Vol. 2 Cap. 151 Lutando contra um exército

As palavras vigorosas do mago imediatamente agitaram todo o acampamento e, em poucos instantes, a Visão das Sombras de Arran mostrou a ele que havia milhares de soldados entrando na floresta, e muitos outros os seguiam.

Foi exatamente o que ele queria que acontecesse e não conseguiu evitar a empolgação ao ver seus inimigos caindo na armadilha tão facilmente. Apesar de ter se preparado com a possibilidade de que eles vissem através da armação – afinal de contas, não era nada sutil – parece que tudo saiu conforme o planejado.

Seu ânimo se elevou mais ainda quando ele percebeu que o avanço dos inimigos era caótico, sem nenhum tipo de organização. Ao invés de progredir em fileiras apertadas, como ele imaginou que um exército real faria, eles se moviam em uma massa caótica.

O avanço desorganizado deles permitiu que Arran prosseguisse atacando da mesma forma que antes, com ataques rápidos e furiosos e depois desaparecendo na floresta antes que eles pudessem responder.

Muitos soldados foram capazes de trazer tochas, e Arran os recompensou pelo bom senso matando-os primeiro. A escuridão é sua aliada nessa batalha, portanto, ele deveria mantê-la da melhor forma possível, matando todos aqueles que a ameaçassem.

As palavras vigorosas do mago imediatamente agitaram todo o acampamento e, em poucos instantes, a Visão das Sombras de Arran mostrou a ele que havia milhares de soldados entrando na floresta, e muitos outros os seguiam.

Foi exatamente o que ele queria que acontecesse e não conseguiu evitar a empolgação ao ver seus inimigos caindo na armadilha tão facilmente. Apesar de ter se preparado com a possibilidade de que eles vissem através da armação – afinal de contas, não era nada sutil – parece que tudo saiu conforme o planejado.

Seu ânimo se elevou mais ainda quando ele percebeu que o avanço dos inimigos era caótico, sem nenhum tipo de organização. Ao invés de progredir em fileiras apertadas, como ele imaginou que um exército real faria, eles se moviam em uma massa caótica.

O avanço desorganizado deles permitiu que Arran prosseguisse atacando da mesma forma que antes, com ataques rápidos e furiosos e depois desaparecendo na floresta antes que eles pudessem responder.

Muitos soldados foram capazes de trazer tochas, e Arran os recompensou pelo bom senso matando-os primeiro. A escuridão é sua aliada nessa batalha, portanto, ele deveria mantê-la da melhor forma possível, matando todos aqueles que a ameaçassem.

Em meio à escuridão e aos ataques constantes de Arran, as tropas avançavam lentamente, com a perda de homens aos poucos passos que davam. Ainda assim, por mais estranho que pareça, a moral deles parecia estar nas alturas – pelos gritos e chamados, ficava claro que eles achavam que estavam vencendo a batalha.

Mas eles não vestiam uniformes e nem podiam saber se os corpos que tropeçavam eram seus. Eles avançavam enquanto lutavam, o que parecia ser suficiente para convencê-los de que tinham a vantagem.

Várias vezes, Arran presenciou grupos de soldados atacando uns aos outros, sem saber diferenciar amigo e inimigo no escuro. Essa luta aumentou ainda mais a impressão do inimigo que eles estavam enfrentando uma força inimiga e, obviamente, ele não interferiu com eles.

Conforme a batalha caótica continuava, Arran atraiu seus inimigos mais e mais para dentro da floresta, lentamente os guiando em direção à colina onde Stone Heart estava escondido. A colina não ficava a mais de um quilômetro de distância do acampamento, mas a velocidade lenta em que a linha de frente se movia significava que cruzar a curta distância levava quase meia hora.

Longe de estar impaciente, Arran gostou do avanço lento do exército.Ainda que a verdadeira batalha ainda não tivesse começado, já haviam caído centenas de soldados inimigos, cada morte alimentava a magia de sangue de Arran. Quando mais soldados caíam, mais forte Arran ficava quando atacava de verdade.

Apesar da escuridão e do caos, eventualmente um soldado próximo à frente tinha a ideia certa, solicitando uma retirada ou gritando que havia apenas um inimigo.

Sempre que isso acontecia, Arran corria imediatamente para lá, matando aquele soldado de raciocínio rápido e todos aqueles que o cercavam, evitando que os avisos tomassem conta dos outros soldados.

Da mesma forma, os soldados que tentavam trazer um pouco de ordem para suas fileiras desordenadas. Arran desejava que seus inimigos ficassem confusos e desorientados, e ele não admitia nenhuma interferência em seus planos.

Os abates foram bem-sucedidos e, à medida que o exército avançava, as fileiras se tornavam mais desordenadas. Não havia ninguém que soubesse o que estava acontecendo na escuridão ao seu redor, e não havia ninguém na retaguarda que soubesse o que estava acontecendo na frente.

Como os soldados se encontravam em total desordem, Arran os levou com facilidade até a colina. Mas não parou por aí. Em vez disso, ele os conduziu ainda mais adiante, por vários passos ao longo da encosta da colina.

Finalmente, pararam a uns trezentos passos do pico da colina, lugar em que Stone Heart estava escondido.

Era ali que ele se posicionaria, e era ali que o exército encontraria seu fim.

Por um breve momento, ele permaneceu imóvel e fechou os olhos, deixando que a magia do Sangue o preenchesse com toda a sua força. No início, ele a havia contido, evitando revelar seu poder aos inimigos. Mas agora, era o momento de liberar todo o seu poder.

Em um movimento repentino, Arran avançou rapidamente, com dois saltos que o levaram para dentro das linhas de soldados. Imediatamente, ele começou a atacar com selvageria, não se contendo mais.

A matança havia começado.

A espada metálica de Arran era pesada e afiada, ele a balançava com a força de um titã louco, golpeando os corpos de seus inimigos com extrema facilidade. Em segundos, já haviam morrido dezenas de soldados inimigos, e a lâmina os cortava como uma foice na grama.

Cada golpe dele era fatal, geralmente cortando vários inimigos de uma vez. Muitos não tiveram tempo de gritar ou fugir – assim que chegaram ao alcance da lâmina de Arran, tiveram seus corpos despedaçados e a vida arrancada deles muito antes de chegarem ao chão.

Na escuridão, apenas aqueles mais próximos da ceifa tiveram uma noção do que estava acontecendo. Contudo, ninguém conseguia escapar, já que a massa de soldados atrás deles prosseguia sem pensar, levando-os à morte.

O massacre repentino encheu Arran com um novo impulso de poder e, conforme a magia do Sangue crescia dentro dele, a sede de sangue passava de uma brasa para um incêndio.

No entanto, mesmo com toda a sua força, a sede de sangue não fazia com que seu controle vacilasse. A têmpera já havia feito seu trabalho e, agora, Arran era capaz de comandar tanto a força quanto a sede de sangue que ele havia adquirido com a magia de sangue.

Quando ele derrotou o grupo de invasores, ele lutou em uma fúria cega, com uma força esmagadora, mas com os sentidos embotados. Agora, ele estava no controle total de seus sentidos e de sua força, e essa combinação se mostrou assustadoramente eficaz.

Mesmo enquanto lutava, Arran se surpreendeu com seu próprio poder. Era de se esperar que a magia do sangue pudesse ser mais eficaz se sua mente estivesse intacta, mas ele não sabia o tamanho da diferença.

Ele percorreu o campo de batalha como um deus da morte, eliminando as vidas de todos os que estavam ao seu alcance, sendo implacavelmente eficiente no comando de seu poder. Ele lutava com uma fúria controlada, e todos os ataques que fazia tinham como objetivo causar o máximo de dano.

Por vários minutos, a matança continuou e, nesses minutos, centenas de soldados morreram sob a lâmina de Arran.

Logo, porém, as tropas começaram a fraquejar. Ainda que os soldados na retaguarda não soubessem exatamente o que estava acontecendo, os gritos de terror e dor da vanguarda deixaram claro que não era nada bom.

Então, abruptamente, o avanço do exército foi totalmente interrompido.

Levados à loucura pelo pânico, alguns dos soldados mais próximos de Arran voltaram suas armas contra os aliados, desesperados em abrir caminho para a segurança. Outros o seguiram, e logo começaram a surgir dezenas de pequenas brigas ao longo das linhas de frente.

Ainda que o exército não tivesse sido derrotado, Arran sabia que agora era uma questão de minutos até que o ataque fosse completamente interrompido.

Ele intensificou seus ataques imediatamente, ansioso em expulsar seus inimigos. Caso conseguisse derrotar o exército sem que seu líder tivesse a chance de intervir, Arran conseguiria unir forças com Stone Heart para derrotar o mago, e sua vitória seria certa.

Mas naquele momento, as forças inimigas estavam à beira do colapso, e Arran sentiu isso. Uma onda repentina e maciça de Essência no topo da colina.

Ele saiu correndo sem hesitar, passando por um grupo de soldados em combate.

Um momento depois, houve uma bola de fogo branca que voou em direção ao centro da batalha, onde Arran se encontrava momentos antes. O impacto foi estrondoso e, em seguida, expandiu-se rapidamente em uma grande nuvem de fogo tão quente que Arran pôde senti-la queimá-lo mesmo a dezenas de passos de distância.

Embora a magia do sangue pudesse curar as queimaduras rapidamente, Arran se perguntava se ele poderia resistir a um golpe direto e rapidamente resolveu não ter interesse em descobrir.

É melhor Stone Heart se apressar, pensou ele, ou a batalha inteira poderia se transformar em um desastre.

Ao mesmo tempo, o exército começou a se animar. Mesmo que o ataque tenha matado dezenas deles, os soldados sabiam claramente que havia chegado ajuda, então o exército que estava prestes a ser derrotado começou a recuperar sua determinação.

Arran continuou a lutar, com sua espada atravessando os soldados recém-inspirados. Mago inimigo ou não, seu objetivo era quebrar o exército, e ele não se permitiria falhar.

Surgiu outra bola de fogo e, dessa vez, acertou ainda mais perto de Arran. Nesse ritmo, ele pensou, não demoraria muito para ser forçado a testar os limites da capacidade de cura da magia do Sangue.

Mas então, ele sentiu uma enorme onda de Essência e, segundo depois, um trovão estrondoso soou do topo da colina, um som extremamente alto que parecia que o próprio céu estava se dividindo.

Os soldados imediatamente pararam, e Arran precisou se forçar a continuar lutando. Ele entendeu que Stone Heart havia entrado em confronto com o mago e, com base na força que acabara de sentir, a batalha parecia ter sido decidida em um único ataque.

Por alguns instantes, nada aconteceu. Então, ocorreu outro surto de Essência e uma bola de fogo enorme veio voando do topo da colina. No entanto, diferentemente das anteriores, essa tinha como alvo direto o exército e o atingiu com um efeito devastador. Em seguida, veio outra, novamente direcionada ao exército.

Foi demais. A última esperança deles se desfez, o ânimo dos soldados falhou e o exército se desfez.

Em poucos instantes, milhares de soldados ainda vivos estavam correndo, o pânico os levou a fugir em todas as direções.

Antes que Arran tivesse a chance de sentir algum alívio, de repente ele sentiu dois magos acumulando grandes quantidades de Essência. Uma delas seria Stone Heart, e a outra só poderia ser um inimigo.

Arran imediatamente correu para o topo da colina, entretanto, ele sabia que chegaria tarde demais para fazer alguma diferença.

Enquanto Arran corria, a colina foi brevemente tomada por uma tempestade de fogo e relâmpagos. Momentos depois, a tempestade diminuiu, a batalha já havia terminado.

Arran acelerou o passo, se aproximando do topo da colina rapidamente. Com a magia do sangue fortalecendo seu corpo, ele percorreu a distância em segundos e logo viu Stone Heart surgir ao longe.

O novato alto foi cercado pelos destroços das árvores e arbustos em chamas e, quando viu Arran se aproximar, ele levantou a mão em sinal de saudação.

“Não precisa se preocupar! Eu peguei os dois!” Stone Heart gritou, com algum orgulho em sua voz.

Arran não parou. Quando ele ergueu a espada ao disparar para frente e lançou um ataque devastador de Força de Batida direto em Stone Heart, os olhos do novato se arregalaram de choque.

Vol. 2 Cap. 152 Novatos

Stone Heart se preparou para o ataque de Arran, levantando um escudo que parecia ser de Essência do Vento.

No momento em que o ataque o atingiu, no entanto, se chocou contra seu alvo real – um mago com capa de sombra que se dirigia a Stone Heart com uma espada em suas mãos.

Esse ataque acertou o mago com força nas costas, lançando o homem contra o escudo de Stone Heart. Stone Heart tropeçou para trás com a força do impacto, e o mago caiu pesadamente no chão.

A força do ataque provou ser suficiente para quebrar a concentração do mago, levando seu Manto das Sombras a falhar. Em um breve lampejo de luz no ar, um homem baixinho e gordo de repente se tornou visível aos olhos.

Mesmo tendo sofrido um golpe direto que o teria incapacitado, o mago levantou-se imediatamente e, sem hesitação alguma, virou-se para Arran e atirou uma corrente de fogo branco, semelhante a um raio, de suas mãos. Ele atingiu Arran na perna, queimando sua armadura e deixando um buraco do tamanho de um punho em sua coxa.

Antes do mago poder dar sequência ao ataque, o Stone Heart cortou seu pescoço por trás com sua enorme espada, matando o homem instantaneamente.

Quando o corpo sem cabeça do mago caiu no chão, Stone Heart se aproximou de Arran, com o rosto cheio de preocupação. “Ele bateu em você! Você está bem?”

“Estou bem”, disse Arran, levantando-se. “Minha armadura sofreu o impacto.”

Na verdade, sua armadura foi completamente inútil contra o ataque, e o ferimento foi grave. Porém, com o poder de mil mortes recentes, a magia do Sangue a curou em segundos.

Ele se sentiu um pouco culpado por ter mentido para seu companheiro, se bem que Stone Heart já conhecia a magia do Sangue, Arran desejava manter toda a extensão de seus poderes oculta o melhor possível.

“Eu pensei que você tivesse enlouquecido de novo”, disse Stone Heart, olhando para Arran com uma preocupação quase oculta nos olhos.

“Desta vez, não”, respondeu Arran simplesmente.

Stone Heart assentiu, aparentemente aliviado de que Arran esteja se mostrando tão normal quanto se poderia esperar, dada a situação.

Mas então, seu olhar se voltou ao cadáver no chão. “Ele usou uma capa de sombra”, disse Stoneheart. “Isso significa que deve ser um novato em Shadow Flame. Como você o detectou?”

“Usei uma técnica que aprendi há algum tempo”, disse Arran deu de ombros. Ele desferiu um chute no corpo com a perna que quase perdeu, depois acrescentou: “Talvez ele fosse um desertor?”

“Talvez”, disse o novato alto, mas ele não parecia convencido. “Havia outro também, mais cedo. Temos que levar seus sacos vazios para meu tio. Quem sabe ele consiga descobrir quem eles eram.”

“O que aconteceu com o cara careca?” perguntou Arran, lembrando-se de seu inimigo original.

“Eu o acertei nas costas com todo o poder que eu tinha”, disse Stone Heart, aparentando estar um pouco envergonhado. “Imagino que não restou muito dele. Afinal, como você sabia que ele estaria aqui?”

“Por você”, disse Arran. Ao ver a expressão intrigada de Stone Heart, ele continuou: “Em nossa luta contra o grupo de invasores, você preferiu ir para um lugar mais alto e atacá-los à distância. Eu imaginei que outros magos pensassem de forma semelhante, portanto, eu encontrei essa área com apenas um único ponto que se encaixava no perfil.”

“Será que somos realmente tão previsíveis assim?” O Stone Heart ficou pensativo, embora ligeiramente preocupado.

“Eu poderia estar errado”, disse Arran com um encolher de ombros. “Mas você deveria ir ao acampamento para verificar se os prisioneiros estão vivos e depois voltar para o castelo. Imagino que seu tio queira saber sobre os novatos.”

“Você não vem comigo?”

“Vou ficar um tempo caçando os soldados restantes”, respondeu Arran. “Mesmo estando espalhados e sem líderes, eles poderiam facilmente acabar com algumas dezenas de aldeias.”

Além disso, ele não queria deixar de lado o poder que obteria ao matá-los. Ainda que a maior parte se dissipasse rapidamente, os poucos resquícios ainda eram inestimáveis para ele.

“Então eu vou me certificar de que você será recebido como um herói quando voltar”, disse Stone Heart, com um sorriso no rosto.

Arran balançou a cabeça. “Não conte a ninguém sobre os meus atos. Eu não quero que a notícia da magia do Sangue se espalhe, além disso, um recruta lutando contra um exército inteiro chamaria muita atenção. O mérito da batalha é todo seu”.

Stone Heart olhou como se a ideia o ofendesse. “Não posso fazer isso!”, ele disse, com um toque de raiva em sua voz. “Eu não posso levar o crédito por suas ações – e além disso, certamente ninguém acreditará que eu derrotei um exército.”

“Você merece a honra”, respondeu Arran. “Você matou três magos. Em relação a como você fez isso, apenas diga que você matou o líder em um ataque surpresa e que o exército se desfez depois disso. De qualquer forma, foi mais ou menos isso que aconteceu.”

Embora Stone Heart não parecesse feliz com a ideia, acabou soltando um suspiro resignado. “Muito bem. Só não pense que vou esquecer os favores que lhe devo.”

“Se você esquecer, eu o lembrarei”, disse Arran. “Agora vá. “

Arran observou Stone Heart partir em direção ao acampamento. Ainda que houvesse alguns soldados inimigos na área, o novato alto provou que podia se virar sozinho, e alguns Refinadores de Corpo fracos não seriam um problema.

Ele esperou que Stone Heart desaparecesse na noite e saísse do alcance de sua Visão das Sombras. Então, ele se virou.

“Você pode se mostrar agora.”

“Você sentiu a minha presença?” O Ancião Naran perguntou enquanto sua forma gigante se tornava visível. Houve uma pitada de surpresa em seu tom.

“Não a sua. A deles.” Arran apontou os três magos mortos aos pés do Ancião. “Novatos?”

Ainda que o Ancião Naran estivesse invisível até para sua Visão das Sombras, isso não se aplicava aos corpos no chão, onde Arran suspeitou que pertenciam a magos que iriam matar Stone Heart se não fosse por uma intervenção oportuna do Ancião gigante.

“É quase certo dizer que sim”, respondeu o Ancião Naran, apesar de não ter entrado em detalhes sobre o assunto.

“Estou surpreso que o senhor tenha intervindo. Stone Heart disse que a família Naran só se preocupa com a força”.

“O garoto é jovem e inexperiente, mas tem um grande potencial”, disse o Ancião Naran diretamente, porém o tom de sua voz disse a Arran que esse não havia sido seu único motivo para agir.

“Então, aprendeu o que precisava?” perguntou Arran, sem se importar com sutilezas. Ambos conheciam o verdadeiro motivo pelo qual o Ancião organizou a batalha, e não havia muito sentido em fingir o contrário.

“Um pouco”, disse o Ancião Naran. “A magia do sangue é mais forte do que eu esperava e acredito que haja muito mais a ser descoberto quando voltarmos ao Sexto Vale. O que me intriga é a rapidez com que você se recuperou desse ferimento.”

Surpreso, Arran perguntou: “Não está planejando me estudar no castelo?” Ele já se preparava para passar pelo menos várias semanas como sujeito de pesquisa do Ancião Naran quando voltasse. Mas agora, aparentemente, o Ancião tinha outros planos.

“Por mais interessante que seja sua condição, existe uma preocupação maior que requer minha atenção”, disse o Ancião Naran.

Ele parou por um momento, então continuou em um tom ligeiramente irritado: “Eu deveria também mencionar que, na semana passada, um de meus herbalistas1 conseguiu encontrar o ingrediente que a jovem Snow Cloud precisava. Desconfio que, assim que você retornar de sua caçada, ela insistirá em partir imediatamente”.

Arran acenou com a cabeça. “Eu suponho que eu deveria ir embora então.”

Em seguida, ele partiu. Com Snow Cloud esperando por ele, não podia se dar ao luxo de passar seu tempo caçando os remanescentes do exército derrotado, mas daria pelo menos uma semana. Isso seria tempo suficiente para caçar a maior parte de suas presas, mas, ainda assim, ele não iria desperdiçar nada disso.


Nota:

[1] área de estudo em que se analisam as propriedades medicinais das ervas e de outras plantas.

Vol. 2 Cap. 153 Caçando os Sobreviventes

Depois da batalha, Arran caçou os soldados fugitivos com determinação. Por mais letal que tenha sido a batalha, vários sobreviventes conseguiram fugir, com milhares deles ocupando os bosques que cercavam o acampamento.

Em apenas três dias, ele já havia matado muito mais soldados em sua caçada do que durante a batalha e, embora a maior parte da força temporária da magia de sangue tivesse diminuído rapidamente, ele sentia que também havia benefícios permanentes.

Provavelmente, ele não conseguiria evitar ferimentos graves como havia feito logo após a batalha, mas qualquer ferimento pequeno que ele tivesse sofrido seria curado facilmente e sua força mais do que dobraria.

Diversas vezes, grupos de soldados tentou emboscá-lo. Nenhum deles viveu para se arrepender do erro. A Visão das Sombras de Arran permitia que ele enxergasse suas emboscadas com facilidade e, ainda que a maior parte da força da batalha anterior tivesse se dispersado, Arran era forte o suficiente para esmagá-los sem esforço.

Os mais problemáticos foram aqueles em que não tentaram lutar ou fugir, optando por implorar por suas vidas.

Embora Arran já não sentisse qualquer remorso por matar inimigos em batalha, o fato de matar soldados indefesos que suplicavam por misericórdia era outra questão. Mesmo tendo seguido um líder monstruoso, ele não tinha certeza de que eles tivessem participado dos crimes do homem.

No final, acabou decidindo poupá-los. Talvez fosse um erro, mas não podia simplesmente executá-los a sangue frio.

No entanto, antes de libertá-los, ele os interrogou. Ele queria saber muitas coisas sobre como o mago reuniu um exército enorme de refinadores de corpos.

Mas a resposta que deram não só o surpreendeu, mas também o deixou muito preocupado.

Pelo que os soldados o informaram, o mago, agora morto, começou a reunir seu exército meia década antes. Ele havia atraído bandidos e mercenários prometendo que eles teriam poder e, então, cumprido essas promessas ensinando a eles técnicas básicas de refinamento corporal e alimentando-os com comida com Essência Natural.

Entretanto, ao invés de dizer aos soldados que estavam aprendendo Refinamento Corporal, o mago afirmou que o poder era um presente de uma divindade que ele chamava de Deus do Sangue ao descrever as técnicas de Refinamento Corporal como orações.

Arran soube na hora que isso causaria problemas muito maiores para a região do que tudo o que o exército já havia feito.

Uma religião cujas “orações” traziam poder real se espalharia como fogo, e haveria pelo menos alguns crentes entre os soldados fugitivos, mesmo depois de sua derrota desastrosa.

Para piorar, conforme o que os soldados disseram a Arran, essa religião que o mago havia criado é tanto cruel quanto falsa, e seus seguidores acreditam que o chamado Deus do Sangue exigia inúmeros sacrifícios para obter seus favores.

No entanto, mesmo que Arran desejasse eliminar o culto da face da Terra, ele sabia que não poderia fazer isso. Ele não teria tempo para passar meses perseguindo todos os sobreviventes e, mesmo que o fizesse, ainda assim centenas deles conseguiriam escapar. Eram muitos para serem perseguidos por um único homem.

Como não havia opções melhores, ele se esforçou ao máximo para explicar a verdade aos que se renderam, dizendo que na verdade eles estavam praticando o refinamento corporal e que suas “orações” eram apenas técnicas de treinamento.

Possivelmente, ele esperava que a verdade pudesse impedir que a nova religião se espalhasse ou pelo menos desacelerá-la. Caso os soldados descubram que havia uma explicação bem simples para o poder deles, é possível que não fiquem tão ansiosos por acreditar nas mentiras que o mago havia lhes contado.

Grande parte dos soldados que se renderam a Arran foi convencida facilmente. A seus olhos, Arran é muito mais poderoso do que seu antigo líder, então suas palavras têm mais peso do que as de um profeta morto.

Outros responderam de forma diferente, parecia que aceitavam as palavras de Arran, mas o olhavam com um fervor quase religioso, chegando até a prometer caçar os seguidores do Deus do Sangue em nome de Arran. Ainda que isso o deixasse desconfortável, ele os liberou – se nada mais, pelo menos eles impediriam a disseminação do culto do mago.

Finalmente, alguns negaram suas palavras, persistindo em se agarrar às mentiras do mago. Esses, Arran matou sem hesitação. Indefesos ou não, continuariam a ser um perigo para a região.

Depois que soube do culto do mago, Arran foi à caça com uma determinação ainda maior. Na medida em os soldados que restassem seriam em menor número ao partir, o que tornaria mais difícil a propagação dessa nova religião.

No quarto dia, sua determinação se intensificou ainda mais quando ele encontrou as ruínas de um vilarejo que tinha sofrido um ataque de um grupo de soldados sobreviventes.

A maior parte dos edifícios foi totalmente queimada e, com ela, grande parte dos corpos dos aldeões. No entanto, os poucos corpos que se mantiveram intactos mostravam sinais de violência, tortura e outras atrocidades.

Após isso, Arran já não poupava nenhum dos soldados que encontrava.

Uma semana se passou enquanto Arran perseguia impiedosamente todos os sobreviventes que encontrava, porém, ainda que quisesse continuar, ele sabia que era hora de voltar ao castelo. Somente a viagem de volta seria mais de uma semana, e ele suspeitava que Snow Cloud não estaria nada satisfeito com sua ausência prolongada.

Além disso, os sobreviventes que ele encontrou estavam ficando cada vez mais distantes a cada dia, e Arran não era um rastreador experiente. Nos primeiros dias após a batalha, a floresta esteve repleta de presas, mas agora, os soldados que sobreviveram à batalha e à caçada de Arran tinham fugido para longe.

Mesmo com suas dúvidas em relação aos muitos soldados que escaparam com vida, ele se dirigiu ao castelo. Não havia motivos para se atrasar mais – mesmo que ele caçasse por mais uma semana, ele acreditava que não capturaria mais do que algumas dezenas de inimigos.

No entanto, ele mal começou a viagem de volta e se deparou com os rastros de um grande grupo de soldados – pelo menos cem, pelo que ele pôde perceber.

Sem pensar duas vezes, ele começou a persegui-los. Ele não permitiria que um grupo tão grande escapasse, por mais que Snow Cloud ficasse com raiva quando ele voltasse.

As pegadas do grande grupo foram fáceis de seguir e Arran os seguiu em alta velocidade, já que seu corpo anormalmente forte lhe permitia correr sem parar. Mesmo assim, levou quase um dia para alcançá-los e, quando conseguiu, os encontrou atacando uma grande aldeia.

Por um instante, ele ficou olhando confuso. Enquanto o grupo atacante era formado por mais de cem pessoas, havia pelo menos mais de vinte soldados fugitivos lutando ao lado dos defensores.

E Arran estava certo de que eram soldados fugitivos – ele podia sentir a Essência Natural em seus corpos, mas não havia razão para uma aldeia qualquer conter mais de vinte Refinadores de Corpo, com uma força equivalente à dos soldados.

Sem parar para analisar mais o assunto, decidiu que não teria tempo para explicar a situação. Seja qual for a explicação, ele teria tempo para descobri-la após lidar com os atacantes.

Os aldeões travavam uma batalha perdida, com a chegada de Arran a situação se inverteu rapidamente.

Ele derrubou mais da metade dos soldados sem que eles percebessem que estavam sendo atacados, e sua lâmina rasgou os inimigos sem esforço. Então, repleto da força da magia do sangue, ele começou a atacar com seriedade.

O que havia sido uma batalha se transformou rapidamente em um massacre, com os oponentes de Arran entrando em pânico ao perceberem que estavam enfrentando o homem que, por si só, havia destruído o exército deles. Muitos tentaram fugir, e outros imploraram por misericórdia, mas ninguém foi poupado da ira de Arran.

Sem ele, o destino dos aldeões teria sido o mesmo e, em comparação, suas mortes imediatas já eram mais misericórdia do que mereciam.

Em poucos minutos, o último dos atacantes caiu e, assim que Arran limpou o sangue de sua espada, ele se voltou para os aldeões e soldados defensores, que estavam olhando para ele com os olhos arregalados de espanto.

“Quem está no comando aqui?”, perguntou ele, com uma voz calma, mas firme.

Um dos aldeões se aproximou, uma mulher baixa e com uma espada ensanguentada na mão. Aproximou-se de Arran e depois se ajoelhou.

“Obrigada, lorde cavaleiro”, disse ela, mostrando uma expressão com uma mistura de alívio, medo e admiração. “Se não fosse por você, a Curva do Rio teria caído.”

Arran levantou uma sobrancelha. “Curva do Rio?”

Vol. 2 Cap. 154 Curva do Rio

“Nossa cidade se chama Curva do Rio”, disse a mulher, com uma voz ansiosa. “Eu sou a prefeita.”

Arran pensou por alguns instantes. Embora o vilarejo – que era pequeno demais para ser chamado de cidade – possuísse o mesmo nome de sua antiga cidade natal, esses dois lugares ficavam a milhares de quilômetros de distância e, a não ser por estarem próximos a um rio, eles pareciam ter algo em comum.

Ainda assim, esse nome o fez lembrar da vida que havia deixado para trás. Mesmo que não se arrependesse de sua decisão de se tornar um mago, ele se perguntava como teriam sido as coisas se ele tivesse ficado na verdadeira curva do rio. Provavelmente, seria mais calmo e, certamente, menos sangrento.

Arran deixou seus pensamentos de lado. Ele tem assuntos mais importantes a tratar.

“E quanto a eles?”, disse ele, apontando para os soldados. “O que estão fazendo aqui?”

Sem que a mulher pudesse responder, um dos soldados avançou, um homem robusto, de meia-idade, de pele escura e várias cicatrizes antigas no rosto.

“Você vai nos matar?” Apesar de sua expressão cautelosa, seus olhos não demonstravam medo. Aparentemente, ele já se conformou com o fato de que poderia morrer.

Uma expressão de pânico apareceu no rosto da prefeita quando ela se deu conta de que a batalha pode não ter terminado ainda, mas Arran a silenciou com um gesto.

“Talvez”, ele respondeu. “Por que vocês defenderam os aldeões?”

“Eles nos acolheram quando viemos para cá, deram comida e abrigo. Não me parecia certo permitir que os outros os matassem.” O homem deu de ombros. “Alguns do nosso grupo também atacaram, mas você cuidou deles.”

Arran refletiu um pouco sobre o assunto. “Se eu deixar você viver”, ele finalmente disse, “Você tem que jurar defender a aldeia pelo menos durante o próximo ano”.

Arran não tinha nenhum desejo real em matar aqueles soldados. Eles arriscaram suas vidas para defender os aldeões e, o mais importante, o vilarejo ainda precisaria da proteção deles.

Por mais que Arran já tenha matado milhares de soldados, ainda restavam muitos outros na região. Enquanto não representavam uma grande ameaça para Arran, todos eram Refinadores de Corpo, e cada um deles era forte o suficiente ao ponto de enfrentarem os plebeus com facilidade.

E mesmo que o culto do Deus do Sangue não se espalhe mais, muitos deles continuarão se voltando para o terrorismo. Se isso acontecer, toda a região pode cair no caos. De qualquer maneira, levariam anos até que a área estivesse segura novamente, talvez até décadas.

“É justo”, afirmou o soldado com um aceno de cabeça aliviado. “Não tenho para onde ir, de qualquer forma.”

“Espere”, interrompeu o prefeito. “Você quer que eles nos protejam? Mas os agressores estão mortos – agora é seguro, não é?”

“Há outros”, disse Arran. “Muitos deles. Ainda vai levar algum tempo até que essa região esteja segura novamente.”

A expressão da prefeita ficou dolorida, mas não se manifestou mais. Depois da apresentação anterior de Arran, era como se ela soubesse levar suas palavras a sério.

Nas horas seguintes, resolveram se livrar dos corpos espalhados pelo chão.

Apesar da ajuda de Arran, mais de doze aldeões haviam caído na batalha – um duro golpe, mesmo em uma grande aldeia. Os aldeões mortos foram enterrados no cemitério próximo à aldeia, tendo seus corpos enterrados entre os gritos e soluços de suas famílias.

Depois de enterrar os aldeões, reuniram os atacantes mortos em uma grande pilha, a qual Arran queimou usando a Essência de Fogo. Ele utilizou um pouco mais de poder que o necessário para o bem dos soldados defensores, servindo como um lembrete das consequências de quebrar o juramento deles.

No entanto, quando Arran se livrou dos corpos, começou a se preocupar com o fato que a proteção dos soldados não seria suficiente para manter a aldeia segura.

Em um piscar de olhos, ele chegou a uma decisão. Snow Cloud precisava esperar um pouco mais.

Após ter queimado os corpos, Arran foi até os soldados e contou a eles sobre as mentiras que o antigo líder havia contado. Arran explicou que o poder deles vinha da Essência Natural, não do Deus do Sangue, é que as chamadas orações que estavam praticando eram, na verdade, técnicas de refinamento corporal.

Os soldados aceitaram com tranquilidade e nenhum deles se mostrou particularmente surpreso pelo fato que o mago havia sido uma fraude. Sem dúvida, esses soldados eram mais espertos do que a maioria dos outros, pensou Arran.

“Eu já imaginava isso”, disse o homem de pele escura assim que Arran terminou sua explicação. “De forma alguma um deus iria escolher aquele maldito homem como seu mensageiro.”

Arran assentiu em concordância, depois disse: “Agora que vocês sabem a verdade, eu tenho uma proposta para vocês. Eu posso ensinar a todos vocês uma técnica ainda melhor de refinamento corporal. Com ela, vocês podem ficar mais fortes do que antes, porém, depois de dominá-la, vocês terão que ensiná-la aos aldeões”.

Grande parte dos soldados pareciam ansiosos para aceitar a oferta, mas o homem de cicatrizes apenas franziu a testa. “Se você tem uma técnica melhor, porque não ensinar a eles você mesmo?”

“Não tenho tempo”, respondeu Arran. “Com as técnicas que você já sabe, consigo ensiná-lo em poucos dias. Mas ensinar os aldeões levará semanas.”

O soldado hesitou, mas depois acenou com a cabeça. “Tudo bem.”

Em pouco tempo, a estimativa de Arran foi excessivamente otimista. Ao invés de alguns dias, ele precisou de uma semana inteira só para ensinar aos soldados as melhores técnicas de refinamento corporal. Ainda assim, ele só ensinou a eles o suficiente para que pudessem descobrir o resto por meio da prática.

Parte do motivo foi que sua própria experiência tornou difícil enxergar a dificuldade, e a outra parte foi o fato de que as técnicas que ele ensinou eram novas – ele juntou os elementos do ensinamento de Lorde Jiang, a técnica do Fogo Sombrio e as técnicas dos próprios soldados, acabou dando origem a um conjunto de técnicas totalmente novo.

Ainda que fosse mais fraca do que a técnica da Chama Sombria que ele tinha aprendido do Fogo Sombrio, esta era mais fácil de aprender, além de ser compartilhada sem que ele quebrasse sua promessa ao Fogo Sombrio.

“Tem certeza do que está fazendo?”, o soldado com cicatrizes perguntou a Arran perto do final da semana.

“Eu estou confiante de que a técnica vai funcionar”, respondeu Arran. “E é muito melhor do que qualquer outra que você e seus homens têm usado até agora.”

“Não estou me referindo a isso”, disse o homem, balançando a cabeça. “Eu sei que você é forte e tudo mais. Mas pelo jeito que os aldeões olham para você, uma parte deles já o considera metade de um deus, se não for um deus inteiro. Inclusive os meus próprios homens…” Ele suspirou. “Uma vez que eles aprendam essas suas técnicas, eu não vejo isso parando por aqui.”

Arran franziu a testa. De fato, ele procurou se afastar dos aldeões o máximo possível. Os olhares de reverência o deixavam desconfortável, e seus presentes ainda mais. Alguns ofereceram ouro, armas e ervas, e outros foram até mesmo oferecer às mãos de suas filhas em casamento.

Ele só aceitou as ervas, mas só porque Snow Cloud poderia querer. Ainda assim, depois de aceitar a primeira oferta, surgiram muitas outras semelhantes e, agora, Arran possuía uma quantidade de ervas de boticário em seus sacos vazios.

Levando tudo em conta, ele sabia que o soldado estava certo. Ele estava muito perto de formar um culto como o que o mago morto havia iniciado, e os aldeões ainda não tinham começado a aprender o Refinamento Corporal.

“Eu irei embora em alguns dias”, disse ele finalmente. “E a menos que você saiba uma forma melhor de manter a aldeia segura, eu não vejo nenhuma outra opção.”

A expressão do soldado se tornou pensativa. “Acho que não”, ele finalmente admitiu. “Mas tudo isso me deixa desconfortável.”

“Você e eu também”, respondeu Arran com sinceridade.

No fim da semana, grande parte dos soldados já havia dominado a técnica de Refinamento Corporal para aprender o restante com a prática, e Arran sabia que era hora de partir.

Antes de partir, ele visitou a prefeita. A mulher ficou maravilhada enquanto ele enchia seus armazéns com alimentos de seus sacos vazios, todos com Essência Natural, e ouviu cuidadosamente as instruções que ele deu para que os aldeões os usassem quando aprendessem o básico do refinamento corporal.

Da mesma forma, compartilhou alguns conhecimentos básicos sobre Refinamento Corporal e Essência Natural, explicando que essa essência se reunia em plantas e animais, e que era possível encontrar alimentos mais fortalecedores na floresta.

Ao mesmo tempo em que falava, ele sabia que suas ações teriam consequências. No espaço de uma semana, ele compartilhou conhecimento suficiente para que o vilarejo crescesse em tamanho e força, talvez se tornando uma potência regional.

Ainda assim, como não havia outra maneira de garantir a segurança da aldeia, Arran sabia que, até certo ponto, ele era o responsável pelo perigo que a aldeia enfrentava. Se não fosse por ele, os seguidores do mago não estariam espalhados pela região.

Mesmo que ele não consiga proteger a aldeia contra essas ameaças, sua ajuda talvez seja suficiente para que a aldeia tenha uma chance de sobreviver.

Assim que Arran decidiu deixar a aldeia, o fez discretamente, saindo na calada da noite. Caso contrário, os aldeões acabariam implorando para que ele ficasse ou ofereceriam ainda mais presentes em agradecimento. Embora Arran tivesse prazer em enfrentar exércitos, os aldeões eram outra questão.

Ele partiu em direção ao castelo com pressa.

Snow Cloud esperava que ele voltasse pelo menos uma semana antes, e ainda tinha um longo caminho a percorrer. Ele não esperava pela resposta dela quando voltasse, mas quanto mais esperasse, pior seria.

Vol. 2 Cap. 155 A próxima missão

“Seu idiota!” Snow Cloud olhou para Arran com os olhos cheios de lágrimas. “Eu pensei que você tinha morrido!”

Arran não respondeu. Quando ela repetiu as mesmas palavras pelo menos uma dezena de vezes nas últimas meia hora, ele entendeu que não havia nada que ele pudesse dizer que fizesse alguma diferença.

Quando ele voltou ao castelo, ele esperava que ela ficasse com raiva, ou até mesmo furiosa. Mas o que ele não esperava mesmo era que ela o abraçasse enquanto quase chorava.

Na opinião de Arran, isso foi consideravelmente pior do que tudo o que ele estava se preparando. A raiva dela, ele conseguia suportar. Mas não fazia ideia de como lidar com isso. Era evidente que a ausência dele a havia magoado e ela passou essas semanas preocupada, imaginando que ele estivesse morto ou tivesse sido capturado.

É claro que ele havia se desculpado, mas as desculpas não eram o que ela queria. Sobre o que ela queria, Arran não fazia ideia.

Uma parte de sua mente culpava Stone Heart pela situação. O novato seguiu as instruções de Arran ao pé da letra, e não contou a ninguém sobre o envolvimento de Arran na batalha – nem mesmo a Snow Cloud. Ao invés disso, ele simplesmente disse que Arran teria que cumprir outra tarefa e que não sabia quando Arran voltaria.

Isso não foi a intenção de Arran. Snow Cloud é uma das poucas pessoas que sabe sobre sua magia de sangue, ele esperava que Stoneheart pudesse entender que não havia mal algum em informá-la sobre a batalha.

Mas parece que o novato alto não era muito bom em pensamentos independentes – ou talvez ele apenas tivesse medo de fazer besteira novamente.

O Ancião Naran não foi útil para tranquilizar as preocupações de Snow Cloud, de qualquer forma. O homem desapareceu logo após a partida de Arran e Stone Heart e, quando finalmente voltou, ele se trancou em seus aposentos, e não permitiu que ninguém o incomodasse.

Isso deixou Tuya, que foi pior do que inútil.Em vez de confortar Snow Cloud, Tuya ficou imaginando todas as batalhas gloriosas e perigosas que Arran estaria travando enquanto estivesse fora. Essa ausência prolongada de Arran, segundo ela, só podia significar que ele tinha sido enviado atrás de um inimigo particularmente formidável.

Ao todo, Snow Cloud se convenceu de que Arran corria um perigo mortal e, quando ele voltou, sua reação foi vigorosa.

“Você deveria ter me avisado”, comentou ela depois de algum tempo. A essa altura, Snow Cloud já havia se acalmado e, por mais que seus olhos ainda estivessem vermelhos, não estava em prantos.

Arran assentiu com a cabeça, ciente de que ela não estava errada. Ele devia ter instruído Stone Heart a informar Snow Cloud que se atrasaria, mas só porque estava caçando os remanescentes do exército derrotado.

Mas ele não o fez, o que não havia nada que ele pudesse fazer para mudar isso agora.

Por alguns momentos, Snow Cloud ficou em silêncio, e Arran aproveitou a oportunidade para mudar de assunto.

“Trouxe uma coisa para você”, disse ele, entregando a Snow Cloud um saco vazio que continha as ervas que ele havia recebido na aldeia.

Snow Cloud aceitou a bolsa com uma careta curiosa, em seguida, parou por alguns instantes para inspecionar seu conteúdo. Quando ela analisou, arregalou os olhos de surpresa. “Onde você conseguiu isso?”

“Salvei uma aldeia de alguns atacantes”, disse Arran. “Os aldeões me deram as ervas em agradecimento. Tem alguma coisa que você precisa entre elas?”

Snow Cloud concordou com a cabeça, com um ar ligeiramente intrigado. “Este é um dos poucos ingredientes que eu ainda preciso”, disse ela, franzindo a testa. Então, ela olhou para Arran. “Você salvou uma aldeia? De quê?”

“Ela foi atacada por um grupo de soldados”, ele respondeu. “Eu impedi o ataque.”

Uma expressão séria apareceu no rosto de Snow Cloud. “Me conta um pouco mais sobre isso”. Com um olhar pensativo, ela acrescentou: “Desde o início”.

Arran obedeceu ao pedido, narrando a batalha e tudo o que se seguiu. Ele não se preocupou em esconder nada – afinal, Snow Cloud era seu único aliado real na Shadow Flame Society.

Ele esperava vê-la surpresa quando chegasse ao envolvimento dos novatos, mas ela simplesmente acenou com a cabeça, pensativa, e pediu para ele continuar. O que ele percebeu é que ela já estava considerando essa possibilidade.

Finalmente, ele falou sobre os eventos na aldeia. Quando isso aconteceu, seus olhos se arregalaram de choque enquanto ela ouvia.

“Você fez o quê?!” Ela olhou para Arran com espanto.

“Eu dei a eles algumas técnicas de refinamento corporal”, ele repetiu. Ele acrescentou rapidamente: “Mas só as que eu mesmo criei. Eu não passei a eles as técnicas da Chama da Sombra”.

Ela balançou a cabeça. “Ninguém pode saber sobre isso”.

“O que eu fiz, foi proibido?” Arran perguntou, com uma sensação de inquietação crescendo dentro dele. Ele não tinha muito conhecimento das regras da Shadow Flame Society e muito menos do que aconteceria se ele as violasse.

“Não é proibido, exatamente”, respondeu Snow Cloud, com uma expressão complexa. “Mas grande parte das vilas e cidades da região podem passar séculos sem ver um único mago. Se uma aldeia inteira aprender o Refinamento Corporal, o equilíbrio de poder na região mudará completamente.”

“Isso mudou no momento em que o exército foi dispersado”, respondeu Arran. “Os soldados que fugiram vão se certificar disso. Eu só dei aos aldeões uma chance de sobreviver.”

Ele sabia perfeitamente que suas ações teriam consequências, mas mesmo assim, não se arrependia de sua decisão. Possivelmente ele estava mais ansioso em ajudar a Curva do Rio porque compartilhava o nome de sua cidade natal, mas a verdade é que, após a derrota do exército, muitos outros refinadores de corpos surgiram na região. E quanto mais deles não seguirem o culto do Deus do Sangue, melhor.

“Suponho que veremos os resultados em alguns anos”, disse Snow Cloud suspirando. “Mas agora, existem outros assuntos para se preocupar. Pelo que você me trouxe, eu só preciso de mais dois ingredientes, mas para obtê-los será necessário viajar um pouco.”

“Dois?” Arran franziu a testa, um tanto desapontado. Ele esperava que a Snow Cloud estivesse com todos os ingredientes necessários. “Quais são eles?

“Ainda preciso de sangue de dragão e de um cristal espiritual”, respondeu Snow Cloud. ” E ambas serão difíceis de conseguir, mesmo se tivermos sorte do nosso lado.”

“Sangue de dragão?” Instantaneamente, os olhos de Arran se arregalaram.

“E um cristal espiritual”, confirmou Snow Cloud.

“Dragões existem?!” Arran olhou para Snow Cloud admirado. “Dragões de verdade?!”

Ele tinha um arco de osso de dragão, mas ele aprendeu que osso de dragão era um tipo de madeira. Embora o Ancião Naran fosse chamado de “O Dragão”, obviamente esse era só um apelido. O fato de que dragões reais fossem como aquelas histórias de sua infância realmente existiam foi um choque para ele.

“Eles existem”, disse Snow Cloud com um leve aceno de cabeça. “E nós iremos matar um. Mas primeiro, vamos ter que viajar para os restos do Império Eidaran, em busca de um cristal espiritual.”

“Como é que vamos matar um dragão?” Arran ignorou o que Snow Cloud havia falado sobre o cristal espiritual, porque estava mais interessado em aprender sobre os dragões. “Os dragões são tão fortes como dizem nas histórias?”

“Eles são fortes”, disse a Snow Cloud, sua voz calma, “E matar um deles não é nada fácil. No momento, devemos nos concentrar no cristal espiritual. Será difícil e perigoso encontrar um, possivelmente até mais do que matar um dragão.”

Arran assentiu distraidamente com a cabeça, com seus pensamentos ainda ocupados com a ideia de ver dragões de verdade. O cristal espiritual, ao contrário, não parecia interessante – era apenas mais um ingrediente para Snow Cloud coletar.

“Quando partiremos?”, ele perguntou, ficando animado para partir. Mesmo que ele tenha acabado de chegar ao castelo, agora estava ansioso pela jornada, pois ele queria saber se haveria dragões no final dela.

“Amanhã”, respondeu Snow Cloud. “Partiremos ao amanhecer”.

Vol. 2 Cap. 156 Deixando o Castelo

Cumprindo as palavras de Snow Cloud, eles deixaram o castelo ao amanhecer.

Stone Heart e Tuya acompanharam eles até a saída, desejando boa sorte em suas viagens, juntamente com vários pequenos presentes.

Tuya deu a Arran cinquenta Cristais de Essência, o que ela disse ser uma forma de agradecimento pela ajuda dele na eliminação do exército. Arran aceitou gentilmente, sem se incomodar em dizer que ela tinha recebido o dobro do valor pela armadura que ele usou. Ele suspeitava que Tuya poderia ter lidado facilmente com o assunto se quisesse.

Por outro lado, Stone Heart tinha apenas uma palavra de gratidão a oferecer. O novato alto perdeu seu próprio saco vazio em uma batalha meses antes, ao que parece o Ancião Naran confiscou todos os pertences dos novatos derrotados em batalha.

O Ancião gigante, por fim, não apareceu. Pelo que Snow Cloud disse, ele se trancou semanas antes, então aparentemente a partida de Arran e Snow Cloud ainda não foi capaz de quebrar sua reclusão.

Arran não podia deixar de se surpreender com isso. O que ele esperava era que o Ancião Naran no mínimo desejasse ver os resultados da caçada à sua magia de sangue. O resultado valeu a pena ser estudado, pensou Arran – depois que tudo foi dito e feito, ele ficou ao menos três vezes mais forte do que era antes da têmpera.

E ainda havia um benefício inesperado, e dos maiores. Enquanto a magia do sangue tornava Arran ainda mais forte, ele percebia que, mesmo tendo um efeito semelhante ao do refinamento corporal, os dois não eram a mesma coisa e eram independentes um do outro.

Apesar de Arran não ter tido tempo de estudá-lo cuidadosamente ainda, ele ainda podia fortalecer seu refinamento corporal separadamente da magia de sangue, e que ambas as coisas o fortaleceriam de maneiras sutilmente diferentes. Com isso, ele se beneficiaria com as duas coisas e provavelmente avançaria muito mais rápido do que seria possível de outra forma.

Em resumo, há muito a ser estudado, sendo que o Ancião Naran parece ter coisas ainda mais importantes para resolver. Ainda assim, Arran suspeitou que o Ancião não desperdiçaria a oportunidade de estudá-lo na próxima vez em que se encontrasse.

Arran não se importava com o fato de ter sido liberado facilmente dessa vez, mas uma parte dele estava desapontada – havia mais uma questão que ele queria perguntar ao Ancião.

Depois da batalha, ele notou uma sutil mudança em sua espada de metal. Ela sempre foi uma excelente arma, mas parece que, após ter tomado milhares de vidas, de alguma forma ela melhorou.

Ela se tornou mais afiada e mais pesada e, às vezes, Arran achava que conseguia sentir uma aura sutil, mas maligna, emanando da arma, como se tivesse absorvido uma pequena parte da violência da batalha.

É claro que ele perguntou a Snow Cloud sobre isso, no entanto, sua expressão ficou pensativa quando ele contou, por fim ela suspirou e disse que não conhecia muito bem as armas encantadas para explicar o que havia acontecido.

Nos primeiros dias de sua jornada, a viagem foi tranquila, mas não demorou muito para que eles tivessem deixado para trás o castelo e o grande vale que o cercava. Em breve, as fazendas e pequenas aldeias que pontuavam o campo se tornaram mais distantes, até que finalmente desapareceram por completo.

Arran começou a se perguntar qual seria a razão disso. As terras daqui pareciam igualmente férteis, ou até mais, e qualquer fazendeiro deveria estar feliz por tê-las.

Ele só conseguia pensar que eles tinham se mudado para fora da área protegida pelo castelo porque a região era perigosa demais para a maioria dos fazendeiros e aldeões.

Depois de perguntar a Snow Cloud, ela também não conseguiu responder à pergunta, mas não parecia achar isso importante. Neste momento, Arran podia ver que sua mente estava totalmente concentrada nos dois ingredientes restantes.

Durante a viagem, Arran usava frequentemente sua Visão Sombria na observação da área ao redor deles. Sejam quais forem os perigos da região, não seria pego de surpresa ou permitiria que fossem emboscados.

Depois de saírem do castelo, no quarto dia, ele repentinamente se deparou com um grupo de quatro pessoas a centenas de passos atrás deles. Ainda que não se movesse rapidamente, o grupo não demoraria muito para alcançar Arran e Snow Cloud.

“Estamos sendo seguidos”, disse ele rapidamente. “Quatro pessoas, a apenas algumas centenas de passos atrás. Devemos correr?”

Snow Cloud balançou a cabeça. “Eu já esperava isso”, disse ela. “Basta esperar e seguir minha liderança.”

Sem tempo para Arran pedir mais explicações, ele simplesmente acenou com a cabeça.

Depois de pararem, demorou apenas alguns minutos para que o outro grupo aparecesse. Quando se aproximaram, Arran viu que os quatro se vestiam como magos. Na frente do grupo havia um jovem bonito com cabelos castanhos ondulados e um semblante ligeiramente arrogante.

“Por que estão nos seguindo?” Snow Cloud gritou, em um tom de comando em sua voz.

“Sra. Snow Cloud”, disse o jovem, com um aceno de cabeça ligeiramente pequeno para ser educado. “Nós a vimos deixar o acampamento do Sol Nascente, então, naturalmente, nós a seguimos.”

“Não tenho nada a ver com o conflito de vocês”, respondeu Snow Cloud. “Como vocês bem sabem, eu não apoio nem o Sol Nascente nem a Lua Minguante. Já que sabem disso, por que estão nos seguindo?”

O jovem sorriu. “É claro que conheço sua situação única”, disse ele. “Mas como você ficou um tempo no acampamento do Sol Nascente, é razoável pensar que você pode ter decidido escolher um lado.” Sua expressão se tornou um pouco mais dura, e havia um toque de ameaça em sua voz agora. “Por que você foi até eles?”

“Eu não me juntei ao Sol Nascente”, disse Snow Cloud, com a voz gelada. “E meus negócios são meus.”

“Infelizmente, eu não posso aceitar isso”, disse o jovem, parecendo não ter arrependimento algum. “Se fosse minha decisão, gostaria de não interferir em sua jornada. No entanto, no que diz respeito ao nosso conflito com o Sol Nascente, as minhas ordens são rígidas. Mas se você nos acompanhar de volta ao acampamento da Lua Minguante, estou certo de que os Anciãos resolverão o problema rapidamente.”

“Esse seu acampamento é muito longe?” perguntou Snow Cloud, com a expressão pensativa.

“São menos de três semanas de viagem”, respondeu o jovem. “Mas assim que você esclarecer sua visita ao acampamento Sol Nascente aos nossos Anciões, acredito que eles o ajudarão a solucionar qualquer problema que o trouxe até aqui.” Com um olhar significativo para Snow Cloud, ele acrescentou: “E certamente, você deve saber muito bem que podemos oferecer mais do que nossos inimigos”.

Snow Cloud hesitou por alguns instantes, com uma expressão pensativa no rosto. Por fim, com uma voz mais suave, ela disse: “Muito bem. Nós vamos com vocês”.

Ele começou a se dirigir ao grupo de novatos, gesticulando para que Arran a seguisse.

O jovem abriu um sorriso encantador para ela. “Fico feliz que você tenha decidido ser Razão…”

Pouco antes que ele terminasse suas palavras, de repente, quatro raios de fogo branco saíram da mão da Snow Cloud, um para cada novato. Embora não fosse poderoso, o ataque surpresa foi suficientemente rápido para fazê-los cambalear para trás.

Arran avançou correndo e desembainhou sua espada imediatamente. Ele se mostrou cauteloso desde o início e, assim que Snow Cloud atacou, ele já estava pronto.

Os novatos precisam de um tempo para se recuperarem do ataque da Snow Cloud, mas, a essa altura, a lâmina de Arran já havia cortado a garganta de um deles. Ele avançou a lâmina contra a segunda, e a jovem rapidamente levantou um escudo de vento para bloqueá-la.

Porém, quando a novata se defendeu do ataque de Arran, outro raio branco saiu da mão de Snow Cloud, atravessando a cabeça da mulher. Seu corpo caiu no chão de uma vez.

Não demorou muito e dois novatos já estavam mortos, mas os outros dois pareciam ter se recuperado do choque inicial. O belo jovem lançou um feitiço em Snow Cloud, mas ela se esquivou por pouco, e o último – que tinha um rosto quadrado aparentemente na casa dos vinte e poucos anos – se concentrou em Arran.

Arran ignorou Snow Cloud e o belo jovem, mantendo sua atenção em seu próprio oponente. Ele avançou correndo, usando a espada na mão direita e a esquerda utilizando um escudo de Força.

O homem conseguiu bloquear o ataque com facilidade e, quando sacou a própria espada, contra-atacou enviando uma bola de fogo branca e quente. Arran recorreu a um escudo de força para bloquear o ataque, mas o ataque foi mais forte do que ele esperava, o que o fez recuar vários passos.

Sem poder correr contra o oponente, o homem desferiu outro ataque – desta vez, o vento – fazendo com que Arran recuasse ainda mais, com o escudo de força prestes a entrar em colapso.

A situação estava ruim, Arran sabia. Se conseguisse alcançar seu oponente, poderia matar o homem facilmente. No entanto, em um combate de longo alcance, ele seria facilmente derrotado.

Como não tinha outra opção, ele desferiu uma série de ataques mágicos contra o homem enquanto corria em sua direção: um ataque da Força Combatente, em seguida uma Lâmina de Vento e várias bolas de fogo. Mas o homem bloqueou facilmente todos os ataques e um olhar cruel surgiu em seus olhos ao formar uma bola de fogo flamejante em sua mão.

Mas, naquele exato momento, uma bola enorme de vento atingiu o homem pela lateral, fazendo com que ele ficasse atordoado e a bola de fogo se dissipasse.

Arran não hesitou. Antes que o homem se recuperasse, a lâmina de Arran avançou em sua direção. Ainda assim, o homem conseguiu desviar do primeiro golpe, mas o segundo arrancou seu braço e o terceiro sua cabeça.

Com uma respiração de alívio, Arran se virou para Snow Cloud, que estava ao lado do cadáver carbonizado do belo jovem. Ao que parece, ela eliminou seu oponente com rapidez e agiu bem a tempo de salvar Arran.

Ainda que estivesse aliviado por ter sobrevivido à batalha curta, mas brutal, ele deu a Snow Cloud um olhar questionador. “Poderia explicar por que acabamos de matar quatro novatos?”, perguntou ele, observando os cadáveres que os cercavam.

Vol. 2 Cap. 157 Escondendo as evidências

Snow Cloud suspirou enquanto olhava para os cadáveres. “Eles são membros da facção da Lua Minguante, provavelmente foram enviados para vigiar a área ao redor do acampamento do Sol Nascente. O fato de que eles tenham nos visto e me reconhecido foi apenas má sorte.”

Arran a olhou com um olhar questionador. “Como você sabe que não foram enviados atrás de você?”

“Porque a Lua Minguante não cometeria uma tolice tão grande de mandar fracos como esses atrás de mim”, respondeu ela. Em seguida, apontou para o corpo carbonizado do jovem e continuou: “Esse era Saman Tir, um membro da geração mais jovem da família Tir. Seu pai jamais o enviaria pessoalmente para me desafiar – não sem cinco vezes mais reforços, pelo menos”.

“Um dos primos de Amaya?” perguntou Arran. Ele lembrou que a família Tir era a principal influência da facção da Lua Minguante por trás, sendo que Amaya era um dos descendentes da família.

“Um primo distante”, confirmou Amaya. “Eu imagino que a família Tir não vai gostar disso, e o pai dele menos ainda.”

Arran franziu a testa, incomodado com o fato de estar criando mais um grupo de inimigos poderosos. “Então por que matamos ele?”

“Eles nos levariam para o acampamento da Lua Minguante”, respondeu Snow Cloud. “Se qualquer um de lá estiver envolvido no envenenamento do vovô, ou se suspeitar que eu tenha escolhido a facção do Sol Nascente, eles nos matariam.”

“Mas e quanto a isso?” Arran apontou para os corpos espalhados pela grama. “Se eles descobrirem, eles não virão atrás de nós?”

Snow Cloud sacudiu a cabeça, não demonstrando sinais de preocupação. “Vai levar semanas só para descobrirem que os quatro estão mortos e, assim que descobrirem, vão presumir que a facção do Sol Nascente é a responsável.”

“Tudo bem”, disse Arran, um pouco aliviado. “Então vamos levar os seus pertences, queimar os corpos e partir.”

Quando começaram a recolher os pertences dos noviços, após alguns minutos, Snow Cloud xingou alto. Assim que Arran olhou para ela, reparou que sua expressão ficou ansiosa.

“Temos um problema”, disse ela, mostrando uma coisa que parecia ser um amuleto dourado. “Saman carregava um Amuleto do Sentido da Vida.”

“O que ele faz, exatamente?” perguntou Arran. Com um sentimento de presságio pesando sobre ele, acrescentou: “E em que tipo de problema estamos metidos?”

Snow Cloud hesitou em responder, franzindo as sobrancelhas enquanto pensava. “Esse amuleto forma um par”, disse ela finalmente. “No momento que ele foi morto, aquele que possui seu gêmeo passou a saber sobre ele. E essa pessoa seria seu pai, Ardesh Tir – um dos Anciões do Sexto Vale.”

Por um instante, Arran cerrou os olhos, reclamando baixinho. “Suponho que as coisas piorem?”, ele disse finalmente, suprimindo um suspiro.

Snow Cloud concordou lentamente com a cabeça. “O proprietário do outro amuleto consegue sentir onde está. Em uma grande distância, ele dará apenas uma direção aproximada, mas quanto menor a distância, mais preciso ele se torna.”

“Há uma maneira de bloqueá-lo?”

“Colocá-lo em uma bolsa no vazio vai bloqueá-lo”, disse Snow Cloud. “Mas ele já tem a direção.”

Imediatamente, Arran pegou o amuleto nas mãos da Snow Cloud e o jogou em uma bolsa vazia do homem de queixo quadrado. Rapidamente, adicionou os outros sacos vazios também e, sem qualquer hesitação, começou a enfiar os cadáveres neles.

“Não vamos queimá-los?” Snow Cloud ergueu uma sobrancelha ao ver o que Arran estava fazendo.

“Quanto menos evidências deixarmos, melhor.” Arran franziu a testa. “Quanto tempo vai levar para o Ancião chegar aqui do acampamento da Lua Minguante?”

“Uma semana, no máximo”, disse Snow Cloud. “Ele vai viajar muito mais rápido do que nós.”

“Sem problemas.” Arran mostrou um olhar decisivo. “Se ele tiver apenas a direção aproximada, será praticamente impossível encontrar o local exato. Mesmo que encontre, já estaremos longe.”

“E quanto a isso?” Snow Cloud mirou a bolsa vazia nas mãos de Arran. “Vamos deixá-la aqui?”

“Não”, disse Arran, balançando a cabeça. “Estamos indo para o Império Eidaran, certo? Então vamos deixar lá, em um lugar onde ele não seja encontrado nos próximos séculos.”

“Mas se levarmos isso conosco…” Snow Cloud deu uma olhada desconfortável para a bolsa vazia que continha o terrível perigo.

“Se alguém descobrir que está dentro dela, estamos ferrados”, concordou Arran. “Mas se outras pessoas estiverem revistando nossos sacos vazios, certamente já estaremos mortos. Neste momento, precisamos apagar todos os rastros da luta e sair o mais rápido possível.”

Ele sabia que não era uma opção deixar o saco vazio para trás. Caso o Ancião da Lua Minguante conseguisse encontrá-lo, o homem imediatamente saberia que seu filho não tinha sido morto pelos novatos do Sol Nascente, que certamente levariam todo o saque de volta para o castelo.

Era um risco levar a bolsa, só que Arran não via outra opção. Ele a descartaria no momento em que conseguisse achar um lugar onde ela não fosse facilmente encontrada, mas não antes disso.

Snow Cloud ficou em dúvida, mas após ser convencida por Arran, ela finalmente concordou, ainda que relutante.

Antes de partirem, passaram a maior parte do tempo limpando a cena da luta, tendo o cuidado de remover todos os vestígios que sugerissem que havia ocorrido uma batalha. Assim que terminaram, o lugar parecia como se nunca tivessem passado por ali.

Certamente, um Ancião poderia encontrar algo que eles haviam deixado passar, a não ser que procurasse com cuidado. Como o Ancião que teve seu filho morto só tinha uma direção aproximada para seguir, ele teria que procurar por dezenas, ou até centenas de quilômetros.

Encontrando ou não a cena da batalha, ele levaria semanas procurando. E até lá, Arran esperava, que ele e Snow Cloud estejam a mais de mil quilômetros de distância.

Finalmente, partiram o mais rápido que podiam, enquanto escondiam seus rastros, ansiosos para estarem longe do campo de batalha – com o Ancião vindo em sua direção.

Durante as semanas que se seguiram, viajaram sempre que podiam, não tendo tempo para dormir e, depois disso, somente quando estavam exaustos.

Arran não teve tanta dificuldade quanto Snow Cloud. Ainda que ela seja a maga mais forte, o corpo de Arran é muito mais forte do que o dela e, apesar da falta de sono ainda o deixava exausto, a viagem em si foi fácil, mesmo que passassem a maior parte dos dias e das noites correndo.

Contudo, mesmo que o corpo de Arran tenha se mantido bem, o verdadeiro fardo era mental. A cada passo que dava, parecia que o saco vazio com os cadáveres sobrecarregava seus ombros. Qualquer som que ouvisse o deixava assustado, e não havia um único momento em que ele baixasse a guarda.

Caso o Ancião encontrasse uma maneira de rastreá-los, todos os momentos poderiam ser os últimos, e ele não podia fazer nada a respeito. Pelo menos, ainda não.

Passado quase um mês de viagem miserável, passaram a se deparar com as ruínas abandonadas de cidades e vilarejos. No começo, as ruínas eram raras, mas conforme prosseguiam, as construções quebradas se tornavam cada vez mais comuns.

No entanto, por mais que vissem muitos prédios, a área estava completamente sem habitantes e, durante centenas de quilômetros de viagem, não encontraram uma única pessoa.

Arran soube que isso foi o que restou do Império Eidaran – um cenário sem fim de destroços e ruínas, onde a população foi completamente varrida por tudo o que causou o colapso do império.

Em outro tempo, essa visão o teria perturbado. No entanto, sua mente agora estava concentrada somente no mago poderoso que podia estar seguindo-os. E mais uma vez, ele teve um forte impulso para se livrar do saco vazio com os corpos e o amuleto o mais rápido possível.

Por várias semanas, eles viajaram pelas antigas fronteiras do Império Eidaran, atravessando cidades abandonadas e cada vez maiores, com muitas estradas e fazendas desertas que mostravam que a região já havia sido densamente povoada.

Finalmente, eles chegaram a uma cidade. A vista da cidade deixou Arran sem palavras – ela era muito maior em comparação a todas as outras que ele já havia visto antes e, mesmo no estado em que se encontrava, o deixou admirado.

No entanto, mesmo com toda a sua glória, a quilômetros de distância, Arran conseguia ver que a cidade já estava completamente em ruínas, com grandes partes transformadas em escombros, as muralhas da cidade, antes grandiosas, agora praticamente em colapso, e nenhum sinal das pessoas que a habitavam.

“Vamos dar uma olhada”, disse Snow Cloud. Por sua voz, Arran podia dizer que ela tinha o mesmo sentimento de admiração que ele.

“Tudo bem”, disse ele calmamente, ainda olhando para a cidade. Ao olhar, não pôde deixar de sentir pavor diante da ideia de uma cidade tão majestosa caindo. Seja lá o que tenha acontecido aqui, certamente foi uma catástrofe que ultrapassou qualquer coisa que ele pudesse imaginar.

Vol. 2 Cap. 158 Ruínas de Eidaran

“Você conhece esse lugar?” Arran perguntou, fixando os olhos na cidade devastada diante deles.

“Sim”, disse Snow Cloud. “Esta é Uvar, no passado, foi uma das maiores cidades do Império Eidaran, ou pelo menos era. Foi o lar de milhões de pessoas antes de cair”. Um sorriso irônico apareceu em seu rosto. “Eu sabia que a cidade havia caído, mas não esperava por isso.”

Arran percebeu um certo choque na voz dela e ele entendeu bem como ela se sentia. Ele nunca tinha ouvido falar da cidade antes de hoje, mas a visão de uma cidade tão grandiosa que foi destruída e abandonada era quase incompreensível.

As muralhas da cidade pareciam ter alcançado dezenas de metros de altura e, além delas, Arran conseguia ver as torres que se erguiam da cidade, estendendo-se por quilômetros à distância. Contudo, essas torres também se encontravam em ruínas – vestígios enormes dos que devem ter sido palácios e castelos colossais.

Arran teve uma breve sensação de tristeza por não ter conhecido a cidade antes de ela ser destruída. Mesmo no estado de ruína em que ela está agora, ele pode perceber que ela costumava ser uma visão de tirar o fôlego, ao invés da cena chocante de devastação que existia agora diante dele.

Eles foram se aproximando da cidade lentamente. Mesmo que parecesse abandonada, a dimensão das ruínas exalava perigo, como se ainda existisse vestígio do poder aterrorizante que havia arruinado a cidade.

A cerca de 800 metros da cidade, Arran parou de repente em seu caminho.

“Você consegue sentir isso?”, perguntou ele, franzindo a testa em sinal de perplexidade. “É quase como se a cidade não tivesse nenhuma Essência Natural. Eu não consigo sentir nada nela.”

A Essência Natural existia ao redor de tudo e, a partir do momento em que ele aprendeu a usar seu Sentido, ele descobriu que podia senti-la em qualquer lugar que fosse, como um suave zumbido, mas sempre presente, ao fundo.

No entanto, inesperadamente, ele descobriu que não havia nenhuma Essência Natural em direção à cidade, o que parecia um grande vazio no mundo.

“Eu comecei a sentir algo alguns quilômetros atrás”, disse Snow Cloud, com uma expressão preocupada no rosto. “Mas não sabia o que era. E isso… não sei o que pode ter causado isso.”

“Devemos continuar?”

Essa ausência de Essência Natural era tão estranha que preocupava Arran, mesmo sem saber o que a causava. Ele não via sinais óbvios de perigo, o que não significava que não houvesse nenhum.

“Precisamos continuar”, disse Snow Cloud. “Essa cidade é um dos lugares onde eu possa encontrar cristais espirituais. Há um templo no centro da cidade, onde os sacerdotes Eidaran mantinham cristais de espírito como outros itens mágicos. Se procurarmos, pode ser que tenhamos a sorte de encontrar um que eles deixaram para trás.”

Ela parou um pouco por um momento para pensar e continuou: “Podemos viajar até uma das outras cidades, mas não faço ideia do que aconteceu com elas. Procurar nestas ruínas pode bem ser a opção de menor perigo que temos.”

Após um momento, Arran concordou com a cabeça. Apesar de que a cidade arruinada o encheu com uma sensação sinistra, pelo fato de que ela parecia estar totalmente abandonada, isso tornaria as coisas mais fáceis.

Assim, começaram a se dirigir à cidade, se aproximando lentamente e com cuidado. Ainda que não houvesse sinais de inimigos ocultos, os destroços da cidade foram suficientes para inspirar um sentimento de perigo em ambos.

Em seguida, quando estavam por volta de cem passos das muralhas da cidade, Arran foi atingido por algo repentinamente – com um ataque que instantaneamente inundou seu Sentido, fazendo com que ele se enchesse de uma tempestade violenta de Essência caótica tão forte que não só cegou seu Sentido, como também dominou seus outros sentidos.

Ele foi atingido pelo ataque sem que pudesse reagir e, assim que o atingiu, foi completamente dominado.

Era como se tivesse sido jogado em um salão giratório cheio de luzes ofuscantes e sons estrondosos, e o caos o deixou sem condições de pensar. Ao tentar resistir, desabou de joelhos, tentando desesperadamente recuperar os sentidos, pois temia um segundo ataque ainda mais mortal.

No entanto, mesmo que Arran não tenha conseguido recuperar o controle, esse segundo ataque não ocorreu. Ao contrário, toda aquela Essência simplesmente continuou a atacá-lo implacavelmente, avançando sem parar nem um pouco enquanto golpeava sua mente e seus sentidos.

Um ataque poderoso como esse poderia drenar a Essência até mesmo de um mago forte rapidamente. No entanto, por algum motivo, o ataque prosseguiu constante, sem aumentar nem diminuir o poder.

Independentemente de quem fosse o agressor, deveria ser um mago surpreendentemente poderoso que não se preocupava em derrotar Arran, mas sim em torturá-lo infinitamente por alguma razão que Arran não entendia.

No entanto, depois do que pareceram horas, ele começou lentamente a recuperar um pouco de clareza.

O ataque à sua mente não enfraqueceu com o passar do tempo, mas sua resistência foi ficando cada vez mais forte. Mesmo que ele não conseguisse desligar o Sentido, aos poucos estava se acostumando a essa onda de caos que se abatia sobre ele, sem conseguir desligá-la.

Finalmente, ele abriu os olhos, depois se levantou lentamente e se equilibrou. Até mesmo isso exigiu um esforço enorme, mas quando conseguiu, não avistou o inimigo que esperava encontrar. Pelo contrário, ele continuava parado na grama a cem passos das muralhas da cidade, e não havia ninguém além de Arran e Snow Cloud.

Ele olhou rapidamente para a Snow Cloud e viu que ela permanecia deitada no chão, com o seu corpo imóvel e rígido. Ele pegou o braço dela e rapidamente recuou para trás, enquanto a arrastava para longe da cidade.

Em poucos passos, o caos que invadia os seus sentidos desapareceu tão repentinamente como havia aparecido. Foi como se um véu de caos se levantasse dele, e levou alguns minutos para processar o silêncio que se fez ao seu redor.

Enquanto isso, Snow Cloud começava à gemer com o desconforto, seu corpo se movia novamente, mesmo que ainda não tenha recuperado a consciência por completo. Ele queria ajudá-la, mas não havia nada que pudesse fazer a não ser esperar, portanto, ele se sentou no chão ao lado dela.

Depois de alguns minutos, Snow Cloud abriu os olhos e Arran começou a suspirar de alívio. Aparentemente, ela não tinha sido afetada permanentemente.

Ela permaneceu em silêncio por alguns instantes, mas finalmente disse: “Isso foi terrível”.

“Foi”, concordou Arran. “Mas você tem alguma ideia do que foi?”

“Tenho, mas… eu preciso de um tempo.” Snow Cloud se sentou aos poucos e, durante alguns minutos, continuou imóvel, se recuperando da provação.

Finalmente, após respirar fundo, ela voltou a falar. “Existe uma formação em torno da cidade. Quanto atravessamos a formação, ficamos expostos a uma tempestade de Essência.”

“Uma formação fez isso?” Arran perguntou, perplexo ao pensar que uma formação pudesse ter um efeito tão devastador.

Snow Cloud balançou a cabeça. “A Essência que sentimos lá dentro… acredito que seja o vestígio da batalha que destruiu a cidade. Se não me engano, foi colocada uma formação ao redor da cidade para contê-la.”

O entendimento surgiu nos olhos de Arran. “Foi por isso que não conseguimos detectar nenhuma Essência Natural vinda da cidade?

“Acho que sim”, respondeu ela. “Quando entramos na formação, acabamos sendo expostos à força total da reação da batalha.”

“Mas você foi mais afetada do que eu”, disse Arran. “Tem alguma ideia do motivo?”

A expressão pensativa apareceu no rosto de Snow Cloud. “Talvez seja porque o meu Sentido é mais forte do que o seu, e eu o tenho há mais tempo, de forma que confio nele mais do que você.”

Arran coçou o queixo, com várias ideias se formando em sua cabeça. “Então ele afeta muito mais os magos mais fortes do que os mais fracos?”

“Acho que sim”, disse Snow Cloud.

“Então eu vou entrar de novo.”

“O quê?!” Snow Cloud olhou para Arran como se ele tivesse enlouquecido.

Vol. 2 Cap. 159 Separação

“É um lugar perfeito para esconder a bolsa do vazio”, disse Arran, sorrindo. “Ainda que o Ancião consiga entrar, é impossível que ele consiga encontrá-la.”

Ele continuava carregando a bolsa do vazio junto com os restos dos novatos e se sentia ansioso para se livrar dela. No entanto, mesmo que estivesse disposto a enterrá-la em algum lugar nas profundezas da floresta, decidiu não fazer isso.

Ainda que os magos não conseguissem detectar o conteúdo dos sacos vazios, os próprios sacos eram tesouros mágicos, e Arran temia que magos tão poderosos quanto os Anciões pudessem ser capazes de detectar os sacos vazios caso se aproximassem deles.

Snow Cloud tinha dúvidas sobre essa possibilidade, mas não estava certa de que era impossível, então Arran resolveu não se arriscar. Ele pretendia esconder o saco vazio em um lugar em que fosse praticamente impossível encontrá-lo e, agora, tudo indicava que ele havia encontrado esse lugar.

“Isso deve funcionar”, disse Snow Cloud, assentindo com a cabeça, pensativo. “Eu acho difícil que alguém consiga sentir sua própria Essência ali, muito menos em um saco vazio.” Ela franziu a testa e depois olhou para Arran. “Mas é perigoso entrar na cidade.”

“Como assim?” Perguntou Arran.

Devido ao efeito da cidade sobre o Sentido de um mago, é quase impossível que magos fortes entrem nela. E se alguém conseguisse entrar, ficaria descoordenado e distraído, e teria dificuldade com a magia sem poder sentir adequadamente sua própria essência.

Em comparação, Arran não foi tão afetado. Embora ele também não fosse capaz de usar magia, a maior parte do tempo ele dependia de sua força física. Na cidade, ele achou que teria uma boa chance, mesmo enfrentando magos muito mais fortes.

Se houver alguma coisa, ele pensou que seria mais seguro na cidade do que no mundo exterior.

“O que sentimos lá dentro foi causado por resíduos de Essência na cidade”, explicou Snow Cloud. “Mas, se o simples fato de sentir tem um efeito como esse, imagina o poder do que está causando isso – a Essência que está mais profunda dentro da cidade.”

Imediatamente, Arran entendeu. Ele se concentrou no efeito causado na cidade em seu Sentido, mas se esqueceu da causa. Neste caso, o motivo teria sido os resquícios de magias terríveis que ainda permanecem na cidade – que poderiam representar uma ameaça a qualquer um que se aventurasse na cidade.

Mas em vez de ficar desanimado, Arran começou a se animar com a ideia. Caso a cidade esteja repleta de uma grande quantidade de Essência violenta preservada, isso pode beneficiá-lo muito.

“Talvez seja possível obter seus cristais espirituais da cidade”, disse ele com entusiasmo. “Mas vai levar algum tempo.”

Snow Cloud lançou um olhar intrigado para ele. “O que faz pensar que você pode obtê-los?”

“Não posso lhe dizer”, respondeu Arran, balançando a cabeça. “O Ancião Naran disse para não deixar ninguém saber sobre isso.”

Ele esperava que a combinação da magia do Sangue com seu Reino da Destruição permitisse que ele suportasse a Essência dentro da cidade para que ele pudesse usá-la para se fortalecer ainda mais contra a magia.

No entanto, não podia dizer isso a Snow Cloud – mesmo confiando nela, não queria compartilhar o segredo de seu Reino da Destruição com mais ninguém.

Quando mencionou o Ancião Naran, Snow Cloud arregalou os olhos de surpresa, mas não perguntou mais nada sobre o que ele tinha em mente. “Quanto tempo você precisa?”, ela perguntou sem rodeios.

“Três meses.” O que Arran planejou levaria bastante tempo – desde que funcionasse – mas ele achou que três meses era o limite absoluto que Snow Cloud poderia concordar. Se isso seria suficiente, ele não sabia.

“Tanto tempo assim?” Snow Cloud ficou mal-humorado. “Pode esquecer isso. Eu não posso deixar que três meses passem sem que eu possa saber se você terá sucesso.”

Arran respirou fundo antes de responder, porque sabia que o que estava prestes a sugerir chocaria a Snow Cloud.

“Então vamos nos separar”, disse ele finalmente. “Você vai procurar em outro lugar, eu vou tentar a sorte na cidade. Assim, vamos dobrar nossas chances de encontrar cristais espirituais.”

Essa não era a opção preferida de Arran, mas ele não queria deixar passar os benefícios que ele esperava obter na cidade. Além disso, se a Snow Cloud o esperasse e ele falhasse, perderiam meses para procurar os dois últimos ingredientes.

A separação era mais perigosa, mas aumentava a probabilidade de que pelo menos um deles tivesse sucesso. Embora Arran se preocupasse com Snow Cloud, ele sabe como ela se sairia em uma luta – com certeza muito melhor do que o próprio Arran. A menos que, é claro, ela encontrasse outro exército de refinadores de corpos, o que parecia muito improvável.

Ela não respondeu inicialmente, mas, pela sua expressão, ele pôde perceber que sua proposta foi uma surpresa indesejada.

Depois de hesitar um pouco, ela finalmente disse: “Tem certeza?” Houve um leve tremor em sua voz, mas Arran sabe muito bem que a resposta que ela queria obter não era a que ele lhe daria.

“Tenho”, disse ele, fazendo o possível para ignorar o olhar dela.

Ela consentiu lentamente com a cabeça. “Então vamos nos encontrar aqui em três meses.”

Levaram algum tempo para se despedir e, ao fazê-lo, Arran não conseguiu deixar de se sentir desconfortável. Ainda que não quisesse voltar atrás em sua decisão, ele sabia que, para Snow Cloud, era como se a estivesse abandonando.

Mesmo assim, era necessário. Mesmo com toda a sua força física, os magos fortes poderiam derrotá-lo com facilidade em uma luta justa. Até mesmo na luta contra os novatos, se não fosse pela ajuda de Snow Cloud, ele teria sido morto.

Essa fraqueza se tornaria menor na medida em que sua habilidade no uso da magia melhorasse, mas agora Arran já entendia que levaria anos até que pudesse ter a esperança de igualar a habilidade mágica dos novatos da Shadow Flame. E no momento, o que ele mais precisava era de algo que o mantivesse seguro antes de chegar a esse ponto.

Com um pouco de sorte, a Essência na cidade daria a ele exatamente isso – uma forma de enfrentar os novatos sem precisar contar com a sorte para sobreviver.

Antes de Snow Cloud sair, Arran entregou a ela seu Manto do Crepúsculo. Como ele não pretendia encontrar pessoas na cidade, provavelmente ela teria mais utilidade para ela do que ele.

“Tenha muito cuidado lá fora”, disse ele, com uma voz suave. “E não se exponha a grandes riscos ao obter cristais espirituais. Mesmo se nós dois não conseguirmos encontrar nada agora, em três meses, podemos encontrar alguns juntos.”

“Serei cuidadosa”, ela respondeu. “E você, em hipótese alguma entre em um mar de Essência de Fogo. Quando eu voltar, espero que você esteja vivo e bem – como você é meu único recruta, não pode morrer.”

Ela lhe deu um último sorriso forçado, então se virou e começou a voltar para a floresta, se afastando da cidade. Arran permaneceu em silêncio ao vê-la sair e, por um instante, ele teve o desejo de desistir de seu plano e correr atrás dela.

Entretanto, ele resistiu ao impulso. Certa ou errada, ele já tinha escolhido e levaria isso adiante, não importava o que seu coração dissesse. Além disso, se sua suposição estivesse correta, nos próximos três meses ele sentiria uma dor muito pior.

Quando não conseguia ver mais Snow Cloud, ele cerrou os dentes e voltou para a cidade. Durante alguns instantes, ficou se preparando para o que estava por vir, fortalecendo sua mente para o ataque que sofreria.

Então, ele deu um passo à frente.

Vol. 2 Cap. 160 Nas Ruínas

Assim que Arran chegou a cem passos da cidade, começou a sentir uma forte descarga de sensações, atingindo imediatamente seu sentido e confundindo sua mente. Era como estar recebendo gritos de milhares de gigantes ou encarando milhares de sóis ao mesmo tempo.

No entanto, dessa vez, ele estava preparado para o ataque.

Neste momento, percebeu que o que havia sentido era apenas uma cidade cheia de Essência violenta e descontrolada, os resíduos de magias extremamente fortes que foram usadas em uma batalha devastadora.

Logo após sentir que seu Sentido era atacado pela aura violenta da Essência na cidade, ele se sentou no chão, fechou os olhos e se preparou para o ataque.

Agora que já conhecia o que esperar, ser capaz de manter o controle sobre a pressão que sentia era muito mais fácil que na primeira vez, e ele não demorou muito até recuperar o choque inicial.

Ainda assim, ele não se levantou. Sua expectativa era que a pressão aumentasse à medida que ele se aproximasse da cidade, mas aqui, onde era mais fraca, teria a melhor chance de se adaptar a ela.

Um dia passou enquanto ele se adaptava lentamente, depois outro. Mesmo estando desesperado para se aventurar na cidade, ele sabia que a pressa não o ajudaria em nada. Dentro da cidade, ele teria que manter o controle sobre sua mente mesmo com a tempestade de Essência e, para isso, ele devia aprender a resistir a ela.

Essa tarefa não seria possível se ele já não tivesse passado pela têmpera e, mesmo agora, foi difícil manter o controle sobre os pensamentos e os sentidos durante a inundação de sensações através do sentido.

Mas, embora fosse difícil, ele ainda estava melhorando constantemente. Foi impossível bloquear a pressão sobre o seu Sentido, mas à medida que ele começou a se acostumar com ela, tornou-se mais fácil sintonizá-la. Isso o deixou incapaz de usar seu Sentido ou qualquer outra magia, pelo menos a pressão não interferia mais na sua capacidade de pensar.

No terceiro dia, ele finalmente se levantou.A essa altura, ele conseguia ignorar praticamente todo o ataque ao seu Sentido desde que mantivesse a atenção concentrada. Talvez, como mais prática, ele conseguisse aprender a usar seu Sentido mesmo naquele ambiente, mas isso exigiria muito mais tempo do que ele tinha.

O importante agora era entrar na cidade sem se deixar dominar pelo seu Sentido.

Ele precisou de alguns momentos de descanso para se recuperar de seus dias de treinamento e, em seguida, dirigiu-se para as muralhas em ruínas. Era uma distância curta, mas quando ele chegou à cidade, já podia sentir a pressão sobre seu Sentido aumentando. E isso era apenas a borda da cidade – no interior, os efeitos seriam muito mais fortes.

Felizmente, os efeitos da pressão aumentada sobre Arran foram pequenos. Parece que, depois de um certo ponto, o seu Sentido que já estava sobrecarregado não era capaz de produzir nenhuma reação ainda mais forte.

Ao subir pelas paredes quebradas, Arran foi imediatamente surpreendido pela visão que tinha diante de si. De uma posição mais alta, ele podia ver que a cidade era ainda maior do que ele esperava, mas que a destruição estava além de qualquer outra coisa que ele poderia ter imaginado.

Por quilômetros de distância, o chão foi preenchido por destroços e escombros, e os únicos edifícios que ainda permaneciam de pé foram todos muito danificados. Uma cidade que já teve milhões de habitantes foi destruída praticamente inteira, foi como se um deus vingativo a tivesse pisoteado até o nada, sem se contentar até que todos os vestígios da cidade fossem destruídos.

Arran ainda podia ver alguns edifícios que permaneceram mais ou menos intactos ao longe. Aparentemente, se tratavam de palácios, templos e outras sedes de poder, mas até esses tinham torres quebradas e paredes caídas.

Arran observou a cena por vários minutos, mas então voltou sua atenção para o ambiente ao seu redor. Com sorte, ele acabaria chegando ao centro da cidade, mas agora o que importava era o que estava diretamente à sua frente.

Ele seguiu em um ritmo lento, mas constante, sem tirar os olhos da área ao seu redor conforme avançava. Mesmo que não esperasse que houvesse inimigos na cidade, ainda assim não seria descuidado.

Ao atravessar as ruínas, notou que entre os escombros havia vários ossos – os antigos habitantes da cidade. Era evidente que eles não conseguiram escapar da cidade antes que ela caísse, e Arran imaginou, com certo receio, que estava em meio aos túmulos de milhões de pessoas.

Ao mesmo tempo em que a ideia o deixava inquieto, uma parte dele se perguntava o quão forte sua magia de sangue se tornaria caso ele pudesse estar lá quando a cidade caiu. Com as mortes de milhões de pessoas servindo de alimento, imaginou que seu poder teria sido avassalador.

Rapidamente, ele abandonou o pensamento, mas não conseguiu deixar de sentir um certo choque por ter mudado desde que deixou sua cidade natal. Antigamente, ele teria ficado horrorizado com a ideia da morte em tal escala. Mas agora ele se perguntava como esse desastre poderia beneficiá-lo.

Ele não gostou dessa mudança.

Em um suspiro pesaroso, começou a andar novamente, com cuidado e devagar. Como sabia que a qualquer momento ele poderia encontrar a Essência que permanecia na cidade e, sem seu Sentido, poderia sentir quando ela o afetasse fisicamente.

Cerca de 800 metros depois de entrar na cidade em ruínas, ele começou a senti-la novamente – como uma leve sensação de queimação na pele, semelhante a um ataque de um iniciante que acabara de abrir seu primeiro Reino. Ao levantar a mão, ele viu que sua pele se tornou vermelha e que havia sinais de fumaça saindo dela.

Mesmo suportando facilmente a dor, essa situação o deixou desconfortável. Sem seu Sentido, ele não podia ver a Essência que o afetava, o que fazia com que o seu corpo parecesse estar começando a queimar espontaneamente.

Para ele, a experiência mágica devia ser assim para os plebeus. Eles só podiam ver – e sentir – os efeitos, sem conseguir ver o que realmente estava acontecendo. Nesse caso, enfrentar magos em uma batalha seria absolutamente aterrorizante.

Ignorando a dor, ele se sentou no chão e fechou os olhos. Agora, a parte desagradável começaria.

Com seu Sentido bloqueado, ele só poderia confiar em suas técnicas e experiência para atrair a Essência em volta dele para seu corpo, o que se mostrou mais difícil do que esperava. Por várias horas, ele se sentou em silêncio, experimentando várias técnicas de absorção da Essência que o cercava.

Ele soube que havia conseguido ao sentir uma onda de dor em seu corpo – a Essência devastadora que permanecia na cidade. Imediatamente, passou a circular por seu corpo, utilizando a dor que ela causava para orientá-lo e, ao mesmo tempo, absorvendo mais dela.

Continuou assim por algum tempo, até que a dor se tornou forte demais ao ponto de não conseguir suportá-la. Então, se levantou se afastou alguns passos, até que saiu da área onde a Essência permanecia. Ele comeu e descansou até se recuperar, e depois voltou imediatamente e continuou seu treinamento.

Ele repetia isso muitas vezes, absorvendo e circulando a Essência violenta em seu corpo até não conseguir mais suportar, descansando brevemente antes de começar tudo de novo.

Sua esperança era que, ao fazer isso, conseguisse um efeito semelhante ao que o Ancião Naran disse que o Reino da Destruição tinha sobre ele, ou seja, fortalecendo seu corpo contra os efeitos nocivos da Essência. Mas agora, esperando que a regeneração da magia do sangue permita que ele consiga progredir muito mais rápido.

No entanto, após três dias, sem ver nenhum efeito, começou a se preocupar com o fato de que talvez seu plano não funcionasse. Pode ser que só a Essência de seu Reino da Destruição tivesse o efeito que ele queria obter, ou que só funcionasse com sua própria Essência.

Mesmo preocupado, ele continuou o treinamento – afinal, ele não tinha outra maneira de descobrir se funcionava.

Finalmente, depois da primeira semana, conseguiu ver algumas pequenas melhorias na sua capacidade de suportar a Essência. Gradualmente, passou a fazer a Essência circular em seu corpo por mais e mais tempo, fazendo com que a dor demorasse a se tornar insuportável.

No início, ele achou que poderia ter se acostumado com a dor, levando mais danos antes de não aguentar mais. Contudo, não levou muito tempo para ele se recuperar de cada viagem à Essência e rapidamente percebeu que seu treinamento estava funcionando.

Passou mais uma semana com um progresso lento, mas constante, mas depois sua taxa de melhoria diminuiu. Ele já esperava por isso e já sabia o que fazer: entrar ainda mais na cidade, onde a Essência seria mais densa.

Sempre que se aventurava na Essência, avançava um passo a mais, avançando gradualmente na cidade e submetendo seu corpo a uma punição cada vez mais forte.

Quando se retirava para se recuperar, no entanto, ele ainda precisava sair completamente do mar de Essência – ele descobriu que ao pegar comida de sua bolsa vazia em uma área com Essência persistente, a comida se desintegrava antes que ele pudesse dar uma única mordida.

No decorrer das semanas, Arran se aprofundou mais na cidade a cada dia que passava, e sua resistência à Essência na cidade melhorava constantemente.

Seu progresso ficou óbvio depois de um mês de treinamento, e a túnica encantada que ele usava começava a se desfazer quando ele se aproximava da cidade. Rapidamente, ele a tirou e a colocou em sua bolsa vazia. Aparentemente, a partir de agora, ele teria que treinar nu.

Mas não foi só isso que o afetou.

Depois de passar mais de uma semana avançando constantemente, no fim de uma sessão de treinamento, ele notou que seu cabelo já havia se desintegrado. Pelo que ele podia ver, não restava um único fio de cabelo no seu corpo. Parecia que, enquanto seu corpo se fortalecia, os efeitos não se aplicavam plenamente ao seu cabelo.

Ele levou isso numa boa, mas esperava que seu cabelo voltasse a crescer. Embora seu pai já fosse careca na juventude, ele próprio esperava evitar esse destino.

Com o passar dos dias, ele conseguia ver os prédios restantes no centro da cidade se aproximando, e a visão serviu para que ele treinasse ainda mais. A essa altura, ele já estava confiante de que poderia percorrer todo esse caminho até o centro da cidade em busca dos cristais espirituais de que Snow Cloud precisava.

Assim se passaram dois meses até que ele já havia percorrido mais de dois terços da distância até o centro da cidade. Ele resolveu esconder os novatos aqui, enterrados sob os escombros carbonizados de um edifício aleatório que poderia ter sido uma pequena loja.

Memorizado o local, ele retirou os corpos antes de enterrar o saco vazio. Como esperava, se desintegraram em instantes, incapazes de resistir à Essência destrutiva que preenchia a área.

Aliviado por ter finalmente se livrado do saco vazio, ele rapidamente voltou ao seu treinamento – o tempo começava a se esgotar.

Ele já tinha percorrido a maior parte do caminho até o centro da cidade, mas ainda restava um mês para cobrir o restante. Ainda que ele pudesse considerar que isso seria suficiente, a Essência persistente era mais densa no centro da cidade, e a última parte de seu treinamento seria o mais difícil.

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