu autômato mecânico Cherubim, e Frey, acompanhada por Rabi, estavam parados ali.
Ambos estavam assistindo a batalha. Frey o parabenizou com aplausos, mas Loki lançava um olhar severo para ele.
— Idiota, você levou oito minutos desde o começo da batalha para atingi-lo uma vez.
— Se você tem alguma reclamação, basta dizer! Você deixa tudo em nossas mãos todas as noites!
— Vou fazer isso eu mesmo. Eu não preciso de companhia.
— Não me trate como se eu fosse apenas o ato de abertura! Trabalhe um pouco, seu idiota descuidado!
— Calado, idiota preguiçoso. Você quer que eu apague você?
— Não… lutem!
Com a intervenção de Frey, Raishin e Loki deram as costas ao mesmo tempo.
No dia seguinte, nenhum oponente apareceu. E no dia seguinte a esse— no caso ontem—
Ao contrário da batalha anterior, Raishin foi pressionado em uma inesperada luta equilibrada.
— Yaya! Cuidado!
Um pouco mais rápido que o esperado, um objeto pontiagudo e saliente surgiu de repente do chão.
Um objeto que lembrava muito uma espada. Quando Yaya se esquivou, ele voltou a afundar no chão.
Foi engolido pelo campo de batalha?
Quando a protuberância recuou, o campo de batalha foi gradualmente voltando a ser uma superfície plana, como era originalmente.
Essa era uma magia para “Misturar” a matéria? Ou para “Transformar” a matéria…?
— Devo checar isso para ter certeza? Yaya, Oitavo Impulso: Silêncio. Agarre essa coisa.
Yaya ficou parada onde estava e esperou.
Imediatamente depois, um ataque veio dos pés de Yaya!
— Agora!
Yaya se esquivou da espada por pouco, deslizou de lado e a agarrou.
No entanto, no momento em que ela a tocou, a espada desapareceu tal qual uma bolha estourando.
— O que é isso? Uma bolha de sabão…?
Algo parecido com uma bolha de sabão estourando. No momento em que ela se distraiu, um martelo surgiu por trás de Yaya. Um poderoso golpe mandou Yaya voando para longe, atingindo Raishin no meio do caminho.
Batendo as costas com força, Raishin franziu a testa reflexivamente.
— Droga, esse é um oponente problemático…!
O verdadeiro corpo não podia ser localizado. E ele também não conseguia descobrir a verdadeira identidade daquela magia.
O oponente de ontem não pôde ser derrotado ou melhor, ele não apareceu. Se Raishin se descuidasse, havia a possibilidade de ele aparecer para ajudar seu adversário atual.
Se eu não me apressar…
No momento em que ele começou a se sentir impaciente, alguém parou ao seu lado.
— Afaste-se. Vou mostrar a você como se faz.
Era Loki. E ao lado dele, Cherubim pousou e ficou completamente em silêncio.
— Assista com atenção. A diferença entre você e eu— Cherubim!
— Estou pronto.
Espadas curtas semelhantes a espinhos saltaram das asas de Cherubim e voaram em linha reta.
Elas perfuraram um canto do campo de batalha após o outro.
Um som semelhante a uma bolha estourando foi ouvido e o ar foi distorcido em um dos cantos. Não— o ar distorcido voltou a sua forma original!
Um estudante e um autômato com formato de caranguejo espreitavam ali.
Ao que parece, as enormes bolhas produzidas pelo caranguejo tinham o poder de distorcer a luz visível.
As espadas curtas de Cherubim voltaram a flutuar no ar. Sem dar tempo para o oponente reagir, as espadas curtas perfuraram as articulações do autômato com precisão, separando-as.
Com isso, o efeito da magia parecia ter desaparecido.
Outro autômato surgiu no campo de batalha. Este era um autômato com várias armas, tal como uma espada, uma lança, um machado, um martelo e assim por diante, presas por todo o seu corpo. Parecia ser especializado em ataques diretos, um autômato que se concentrava em combates corpo-a-corpo.
— Havia dois deles!?
Ele supôs que estivessem usando a magia do caranguejo para se esconderem enquanto o outro atacava
Raishin havia pensado que existia apenas um oponente, portanto, sem ser capaz de entender a fonte da magia, ele não conseguia compreender a verdadeira identidade de seu adversário. Ele não percebeu, foi negligente, o que era algo que ele nunca deveria fazer em uma batalha real.
Com o truque revelado, a vitória estava praticamente garantida.
Reunindo as espadas curtas ao redor de seu corpo, Cherubim se transformou em uma grande espada.
Ele se acendeu em chamas enquanto girava e cortou o autômato armado em dois com um único golpe.
Assim, em poucos minutos, Loki destruiu dois autômatos.
Loki virou o rosto para Raishin.
— Essa é a diferença entre você e eu.
— Tire já esse olhar triunfante do rosto! Se eu soubesse que havia dois deles
— Foi você que não percebeu isso.
Raishin segurou a língua. Era frustrante, mas ele estava certo.
— Quanto mais você se apega a sua intuição, menos você percebe os pontos cegos em seu pensamento. Seja cuidadoso tanto quanto possível.
Dizendo isso friamente por cima do ombro, Loki voltou-se para Frey, que estava em outro canto do campo de batalha.
Frey cumprimentou Loki com uma leve inclinação de cabeça.
— Loki… você quer que o Raishin fique mais forte?
— …O que você está dizendo, irmã mais velha idiota? Por que eu pensaria em fazer isso?
— Mas você aconselhou o Raishin…
— Fiquei irritado em vê-lo. Não diga nada tolo!
Cuspindo, ele virou o rosto com desagrado no olhar.
Vendo seu irmão mais novo assim, Frey sorriu alegremente.
E esta noite
Loki e Raishin não entraram no campo de batalha, eles estavam discutindo em frente ao portão de entrada.
— Eu fiquei sabendo do que aconteceu, seu maldito. Parece que você recusou um convite pessoal de uma Wiseman.
— Aquela Charl… de todas as pessoas, ela tinha que contar para esse cara…
— Recusar os ensinamentos de um Wiseman é pura estupidez. Para que diabos você está matriculado na Academia?
— Que barulhento! Um idiota que não consegue notar minha grande modéstia não deveria dizer nada!
— O idiota aqui é você. Eu sou gentil e generoso, mas há três coisas que não posso perdoar de forma alguma. Um idiota que não compreende o idioma, um idiota que não entende a teoria, e um tolo que só sabe atacar.
— Eu sou tudo isso! Quero dizer, vou retribuir o favor completamente!
Yaya, que estava ao lado de Raishin e ouvia a ambos, suspirou como se estivesse surpresa.
— Os dois são culpados… Ah, a Frey-san chegou.
Exatamente como ela disse, Frey caminhava rapidamente com passos curtos na direção deles.
— Ó, Frey. Você não tinha ido para o campo de batalha agora?
— Sim, eu fui.
— O que aconteceu com o adversário de hoje? Ainda não apareceu?
— Eu venci…
Frey corou ligeiramente e disse com orgulho. O cão-lobo, Rabi, também abanava a cauda orgulhosamente.
Ao que parece, antes mesmo que Raishin notasse, ela havia derrotado o adversário por conta própria.
— Sério? Eu não percebi… quero dizer, você é incrível.
— Hum? Como pensei, seus poderes de atenção não são o bastante. Eu percebi isso há tempos.
— Calado! Se você notou, devia ter dito algo!
— Não tenho razões para te dizer tudo. Na hora da verdade, a Frey pode competir até mesmo contra os Rounds. Você por acaso está dizendo que ela seria derrotada em um mano-a-mano contra alguém desse nível?
— O quê? Não, não é isso.
Aquilo não era obviamente um exagero?
Raishin olhou para Frey novamente. Ela tinha uma expressão de dúvida no rosto e olhava para baixo de forma fofa. O cabelo preso só de um lado da cabeça e seu busto estremeceram.
Certamente Frey havia melhorado suas habilidades. Raishin podia entender isso apenas a encarando dessa forma. Entretanto, se dissessem a ele para compará-la a Loki ou Charl—
…Entendo, a Frey já…
Ela escondia um poderoso trunfo. Os dois meses de férias de verão deram a ela uma arma secreta.
Nesse caso
— O que está distraindo você? Nosso dever hoje é aguardar. Vamos cumprir logo com nosso dever, último idiota.
— Apenas uma posição nos separa, penúltimo idiota!
Enquanto Raishin trocava xingamentos com Loki, ele se dirigiu ao campo de batalha com Yaya.
Eles tinham que ficar pelo menos uma hora no campo de batalha.
De repente, o olhar de Loki percebeu algo estranho.
Ele olhou fixamente para Raishin. Ele não parecia estar tentando arrumar briga, era mais como um tipo de sede de sangue… ou melhor, um impulso de atacar.
Era intenso a ponto de rasgar sua pele.
Os espectadores nas arquibancadas já se preparavam para voltar. Todos ali sabiam que Raishin e Loki não iriam lutar.
A única forma de impedir o avanço daquelas três pessoas era esperar pelo aparecimento dos Rounds?
Esse era o tipo de atmosfera que pairava sobre o Coliseu—
Esta noite, o Número da 40ª posição foi derrotado.
Parte 2
Após passar a uma hora obrigatória de permanência no campo de batalha, Raishin se separou de Loki.
Era por volta de 21 horas. Caminhando pela rua pavimentada, Raishin foi em direção a parte central da Academia. Quando percebeu que eles não estavam voltando para o dormitório, Yaya imediatamente ficou de mau-humor.
— Raishin… vamos mesmo encontrar com aquela megera…!?
*Olhar ameaçador*
— Bom. Sim.
Uma resposta desanimada. Yaya esqueceu seu ciúme e olhou para seu mestre com ansiedade.
— O que está te incomodando, Raishin? Há algo pesando em sua mente?
— …Sim, aquilo que o Loki disse. A Frey já pode competir com os Rounds.
— Sim. E daí?
— Loki não é o tipo de cara que blefaria sobre isso. Eu realmente acredito no que ele disse. Se a Frey ficou assim tão forte nesse curto período de tempo…
— É difícil acreditar que isso seja o resultado de um treinamento. Que tipo de truque será que ela— Ó!
Yaya parecia ter percebido também. Raishin assentiu.
— Os corações deles são dispositivos mecânicos que aumentam o poder mágico. Ela pode ter aprendido a usar isso de forma diferente e melhor do que vinha fazendo. Se esse for o caso…
— …Então não é apenas a Frey-san, mas o Loki-san também?
Ele assentiu ao mesmo tempo em que suspirava.
A força de Frey era bastante baixa entre os participantes da Festa Noturna.
Sua posição havia melhorado devido ao rebaixamento voluntário de Loki e a participação de Raishin, mas originalmente ela estava em 100º lugar a última posição.
Seja lá o que ela tenha feito, havia fortalecido Frey até o ponto de ela estar no mesmo nível dos Rounds.
Se Loki tivesse feito a mesma coisa… até que ponto o poder dele havia aumentado?
— Eu não posso deixar de pensar sobre isso. Mas, por hora, vamos focar em nos encontrar com a Representante dos Estudantes.
Ele apressou o passo. Mesmo que ela tenha perdido a paciência e chutasse as pedras no caminho, Yaya ainda o seguiu obedientemente.
Ele checou o cartão de visitas de Olga enquanto andava. O que estava mostrado no mapa era um local inesperado.
— Este lugar, se você olhar com atenção, é o Dormitório Feminino Grifo, não é?
— Isso é um alívio, Raishin… Em um momento como este, entrar no dormitório feminino, onde os homens são proibidos, é…
— Acorde. Quero dizer, a responsável pelo Dormitório vai me deixar entrar?
Ainda assim, ele apenas tinha que ir, então foi o que ele fez. Depois de passar pelo caminho pavimentado, ele viu um elegante edifício de três andares. Cada uma das janelas estava iluminada.
Quando ele se lembrou de que Charl, Henri e Frey também estavam naquele lugar, ele sentiu-se um tanto quanto inquieto por alguma razão. Sentindo isso, Yaya aproximou seu rosto do de Raishin como se quisesse dizer algo. Raishin abriu a porta para escapar disso e entrou no dormitório.
Ele explicou a situação para a não-tão-séria-assim responsável pelo dormitório.
Quando mencionou Olga, ele não foi mandado embora com um “Homens não são permitidos aqui!” como acontecera antes. Surpreendentemente, sua entrada foi permitida sem problemas. A posição de representante dos estudantes parecia ter mais influência do que Raishin havia pensado.
O quarto de Olga era enorme, com dois cômodos conectados no fundo do terceiro andar.
Um óbvio tratamento especial. Além disso, ela tinha um criado exclusivo.
— Bem-vindo e obrigado por vir.
O criado curvou-se educadamente e o cumprimentou diante da porta. O fluxo de poder mágico lembrava o de um ser humano, mas ele podia ser apenas um autômato de ultra precisão. O olhar em seu rosto era afiado, fazendo uma presença perigosa pairar no ar.
O criado abriu a porta e guiou Raishin para dentro.
Imediatamente após entrar, ele foi conduzido a uma sala de leitura. Uma enorme estante de livros fora montada e os livros de referência estavam organizados e alinhados perfeitamente. Havia uma porta na parede à direita que levava ao cômodo seguinte.
— Sua companheira, o autômato, vai esperar aqui. Por favor siga sozinho para os fundos.
— Eh— a Yaya vai com o Raishin!
— Olga-sama não possui um autômato com ela no momento. Por favor, entenda.
“Por favor, entenda”— aquilo significava que o criado não tinha intenções de fazer uma concessão.
— Acho que não há escolha. Mesmo um samurai guarda sua espada ao receber um convidado.
Ele deu de ombros e acalmou Yaya. Mesmo se algo estivesse para acontecer, o poder mágico de Raishin poderia ultrapassar algo como uma parede. E a [Super Força] de Yaya poderia ser ativada.
— Mas se a Yaya não estiver ao lado do Raishin ele vai…
— Eu disse que não tem nada de estranho, certo?
— Tirar conclusões precipitadas é um pouco suspeito…
*Olhar ameaçador*
— Não tem nada suspeito! Eu acabei de descobrir isso!
Yaya recuou com relutância e sentou-se no sofá conforme recomendado.
Passando pela porta aberta pelo criado, Raishin seguiu para o cômodo seguinte.
O quarto era luxuoso. Era totalmente incomparável aos quartos do Dormitório Tartaruga, onde Raishin ficava espremido.
Uma cama decorada, um sofá espaçoso, iluminação mágica e um grande armário ocupavam o espaço.
Ao que parece, aquele quarto era ainda mais luxuoso do que o ocupado por Charl. Raishin pisou no carpete macio enquanto sentia-se estranho e avançou até o centro do quarto.
A dona do quarto estava sentada na cama, secando o cabelo.
— Desculpe por minha aparência. Eu acabei de tomar um banho.
Ela estava vestida apenas com um roupão. Um aroma agradável de pós banho flutuava pelo quarto. As curvas do corpo de Olga podiam ser vistas através do roupão, fazendo Raishin corar.
— Hum, essa aparência te incomoda? Então talvez eu devesse me trocar e colocar um pijama.
— Faça o que quiser. Espere, espere, espere!
*Espanto*
Olga parou de mover as mãos.
O que ela tirou do armário foi um baby doll ligeiramente transparente.
— Que pijama é esse!? Isso não é apenas uma lingerie!?
— Mas eu costumo dormir vestindo isso.
— Como eu iria saber disso!? Apenas vista algo!
— Você é surpreendentemente puro. Mesmo que eu tenha ouvido por aí que você é um grande mulherengo.
— Esse boato prejudica minha reputação, não é? Estou a ponto de querer processar alguém por difamação, sabe?
Enquanto eles trocavam palavras, o criado levou bebidas.
Olga o encorajou a sentar-se apenas com o olhar e Raishin se sentou no sofá.
O criado colocou a xícara como se estivesse a jogando violentamente contra ele. O chá quente espirrou, atingindo o rosto de Raishin como se aquilo fosse proposital.
Em vez de se desculpar por sua falta de educação, o criado olhou para Raishin com uma expressão irritada e se retirou visivelmente indignado.
Enquanto Raishin enxugava o rosto com as costas da mão,
— Então? O que a mundialmente famosa representante dos estudantes quer de mim?
— Eu já disse antes, não foi? Quero falar com você. Eu estou interessada em você.
Olga caminhou devagar e se colocou atrás de Raishin.
— Quando você, que tinha acabado de se matricular, desafiou a T-Rex para uma luta quem esperaria que algo assim acontecesse? Os prodígios selecionados de cada nação estavam sendo subestimados no palco da Festa Noturna.
Raishin ficou em silêncio, e Olga deixou escapar uma risadinha. Ela então sentou-se ao lado dele no sofá.
O seu cheiro era ainda melhor de perto. Ele voltou a se concentrar em seus sentidos e fingiu estar calmo.
— Isso é um exagero. Na verdade, eu é quem fui subestimado— e também o Loki.
— Naquela época, claro. Mas agora ele também é reconhecido por sua força.
Olga de repente empurrou os quadris contra ele. Além disso, ela desabotoou a parte do peito e se virou na direção de Raishin, como se para mostrar seu decote. Enquanto Raishin se contia desesperadamente, ele disse,
— Você está enrolando. O que você quer de mim? O que eu fiz para atrair o seu interesse?
— E se eu disser que é esse tipo de interesse?
Assim que disse isso, Olga encostou-se nele de maneira sugestiva.
Parte 3
Naquela noite, Sigmund foi até o topo do Dormitório Feminino Grifo e olhou para a lua.
Um vento frio estava soprando, mas era um ar frio agradável para Sigmund, que cresceu nas terras do Norte.
— …A lua não mudou nada. Talvez apenas um pouco.
Quando ele apertou os olhos para o luar pálido, uma voz nostálgica ressoou em seus ouvidos.
“Ei, dragão, qual é o seu nome?”
Foi por volta desta estação que ele a conheceu. Uma conversa que aconteceu há mais de cem anos atrás.
Ela olhou diretamente para o gigantesco dragão, riu sem hesitação e disse,
“Meu nome é Elaine Belew. Sou uma cavaleira errante.”
“…Nesta era chamada de Revolução Industrial, uma cavaleira errante certamente é um anacronismo.”
“Você acha? Nesse caso, o furioso dragão que habita a Montanha Mágica definitivamente é um anacronismo, você não concorda?”
Um brilhante e honesto sorriso.
Sigmund sorriu amargamente. Era estranho. Ele não era mais do que um produto feito pelo homem, mas ele sentia falta e lembrava-se profundamente do passado tal qual uma pessoa normal.
O que destruiu essas lembranças foi um poder mágico obscuro.
Um vento negro soprou.
Alguma coisa…
Assim que ele pensou nisso, o poder mágico desapareceu.
Então, uma sensação completamente diferente do frio que ele estava sentindo até momentos atrás atacou Sigmund.
Essa sensação poderia ser descrita como
Está perto. E é algo igual a mim.
A sombra que deslizava suavemente agitou suas asas e pousou no teto do dormitório.
— Oi, irmão.
A pequena figura, que tinha a lua a suas costas, olhou para Sigmund.
As escamas cobrindo seu corpo eram vermelhas e emitiam um brilho metálico. Havia chifres desenvolvidos em cada uma de suas quatro asas. Não importava como se olhasse para ele, sua aparência lembrava a de um jovem dragão, exatamente como Sigmund.
Sigmund ficou surpreso com o reencontro repentino e sorriu, mostrando afeto.
— Senti muita falta do seu rosto, Tor.
— Igualmente. Já se passaram 70 anos desde nosso último encontro, certo?
— Já se passaram 72 anos.
— Você está tão pequeno quanto sempre, hein. Kekeke.
Ele riu. Em seguida, o jovem dragão vermelho inclinou a cabeça de forma confusa, tal qual uma coruja faria.
— Com quem você mantém um contrato certo, os Belew, não é? Os Belew ainda o tratam como um animal de estimação?
— Tratar a mim como um animal de estimação funciona perfeitamente. Eu gosto disso.
— Eu soube dos rumores. A Família Belew caiu e agora não possuem terras ou residência. Você está passando por dificuldades? Eles o alimentam propriamente?
— Quando surge a necessidade, eu mesmo obtenho alimento. Aves selvagens.
— Eu gosto disso! O mundialmente famoso Gram agora é um ímã de pássaros!?
Ele riu como se estivesse zombando de Sigmund. No entanto, ele estranhamente não ficou irritado. Sentindo-se calmo, Sigmund olhou para seu rude irmão.
— Quando eles foram a falência, a Charl teve a opção de me vender.
— Não diga isso, seu tolo, não havia a menor chance de ela vender você. Nós somos Gram, não somos? Desde que nos mantenham consigo, eles terão dinheiro e honra para satisfazer seus corações.
— Eu me pergunto sobre isso. De todo modo, minha mestra jamais faria algo como vender sua [Família]. Portanto, eu também quero ser a [Família] dela isso é tudo.
— …Isso me parece interessante.
Ele fechou parcialmente seus olhos que lembravam joias e sorriu amplamente.
— Cuide-se o quanto puder, irmão. Faz cento e cinquenta anos desde que os Gram nasceram— no começo havia sete de nós, mas agora restam apenas três. Aqueles que ficam muito acomodados com seus mestres estão fadados a morrer.
— Devo manter isso em mente. Espero que você também possa encontrar um bom mestre.
— Você sempre gostou das pessoas… Bom, uma vez que a ligação fraterna fez com que nos encontrássemos aqui, vou presenteá-lo com uma informação.
— Informação? Estou ouvindo.
— Aquele cara está vindo para cá. O 37º Grande Marquês, o ser imortal, o único capaz de resistir às chamas de Muspell— ele tem muitos nomes, mas é bem conhecido entre os magos.
— Você está se referindo ao… Código PX?
— Eu não acho que ele vá aturar a presença de um Gram. Todo cuidado é pouco.
A intuição brilhou na cabeça de Sigmund. Qual era a razão para um autômato como este ser preparado?
Eles não atacariam a Charl, certo?
— É uma informação valiosa, obrigado.
— Eu tenho algumas coisinhas para resolver por aqui, então vou ficar na cidade por uns tempos. A gente se vê.
O jovem dragão vermelho abriu suas asas, pegou impulso no teto e saiu voando.
Enquanto seguia as costas dele com o olhar— ele casualmente olhou para abaixo de onde estava, havia uma garota espiando pela janela.
Ela olhava com ansiedade para o lado de fora enquanto vestia um pijama. Era Charl.
Sigmund pegou impulso e desceu rapidamente.
Quando ela notou Sigmund, Charl ergueu as sobrancelhas e disse irritada,
— Sigmund! Onde você foi!? Vou trocar seu frango do almoço por trigo! Estou sempre dizendo para você não desaparecer assim do nada!
— Charl, eu entendo os seus sentimentos, mas você está gritando. A Henri vai acordar.
Surpresa, Charl cobriu a boca. Henri estava dormindo na cama no fundo do quarto.
Provavelmente porque seus sentimentos não tinham se acalmado, Charl segurou Sigmund em seus braços, mas com mais força do que o necessário. Era como se ela não quisesse permitir que ele escapasse. Sigmund a deixou fazer isso com um sorriso irônico no rosto.
Charl não voltou para a cama, ela segurou Sigmund em seus braços enquanto olhava pela janela por um tempo.
— Charl. Se for sobre o que aconteceu durante o dia, você não precisa se preocupar.
— E-eu não estou preocupada.
— Você não consegue dormir por causa do que a Wiseman disse a você, certo?
— …Não adianta tentar esconder nada de você, hein.
— Eu fui aquele que esteve ao seu lado durante seu primeiro banho. Ao invés de seu pai, Edgar.
— Pare de falar sobre isso. O papai viu o sangue e desmaiou, não foi?
— Você é uma mulher talentosa cujo nome está entre os Rounds. Você dominou o uso do circuito Gram satisfatoriamente.
— …Mas e se a Senhorita Weston te usasse?
Sigmund ficou em silêncio. Charl olhou para baixo,
— Autômatos Gram possuem um circuito mágico lendário. Se alguém que pode utilizá-lo ao máximo o colocasse em ação, essa pessoa poderia derrotar até mesmo o Magnus. Por outro lado, eu, ao menos como estou agora… não chego nem perto de competir com o Magnus.
Pouco depois de Raishin vir para a Academia, uma situação explosiva aconteceu com Magnus.
Naquele tempo, Charl e Sigmund testemunharam o poder de Magnus. Se eles se enfrentassem agora, Charl não teria a menor chance de vitória. Isso era certeza. Porém—
— Não se apresse. Demora vinte anos para os humanos e dois meses para camundongos.
— …O quê?
— O tempo necessário para amadurecer.
— Isso não é tão simples quanto o crescimento de camundongos!
Ele disse a Charl, que havia perdido a paciência, de uma forma simples de se entender.
— Eu já estou na Família Belew há mais de cem anos agora. Tem havido vários marionetistas na Família Belew há gerações. Embora alguns deles tenham sido chamados de gênios quando jovens, nenhum deles alcançou o sucesso. Por outro lado, aqueles que foram chamados de medíocres obtiveram fama ao longo dos últimos cinquenta anos.
— Meu tio-avô e meu tio-bisavô, você quer dizer?
— Sim. Comparado a eles, seu talento é incrível. Você logo ficará ainda mais forte.
Seu plano era encorajá-la, mas Charl ainda tinha uma expressão triste no rosto.
— “Logo” é muito devagar para mim. Eu quero ficar mais forte ago— Ah!
— Charl? O que houve?
Charl largou Sigmund e se agachou ali onde estava.
Ah.
Imediatamente após pensar isso, Charl desapareceu como se tivesse sido dissolvida em pleno ar.
A camisola de Charl caiu no chão, produzindo um ruído baixo.
Parte 4
Tendo o peso do corpo de Olga caindo em cima dele, Raishin foi abruptamente empurrado para baixo por ela.
Ele parecia ter se descuidado porque ela não emitia nenhum tipo de intenção assassina. Sim, descuidado. Mas não porque ele estava distraído pela sensação de seus seios macios, suaves e confortáveis. Era definitivamente outra coisa.
O cabelo loiro palha fez cócegas no nariz de Raishin. Olga afastou seu cabelo penteado enquanto aproximava ainda mais sua beleza artística. Raishin desesperadamente se forçou a controlar seus instintos e antes que os lábios cor de cereja o tocassem, ele disse com um tom calmo,
— Pare de brincar, Alice.
O movimento de Olga parou de repente.
— Você não é muito grosseiro, Akabane Raishin? Mencionando o nome de outra garota.
— Eu acreditei que você não estivesse morta. E o criado ali fora é o Shin, certo?
*Suspiro*
Ela suspirou.
Olga esculpiu um sorriso destemido de bochecha a bochecha, como se tivesse se transformado em uma pessoa totalmente diferente.
— Como esperado de você. Como soube que era eu? O método de sedução foi muito típico de mim? Ou você se lembrou da sensação dos meus seios?
— Não! Eu suspeitei de você desde quando nos falamos pela primeira vez.
— A primeira vez que conversamos? Você quer dizer ao entrar no quarto?
— Quando nos encontramos no refeitório hoje mais cedo.
— …Isso é uma piada?
— Foi a primeira coisa que você disse, sabe? “Você é aquele a quem chamam de Penúltimo?”.
— Eu disse isso.
— Seu jeito de falar soou como se você não conhecesse meu rosto.
Com isso, Alice parecia ter percebido seu erro.
— Entendo. Olga lembra dos rostos de todas as pessoas e alunos talentosos. E você é um participante da Festa Noturna— Não há como a verdadeira Olga desconhecer seu rosto.
A aparência de Olga mostrando uma expressão irônica ficou turva e um rosto familiar surgiu no lugar dele.
Um cabelo prateado quase platinado. Seu corpo era um pouco mais fino que o de Olga.
Raishin olhou para os olhos de Alice e disse, sorrindo levemente,
— Eu tenho uma grande quantidade de reclamações que gostaria de fazer, mas antes de qualquer coisa, estou feliz que você esteja viva.
— …Eu mudei de ideia. Eu deveria ter morrido.
— Seu plano foi exposto. Sai de cima de mim agora
No meio de suas palavras
*Beijo*
Algo suave fechou os lábios de Raishin.
Alice devorou os lábios de Raishin como se estivesse brincando de mordê-los.
— O-o-o… o que você está fazendo!? Assim do nada!?
— Apesar de estar todo composto até momentos atrás, você realmente se sente abalado quando algo assim é feito com você.
Alice lambeu os lábios, rindo alegremente. Suas bochechas ligeiramente coradas eram verdadeiramente sensacionais.
— Eu também fiquei com vergonha. Foi realmente minha primeira vez beijando alguém.
— Vamos, saia de cima de mim! Eu vou te empurrar para fora do sofá!
— Sim, sim Você conseguiu fotografar, Shin?
Raishin se assustou e se levantou com um salto.
O criado estava parado em frente a porta. Ele tinha uma câmera em suas mãos.
— É claro. Eu tirei uma foto que a ojou-sama pervertida poderá usar para outras coisas.
— Certo, Shin. Você pode chorar mais tarde.
— Seu desgraçado! Não foda comigo!
Raishin tentou saltar sobre Shin. Porém
— Espere, Raishin. Do contrário eu vou gritar, certo?
Ao ouvir isso, ele não conseguiu mais se mover.
— Além da líder do dormitório e das estudantes— sua parceira fofa também ficará incomodada se isso for revelado, você não acha?
Ele começou a suar frio. Sim, havia uma homicida atrás da porta!
Alice riu tal qual um diabinho e fez Raishin se sentar ao seu lado.
— Vamos fazer isso pacificamente. Eu não estou exigindo que você vá contra seus princípios. Eu apenas quero que você atenda ao meu pedido.
— Eu recuso!
— Tem certeza? E se o filme daquela câmera for revelado imediatamente e mostrado a sua parceira?
— Não subestime minha parceira. Não tem como ela ser enganada por um truque como…
O mal-entendido que Yaya faria era tão claro quanto o dia.
No fim, Raishin fez uma grande concessão.
— Eu… eu não vou fazer exatamente o que você me disser para fazer, mas por enquanto vou escutar o que você tem a dizer.
— Sério, fácil assim?
Raishin estava desanimado. Pensando em tudo que já havia acontecido até então, uma resposta fácil assim era algo inédito.
— Eu gostaria que você ‘noivasse’ comigo.
Demorou vários segundos para ele entender o que ela havia acabado de dizer.
— …Noivar? Com você?
— Com a Olga Saladin. Embora eu diga isso, aquela que será sua esposa serei eu. Não há nenhuma condição ruim, certo? Tenho certeza que serei boa na cama, sabia?
— Não pense que serei seduzido por esse fator!
— É um fator importante. Além disso, eu não sou uma mulher chata. Mesmo se você manifestar os hábitos ruins de um maníaco sexual, fizer coisas ruins com outras mulheres e cometer 80% dos pecados capitais, eu ainda irei perdoá-lo.
— Eu não preciso do seu perdão! Quero dizer, não me trate como se eu fosse um maníaco sexual!
— O que você acha?
Ela o olhou nos olhos.
Quando ele ouviu a palavra “noivar”, a primeira coisa que veio a sua mente foi o rosto de Yaya.
Yaya, a versão na imaginação de Raishin, estrangulando-o com olhos negros como azeviche e—
Ele balançou a cabeça com medo e expulsou a imagem de Yaya de sua cabeça. Então, dessa vez, o rosto da noiva escolhida por seus pais surgiu em sua mente.
Um sorriso gracioso e gentil. Uma garota digna, linda, mas fria como um crisântemo branco de um vaso solitário. Uma imagem que correspondia perfeitamente à palavra Princesa.
“A Hinowa anseia pelo Raishin-sama. Este é um sentimento que jamais mudará ao longo de minha vida.”
Ela gentilmente tocou o peito de Raishin com a mão e disse essas palavras.
“Então, por favor dê a Hinowa um lugar no coração do Raishin-sama.”
Com isso, sua resolução foi acertada.
— Eu recuso.
— Ó, você tem certeza que irá me recusar?
— Eu não posso noivar com você, desculpe.
Alice recuou surpreendentemente sem resistência e se virou, afastando o rosto.
Gotas de lágrimas correram por seu rosto. Raishin ficou surpreso e confuso.
— Espere um pouco! O que é isso!?
— …Você é mau, Raishin. Como você pode ser tão frio e dizer isso de tal forma para uma garota que reuniu coragem o bastante para dizer “Quer casar comigo” para você?
Ela cobriu a boca e chorou, como se aquilo fosse algo impossível de se resistir.
— Ei, espere! Pare com esse choro falso! Você não reuniu nenhuma coragem! E, no seu caso, isso não é uma proposta de casamento, mas sim uma ameaça!
— Sim, eu acho que sim.
Alice virou a cabeça como se nada tivesse acontecido. Ela realmente estava fingindo chorar!
Em uma mudança completa, Alice mostrou um sorriso terrível ao encarar Raishin.
— Você pode me dar sua resposta amanhã. Pense no assunto durante a noite.
— …Eu não preciso de tempo.
— Não precisa ficar impaciente. Você já é meu. Para derrubar um general, você deve começar com o cavalo— exatamente como diz o provérbio oriental.
Ela piscou significantemente. Era vergonhoso, mas sua expressão facial era extremamente charmosa. Os olhos de Raishin acabaram sendo atraídos por seus lábios.
Ele lembrou da sensação de um momento atrás, e não conseguiu se conter. Raishin levantou-se apressadamente e saiu do quarto de Olga como se estivesse sendo expulso pela intenção assassina do criado.
Parte 5
Raishin, que deixou o dormitório feminino, permaneceu treinando voluntariamente por mais três horas na floresta que ficava perto do Dormitório Tartaruga. Então, quando já era tarde da noite, Yaya ficou irritada e o abordou.
— Caramba, Raishin! Você está ouvindo o que a Yaya está dizendo?
Ela bateu suavemente nas costas dele. Quando Raishin se inclinou,
— …Desculpe. Sobre o que você estava falando?
— Estou falando sobre quando o Raishin se esgueirou para o futon da Yaya e a pediu em casamento.
— Esse passado não existe! Não fique inventando coisas!
— Raishin… o que aconteceu com aquela megera?
Seus pensamentos imediatamente se voltaram para os lábios dela. Raishin negou de imediato.
— Nada… eu acho? Não há nada com o que você precise… se preocupar?
— Você está desviando o olhar
Quando questionado sobre isso, seu segredo foi revelado. Raishin concluiu seu treinamento e voltou ao dormitório.
Enquanto ele caminhava com um ritmo acelerado, seus pensamentos voltaram a conversa que teve com Alice.
“Você já é meu.”
O que isso queria dizer?
…Ele não conseguia se acalmar.
Algo estava para começar? Se algo estivesse para começar, então o que poderia ser…?
Enquanto ponderava, ele atravessou a floresta.
Sob a luz da lua, ele pôde ver o prédio antigo do Dormitório Tartaruga.
Diante da entrada, ele encontrou algo que não combinava com o restante do dormitório.
Uma garota. A essa hora da noite, uma garota de uniforme estava parada ali.
Por um momento, ele pensou que fosse Charl. Seus físicos eram muito similares e ela tinha um jovem dragão sobre o ombro.
Entretanto, as ondas de poder mágico eram completamente diferentes. E comparada a Charl, seu poder mágico era extremamente medíocre.
Graças a isso, ele sabia exatamente quem era. Tratava-se da irmã mais nova de Charl, Henri.
Usando aquele uniforme desde o começo do verão, ela estava se escondendo na escuridão ao lado da entrada. Era incomum ela vir aqui tão tarde. Raishin correu até ela rapidamente e a chamou em voz baixa.
— O que foi, Henri?
— Raishin-san! Hum, isso é terrível! Quando eu percebi, meu uniforme de empregada estava lavando, então eu vim correndo assim mesmo
— Acalme-se, Henri.
*Cutuca, cutuca*
Sigmund a aconselhou em voz baixa. Ele cutucou o braço de Henri com a boca.
— Vai ser mais rápido mostrar a ele do que tentar explicar.
— …Você está certo. Obrigada, Sigmund.
Henri gentilmente estendeu as mãos fechadas em forma de concha.
— Veja… a onee-sama está com problemas.
— O quê? A Charl está com problemas?
Seja lá qual fosse o problema, não havia sinais da presença de Charl. Sem entender, por hora Raishin apenas voltou seu olhar para as mãos de Henri.
Henri tinha um lenço envolvendo ambas as mãos.
Não, era mais preciso dizer que ela estava segurando o lenço, não que ele estava enrolado. Algo parecido com uma pequena boneca estava embrulhado naquele lenço azul índigo.
O que refletia lindamente e brilhava sob a luz da lua era— cabelo loiro.
— O que é isso? Uma fada…?
— Raishin! Isso é
Yaya notou primeiro e deixou escapar um gritinho.
— É a Charlotte-san!
— …Hum?
Raishin deixou escapar uma expressão confusa— e um instante depois, ele quase caiu para trás devido a surpresa.
O que estava nas mãos de Henri certamente era uma Charl do tamanho de uma boneca.