Arco 2: Primeiro Contato
Capítulo 32
Reformando a Masmorra (Parte 2)
Tradução: Tinky Winky
Lefi, que tinha assumido que ela poderia me vencer em uma batalha de inteligência, furiosamente pisoteou enquanto eu infantilmente a demolia em um jogo de trunfo. Seu destino era óbvio – ela estava indo direto para a cama para que pudesse ficar deitada e amuada. Isso, por sua vez, me deixou com o tempo e o espaço necessários para retornar ao meu objetivo: reformar a masmorra.
Para começar, saí da sala do trono e entrei na caverna. Eu então me virei de tal forma que estava de frente para a porta que levava de volta para dentro enquanto deslizava um dedo pelo ar e brincava com o menu.
Era hora de adicionar outro andar. Mais especificamente, eu queria uma pradaria bonita e plana; um pedaço de terra cheio de nada além de grama. E embora a criação de uma enorme planície no meio de uma caverna não parecesse possível por qualquer extensão da imaginação, era. Os poderes misteriosos da masmorra tornaram isso uma tarefa simples, desde que eu tivesse uma quantidade suficiente de DP.
Claro, eu não tinha intenção de apenas jogar uma pradaria aleatória no meio da masmorra e encerrar o dia. O plano era apenas começar com uma pradaria e trabalhar meu caminho até algo muito mais grandioso. Tudo o que eu tinha que fazer era manipular o chão através da infinidade de opções e personalizações que o sistema da masmorra oferecia. (NT: Uma pradaria ou relvado é uma planície vasta e aberta onde não há sinal de árvores nem arbustos, com capim baixo em abundância.)
Com isso em mente, gastei uma quantidade não desprezível de DP e dei vida ao campo gramado.
“Uau…” Pisquei algumas vezes enquanto olhava pela porta. “Na verdade funcionou.”
Diante de mim estava o item exato oferecido pelo menu da masmorra, uma pradaria plana que se estendia até onde a vista alcançava. Contemplando-o imediatamente, lembrei-me do que tinha visto dos Alpes Japoneses. As duas cenas contrastaram tanto uma com a outra que podem muito bem ter sido pólos opostos.
Uma das partes mais misteriosas da alteração foi que a porta permaneceu inalterada. Parecia exatamente como tinha alguns segundos atrás, apesar de agora levar a um lugar totalmente diferente.
Atravessando a porta, fui recebido por verde e azul. A vegetação exuberante que enchia o campo quase parecia brilhar ao ser iluminada pela luz do sol. Eu ainda estava tecnicamente dentro de uma caverna. No entanto, tudo o que vi quando direcionei meu olhar para cima foi um céu azul claro – uma visão tão impossível quanto a brisa suave que me abraçou e fez a grama esvoaçar.
A única perturbação, a única parte da cena que não era céu ou grama, era uma única porta de aparência não natural, sozinha ao longe. A porta que dava para a sala do trono. Isso é meio tarde, visto que eu já fiz um monte de merda com isso, mas caramba, a masmorra com certeza pode fazer muita merda. Como tudo isso funciona afinal?
Não consegui encontrar uma resposta para minha pergunta, então redirecionei minha atenção para outro lugar e comecei a vagar em direção à porta discreta. Depois de alcançá-lo, dei um giro na maçaneta e entrei para confirmar que a sala do trono estava realmente do outro lado.
Percebi que Illuna e as duas empregadas me lançam olhares curiosos com o canto do olho, mas não prestei muita atenção a elas quando voltei para fora e circulei atrás da porta para confirmar que realmente não havia nada do outro lado. Minha expressão de incredulidade era tão primitiva que quase me senti como um macaco no meio de ser apresentado ao conceito de espelho. Até onde vai essa pradaria, afinal? Quase parece um mundo inteiro próprio.
Movido pela curiosidade, passei um pouco de tempo investigando. Andei e voei até que finalmente entendi o tamanho do meu novo domínio. Com o portão da sala do trono como ponto central, eram cerca de cinco quilômetros em qualquer direção, exceto para cima. Tinha apenas cerca de mil metros de altura. Os limites eram delimitados por um conjunto de paredes invisíveis, muito parecidas com os volumes de bloqueio que apareciam nos videogames. Na verdade, eu tinha batido minha cabeça no teto invisível enquanto voava. Não doeu, mas me deixou bastante assustado.
Em suma, eu tinha que dizer que valeu a pena o belo centavo que me custou. A área era maior do que eu esperava, e eu poderia expandi-la à vontade com o pressionar de um botão, caso sentisse que estava começando a ficar um pouco apertado. Ah sim, falando do menu…
Comecei a manipular a interface do usuário da masmorra. Especificamente, comecei a vasculhar o menu que me permitia personalizar meu piso recém-adicionado. É um pouco sem graça, então vou adicionar um rio para torná-lo menos chato. Poderia muito bem jogar algumas montanhas ao longe enquanto estou nisso. Oh, tem que haver uma ponte se houver um rio. E eu também quero algumas flores de cerejeira, então vou jogar uma árvore. Eu gosto de algumas flores de cerejeira. Hmmm… olhando para tudo isso me dá vontade de colocar um belo edifício de estilo japonês. Ah, e se eu colocar uma daquelas pousadas tradicionais? Sabe, um bom e velho ryokan japonês. Estou fazendo um ryokan, então nem é preciso dizer que vou precisar de uma fonte termal. Provavelmente deve torná-lo um bom e luxuoso banho ao ar livre enquanto estou nisso. Ah, e não posso esquecer do jardim. E a lagoa. E as carpas que vão na lagoa. Lembro-me de vê-los em algum lugar no menu para monstros. Tenho certeza que eles não pertencem lá, mas tanto faz. De qualquer forma, a seguir, vou precisar adicionar…
E assim, acabei com uma bela pousada à beira do rio. O interior era expressivo dos gostos japoneses tradicionais e antiquados. Exalava uma aura de refinamento, e apenas entrar no espaço era o suficiente para me encher de nostalgia. Subir até a varanda me permitiu contemplar a bela cerejeira que montei e o lago ao lado.
Foi uma visão calmante, que deixou meu coração à vontade. Olhando além dos limites do ryokan havia uma grande planície gramada que se estendia até onde a vista alcançava. E, ao longe, havia uma cadeia de montanhas escarpadas.
Depois de finalmente me acalmar, me encontrei em frente a uma pousada de alta classe que apresentava uma fonte termal. A cena ao redor era tão lindamente construída que eu tinha certeza de que daria uma bela obra de arte.
A atmosfera ao redor da pousada era calorosa e amigável, o completo oposto do castelo solene que eu tinha originalmente planejado fazer. Dito isto, eu não estava reclamando. Eu não tinha planejado construir o castelo imediatamente após adquirir as planícies. Além disso, todo esse ambiente agradável? Sim, isso foi totalmente planejado. Sim. Eu totalmente não me precipitei acidentalmente e comecei a adicionar merda aleatoriamente sem pensar porque me deixei levar. Nada desse DP foi desperdiçado. Nenhum. Não. Tudo. Quero dizer, basta olhar para esta coisa. É lindo. É claramente apenas uma extensão da minha mente maravilhosa e artística. É tudo menos natural, dado que eu sou o Lorde Demônio da Criatividade. Mhm. Sim. Tudo planejado. Este é totalmente apenas mais um passo importante que alguém precisa dar para se tornar um verdadeiro lorde demônio. Mwahahahaha!
Ok sim não. Nem eu sei mais sobre o que estou tagarelando.
“O almoço está pronto, Mestre!” Lyuuin enfiou a cabeça pela porta enquanto tentava chamar minha atenção. “Espere um segundo! Onde diabos estou!? O que aconteceu com a caverna e de onde veio essa casa!?”
Eu já sabia que eventualmente seria chamado para pedir comida, então construí a pousada bem ao lado da porta que dava para a sala do trono. Para esse fim, foi a primeira coisa que Lyuuin, que estava meio em pânico, viu.
Uma parte de mim suspeitava que adicionar um piso tornaria a viagem entre a caverna e a sala do trono muito mais dolorosa do que precisava ser, mas acabou que não era o caso. A porta era muito parecida com a de O Castelo Animado (Howl’s Moving Castle). Eu poderia mudar seu destino ao abri-lo. Na verdade, qualquer um que fosse afiliado à masmorra era capaz de usar esse recurso exato, o que significava que Illuna poderia fazer o mesmo. Infelizmente, Lefi, Lyuuin e Leila ainda eram tratadas como intrusas, então teriam que suportar o inconveniente. Ah bem. Isso meio que não pode ser mudado.
“Ah, ei Lyuu. Me dê um segundo, eu já vou.”
Fiquei muito feliz por ter as empregadas ao meu serviço. Eu sempre fui responsável por fazer nossas refeições, mas agora que Leila estava por perto, eu não precisava mais me incomodar. Ela era uma ótima cozinheira; ela de alguma forma conseguiu aprender a fazer comida da terra em um piscar de olhos. Vê-la em ação me lembrou que as garotas eram muito melhores cozinhando do que os garotos. Elas eram mais naturalmente inclinadas a serem boas nisso.
Enquanto Leila era excelente, o mesmo não podia ser dito de Lyuu. Bem… ela está tentando, tão bom o suficiente, eu acho…
“Huh? Espere, você não vai explicar como tudo isso aconteceu!?” Lyuu caminhou até mim enquanto continuava a olhar ao redor da pradaria maravilhada.
“Uhhh… Vamos apenas dizer que é porque os lordes demônios têm poderes misteriosos.”
“Desculpe mestre, mas eu não estou entendendo.”
Sim, imaginei.
“Para ser honesto, eu realmente não entendo muito bem. A única coisa que posso realmente dizer é que é possível porque é,” eu disse com um encolher de ombros. “De qualquer forma, você já se acostumou a viver aqui?”
Eu bati em Lyuu com o clássico 1-2: dando a ela uma resposta vaga e expressando uma pergunta minha.
“Hmmmm…” Ela parou por um momento. “Bem, para ser honesta, o fato de eu estar aqui meio que me faz sentir muito estranha. Eu pensei que minha vida estava totalmente acabada quando fui transformada em escrava, mas agora consegui um emprego de novo e estou trabalhando como se nada tivesse acontecido.
“Sim, eu entendo,” eu ri. “A vida é cheia de todo tipo de surpresas.”
Caso em questão, sinceramente. Eu literalmente vim de outro mundo. Eu diria que é uma surpresa tão grande quanto as surpresas.
“Mas estou feliz por estar aqui”, disse Lyuu. “A comida é boa, minha cama é muito confortável e há todo tipo de coisa interessante ao meu redor. O melhor de tudo é que este lugar é a casa de Lorde Fluffrir! Ah sim, isso me lembra, Mestre, por acaso você sabe quando Lorde Fluffrir fará sua próxima visita?”
“Uhh… não sei. Ele é tão evasivo como um fantasma. Ele vem e vai quando quer,” eu respondi em tom monótono.
“Por que você está parecendo tão inexpressivo de repente?”
Ao contrário de mim, Lyuu não percebeu que Rir achava que lidar com ela era uma tarefa bastante difícil. Ele só não tinha certeza de como deveria agir, já que ela o colocou em um pedestal. Na verdade, ele está praticamente evitando este lugar como uma praga. Duvido que ele apareça tão cedo, a menos que eu peça.
“Pare de tagarelar e venha para a mesa imediatamente! Nossa refeição vai esfriar se você demorar um pouco… Lefi congelou momentaneamente quando ela saiu da sala do trono. “Uma pradaria? Que bizarro. Vejo que você está aprontando mais uma de suas estranhas travessuras, Yuki.”
“O que significa palhaçadas estranhas!? Isso é rude. Eu estava claramente criando algo que fará essa masmorra crescer ainda mais.”
“Não importa o que você pretenda,” ela encolheu os ombros. “Em ambos os casos, seria melhor se você voltasse, a menos que deseje que devoremos suas porções.”
“Fiiiiin…”
Lyuu e eu oferecemos uma resposta sincronizada e letárgica antes de seguir lentamente Lefi de volta à sala do trono.
