Dentro da biblioteca de Avrion, bem longe dos olhos curiosos dos outros, Ray e Gary estavam sentados numa mesa, um de frente pro outro.
Ray estava absorvendo todas as informações que Gary tinha acabado de contar a ele. Quando eles desceram para a área da porta vermelha juntos antes, Ray só foi capaz de abrir a porta de aço gigante por causa do sistema. Se o que Gary estava dizendo sobre o Ser Divino era verdade, isso significava que tudo estava de alguma forma ligado a ele?
Nesse caso, Ray não tinha certeza sobre como envolver outras pessoas em suas coisas. Ian já havia morrido e o caminho de Ray seria sangrento.
“Por que você precisa tanto ver o Ser Divino?” Perguntou Ray.
Gary respondeu quase instantaneamente.
“Poder. Assim como os fundadores ganharam habilidades especiais, se encontrarmos o Ser Divino, nós também podemos ficar mais fortes.”
Era disso que Ray tinha medo. Foi bom buscar poder para seu objetivo. O próprio Ray estava fazendo exatamente isso, mas Ray nunca teve tanta fome de poder a ponto de confiar em poder dos outros em vez do seu próprio. Quando ele aprendeu que não podia usar magia, ele decidiu se concentrar em suas habilidades de luta.
Por acaso, ele foi capaz de topar com o sistema durante o caminho e ganhar enormes progresso em termos de força. Claro, Ray usaria isso a seu favor, mas o sistema não era uma coisa unilateral em primeiro lugar. Ele o recompensou com base em suas realizações e se Ray nunca tivesse encontrado algo como o sistema, ele teria se treinado e se tornado forte com o próprio esforço físico.
Gary percebeu que Ray estava calado por algum motivo e continuou a falar, pois achava que Ray só precisava de um empurrãozinho pra ser convencido.
“Você sabe, Ray, que Reino Alure é o mais fraco dos seis reinos, e nem precisamos citar o Império” – disse Gary. “Depois que os Cavaleiros Dragão desapareceram, os outros reinos começaram a nos intimidar em negociações. Isso fez com que a pobreza se espalhasse por todo o Reino. E ainda, por causa de onde nosso reino está localizado, fomos forçados a lutar na linha de frente com a Praga das Sombras, fazendo com que nosso povo sofra ainda mais.”
O que Gary estava dizendo a ele agora foi ensinado a todos os Cavaleiros ainda na escola antes de chegar à Academia. Ray nunca se preocupou em ver essas coisas com tantos detalhes. Quando ele era um Dragão, o continente parecia apenas um pedaço de terra para ele. Ele não tinha ideia sobre fronteiras ou algo assim.
“Éramos praticamente todos intimidados pela Guilda das Trevas e quando a notícia se espalhou para os outros reinos, eles riram de nós por sermos fracos” – disse Gary enquanto cerrava o punho. “Já falei com Monk e Jasmine e eles querem vir também. Eles sabem que algo está errado com a Academia Avrion. Quando vim para cá, pensei que poderia mudar o reino e ajudar minha família. Agora posso ver que é impossível do jeito que estou agora.”
De repente, uma voz foi ouvida ao lado.
“Eu concordo, algo precisa mudar.”
Gary levantou a cabeça para ver quem estava ouvindo a conversa. Quando o fez, ficou surpreso ao ver que não era apenas uma pessoa, mas sim um grupo de pessoas.
Ray os notou há muito tempo, mas assim que descobriu quem eles eram, pensou que não havia razão para fazer um escândalo.
“Slyvia e… o que diabos todos vocês estão fazendo aqui?” Gary disse.
De trás de uma das prateleiras da biblioteca saiu Slyvia, mas ela não estava sozinha. De pé ao lado dela estavam Martha, Kyle e Dan e atrás de todos eles estava Monk, que estava se escondendo atrás de Martha como uma criança que fez algo ruim.
Claro, Gary viu Monk e imediatamente soube o que havia acontecido.
“Você!” Gary apontou para Monk: “Você disse a eles!”
“Eu não pude evitar. Foi Martha… ela me chantageou. Ela estava falando sobre como os casais não devem manter segredos um do outro!”
De repente, toda a sala ficou em silêncio. Quando todos se viraram para olhar para Monk e Martha. O rosto de Monk de repente ficou vermelho brilhante, pois ele não podia acreditar que deixou escapar o único segredo que conseguiu manter por tanto tempo.
Martha suspirou.
“Não é como se fossemos manter isso em segredo para sempre. Bem, agora todos vocês sabem.”
Slyvia então deu um passo à frente.
“Eu quero que você nos leve com você. Todos nós sabemos que algo estranho está acontecendo nesta Academia e…” Antes que Slyvia pudesse terminar sua próxima frase, as lágrimas começaram a se formar em seus olhos. Mas ela engoliu o nó na garganta e continuou. “E eu não quero perder outro companheiro, nunca mais.”
Ray olhou para todos os outros. Ray havia prometido a si mesmo na arena que protegeria seus amigos, mas Ray sabia que estava seguindo por um caminho perigoso. Ele achava que a melhor maneira de protegê-los seria não envolvê-los em seus problemas, mas agora ele sentia que, de alguma forma, eles iriam se envolver por si mesmos de uma forma ou de outra.
“Muito bem, devemos ir juntos como um grupo, mas somente quando eu disser. Claro, nenhuma palavra disso para ninguém e isso inclui os Mestres Cavaleiros.”
Todos concordaram e então eles voltaram para os quartos do dormitório juntos. Enquanto caminhavam pelas ruas, Ray parou de repente.
“Parece que esqueci algo na biblioteca. Vocês vão em frente sem mim” – disse Ray enquanto corria de volta para a biblioteca.
Durante toda a conversa com Gary, Ray teve uma sensação estranha. Parecia que ele estava sendo observado. Foi a razão pela qual ele ativou seus olhos de Dragão. Foi assim que ele viu que era Slyvia e os outros, ele pareceu se acalmar um pouco depois que eles se revelaram. Mas mesmo depois disso Ray ainda não conseguia se livrar da sensação de que alguém estava ouvindo toda a conversa.
Assim que Ray saiu da biblioteca, a sensação parecia ter desaparecido. Ray decidiu voltar à biblioteca para ver se conseguia encontrar vestígios de alguém ou se ainda sentia a presença de alguém olhando para ele. Ray procurou e procurou, mas não conseguiu encontrar nada de estranho, nem sentiu a presença de outra pessoa.
Ray não teve escolha a não ser sair por enquanto e voltar para os dormitórios. Naquela noite, porém, quando Ray estava no meio do sono mais uma vez, ele começou a ter um sonho estranho.
Era semelhante ao anterior, onde ele estava numa sala escura e vazia, mas a sala estava iluminada por uma única luz branca. O corpo de Ray foi atraído por esta luz branca e enquanto Ray tentava caminhar em sua direção, parecia que Ray nunca se aproximava.
“Você precisa me encontrar…” A luz branca disse. “Antes que seja tarde…”