Vol. 2 Cap. 141 A Têmpera
“Você ficou maluco?” A raiva no tom de Nuvem de Neve é acompanhada pela sua expressão. “Ele é um recruta, e você quer que ele passe pela têmpera?”
“Sra. Snow Cloud, não se espera que os recrutas saibam sobre a têmpera”, disse o Ancião Naran, franzindo a testa para ela.
“Não se espera que os recrutas passem por isso”, retorquiu Snow Cloud com firmeza.
“Ele não é um recruta qualquer”, disse o Ancião Naran. “Mesmo sem a magia do Sangue, a sua força bruta chega ao nível de um novato poderoso.”
“Mas a têmpera mata até os mestres”, disse Snow Cloud.
“Alguns morrem – concordou o Ancião Naran. “Mas muitos sobrevivem, e se tornarão fortes.”
“De que vocês dois estão falando?” Arran interrompeu. Ele não tinha a menor ideia do que era a têmpera, mais pela reação da Snow Cloud, era óbvio que se tratava de algo perigoso. “O que é isso de ‘Têmpera’?”
“A têmpera é um dos passos do Caminho Verdadeiro”, respondeu o Ancião Naran. “Ela purifica o corpo e a mente, tornando-o mais forte. E neste momento, ela é a única solução para o teu problema”.
“Ele quer queimar você”, disse a Snow Cloud, com a raiva ainda clara em sua voz.
“Me queimar?” Arran perguntou, virando-se para o Ancião Naran com desconfiança.
O Ancião Naran raspou a garganta. “Acredito que possa ser visto dessa forma. A têmpera é um processo que envolve o uso de magia para queimar aos poucos as impurezas do seu corpo, refazendo você no processo. Trata-se de um processo pelo qual todos os praticantes passam, e que acaba fortalecendo aqueles que passam por ele.”
“Só os que sobrevivem”, Snow Cloud interrompeu. “E nenhum deles é recruta.
“Ele tem mais chances do que você imagina”, disse o Ancião Naran. “A magia do Sangue pode ajudar o corpo dele a se regenerar, e combinado com sua força, deve ser o suficiente.” Ele olhou para Arran. “Mas é claro os riscos existem e, no final das contas, a escolha é sua.”
Arran franziu a sobrancelha ao ouvir as palavras.
Ainda que a têmpera parecesse aterradora, o Ancião Naran acreditava que ele possuía uma boa possibilidade de sobreviver a ela. E embora não fosse uma boa ideia para Arran, era melhor do que esperar a sede de sangue crescer até não conseguir mais controlá-la.
“Isto vai me ajudar a curar?”, ele finalmente perguntou. “Queimar a magia de sangue?
“Não, não vai”, disse o Ancião Naran. “Como disse anteriormente, a magia de Sangue é agora parte de você”
“Então para que é que serve?” perguntou Arran.
“A têmpera não vai só purificar o teu corpo”, disse o Ancião Naran. “Enquanto transformas o teu corpo, também adquires verdadeiro controle sobre ele. Se tudo correr bem, quando a têmpera terminar, irá poder controlar totalmente o seu corpo e os seus instintos – incluindo, se possível, os criados pela magia do sangue.”
O Ancião lançou a Arran um olhar encorajador e depois continuou: ” Tem muita sorte. Caso tivesses sido influenciado pela magia do Sangue depois de passar pela Têmpera, seria impossível controlá-la desta forma.”
Quando o Ancião Naran terminou de falar, Arran reflectiu um pouco sobre o assunto. Embora o Ancião Naran o encorajasse e fosse otimista, parecia que a têmpera seria um processo perigoso e doloroso e, mesmo assim, não havia garantia de que o ajudaria.
Se era a única opção, ele iria em frente, mas não sem se certificar de que não havia outro caminho.
Virou-se para Snow Cloud. “Tem outra ideia?”
Ela hesitou antes de falar. “Podemos voltar ao Sexto Vale”, disse ela finalmente, mas a sua voz estava cheia de dúvidas. “Existem muitos magos no Vale, e algum deles pode saber a verdadeira cura.” Com o olhar fixo no Ancião Naran, ela acrescentou: “Uma que não envolve queimá-lo vivo”.
Arran franziu a testa com a resposta. Se voltassem para o Sexto Vale, a Snow Cloud seria entregue ao Ancião Fang e não seria possível sair novamente. O que significava que não poderia terminar a cura para o Patriarca.
Ele se surpreendeu que ela fizesse isso por ele, mas sabia que era um sacrifício muito grande para pedir a ela. Mas antes que ele pudesse dizer isso, o Ancião Naran falou.
“Eles não o vão ajudar”, disse o Ancião gigante. “Ele nem sequer é um membro pleno da Sociedade ainda.”
“Eu poderia-” Snow Cloud começou.
“Usar sua posição para forçar a questão não vai funcionar”, o Ancião Naran a interrompeu. “A sua influência caiu demais. Caso contrário, acha que o Ancião Fang ainda teria se atrevido a ordenar a sua captura?”
“Então que tal você?” perguntou Snow Cloud, apesar da incerteza. ” Se ele tiver o apoio de um Ancião, ele não vai ajudá-lo?”
O Ancião Naran riu-se amargamente. “Se eu falar por ele, o Sol Minguante e a Montanha de Ferro iriam se opor a mim mesmo sem saber do assunto. Na melhor das hipóteses, ele será mandado embora. Na pior, tentarão executá-lo.”
“Podemos buscar ajuda em outro lugar,” disse Snow Cloud, sem desistir. “Eu posso pedir a Lorde Sevaril…”.
“Não!” Arran a interrompeu bruscamente. ignorando os olhares confusos da Snow Cloud, ele virou os olhos para o Ancião Naran. “E se eu procurar sozinho? Quanto tempo é que eu tenho?
“Se não voltar a matar, pode ser capaz de resistir à magia do Sangue durante meses, talvez até anos – se tiver força de vontade suficiente.” O Ancião Naran fez uma pausa antes de continuar, fixando o olhar em Arran. “Mas você acha que vai conseguir evitar a batalha durante a procura pela cura?”
Arran suspirou. Até mesmo sem a sede de sangue, era difícil evitar a batalha enquanto procurava uma cura. Com a sede de sangue, tornava-se impossível. Bastava uma simples ameaça ou desafio para lhe fazer perder o controlo, possivelmente para sempre.
“Então a têmpera é a minha única opção.”
“É também uma oportunidade”, disse o Ancião Naran. “Se conseguir sobreviver, vai ganhar os benefícios da têmpera e da magia de sangue. Se bem que nenhuma delas ajudará a controlar a magia, a sua força em combate físico será aterradora – muito além de tudo o que os novatos normais poderiam esperar alcançar.”
Arran pôde ver a excitação nos olhos do Ancião, compreendendo que o homem encarava a situação como uma oportunidade e não como uma ameaça. Por mais que isso não o preocupasse, não podia negar que a ideia de superar os outros novatos era tentadora.
“Tudo bem”, ele finalmente disse. “Quando é que começamos?
Ao olhar para Snow Cloud, a expressão dela demonstrava tristeza, mas não se opôs à sua decisão – mesmo que ela desaprovasse, ele sabia que ela não tinha opções melhores para oferecer.
“Não vale a pena adiar”, disse o Ancião Naran. “Vamos começar imediatamente. O processo levará várias semanas, quanto mais cedo começarmos, mais rápido você poderá seguir em frente.”
Sem esperar por sua resposta, o Ancião Naran levantou-se e saiu da sala, Arran e os demais o seguiram. Percorreram vários corredores e desceram uma série de escadas, finalmente chegando à uma grande câmara circular com paredes de pedra nua.
Para os olhos de Arran, era como se tivesse sido uma masmorra – ou talvez uma câmara de tortura. Mas agora estava completamente vazia, sem uma peça de mobiliário sequer.
“Tire suas roupas e coloque seus pertences de lado”, disse o Ancião Naran. “Depois sente-se no meio da câmara.”
“As minhas roupas?” Arran perguntou com uma careta.
“A têmpera irá desintegrá-las”, explicou o Ancião. “Assim como tudo o resto que tenhas contigo. Depressa, não é altura para modéstias.”
Arran aceitou o que o homem disse, esforçando-se ao máximo para ignorar Snow Cloud e Tuya ao se despir enquanto colocava seus pertences em uma pequena pilha na lateral da câmara.
Mas não ajudou muito o fato de Tuya ter lhe dado um sorriso de aprovação quando ele se despiu, ou que o rosto pálido da Snow Cloud tivesse ficado avermelhado. Rapidamente, ele se lembrou de que estava prestes a enfrentar uma provação que poderia matá-lo.
Depois de terminar e de se sentar no centro da câmara, cobriu-se o melhor que pôde com as mãos.
“E agora?”, perguntou ele.
“Agora, vamos começar”, disse o Ancião Naran.
O Ancião levantou as mãos sem esperar por uma resposta de Arran e, um momento depois, Arran começou a sentir um calor doloroso a inundá-lo, como se estivesse a ser mergulhado num banho escaldante.
Surpreendentemente, ele não sentiu nenhuma Essência de Fogo vinda do Ancião, nem viu qualquer chama. Seja qual for a magia que o Ancião Naran usava, não era visível aos seus olhos nem ao seu sentido.
Gradualmente, a sensação de calor se intensificou. Inicialmente era apenas desconfortável, agora começava a doer, provocando uma dor intensa que se espalhava por todo o seu corpo. Não lhe restava mais nada senão cerrar a mandíbula e aguentar – ele já sabia que iria piorar muito.
Contudo, repentinamente, o calor desapareceu e, ao olhar para cima, Arran viu uma expressão de choque no rosto do Ancião Naran.
De imediato, o Ancião virou-se para Snow Cloud e Tuya.
“Vão embora!”
“O que é que-” começou a Snow Cloud.
“Fora! Agora!”, gritou o Ancião. “E não voltem até que saiamos da câmara!”
Ele gritou essas palavras e, mesmo tendo tratado Snow Cloud como se fosse um igual, era claro que essa era uma ordem que não podia ser desobedecida. Após um momento de hesitação, as duas mulheres fizeram o que o Ancião disse, mas Arran pôde ver a preocupação enchendo o rosto da Snow Cloud.
“O que está acontecendo?” ele perguntou com medo.
O Ancião Naran não respondeu, ao invés disso fez vários gestos na porta e nas paredes – criando selos, pensou Arran, mas não sabia com que propósito.
Somente depois que ele terminou, o homem se virou para encarar Arran, já à beira do pânico. Porém, ao ver a expressão do Ancião, Arran não viu nenhuma ameaça – mas sim surpresa e excitação, em partes iguais, como se tivesse acabado de fazer uma grande descoberta.
“Porque você não me disse?”, disse o Ancião gigante, com a voz tremendo de entusiasmo.
“Disse o quê? Arran perguntou, atordoado com a súbita mudança de eventos.
“Que você tem um Reino da Destruição!”
Vol. 2 Cap. 142 Reino da Destruição
“Eu tenho um quê?”
Arran percebeu que o Ancião Naran se referia ao seu Reino proibido, porém ficou assustado ao ouvir o nome dele. Durante anos, ele se perguntou que tipo de Reino era, mas agora que ele tinha uma resposta, ele ficou atordoado.
Além disso, ele não fazia ideia de como o Ancião Naran o havia descoberto – mesmo com os esforços de Arran, o selo do Mestre Zhao continuava firme. No entanto, em poucos momentos, o Ancião não só viu que ele tinha um Reino escondido, mas também que tipo de Reino era.
“Um Reino da Destruição!” Elder Naran repetiu, o entusiasmo em seus olhos não diminuiu. “Não me diga que não sabe sobre isso – eu não sou um tolo.”
“Eu tenho um Reino proibido” – disse Arran hesitante, compreendendo que não era possível escondê-lo agora. “Mas ele está selado.”
“Alguém o selou?” O rosto do Ancião Naran ficou contraído. “Que tipo de Essência foi usada para selar?”
“Sombra”, disse Arran, se perguntando onde ele queria chegar.
“Suponho que isso poderia funcionar…” disse o Ancião Naran, ainda que parecesse que estava falando mais consigo mesmo do que com Arran. Por vários momentos, ele permaneceu em silêncio, franzindo a testa em pensamento.
Finalmente, ele falou novamente: “Quem colocou o selo?”
“Foi um mago que conheci no Império”, disse Arran. “Ele foi o primeiro a dizer-me que eu tinha um Reino proibido, por isso me ajudou a fugir da Academia.”
“Um mago com a capacidade de criar um selo de sombra tão grande que pode selar um Reino da Destruição? Ele deve ser um membro da Chama da Sombra”. O Ancião gigante assentiu para si próprio, depois olhou para Arran com um ar estudioso. “Conta-me o que aconteceu desde que descobriu que tinha o Reino.”
O Ancião falou fortemente, e Arran viu que era uma ordem, não um pedido. Ainda que o Ancião não tivesse feito ameaças, ficou claro que não havia opção de recusa.
Por um instante, Arran pensou em mentir. Praticamente ignorava o Ancião Naran e não tinha o menor desejo de compartilhar seus segredos com ele.
No entanto, o segredo mais importante já havia sido descoberto e, pela facilidade com que o Ancião Naran identificou seu Reino proibido, Arran tinha pouca fé em sua capacidade de enganá-lo.
Ao perceber que não havia outra solução a não ser dizer a verdade, ele respirou fundo.
“Tudo começou quando eu tentei entrar na Academia…”
A história era longa, mas Arran começou a contá-la detalhadamente. À medida que falava, o Ancião Naran perguntava alguma coisa, mas na maior parte da história, ele simplesmente ouvia atentamente, acenando ocasionalmente com a cabeça ou franzindo a testa.
Mas havia uma parte da verdade que Arran não contou – os eventos envolvendo Panurge. Ao invés disso, inventou uma história de ter sido capturado pela Academia e de ter sido aprisionado. Por mais que se sentisse nervoso ao mentir para o Ancião Naran, ele não ousava correr o risco de ser visto como um agente do Caos – querendo ou não.
Para seu alívio, o Ancião Naran não pareceu notar a mentira, ou se o fez, deixou passar sem questionar. Aliviado, Arran prosseguiu rapidamente contando o resto da história, satisfeito por ter desviado a atenção do Ancião da mentira.
Assim que Arran terminou de falar, o Ancião Naran permaneceu em silêncio por um tempo, com as sobrancelhas franzidas ao considerar o que Arran lhe havia dito.
Faminto por respostas, Arran ficou impaciente pelo silêncio e finalmente perguntou: “Como você sabe que é um Reino da Destruição? Ele faz algo mesmo?”
“Você está me perguntando se ele faz alguma coisa?” O Ancião gigante deu uma gargalhada que soou como um trovão. “Ele salvou sua vida muitas vezes, e ainda está perguntando se ele faz alguma coisa?”
Arran olhou-o com um olhar vazio. “Salvou a minha vida?” Ele usou o Reino exatamente uma vez, e foi para abrir seu Reino do Vento. Fora isso, não se lembrava de o ter ajudado, muito menos de lhe ter salvo a vida.
“Deixe-me explicar”, disse o Ancião. “Talvez então você entenda a sorte que teve.”
Arran ouviu ansiosamente quando o Ancião Naran começou a falar, ansioso para aprender mais.
“Antes mesmo de um Reino ser aberto,” o Ancião começou, “Uma pequena quantidade de Essência passa por ele. Na maioria dos casos, os efeitos disso são insignificantes – a Essência desaparece muito antes de ter qualquer efeito. Mas com uma Essência tão poderosa e violenta como a da Destruição, até essa pequena quantidade é suficiente para afetar o teu corpo”.
Ele fez uma pausa por um momento, depois continuou: “Sem saber, você tem resistido continuamente à sua influência mesmo antes de ter nascido, condicionando que seu corpo resistiu aos seus efeitos destrutivos. Isso fortaleceu sua resistência à magia muito além do que seria possível de outra forma.”
“Então apenas ter o Reino me fortaleceu?” perguntou Arran, um pouco confuso. Ele não se lembrava de ter ouvido falar de um Reino que afetasse alguém antes de ser aberto.
O Ancião acenou com a cabeça. “É por isso que eu soube que o seu é um Reino da Destruição. Quando comecei a Temperar, vi que você é muito mais resistente à Essência para um novato ou mesmo para um especialista.”
“Mas eu também já fui ferido por ataques mágicos antes”, disse Arran.
“Não é imune à magia”, respondeu o Ancião Naran. “Mas algo forte o suficiente para te ferir levaria a morte da maioria dos novatos e iniciantes.”
Arran arregalou os olhos ao perceber o que estava acontecendo. “Então, quando eu tomei as Pílulas de Abertura do Reino…”
“Isso deveria tê-lo matado”, confirmou o Ancião Naran. “O mesmo aconteceu com as batalhas que travou no Império. Os magos da Academia podiam ser fracos, mas não ao ponto de não conseguirem matar um novo iniciante. O fato de você ter sobrevivido é por causa do Reino da Destruição”.
Um arrepio passou pela espinha de Arran ao perceber que tanto a sua sorte com os seus erros tinham sido muito maiores do que ele imaginava. Levou alguns minutos até conseguir entender a sua sorte, mas quando finalmente o fez, não pôde deixar de suspirar de alívio.
Ao ver a expressão de Arran, o Ancião Naran riu-se. “Agora já sabe a verdade.”
“Mas o que posso fazer agora?” Arran perguntou. O Reino da Destruição continuava selado, mas ele não fazia ideia do que fazer quando o selo fosse finalmente quebrado.
“Primeiro, você tem que passar pela têmpera”, disse o Ancião Naran. “Reino da Destruição ou não, a magia do Sangue é uma ameaça para você, e só a têmpera é capaz de te ajudar.”
“E depois disso?”
“Depois disso…” Ancião Naran suspirou, com uma expressão séria. “Depois disso, você vai enfrentar um grande perigo.”
Vol. 2 Cap. 143 Fortalecimento, segundo passo
“Que tipo de perigo?” perguntou Arran.
Só o fato de mencionar o perigo não foi suficiente para perturbá-lo. Até agora, ele havia enfrentado muitas ameaças ao longo de sua vida e sabia que enfrentaria diversas ameaças antes mesmo de voltar ao Vale.
“Você tem um grande potencial”, disse o Ancião Naran, com um olhar atento para Arran.
Mesmo sem responder à pergunta de Arran, ele ficou em silêncio, querendo ouvir o que o Ancião poderia dizer sobre suas possíveis conquistas futuras.
“A magia do sangue já é o suficiente para colocá-lo entre os novatos mais promissores da Shadow Flame Society”, continuou o Ancião Naran. “Assim que você aprender a controlá-la, será possível resistir a ferimentos que matariam outras pessoas e, ao desenvolvê-la ainda mais, a vantagem que ela lhe dá só aumentará.”
“E quanto ao meu Reino da Destruição?” perguntou Arran. Na verdade, ele tem uma ideia vaga sobre como a magia de sangue pode ajudá-lo no futuro, mas estava ansioso para ouvir mais sobre o que o Reino da Destruição pode fazer.
“Isso o beneficiará ainda mais”, disse o Ancião gigante. “Após abrir o selo, poderá usar o poder dele no seu treinamento e aumentar ainda mais sua resistência à magia. Com o tempo adequado, até mesmo os magos experientes terão dificuldade em prejudicá-lo.”
“Mas você mencionou que eu enfrentaria um grande perigo”, lembrou Arran. “Até agora, só me disse como o Reino da Destruição e a magia de sangue podem me beneficiar.”
“Por si só, todas essas coisas garantiriam que você tenha um futuro brilhante na Sociedade”, disse o Ancião Naran. “Mas juntos…” Ele suspirou, depois sacudiu a cabeça. “É demais. Caso consiga desenvolver ambos, os magos de seu próprio nível terão dificuldade apenas para feri-lo. E se avançar para se tornar um Mestre ou Grão-Mestre, se tornará um monstro entre os magos.”
Por fim, Arran entendeu. “Não é todo mundo que me permitiria ir tão longe.”
O Ancião concordou com a cabeça. “Mesmo dentro do Sexto Vale, haverá alguns que o considerariam como uma ameaça a ser esmagada antes que possa se desenvolver completamente. Mesmo com todo o seu potencial, no momento, ainda é muito fraco para se proteger.”
“Mas o Reino da Destruição não vai me proteger?” perguntou Arran.
“Não”, respondeu o Ancião Naran com clareza. “Apesar do fato de que até mesmo os Grão-Mestres possam temer seu potencial, da forma como está, qualquer novato habilidoso pode matá-lo. Pode ser que você consiga sobreviver a um ou dois dos ataques mais fortes deles, mas se você não tiver força para derrotá-los, eles simplesmente poderão lançar uma dúzia de outros.”
Arran franziu a testa em pensamento. Por mais infeliz que estivesse com essa ideia, entendeu que talvez seja verdade. Em suas partidas de treinamento contra a Snow Cloud, em geral ela conseguia neutralizá-lo antes mesmo que ele a alcançasse. Portanto, em uma batalha real, seria capaz de matá-lo mesmo se ele conseguisse sobreviver aos seus primeiros ataques.
“Então, o que devo fazer?”, ele perguntou, seu entusiasmo de antes rapidamente desapareceu.
“Você não deve contar isso a ninguém”, disse o Ancião Naran. “Ninguém deve saber sobre o seu Reino da Destruição, e ninguém deve saber sobre a magia do Sangue. Só quando estiver forte o suficiente para se defender que você pode revelar seus poderes – e mesmo assim, escondê-los ainda seria sensato.”
“Então, como eu posso me tornar forte o suficiente para me defender?”
“Da mesma forma que outros recrutas”, respondeu o Ancião Naran. “Após retornar ao Sexto Vale, você se tornará um iniciado. À medida que treinar com os outros iniciados, vai se tornar mais forte – e, ao mesmo tempo, vai desenvolver os outros poderes em segredo.”
Arran assentiu com a cabeça, pensativo. Essa não era a resposta que ele esperava – uma parte dele ainda queria encontrar um atalho para o poder – mas ele entendeu que a força requer treino e, se o Ancião Naran disse a verdade, suas recompensas seriam muito maiores que as dos outros magos por seus esforços.
“No entanto, existe outra questão”, disse o Ancião Naran, mostrando uma expressão séria em seu rosto.
“Qual é o problema?” Arran perguntou, temendo o pior. Depois do entusiasmo inicial do Ancião gigante sobre seu potencial, a situação parecia piorar a cada palavra dita.
“Embora a magia do sangue possa ajudá-lo a resistir à têmpera, seu Reino da Destruição exige muito mais poder do que eu esperava.”
“Mas você é forte o suficiente para fazer isso, certo?” Arran perguntou.
“Meu poder não é o problema”, respondeu o Ancião Naran. “Eu poderia reduzi-lo a cinzas com um pensamento, se eu quisesse. Porém, quanto maior for o poder utilizado na têmpera, maior será o efeito negativo.”
“Você está dizendo que será mais perigoso?”
“Não”, disse o Ancião Naran. “Não mais do que seria de outra forma. Por outro lado, o impacto sobre seu corpo vai ser maior e você perderá parte de sua força no processo. Eventualmente, poderá recuperá-la, mas isso vai levar tempo.”
“Quanto tempo vai levar?” perguntou Arran, agora sentindo alguma preocupação.
“Meses”, respondeu o Ancião. “Talvez anos. Eu farei o que puder para encontrar uma forma de ajudá-lo a se recuperar mais rapidamente, mas, mesmo assim, não espere recuperar sua força total imediatamente.”
Arran manteve-se em silêncio por alguns minutos. Quando ele ouviu sobre o suposto potencial dele, ficou cheio de entusiasmo, ansioso por descobrir o quão forte poderia se tornar quando liberasse o Reino da Destruição e dominasse a magia do sangue em seu corpo.
Entretanto, agora parecia haver a impressão de que teria que sofrer com a fraqueza primeiro. Na melhor das hipóteses, isso seria o suficiente para abalar seu ânimo, mas além da fronteira, era preciso ter força para continuar vivo. Todo o talento disponível não o ajudaria se ele morresse antes mesmo de retornar ao Sexto Vale.
Ainda assim, sua força não o ajudaria se não estivesse vivo e, sem poder controlar a sede de sangue, ele sabia que não duraria muito.
Por fim, encolheu os ombros. “Não há outra escolha, não é mesmo?”
“Não há”, respondeu o Ancião Naran.
“Então vamos continuar em frente.”
Não adiantava ficar se lamentando pela força que ele estava prestes a perder. Não havia outras opções disponíveis, só lhe restava suportar e esperar que pudesse recuperá-la rapidamente.
O Ancião Naran assentiu com a cabeça. “Suponho que não haja motivos para adiar mais.” O homem levantou as mãos, com as palmas apontando para Arran.
Imediatamente, Arran pode sentir um calor doloroso o invadindo mais uma vez. No entanto, onde a sensação havia sido gradual e suave da primeira vez, desta vez foi como se ele estivesse entrando em um banho de ferro derretido.
A sensação não parava apenas na pele, mas era como se todas as fibras de seu corpo estivessem pegando fogo de uma vez só e, por um instante, o choque o deixou incapaz de pensar.
O choque inicial desapareceu depois de alguns instantes e, ainda que a dor continuasse ocupando a maior parte de sua mente, ele podia dizer que a sensação se assemelhava muito ao que ele havia sentido após tomar várias pílulas de abertura de reino.
Só que, quando a dor das Pílulas de Abertura de Domínio era insuportável, essa era muito maior. Ele tentou gritar, mas a agonia o deixou incapaz de fazer isso, pois a dor era tão avassaladora que o deixou paralisado.
E ainda assim, a dor piorou. No início, seu corpo parecia estar pegando fogo, mas agora, a dor se intensificou ao ponto de pensar que estava se desintegrando.
Uma pequena parte de sua mente que mantinha alguma forma de raciocínio foi tomada pelo horror quando percebeu que era exatamente isso que estava acontecendo. Ele sentia seu corpo sendo lentamente despedaçado em mil lugares ao mesmo tempo, e não havia mais nada que ele pudesse fazer para impedir.
Vol. 2 Cap. 144 Endurecido
Arran procurou se mover e descobriu que seu corpo reagia de forma lenta e preguiçosa, como se tivesse sido drenado de todas as suas forças. Conseguiu perceber que estava deitado – numa cama, pensou – mas não tinha ideia de onde estava.
“Finalmente acordou”
Arran abriu os olhos e viu Tuya ao lado da sua cama, comendo alegremente o que aparentava ser uma perna de carne assada.
As suas memórias são vagas e confusas, mas podia lembrar que havia sofrido uma dor intensa, sentindo que o seu corpo estava prestes a ser reduzido a cinzas e pensando que ia morrer.
“O que é que aconteceu?”, perguntou, só de dizer as palavras já lhe custava um grande esforço.
Ele se sentou e logo percebeu que o seu corpo estava frágil e fraco, como se não fosse o que deveria ser – errado de alguma forma.
“Porque é que me sinto tão fraco?”
“Ao que parece, o seu Temperamento não foi nada agradável,” disse Tuya, terminando a perna de carne e retirando mais uma peça na mesa ao lado da sala. “Você deve se considerar sortudo.”
A têmpera. Assim que Tuya o mencionou, ele começou a se lembrar de tudo o que havia acontecido. Ele falou com o Ancião Naran sobre seu Reino da Destruição, e então… dor. Dor sem fim e avassaladora.
“Porque está aqui?” perguntou ele.
“O meu pai pediu para avisar ele quando você acordar”, respondeu Tuya. “Ele também preparou alguma comida para você.” Ela indicou alguns pratos meio vazios na mesa, e Arran deduziu que ela já havia comido a maior parte da comida.
Ao pensar na comida, Arran percebeu que estava com fome, mas de alguma forma, não sentiu vontade de comer. Em vez disso, só estava ciente de que o seu corpo necessitava de comida urgentemente. Não querendo esperar, levantou-se da cama e dirigiu-se para a mesa.
“É melhor que vistas umas roupas,” disse Tuya, com um sorriso divertido na cara.
Arran encolheu os ombros. Ele tinha uma vaga sensação de que devia se sentir desconfortável, mas isso não parecia importante. Neste momento, ele precisava de comida, portanto sentou-se à mesa e começou a comer.
Tuya riu-se. “Parece que o seu Temperamento foi mesmo forte.”
Arran concordou com a cabeça sem se preocupar com a presença de Tuya. Ele notou que a comida era rica em Essência Natural e comeu com vontade, desejoso de se livrar da sensação de fraqueza que o invadia.
Quando Tuya saiu do quarto um momento depois, ele mal notou sua partida.
Terminou a comida rapidamente e, mesmo que isso não tenha ajudado a afastar a sensação de fraqueza, ele sentiu a sua mente ficar mais clara à medida que a sua fome era saciada.
Os seus pensamentos voltaram à Têmpera e, agora, começava a recordar mais claramente os acontecimentos. Recordou que sentia que o seu corpo estava constantemente a ser destruído pela Essência, num ritmo relativamente lento para que tivesse tempo de se curar, ao mesmo tempo que se destruía e se regenerava num ciclo interminável.
Enquanto mergulhava em pensamentos, ouviu a porta abrir-se e, quando ergueu o olhar, surpreendeu-se ao ver que era a Snow Cloud, e não o Ancião Naran, que tinha entrado.
O seu rosto tornou-se avermelhado quando viu Arran e, desta vez, sentiu algum constrangimento. Depois de olhar atentamente o quarto, avistou os seus pertences ao lado da cama e pegou rapidamente um roupão.
Snow Cloud aguardou que ele estivesse vestido, sem olhar para trás. Quando ele terminou, ela perguntou: “Está tudo bem?”.
“Acho que sim,” responde ele. “Embora me sinta fraco.”
“Não admira”, disse ela. “A sua têmpera levou quatro semanas e esteve inconsciente durante mais duas.”
“Já passou tanto tempo assim?” perguntou Arran, arregalando os olhos de surpresa.
“Eu temia que algo estivesse dando errado”, disse ela. “O Ancião Naran selou o quarto depois que saímos, mas quando vocês ficaram trancados por tanto tempo… eu pensei que tivesse acontecido algo ruim.” Com a expressão perturbada, ela acrescentou: “Era para durar apenas uma ou duas semanas”.
Arran franziu as sobrancelhas. Do que ele se lembrava da têmpera, não se recordava de ter durado dias, muito menos semanas.
Ele ia perguntar a Snow Cloud um pouco mais sobre o assunto até que a porta se abriu mais uma vez, mas desta vez foi o Ancião Naran que apareceu.
“Sra. Snow Cloud”, disse o homem ao entrar. “Eu pensei que você estivesse ocupada saqueando o meu depósito de ingredientes.”
Snow Cloud olhou para ele. “Devia ter-me comunicado que ele havia acordado.”
“Só recebi a notícia agora mesmo”, respondeu o Ancião Naran. “Agora que estou aqui, é melhor voltar a importunar os meus alquimistas. Preciso discutir alguns assuntos com Lâmina-Fantasma.”
Snow Cloud se manifestou contra a despedida sem cerimônia, mas foi em vão. Ao perceber que o Ancião Naran não iria aceitar nenhuma objeção, ela saiu, encarando o Ancião com uma carranca enquanto fechava a porta.
“Agora, então”, disse o Ancião Naran, dando a Arran um olhar examinador. “É bom saber que estás de pé. A tua têmpera foi invulgar, e tive algumas preocupações de que pudesses não recuperar facilmente. Mas as minhas preocupações parecem ter sido infundadas”.
“Como assim foi invulgar?” Arran perguntou, ainda não se lembrando completamente do que tinha acontecido.
“Entre o teu Reino da Destruição e a magia de Sangue no teu corpo, realizar a Têmpera provou ser mais desafiante do que eu previa”, respondeu o Ancião. “No final, precisei usar um pouco mais de energia e tempo do que pretendia. Mas parece que resistiu bem”.
“Meu corpo…” Arran disse. “Sinto-me fraco.”
“É de se esperar”, o homem respondeu, sem se preocupar. “Você não come há semanas, e sua têmpera foi brutal. Mas diga-me, ainda sente os efeitos da magia do Sangue?”
Arran refletiu um pouco e então acenou com a cabeça. “Consigo senti-la, mas é um impulso distante agora. Já não tenho problemas em controlá-la.”
“Bom”, disse o Ancião, concordando com a cabeça pensativamente. “Aparentemente a minha suposição estava correta. Ele vai se tornar mais forte conforme você se recuperar da têmpera, mas deve ficar bem sob o seu controle”.
“Mas e a minha força?” Arran perguntou, mal conseguindo manter a frustração na sua voz. “Disse que ia ver se me ajudava a recuperá-la mais rápido. Encontrou uma forma de o fazer?”
“Vamos discutir esse assunto quando você estiver totalmente recuperado”, respondeu o Ancião Naran. “Por enquanto, deve se concentrar em se recuperar. Agora, o que mais precisas é de descanso”.
O Ancião gigante saiu logo depois disso, mostrando estar bastante satisfeito com o resultado, mesmo que Arran esteja tomado pela preocupação com seu atual estado de fraqueza.
O que estava feito estava feito, só lhe restava seguir o conselho do Ancião Naran e concentrar-se na recuperação.
Nos primeiros dias, ele teve alguma esperança. Passou o tempo comendo e absorvendo Essência Natural, e pôde sentir que seu corpo se fortalecia rapidamente em resposta, já que a fraqueza inicial havia desaparecido em menos de uma semana. Pelo menos, o Ancião Naran tinha razão quanto à sua necessidade de recuperação.
De vez em quando, Snow Cloud e Tuya iam visitá-lo, só que ele não dava muita importância a elas. Ele só precisava mesmo era de recuperar as forças perdidas, e elas não o podiam ajudar nisso.
No entanto, mesmo com os seus esforços, o seu progresso tornou-se mais lento, deixando-o chocado ao descobrir a quantidade de força que tinha perdido. Agora, ele estava um pouco mais forte do que quando deixou a propriedade do Lorde Jiang.
Ancião Naran disse a ele que a têmpera retiraria um pouco de sua força, mas isso estava muito além do que ele imaginava. O que ele pôde perceber é que ele perdeu anos de progresso.
Incapaz de aceitar isso, duplicou os seus esforços no Refinamento do Corpo, gastando cada momento do dia a comer qualquer alimento que continha Essência Natural e absorvendo a última gota dela.
Ainda assim, o seu progresso era mais rápido do que no passado, mas sabia que levaria meses para voltar ao seu antigo nível.
A perda rapidamente se tornou um peso na sua mente e deixou de sair do seu quarto, relutante em perder tempo que podia ser usado na recuperação das suas forças. Quando Tuya ou Snow Cloud o visitavam, chegava a ser rude, a companhia deles tornava-se uma distração indesejada no seu trabalho.
Ele passou várias semanas assim, praticando o refinamento corporal ao ponto da obsessão, quando Tuya o visitou novamente.
“Muito bem”, disse ela assim que entrou no quarto dele. “Passou tempo o suficiente aqui agora levanta. Vem comigo.”
“Estou treinando”, respondeu Arran com um olhar fixo.
“Pode me seguir, ou eu o arrastarei”, disse ela. “Seja como for, vem comigo.”
Consciente que não era possível fugir, Arran suspirou e levantou-se para a seguir. “O que está havendo?” ele perguntou enquanto caminhavam.
“Em breve vai ver”, respondeu ela.
Ela o guiava até o pátio, onde ele via cerca de vinte quatro recrutas treinando suas espadas e lutando uns contra os outros.
“Recrutas!” Tuya gritou ao se aproximar do grupo, sua voz ecoando pelo pátio como um trovão. “Venham até aqui!”
Ao ouvir a sua voz, todos os recrutas viraram rapidamente para os dois e fizeram o que ela disse.
Assim que os recrutas se juntaram à volta deles, ela deu um sorriso agradável. “Este recruta é um mestre espadachim da parte oriental do Império. Qualquer um que consiga derrotá-lo em combate individual receberá como recompensa um Cristal de Essência de alta qualidade”.
Os olhos de Arran arregalaram-se de choque. Pouco importava do que estava à espera, não era isto. Claramente, essa mulher enlouqueceu – ele não chegava nem perto de ser um mestre espadachim e, mesmo tendo perdido a maior parte da sua força, ele teria tido dificuldades em derrotar qualquer um dos novatos num duelo.
Todos os novatos pareciam ter ficado surpreendidos, tal como Arran, e por alguns segundos ninguém respondeu. Mas então, um deles deu um passo em frente – era um jovem com longos cabelos escuros e um sorriso confiante.
“Ele é mesmo um recruta?”, perguntou o recruta, olhando para Arran com desconfiança.
Tuya olhou para o recruta com um ar irritado. “Eu gaguejei?”
“Então eu luto com ele”, disse o novato, sacando sua espada ao se aproximar de Arran.
Pelo seu olhar, esperava um combate fácil – e no seu estado atual, Arran sabia exatamente o que o novato queria. No entanto, não teve outra escolha a não ser desembainhar a sua espada também. Tinha certeza de que Tuya não iria permitir que ele recusasse.
Ele encarou o novato, mantendo a espada pronta, mas não pôde evitar que a preocupação se manifestasse em seu rosto. Assim que o jovem notou a expressão desconfortável de Arran, deu um sorriso animado – obviamente, ele também não acreditava muito nas chances de Arran.
“Nada de magia, e nada de golpes mortais ou paralisantes”, disse Tuya. “Agora lutem!”
Vol. 2 Cap. 145 Fraqueza
O novato atacou em seguida, mas o golpe desferido foi tão lento e desajeitado que, até mesmo com a força enfraquecida de Arran, ele pôde desviar com facilidade. Um momento depois, a lâmina de Arran parou na garganta do novato.
Arran ficou atordoado. Tendo derrotado o seu adversário com um único golpe, e com tanta facilidade que parecia impossível.
O novato pareceu estar tão chocado quanto Arran. “Como é que…”
“Patético”, disse Tuya. Depois, estendeu a mão para o novato. “Paga. É Um Cristal de Essência”.
“Pagar? Mas eu pensei…”
Enquanto o novato procurava fugir da extorsão de Tuya, Arran encontrava-se perplexo ao ver o que tinha acabado de acontecer. Em princípio, ele devia ter sido derrotado facilmente – ainda que o novato fosse lento e desajeitado, ele ainda era muito mais forte do que Arran.
No entanto, de alguma forma, os movimentos de Arran haviam sido assustadoramente precisos, e o nível de controlog era completamente novo para ele.
“Quem é o próximo?” Tuya disse, sua voz alta acabando com as reflexões de Arran. E apontou para uma das novatas, que era uma jovem de cabelo curto. “Você! Será a próxima voluntária.”
A jovem ficou pálida, mas mesmo assim deu um passo à frente, entendendo que Tuya não a deixaria escapar.
Ao desembainhar a espada e encarar Arran, ela cerrou o maxilar com determinação – era evidente que ela não tencionava garantir-lhe uma vitória fácil.
“Luta!” A voz de Tuya soou novamente.
Diferente do primeiro novato, essa lutou com cautela, utilizando golpes calculados enquanto tentava passar pelas defesas de Arran. No entanto, mesmo com toda a sua cautela, Arran descobriu que, em comparação com ele, ela era tão desajeitada como uma criança balançando uma vara.
Os dois trocaram golpes por vários minutos. Ainda que Arran possa ter terminado a luta mais cedo, não conseguia evitar a ansiedade por descobrir o que tinha mudado. Rapidamente a resposta se tornou evidente: O seu controle sobre o seu corpo havia aumentado drasticamente, o que lhe deu uma velocidade e precisão espantosas.
Finalmente, terminou a luta com um golpe rápido no peito da jovem, que a atingiu sem que ela tivesse tempo de se defender. A novata admitiu a derrota com um aceno de cabeça para Arran e depois entregou a Tuya um Cristal de Essência.
“A seguir!”
Desta vez, Tuya selecionou um homem alto com ombros largos e um rosto cheio de cicatrizes como oponente de Arran. O homem mostrou que a habilidade e a velocidade não o ajudavam e, ao invés disso, ele atacou com força, procurando dominar Arran do mesmo modo que Arran havia tentado com Snow Cloud quando eles lutaram.
No entanto, mesmo com toda a sua força, os ataques do homem foram rudes e imprecisos, e mesmo que Arran não tenha força para bloqueá-los, foi fácil se esquivar e desviar deles. Arran acertou com facilidade uma série de golpes no novato com os quais teria ficado incapacitado em uma luta real e, depois de alguns momentos, o homem baixou a espada.
“Ganhei”, disse ele, e depois entregou a Tuya um Cristal de Essência.
Passaram mais de 6 combates, e Arran ganhou todos eles. Ainda que alguns dos seus adversários tenham sido mais difíceis do que os três primeiros, ao se acostumar com o novo controle que sentia pelo seu corpo, cada combate o deixava ainda mais forte, mesmo que só um pouco.
O décimo combate, no entanto, foi diferente.
Aqui, o seu adversário era um homem jovem e magro, com uma expressão odiosa e, diferente dos novatos anteriores, esse lutou como se estivesse a lutar até à morte – utilizando ataques ferozes e perigosos que podiam ferir ou até mesmo matar se fossem bem sucedidos, combinando a ferocidade com a capacidade de ataque.
Ainda assim, não era o suficiente. Ainda que o novato seja melhor do que Arran em termos de habilidade e força, ele não tinha a precisão e a velocidade necessárias para cumprir a ameaça.
Depois de alguns minutos de combate intenso, Arran se esquivou de um ataque apressado e acertou o novato pelas costas com a parte plana de sua lâmina, fazendo-o cair no chão.
Enquanto o novato se debatia para se pôr de pé, Arran podia senti-la. A Essência. O novato começou a reunir a Essência de Fogo na sua mão, preparando um ataque com poder suficiente para o matar.
Imediatamente, ele se preparou para atacar antes que o novato conseguisse atacar, mas não foi preciso – Tuya surgiu imediatamente entre eles, acertando o novato com um tapa de costas no rosto tão forte que o mandou voando por 6 metros.
“Que diabo está fazendo? Utilizar magia contra um recruta, durante um combate?! Perdeu o juízo?!” A voz de Tuya trovejava pelo pátio, com tanta fúria que até Arran não pôde deixar de dar um passo atrás.
O novato levantou-se, agarrando na sua cara ensanguentada. “Não pude…”
“Sai daqui!” Tuya se enfureceu. “Volte para o acampamento, agora! Está banido do castelo! Se eu te vir aqui novamente, não será só o teu nariz que eu vou quebrar!”
O jovem dirigiu o olhar para os outros novatos em busca de apoio, mas foi recebido por uma parede de olhares de nojo. Ele olhou para Arran pela última vez com ódio e depois correu para o portão.
Tuya se virou para os outros novatos e, para a surpresa de Arran, sua fúria havia desaparecido tão rapidamente como surgiu. “O nosso treino acabou”, disse ela, com a voz calma. “Amanhã, o Lâmina Fantasma vai se juntar ao treinamento. Agora, lembrem-se de que, por mais habilidosos que sejam, ainda existem recrutas que podem ser melhores do que vocês. Se treinarem muito, isso pode mudar”.
Com isso, ela foi embora, indicando para que Arran a seguisse.
“Acho que eu poderia tê-lo apanhado,” disse Arran depois de deixarem os novatos para trás.
“Talvez”, disse Tuya, ainda que não parecesse convencida. “Mas o meu objetivo hoje foi mostrar a sua força, e não sepultar novatos – ou recrutas confiantes demais.”
“Mas eu não entendo”, disse Arran. “O Ancião Naran – seu pai – falou que a têmpera ia me deixar mais fraco”.
“E fez”, disse Tuya. “Pelo que eu posso dizer, você perdeu um pouco de força.”
“Mas eu pensei…”
“Pensavas mesmo que os especialistas passavam pela têmpera só por diversão?” Ela fez uma cara feia. “Foi a pior dor que eu já senti, e olha que eu lutei com um Demónio de Fogo. Fazemos isso porque vale a pena.”
“Então porque não me disse?” perguntou ele.
“Eu disse,” Tuya respondeu. “Várias vezes. Mas você estava muito ocupado tentando recuperar suas forças para ouvir.”
Arran suspirou ao perceber que provavelmente era verdade. Ele esteve tão focado no treinamento que ignorou Tuya e Snow Cloud quando elas foram visitá-lo, só ouvindo metade do que elas falavam.
“Mas eu não reparei nisso antes”, disse Arran. “Já se passaram semanas e, até agora, nunca pensei que tivesse mudado alguma coisa”.
Quando pensou nisso, percebeu que não era bem assim. Após a têmpera, ele sentia-se mais consciente do seu corpo, mas isso só tornava ainda mais dolorosamente óbvia a perda de força.
“Estava sentado no seu quarto, chorando pela pedra perdida enquanto ignorava o diamante nas suas mãos.” Tuya encolheu os ombros. “É impossível conhecer as nossas capacidades se não tentarmos usá- las.
“Suponho que não”, admitiu Arran, começando a sentir-se um idiota. “Então a têmpera me deixou mais forte?”
“Não exatamente”, respondeu Tuya. “Seu corpo continua fraco, até que você recupere sua força, será ferido com facilidade.” Com uma risada suave, ela acrescentou: “Mas agora deve ser muito mais fácil evitar lesões”.
“Então, o meu treino com os novatos… estava falando sério?”
Tuya olhou para ele, com as sobrancelhas levantadas. “Acha que eu o teria feito de outra forma?”
“Mas a minha força…” Arran começou. Mesmo com o controle que adquiriu, teve dificuldade com a ideia de que devia restaurar a sua força, não importando o que acontecesse.
“Neste momento, será mais útil que se acostume aos efeitos do seu Fortalecimento”, disse Tuya, com um tom confiante. “Você vai se recuperar eventualmente.”
“Tem razão,” disse Arran, ainda que não tenha feito uma pausa para pensar no assunto. Não havia como contornar a situação – por mais que ele quisesse recuperar o que perdeu, neste momento, seria mais vantajoso treinar o que tinha.
“É claro que tenho razão,” respondeu ela. “Por isso vai descansar e treinar amanhã.”
“Eu vou.”
Mas antes, ele já sabia, precisava fazer uma visita a Snow Cloud. Haviam assuntos que tinham que discutir – questões que ele havia ignorado durante a sua obsessão pelo treino.
Vol. 2 Cap. 146 No Castelo
Arran não encontrou a Snow Cloud em seu quarto, o que não o surpreendeu.
Existiam três lugares onde ela poderia estar, e desses, seu quarto era o menos provável. Como também não a encontrou no armazém de ingredientes, foi rapidamente para os aposentos dos alquimistas, ciente de que ela estaria lá.
A sua suspeita provou ser correcta, já que antes mesmo de entrar nos aposentos dos alquimistas, já conseguia ouvir gritos ao longe.
Uma voz desconhecida gritou: “Têm alguma ideia de como é raro!”
Outra respondeu: “Não me interessa o quão raro é! Eu preciso dele!”
A segunda voz pertencia a Snow Cloud e quando Arran abriu a porta, deparou com ela de frente para um dos alquimistas, uma mulher baixa de meia-idade com cara de livro.
Ambos os rostos encontravam-se vermelhos de raiva, mas ignoraram Arran quando ele entrou, pois a discussão ocupava toda a sua atenção.
“Não posso deixar que todos os meus herboristas corram atrás de um único ingrediente!” A alquimista pareceu estar à beira de um colapso, com a voz a tremer enquanto gritava.
“Pode, e vai”, respondeu Snow Cloud sem rodeios. “O Ancião Naran garantiu a sua total cooperação, e eu vou tê-la.”
“Mas os ingredientes estão acabando!” A voz do alquimista soava agora a desespero. “Se continuar assim, não conseguirei fazer nem mesmo os curativos para as feridas!”
“Então usem os recrutas”, disse Snow Cloud. “Existem milhares deles, não é preciso ter herboristas experientes para colher raiz de flor-de-sangue e folhas de graça-de-santo.”
A alquimista levou um tempinho para responder e, bem antes que respondesse, Snow Cloud aproveitou a oportunidade que teve para interromper a conversa e voltar-se para Arran.
“Então, decidiu sair do seu covil?”, perguntou ela, dirigindo-se a ele. Ele podia notar que ainda haviam alguns traços de vermelho nas bochechas dela, mas a sua voz estava calma.”Tuya me colocou para treinar com os novatos”, ele respondeu.
Snow Cloud retirou-se do alojamento dos alquimistas, aparentemente ansiosa por se livrar da alquimista, e Arran seguiu atrás dela.
“Presumo que descobriu os benefícios da têmpera?” perguntou ela enquanto entravam no corredor.
“Descobri”, disse ele. “E eu preciso de te pedir desculpa por não te ter dado ouvidos. Quando me disseram que aumentaria o meu controle, eu não imaginei que o efeito seria tão grande.”
Em resposta, ela encolheu os ombros. “Eu estive ocupada com outras coisas. O Ancião Naran já tinha um dos ingredientes do qual eu precisava em seu estoque, e enviei seus herbalistas para procurar outro. Se eu tiver um pouco de sorte, posso consegui-lo dentro de algumas semanas.”
“Eles sabem sobre…” Arran começou, falando em voz baixa.
“Espera,” disse a Snow Cloud. “Vamos até ao jardim das ervas. Geralmente fica vazio, assim podemos falar livremente lá”.
Ela conduziu Arran pelo corredores e, pouco tempo depois, entraram na parte de trás do castelo, onde havia um pequeno jardim murado.
Dava para ver por que o jardim costumava estar vazio – pareciam que todas as ervas haviam sido saqueadas há algum tempo, e a única coisa no local era a grama e as ervas daninhas, que cresciam descontroladamente pelos canteiros de terra que antes abrigavam as ervas.
Sentaram-se em um pequeno banco no meio do jardim , mas mesmo que a área pareça estar vazia, Arran ainda assim enviou sua Visão das Sombras. Apenas quando teve a certeza que não havia ninguém por perto é que relaxou.
“Então eles já sabem?”, ele perguntou novamente. “Que estamos à procura de uma cura para o Patriarca?”
“Só o Ancião Naran”, disse Snow Cloud. “Mas ele acha que estou tentando criar uma cura sozinho. Ele não sabe que a receita da minha mãe está comigo. O fato que ele está ajudando é porque ele queria ganhar meu apoio para o Sol Crescente, não por achar que eu tenha alguma chance de sucesso.”
“Não confia nele?”
Ela hesitou em responder, mas quando falou, foi em um tom incerto. “Eu confio no Ancião Naran, só que ele não é o único membro do Sol Nascente. Existem outros que não ficariam muito contentes com a idéia de curar o Vovô.”
Arran franziu o rosto. “Então você acha que seus inimigos estão na fação do Sol Crescente?”
Snow Cloud acenou com a cabeça. “Eu tenho inimigos em todas as facções, se o meu objetivo for divulgado, eu terei mais. Eu ainda não sei quem entre eles agiria contra mim – ou quem é o responsável pelo envenenamento do Avô.”
“Deve ser alguém da fação do Sol Crescente ou da Lua Minguante, certo?”
Arran se lembrava que essas eram as facções que estavam tentando trazer mudanças para o Sexto Vale, sendo que a terceira – a Montanha de Ferro – era formada pelos antigos aliados do Patriarca.
“Não sei”, respondeu Snow Cloud. “Eu ainda era uma criança quando tudo aconteceu. Mas seja quem estiver por trás disso, quanto menos pessoas souberem sobre meus planos, melhor.”
Por alguns minutos, permaneceram sentados em silêncio, Arran analisou a situação e percebeu mais uma vez o quão pouco ele entendia das intrigas dentro do Sexto Vale.
“Você devia ser cauteloso com o Ancião Naran”, disse Snow Cloud eventualmente, com uma expressão pensativa enquanto falava.
Arran a olhou intrigado. “Não acabou de dizer que confiava nele?”
“Eu confio nele no sentido de não me trair,” disse a Snow Cloud. “Mas também sei bem que ele acredita verdadeiramente na causa do Sol Nascente. Ele está tentando me levar para o lado deles, mas se ele acha que você tem valor, ele vai tentar o mesmo com você. “
Imediatamente, Arran entendeu onde ela queria chegar.
“Se eu estiver ligado ao Sol Nascente, as outras facções se tornarão meus inimigos.”
“Exatamente. E não pôde se deixar levar pelo conflito entre as facções. Caso contrário, você se tornará um inimigo bem além da sua força atual.”
“Farei o melhor para não me envolver”, disse Arran, com todas as palavras.
Ele tem consciência desse fato, ele mal sabia pelo que os diferentes lados lutavam, muito menos quais deles estavam certos – ou qual teria a melhor maneira de sair vitorioso. Juntar-se a qualquer um deles seria pura idiotice.
Esta conversa continuou por algum tempo, com Snow Cloud insistindo várias vezes na importância de Arran permanecer fora do conflito, assim como fazendo perguntas sobre o seu Temperamento.
Quando finalmente voltou para o seu quarto, já tinha anoitecido, mas ainda assim passou várias horas no Refinamento Corporal, seguindo-se mais algumas horas estudando o selo do seu Reino da Destruição.
No dia seguinte, assim como nos outros, ele aproveitou todas as manhãs para treinar sua arte de espadachim com os novatos.
Os novatos ficaram felizes em lutar contra ele, loucos por aprender com o que eles achavam ser um mestre espadachim. Mas a verdade é que eles possuíam mais habilidade do que Arran, e enquanto o seu controle permitia que ele os derrotasse, foi ele quem mais aprendeu com as suas trocas.
Depois da Têmpera, o controle que tinha sobre o seu corpo, ficou mais fácil de copiar as técnicas dos seus oponentes. Bastava ver um novato executar uma técnica de espada apenas uma vez para a executar ele próprio, normalmente melhor do que a pessoa de quem a tinha copiado.
Com apenas duas semanas de treino, a sua destreza como espadachim aumentou muito mais que nos anos anteriores, e rapidamente deu por si mesmo a dar conselhos genuínos aos novatos – corrigindo as suas posturas e técnicas, com o conhecimento que adquiriu do seu próprio corpo permitindo-lhe saber como deveriam ser executadas.
Ocasionalmente, Tuya comparecia, às vezes observando o treino e outras vezes dando lições ou dicas.
Ainda que as suas lições tivessem um valor inestimável, Arran aprendeu rapidamente que a ajuda dela tem um preço. Todas as vezes que ela intervinha, tanto ele quanto os outros novatos acabavam ficando um ou dois Cristais de Essência mais pobres, pois a especialista gigante não aparentava ter vergonha de extorquir seus alunos.
Ainda assim, foi um preço que valeu a pena pagar – principalmente para Arran, que possuía uma abundância de Cristais de Essência.
“Onde está o Stone Heart?” ele perguntou a ela um dia depois de terminar seu treino diário. “Não era para ele ter vindo para o castelo?”
Tuya ficou séria com a pergunta. “Ele perdeu a maioria dos seus recrutas depois de atravessar a fronteira”, disse ela. “Por conta disso, ele não possui posição para entrar no castelo. Neste momento, ele está no acampamento e vai continuar lá até se redimir”.
Arran assentiu com a cabeça, pensativo. Apesar de sentir uma certa simpatia pelo Stone Heart, não era muito – a tolice do novato alto custou a vida a milhares de recrutas, e a sua inexperiência não o desculpava.
Além disso, Arran teve outras coisas com que se preocupar.
Além do seu treino regular com a espada, todos os dias passava horas a aperfeiçoar o corpo, e passava mais horas a estudar o selo do seu Reino da Destruição e a praticar a sua habilidade com a magia.
Até mesmo durante esse período de paz e tranquilidade, de forma inesperada, ele se via com pouco tempo, se esforçando para realizar todos os seus deveres. Contudo, como sabia que não podia falhar em nenhum deles, arranjou tempo sempre que pôde, levantando-se bem antes do amanhecer e só dormindo depois da meia-noite.
Em uma dessas noites agitadas, quando estava estudando o selo das sombras, recebeu um chamado para ir ao quarto do Ancião Naran.
Ainda com as palavras da Snow Cloud em sua mente, ele ficou muito preocupado, principalmente pelo fato de não ter visto nenhum sinal do Ancião Naran há semanas. Mas como convidado do castelo, não teve outra escolha senão ir.
Assim que chegou aos aposentos do Ancião, foi surpreendido com a presença de Stone Heart.
“Ótimo, você chegou”, disse o Ancião Naran quando viu Arran. “Senta-te. Temos assuntos para discutir, e não temos muito tempo.”
“Que tipo de assunto?” Arran perguntou quando se sentou numa cadeira de madeira extremamente grande.
“Encontrei uma forma para que possas recuperar as suas forças”, disse o Ancião Naran. Depois, voltou os olhos para Stone Heart, e acrescentou, “E uma maneira para o meu sobrinho recuperar a sua honra.”
Vol. 2 Cap. 147 A Proposta do Dragão
O que devo fazer?” perguntou Stone Heart, mostrando seus olhos brilhando de ansiedade com a chance de se redimir.
Arran não compartilhou o mesmo entusiasmo do novato alto. Ele ainda estava ansioso para recuperar sua força, e os benefícios da têmpera tornavam sua necessidade menos premente, e ele ainda se lembrou de que Snow Cloud havia lhe dito que o Ancião Naran podia tentar convencê-lo a se aliar ao Sol Crescente.
O Ancião Naran olhou para Arran, provavelmente esperando o mesmo tipo de reação de Stone Heart. Como ela não veio, ele raspou a garganta e depois falou.
“Algumas semanas atrás, vocês enfrentaram um exército de Refinadores de Corpo. Esse exército ainda existe. Mesmo tendo sofrido muitas baixas com o fogo e outros com os especialistas que enviei para expulsá-los, ainda restam muitos deles, e seu líder ainda vive.”
Fazendo uma breve pausa, ele acrescentou: “Estou dando a vocês a chance de corrigir isso”.
“Você quer que lideramos um exército para derrotá-los?” Há um toque de entusiasmo na voz de Stone Heart quando ele fala.
“Não”, disse o Ancião Naran. “Eu quero que vocês dois os derrotem.”
Os olhos de Stone Heart se arregalaram de choque. “Você pretende nos fazer lutar contra um exército inteiro?!” Por um momento, permaneceu em silêncio, aparentemente sem palavras. Quando ele finalmente falou novamente, seu tom foi de hesitação. “Se você der a ordem, faremos o que você disser, mas…”
Ele não concluiu a frase, mas sua expressão mostrou claramente que ele considerava que essa era uma missão à qual eles não sobreviveriam.
“Ele tem a intenção de fazer com que você lute contra o exército”, disse Arran categoricamente. “Ele pretende fazer que eu mate o exército e você mate seu líder.”
Ainda que o Ancião Naran não tenha dito nada diretamente, era fácil compreender o plano do homem. Com a magia de sangue, todo inimigo que Arran matasse serviria de combustível para sua força e, se enfrentasse um exército inteiro de Refinadores de Corpo fracos, poderia usar uma fonte quase ilimitada de poder.
Grande parte desse poder seria dissipado poucas horas após a batalha, mas mesmo assim, a força que ele ganharia de forma permanente compensaria facilmente o que ele havia perdido com a têmpera.
Stone Heart deu a Arran um olhar preocupado. “Você vai conseguir? Digo, mesmo com magia de sangue… é um exército inteiro.”
Arran franziu a testa em pensamento, depois assentiu. “Acho que sim.”
Por mais insana que a ideia parecesse, ele achava que seria possível. Contanto que consiga controlar a sede de sangue, a quantidade de inimigos seria uma fraqueza e não uma força.
Ainda assim, o plano não era isento de perigo. Se Stone Heart não conseguir eliminar o mago que lidera o exército, Arran não acredita que a mera força possa salvá-lo de ser derrubado por ataques mágicos. Se ele não conseguisse controlar a sede de sangue, o resultado seria obviamente desastroso.
“A decisão de qual estratégia escolher é entre vocês dois”, o Ancião Naran os interrompeu. “Estou oferecendo a tarefa a vocês porque acredito que podem lidar com ela. Se aceitarem, o resto é com vocês.”
“Eu aceito”, respondeu Stone Heart imediatamente. Era evidente que ele estava desesperado por uma oportunidade de recuperar sua honra, mesmo acreditando que isso poderia lhe custar a vida.
Arran, por outro lado, não se deixou convencer tão facilmente. Mesmo querendo a força que a batalha lhe daria, ele não tinha vontade de se envolver na guerra de facções do Vale e muito menos estar ligado a qualquer uma delas.
“O exército”, ele perguntou com um pensamento. “São aliados de alguma das outras facções? A Lua Minguante ou a Montanha de Ferro?”
“Que eu saiba, não”, respondeu o Ancião Naran. Com um olhar conhecedor para Arran, ele acrescentou: “E se estivessem, não há como culpá-lo por matar um exército que está caçando novatos”.
Mesmo com essas palavras, Arran continuou desconfiado. Ele estava ciente da falta de conhecimento sobre as facções do Vale e, se o Ancião Naran pretendia enganá-lo, seria fácil fazê-lo.
“Preciso discutir isso com Snow Cloud”, disse ele. Ele achou que o Ancião iria se opor, e isso lhe daria um bom motivo para recusar a oferta.
Para sua surpresa, o homem apenas concordou com a cabeça.
“É claro”, disse o Élder Naran. “Mas lembre-se de que ela não está autorizada a se juntar nessa missão. Meu sobrinho deve recuperar minha confiança, e ele não vai fazer isso tendo os outros fazendo o trabalho por ele.”
“Eu não vou falhar com você”, disse Stone Heart, com uma voz suave, mas determinada.
O Ancião Naran deu uma breve pausa, depois disse: “Espero que você não falhe”. Em seguida, ele se virou para Arran. “Me avise sobre sua decisão pela manhã.”
Logo depois, saíram dos aposentos do Ancião, e assim que chegaram ao corredor, Stone Heart parou Arran, mostrando uma expressão preocupada.
“O que você vai fazer se a Snow Cloud dizer para você não ir?”, ele perguntou.
“Então eu não irei”, respondeu Arran honestamente. Se Snow Cloud acreditava que atacar o exército podia ligá-lo ao Sol Crescente, ele não o faria. Como já tinha inimigos suficientes, ele não estava interessado em adicionar duas das mais poderosas facções do Sexto Vale à lista.
Claramente, não era a resposta que Stone Heart aguardava, e o novato alto suspirou profundamente. “Se você não for, eu terei que ir sozinho”.
“Não seja idiota”, respondeu Arran, sentindo-se um pouco irritado com o drama do novato. “Você acabaria sendo morto, e nenhuma honra vale sua vida.”
“Você não entende”, começou Stone Heart, com a expressão perturbada.
Arran o interrompeu antes que ele pudesse continuar. “Eu entendo. No Vale, você era um descendente em uma das famílias mais poderosas, respeitado e temido pelos outros novatos. Agora que sua situação mudou, você acha que é o fim do mundo.”
Stone Heart balançou a cabeça. “Isso não se refere ao meu orgulho. Na Sociedade, a sua posição determina os recursos e o treinamento que você recebe. Se eu não me redimir, serei deixado para trás em relação aos outros e, conforme eu fique para trás, será mais difícil sobreviver aos testes e desafios da Sociedade.”
Por alguns segundos, Arran ficou em silêncio, reconhecendo que subestimou Stone Heart. Ele achava que o novato alto se preocupava apenas com honra e orgulho, mas agora, ele parecia estar enfrentando sua própria batalha pela sobrevivência – uma batalha da qual Arran sabia pouco.
“Ainda assim é uma ideia idiota desperdiçar sua vida”, ele finalmente disse, ainda que seu tom fosse mais suave do que antes. “Todo o treinamento e os recursos no mundo não poderão ajudá-lo se você estiver morto.”
“Você tem razão”, respondeu Stone Heart, “Eu sei muito bem que não posso enfrentar um exército sozinho. Mas eu preciso encontrar uma forma de me redimir, ou a situação só vai piorar.”
“E quanto à sua família?” Arran perguntou. “Eles não vão ajudar você?”
Stone Heart riu alegremente. “A minha família valoriza a força, e pouco mais. O sangue é inútil se você não tiver o poder para defender a Sociedade e o Vale. Neste momento, meu tio deve valorizar mais você do que eu.”
Arran franziu a testa. “Mas eu nem faço parte do Sol Crescente. “
“Isso não importa”, respondeu Stone Heart. “O Sol Crescente procura fortalecer a Sociedade, e não a si mesma. Essa é a diferença entre nós e as outras duas facções: eles lutam pelo próprios interesses, enquanto nós lutamos pela Sociedade.”
Embora Stone Heart tivesse dito as palavras com convicção, Arran duvidou que os membros das outras facções encarassem a situação da mesma forma. Mas então, ele não poderia esperar que Stone Heart fosse imparcial.
“De qualquer forma”, disse Arran depois de pensar por um momento, “Eu vou falar com a Snow Cloud antes mesmo de decidir se vou aceitar a tarefa do Ancião Naran”.
Stone Heart assentiu relutantemente. “Espero vê-lo pela manhã, então”.
Arran se despediu de Stone Heart depois se dirigiu rapidamente aos aposentos de Snow Cloud. Haviam muitas coisas para discutir, e o tempo que tinham era curto.
Ele bateu na porta várias vezes sem obter resposta, e já estava indo verificar os aposentos dos alquimistas até que a porta se abriu. Atrás dela estava Snow Cloud, com os olhos semicerrados e o cabelo despenteado.
Ela olhou confusa para Arran. “Está no meio da noite. Por que você está aqui?”
“O Ancião Naran pediu que eu lutasse contra um exército.”
Vol. 2 Cap. 148 Uma Decisão
“O que ele disse exatamente?” Snow Cloud olhou para Arran fixamente ao fazer a pergunta.
Estão nos aposentos dela, onde Arran pôde notar que são bem mais agradáveis do que os seus. Enquanto ele ocupava um quarto individual com apenas uma cama e uma secretária, a Snow Cloud ocupava três quartos inteiros, incluindo o seu quarto, a sua pequena biblioteca e a sala de estar muito bem mobilada em que se encontravam. Não que ele tivesse inveja, claro – embora um pouco mais de espaço fosse bom.
Arran explicou brevemente a Snow Cloud o seu encontro com o Ancião Naran e Stone Heart, e a proposta que o Ancião Naran havia feito.
Assim que terminou de falar, Snow Cloud franziu os olhos, aparentando surpresa com a ideia. “Ele quer que vocês os dois enfrentem um exército inteiro juntos?”
“Eu presumo que ele quer que eu derrote o exército, e que Stone Heart derrote o seu líder,” explicou Arran. “Com a magia do Sangue, a quantidade de soldados não vai fazer muita diferença para mim.”
“Mas é um exército inteiro”, argumentou Snow Cloud. “Com milhares de soldados.”
Arran abanou a cabeça. “Isso não importa. A Magia de Sangue é diferente da Essência. Meu poder não vai se esgotar enquanto eu estiver lutando – a cada inimigo que eu matar, eu ficarei mais forte. Embora eu não entenda muito bem, acredito que a magia de sangue tenha sido criada para matar exércitos”.
Snow Cloud ergueu a sobrancelha. “O que te faz pensar assim?”
Arran hesitou em continuar, procurando as palavras para os pensamentos que teve desde a sua têmpera.
Depois de alguns instantes, ele falou, com uma voz com pouca confiança. “A maioria do poder que ele dá é temporária, mas a sede de sangue o leva a lutar sem medo da morte.” Suspirou, depois balançou a cabeça. “Não acho que seja para sobreviver. Acredito que foi feito para que uma única pessoa possa destruir um exército e depois a si mesma.”
“Mas você a controla agora, certo?” Houve uma certa dúvida na voz de Snow Cloud, a qual lhe lançou um olhar preocupado.
“Eu tenho”, respondeu Arran.
“Eu acho que você não precisa ir”, disse a Snow Cloud, franzindo as sobrancelhas. “Você pode perder o controle novamente, e mesmo com a magia do Sangue… trata-se de um exército inteiro. E se Stone Heart falhar…”
“Eu não me preocupo com essas coisas”, Arran a interrompeu.
Snow Cloud deu a ele um olhar intrigado. “Você está tão confiante assim na magia do Sangue?”
“Estou ciente de que posso enfrentar o exército”, disse Arran. “Mas também sei que o Ancião Naran vai intervir se as coisas derem errado.”
“Ancião Naran? Eu pensei que ele havia dito que somente você e Stone Heart iriam lutar contra o exército?”
“Ele mentiu”, respondeu Arran. “O que ele deseja mesmo é ver a magia do Sangue em ação, e ele não vai permitir que ela acabe perdendo o controle caso algo aconteça inesperadamente.”
Ele só descobriu isso depois de sua visita ao Ancião, mas no momento em que ele juntou as peças, soube que era verdade.
Quando Tuya o procurou pela primeira vez, contou-lhe que seu pai havia tentado estudar magia de sangue há muito tempo. Ao saber disso, foi justo supor que o homem havia planejado estudá-lo muito enquanto ele estava inconsciente após a têmpera. E agora, o que faltava era ver como seria o impacto da batalha.
Foi por isso que o Ancião não deixou seus seguidores destruírem o exército, de modo que ele queria enviar Arran e Stone Heart sozinhos. Foi um experimento simples e, apesar de que a batalha não seria totalmente sem riscos, Arran teve a certeza de que o resultado já estava determinado.
Snow Cloud ficou surpresa por um momento, mas então, surgiu uma expressão pensativa em seu rosto. “Stone Heart sabe sobre isso?”
Arran balançou a cabeça. “Ele não sabe, e não deveria saber. Para recuperar sua confiança, ele precisa dessa batalha e, para isso, ele precisa acreditar que é responsável por sua própria redenção.”
“Se você tem tudo planejado, então por que veio me pedir conselhos?” perguntou Snow Cloud, parecendo agora um pouco irritado.
“Não estou preocupado com a batalha”, disse Arran, “Mas estou preocupado com o Sexto Vale. Eu não entendo nada sobre o conflito o suficiente para saber se isso vai me ligar ao Sol Crescente ou se vai me fazer ganhar inimigos entre as outras facções.”
Imediatamente, Snow Cloud começou a entender e, por vários minutos, ela permaneceu em silêncio ao considerar o assunto.
“Não vai”, disse ela, por fim. “Não se você não se envolver diretamente no conflito. Os forasteiros que atacam os membros da Sociedade se tornam inimigos de todos, e matá-los não será visto com um aliado de uma facção.”
“E se uma das outras facções enviar o exército?” perguntou Arran, chegando à sua pergunta mais importante.
“Então eles são traidores da Sociedade”, disse Snow Cloud, parecendo estar com raiva da sugestão. “E eles são seus inimigos, independentemente da facção”. Balançou a cabeça e continuou em um tom mais suave: “Mas eu acredito que nenhum deles iria tão longe. Enfrentar uns aos outros é uma coisa, mas ajudar pessoas de fora a matar membros da Sociedade já é uma coisa totalmente diferente.”
Ela falava com uma confiança que Arran não compartilhava, mais parecia claro que, ao menos superficialmente, combater o exército não o colocaria no campo da Sol Crescente. Ainda que isso fosse menos certo do que ele queria, teria que servir.
Caso alguém do Sexto Vale estivesse por trás disso, isso seria um segredo bem guardado, mesmo para sua própria facção. Se ele colocasse um fim no exército, não poderia ser considerado um ataque a nenhuma das facções.
“Então eu lutarei”, disse ele.
Snow Cloud continuou tentando fazê-lo mudar de ideia, mas os esforços dela não deram em nada.
Na verdade, ele desejava ter o poder que a batalha lhe traria, mas a única coisa que o impedia de participar era a possibilidade de que isso fosse considerado uma declaração da facção Sol Crescente. Agora que sabia que esse não era o caso, já estava decidido.
Depois de deixar Snow Cloud, dirigiu-se aos aposentos de Tuya. Ele precisava cuidar de mais uma questão – uma questão importante.
Quando Tuya abriu a porta, Arran não conseguiu entender nada. Ainda que o rosto sonolento dela indicasse que ele havia interrompido seu sono, seus olhos foram atraídos imediatamente para o corpo dela, que mal estava coberto por um conjunto de roupas íntimas escandalosamente pequeno.
“Não era a visita da meia-noite que eu esperava”, disse ela ao acenar para que ele entrasse, parecendo divertida com o constrangimento dele. “Mas imagino que eu poderia fazer pior.”
“Preciso de uma armadura”, disse Arran, se esforçando ao máximo para ignorar as tentativas de provocação dela. Ele teve sucesso apenas em parte, e podia sentir suas bochechas corarem.
“Eu pareço um ferreiro?”, disse ela em um tom divertido, não fazendo questão de cobrir seu corpo.
“Eu pagarei”, respondeu ele, fazendo um grande esforço para manter os olhos no rosto dela. “Em cristais de essência.”
Quando mencionou os Cristais de Essência, seus olhos imediatamente se iluminaram. “Acho que posso encontrar alguma coisa”, disse ela. “Mas duvido que eu consiga algo melhor do que esse seu casaco preto.”
“Não estou querendo substituí-lo”, disse Arran. “O que eu preciso é de luvas, capacete, gorro, ganchos…” Ele levou algum tempo para listar todos os itens de que precisava e, quando terminou, Tuya é quem estava com os olhos arregalados de espanto.
“Onde diabos eu vou encontrar tudo isso?”, ela perguntou, encarando Arran com se ele tivesse enlouquecido.
“Não sei”, respondeu Arran encolhendo os ombros. “Mas se conseguir encontrar tudo isso até de manhã, eu vou lhe dar cem Cristais de Essência.”
“Cem?” Ela estreitou os olhos, mas assentiu lentamente. “Talvez eu consiga encontrar alguma coisa…”
Vol. 2 Cap. 149 A Véspera da Batalha
“Acredito que estamos bem perto”, disse Stone Heart, observando os seis homens mortos no chão à frente deles.
A maior parte das duas semanas que passaram foi em busca do exército e, mesmo tendo encontrado vários grupos de reconhecimento, não havia muito sinal da força principal.
A região apresentava colinas e florestas densas, e o terreno dificultava muito mais a localização do exército do que eles haviam previsto. Em um ambiente como esse, poderiam ter passado facilmente a uma distância de um quilômetro de seus inimigos sem perceber.
Inicialmente, pensaram que poderiam simplesmente capturar alguns batedores e extrair informações deles, o que não foi possível, já que os batedores lutavam com fervor religioso, preferindo a morte à captura. Quando finalmente capturaram um deles vivo, o homem mordeu sua língua bem antes que pudessem fazê-lo falar.
Depois disso, deixaram até de tentar capturar seus inimigos vivos.
Ainda assim, ainda que os batedores encontrados não falassem, eles sabiam de que estavam se aproximando. Nos últimos dois dias, eles haviam encontrado três grupos de batedores além dos rastros de outros.
Arran passou algum tempo procurando os pertences dos batedores mortos e logo abriu um sorriso em seu rosto.
“Nós os pegamos”, disse ele.
Stone Heart lhe lançou um olhar intrigado. “Por que você diz isso?”
Arran ergueu triunfantemente um pedaço de pão fresco.
Imediatamente, os olhos de Stone Heart ficaram arregalados de emoção. “Então eles estão a menos de um dia de distância! Nós os temos!”
Arran acenou com a cabeça com satisfação para o novato alto. Até agora, todos os batedores que haviam matado levavam apenas suprimentos velhos. Pelo fato de terem mantimentos novos, isso significava que eles haviam acabado de sair do acampamento – provavelmente mais cedo naquela manhã.
“Então, o que faremos agora?” perguntou Stone Heart. “Tentamos seguir os rastros deles de volta ao acampamento?”
“Isso não vai funcionar. Nenhum de nós é bom em rastreamento”, disse Arran, balançando a cabeça. “Dê-me um momento.”
Ele avistou o que parecia ser a árvore mais alta perto deles e subiu nela, a subida não representou um grande desafio para seu corpo naturalmente forte e hábil.
Próximo ao topo da árvore, ele conseguia ver a maior parte da área e logo avistou o que precisava: uma colina alta à distância.
Ele desceu novamente e se virou para Stone Heart. “Siga-me. Tenho um jeito de encontrá-los.”
Na floresta densa, demoraram bem mais de uma hora para chegar à colina, e mais uma hora para chegar ao seu pico. Arran não se importava – ele já sabia que seu inimigo não poderia mais escapar deles.
“E agora?” Stone Heart questionou quando finalmente estavam no topo da colina, camuflados entre os arbustos em seu pico.
Ainda que pudessem ver quilômetros ao redor de sua posição, só era possível ver a espessa copa da floresta ao redor. Não existia qualquer sinal do exército.
“Agora é só esperar”, respondeu Arran. “Eles vão montar um acampamento quando começar a anoitecer e, quando o fizerem, conseguiremos ver a fumaça de suas fogueiras.”
Ele tinha uma confiança razoável de que o plano funcionaria. Uma tropa de milhares de pessoas se movia lentamente e, pelo que ele tinha visto de seus inimigos até agora, acreditava que eles não tinham a disciplina necessária para esconder seus fogos.
O tempo foi de muitas horas e, quando a noite começou a cair, Arran já estava se preocupando. Mesmo com sua previsão, não havia sinal de fumaça em nenhum lugar à distância, mas não demoraria muito para que anoitecesse e o céu ficasse escuro demais.
“Ali!” disse Stone Heart, justamente quando Arran estava pensando que havia cometido um erro. “Veja!”
Arran seguiu o conselho do novato e, com algum esforço, pôde identificar uma fina nuvem de fumaça a cerca de 16 quilômetros da posição deles. Ainda que ele não pudesse ter certeza de que a fumaça vinha do exército, logo apareceu outra pequena nuvem de fumaça, e depois outra.
Eles haviam encontrado o exército.
Stone Heart olhou levemente para Arran. “Acha que devemos dar uma olhada?”
Arran acenou com a cabeça. “Precisamos explorar o terreno e verificar o número deles antes de agirmos. Só existe uma maneira de fazer isso.”
Os dois partiram imediatamente, aproveitando a luz que restou para se aproximar dos inimigos o mais rápido que puderam. Empolgados por terem encontrado seus inimigos, progrediram rapidamente e atravessaram a maior parte do trajeto em menos de uma hora.
Ao se aproximarem do acampamento, foram obrigados a se mover com mais cautela. Haviam guardas nos arredores do acampamento, mas nenhum deles possuía habilidade para se esconder. Ainda assim, a escuridão os ocultava e a Visão das Sombras de Arran revelava os guardas que estavam por perto, de modo que eles conseguiram passar despercebidos.
Finalmente, alcançaram um local em uma encosta coberta de floresta densa de onde se podia ver o acampamento dos inimigos, a apenas alguns metros de distância.
Embora Arran já soubesse que seus inimigos eram milhares, agora que ele podia vê-los de fato, ainda se sentia em choque. O acampamento era repleto de pequenas fogueiras, cada uma cercada por uma dúzia de soldados, e muitos outros soldados andando entre elas.
De repente, Arran passou a duvidar da sua capacidade para enfrentá-los. Mesmo que a sua razão lhe dissesse que os números não fariam diferença, os seus olhos tinham dificuldade em acreditar nisso.
“Há muitos deles”, sussurrou Stone Heart, repetindo os pensamentos de Arran.
“Você já encontrou o líder deles?” Arran perguntou em voz baixa, reprimindo qualquer ansiedade que sentia.
“Não”, respondeu Stone Heart. “Mas olhe, parece que algo estar acontecendo no centro do acampamento.”
Com um olhar, Arran viu que Stone Heart estava certo. No centro do acampamento, sobre um pequeno monte de terra, havia um grupo de soldados empilhando madeira no que parecia ser uma pira.
“Vamos esperar e ver o que acontece”, disse Arran.
Eles aguardaram pacientemente, vendo a maioria dos soldados comendo enquanto os outros continuavam a construir a pira. Depois de terminarem, atearam fogo e, em instantes, o fogo se alastrou por toda a pilha de madeira, queimando dezenas de metros em direção ao céu.
Poucos momentos depois, os soldados deixaram suas fogueiras, aglomerando-se em um grande círculo ao redor do fogo. Era evidente que algo estava prestes a acontecer, embora Arran não tivesse ideia do quê.
Depois de alguns minutos, um homem alto e careca, com pele branca como papel, atravessou a multidão de soldados, que se abriu à medida que ele passava. Finalmente, ele parou bem em frente à fogueira e se virou para encarar os outros.
“É ele!” Stone Heart sibilou. “O mago!”
Arran concordou com a cabeça, e já havia imaginado que esse seria o líder do exército – o chamado “Senhor dos Ossos”.
O homem careca abriu bem os braços e depois falou.
“O Deus do Sangue nos abençoou com força!”
Sua voz profundamente grave soou pelo acampamento como um trovão, e Arran soube que ele deve estar usando algum tipo de magia para amplificá-la.
“O Deus do Sangue tem nos abençoado, mas desperdiçamos sua bênção!”, continuou o mago. “Esta noite, ofereceremos sacrifícios como penitência para pedir que ele conceda sua bênção!”
Arran teve um sentimento de aflição, sabendo o que estava prestes a acontecer.
“Tragam os sacrifícios!”
Surgiu um grupo de soldados, carregando uma dúzia de prisioneiros amarrados e com os olhos vendados. Imediatamente, as mãos de Arran atingiram o ombro de Stone Heart, não permitindo que o novato agisse naquele momento.
“Não podemos deixar que eles façam isso!” disse Stone Heart, cuja voz estava mais alta do que deveria. “Eles vão queimá-los!”
“Não podemos atacar agora”, respondeu Arran. “Se atacarmos, seremos mortos. Agora venha comigo.”
Se atacassem o exército de frente, os soldados dominariam Stone Heart, e o mago estaria livre para atacar Arran. Para vencer, era preciso separar o mago de seus soldados para que Stone Heart ocupasse o líder enquanto Arran massacrava os homens.
Stone Heart permitiu que Arran o guiasse para longe, mesmo que com relutância. À medida que avançavam pela floresta, os gritos soavam ao longe, fazendo com que soubessem que os sacrifícios dos inimigos haviam começado.
Ao se afastarem do acampamento, cerca de 800 metros, Arran parou e se virou para encarar Stone Heart.
“Ouça”, disse ele assim que retirou a armadura de suas bolsas vazias. “Só teremos uma chance, e precisamos agir rapidamente.”
“O que vamos fazer?” Stone Heart perguntou, com uma expressão friamente assassina em seu rosto.
“Pegue isso”, disse Arran, entregando a Stone Heart seu Manto do Crepúsculo. “Há uma colina a cerca de um quilômetro atrás. Preciso que se esconda lá em cima. O mago inimigo vai até lá assim que a batalha começar e, quando isso acontecer, eu quero que você queime o rosto dele. Não se revela até que ele se envolva, não importa o que aconteça”.
Stone Heart franziu a testa. “Como você sabe que ele estará lá?”
“Deixe isso comigo.” Arran não se deu ao trabalho de explicar. Simplesmente não havia tempo livre para detalhar o plano se formando em sua mente.
“Tudo bem”, disse Stone Heart depois de uma breve pausa. Em seguida, olhou para a pilha de armaduras em que Arran havia tirado a bolsa. “O que há com a armadura?”
Arran já esperava essa pergunta. Em geral, os magos evitavam a armadura, dando preferência à velocidade e à mobilidade que seriam mais úteis contra outros magos. No entanto, esta não era uma batalha normal e, caso tudo corresse bem, Arran não estaria enfrentando magos.
“Estou lutando contra um exército”, respondeu Arran. “Eu não quero que um idiota sortudo dispare uma flecha em minha garganta durante a execução daqueles bastardos.”
Era a verdade, mas não era toda a verdade. Sua armadura o ajudava a se proteger, ao mesmo tempo que ocultava sua identidade. Apesar das palavras de Snow Cloud, Arran temia que uma das outras facções pudesse estar envolvida.
“Agora se apresse”, disse ele. “Eu quero atacar quando eles estiverem todos reunidos.”
Stone Heart lhe deu um aceno de cabeça. “Boa sorte”, disse ele, e então partiu rapidamente, com sua imagem alta desaparecendo nas sombras da floresta.
Assim que Arran começou a vestir sua armadura, ele foi tomado por uma determinação fria. Seja qual for o Deus do Sangue que os inimigos queriam agradar, esta noite, nenhum deus poderia salvá-los.
Vol. 2 Cap. 150 Bai
Arran vestiu a armadura o mais rápido que pôde, mas mesmo assim levou mais tempo do que gostaria. Entre o casaco, o elmo, as luvas, o gorro, os pés, e todas as outras partes, montar a armadura era um trabalho lento, e esse não era o único aspecto negativo de usar uma armadura completa.
Era impressionante a qualidade da armadura, ainda mais pelo fato de Tuya tê-la conseguido encontrar em poucas horas, em plena noite. A armadura era toda encantada e lhe servia melhor do que ele poderia esperar.
Mesmo assim, usá-la o deixava mais lento e prejudicava seu equilíbrio, e quando colocava o elmo, sua visão ficava imediatamente restrita. Se fosse usado por outro mago, o sacrifício seria muito grande para uma pequena proteção adicional.
Porém, Arran era diferente dos outros magos. A capacidade de controle que ele havia adquirido com a têmpera permitia que ele compensasse facilmente o peso e o volume da armadura e, mesmo na escuridão da noite, sua Visão das Sombras era muito mais útil do que seus olhos.
Após terminar de vestir o traje, todas as partes de seu corpo que não estivessem protegidas pela armadura estavam cobertas de aço. Contra Refinadores de Corpo, essa proteção estaria longe de ser impenetrável, mas ele não pretende deixar que seus inimigos aproximem-se o suficiente para causar danos sérios. Pelo menos, não vivos.
Para não perder tempo, imediatamente iniciou a busca pelos locais dos guardas mais próximos. Ainda que os gritos ao longe e a sede de sangue que sentia nele o incitassem a atacar imediatamente, ele os ignorou – a pressa não lhe seria útil.
Ele tomou medidas para localizar todos os batedores que haviam sido colocados no lado do acampamento mais próximo a ele, assegurando-se de não perder nenhum deles.
Depois que terminou, parou por alguns minutos para decidir seu caminho de ataque. Em seguida, respirou fundo e, por trás do visor de seu capacete, abriu um sorriso em seu rosto.
Era hora de matar.
Aproximou-se da primeira dupla de guardas em uma corrida, não se preocupando em esconder sua aproximação. Mesmo assim, na escuridão, só o notaram quando ele já estava sobre eles, e eles mal puderam empunhar as armas antes que ele atacasse.
Quando Arran o atacou, um dos guardas morreu instantaneamente, com seu primeiro golpe rasgando seu pescoço, e o sangue jorrando de seu corpo ao cair no chão.
O outro tropeçou para trás, com o medo em seus olhos enquanto segurava sua espada diante de si. Ele começou a gritar: “Estamos sob…”.
Mas morreu muito antes de conseguir terminar as palavras, com a espada metálica de Arran atingindo seu coração com um único golpe.
Arran não se deteve para olhar os corpos. Imediatamente, ele se lançou em direção ao próximo par de guardas, pulando entre as árvores com passos poderosos.
“Invasores!”, um dos guardas gritou quando viu Arran se aproximar, e o outro ergueu a arma e se preparou para enfrentar o atacante.
Um segundo depois, seus corpos já estavam espalhados pelo chão, um deles sem a parte superior da cabeça e o outro cortado em dois pela cintura.
Novamente, Arran saiu correndo.
O próximo oponente era um único guarda, o qual ficou paralisado de medo no momento em que Arran apareceu. Por vários momentos, Arran esperou, porém o homem não sacou sua arma nem gritou. Por fim, ele suspirou e esfaqueou o homem na garganta.Enquanto o corpo do guarda caía no chão, Arran gritava: “Socorro! Invasores!”
A impressão que ele teve do soldado em pânico foi desajeitada, mas a essa altura, os gritos de alarme vinham do acampamento. Com sua Visão das Sombras, ele podia dizer que os primeiros reforços se dirigiam para os guardas.
Ele atacou mais duas posições de guarda em rápida sucessão, garantindo que os soldados pudessem ter tempo para solicitar apoio antes de morrerem.
A essa altura, ele já estava sentindo os primeiros sinais da magia de sangue em seu corpo e, mesmo que o efeito ainda fosse fraco, era possível sentir o aumento de sua força e velocidade. O desejo de sangue também aumentou, mas não teve problemas para controlá-lo.
Ele correu para a floresta, afastando-se do acampamento. A essa altura, vários soldados já haviam encontrado os corpos dos guardas que haviam morrido e outros inúmeros soldados estavam se juntando a eles. Quando eles começaram a vasculhar a floresta, Arran conseguia ouvi-los gritar de raiva.
Cerca de cem passos dentro da floresta, ele deu meia-volta abruptamente e se dirigiu ao grupo de soldados próximo aos dois primeiros guardas que havia matado.
Haviam aproximadamente vinte deles, mas ele os pegou de surpresa, matando três e ferindo outro em um único fôlego. Entre sua surpresa e a escuridão ao redor deles, os soldados mal tiveram tempo de reagir antes que Arran sumisse nas árvores novamente.
“Pegue-o!”, gritou um dos homens. Ele sorriu, ao saber que eles haviam mordido a isca.
Mais uma vez, correu para a floresta, afastando-se com facilidade de seus perseguidores. Ele parou assim que os soldados saíram do alcance de sua Visão Sombria e ficou parado por alguns instantes analisando a área.
Ao verificar que havia apenas seis soldados perto do último posto de guarda que havia atacado, imediatamente se dirigiu ao pequeno grupo. Quando os alcançou, desencadeou uma série de ataques furiosos que não tiveram chance de resistir.
Mesmo sob condições normais, Refinadores de Corpo fracos como eles representariam pouca ameaça para ele e, agora, ele não apenas tinha a vantagem de sua Visão das Sombras, mas também do poder da Magia de Sangue que estava se fortalecendo rapidamente.
Assim que o último foi morto, Arran deu um tempo para recuperar o fôlego e depois gritou a plenos pulmões. “Eles estão fugindo! Peguem-nos!”
Novamente, ele se retirou para a floresta e depois voltou para atacar outro grupo, matando e ferindo apenas alguns deles. Em seguida, retirou-se rapidamente, sem que o grupo conseguisse alcançá-lo na escuridão.
Ele atacou várias e várias vezes, sempre escolhendo um lugar diferente e matando somente alguns inimigos antes de fugir novamente.
Para os soldados, era como lutar contra uma pequena tropa de batedores ou invasores, com a velocidade e a Visão das Sombras de Arran fazendo com que ele pudesse atacar e recuar sem esforço.
Ele poderia facilmente ter causado muito mais danos, mas esse não era seu plano.
Caso ele permanecesse e lutasse, rapidamente seus inimigos descobririam que enfrentavam um único oponente e, então, o mago chefe poderia atacar à distância enquanto seus homens mantinham Arran ocupado.
Ele precisava que os soldados ficassem confiantes, acreditando que estavam expulsando o inimigo graças à sua quantidade de soldados. Ele os atraía para a floresta e depois os conduzia à uma batalha que não poderiam vencer.
No entanto, o avanço dos soldados era mais lento do que Arran queria. Eles foram cautelosos o suficiente e, mesmo agora, eles estavam entrando na floresta com apenas uma pequena quantia, enquanto o resto ainda estava no acampamento.
Ainda assim, tudo o que podia fazer era continuar, e assim ele fez.
Todos os seus ataques eram uma punhalada na força inimiga, com dois soldados morrendo em um lugar, e depois alguns em outro. Seus ataques mal reduziram o número de soldados, mas causaram confusão e caos suficientes para evitar que eles se dessem conta de que estavam enfrentando apenas um único oponente.
Além disso, ainda que o inimigo não mordesse a isca, cada ataque deixava Arran mais forte. A esta altura, a magia do sangue enchia suas veias de poder, fazendo com que cada soldado que ele matava adicionasse ainda mais à sua força.
A sede de sangue aumentava também, mas ele conseguia controlá-la facilmente. Ao invés de um desejo avassalador pelo massacre de seus inimigos, ele agora se aproximava mais de uma sugestão educada para matar – uma sugestão que ele seguia de bom grado, mas que poderia resistir com facilidade se quisesse.
A batalha na floresta prosseguiu por algum tempo, Arran continuou a assediar os soldados inimigos com pequenos ataques, mas mortais, atraindo-os lentamente para dentro da floresta.
Até que, finalmente, ele ouviu as palavras que estava esperando, ecoando pela floresta com a voz amplificada do mago.
“Matem os invasores! Não deixem ninguém escapar!”
Arran sorriu aliviado. O mago havia mordido a isca.
Seu plano provavelmente teria falhado contra outro inimigo. Caso o comandante adversário fosse um plebeu ou apenas um Refinador de Corpos, ele se retiraria e concentraria suas forças, temendo por possíveis armadilhas.
Mas esse era um mago, e Arran conhecia bem o hábito dos magos de subestimarem aqueles que não têm magia. O homem pode não ser tão tolo a ponto de assumir a liderança na expulsão dos atacantes, mas também não consideraria uma pequena força sem usuários de magia como uma grande ameaça.
Afinal, na visão do inimigo de Arran, os magos mais fortes que ele simplesmente teriam atacado o acampamento com força destruidora, e os mais fracos teriam precisado de magia apenas para deter os soldados.
Foi uma aposta, mas felizmente, as coisas pareciam estar funcionando como Arran pretendia.
A primeira de suas armadilhas havia sido acionada. Agora, estava na hora da segunda.