Arco 2: Primeiro Contato
Capítulo 26
Conflito em Alfyro
Tradução: Tinky Winky
“Ugh…” O governador de Alfyro gemeu ao acordar com o som de alguém batendo em sua porta. “O que há com todo esse barulho?”
“Governador Raylow! Você está acordado?! Temos uma situação terrível em nossas mãos!” Uma voz familiar chamou Raylow do outro lado da porta. Pertencia a um de seus subordinados, um magistrado a seu serviço.
“O que é desta vez? Estamos sob ataque? É um grupo de monstros?” O senhor feudal pressionou a mão contra o rosto enquanto se sentava lentamente.
“É exatamente isso! Um bando de cem foi visto voando em nossa direção. Eles parecem estar vindo da Floresta Malvada!”
As palavras do magistrado fizeram os olhos de Raylow se abrirem; toda a sua sonolência foi instantaneamente dissipada.
“Tsk.” O governador estalou a língua em aborrecimento. “Então, finalmente está acontecendo. Você disse que os monstros estavam no ar? Eles são wyverns?”
“Não senhor.” O magistrado hesitou e respirou fundo antes de continuar seu relatório. “Os homens usaram o Cristal de Observação para confirmar a identidade de nossos agressores. Eles eram Dragões Completos.”
“O que!?” Raylow ficou tão chocado com a revelação que seu queixo caiu ao máximo.
O termo Dragões Completos se referia a um membro da Raça Dragão que atingiu a idade adulta. Em outras palavras, era um descritor geral para as criaturas mais poderosas do mundo. Cada Dragão Completo era tão poderoso que precisaria de um grupo inteiro de aventureiros de classificação adamantite, literalmente exércitos de um homem só, para derrubá-lo. E havia uma centena inteira se aproximando da cidade.
Era literalmente o pior cenário possível que Raylow poderia imaginar, um que levaria à destruição não apenas de sua cidade, mas de todo o seu país se ele não conseguisse resolvê-lo.
“Levante os guardas e todos os aventureiros que temos de prontidão. Faça com que eles se reúnam e se preparem para o combate imediatamente. Informe o público sobre a emergência e faça com que os cidadãos evacuem imediatamente!”
O magistrado saiu correndo da sala do governador e começou a executar suas instruções o mais rápido que pôde. Não demorou muito para que toda a mansão seguisse o exemplo.
Como o resto de seus funcionários, o governador foi direto ao trabalho. Ele saiu da cama, vestiu uma roupa simples e larga e foi direto para seu escritório.
Raylow sabia que algo estava prestes a acontecer. Ele havia recebido relatórios informando sobre as anormalidades dentro da Floresta Malvada. E assim, ele aumentou o número de combatentes a seu serviço. Mas, mesmo com suas forças reforçadas, ele duvidava que provassem ser de alguma utilidade contra uma centena de dragões.
Mas ainda assim, ele esperava. Ele esperava que eles pudessem pelo menos aguentar até que ele evacuasse seu povo.
Ele sabia muito bem que esta noite provavelmente seria a última. E, no entanto, ele correu para seu escritório. Para assumir o comando. E para desempenhar o papel do trágico herói, se necessário.
A ninhada dracônica voou pelo céu iluminado pela lua. Contrariamente às minhas expectativas, suas fileiras eram ordenadas. A coordenação deles era tão perfeita que fiquei tentado a pensar que todos trabalhavam sob uma única consciência, que eram todos partes do todo.
Os dragões seguiram as ordens de Lefi ao pé da letra. Fiquei impressionado com o quão forte ela é sobre eles, mesmo que fosse porque eles estavam desproporcionalmente aterrorizados com ela. Embora cada criatura presente fosse poderosa por direito próprio, eles não eram nada diante do membro mais forte de sua espécie. A disparidade entre ela e eles era tão alta que ela poderia acabar com qualquer um deles em um instante. E por essa razão, ninguém se atreveu a desafiá-la. O pensamento provavelmente nem passou pela cabeça deles. Esse era exatamente o tipo de mundo que este era. Força era tudo; fazia pouco sentido que os fracos desobedecessem aos obscenamente poderosos.
Abaixo de nós estava Rir. A velocidade do lobo era ímpia. Ele não teve problemas para acompanhar os dragões, apesar de ter que atravessar o terreno.
“Aí está!” Eu gritei quando avistei o assentamento humano, a cidade, ao longe. Ainda estava muito longe. Eu nunca teria sido capaz de vê-la de tão longe se meus olhos fossem como eram enquanto eu ainda era humano.
Cercando a cidade havia uma sólida muralha externa. Um baluarte. O assentamento em si era bastante grande. Era muito maior do que a pequena cidade que eu esperava ver. E embora fosse no meio da noite, ainda estava fervilhando de atividade. Grande parte da cidade estava iluminada, e as pessoas pareciam estar se movendo com pressa pelas ruas. Fora de seus muros havia uma divisão de guardas totalmente armados. Ainda estávamos a uma boa distância, mas eles já tinham nos visto chegando. Eles provavelmente têm algum tipo de item que permite que eles nos vejam ou nos detectem.
De qualquer forma, me vi cara a cara com uma cidade de outro mundo. Cara, eu realmente gostaria de visitar este lugar de alguma outra forma. Tipo, você sabe, sem um exército de dragões a reboque.
“Yuki.” Lefi, que estava na frente da formação, saiu dela para se alinhar ao meu lado. Ela ainda estava em sua forma humanóide, apesar da variação em que ela tinha asas.
“Sim?”
“Eu tenho pouca escolha a não ser admitir que não seria sábio para mim liberar meu poder sobre este acordo. Illuna provavelmente pereceria se eu a derrubasse no chão. Você terá que recuperar a senhorita você mesmo.”
“Entendi. Mas é melhor você se certificar de manter os dragões sob controle enquanto eu estiver lá embaixo, ok?
“Essas eram precisamente minhas intenções o tempo todo.”
Atravessamos os muros da cidade quando Lefi respondeu, então, depois de acenar para ela, eu prontamente dobrei minhas asas e desci sobre a cidade, desviando de quaisquer flechas e feitiços disparados ao acaso em minha direção.
Houve um baque alto acompanhado por uma nuvem de poeira quando aterrissei. A força do impacto percorreu todo o meu corpo, mas não me importei. Rir logo seguiu. Ele destruiu os muros da cidade com facilidade e correu pelos telhados até finalmente chegar ao meu lado.
“Você pode sentir o cheiro dela, Rir!?”
O lobo rosnou em afirmação enquanto virava a cabeça para o outro lado da parede que acabamos de romper.
“Perfeito. Lidere o caminho!” Eu envolvi meu braço ao redor de seu pescoço e pulei em suas costas em um movimento único e fluido. Depois de garantir que eu estava seguro, o lobo disparou a toda velocidade. Homens armados, os guardas da cidade, passaram por nós enquanto nos movíamos, mas não lhes demos atenção.
O objetivo deles era investigar o local em que eu aterrissei.
E o nosso era salvar Illuna.
Isso foi tudo.
Não fazia sentido eliminá-los ou contestá-los.
Levou apenas alguns minutos para Rir pular pelos telhados para rastrear o cheiro de Illuna até sua fonte.
Nós dois nos encontramos na frente de uma propriedade que era significativamente maior do que as que a cercavam. Ficou claro que quem possuía tinha mais do que seu quinhão de influência.
Estamos finalmente aqui. Fechei os olhos em uma tentativa de suprimir minha raiva. Aqui… é onde esses senhores de merda do tráfico de crianças dirigem suas operações.
Mas eu não podia.
Um grito feroz escapou dos meus lábios quando pulei das costas de Rir. Eu puxei minha espada larga no ar e a esmaguei na entrada do prédio. A frágil porta da frente foi arrancada pela força do ataque, completamente destruída.
“Porra!?”
“Merda! O que diabos foi isso, e quem diabos é você!?”
Dois dos homens de aparência grosseira gritaram de surpresa com minha entrada repentina, mas eu os ignorei e olhei ao redor. O local em que eu havia entrado parecia ser o interior de algum tipo de loja. Cara, quem fez o design de interiores por aqui tem um caso sério de gosto de merda.
As paredes, móveis e decorações pareciam uma porcaria total. Mas o pior de tudo era o lustre estúpido e espalhafatoso situado ao lado da grande escadaria que levava ao segundo andar. Era o tipo de coisa que você só veria em um prédio de propriedade de um membro do nouveau riche.
Aparentemente, eu peguei os homens no meio de sua fuga – ou pelo menos seus preparativos para isso. Eles eram obviamente rufiões. Se suas aparências não eram suficientes para revelar isso, então suas ações eram. Eles estavam arrastando uma série de correntes, cada uma ligada a uma jovem donzela com um colar metálico de aparência desconfortável em volta do pescoço.
E embora Illuna não estivesse entre elas, a cena foi uma que me irritou muito. Era tão irritante, na verdade, que me levou a ranger os dentes em frustração. Primeiro, você sequestra Illuna. E agora, você me mostra isso. Foda-se. Fodam-se todos vocês. O quanto vocês chupadores de pau planejam me irritar?
“Faça isso! Agora!” Um dos homens, um suposto líder, deu a seus lacaios uma ordem vaga. E embora eu não soubesse como seus negócios funcionavam, eu entendia tão bem quanto qualquer outra pessoa que ele lhes disse para atacar porque ele me julgou uma ameaça à operação.
Alguns dos subalternos empurraram violentamente as meninas escravizadas para outra sala, enquanto o resto sacava suas armas e me atacava de uma só vez. Bem, suponho que não há muito mal em acabar com um ou dois bandidos.
O homem mais próximo levantou sua arma acima de sua cabeça e saltou direto para mim. Ele estava um pouco à frente de seus companheiros, e com certeza seria creditado pela morte se seu ataque aterrissasse. Palavra-chave: se. Eu retaliei antes que ele pudesse baixar os braços. Eu casualmente levantei minha espada larga com um braço e dei um golpe indiferente.
Senti tanto a sensação de rasgar a carne quanto a sensação de destruir os ossos enquanto cortava o lamentável pedaço de carne que ligava o crânio aos ombros.
Seu sangue espirrou em tudo próximo. E, claro, eu não fui exceção. Um pouco de vermelho acabou sujando meu rosto quando a cabeça do homem rolou no chão.
Embora os homens continuassem a gritar com raiva para mim, ver um de seus aliados cair imediatamente os fez vacilar. Eles só ficaram intimidados por um instante, mas isso foi mais do que suficiente para criar a abertura que eu precisava. Corri direto para suas fileiras enquanto balançava minha arma com toda a força que pude reunir.
Um bom número de comerciantes de escravos conseguiu levantar suas armas a tempo de pegar minha lâmina. Mas não importava. Tanto os que sacaram quanto os que não foram vítimas do ataque, com a única diferença de que o primeiro dos dois grupos acabou sendo esmagado contra as paredes da sala, enquanto o último teve o torso separado das pernas.
A habilidade da espada larga de realizar a façanha exata que eu havia acabado de demonstrar foi a razão pela qual eu a escolhi em vez de suas alternativas. Minha força bruta monstruosa me permitiu dominar meus inimigos, independentemente de eu ter ou não dominado as técnicas correspondentes.
“Morra!”
Um dos homens, o único perto de mim que reagiu saindo do meu alcance, correu para mim e tentou me dividir em dois. Seu timing foi bom. Mas eu não estava sozinho. O Fenrir a quem eu havia confiado minhas costas correu até o homem e o golpeou no peito com uma de suas patas dianteiras. Tão rápido foi o lobo que não permitiu ao homem a chance de reagir.
Incapaz de resistir ao ataque, o peito do verme cedeu. Suas costelas perfuraram os órgãos em seu peito e instantaneamente acabaram com sua vida.
“Porra!” O homem que parecia estar no comando amaldiçoou. “Esse idiota é um domador! Pegue a coisa! Agora!”
Um grupo de grunhidos respondeu às ordens correndo rapidamente para dentro do prédio e retornando com o que parecia ser um cristal. Eles ativaram o item magicamente aprimorado e fizeram com que ele começasse a emitir luz.
Rir pareceu sofrer de um súbito momento de desorientação. Suas pernas vacilaram, mas ele se afastou e se firmou imediatamente depois. A expressão do lobo, no entanto, confirmou que ele ainda estava sentindo uma sensação de desconforto.
“Você está bem?” Eu perguntei.
O monstro acenou afirmativamente, mas eu duvidava muito que ele estivesse dizendo a verdade. Eu poderia dizer que ele não estava de volta ao seu melhor.
Virei meus olhos para o item e o analisei.
Cristal da Obstrução: Esta ferramenta magicamente aprimorada desorienta os monstros, interrompendo o fluxo de energia mágica dentro de seus corpos, entorpecendo seus movimentos. O alcance deste efeito é proporcional à força do monstro que está afetando. Rank: B+
Oh. Então é por isso que esses retardados fracos conseguiram entrar tão fundo na floresta. Saber o que aconteceu com Illuna me deixou com muitas dúvidas e perguntas sem resposta. Eu sabia que os humanos consideravam a floresta um território inexplorado. Entrar não era diferente de jogar a vida toda. No entanto, houve um par corajoso o suficiente para perseguir Illuna até as profundezas.
Não havia como uma única jovem valer tanto para um traficante de escravos. Foi por isso que eu tinha assumido que os humanos eram ridiculamente poderosos, o que nunca pareceu certo. E descobriu-se que minhas suspeitas estavam corretas. Os humanos não eram poderosos. Eles só chegaram até onde conseguiram por causa das ferramentas que empunhavam. O que significa que não terei problemas em massacrar o resto.
Minhas emoções devem ter mostrado no meu rosto, já que o homem no comando só ficou mais irritado enquanto olhava para mim. Ele não se incomodou em esconder seu aborrecimento enquanto continuava cuspindo suas ordens.
“Ignore a porra do sorriso no rosto daquele idiota! Ele está apenas blefando! Todos nós sabemos que domadores não valem nada quando seus monstros estão caídos, e nós temos muito mais homens do que ele pode lidar! Cerquem-o e mate-o!”
Que porra de retardados. Eles não me viram rasgar um monte deles sozinho? Ou seus cérebros são tão disfuncionais que eles ainda precisam processar?
“Eu vou ficar bem, Rir. Sente-se firme e deixe-me lidar com isso.” Rir tentou entrar na minha frente, embora ele claramente não estivesse indo muito bem, então eu falei com ele antes de me virar para os traficantes de escravos e lançar um feitiço.
“O que!?” O chefe gritou em choque ao testemunhar o ataque mágico. O ataque preciso que escolhi foi o usual, aquele que criava dragões com jatos de água.
“Desapareçam.”
Os pseudodragãos quase pareciam soltar rugidos alegres enquanto faziam arcos no ar, abriam suas bocas e engoliam os rufiões inteiros. Embora tentassem lutar, os humanos eram incapazes de escapar. Não havia nada que eles pudessem fazer a não ser se afogar enquanto as correntes de alta velocidade os rasgavam em pedaços de sangue e carne.
Quando os dragões se foram, eles também.
A sala cheia de grunhidos foi reduzida a uma verdadeira paisagem infernal. Cadáveres estavam espalhados em pilhas, e as entranhas estavam espalhadas por toda parte. Tudo, desde o chão até o teto, até todos os móveis que jaziam, era tingido de um tom profundo de carmesim.
E não senti nada. Olhar para a destruição gratuita que eu causei não me encheu de culpa. O fato de eu ter matado não apenas um, mas todo um grupo de seres humanos parecia exatamente isso: apenas um fato. Eu não conseguia me importar com as ramificações morais de minhas ações. Foi justamente essa falta de reação que me levou a entender que realmente havia perdido minha humanidade.
“Bem…” Eu suspirei enquanto esmagava o cristal encantado com minha espada larga. “Isso é conveniente, eu acho.”
Parecia que eu não teria que me preocupar em hesitar enquanto entregava a esses bandidos suas passagens de ida para o inferno.
“Ei Rir, onde está Illuna?”
O lobo rosnou se desculpando. O cheiro de sangue era muito forte para ele discernir sua localização exata. Ah bem. Isso é bom também, eu acho. Tudo o que isso significa é que eu tenho que sair por aí matando todos que eu encontrar até que eles derramem o feijão. Tenho certeza de que eventualmente encontrarei alguém que sabe onde ela está.
