Quem Matou o Herói? – Volume 2 – Capítulo 3.5 - Anime Center BR

Quem Matou o Herói? – Volume 2 – Capítulo 3.5

Interlúdio

Sophia

Eu administrava uma pequena farmácia.

Farmácias, que exigem um conhecimento variado, são muitas vezes escolhidas como profissão por magos. Embora não seja particularmente lucrativo, era o suficiente para viver.

Naquela época, o mundo estava ameaçado pelo Rei Demônio, mas eu era indiferente a essas questões, aproveitando meus dias pacíficos como se fossem a calmaria que precede a tempestade.

Contudo, um dia, um homem loiro com um ar rebelde visitou minha loja. Pelo seu porte robusto, parecia ser um guerreiro habilidoso.

— Me dê algum remédio para ferimentos. Algo eficaz.

O pedido do homem foi direto, mas como cliente, ele não era ruim, já que eu podia escolher o remédio livremente. Coloquei um medicamento um pouco caro, mas apropriadamente eficaz, no balcão.

— Este serve?

Antes que eu pudesse informar o preço, o homem deixou três moedas de ouro no balcão. Instintivamente, ajustei meus óculos para confirmar se eram realmente moedas de ouro.

— …Isso é demais.

Embora os remédios de um mago sejam caros, eles não custam tanto assim.

— É mesmo? Então, no lugar do troco, deixe-me ouvir uma história.

— Uma história? Sobre o quê?

Sem entender as intenções do homem, apertei a varinha mágica colocada sob o balcão.

— Não precisa ficar tão desconfiada.

O homem mostrou as mãos abertas para indicar que não tinha más intenções.

— Só quero saber um pouco sobre você. Ouvi dizer que você costumava ser uma maga habilidosa. Estava me perguntando por que está administrando uma farmácia em um lugar como este.

Será que ele estava tentando me recrutar como maga? Às vezes, eu recebia essas ofertas, mas sempre recusava.

— Não há nada de especial no meu passado. Nem é interessante.

— Vamos lá, não tem problema. Não há outros clientes, então um serviço extra como esse deve ser aceitável, não acha? Não estou tentando te seduzir nem nada.

Já era final da tarde, e de fato não havia clientes. O rosto do homem não era do meu gosto, mas ele tinha um sorriso atrevido que parecia convidar à intimidade.

Ao ver aquele rosto, de alguma forma me senti inclinada. Para ser honesta, as três moedas de ouro também eram uma renda bem-vinda. Se eu pudesse receber aquela quantia só por contar uma história, não seria nada mal.

— …Certo. Vou te contar um pouco sobre o meu passado.

Peguei as moedas de ouro colocadas no balcão.

— Veja bem, acredite ou não, eu costumava ser uma nobre. Uma jovem dama, sabe? Cresci em uma mansão com muitos servos. Fui criada sem precisar de nada. Agora sou uma maga que administra uma farmácia. Mas isso não é realmente uma história incomum. É bem comum que magos sejam ex-nobres. Afinal, a educação necessária para aprender magia é cara. É impossível para plebeus.

— Então, é uma profissão que só os ricos podem seguir, né?

O homem torceu a boca num sorriso sarcástico.

— Exatamente. Eu era muito talentosa. Aprendi rapidamente a língua antiga necessária para a magia e consegui lançar feitiços aos seis anos. Todos me elogiavam naquela época. Me chamavam de ‘gênia!’

— Uma vida tranquila desde jovem.

O homem deu de ombros. Eu ri junto com ele.

— Sim. Mas para os nobres, especialmente para as mulheres, esse talento não era realmente necessário. À medida que fui crescendo, percebi isso gradualmente. O que se esperava de mim era que me tornasse a esposa de um nobre adequado e gerasse filhos. Mesmo com todos os elogios dos meus pais, no final, meu talento para a magia não era tão necessário. Bastava que os filhos que eu gerasse tivessem talento para a magia.

— Que história de merda.

O homem franziu a testa.

— Sim, absolutamente. É uma merda, uma completa merda. Então, eu fui embora de casa. Decidi viver apenas pelas minhas próprias habilidades. Pensei em me tornar uma aventureira.

— Uma jovem refinada fez uma escolha ousada.

O homem riu novamente. Ele era fácil de conversar, mudando suas expressões para combinar com a história.

— De fato. Usando conexões de conhecidos, juntei-me aos aventureiros. Como não há muitos magos, rapidamente encontrei um grupo disposto a me aceitar. Além disso, eu era uma gênia.

Eu estava rindo, lembrando-me de minha jovem versão destemida.

— Então começaram os dias de aventura. Até mesmo viver normalmente era uma aventura. Vindo de uma família nobre, eu não estava acostumada ao estilo de vida dos plebeus. Mas, embora tivesse que fazer tudo sozinha, eu me sentia realmente viva. Fui abençoada com bons companheiros, e foi uma época gratificante. Eu destruía os monstros facilmente com minha magia de ataque, que é minha especialidade. Só para você saber, eu adoro usar magia de ataque; a sensação é incomparável. Aqueles foram dias realmente divertidos.

— O momento de maior brilho da sua vida, né?

O homem estava certo. Foi quando eu mais brilhei.

— Mas então, aconteceu aquela batalha. Você sabe qual foi, certo? Aquela batalha de dez anos atrás.

— Malica?

O rosto do homem ficou sério.

— Sim. O exército do Rei Demônio invadiu o país de Malica em um momento bastante inconveniente. Justo quando as pessoas estavam levando vidas felizes, aqueles insensíveis vieram.

— …De fato.

A voz dele ficou tensa.

— Nós nos juntamos ao exército voluntário formado por aventureiros. Eu até convenci todo mundo, dizendo: Como aventureiros, devemos lutar pelo povo! Eu estava ficando arrogante porque a vida estava indo bem demais. E provavelmente, eu queria me provar naquela batalha, mostrar à minha família e aos nobres que deixei para trás. Eu tinha essas ambições de fama.

No fundo, eu me sentia inferior por me tornar uma aventureira depois de deixar a nobreza. Talvez eu quisesse apagar esse sentimento através daquela batalha.

O homem silenciosamente me incentivou a continuar.

— O resultado é como você sabe. Embora tenhamos conseguido repelir o exército do Rei Demônio, o exército voluntário foi quase completamente aniquilado. Mal se pode chamar de vitória. Tive sorte de sobreviver, mas todos os meus companheiros morreram. Então, já tive o suficiente de lutas. Lutei o bastante naquela batalha para uma vida inteira. É por isso que agora administro esta pequena farmácia e vivo modestamente. Essa é a minha história de vida. Está satisfeito? — Eu disse em tom de brincadeira.

— Não… — Contrariando minhas expectativas, o homem balançou a cabeça. — Eu gostaria que você falasse de forma mais específica. Especialmente sobre a Batalha de Malica. Sobre por que você conseguiu sobreviver.

O rosto dele estava sorrindo, mas seus olhos estavam fixos em mim, tornando difícil recusar.

— Eu realmente não quero falar sobre isso… — Fechei os olhos e exalei. — Bem, tudo bem. Acho que ainda não valeu três moedas de ouro.

Além disso, era algo que eu queria contar a alguém.

— No início, tínhamos a vantagem na batalha contra o exército do Rei Demônio. Embora houvesse muitos monstros, com os aventureiros trabalhando juntos, conseguíamos dar conta. Eu também derrubei monstros com minha magia de ataque. Centenas deles. Mas, por mais que derrotássemos, mais e mais monstros continuavam vindo. Eles não paravam de avançar, mesmo sabendo que iriam morrer. Lutar contra esses monstros nos desgastava tanto física quanto mentalmente. À medida que isso continuava, as espadas dos guerreiros começaram a embotar, e o poder mágico dos magos começou a se esgotar. Claro, eu não era exceção. Afinal, eu estava lançando magias poderosas sem parar. E então, diante de nós, completamente exaustos, os demônios apareceram.

— Eles estavam esperando por isso desde o começo, não estavam? Os demônios são astutos. Fazem pelo menos isso. — O homem parecia conhecer bem os demônios. Seria ele um aventureiro?

— De fato. Subestimamos os demônios. Na realidade, fomos rapidamente colocados em desvantagem. Mas ainda tínhamos esperança.

— Esperança?

— Havia um aventureiro chamado Luke no exército voluntário. Ele era considerado o guerreiro mais forte. Ele continuou lutando sem desistir, derrotando muitos demônios sozinho. Ao vê-lo, os outros aventureiros se inspiraram mais uma vez. E enfrentaram corajosamente os demônios novamente.

— Parece o ponto de virada de uma peça de teatro. — O homem sorriu tristemente. Provavelmente porque sabia o desfecho.

— Sim. Teria sido bom se tivesse terminado assim, mas as coisas não foram tão simples. Apenas força de vontade não era suficiente. Energia física e mágica esgotada não se recupera. Apesar dos esforços valentes de Luke, os aventureiros caíram um por um.

   Essa cena ainda aparece nos meus sonhos: meus antigos companheiros morrendo.

— Eu quase fui morta por um demônio também. Desde a infância, eu só fazia conjurar feitiços, então não tinha resistência física. Tentei correr o máximo que pude, mas rapidamente fiquei sem fôlego. O demônio me alcançou facilmente. Eu estava apavorada… Mas fui salva. Por uma maga. Apesar de ser usuária de magia, ela se movia rapidamente e se colocou entre mim e o demônio. E então, ela se sacrificou para proteger alguém como eu, que não podia mais usar magia. Coberta de sangue, ela caiu em cima de mim. Então ela disse: “…Fique assim até que a batalha termine.” Ela parecia mais maternal do que minha própria mãe. Ela deve ter sentido pena de mim, ainda uma jovem garota. Eu era jovem naquela época… Sorri de forma amarga, como se estivesse zombando de mim mesma. Mas o homem não sorriu.

— …Você sabe o nome dessa mulher?

— Lei. Ela era uma maga renomada e esposa de Luke. Quando Luke viu Lei morrer, ele deu um grande grito e atacou os demônios. Ele deve ter perdido a razão após a morte da esposa. E ele nunca mais voltou… por causa de alguém como eu.

Não há dúvida de que fui a causa da morte de Lei, e posso ter sido o motivo da morte de Luke também. Esse pecado é pesado, e mesmo que outros me perdoem, eu não posso me perdoar.

— Minhas roupas estavam manchadas com o sangue de Lei, então, por fora, devemos ter parecido um monte de cadáveres. Foi assim que consegui sobreviver fingindo estar morta. É uma história patética. — Soltei um grande suspiro. — Está satisfeito agora? Já é noite. Está na hora de fechar a loja.

Sem perceber, o cenário lá fora havia escurecido.

— Você tem razão. Já está bem tarde. — O homem olhou para fora também. Talvez ele estivesse finalmente pronto para ir embora? No entanto, senti como se um peso tivesse sido tirado do meu peito depois de falar com ele.

— Na verdade, sou um aventureiro. — O homem disse de repente, virando-se novamente. Não é particularmente surpreendente que ele seja um aventureiro, como eu já esperava.

Ele estava aqui para me recrutar como companheira, afinal?

No entanto, suas palavras foram inesperadas.

— Fui enviado pela sua família para encontrá-la, Sophia.

— O quê…!

O homem sabia quem eu era. Ele veio aqui a pedido dos meus pais. Os rostos dos meus pais gentis passaram pela minha mente. Eles não eram pessoas ruins. Mas…!

— Eles ainda são pais gentis que se preocupam com sua filha. Se soubessem que você está solteira, provavelmente arranjariam um parceiro para você também. Não seria um mau negócio, certo? — O homem sorriu com um sorriso despreocupado.

— Você acha que eu quero voltar a ser uma nobre? — Levantei meu cajado mágico. — Não tenho intenção de voltar para casa agora.

— Então, você queria se tornar uma farmacêutica?

— …….. — Fiquei sem palavras. Não é que eu quisesse me tornar uma farmacêutica. Eu queria viver como uma aventureira. Mas eu não tinha mais esse direito. Não depois de causar as mortes de Luke e Lei.

— Na verdade, estou à procura de uma parceira. Uma maga talentosa. Se ela for bonita, seria ainda melhor. — O homem piscou para mim, como se estivesse tentando me seduzir. Estranhamente, não foi desagradável.

— Se eu relatar à sua família que você está aqui, seu joguinho de farmacêutica terminará, e eles virão buscá-la. No entanto, se eu relatar que “não consegui encontrar sua filha”, você poderá continuar sua vida tranquila. Como aventureira, é claro. Então, qual vai ser?

O homem me pressionou para tomar uma decisão.

— Quero perguntar uma coisa. Por que eu?

— Eu costumava ser companheiro de Luke e Lei.

Arregalei os olhos com aquelas palavras. Eu não sabia nada sobre os outros companheiros de Luke e Lei.

— E acabei sendo o único sobrevivente. Eu preciso de companheiros, Sophia. Quero que você seja uma deles.

Esse homem havia experimentado aquela batalha, e ele ainda quer lutar?

— …Eu não tenho mais o direito de ser uma aventureira.

A culpa por deixar meus companheiros, Luke e Lei, morrerem me manteve paralisada desde então. Eu não podia continuar sendo uma aventureira por conta própria.

— O quê, então você queria voltar a ser uma nobre, afinal? — A voz dele era provocativa e teatral. — Você realmente quer viver vestindo vestidos frufru e comendo doces, não é? Uma vida onde você faz os outros lutarem enquanto assiste de um lugar seguro. Claro, não é ruim. É fácil. Mas ser uma jovem dama nobre na sua idade é um pouco patético. Não posso recomendar isso.

…Ah, entendo. Esse homem está tentando me dar uma desculpa. Para mim, que estava fugindo com várias razões.

— Que homem rude. Cuidado com as palavras. Eu não gosto de homens mal-educados, sabia?

— Ops, minhas desculpas. É que fui mal criado. Linda dama, você não gostaria de vir comigo? Mais uma vez, para aquele campo de batalha vulgar e brutal. — O homem fez um gesto exagerado como um nobre e estendeu a mão para mim.

— Entendo. Eu esqueci as boas maneiras nobres também. Talvez seja difícil voltar a ser uma jovem refinada agora. Essa opção está provavelmente fora de questão.

Talvez eu estivesse esperando. Esperando que alguém viesse e me levasse embora assim.

— E como fui ameaçada por um homem tão desprezível, não tenho escolha a não ser voltar a ser uma aventureira.

Saí de trás do balcão e segurei a mão do homem. A mão de outra pessoa, algo que eu não tocava há muito tempo, estava quente.

— Então, qual é o seu nome?

— Leonard. Prazer em conhecê-la, antiga jovem nobre refinada. — O aventureiro loiro piscou para mim novamente.

 

In this post:

Deixe um comentário

Ads Blocker Image Powered by Code Help Pro

Adblock detectado! Desative para nos apoiar.

Apoie o site e veja todo o conteúdo sem anúncios!

Entre no Discord e saiba mais.

Você não pode copiar o conteúdo desta página

|