Arco 2: Primeiro Contato
Capítulo 22
História paralela: Uma série de pensamentos sobre o homem chamado Yuki
Tradução: Tinky Winky
Nunca achei uma tarefa simples descrever sucintamente o homem conhecido como Yuki. A aproximação mais apropriada é rotulá-lo de bizarro, pois o considero peculiar e incompreensível.
“Como é que Yuki está bem mesmo tendo acabado de cair do céu?” Evidentemente, a criança situada ao meu lado sentiu o mesmo. Ela também estava questionando a sanidade de suas ações.
“Uma excelente pergunta, jovem…” Fiz uma pausa por um momento para considerar a melhor maneira de responder a sua pergunta. Seria melhor para mim não atrapalhar o entendimento da garota sobre normalidade. “A causa é um pingente mágico que ele mantém em sua pessoa. Nega o impacto da queda.”
Eu momentaneamente direcionei meu olhar para a criança, a mais nova residente da masmorra, apenas para imediatamente voltá-la para o Lorde Demônio mais uma vez.
Testemunhar suas travessuras selvagens mais uma vez me lembrou das histórias que ele havia contado. Fiquei impressionada. Suas tramas eram tão bem tramadas que faziam meu coração palpitar de excitação de uma maneira imprópria para a minha idade. Sentia-me uma criança diante dos contos inéditos que ele nos apresentava, um após o outro.
Suas histórias não foram as únicas novas experiências que ele apresentou. Os itens que ele produziu e o conhecimento que demonstrou caíram no reino do desconhecido em muitas ocasiões. Eu estava apenas a um fio de cabelo de pensar que ele era sábio. Fui parada, no entanto, por sua completa e absoluta falta de bom senso. Ele muitas vezes não sabia o que mesmo eu achava óbvio. Sua riqueza de conhecimento parece descontínua, incongruente e incompatível.
E era justamente por isso que eu o achava misterioso. A princípio, suspeitei que a culpa fosse de sua origem. Ele nasceu recentemente neste mundo como um Lorde Demônio. No entanto, logo percebi que havia falhas em minhas suspeitas. Seu status como o mestre de uma masmorra não poderia ter refletido suas esquisitices. Ele age de uma maneira distinta de qualquer outro Lorde Demônio que eu já encontrei.
Não havia uma maneira simples de colocar o conceito em palavras. No entanto, pude concluir que as diferenças estavam em sua aura. Yuki tem uma presença que traz grande conforto, e é por isso que ele tem a capacidade de atrair outros indivíduos para o seu lado.
Eu tinha certeza de que a jovem ao meu lado sentira o mesmo, que ela se sentia atraída por ele porque intuitivamente entendia que ele tinha a capacidade de acalmar os corações daqueles que estavam ao seu redor. Atrevo-me a dizer que sua capacidade de deixar os que o cercam à vontade é semelhante a um feitiço mágico.
Embora eu não tivesse uma resposta definitiva, suspeitava que a chave estava em sua personalidade. Yuki é irrestrito. Ele não esconde suas emoções e fala com uma franqueza quase inocente em sua expressão. É estranho. Ele dá e não dá a impressão de que é capaz de administrar seus negócios e cuidar de seu próprio bem-estar. Na verdade, não consigo compreendê-lo. Mas, infelizmente, mesmo esse tipo de descrição elaborada falha em capturar toda a essência do homem conhecido como Yuki. Só posso concluir que ele difere de qualquer outro.
Passei muitos dos séculos passados suportando uma onda de tédio. Não havia nada para eu fazer. O mesmo não se pode dizer da época anterior. O mundo estava cheio de conflitos e inquietações. Muitos imbecis sem sentido tentaram desafiar meu poder. Descobri que envolvê-los em combate era a maneira perfeita de matar o tempo e, assim, lutei. Lutei, lutei e continuei lutando até que um dia me vi apelidada de Dragão Supremo. E foi aí que as brasas do conflito queimaram até o fim. Todos aqueles que me confrontaram estavam cheios de medo do meu título. Os desafiantes começaram a definhar. Até meus companheiros dragões se prostraram diante de mim apesar de terem nascido neste mundo como sua raça mais poderosa.
Tornei-me um avatar do terror.
Yuki era diferente. No início, ele também ficou impressionado com a diferença em nossos pontos fortes. No entanto, ele logo abaixou a guarda e começou a agir de uma maneira que eu só poderia descrever como descarada. Não demorou muito para ele começar a refutar minha vontade. Fiquei chocada. Ele foi o primeiro com quem eu já tive uma discussão verbal. E até hoje não sei se ele não conhece o medo ou se simplesmente o superou.
Yuki foi o primeiro a me ver não como o Dragão Supremo, mas como um indivíduo. Como Leficios. Não posso negar que o acho agradável.
Ele foi o primeiro e único a me dar conforto com sua mera presença. Não sei quando meu tempo com ele terminará… mas desejo muito continuar mergulhando no conforto que ele me traz. Pelo menos por um pouco mais.