Quem Matou o Herói? – Volume 1 – Capítulo 1 - Anime Center BR

Quem Matou o Herói? – Volume 1 – Capítulo 1

Capítulo 1

Capítulo de Leon

— Ele era meu amigo — foi sua resposta concisa quando perguntado sobre sua relação com o Herói Ares.

Mesmo através das roupas, era possível perceber seu corpo bem treinado e definido. Seus cabelos loiros aparados, a barba bem cuidada e os traços bonitos impressionavam com um olhar poderoso, deixando claro que ele não era um homem comum.

Amigo—a relação deles deveria ter sido mais complexa do que essa simples palavra. Voltando aos tempos de academia, eles eram membros de um grupo que havia enfrentado a morte juntos inúmeras vezes.

Leon Mueller. Conhecido como o Santo da Espada Leon, ele já foi considerado o principal candidato a se tornar o Herói.

— Não tem um significado especial. É só que, antes de conhecê-lo, eu não tinha ninguém que pudesse chamar de amigo. Eu nasci em uma família relativamente bem colocada. Quando você nasce em uma família nobre, os relacionamentos humanos são apenas acima ou abaixo. Ou você reverencia ou é reverenciado; é assim que se avaliam as pessoas que você encontra. É bem terrível, não é? É assim que os nobres são.

Enquanto dizia isso, um sorriso travesso cruzou seu rosto.

O Leon atual não tinha mais os ares rígidos de nobre. Pelo contrário, ele era conhecido como um homem franco e honesto, que não fazia distinção de classe. Mesmo comigo, ele falava de forma descontraída, sem me fazer sentir qualquer diferença de status.

— Então, como foi quando você conheceu Ares pela primeira vez?

— Naquela época, eu era um nobre. Na verdade, ainda sou, tecnicamente, mas naquela época eu era um verdadeiro nobre. E eu era um candidato a Herói. Eu me achava muito bom, acreditando que ninguém poderia me vencer com a espada e que, com certeza, eu ia me tornar o Herói. As pessoas ao meu redor também pensavam assim.

Os olhos de Leon escureceram.

— Eu odiava aquele cara. Um plebeu que entrou na Academia Pharme, onde apenas nobres podiam estudar, com sapatos sujos de lama. E ele era um homem sem características excepcionais. Eu nem queria tê-lo no meu campo de visão.

— A Academia Pharme, que ainda existe hoje, é famosa como uma instituição de formação de Heróis, mas dizem que não é apenas para nobres. Na verdade, ela abre suas portas para qualquer um com habilidade suficiente.

— Era diferente naquela época. Os princípios de fundação haviam se perdido, e ela havia degenerado em uma instituição para nobres darem refinamento aos seus filhos. Claro, você poderia entrar se tivesse dinheiro, então, tecnicamente, o status social não era necessário para a admissão, mas dificilmente alguém louco o suficiente para tentar entrar em um lugar como aquele o fazia. Se você quisesse ficar mais forte, havia inúmeras outras opções; entrar em uma escola particular, tornar-se discípulo de um espadachim famoso, ganhar experiência como aventureiro e assim por diante.

— Então por que Ares entrou na Academia Pharme?

— É simples. Porque ele queria se tornar o Herói. Havia inúmeras maneiras de se tornar um guerreiro forte, mas para ser reconhecido como o Herói, essa era a única maneira. Bem, pensando agora, não era como se ele precisasse entrar na academia para se tornar o Herói, mas era isso que se acreditava na época, e era o que ele também pensava.

— O que aconteceu quando você o conheceu pela primeira vez?

— Eu gostaria de dizer que não me lembro, mas ainda vejo isso em meus sonhos. Com um olhar, eu o menosprezei e disse: “Você não tem o direito de se tornar um Herói.”

— Como Ares reagiu?

— “Mesmo assim, eu preciso me tornar o Herói”, ele disse. Fiquei furioso por ter sido respondido por um plebeu daquele jeito. Eu queria cortá-lo ali mesmo, mas um professor me impediu. Causar derramamento de sangue nas dependências da academia seria problemático. Embora os professores o vissem como uma pessoa rude que não pertencia ali, eles provavelmente acharam que seria ruim matá-lo.

— Que tipo de aluno Ares era?

— Ele era mediano. Pelo que ouvi, ele já havia feito algumas aventuras antes de entrar na academia, então ele tinha habilidades de combate decentes. Mas suas técnicas de esgrima eram autodidatas, o que o levou a recomeçar do princípio. Duelamos inúmeras vezes antes de nos graduarmos, mas nunca fui derrotado por ele.

— Acredita-se que, mesmo como estudante, o Herói Ares tinha notas excepcionais, mas…?

— Isso foi embelezado mais tarde. Depois que ele derrotou o Rei Demônio, conhecidos de seus tempos de academia o encheram de elogios, dizendo: “Mesmo como estudante, ele já mostrava o brilho de um Herói”. Ele não brilhava nada naquela época. Mas ele era anormal.

— Anormal?

— Em batalhas simuladas durante as aulas, ou ele vencia ou continuava lutando até ser realmente derrubado. Ele não desistia com apenas um pouco de dano. Ele enfrentava seriamente até os professores. Se havia algo que ele não entendia nas matérias ensinadas, ele incomodava os professores ou colegas até compreender. Ele praticava as técnicas repetidamente até tarde da noite.

— Ele não era apenas um estudante dedicado?

— Não é só dedicação. Ele não tinha conceito de descanso. Ele não tinha tempo livre. Todo o seu tempo era dedicado a “se tornar um Herói”. Ele não dormia; apenas se esforçava até seu limite e desmaiava. Algumas pessoas o incomodavam por ele ser plebeu, mas logo pararam de se envolver com ele. Qualquer um podia ver que era um nível extraordinário de determinação.

— Com tanto esforço assim, ele realmente poderia ser considerado mediano?

— Bom, ele cresceu até certo ponto. Ou melhor, era natural que ele alcançasse alguns resultados com tanto esforço. Entretanto as diferenças de talento não podem ser superadas, não importa o quanto você se esforce—isso é uma verdade imutável. No fim, assim como ele nunca conseguiu me superar com a espada, ele também nunca foi o melhor em nenhum outro campo. Claro, suas notas não eram ruins. Mas qualquer um poderia obter notas nesse nível com a quantidade de esforço que ele dedicava. Embora, eu acho que não há muitos que conseguiriam se esforçar tanto assim.

— Certamente, na formatura, Ares não foi o orador da turma. O orador foi você, certo, Leon?

— Eu consegui ser o orador porque tinha o respaldo de ser filho de um conde. Se houvesse um membro da família real no meu ano, provavelmente ele teria tomado esse posto. Mas minhas notas eram adequadamente excelentes.

Leon sorriu maliciosamente. Travesso, mas um sorriso que transparecia afeição pelas pessoas.

— A propósito, você chamou Ares de amigo, mas quando exatamente vocês se tornaram tão próximos?

— Foi perto do fim do nosso terceiro ano, durante um treinamento prático no campo. Como um teste final de tudo o que aprendemos nesses três anos, fizemos uma expedição à Grande Floresta de Rozolof para lutar contra monstros.

— Até hoje, a Grande Floresta de Rozolof é vista como um domínio demoníaco, onde ainda aparecem monstros. A Academia Pharme ainda mantém esse tipo de treinamento como uma tradição.

— Mesmo sendo chamada de domínio demoníaco, a força dos monstros varia muito dependendo da região. A floresta se estende por uma área tão grande que poderia conter vários países. A área para onde os estudantes vão tem monstros relativamente fracos. Professores experientes, que também são aventureiros, e cavaleiros vão junto para atuar como guardas. É praticamente isento de riscos… ou pelo menos deveria ser. Mas um demônio acabou por atacar o treinamento.

— Essa história é famosa. Tornou-se um dos contos heroicos do Herói, que os membros que mais tarde formariam o grupo do Herói derrotaram o demônio atacante, mesmo sendo ainda estudantes.

— Não foi uma história heróica e bela como essa. Quase todos os professores e cavaleiros escoltas foram mortos. Claro, também houve baixas entre os estudantes. Falando francamente, foi um erro do reino. Para encobrir isso, os estudantes que sobreviveram foram glorificados.

— Certamente, ao enfatizar a força do demônio e pelo fato de estudantes terem conseguido enfrentá-lo, isso destacou a coragem do Herói, apesar de sua juventude.

— Simplificando, aquele demônio não era tão forte entre os demônios. Ele era apenas astuto. Provavelmente queria acumular feitos com o menor risco possível, matando estudantes que poderiam se tornar o Herói. Se os professores e cavaleiros não tivessem sido forçados a nos proteger, provavelmente teriam lutado muito melhor também.

— Mesmo que fosse fraco, demônios ainda são considerados a raça mais forte entre os monstros. Como estudantes conseguiram derrotá-lo?

— É simples. Nossas habilidades já eram suficientes para vencer desde o começo. As habilidades minhas, de Maria e de Solon já se destacavam, mesmo sendo ainda estudantes. Mas nós não tínhamos experiência real de combate. Podíamos derrotar monstros fracos, mas não sabíamos como trabalhar em conjunto para derrotar monstros mais fortes. Eu avancei sozinho e fui facilmente derrotado. Solon ficou desorientado porque sua magia, da qual se orgulhava, não funcionou. Maria ficou paralisada diante dos corpos que ela não podia curar.

— A Santa Maria e o Grande Sábio Solon, certamente membros famosos do grupo do Herói. Mas, naquela época, eles ainda não haviam demonstrado suas habilidades. E quanto a Ares?

— Ele imediatamente instruiu todos a fugirem ao ver o demônio. Disse para se dispersarem e correrem, sem ficarem juntos. Achei que era comportamento de covarde não lutar e apenas fugir. Mas os estudantes que seguiram suas instruções sobreviveram, enquanto os que tentaram resistir morreram.

— E quanto ao próprio Ares?

— Ele estava bloqueando o demônio que tentou perseguir os estudantes que escaparam. Ele não o confrontou diretamente, mas manteve distância para dificultar sua perseguição. Ele provavelmente queria salvar o maior número de vidas possível. Então, quando fui derrotado pelo demônio, ele aproveitou a oportunidade e pulou na frente. Eu teria morrido se ele não tivesse vindo.

— Ares também tentou te fazer fugir?

— Não, para mim ele disse: “Levanta! E lute!” Que terrível, não é? Dizer para eu lutar depois de ter perdido para o demônio? Achei que não havia a menor chance de vencer se lutasse.

— Mas você lutou.

— Foi a primeira vez na minha vida que fui tão completamente derrotado, e meu orgulho estava em frangalhos, mas, ainda assim, um plebeu estava lutando sozinho. Como nobre, filho de um conde, eu não poderia fugir. E também, ele me disse isso: “Você não queria se tornar o Herói?” Com a pouca coragem que pude reunir, me levantei. Pensando agora, foi a primeira vez na minha vida que mostrei coragem. Até aquele treinamento, eu nunca tinha enfrentado e superado dificuldades na vida. Então, quando fui confrontado pela ameaça do demônio, meu espírito foi facilmente quebrado, e eu me resignei à morte.

— Como você lutou contra um oponente que sabia que não podia vencer?

— Lutei da mesma forma que ele. Sem atacar diretamente, mas mantendo a distância e observando as oportunidades para atacar. Era um estilo de luta que eu desprezava, achando que era coisa de fracos, algo indigno de um cavaleiro. No entanto, ao tentar, percebi que era uma maneira eficaz de lutar contra um oponente mais forte. Para monstros individualmente mais fortes que humanos, como demônios, deveríamos ter lutado assim desde o começo. Com nós dois atentos às brechas do demônio, sob a direção do Ares, Solon começou a usar magia para atacá-lo. Maria também se concentrou em nos curar enquanto lutávamos. E foi assim que vencemos.

— Então, essa foi a primeira vez que o grupo do Herói funcionou em batalha?

— É simples quando você coloca assim, mas na época eu não achava que pudéssemos vencer de jeito nenhum. Eu nem conseguia saber se nossos ataques estavam causando algum efeito. Mas como ele lutava sem hesitar, nós também pudemos lutar. Ele foi derrubado várias vezes. Mas não importa quantas vezes caísse, ele imediatamente se levantava para continuar lutando. Depois, percebi que ele provavelmente havia imaginado esse tipo de combate durante as batalhas simuladas em aula. Por isso, mesmo quando perdia inúmeras vezes nessas lutas, ele não admitia a derrota facilmente e continuava lutando até vencer. Enquanto nós apenas seguíamos vagamente as lições ensinadas, ele aprendeu muitas coisas. Essa diferença se mostrou naquele treinamento de campo.

— Você o considerou um amigo porque ele salvou sua vida?

— Talvez sim, talvez não.

Leon olhou vagamente para o horizonte.

— Naquele momento, pensei: Ah, então ele é o Herói. Não veja isso como ressentimento, mas, depois de nos reagrupamos, fui eu quem causou mais dano ao demônio. Em termos de habilidade pura, eu ainda era mais forte que ele. Mas não se trata disso. O Herói precisa de força, mas isso sozinho não é suficiente. Claro, o status social era completamente irrelevante. O que importa é o modo de ser do Herói.

Eu não era o Herói. E, pela primeira vez, reconheci outra pessoa; não como superior ou inferior a mim, mas como um ser humano igual.

— Por que o Herói morreu?

— Provavelmente esse era o destino dele, como o homem chamado Ares. Nada além disso.

 

 

Fragmento 1

Logo após entrar na academia, fui abordado na sala de aula.

— Você não tem o direito de se tornar um Herói.

Ele era um jovem loiro com traços e físico excelentes. Seus olhos azuis deixavam uma impressão marcante, e seu rosto era bem definido.

— Mesmo assim, eu preciso me tornar o Herói.

Quando respondi dessa forma, o jovem ficou furioso e agarrou a espada em sua cintura.

Um professor rapidamente interveio, e a situação se acalmou, mas, depois disso, eu me tornei uma pedra no sapato dele.

Logo ficou claro que o nome do jovem loiro era Leon Mueller. Ele se destacava entre todos na classe e, sendo filho de um conde, havia professores que também bajulavam ele. E sua habilidade com a espada era realmente excelente.

Abençoado com linhagem, físico e talento, ele não deixava de se esforçar. Não demonstrava arrogância com relação a seus próprios dons, treinando adequadamente até mesmo fora das aulas. Não é preciso dizer que ele estava no topo dos candidatos a se tornar o Herói.

Achei que ele poderia se tornar o Herói. Ou melhor, esperava por isso.

Se Leon se tornar o Herói, então eu não precisarei ser, certo?

Pensei, de maneira despreocupada. Mas, até que ele realmente se tornasse o Herói, eu não poderia desistir. Eu não podia empurrar o fardo de ser o Herói para Leon.

Então decidi treinar ainda mais do que Leon. Impus a mim mesmo o dobro do treinamento que ele fazia fora das aulas.

Por sorte, eu tinha bastante tempo. Enquanto as pessoas se reuniam ao redor de Leon, forçando-o a se associar com elas de alguma forma, não havia ninguém ao meu redor, o que me permitia dedicar todo o meu tempo fora das aulas ao treinamento.

Os professores das aulas de combate eram, em sua maioria, ex-cavaleiros que haviam se aposentado devido à idade ou a lesões, mas suas habilidades eram inegáveis.

Eles favoreciam meus colegas nobres, então não me instruíam diretamente com muita frequência, mas o conteúdo que ensinavam nas aulas era muito informativo. Embora houvesse poucos professores particularmente simpáticos comigo, se eu fazia perguntas quando não entendia algo, eles respondiam adequadamente.

Com a mentalidade de aplicar o que me era ensinado, pratiquei com minha espada repetidamente em locais ao redor dos prédios da academia, onde não havia olhares curiosos.

Além disso, sempre que possível, praticava minhas posturas diante de espelhos ou vidros para verificá-las.

Durante as aulas, percebi que minha forma de usar a espada tinha muitos movimentos desnecessários. Eu havia chegado à academia sem ter aprendido formalmente a arte da espada, e havia muitos gestos supérfluos.

Em comparação, o manejo de espada de Leon era ideal. Seus golpes fluíam lindamente, sem desperdício de movimento, como se ele puxasse um fio invisível. Usando suas posturas como modelo, eu me esforcei ao máximo no treinamento. Nas batalhas simuladas durante as aulas, eu o desafiava sempre que podia.

A cada vez, era derrotado por Leon e ridicularizado.

— Você deveria sair logo da academia.

Curiosamente, Leon parecia não gostar quando outros alunos zombavam de mim.

Certa vez, quando descuidadamente deixei minha espada na sala de aula, um colega a pegou e tentou se apropriar dela.

— Uma espada como essa combina com sua disposição de plebeu desprezível. Eu vou usá-la.

Ele disse, e os outros colegas ao redor riram em concordância.

— Essa espada é importante. Me dá ela de volta.

Eu poderia lhe dar qualquer outra coisa, mas não poderia dar aquela espada.

Enfrentei aquele colega. De qualquer jeito, eu estava determinado a recuperá-la, mesmo que fosse à força.

— Ei! Como ousa um plebeu como você ser tão arrogante?

Eles ficaram um pouco intimidados com a minha atitude, mas, confiando em sua superioridade numérica, me cercaram.

— Ei.

Leon chamou a atenção deles.

— Você aí, o que aprendeu sobre o que uma espada significa para um guerreiro?

Leon questionou o colega que havia roubado minha espada.

— E-erm… uma espada é a vida de um guerreiro…

O garoto questionado gaguejou ao responder.

— Oh? Então sua vida agora são bens roubados?

O garoto tremeu e disse: — Não, isso foi só uma brincadeira…

— Você pretende se tornar um guerreiro que brinca com vidas?

Pressionado pela pergunta, o garoto silenciosamente devolveu minha espada.

Após confirmar isso, Leon foi embora, mas eu corri atrás dele para expressar minha gratidão.

— Obrigado, você me ajudou.

— Você estava ouvindo o que eu disse?

Leon respondeu duramente.

— Eu disse que a espada é a vida de um guerreiro! Ter a sua espada tomada por outro é uma desonra para um guerreiro! É tolice roubar a espada de alguém, mas aquele que a perde por descuido é ainda mais tolo!

Ele estava completamente certo. Desde então, nunca mais deixei minha espada longe de mim.

No final do verão do terceiro ano, enquanto eu praticava esgrima atrás do prédio da academia, Leon se aproximou de mim.

Era raro ele iniciar uma conversa. Ele não estava com sua comitiva usual.

— Seu manejo de espada melhorou bastante — ele disse.

Ele não usava lisonjas ou sarcasmo, então devia ser um elogio genuíno. Parei de balançar minha espada e me virei para encarar Leon.

— Tenho usado sua esgrima como modelo.

— Entendo. Eu não sou tão ruim, mas, tirando eu, sua forma é a melhor. Bem, em parte, é porque os outros não têm treinado direito.

Foi um comentário gratificante. Quando me matriculei, eu era o pior da classe dos guerreiros, pois não tinha as noções básicas. Agora, Leon disse que eu era o segundo melhor, logo atrás dele.

No entanto, o fato é que meus colegas, com exceção de Leon e eu, não estavam levando as aulas a sério. Eles pareciam ter medo de ir para o território do Rei Demônio, mesmo que tivessem aprimorado um pouco suas habilidades. Leon provavelmente estava irritado com isso.

— Obrigado. Valeu a pena o esforço.

— É mesmo? Não acho que seus resultados correspondam ao seu esforço. Se tudo o que você conseguiu depois de balançar a espada milhares de vezes todos os dias é esse nível, talvez você não tenha talento para isso.

A observação de Leon era precisa. Depois de praticar dia e noite por mais de dois anos e chegar ao meu nível atual, meu talento era realmente questionável.

— Mesmo assim, está tudo bem. Eu tenho que me tornar o Herói, então preciso melhorar minha esgrima, mesmo que seja só um pouco.

— Por que você está tão determinado a se tornar o Herói?

Leon perguntou com uma expressão séria.

— É porque um profeta apareceu na minha vila e profetizou o surgimento de um Herói. Se eu não fizer isso, não haverá mais ninguém.

— Você realmente acha que é o Herói?

— Eu fico pensando. Não acho que eu seja o mais indicado para isso. Para ser sincero, acho que você seria um Herói melhor.

— O quê?!

Ele parecia genuinamente surpreso.

— Então, por que você insistiu em se tornar o Herói? Poderia ter deixado isso comigo. Assim, você não precisaria passar por esse treinamento exaustivo todos os dias.

— Bem, isso não seria certo.

— Não seria certo? Você não deveria ser o Herói.

— Todos esperam que eu seja, e unilateralmente empurram para mim a grande tarefa de derrotar o Rei Demônio. Eu tenho que arriscar a minha vida para lutar contra ele. E se eu falhar, o mundo estará perdido. Não há nada mais problemático do que isso.

— …

Leon hesitou por um momento antes de falar.

— Ontem, meu pai me disse para me retirar da seleção de candidatos a Herói.

— Por quê?

Seu pai deveria esperar que ele se tornasse o Herói.

— A situação está bem ruim. Não parece que estamos em condições de invadir o território do Rei Demônio. Foi julgado que é impossível derrotar o Rei Demônio, mesmo com um Herói.

Entendo, se a situação for crítica, eles não poderão oferecer suporte para o Herói que entrar no território do Rei Demônio. Sem apoio, seria como pular direto em uma armadilha mortal.

— Ele está preocupado com você.

— Eu sei disso. — Leon gritou. — Mas, eu tenho me esforçado para me tornar o Herói desde criança! Tornar-me o Herói e salvar o mundo sempre foi meu sonho! Eu não me importo com a minha vida neste ponto! Mas…

Seu pai, que era um conde, sem dúvida lhe daria ordens absolutas. Provavelmente, era por preocupação com sua segurança. Leon não poderia desafiar essas ordens.

— Eu me tornarei o Herói, então está tudo bem.

Comecei a balançar minha espada novamente.

— Eu definitivamente vou derrotar o Rei Demônio. Então, está tudo certo.

— Está dizendo que você, que é mais fraco do que eu, pode fazer isso?

O rosto de Leon se contorceu de desdém.

— Como pode dizer isso com tanta confiança? Você é apenas uma pessoa comum! Não tem poder! Não pode derrotar o Rei Demônio!

Ele me repreendia como se despejasse seu ódio sobre mim.

— Eu vou fazer isso até conseguir. Se falhar uma vez, tentarei de novo. Se falhar uma segunda vez, visarei uma terceira. É só isso.

Eu não era tão otimista. Não achava que seria fácil ter sucesso na primeira tentativa.

— Do que você está falando? Se falhar uma vez, tudo estará acabado. Não haverá uma segunda chance.

— Mesmo assim, eu não tenho outra escolha senão fazer isso. O mais importante é não desistir e manter a calma. Se você se tornar imprudente e desperdiçar sua vida, tudo estará acabado. Não importa o que aconteça, eu vou até o fim. É por isso que aprendi tanto magia ofensiva quanto de cura.

— …………

Depois de me encarar por um tempo, Leon disse: — Hmph, fala muito. O que um plebeu pode fazer? Sou eu quem vai derrotar o Rei Demônio. Não posso simplesmente deixar tudo com você e esperar pacificamente no país. Confiar o destino do mundo a um plebeu fere meu orgulho. Não importa o que digam, eu irei para o território do Rei Demônio. Com certeza.

Quando Leon estava prestes a sair, ele se virou como se tivesse uma segunda ideia.

— Faça uma promessa. Se eu me tornar o Herói, você entrará no meu grupo.

Foi uma declaração inesperada.

— Se eu me tornar o Herói?

— É um cenário improvável. Mas… — Leon mostrou um sorriso confiante. — Se isso acontecer, entrarei no seu grupo

 

 

Fragmento 2

Fui criado com grandes expectativas desde pequeno. Isso é natural sendo o filho mais velho de uma família nobre.

A Casa Mueller sempre foi um pilar de sustentação do reino, o símbolo de sua força militar, então era óbvio que eu deveria ser forte.

Antes que me desse conta, já estava treinando com uma pequena espada de lâmina cega.

Não é que eu não gostasse do treinamento com a espada. Eu gostava, e podia sentir meu progresso a cada treino. Meu tio, que me instruía, meu pai, minha mãe, todos me elogiavam. Como resultado, a espada se tornou minha razão de viver.

No entanto, por mais que fôssemos uma família militar, ser bom com a espada não era tudo. Na verdade, em nossa família, o mais habilidoso com a espada era meu tio, mas, sendo ele o segundo filho, não podia herdar a casa. No final, para os nobres, o que importava era a linhagem. Contudo, os tempos estavam mudando.

O Rei Demônio havia surgido.

O Rei Demônio e seus monstros começaram a invadir os países humanos com uma força e números esmagadores.

Eu tinha seis anos na época. Uma grande batalha contra as forças do Rei Demônio ocorreu ao sul. Nosso país também enviou um exército, pelo que parece. Entretanto, seguindo as ordens de Sua Majestade, meu pai não foi pessoalmente ao campo de batalha, enviando meu tio para liderar o exército em seu lugar. Como chefe de uma casa nobre, ele não podia se arriscar. Ou ao menos, esse era o raciocínio.

Meu tio foi em auxílio do Reino de Malica, que estava sendo invadido pelas forças do Rei Demônio, e exibiu plenamente seu valor militar, repelindo o exército do Rei Demônio. No entanto, quando chegaram, o Reino de Malica já havia sido destruído.

Se meu pai tivesse tomado a decisão imediatamente e ele mesmo tivesse ido ao campo de batalha, talvez o Reino de Malica pudesse ter sido salvo.

Isso foi lamentável.

Por outro lado, ao contrário de outros nobres, eu respeitava meu tio, que foi para o front e atuou nas linhas de frente.

Meu tio também não tinha filho homem, então ele me mimava como se eu fosse seu próprio filho. Mas ele tinha uma filha, um ano mais nova que eu.

Minha prima também me adorava como um irmão mais velho, e praticávamos esgrima juntos. Como esperado da filha do meu tio, ela tinha uma boa constituição física. Se minha prima fosse um menino, ela poderia ter se tornado um espadachim melhor do que eu. Treinar com ela melhorou ainda mais minhas habilidades com a espada.

Com o passar do tempo, uma atmosfera pesada passou a dominar o país. Embora tivéssemos repelido as forças do Rei Demônio uma vez, elas continuavam a expandir seu domínio, e acreditava-se que, eventualmente, estenderiam sua mão maligna ao nosso país também.

Mas quando esse momento chegasse, meu poder seria necessário.

Com o poder desta espada, salvarei o país, pensei, e continuei a aprimorar minhas habilidades. Meu tio disse: “Você me supero.” Quando completei dez anos, já me chamavam de Santo da Espada. Mas antes que me desse conta, me afastei das pessoas ao meu redor.

Ninguém ao meu redor estava realmente preocupado em salvar o país. Todos só pensavam em como evitar a luta. Quanto maior o status, mais forte era essa tendência.

Isso é completamente tolo. Justamente por serem nobres, deveriam liderar e lutar pelo seu país e seu povo.

Eu pensei que, ao me tornar o Herói e salvar o mundo, me tornaria o rei deste reino e corrigiria a natureza dos nobres. Nunca duvidei que eu era o único que poderia ser o Herói.

Mas esperava que houvesse alguém mais por aí com as mesmas aspirações, alguém que se dedicaria e lutaria pelo povo.

Aos quinze anos, entrei na Academia Pharme,

Uma instituição destinada a formar Heróis. Era um lugar onde apenas nobres escolhidos podiam entrar. Eu esperava que ali houvesse nobres com a aspiração de se tornarem Heróis.

Foi quando conheci Ares, um plebeu audacioso que teve a ousadia de entrar na Academia Pharme.

Os plebeus deveriam ser protegidos pelos nobres; sem esse arranjo, a própria essência da nobreza se perderia.

Certamente, um Herói não é escolhido com base no status social. Contudo, se os nobres não produzirem Heróis, nos tornaremos apenas parasitas dentro de nosso próprio país.

— Você não tem o direito de se tornar um Herói.

Eu me peguei dizendo isso.

Direito? Por que deveria haver um direito? Qualquer um deveria poder se tornar um Herói, se tivesse determinação. Mas eu não conseguia aceitar. Era o medo de que nos tornássemos nobres parasitas e falsos.

— Ainda assim, eu preciso me tornar um Herói.

Ares respondeu, olhando diretamente nos meus olhos. Ele estava determinado. Apesar de estar na academia, ele era diferente dos outros filhos de nobres, que riam e agiam despreocupadamente.

Eu saquei minha espada, e os outros ao nosso redor tentaram me parar.

Por que me impedir? Vocês não têm senso de urgência? Se os nobres forem salvos por plebeus, perderemos nosso valor, qual seria o sentido?

Eu podia afirmar isso: ele estava genuinamente almejando se tornar um Herói.

Eu nunca tinha visto alguém como ele, exceto eu mesmo.

Perguntei a alguns que pareciam promissores: — Você está tentando se tornar um Herói?

A resposta era sempre a mesma: — Não é óbvio que o Lorde Leon será o Herói?

Eles diziam isso com olhos cheios de bajulação.

Por quê? A identidade do Herói não era algo predeterminado. Se alguém tivesse a determinação de salvar o mundo, qualquer um poderia aspirar a isso.

Então, por que os nobres e cavaleiros não aspiravam a isso?

Como nobres e cavaleiros, eles não deveriam lutar pelo povo?

Claro que eu me tornaria o Herói. Eu salvaria o mundo e me tornaria o rei deste país, trazendo felicidade ao povo.

Contudo, eu não acreditava que esse caminho deveria ser trilhado sozinho. Deveria ser uma jornada compartilhada com outros, aprimorando nossas habilidades juntos até alcançarmos o topo.

Eu deveria seguir esse caminho sozinho?

Deveria ir para o deserto sozinho?

Por que vocês não têm aspirações?

O que mais me incomodava era o fato de esse plebeu finalmente ter aparecido, justamente naquele deserto.

Vocês estão zombando dele por dizer que está almejando se tornar um Herói.

Não o ridicularizem.

Que direito têm aqueles sem determinação de zombar de quem a possui?

A Academia Pharme era uma instituição para cultivar Heróis. Se você se matriculou aqui, deveria aspirar a se tornar um Herói.

No entanto, não havia nada mais desprezível do que zombar de alguém que estava se esforçando para isso, sem você mesmo ter essa aspiração.

Ares permaneceu impassível, mesmo quando saquei minha espada. Ele era genuíno. Mas eu não podia reconhecê-lo.

Eu era um nobre, e ele era um plebeu. Era por isso.

***

As aulas na academia começaram, e as batalhas simuladas com espadas se tornaram uma prática comum. Quando chegou a hora, Ares me desafiou para um duelo.

As pessoas ao nosso redor tentaram impedir, dizendo: — Que audácia de um plebeu desafiar o Lorde Leon para um duelo.

No entanto, aceitei o desafio.

Era algo simples. Se Ares não me desafiasse, não haveria mais ninguém para enfrentar. Se ele estava se segurando ou não queria lutar devido à grande diferença de habilidade, eu não sabia, mas ninguém mais me desafiava.

E assim, a batalha simulada começou.

Ares se posicionou de maneira direta. Seus movimentos eram forçados, desajeitados e transmitiam uma sensação de brutalidade. Os colegas de classe riram.

Talvez ele não tivesse recebido o treinamento adequado. Seu estilo lembrava o de aventureiros e mercenários que tinham experiência em combate real.

Neste ponto, estava claro que ele carecia de muita habilidade.

Mantive minha espada abaixada, sem postura, com o corpo leve e flexível, pronto para responder instantaneamente a seus movimentos, relaxando o aperto na espada.

— Heeya! — gritou Ares enquanto balançava sua espada, com um grande impulso.

Seus movimentos preparatórios eram exagerados, e a distância era grande demais. Não havia necessidade nem de defender com a espada.

Desviei levemente de seu golpe com o mínimo de movimento e ajustei minha espada para tocar levemente o pescoço de Ares.

— Primeiro ponto pra mim. Continuamos? — perguntei.

— Eu quero continuar!

Ares ajustou sua distância e rapidamente retomou sua postura. Desta vez, ele se aproximou com mais cautela.

Mantendo-se ao meu alcance, ele desferiu um ataque baixo. Era uma finta, mas Ares, enganado, assumiu uma postura defensiva exagerada. Aproveitei a oportunidade, reajustei a empunhadura com ambas as mãos e golpeei seu ombro de cima para baixo.

Uma sensação surda reverberou pelo meu braço, embora fosse apenas uma espada de madeira de treino, que não cortaria. No entanto, deveria ter causado algum dano.

— Ugh!

Ares soltou um gemido e caiu de joelhos.

— Uau!

Ouvi vozes de admiração ao redor. A técnica que usei era relativamente simples, mas executá-la com fluidez exigia uma boa dose de prática e habilidade. Ares parecia entender isso.

— Quer continuar? — perguntei.

Ares, segurando o ombro direito com a mão esquerda, fez uma careta.

— …Eu quero continuar.

Que determinação. Ele seria um excelente parceiro de treino para os alunos da classe dos sacerdotes mais tarde.

Ares, considerando as lições dos dois primeiros rounds, começou a se mover de forma mais cautelosa, com movimentos menores.

Além disso, ele entrou no meu espaço, mas dessa vez deixei que Ares tomasse a iniciativa. Como ele já estava ferido, seus movimentos estavam lentos, então não precisei fazer muita coisa.

E, quando Ares ergueu sua espada, aproveitei a abertura e desferi um golpe em seu torso.

Com um Gofu, como se todo o ar saísse de seu estômago, Ares desabou.

Aquilo foi o fim. Ele provavelmente quebrou uma ou duas costelas, mas há muitos que estão ansiosos para praticar magia de cura, então não era um grande problema.

— Você deveria deixar a academia logo.

Eu disse a ele. Mas nos olhos de Ares, enquanto ele me olhava de volta, não havia sinal de desânimo.

Nas batalhas simuladas que se seguiram, Ares continuou me desafiando.

Para ser sincero, Ares era um dos mais fracos da turma.

Seu estilo era autodidata, com muitos movimentos desnecessários. No entanto, ele parecia ter experiência em combate real, possuindo uma certa intensidade e uma aura de matador que os outros alunos não tinham.

Eu nunca sabia o que ele poderia fazer a seguir. Mesmo sendo uma luta com espadas, ele chutava ou soltava a espada para tentar me agarrar. Ele não se importava com os métodos, desde que pudesse vencer, e foi condenado pelos outros alunos como “desprezível”. Mas ele não ligava. Estava absolutamente determinado a vencer.

No entanto, só isso não era o suficiente para ganhar. Havia uma diferença muito grande em nossas habilidades com a espada.

Toda vez que Ares avançava contra mim, eu o derrotava com facilidade.

— Você deveria deixar a academia logo.

Eu repetia isso sempre que o deixava incapacitado de se mover. Ao ouvir isso, os outros ao redor aparentemente pensavam que eu estava realmente tentando expulsar Ares.

Claro que eu estava falando sério. Como Ares era um rival que também almejava se tornar o herói, era natural que eu tentasse derrubá-lo. Mas vocês nem sequer eram dignos de serem alvos. Eu não podia levar a sério aqueles que nem estavam no mesmo nível que eu. E, por mais vezes que eu o derrotasse, Ares se levantava de novo.

Como se quisesse me mostrar que era assim que aqueles que aspiram a ser heróis agem.

Antes que eu percebesse, comecei a observar Ares de perto. No entanto, ele nem sequer olhava na minha direção. Não era que ele estivesse me ignorando; ele estava dedicando todo o seu tempo ao treinamento. Qualquer momento livre que ele tinha, revisava os livros, e sempre que tinha um tempo maior, praticava com a espada. Em outras palavras, ele não tinha tempo para perder com outras pessoas.

Quando todas as aulas da academia terminavam, ele estava no pátio atrás do prédio, praticando com sua espada.

Ele repetia cada movimento meticulosamente, como se quisesse gravar o que havia aprendido em aula.

Eu o observava fazer isso quase todos os dias. Talvez fosse para confirmar que havia pelo menos mais uma pessoa caminhando o mesmo deserto que ele.

— Um plebeu desesperado.

Os nobres ao meu redor diziam.

Claro que ele estava desesperado. Estamos lutando contra o Rei Demônio. Se você tem essa determinação, naturalmente se torna desesperado.

No entanto, os esforços de Ares eram excepcionalmente obsessivos. Ele nunca tentava descansar. Era como se estivesse sendo perseguido por algo, e continuasse correndo sem parar.

Ele estava, sem dúvida, passando por algo para se tornar o herói. Eu não sabia o que era. E não era algo que eu pudesse simplesmente perguntar.

Talvez fosse algo que me faltava.

 

***

Depois de um tempo, um boato começou a circular sobre Ares.

Diziam que ele estava apaixonado por Maria Lauren, da classe dos sacerdotes, e que já havia se declarado a ela várias vezes.

Isso não pode ser verdade.

Eu ri disso.

Maria era, de fato, muito bonita. Ela era chamada de santa, e suas habilidades como sacerdotisa eram excepcionais.

Eu já havia me interessado por ela antes, como candidata para compor meu futuro grupo, e conversei com ela. Mas ela só falava palavras bonitas, e eu não conseguia perceber o que ela realmente pensava.

Suas palavras louvando Deus pareciam insinceras, como se ela não sentisse a presença divina de verdade. Completamente não confiável. Eu não conseguia acreditar que uma mulher como ela teria cativado Ares.

Então, alguns meses depois, ouvi que Ares estava aprendendo magia com Solon Berkeley.

— Que tolo. Acreditar que um herói pode usar magia

Meus colegas o ridicularizavam.

Provavelmente era verdade. A magia é um tipo de talento. Aqueles que podem usá-la e aqueles que não podem são definidos no momento do nascimento.

No entanto, havia, sem dúvida, lendas de heróis que podiam usar magia. Será que Ares estava tentando aprender magia porque levava essas histórias a sério?

Se fosse isso, talvez o contato com Maria tivesse sido uma tentativa de aprender magia de cura. Um completo desperdício de tempo. Ele continuava fazendo coisas totalmente inúteis.

Antes que eu percebesse, eu mesmo já tinha trazido os livros de magia de casa para o meu quarto e estava os lendo secretamente, para que ninguém notasse. Eu não entendia nada do que estava escrito, pois era tudo em uma escrita antiga. Ainda assim, progredi lentamente, consultando as palavras em um dicionário.

Estudar nunca foi meu ponto fraco. Era importante ler vários livros e adquirir conhecimento para administrar meu território no futuro.

Mas os livros de magia eram de outro nível. Primeiro, eu não conseguia ler as letras. E mesmo quando conseguia, a gramática era diferente da linguagem moderna, tornando tudo muito difícil de entender.

Fiquei aliviado por não ter me inscrito na classe dos magos.

E depois de um mês, parei de ler os livros de magia.

Por qualquer ângulo que se olhasse, era um desafio muito grande. Decifrar letras incompreensíveis, ler com cuidado e compreender o significado das frases, e, mesmo depois de finalmente entender os encantamentos e tentar executá-los, não havia absolutamente nenhuma reação. Nenhuma mudança ocorria. Eu achei impossível continuar com aquilo.

Ares continua fazendo isso?

Era simplesmente insano. Se uma pessoa sem talento para magia estava fazendo isso, eu só podia pensar que algo estava errado com a cabeça dela.

Nem alguém como ele poderia fazer isso.

Ares era basicamente incompetente. Não havia como um cara como ele conseguir usar magia, eu dizia para mim mesmo.

Quando avançamos para o terceiro ano, rumores começaram a circular de que Ares havia conseguido usar magia de cura e magia de ataque.

Todos zombavam, dizendo que não teria um efeito significativo, mas suas expressões estavam misturadas com admiração.

Parecia que o nível dele não era muito alto. Mas ele havia realizado o que eu não pude. Seus esforços eram inimagináveis.

Era o mesmo com a espada. Nessa época, Ares já estava claramente mais forte do que nossos colegas da classe dos guerreiros. Para ser honesto, o progresso dele não era tão grande quanto os esforços justificariam, mas ele certamente havia ganho força.

E assim, mesmo no terceiro ano, Ares continuava me desafiando para batalhas simuladas.

Diante de mim estava Ares, com uma postura reta perfeita, eficiente e com a quantidade certa de força.

A postura reta era uma das mais fundamentais, mas em um combate um contra um, era inerentemente a mais segura.

Em contraste, eu adotei uma postura de meio corpo, segurando a espada com uma mão, apontada em direção ao meu oponente. Agora, não havia mais escolha senão manter minha postura contra Ares.

Continuamos a nos medir mutuamente. A tensão no ar era palpável.

Ares abaixou sutilmente sua postura e lançou uma estocada que fluiu suavemente. Seus movimentos preparatórios eram mínimos, sem deixar brechas. Esse ataque podia tanto ser um blefe quanto um golpe sério.

Eu desviei para o lado e desferi um golpe mirando o flanco dele, mas Ares imediatamente voltou à sua postura original e bloqueou o ataque de forma eficaz. Claro, eu não parei naquele único golpe e segui com uma série de cortes.

Misturando alguns falsos ataques, lancei uma investida incessante, mas Ares defendeu com precisão e o mínimo de movimento possível.

As pessoas podem mudar drasticamente. Entre os da classe dos guerreiros, Ares provavelmente foi quem mais progrediu. Considerando que ele era o pior no início, era natural. É por isso que vir para esta academia teve significado para ele.

Comparado a isso, o que eu havia ganhado com a minha vida acadêmica?

Treinei diligentemente todos os dias sem relaxar. Mas foi só isso.

Se eu almejasse algo maior, deveria ter procurado um caminho diferente em vez de simplesmente entrar na academia, certo?

Eu poderia ter ido para as linhas de frente com meu tio. Ainda haveria muito a aprender no campo de batalha. Se as linhas de frente fossem impossíveis, havia também a opção de subjugar as bestas mágicas que assolavam o país. Eu poderia ter aprimorado minhas habilidades e contribuído para a nação.

Apesar de ter o título de Santo da Espada, entrei na Academia Pharme como de costume, por pura convenção.

Embora eu pensasse que era o único a considerar o bem do país, talvez eu não estivesse realmente pensando em nada.

Observando Ares receber meus ataques desesperadamente, por algum motivo, fui tomado por arrependimento.

Eu conseguia ver a intenção de Ares. Ele planejava suportar meus ataques para, então, contra-atacar com a força que havia acumulado.

Deliberadamente, mostrei uma abertura ao recuar por um momento.

Sem perder a oportunidade, Ares imediatamente fechou a distância e desferiu um golpe de cima para baixo.

Um golpe honesto, aperfeiçoado após milhares de repetições todos os dias. Faltava brilho, mas transmitia o peso do esforço acumulado.

Mas era previsível. Mudei para o lado para desviar e acertei um golpe no torso de Ares enquanto passava por ele.

Eu senti o impacto. Dois anos atrás, ele teria caído com isso. Mas Ares permaneceu de pé. Sua postura não mudou. Seu rosto estava contorcido de dor, mas ele ainda queria continuar lutando.

Depois disso, eu o derrotei, mas Ares nunca admitiu a derrota, levantando-se de novo, não importando quantas vezes caísse. Ninguém mais achava isso tolice.

Heróis são aqueles que tornam o impossível possível. Talvez eu estivesse apenas fazendo o que era possível todo esse tempo.

No final do verão, veio a notícia de que meu tio, que estava liderando a defesa da fronteira contra o exército do Rei Demônio, havia morrido em combate. Ele enfrentou um general demoníaco e encontrou uma morte heroica.

Ele era um homem forte e gentil. Eu acreditava que não havia como ele ser superado por demônios.

Minha prima manteve uma postura estoica, mesmo diante da morte de seu pai.

— Morrer no campo de batalha é o destino de uma família guerreira. Era o desejo mais profundo do Pai.

Então, o que significa para meu pai, o chefe da família, ainda estar vivo sem ter ido ao campo de batalha?

Por que eu, o Santo da Espada, não estou no campo de batalha?

Ao olhá-la, percebi minha própria impotência.

A morte do meu tio como comandante da fronteira indicava o quão grave a situação estava.

— Desista de ser um candidato a herói.

Me disse meu pai. Era perigoso demais, esse era o motivo. Eles não podiam permitir que o herdeiro de uma casa nobre morresse lutando contra monstros.

Uma justificativa típica de nobres. Mas o que aconteceria com este país? Com este mundo? Não é dever de um nobre protegê-los? Pelo que meu tio morreu?

Fui ver Ares. Foi a primeira vez que conversamos adequadamente.

— Está tudo bem, porque eu sou quem vai se tornar o herói.

Ele respondeu com clareza após ouvir minhas dúvidas. Não era diferente do que ele havia dito quando nos matriculamos.

Mas então eu percebi.

Eu inconscientemente tentei empurrar o dever de herói para Ares ao vir aqui.

Apenas ser aconselhado a desistir por meu pai foi o suficiente para abalar facilmente minha determinação.

Vergonhoso.

Mesmo tendo sempre pensado que eu era mais adequado para ser o herói, Ares continuou se esforçando para se tornar o herói. Ele havia percorrido esse caminho difícil sozinho o tempo todo.

Ah, então é assim que as pessoas deveriam ser.

Não se trata de poder ou não poder, mas de fazer o que você deve fazer.

Adotarei esse exemplo como guia. Mesmo diante da possibilidade de derrota, continuarei a lutar até o final.

Mesmo que não me torne o herói, dedicarei toda a minha força ao mundo.

O herói precisa de companheiros.

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