Vol. 1 Cap. 61 A Carta Tão Esperada por Arwen
O grito de uma garça ecoou ao longe e Arwen apressadamente correu para a sacada do seu quarto.
Seu olhar se focou no ponto preto no horizonte que estava lentamente crescendo em tamanho. Como uma Alta-Elfo, Arwen era uma pessoa bem paciente devido à sua longa expectativa de vida. Porém, por algum motivo, ela estava se sentindo impaciente. Queria que pudesse acelerar o tempo para que Skyla chegasse na frente dela neste instante.
A espera longa e angustiante acabou quando a garça finalmente pousou na sacada. Ao invés de dar as boas-vindas à besta, Arwen imediatamente desamarrou o cilindro que estava em sua perna.
Skyla começou a bicar a cabeça de Arwen para mostrar sua insatisfação por sua amiga nem mesmo cumprimentá-la e só focar no pacote que ela meticulosamente trouxe do Continente Sul!
“Ai! Skyla, pare! Eu sinto muito por ter te ignorado! Por favor, pare de me bicar!” Arwen rapidamente se desculpou e fez seu melhor para acalmar a garça descontente que viajou uma longa distância para levar sua mensagem e trazer de volta a carta de resposta de seu filho.
“Kroooooo!” (Depois que eu fiz a entrega da carta para você, é assim que me retribui?!)
“Desculpa! Não vai acontecer de novo!”
“Kroooo!” (É melhor não acontecer mesmo ou eu não faço mais essas entregas!)
“Skyla é a melhor! Como esperado de uma Garça Real da Lua Prateada que é conhecida por sua elegância, beleza e gentileza.”
“Kroooooo!” (Tola! Sua bajulação não vai funcionar!)
Depois de dez minutos de elogios e uma graciosa porção de leite com peixe da lua prateada, Syla finalmente se acalmou e fechou os olhos para descansar. Mesmo que viajar entre os continentes não fosse difícil para ela, uma viagem de ida e volta entre o Continente da Lua Prateada e o Continente Sul ainda era uma jornada exaustiva, para dizer o mínimo.
Vendo que sua melhor amiga finalmente se aquietou, Arwen deu um suspiro de alívio e se sentou em uma cadeira para ler a carta de seu filho.
Sendo honesta, ela estava com medo da resposta de William. E se ele escreveu que a odeia? E se ele escreveu uma carta reclamando dela abandonando ele? Com estes pensamentos negativos surgindo em sua mente, Arwen sentiu que o pacote cilíndrico que estava segurando de repente se tornou mais pesado.
Ela respirou profundamente algumas vezes para acalmar seu coração agitado. Não importa o que, tinha que saber o que William pensava dela.
Após abrir o cilindro, um pergaminho enrolado e um anel caíram em sua mão.
Arwen respirou profundamente mais algumas vezes antes de abrir o pergaminho sem pressa para ler a resposta de William.
Para minha amada mãe que pensa em mim todo santo dia,
Olá, e bom dia para você, Mãe.
Sendo completamente honesto, levou mais de quinze minutos para escrever esta única frase porque eu não tinha ideia de como começar esta carta.
Não pensei que escrever uma carta de resposta seria tão difícil assim.
Arwen riu levemente ao ler as primeiras frases de seu filho. Ela conseguia entender esse sentimento, pois ela experienciou a mesma coisa quando decidiu escrever para ele. Os olhos dela vagaram pela caligrafia de William.
Apesar de não ser tão elegante quanto a dela, ela ainda se apaixonou pelos traços firmes e brilhantes que mostraram a determinação dele.
Deixe-me me introduzir formalmente primeiro. Meu nome é William Von Ainsworth, o garoto mais bonito do Continente Sul. Vovô James disse que me pareço com você, Mãe, o que definitivamente te faz a mulher mais bonita do Continente da Lua Prateada.
Fiquei surpreso quando vi a Irmãzona Skyla aparecendo em Lont carregando sua carta. Nunca tinha visto uma garça branca tão grande e inteligente quanto ela. Ela foi bem gentil e até mesmo contou histórias sobre você, meus avós, a Cidade Santa de Nytfe Aethel e o Continente Lua Prateada.
Skyla também disse que mesmo sendo muito bonita, você também é o bebê chorão número um de toda a Cidade Santa de Nytfe Aethel.
Os lábios de Arwen se contraíram quando leu a parte sobre ela ser um bebê chorão. Ela olhou para Skyla adormecida ao lado.
‘Traidora!’ Pensou. ‘Como se atreve a dizer ao meu filho que sou chorona? Eu não sou!’
Como se sentisse o olhar, Skyla abriu seus olhos e a deu um olhar de canto que dizia “O que? Algum problema comigo?”, fazendo Arwen imediatamente desviar o olhar.
Entre Skyla e Arwen, a garça sempre foi a mais agressiva das duas. Ela tem sido a protetora de Arwen por anos e tratou a Alta-Elfo como se fosse sua irmã mais nova. Este era o motivo de Arwen não conseguir desafiar Skyla, mesmo que tivesse o dobro de coragem.
Com um coração derrotado, Arwen retornou a ler a carta.
Não se preocupe, Mãe. Mesmo se você for a chorona que a Irmãzona Skyla disse ser, isso não muda o fato de que é minha mãe e que eu me importo com você.
É lamentável eu não ter tido a oportunidade de ver seu rosto quando era um bebê. Se possível, gostaria que me enviasse um retrato seu, para que eu saiba o quão bonita minha mãe é.
Mama Ella também quer te ver.
Ah, antes que eu esqueça. Mama Ella cuidou de mim desde que eu era um recém-nascido. Ela é uma Cabra Angorá e eu cresci bebendo o leite dela todo dia. No meu coração, ela é minha segunda mãe e é tão insubstituível quanto a senhora.
Espero que chegue um dia em que ambas possam se encontrar. Eu a amo muito.
“Eu também quero conhecê-la”, Arwen murmurou. Ela queria se encontrar com a segunda mãe de William que esteve com ele desde pequeno. Ela também estava sentindo inveja e ciúmes de Ella porque a cabra viu William crescer ao invés dela.
Podia sentir através da caligrafia de William que ele realmente amava Ella. Até se preocupou com William amando Ella mais que ela.
Apesar de entender os sentimentos de William por Ella devido aos dois estarem juntos por muitos anos, também sentia amargura em seu coração. Arwen queria ter estado ao lado dele e assistido ao seu crescimento, desde um bebê que não sabia nem engatinhar até um garoto que era tão narcisista quanto os Avôs.
Sim. James e Theoden eram ambos indivíduos narcisistas. Parecia que os genes deles foram transmitidos ao garoto.
Mãe, Lont pode ser o local mais rudimentar do Continente Sul, mas esta cidade pequena – onde eu cresci – é muito calorosa. As pessoas são animadas e cheias de vida. O tio Mordred, tia Anna, tia Helen, primo Matthew e o Vovô são pessoas muito gentis e amorosas.
Eu penso comigo mesmo que sou muito sortudo porque todos os dias são preenchidos de amor e felicidade. Este é o porquê, Mãe, que você não deve se preocupar com o meu bem-estar. Sou muito feliz e me sinto sendo o rapaz mais sortudo do mundo por fazer parte desta família.
Há muito mais coisas que eu gostaria de dizer, mas estou com medo de que minhas lágrimas comecem a cair se eu continuar a escrever. Pelo visto eu também recebi alguns dos genes de bebê chorão que você tem, Mãe.
Fique tranquila, mesmo que eu não possa expressar o resto dos meus pensamentos em palavras, vou ter certeza de fazer isso com os presentes que envio junto desta carta. Insisti e incomodei o Vovô James tanto que ele cedeu e abriu o estoque da casa, assim eu posso te enviar algumas especiarias aqui da região.
Também adicionei alguns presentes para meus Avós que quero conhecer algum dia aí em Nyfte Aethel. Eu não sei se eles vão gostar dos presentes, mas espero que não os recusem.
Por último, Mãe. Mesmo que esta seja a primeira vez que estamos conversando, saiba que eu não te odeio. Apesar de estar triste por termos tido que nos separarmos, sei que o fez pelo meu próprio bem.
Palavras não podem expressar o quanto quero te ver, então, por favor e, se possível, me mande um retrato seu. Eu também vou pedir ao Vovô para que um meu seja feito, desse jeito você vai ser capaz de ver como seu filho é lindo e incrível.
Rezo para que nosso encontro venha a acontecer o mais cedo possível.
Pensando em você do Continente Sul,
William Von Ainsworth.
Os olhos de Arwen ficaram borrados ao mesmo tempo em que ela pressionou a carta contra o peito. Ela se sentia aliviada e feliz por William não a odiar. Contudo, também sentia amargor porque seu amor por ele era transbordante, mas não conseguia compartilhá-lo com ele.
As lágrimas dela desceram pelos cantos de seu rosto, mas ela não tentou pará-las.
Skyla, que estava descansando ao lado, abriu seus olhos por um breve momento antes de fechá-los novamente. Diferentemente do que Skyla havia dito a William, Arwen não era chorona. Como a Santa da Árvore do Mundo, era impossível para ela mostrar este lado emocional aos outros.
Somente quando estava sozinha, pensando sobre seu falecido marido e o filho deles que estava tão distante, que se permitia chorar. Ela tinha que se manter forte para o bem dos dois e Skyla entendia isso muito bem.
Essa também foi a razão para que estivesse disposta a passar por uma jornada tão longa e perigosa entre os continentes para entregar a carta de Arwen. Se essa fosse a única maneira de fazer sua “Pequena Arwen” feliz, então Skyla iria até mesmo enfrentar um dragão para que pudesse trazer a mensagem de William para sua mãe.
Naquela noite, Arwen teve um sonho alegre. Um sonho onde seu amado filho estava em seu abraço e nada no mundo conseguiria os separar novamente.
Vol. 1 Cap. 62 Hora de ir ao Templo
Quando William voltou para a casa de Celine, a bela moça estava deitada no sofá cochilando. James foi embora porque não queria incomodá-la e simplesmente disse a William para se cuidar.
Desde que aceitou que seu neto era, agora, aprendiz dela, isso significava que ele estaria residindo na casa da Maga por enquanto. Era assim que o aprendizado era feito no mundo deles.
Aceitar alguém como discípulo era o mesmo que adotar um filho. Como Mestre, era responsabilidade deles cuidar do aprendiz até que o aprendizado acabasse.
William e James também discutiram durante o caminho que um curral para cabras deveria ser construído fora da casa dela. Ele precisava cuidar do seu rebanho, então trazê-lo para a propriedade de Celine era o ideal.
Cinco dias depois, um novo curral foi construído perto da residência da Maga Negra. James pagou pela mão-de-obra e pelos materiais e, também, fez questão do curral ser confortável o bastante para William e o rebanho residirem.
Ele sabia que esta seria a base secreta de William quando estivesse utilizando o Anel da Conquista. Com isso em mente, James pediu aos carpinteiros para fazê-lo relativamente seguro com a intenção de ninguém conseguir entrar, a menos que utilizassem a porta da frente.
Após duas semanas de tortura, William e Ella começaram a desenvolver alguma resistência à Maldição da Fúria. Apesar de sofrerem, eles também ganhavam muito através da experiência. Mesmo que tivessem entrado em estado de fúria, houve vezes que eram capazes de manter sua consciência até determinado ponto.
Vendo que o treino era bem eficaz, o garoto pediu à Celine para adicionar Chronos, Aslan e o resto do rebanho no regime de treinamento. Ela não se importou muito e simplesmente achou a ideia interessante.
Oliver ainda era aquele responsável pelo treinamento, então acrescentar algumas cabras a mais não seria algo complicado.
Depois de dois meses de treino extensivo, William e o rebanho conseguiram limpar o Décimo Quarto Andar com sucesso. Nas suas primeiras tentativas, o Goblin Xamã foi capaz de neutralizá-los com feitiços de Cegueira e Fúria. Mesmo que William e Ella aumentassem sua imunidade, ele ainda era um mestre da Magia Negra.
Além de maldições, era também capaz de utilizar o poder das trevas até o Quarto Círculo. O que isso significava? Que eles tiveram que lidar com um mago elemental genuíno, um adversário muito perigoso de se enfrentar.
Um Hobgoblin Xamã tinha o poder de fogo equivalente ao de William. Mesmo Ella em sua forma de Íbex de Guerra não podia se dar ao luxo de ser atingida diretamente por seus ataques elementais. Felizmente, só levou dois meses antes do grupo conseguir superar esse obstáculo.
William, Ella e as cabras avançaram de modo contante em seu caminho para os andares inferiores. O Décimo Quinto Andar foi bem desafiador devido ao fato de que cada grupo de Hobgoblins era composto por um Hobgoblin Líder e um Hobgoblin Xamã.
Claro, depois das cabras desenvolverem imunidade a certos feitiços, a batalha não foi tão desastrosa quanto antes. O estilo de batalha de William também se aprimorou grandemente e ele tinha se tornado um Quase-Mago de Batalha.
Apesar de não ter se focado em polir suas habilidades de combate corpo-a-corpo, ele não era impotente quando se tratava de lutar contra inimigos próximos.
Com o passar de mais um mês, William fez seu caminho até o Décimo Sétimo Andar. Ele podia continuar a avançar em sua exploração, mas decidiu deixar em espera, pelo menos por enquanto.
A razão era por causa dele decidir finalizar a missão concedida à ele – a de ir ao templo para conversar com Gavin.
Desde que a maioria dos monstros remanescentes da Maré de Bestas haviam sido erradicados, a região Ocidental era segura novamente para viajar. Tudo que precisava era da permissão da sau Mestre e do seu Avô para deixar Lont e finalizar sua missão pendente.
“Tudo bem, eu aprovo o seu pedido de ir ao templo”, Celine disse com uma voz preguiçosa. “Porém, você tem que me trazer um souvenir quando voltar.”
“Obrigado, Mestre”, William respondeu. “Que tipo de souvenir a senhora quer?”
“Qualquer um, desde que seja bom.”
“Entendido.”
Depois de conseguir a aprovação de sua Mestre, William procurou por seu avô.
“Visitar o templo?” James acariciou sua barba enquanto media os prós e os contras de mandar William para fora da cidade.
“Não está tudo bem?” O garoto insistiu. “Já lidamos com a Maré de Bestas e os monstros que vagavam pelo território já foram caçados. Além disso, eu não estarei indo sozinho. Mama Ella e as outras cabras vão me acompanhar na jornada.”
“Bem, eu acho que você pode ir”, James cedeu à insistência de seu neto. “Mas, você deve me prometer uma coisa. Caso se depare com um monstro impossível de derrotar, você deve fugir o mais rápido possível. Estou sendo claro?”
“Eu prometo.” William concordou com a cabeça desesperadamente. “Obrigado, Vovô. Serei cuidadoso.”
“Vá e encontre Helen”, James mandou. “Ela vai te ajudar a preparar as coisas que irá precisar para a viagem. De acordo com as minhas estimativas, você vai chegar ao templo em quatro ou seis dias. Diga a ela para te dar suprimentos o bastante para dez dias.”
“Ok!” William rapidamente se retirou e foi procurar sua tia Helen. Ele estava com medo de James mudar sua decisão e o impedir de sair de Lont.
O velho assistiu o garoto correr enquanto ria.
“Ezio”, James disse suavemente.
Uma sombra apareceu dentro do quarto e um homem vestido com um manto preto se revelou, ficando em frente a James.
“Senhor.” Ezio curvou a cabeça.
Vigie meu neto nas sombras e garanta a segurança dele.
“Eu escuto e obedeço, meu Soberano.”
Ele desapareceu do quarto. James olhou para fora da janela e focou seu olhar na direção do Templo Sagrado. Ele esperava que seu neto não encontrasse nenhum contratempo na sua primeira jornada fora das fronteiras de Lont.
“Certifique-se de prestar atenção aos seus arredores”, Celine disse enquanto ficava parada no Portão Norte de Lont para se despedir de William. ”Além disso, se você se encontrar com bandidos ao longo do caminho, simplesmente mate todos. Matá-los vai garantir que nenhum inocente tenha que sofrer.”
“Hmm, Mestre, você está seriamente pedindo a um garoto de dez anos de idade para matar pessoas?” Ele perguntou com um beicinho.
“Eu matei meu primeiro bandido quando tinha oito”, Celine olhou para ele. “Você é um homem? Por que é tão fraco?!”
“Matei meu primeiro quando tinha nove”, James comentou. “Como meu neto, você deve fazer seu melhor para matar esses bastardos na primeira oportunidade que tiver.”
‘Q-Quão bárbaro!’ William pensou. ‘As pessoas deste mundo são realmente tão indiferentes a matar alguém?’
William veio da Terra, então sua mentalidade, quando se tratava de matar pessoas, era bem diferente da dos habitantes de Hestia. Se possível, ele não gostaria de tirar a vida de um ser humano. Matar monstros estava de boa, porque, para ele, eles não eram humanos.
(N/A: Hestia é o nome do mundo atual de William.)
Contudo, sabia que se fosse colocado contra a parede, ele estava preparado para realizar tal ato, mesmo contra sua vontade.
“Pequeno Will, cuide-se”, Helen disse enquanto o ajudava a colocar o manto de viagem. “Eu embalei para você comida e água o bastante para dez dias. Tenha certeza de comer e descansar na hora certa, ok?”
“Obrigado, tia Helen.” William sorriu e acenou com a cabeça. “Vou voltar o mais rápido que conseguir.”
“Bom. Vou estar esperando.”
“Certo!”
William acenou em despedida antes de montar nas costas de Ella. “Mestre, Vovô, cuidem-se!”
“Volte rápido”, Celine disse ao mesmo tempo em que retribuia o aceno.
“Sinta-se livre para escolher uma garota e trazê-la de volta como sua esposa quando retornar”, James gritou. “Não importa quantas forem. Nós vamos acolhê-las todas.
William quase caiu das costas de Ella quando ouviu as palavras sem um pingo de vergonha de seu avô. O velho ainda não tinha desistido da função de ser um casamenteiro para William. Ainda insistia que quanto mais esposas ele tivesse, melhor.
Ele pensava que garotas bonitas cresciam na natureza como repolhos?!
Conforme a cidade de Lont foi desaparecendo atrás dele, William sentiu antecipação. Era a primeira ver dele indo em uma aventura distante de casa e isso o fazia se sentir excitado e ansioso ao mesmo tempo.
O que ele não sabia era que durante esta viagem para o Templo Sagrado, ele se encontraria com uma pessoa que teria uma função muito importante em sua vida em um futuro não tão distante.
Vol. 1 Cap. 63 Viajando Juntos [Parte 1]
“Est, você consegue se encarregar desta tarefa?”
“Eu consigo.”
“Bom.” Uma mulher que parecia estar no começo dos trinta anos acenou com a cabeça. “Seu pai espera grandes coisas de você. Não o decepcione.”
“Farei meu melhor, mãe”, o garoto olhou para sua mãe com seriedade. “Não vou decepcionar nem você nem meu pai.”
A mulher suspirou e abraçou o menino. Ela, então, acariciou sua cabeça carinhosamente por algum tempo antes de deixá-lo ir.
“Nana, Herman, eu deixo Est aos seus cuidados.” Ela olhou para seus dois leais retentores. “Certifiquem-se que ele retorne são e salvo dessa missão.”
“Sim, minha Senhora.”
“Como queira, minha Senhora.”
Dez minutos depois, uma carruagem de madeira saiu da cidade e viajou para a escuridão da noite. Seu destino era o Templo Sagrado. O jovem rapaz olhou para o exterior da janela da carruagem conforme se afastavam da gloriosa cidade atrás deles.
‘Não se preocupem, mãe, pai, eu vou completar minha missão’, Est jurou enquanto olhava para as estrelas distantes. ‘Vossa Excelência, Lady Astrid, por favor, cuide de mim.’
“Brrrr! A água está tão fria!” William estremeceu quando a água do rio tocou seu rosto. Ele acordou poucos minutos atrás e decidiu lavar o rosto para remover qualquer resquício de sonolência existente em seu corpo.
Ella até seu lado e o cumprimentou.
“Meeeeeeeeeeeh.”
“Bom dia, Mama Ella.”
“Meeeeeeeh.”
Depois da saudação diária deles, William retirou uma tigela de madeira do seu anel de armazenamento e ordenhou Ella. Mesmo que já tivesse dez anos, ele ainda bebia o leite dela todos os dias. Por quê? Porque é delicioso.
Ademais, Ella iria reclamar com ele caso não bebesse seu leite diariamente. William poderia beber direto da fonte, mas optou por usar uma tigela. Ela não parecia se importar com essa mudança. A única coisa com que se importava era se William bebia ou não o leite.
< Missão Diária: ‘Beba Leite’ foi concluída! >
< Recompensa: 6 pontos de experiência. >
‘Ainda não entendo o porquê desta missão ainda estar ativa até agora’, William divagou enquanto olhava para sua tela de notificação.
Quando ele era ainda um bebê, ele dependia desta missão diária para ganhar alguma experiência. Agora, ela só o fazia se lembrar do tempo em ainda era um bebê fraco e dependente que só poderia ficar parado e esperar que o alimentassem.
Um sorriso nostálgico apareceu no rosto de William ao se lembrar das travessuras que ele e Ella fizeram durante sua infância. Ele estava prestes a entrar em transe quando sentiu uma sensação molhada na sua bochecha.
“Meeeeeeeeeh.”
“Desculpe, Mama Ella.” Ele se desculpou enquanto acariciava o pescoço dela. “Estava relembrando o passado.”
“Meeeeeh?”
“Uh, a época em que era só um bebê.”
“Meeeeeeeeh.”
“O tempo voa. Parece que tudo aquilo aconteceu ontem”, William fechou seus olhos ao abraçar o pescoço da cabra. “Eu tenho sorte em ter você, Mama.”
“Meeeeh.” Ella fechou os olhos e pressionou o lado de seu rosto contra a bochecha dele. O par se manteve assim por alguns minutos. Eles só se separaram quando notaram que o restante das cabras estava acordando.
William preparou uma pequena fogueira, onde esquentou seu café da manhã e o leite. Ella e os outros beberam a água do rio e pastaram um pouco de grama até estarem cheios.
Depois de comerem, William, Ella e as outras cabras continuaram sua jornada.
Já faz três dias desde que saíram de Lont. Até agora, não se encontraram com nenhum bandido ou monstro pelo caminho. Contudo, eles se depararam com diversas ruínas. Elas pertenciam aos vilarejos e cidades que costumavam prosperar na Região Ocidental do Reino Hellan.
Toda vez que William passava por alguma, o garoto pararia por alguns minutos e ofereceria uma oração silenciosa para os falecidos. Como alguém que possuía memórias de sua reencarnação, ele sabia que outra chance seria dada a estas pessoas para viverem.
A única diferença é que eles não se lembrarão desta vida.
“Rezo para que encontrem felicidade em sua nova vida”, William orou ajoelhado no chão. “Que seus dias sejam belos e iluminados.”
As cabras ficaram ao seu lado enquanto olhavam as ruínas. Elas não fizeram qualquer barulho e estavam esperando que ele terminasse sua oração.
Foi quando ouviram o som de uma carruagem sendo puxada atrás deles. William não se moveu e continuou a orar. Ele não sentiu malícia vindo da carruagem, então decidiu continuar o que estava fazendo.
O garoto pensou que eram apenas viajantes que estavam de passagem e, por causa disso, apenas ignorou sua presença.
Quando finalmente terminou sua oração, ficou surpreso ao descobrir que ela estava parada a alguns metros de distância. Ele franziu e olhou para as cabras. Por um momento, pensou que elas estavam bloqueando o caminho e, por conta disso, a carruagem teve que parar.
Vendo que seu rebanho estava comportado em uma linha reta longe da estrada, a preocupação em sua mente desapareceu. O garoto olhou para a carruagem e notou um homem de meia-idade sentado no assento do cocheiro sorrindo para ele.
“Rapaz, você conhece a região?” O homem com cabelos grisalhos perguntou.
“Desculpe, mas não sou um morador desta área”, William respondeu. “Só estava passando por perto e vi as ruínas.”
“Entendo.” O homem acenou em concordância com a cabeça. “Então, você pode nos dizer onde o Templo Sagrado está localizado?”
“Vocês estão indo ao Templo Sagrado.” William sorriu. “Que coincidência. Eu também estou indo para lá.”
“Oh? Já o visitou antes, garoto?”
“Ainda não. Esta é a primeira vez que viajo para fora da minha cidade natal, mas tenho um mapa comigo.”
“Posso dar uma olhada nele? Só quero saber a direção certa para o templo.”
“Claro.”
William caminhou em direção à carruagem enquanto tirava o mapa do seu anel de armazenamento. Ele o entregou para o homem de uma forma amigável.
“Criança, você não deveria confiar tanto nos outros”, ele disse com uma expressão séria. “E se eu fosse uma pessoa ruim? Poderia simplesmente roubar o mapa e te deixar aqui.”
“Minhas cabras são boas em julgar a personalidade”, William respondeu. “Como elas não estão fazendo um tumulto, significa que você não é uma pessoa ruim.”
“Você confia nelas tanto assim?”
“Confio nelas com minha vida.”
O senhor não sabia se ria ou chorava da ingenuidade do menino, mas a atitude despreocupada dele o deu uma boa impressão. Ele acenou com a cabeça algumas vezes ao examinar o mapa.
Fazia alguns anos desde a última vez que visitou a Região Ocidental e a calamidade recente mudou o cenário drasticamente. Os pontos de referência que se lembrava não existiam mais, então ele estava tendo dificuldade em encontrar o caminho para o templo.
Felizmente ele sentiu a presença de William de longe e decidiu ir na direção dele. Sua aposta foi um sucesso e foi recompensado com um mapa que o levaria para seu destino.
“Obrigado.” O homem disse ao devolver o mapa de William. “Você disse que também está viajando para o Templo Sagrado, por que não nos acompanha?”
“O destino nos reuniu”, William comentou. “Vou aceitar a oferta. Quanto mais, melhor.”
“Hahaha! Você é um garoto interessante.”
“Não só interessante, como incrivelmente bonito também.”
“HAHAHAHA! Gostei!” Ele deu um sinal positivo para William.
William sorriu e montou em Ella. O homem era uma pessoa bem sociável e continuou conversando com o rapaz enquanto a carruagem e o rebanho viajavam lado a lado.
Vol. 1 Cap. 64 Viajando Juntos [Parte 2]
William ouviu as histórias que o velho estava contando sobre suas aventuras e cidades que visitou durante a juventude.
“Senhor Herman, você sabe algo a respeito do Continente Central?” William questionou.
“O Continente Central? Eu morei lá por alguns anos”, Herman respondeu. “É um lugar onde as elites de todos os continentes se reúnem. Por que a pergunta? Está interessado em ir para lá, William?”
“Eu não sei.” Ele balançou a cabeça. “Porém, há chances da minha Mestre me pedir para ir lá quando eu for mais velho.”
“Sua Mestre…” Herman cerrou os olhos ao olhar para o colar no pescoço do garoto. Ele já havia notado o colar de escravidão, mas decidiu não comentar sobre.
Mesmo que o Reino Hellan não apoiasse o Comércio de Escravos, ele também não fazia nada para abolí-lo. Até na capital, escravos estavam sendo vendidos. Herman só achava uma pena que um garoto como William tivesse se tornado propriedade de alguém.
“Ah, isto?” William tocou o pingente. “Isso é só um acessório. Minha Mestra me deu como um presente.”
“Entendo…” O senhor se sentiu complicado. Ele queria amaldiçoar a mestra dele por enganar uma criança e fazê-lo se tornar seu escravo. Pelo que podia ver, William não guardava rancor dela. Na verdade, Herman podia perceber que o rapaz a respeitava genuinamente.
“Rapaz, como é sua mestra?”
“Ela? É o tipo de louco que realmente é– quero dizer, uma pessoa incrível. Ela me trata super bem.”
Uma bufada veio da carruagem. Repentinamente, a voz de uma mulher chegou aos ouvidos de William. Estava preenchida de desdém e o fez pensar que ela estava naqueles dias.
“Aposto que sua Mestra te escravizou porque você é um Meio-Elfo”, a mulher dentro da carruagem disse. “Provavelmente ela vai te transformar no brinquedo dela quando for mais velho. Um garoto bonito como você iria definitivamente ser vendido por um preço alto no mercado negro.”
“É verdade que sou incrivelmente bonito”, William respondeu com um sorriso. “Obrigado pelo elogio, Senhor.”
“Não estou te elogiando!” Ela estalou a língua. “Estou te dizendo que você é estúpido por ter sido escravizado.”
William coçou o lado de seu rosto desamparadamente. Ele também não queria ter se tornado um escravo, mas as circunstâncias eram especiais. Agora, se tornar o brinquedo de sua Mestra…
Ele engoliu ao pensar na cena de Celine pisando nas suas costas com seu pé descalço.
‘QUE?! Sobre o que estou pensando?! Não sou masoquista!’ William expulsou as imagens pervertidas da sua cabeça.
“Nana, por favor, não seja rude”, uma voz que parecia pertencer a um garoto repreendeu a mulher. “Por favor, perdoe a atitude dela. Ela não é muito fã de escravidão.”
“Não me importo”, William respondeu. “Eu também não sou.”
Essas foram as últimas palavras que trocaram uns com os outros enquanto seguiam viagem. O silêncio estranho que se estabeleceu durante o trajeto fez Herman suspirar internamente. Ele ainda queria continuar a conversar com o menino, mas estava envergonhado com o acesso de raiva de sua colega.
“Meeeeeeeeh!” Ella baliu e disse a William seus pensamentos.
“Oh? Há uma clareira à frente, Mama?” Perguntou.
“Meeeeeh.”
“Senhor Herman, há uma clareira mais para frente”, William disse com um sorriso. “É um bom lugar para descansar. Que tal ficarmos lá para almoçar?”
“Parece bom.” Herman acenou em concordância.
Meio minuto depois, eles chegaram à uma clareira em que um rio fluía ao lado. As cabras trotaram para beber água com felicidade. William as seguiu e encheu seu cantil.
Ele não estava ciente que um par de olhos castanhos claro, de dentro da carruagem, estava observando cada movimento que fazia.
“Ele é um garoto interessante”, Est disse ao fechar a janela da carruagem. “Você foi muito dura com ele, Nana.”
“Sinto muito, Jovem Mestre”, ela se desculpou. “Só estou irritada com o fato dos comerciantes de escravos estarem ficando fora de controle. Estão até mesmo escravizando uma criança tão nova quanto ele!”
“Realmente acha que este é o caso?” Est perguntou.
“Jovem Mestre?”
“O colar no pescoço dele é feito de Mithril. Não acha que usar Mithril puro para forjar um colar é um desperdício?”
“Agora que você disse…” Nana tinha que admitir que dar um colar de Mithril para um escravo era um luxo muito grande. Mesmo que William fosse um Meio-Elfo muito bonito, um colar deste calibre era inédito.
Na verdade, esta era a primeira vez que ela havia visto um que fosse feito completamente de Mithril.
Os gêmeos, Isaac e Ian, que estavam sentados ao lado de Est olharam para ele em confusão.
“Jovem Mestre, há algo único a respeito daquele colar de escravo?”
“Jovem Mestre, aquele colar tem alguma característica especial?”
“Eu não sei se o colar é especial ou não.” Est balançou a cabeça. “Tudo que sei é que a Mestra dele não deve ser uma pessoa simples. É a primeira vez que vejo um colar feio de Mithril, e posso dizer que é de uma qualidade bem alta.”
Nana e os gêmeos se calaram e observaram William através da janela da carruagem. Herma também havia ido para o rio e estava atualmente pescando com uma lança.
“O velhinho gostou do garoto.” Nana bufou. “Ele realmente é fraco quando lida com crianças que têm idade semelhante a do seu neto.”
“Você diz isso, mas não gostou dele também?” Est sorriu. “William é uma boa pessoa. Mesmo eu me senti atraído.”
“Bem, desde que ele não nos atrapalhe na jornada, não me importo dele viajar conosco.” Nana fechou seus olhos. Ela fingiu não ter escutado a pergunta feita por Est.
De repente, a carruagem começou a balançar.
“Um terremoto?!” Ela rapidamente arregalou os olhos. “Isaac, Ian, não saiam do lado do Jovem Mestre!”
Os gêmeos acenaram com a cabeça e desembainharam suas adagas. Nana saiu da carruagem para entender melhor o que estava acontecendo.
Herman ficou de guarda do lado de fora do veículo e apertou firmemente a lança em suas mãos. No momento que sentiu os arredores tremendo, ele imediatamente correu para a carruagem para proteger seu Jovem Mestre.
William, Ella e o resto das cabras entraram em formação de combate com William como centro. O rapaz estava sentado calmamente nas costas de Ella e focava sua atenção em observar seu entorno.
Foi nesse momento em que dois Trolls da Montanha, do tamanho de uma colina pequena, apareceram na clareira. Eles carregavam troncos de madeira e os brandiam como armas.
“Trolls”, Nana cerrou os olhos. “Vou cuidar de um, você lida com o outro.”
“Entendido”, Herman respondeu.
Nana desembainhou sua espada e avançou em direção a um deles. Herman a seguiu e ambos engajaram em combate para garantir que ficariam longe da carruagem.
Os dois Trolls da Montanha eram considerados ameaças superiores de Nível-B e eram bem difíceis de matar. Sua pele era tão dura quanto rochas e sua incrível força os faziam ser colossos letais. Além disso, os Trolls da Montanha em particular tinham uma capacidade regenerativa irritante que fazia lutar contra eles uma dor de cabeça.
Também, Nana e Herman estavam em uma situação problemática por não serem capazes de matá-los a menos que usassem fogo ou ácido. A única coisa que podiam fazer era ferir os monstros até que os mesmos concluíssem que aquela briga não valia a pena.
Enquanto a batalha estava acontecendo, outro Troll surgiu na clareira com um rugido poderoso. Ele correu para a carruagem carregando seu porrete de madeira gigante com a intenção de esmagá-la em pedaços.
“NÃO! Jovem Mestre!”
“Jovem Mestre!”
Nana e Herman atraíram os Trolls para longe mais cedo na tentativa de prevenir que eles atacassem a carruagem. O que eles não pensaram era que eles também tinham a mesma estratégia. Sentiram a presença de dois guerreiros poderosos, então decidiram se dividir e fazer com que se distanciassem de sua presa.
O terceiro Troll da Montanha estava a somente cinco metros de distância quando a porta da carruagem se abriu de repente. Três pessoas pularam dela e correram em direção a William.
Vendo sua presa escapando, o Troll decidiu a perseguir. Seus passos eram maiores e ele era mais rápido que as crianças, então os alcançou facilmente. Est e os gêmeos só puderam assistir em terror o monstro os atacava com o porrete sem nenhum pingo de misericórdia.
Nana e Herman queriam recuar para salvar seu Jovem Mestre, mas os dois Trolls bloquearam o caminho.
“Jovem Mestre!” Ela gritou. Sentia arrependimento e desamparo ao ver o monstro atacá-lo, “Me desculpe, minha Senhora. Me desculpe!”
Herman cerrou os dentes e rugiu em fúria. Desespero podia ser visto sem seu rosto enquanto assistia à cena acontecer.
Foi nesse momento que uma cabra de dois metros de altura saltou por cima das três crianças. A grande cabra encarou o porrete que estava vindo na direção deles. Nas suas costas havia um garoto tão ruivo que seus cabelos relembravam o fogo ardente. Seu cajado de madeira estava posicionado para atacar, como um lanceiro montando seu cavalo de guerra.
Os bonitos olhos castanhos de Est assistiram ao garoto, que tinha a mesma idade que ele, criar um milagre bem na sua frente.
Vol. 1 Cap. 65 Quando os Céus Desabam
“Est, lembre-se disto, você nasceu para realizar grandes feitos.”
“Grandes feitos?”
“Sim.” A mulher bonita acenou com a cabeça enquanto acariciava o cabelo do garoto. “Este é o porquê você deve se tornar forte. Somente com força o bastante conseguirá ter sucesso no que fizer.”
“Então, e se meu inimigo for mais forte que eu?” Est perguntou. “O que devo fazer?”
“Fuja”, ela respondeu. “Corra o mais rápido que conseguir.”
“Mas, e se eu não conseguir escapar? O que faço?”
“Só resta esperar.” A mulher sorriu ao olhar para o rosto do menino.
“Esperar?” Est inclinou a cabeça. “Esperar pelo que?”
“Por um milagre acontecer.”
“Um milagre?”
“Sim. Um milagre”, disse com um sorriso. “Est, quando os céus parecem estar colapsando e desabando, haverá sempre pessoas que darão um passo à frente e carregarão seu peso nos ombros.”
“Será que vou me encontrar com alguém assim?” Est perguntou. Seu rosto estava metade duvidoso e metade curioso com a possibilidade de conhecer um indivíduo capaz de criar um milagre.
“Claro que vai”, a bela mulher riu. “Se for você, então está destinado a se encontrar com ele. Só saiba que se ele realmente aparecer na sua vida, você deve…”
Quando o terceiro Troll da Montanha apareceu, Isaac e Ian imediatamente agarraram Est e saltaram da carruagem. Eles eram seus guardiões e sua função era mantê-lo em segurança.
Inicialmente, pensaram que o monstro iria se focar na carruagem, mas haviam subestimado sua inteligência.
Ele não apenas ignorou o veículo, como, imediatamente, os perseguiu sem pestanejar.
‘Nada bom, não vamos conseguir’, Est pensou enquanto olhava para o monstro desajeitado que já havia os alcançado.
Ele só conseguia assistir desesperançosamente ao Troll da Montanha balançar seu porrete com a intenção de matar. Est sabia que, no momento em que o porrete atingisse seu alvo, ele, junto dos gêmeos, seria esmagado.
Então, aconteceu…
Um Íbex de Guerra Angorá de dois metros de altura saltou por cima deles. Seus chifres e cascos possuíam uma tonalidade azul-prateada que brilhava como cristal. Em suas costas, havia um garoto com cabelos ruivos flamejantes carregando um cajado de madeira.
O tempo pareceu passar em câmera lenta quando o Troll da Montanha e a cabra carregando o garoto colidiram.
A voz confiante e poderosa de William reverberou no ar quando o mesmo gritou…
“Explosão de Magma!”
Os olhos de Est se arregalaram quando viram o monstro ser empurrado para trás com a colisão. O Troll tinha um olhar confuso e seus olhos vagavam entre sua arma e o menino montado na cabra.
Parecia que ele não acreditava no fato do garoto ser capaz de repelir seu ataque com facilidade. Se Est não tivesse presenciado em primeira mão, ele também não teria acreditado. Porém, a evidência estava na frente dos seus olhos e fez com que seu coração começasse a bater selvagemente dentro de seu peito.
“Mama Ella, vamos”, William comandou ao pular das costas dela.
“Meeeeeeeh!”
“Armadura de Gelo em Massa.”
“Conceder em Massa.”
“Líder do Rebanho.”
O garoto sabia que Ella não conseguiria lutar com força total caso ele estivesse montado nela durante a batalha.
Ela estava atualmente em sua forma de Íbex de Guerra e os fortalecimentos advindos de William a fizeram ainda mais poderosa. Contudo, ainda era fraca quando comparada ao Troll da Montanha que estava na Classificação B superior entre os monstros.
Mesmo assim, ela não estava com medo porque não lutaria sozinha. William e o resto do rebanho já haviam estabelecido sua formação de batalha. Ella estava na liderança e William na retaguarda. Eles já tinham decidido sua estratégia para enfrentar inimigos mais fortes, então não estavam preocupados com o Troll sendo maior e mais poderoso.
“Investida Selvagem!” William comandou.
“Meeeeeeh!”
Ella investiu contra o Troll da Montanha como se fosse um touro enfurecido. Aslan e Chronos lideraram seus times para atacar o Troll pelos flancos e criar um ataque em pinça.
William assistiu à batalha com uma expressão séria enquanto dava suporte ao rebanho de longe. Toda vez que o Troll da Montanha atacava as cabras, ele iria conjurar três camadas de Parede de Gelo para bloqueá-lo.
Nana e Herman ficaram aliviados ao ver que seu Jovem Mestre estava seguro do perigo. Eles, então, começaram a extravasar sua frustração nos dois monstros que bloqueavam seu caminho. Os Trolls de repente sentiram uma pressão extrema quando os dois especialistas começaram a realizar seus poderosos ataques sem se conterem.
“Mega Chute!”
“Meeeeeeh!”
O chute de Ella atingiu e o Troll gigante foi enviado voando alguns metros no ar.
“Lança Glacial!” William disparou o ataque mais forte em seu repertório da Classe de Mago de Gelo. A Lança Glacial perfurou o olho do Troll da Montanha, o fazendo gritar de dor.
Outra Lança voou pelo ar e perfurou o outro olho do monstro, cegando-o completamente.
Aslan, Chronos e o resto de suas equipes empalaram o corpo do Troll com seus chifres. Ella também não perdeu a oportunidade e utilizou Investida Selvagem à queima-roupa, perfurando sua caixa torácica.
Ele poderia apenas balançar seu porrete cegamente, esperando que algum dos seus golpes enlouquecidos atingisse algo.
Dois minutos depois, o Troll da Montanha deu um rugido gutural e correu para o lado oposto. Sua poderosa regeneração permitiu que seus olhos se recuperassem visão o bastante para ver seus arredores.
Percebendo que não conseguiria derrotar sua presa, decidiu recuar. Os outros dois Trolls seguiram seu líder com agilidade. Os dois humanos com quem estavam lutando eram dois lunáticos e eles não queriam continuar a enfrentá-los.
William assistiu os monstros fugirem com alívio. Mesmo que eles fossem capazes de deixar a luta em um impasse, eles ainda eram Bestas de Classe B. Esse fato os fazia ser bem difíceis de matar. Ele nunca pensou por um momento que conseguiriam derrotá-los.
O máximo que podiam fazer era feri-los o tanto quanto possível para fazê-los fugir.
Claro, as cabras não pensavam dessa maneira. Ella, Chronos, Aslan e o resto tinham certeza que iriam espancar os monstros caso eles não se retirassem. Após derrotarem o Hobgoblin Xamã, eles recuperaram a confiança e estavam excitantes para enfrentar oponentes fortes.
Consideravam que o Troll da Montanha era apenas um Goblin super crescido. Enquanto fossem aptos a atacá-lo, poderiam matá-lo!
“Bom trabalho a todos”, William disse ao sinalizar para que se juntassem. “Alguém está ferido? Venham, me deixem curá-los.”
“Meeeeeeh!”
“Aslan, o que quer insinuar ao dizer que não dói? Olhe, sua perna está sangrando.”
“Meeeeeeh!”
“Só um arranhão? Eu não acho isso. Venha aqui, vou te curar.”
“Meeeh…”
“Sem reclamar, venha aqui. Primeiros Socorros! OK, próximo!”
“Meeeeeeeeeeh!”
“Echo, você é uma garota, deveria tomar mais cuidado consigo mesma.”
“…Meeeeh.”
“Primeiros Socorros. Ah! Vocês são tão teimosos! Tudo bem, vamos fazer do seu jeito. Primeiros Socorros em Massa!”
William usou Primeiros Socorros em Massa três vezes e curou todas as cabras machucadas. Apesar de ser um desperdício de mana, ele não tinha escolha. Eles ainda estavam sob o efeito da Êxtase da Batalha e estavam de teimosia.
Nana, Herman, Est, Isaac e Ian assistiram William resmungar para as cobras. Eles acharam a cena bem divertida, mas nenhum deles ria. Ainda estavam em estado de choque após presenciarem a performance de batalha inacreditável de William.
Vol. 1 Cap. 66 O Preço da Liberdade
“Aqui está, William”, Herman disse ao dar um peixe grelhado para o garoto.
“Obrigado, Tio Herman”, respondeu enquanto alegremente aceitava a comida que estava sendo oferecida.
Depois dos três Trolls da Montanha deixarem a clareira, o grupo decidiu almoçar pela margem do rio. Est continuava a olhar discretamente para William enquanto o mesmo comia o peixe com fervor. Seus olhos, de vez em quando, iriam se direcionar para o colar de Mithril pendurado no pescoço dele.
Naturalmente, William notou o olhar, mas não prestou atenção. Todos em Lont deram os mesmos olhares curiosos a ele quando viram o colar pela primeira vez. Contrário às expectativas dele, ninguém na cidade deu muita importância.
Eles apenas o observaram com interesse e pensaram que o colar era bem legal. Mesmo os adultos que perceberam ser um colar escravo sentiram que era apenas uma pegadinha de Celine para diminuir a malícia dele.
Claro, essa mentalidade era restrita apenas às pessoas de Lont. Para quem não conhecia a situação, ele era apenas um pobre Meio-Elfo que foi vendido por mercadores de escravos.
“A propósito William, obrigado por nos salvar mais cedo”, Est disse com uma expressão séria. “Eu juro, com meu nome em jogo, que vou retribuir o favor.”
“Só me chame de Will”, respondeu com um sorriso. “Além disso, você não precisa retribuir nada. Eu apenas fiz o que pensei ser certo. Tenho certeza que se fosse você no meu lugar, também teria feito o mesmo.”
“Mas…”
“Sem mas. Não é necessário uma razão para ajudar alguém que esteja precisando.”
Herman assistiu à conversa entre os garotos e acenou com a cabeça em apreciação. Ele gostava muito de William e se perguntou o porquê de não ter um neto como ele.
Est podia dizer que William se manteria firme em não aceitar qualquer tipo de recompensa por salvar sua vida, então decidiu pagá-lo no futuro, ele gostando ou não. Por enquanto, queria saber mais sobre este pastor que o dava um sentimento misterioso, porém prazeroso.
“Você disse que está indo para o Templo Sagrado, certo?” Est questionou. “Qual é seu motivo?”
“Estou indo lá para me encontrar com um Deu- Quer dizer, quero orar para que os Deuses protejam Lont e mantenham os cidadãos da cidade seguros.” William inventou uma desculpa para encobrir seu descuido.
“Lont?” Est olhou para Herman. Seus olhos claramente diziam ‘Você sabe algo a respeito?’
Herman fechou seus olhos e ponderou um pouco. “Se me lembro corretamente… Lont é uma cidade pequena localizada na borda da Região Ocidental. Ah! Por acaso você é parente daquele velho bastardo James?”
William sorriu e acenou com a cabeça. “Meu nome completo é William Von Ainsworth. Porém, só me chame de Will, Tio Herman.”
“Ainsworth”, Nana curvou seus lábios. “Então aquele velho sem vergonha é seu avô.”
“Nana? Você conhece o avô de William?” Est perguntou.
“Claro.” Nana concordou. “É o bastardo sem vergonha que se aproveitou do caos durante a batalha da Citadela Windkeep. Ele e seus companheiros foram aqueles que cuidaram do Dragão da Inundação, Ourobro e a Amphisbaena.”
“Aquele velho ainda teve coragem de anunciar para todos no campo de batalha que as forças combinadas do Reino Hellan só obtiveram vitória porque ele atraiu o Dragão da Inundação e quebrou a cadeia de comando do Exército de Monstros.”
“Atualmente, todos os nobres na capital estão amaldiçoando seu nome. Mesmo o Rei teve uma dor de cabeça a respeito de como lidar com o resultado de batalha por causa de suas travessuras.”
Herman riu ao olhar para William. “Seu avô é um homem bem astuto. Enquanto todas as forças do Reino estavam lidando com o Exército de Monstros, ele atraiu os três Chefões e conseguiu subjugá-los. Basicamente, ele usou a aliança como bucha de canhão para colher os maiores benefícios daquela batalha. Ele realmente é audacioso!”
William já havia ouvido a história do seu avô, já que ele gostava de se gabar sobre seus feitos. Mesmo assim, estava surpreso em como o pequeno grupo foi capaz de se tornar os maiores ganhadores da guerra contra as bestas.
Ian bufou quando ouviu os comentários de Nana e Hermar sobre o avô do garoto.
“Mesmo que ele tenha conseguido colher os maiores lucros, seu neto ainda se tornou um escravo”, Ian zombou. “Não é isto que chamam de Carma?”
“Ian, não seja rude!” Est repreendeu seu protetor. “William, eu sinto muito pelas palavras dele. Ele apenas é uma pessoa bem direta.”
“Está tudo bem.” William suspirou. “Eu acho que você também pode chamar de Carma o que aconteceu comigo. Meu Avô, quando voltou para Lont, enlouqueceu ao descobrir que tinha me tornado um escravo.”
“Eh? Ele sabe que você foi escravizado?” Isaac, irmão gêmeo de Ian, olhou para ele surpreso. Apesar de ninguém dizer em voz alta, pensaram que o garoto havia sido um dos sobreviventes da Maré de Besta e foi vendido para se tornar um servo.
Atualmente, havia um influxo de escravos na capital e a maioria deles eram sobreviventes das vilas e cidades que foram destruídas pelo Exército de Monstros. Inicialmente eles haviam pensado que ele era um deles.
“Mmm.” William acenou com a cabeça.
“Então, por que ele não te comprou de volta?” Est perguntou.
“Ele não pôde pagar.”
“Eh?”
William acariciou o colar em seu pescoço. “Um Meio-Elfo que é tão bonito e talentoso como eu vale um preço astronômico. Mesmo os ganhos do Vovô durante sua curta expedição não foram suficientes para comprar minha liberdade.”
“Você não está exagerando?” Est desafiou. “Quanto que ele precisa pagar para que você seja liberto novamente?”
“Vamos dizer que mesmo se a Família Real do Reino Hellan esvaziasse seu tesouro inteiro, eles ainda não teriam o suficiente”, William respondeu com uma expressão convencida. “Mesmo um imperador empalidece em comparação com meu valor líquido.”
Est, Nana, Herman e Isaac. “…”
“Posso socar seu rosto?” Ian perguntou. “Minhas mãos estão coçando.”
O garoto olhou para William com desdém. Embora escravos Meio-Elfo fossem caros, ainda valiam de dez a quinze mil moedas de ouro, no máximo. Mesmo que o matassem, ainda não acreditaria que o pastor em sua frente era mais precioso que um imperador.
“Suas mãos estão coçando? Você deve estar sofrendo de pé de atleta”, William zombou. “Minhas condolências.”
“Eu disse mãos, não pés!”
“Você é estupido? Parabéns. Não existe cura para a estupidez.”
“V-Você!”
Isaac rapidamente agarrou seu irmão porque o mesmo estava prestes a avançar em William. Nana e Herman trocaram um olhar e balançaram as cabeças desamparadamente.
William rolou os olhos para o garoto à sua frente. Ele não mentiu quando disse que o valor de um imperador iria empalidecer em comparação aos ingredientes que Celine perdeu durante seu experimento. Alguns dos itens não podiam nem ser comprados mesmo tendo dinheiro o bastante. Esta era a preciosidade e raridade deles.
Ele apenas não conseguia entender o porquê de Ian estar o alvejando.
‘Pode ser que ele está com inveja por eu ser três vezes mais bonito que ele?’ William pensou. ‘Hah~ Ser tão lindo é um pecado.’
Se Ian pudesse ouvir os pensamentos dele, poderia até mesmo lutar com unhas e dentes para sair da restrição de seu irmão para atacá-lo.
“E vocês? Por que ir tão longe para visitar o Templo? ” William perguntou depois de terminar de comer. “Apesar das suas roupas não parecerem caras, o design é bem diferente daquelas comumente usadas na Região Ocidental. Vocês possivelmente vieram da capital?”
O olhar de Nana, Herman, Ian e Isaac pousou em Est.
William notou a súbita mudança na expressão deles e olhou expectantemente para o garoto de aparência delicada com cabelos e olhos castanhos claros.
“Nossas razões para ir ao templo são as mesmas”, Est respondeu. “Eu estou indo lá para rezar e pedir aos Deuses por sua misericórdia.”
William deu um aceno de entendimento. Todo mundo visita o templo para orar aos Deuses, então a razão de Est não era incomum.
Depois disso, o grupo começou a conversar sobre assuntos aleatórios que fizeram a atmosfera ser mais vívida. Meia hora depois, eles deixaram a clareira e continuaram sua jornada para o Templo Sagrado.
Vol. 1 Cap. 67 Irmãozão, Você Está Feliz Com sua Nova Vida?
Um dia depois, eles finalmente chegaram nas Montanhas Ellisfel, onde o Panteão da Coragem estava localizado. Precisariam viajar por mais quatro horas para alcançarem o terreno do templo, o qual estava situado no meio da montanha.
William, montado nas costas de Ella, tomou a liderança para checar se havia qualquer perigo escondido ao longo do caminho. As cabras andavam atrás dele, formando duas linhas, vigilantes com seus arredores.
“Eu nunca vi Cabras Angorás tão bem treinadas na minha vida”, Nana disse com admiração. “Se, uma semana atrás, alguém me dissesse que Cabras poderiam enfrentar e afugentar um Troll da Montanha, eu teria cuspido na cara deles.”
“As Cabras Angorá são realmente tão violentas?” Est perguntou. Depois de ver a batalha de William e seu rebanho, ele ficou tentado a criar tais cabras em sua propriedade.
“Claro que não”, Nana respondeu firmemente. “Eu já vi muitas Cabras Angorás e todas elas eram tão dóceis quanto ovelhas. As que estão aos cuidados de William são meio anormais, especialmente aquela que ele chama de Mama Ella.”
“Que estranho.” Est franziu. “Durante a batalha, Ella assumiu uma forma diferente. Ela estava mais larga e intimidante que sua aparência atual. Nana, você reconheceu a forma a que ela se transformou?”
“Sim.” Nana confirmou. “Se não estou enganada, ela assumiu a forma de um Íbex de Guerra Angorá. Ao Norte do Reino, há um tribo de guerreiros que vivem nas montanhas. Eles são guerreiros bem ferozes e sua montarias são os Íbex de Guerra Angorá selvagens que vivem nas grandes montanhas de Kyrintor.”
“Esses Íbex de Guerra são mais violentos e mortais que os cavalos de guerra que foram criados para o campo de batalha. Tentar conquistar a terra deles à força só vai resultar em incontáveis mortes. Este é o porquê do Rei decidir deixar a tribo manter sua autonomia em troca de uma aliança. Você não consegue imaginar o quão surpresa estou por ver um Íbex de Guerra Angorá aqui na Região Ocidental.”
“Talvez seja uma criatura evoluída?” Ian perguntou. “Ouvi que algumas bestas podem mudar sua aparência depois de subirem sua classificação.”
“A possibilidade existe… Não, esta é a única possibilidade”, Nana concordou. “De todos os jeitos, Ella parece com uma Cabra Angorá comum. É bem provável que…”
Os olhos de Nana se arregalaram quando uma compreensão a atingiu. Ela não foi a única. Est também pensou na mesma possibilidade, o que o fez olhar para Nana em descrença.
“Não me diga…” Est engoliu seco. “Há uma chance de que aquelas cabras seguindo William também vão evoluir para Íbex de Guerra?”
Ian e Isaac trocaram olhares. A batalha que aconteceu um dia atrás ainda estava fresca na mente deles. Ainda podiam se lembrar de como Ella lutou contra o Troll da Montanha em pé de igualdade enquanto as outras cabras atacaram dos flancos.
A batalha anterior terminou em empate, mas se todas elas fossem evoluídas, o Troll definitivamente teria perecido!
“Impossível.” Ian refutou imediatamente. “Muito poucas criaturas conseguem esse feito e aquelas cabras são claramente animais domésticos. Nunca ouvi de uma Cabra Angorá evoluindo para um Íbex de Guerra. Talvez Ella é um Íbex que foi trazido do Norte. Como o avô de William é uma pessoa poderosa, conseguir um não está fora de questão.”
Isaac acenou com a cabeça ao ouvir a conclusão de seu irmão. Mesmo Nana achou a explicação bem lógica. Se as Cabras Angorá pudessem facilmente evoluir para Íbex de Guerra, o Reino Hellan já teria uma legião deles sob seu comando.
“Quando voltarmos, mande alguém visitar Lont”, Est ordenou. “Precisamos aprender mais sobre esta cidade que sobreviveu à Maré de Bestas.”
“Entendido.” Nana acenou com a cabeça. “Também devo procurar por informações pessoais de William?”
“Sim, mas seja discreta quando o fizer. Além disso, quero que descubra mais sobre a Mestra dele. Aquela a que ele está vinculado como escravo.”
“Entendido.”
Quatro horas depois, a carruagem parou na frente dos portões do Panteão da Coragem. Os guardas posicionados neles os disseram para desembarcar porque carruagens não eram permitidas dentro do território do templo.
William estava preocupado que eles não fossem permitir a entrada de seu rebanho. Felizmente, os guardas pareciam não se importar e até o disseram que o atual Sacerdotisa Chefe que residia no Panteão da Coragem gostava muito de animais, especialmente cabras.
Depois de algumas verificações iniciais, o grupo finalmente foi autorizado a passar pelos portões.
“É maior do que eu pensei”, William disse ao olhar para a estrutura gigantesca na sua frente.
Mesmo que o design do templo não pudesse se comparar às construções do mundo moderno, ainda deu a ele um sentimento surreal que o fez observar com admiração.
De repente, a entrada principal foi aberta e vários sacerdotes saíram para os receberem.
“Meu nome é Sarah e a Sacerdotisa Chefe pediu para que eu desse boas-vindas a todos vocês, visitantes de longe”, disse com um sorriso. “Todos, com exceção das cabras, podem me seguir para dentro do templo.”
Est e sua comitiva seguiram Sarah enquanto a mesma voltava para dentro. Outra sacerdotisa andou em direção a William e ofereceu-se para guiá-lo para os estábulos onde as cabras iriam descansar e serem alimentadas enquanto esperavam pelo seu retorno.
“Obrigado, Irmãzona”, William se curvou em respeito. “Vou aceitar sua proposta.”
“Uma criança fofa”, a sacerdotisa sorriu e apertou as bochechas dele levemente. “Me siga.”
Quando chegaram aos estábulos, William pediu a Ella para cuidar dos outros enquanto ele estivesse lá dentro. De acordo com a sacerdotisa que o guiou para os estábulos, William deveria seguir o protocolo e realizar um ritual de limpeza antes de ser autorizado a entrar no templo interno para conversar com os Deuses.
Ela explicou que iria levar um dia inteiro para que o ritual fosse feito porque envolveria algumas horas de jejum.
“Mama Ella, cuide de todas por um ou dois dias”, William disse enquanto abraçava seu pescoço. “Certifique-se de que eles não causem nenhum problema.”
“Meeeeeeh.”
“Todos vocês, comportem-se, ok?”
“Meeeeeh.”
“Meeeeeh.”
“Meeeeeh.”
“Meeeeeh.”
Depois de obter a promessa do rebanho, William seguiu a sacerdotisa para o templo. Ela o levou para o banheiro em que ele deveria limpar seu corpo. William se despiu e se banhou apropriadamente.
Quando terminou, ela lhe deu um conjunto de vestes brancas para vestir e o guiou para o templo interior, onde começaria o jejum.
William sentou em um tapete de oração enquanto olhava para uma estátua de mármore de uma bela cavaleira segurando uma espada em ambas as mãos. Seu longo cabelo estava amarrado em um rabo de cavalo e seus olhos estavam preenchidos de misericórdia e compaixão.
William havia se ajoelhado no tapete por apenas dez minutos antes de repentinamente se sentir sonolento. Ele tentou lutar contra a sonolência, mas seus olhos ficaram mais pesados a cada segundo.
‘Acho que vou tirar um cochilo primeiro’, pensou enquanto sonolentamente se deitou no tapete de orações. Um minuto depois, o garoto ruivo estava dormindo.
01
“Ufufufu. Irmãozão, se você não acordar logo, Lily vai te beijar~”
‘Umm? Lily?’ Os pensamentos nebulosos de William aos poucos clarearam ao ouvir a voz familiar que o acordou.
“Irmãozão, você pode continuar dormindo. Prometo que Lily vai te fazer sentir muuuuuuuuuuuito bem~”
William abriu seus olhos no momento em que Lily iria dar um beijo em seus lábios. Se não fosse pelo fato de já ter visto sua forma verdadeira, teria aceitado alegremente o beijo e até mesmo poderia devolvê-lo.
Infelizmente, o que William viu não poderia ser desvisto e ele apressadamente usou suas mãos para bloquear os lábios da loli de tocarem os dele.
“Lily, se comporte.” William disse no momento em que empurrou o rosto da Deusa para longe dele.
“Che~ Você é tão mau”, Lily fez biquinho.
“Espera, Lily?” Os olhos dele se arregalaram ao olhar para a pequena Deusa na frente dele. “O que está fazendo aqui? Onde estou?”
William escaneou os arredores e se encontrou flutuando em um espaço cercado por incontáveis estrelas.
“Este é o lugar onde os Deuses conversam com seus seguidores”, Lily explicou. “Você pode até dizer que este lugar é o limiar entre a vida e a morte. Acredito que vocês na Terra chamavam aqui de Limbo.”
“Um? Um lugar onde Deuses falam com os seguidores?” William franziu. “Se este é o caso, por que Gavin não está aqui?”
O beicinho de Lily aumentou e seus dedos se moveram na velocidade da luz para beliscar a cintura de William.
Ele gritou como uma garotinha porque Lily não se segurou quando o beliscou. Isso fez o garoto perceber que ele não estava sonhando e a loli na frente dele era real.
“Irmãozão, você é mau. Isso significa que você não quer me ver?” Lily estreitou o olhar.
William pôde sentir que se desse a resposta errada, outra rodada de beliscões aconteceria.
“C-Claro, eu queria ver você”, respondeu.
Ele não estava mentindo quando deu sua resposta. Mesmo que a forma verdadeira de Lily parecesse uma anã velha, a Deusa Loli o tratou bem durante sua estadia no Templo dos Dez Mil Deuses. Se William olhasse além de sua aparência, Lily era alguém com que ele podia se dar muito bem.
“Sério? Você queria ver Lily?”
“S-Sim.”
“Yay!” O Deusa pulou e abraçou a cintura dele. Ela então olhou para cima com os olhos arregalados adoráveis e cheios de fofura. “Gavin vai estar aqui logo. Ele só está cuidando de alguns assuntos junto de Issei e David, então pediram para eu vir e te encontrar primeiro.”
“Entendo.” William suspirou e endureceu seu coração. Lá dentro, ele queria aceitar Lili independentemente de como ela parecia.
Ele então tomou a iniciativa de afagar a cabeça dela, o que a fez fechar os olhos como um gatinho satisfeito. William continuou a esfregar seu cabelo por dois minutos. Poucos segundos depois, ele escutou um suspiro vindo da Deusa.
“Irmãozão, você realmente é gentil”, Lily murmurou enquanto empurrava William para longe suavemente.
“Lily?”
“Vamos sentar primeiro e conversar. Tenho certeza que tem muitas perguntas para fazer.”
Assim que ela disse essas palavras, uma mesa de jantar apareceu na frente de William. Diversos pratos estavam nela e todos pareciam deliciosos.
“Vamos conversar enquanto comemos, Irmãozão.” Lily fez um gesto para William se sentar.
Ele obedientemente aceitou o convite e se sentou na cadeira que estava bem à frente de Lily.
“Você não vai comer?” Lily perguntou.
“Vamos esperar os outros chegarem”, William respondeu. “Vai ser mais divertido comer em um grupo.”
Lily deu um sorriso doce para William que fez com que seu coração pulasse uma batida.
“Irmãozão, eu tenho uma pergunta.”
“Vá em frente. Enquanto não for matemática, estou confiante que posso te dar a resposta correta.”
Lily riu enquanto descansava seu queixo nas costas de sua mão. Ela então olhou para ele com seus adoráveis e brilhantes olhos vermelhos. Queria perguntar a ele algo que estava atormentando sua mente desde que William acidentalmente entrou no portal vermelho por causa da interferência de Truck-Kun no Ciclo da Reencarnação.
“Você está feliz com sua vida atual?”
Vol. 1 Cap. 68 Pontos Divinos
‘Se estou feliz com minha vida atual?’
William fechou os olhos e relembrou os dez anos que viveu na cidade de Lont. Todos os dias eram preenchidos com carinho e amor que faziam, às vezes, seu coração parecer estar derretendo. Sua Mama Ella sempre iria estar ao seu lado para garantir que não sofreria ou se machucasse.
Tia Anna iria assobiar canções enquanto o tinha em seu abraço amoroso. Seu Tio Mordred garantiria que ele não tivesse falta de comida ou roupas. Sua Tia Helen sempre encontraria tempo para assar sobremesas que ele poderia levar ao vale enquanto cuidava das cabras.
Seu Irmão mais Velho, Matthew, que amava ler livros, leria histórias sobre o Continente Sul para ele no tempo livre e seu Avô, James, sempre narrava suas lembranças e amava se gabar das aventuras que teve durante sua juventude.
Esses dez anos fizeram William perceber que, mesmo este mundo não tendo as comodidades do moderno, mesmo não tendo eletricidade, televisão, rádio e internet, ele não o achava entediante.
Na verdade, toda noite que ele ia dormir, sempre iria esperar ansiosamente para ver o sol nascer do Leste. Porque sabia… sabia que outro dia cheio de carinho e felicidade estava o esperando.
“Estou bem feliz”, William disse suavemente. Ele então abriu seus olhos e olhou para a garota adorável na frente dele. “Apesar de eu não saber qual tipo de vida teria caso tivesse entrado no Portal Prateado, a que tenho agora é muito preciosa. Estou contente por ter nascido no mundo em que estou vivendo.”
“Entendo”, Lily respondeu com um sorriso bonito. Ela podia dizer que o garoto estava sendo sincero e estava, de fato, feliz com a vida que tinha. “Isso é bom de ouvir.”
“Mmm.” Ele coçou a bochecha em constrangimento.
“Bem, fico feliz por estar alegre com seu novo mundo”, Gavin se materializou do nada e se sentou ao lado de Lily, encarando William.
“Assim como esperado do meu irmão jurado!” Issei também apareceu e se sentou ao lado de Gavin.
“Você parece comigo quando era jovem”, David riu ao aparecer ao lado de Lily.
Os quatro Deuses que formaram uma conexão com William tinham chegado. Todos olhavam para ele com rostos sorridentes, como se estivessem tramando algo!
William não sentiu nada fora do normal e os cumprimentou com um sorriso.
“Já faz algum tempo, Gavin, Irmão Issei e Senhor David.”
“De fato. Já faz algum tempo.” Gavin acenou com a cabeça. “Fico feliz que esteja bem.”
Issei e David também acenaram a cabeça em reconhecimento.
“Desde que todos estão aqui, por que não comemos primeiro?” Lily propôs. “Este banquete estava preparado para sua chegada, então seria um desperdício se não comessem à vontade.”
“Ela está certa”, Issei comentou. “Vamos comer!”
William concordou e eles começaram a beber e comer. Depois da comida ser limpa da mesa, os Deuses fizeram perguntas ao rapaz a respeito da sua vida atual, as quais ele respondeu tão honestamente quanto pôde.
“Esta sua Mestra de você não é tão ruim”, Issei disse com um sorriso malicioso. “Will, ter uma mulher mais velha como sua amante é uma coisa boa. Elas são mais maduras e você pode confiar nelas quando as coisas ficarem difíceis. Além disso… Ela já se desenvolveu em todos os lugares certos, se você entende o que quero dizer.”
William deu um sorriso conhecedor a Issei. Os dois pervertidos se olharam enquanto sorrisos lascivos apareceram nos seus rostos.
Lily estalou a língua em aborrecimento, mas não comentou.
David brincou com a barba enquanto olhava para William com admiração. “Embora tenha te dado o cajado, não pensei que fosse usá-lo tão cedo.”
“Senhor David, sou muito grato pelo presente que me deu. Se não fosse por ele, eu poderia ter reentrado no ciclo da reencarnação com apenas um ano de idade.”
“Acho que pode chamar isso de Destino. Quando te vi pela primeira vez, me lembrei de quando era jovem…”
“Que dias de jovem?” Lily zombou. “Quando nasceu como um Deus, você já era um velhinho. Como pode ser tão sem vergonha para dizer que William te faz lembrar de sua juventude?”
David fingiu não ter escutado as palavras maldosas de Lily e continuou a brincar com sua barba. “Sua Mama Ella te ama muito. Certifique-se de cuidar bem dela.”
“Eu vou”, William prometeu. “Eu a considero como minha segunda mãe. Para mim, Ella é família.”
David tinha uma expressão satisfeita ao acenar com a cabeça. Ele era o Deus dos Pastores e o garoto indiretamente se tornou um dos seus seguidores quando virou um Pastor no mundo em que havia nascido.
Naturalmente, ele estava ciente de Ella e as outras cabras cujos Destinos agora estavam ligados à William.
“Gavin, você já sabe o porquê de eu ter vindo ver vocês?” Perguntou.
“Claro que sei”, Gavin respondeu. “É só que eu não esperava ser tão cedo. Aquela Maré de Lobos certamente te trouxe muitos benefícios.”
Gavin riu enquanto dava um tapinha no ombro do garoto.
“Ok, agora vamos ao que interessa.” A expressão do Deus se tornou séria ao cruzar os braços sobre o peito. “Para que seu limitador de experiência ascenda ao próximo nível, você tem que completar uma missão.”
“Uma missão?” William perguntou. “De que tipo? Parecida com aquelas dos jogos que eu jogava na Terra?”
“Tipo isso.” Gavin acenou. “Uma vez que você a finalize, outra característica especial do Processador vai ser desbloqueada.”
“Característica especial?”
“Sim. Você vai começar a receber missões especiais que te darão pontos chamados Pontos Divinos.”
“Pontos Divinos?” William inclinou a cabeça em confusão.
Lily tossiu suavemente enquanto continuava a explicação de Gavin. “Eles são pontos que podem ser usados para comprar itens na Loja Divina. Nossos fiéis, aqueles que receberam nossas bençãos, são capazes de acessar essa loja e obter itens só encontrados no Reino Divino.”
“Todos os itens dela são feitos pelos próprios Deuses”, Issei disse com um sorriso. “Alguns são caros, enquanto outros são MUITO CAROS. A propósito, vou te dar 50% de desconto nos primeiros três itens que comprar da minha loja.”
“Irmão mais velho, quais tipos de produtos você vende?”
“Afrodisíacos, doces, chicotes, amarras, fantasias de coelho… e muito mais itens que vão fazer sua vida noturna incrivelmente excitante!”
William engoliu seco ao segurar as mão de Issei. “Você vende fantasias de marinheira?”
“Pode ter certeza que sim”, Issei respondeu com um sorriso lascivo. “Nós temos até roupas de feiticeira.”
Os dois pervertidos bateram as mãos, o que fez os outros Deuses olharem para eles com desprezo.
Gavin limpou a garganta para atrair a atenção de William e continuar sua explicação.
“Escute, William, eu vou agora te contar os objetivos da sua missão”, disse. “Atualmente, você está no Panteão da Coragem. Um dos nossos colegas pediu ajuda e acontece que você também está no templo dela.”
“Por causa disso, eu decidi que sua missão seria ajudar o seguidor dela a completar um julgamento. Você vai descobrir mais informações quando sua alma retornar. Tem alguma outra pergunta?”
“E-Eu vou conseguir me encontrar com vocês de novo?” William perguntou.
“Quando você chegar no próximo gargalo, pode vir e nos ver novamente”, Lily respondeu com um sorriso. “Irmãozão, mesmo que você sinta saudades de Lily, não deveria se esforçar muito. Vá um passo de cada vez. Teremos nossa reunião em um tempo oportuno.”
“Não se preocupe, Irmão”, Issei comentou. “Claro, nós não podemos realmente interferir e ajudá-lo quando encontrar dificuldades. Deuses não são permitidos a intervir no mundo material. Porém, podemos oferecer ajuda de outras maneiras.”
“A coisa mais importante é você viver uma vida que valha a pena ser vivida.” Gavin disse. “Mesmo que ficar mais forte seja uma prioridade, você não deve ignorar o mundo ao seu redor. Vida não é uma questão de sorte. É uma questão de escolha. Não é algo a se esperar, é algo a se conquistar.”
“Você vai fazer muitas escolhas na vida. Algumas podem não levar a um fim que você esperava, mas, independente da sua escolha, você deve seguir até o fim. O mesmo vale para as Missões Especiais que te darão Pontos Divinos. Se sentir que a missão é absurda ou vai contra seus princípios, não tem que fazê-la.”
“Que? Eu posso ignorar as missões especiais?” William perguntou.
“Sim. Fazê-las não é obrigatório”, Gavin respondeu enquanto discretamente olhava para Lily e Issei. “Apenas aquelas que você considerar que valem a pena concluir.”
“Entendido.” William concordou com a cabeça.
Issei e Lily, ambos, tinham um sorriso maldoso no rosto.
‘Irmãozão, vamos ver se você pode resistir às Missões Especiais que eu vou te dar~’
‘Não se preocupe, Irmão. Seu Irmão mais velho vai garantir que você interaja com mulheres o tanto quanto possível.’
Os dois Deuses compartilharam um olhar de entendimento entre si antes de voltar sua atenção à William. O que o garoto não sabia era que aqueles que enviariam as Missões Especiais não eram outros senão os próprios Deuses.
Vol. 1 Cap. 69 Que as Chances Estejam a seu Favor
“Est, meu seguidor devoto, você está pronto?” Uma voz feminina forte e firme perguntou.
“Sim, minha Senhorita Astrid”, Est respondeu enquanto se ajoelhava como um cavaleiro.
“O julgamento será difícil, então irei permitir que leve alguns ajudantes”, Astrid, a Deusa das Cavaleiras Femininas, disse com um olhar gentil. “Além de seus dois protetores, outro ajudante estará te esperando nos campos do julgamento.”
“Obrigado por sua generosidade, minha Senhorita.”
A Deusa acenou com a cabeça ao levantar a espada em sua mão. Ela então tocou levemente com a lâmina nos ombros de Est antes de retorná-la à bainha.
“Complete este julgamento e eu cumprimei a promessa que fiz à sua família muitos anos antes de você nascer”, Astrid prometeu. “Porém, se você falhar, a promessa se tornará nula e vazia. Estou sendo clara?”
“Sim, minha Senhora”, Est respondeu. “Não falharei.”
“Eu olho os resultados, Est, não o processo.”
“Eu entendo.”
“É hora de você retornar”, ela ordenou. “Que as chances estejam a seu favor.”
Quando Est abriu seus olhos, ele se encontrou na sala sagrada do templo interior. Ela era dedicada aos devotos seguidores da Deusa Astrid.
Enquanto ele se levantava trêmulo do tapete de oração, a porta da sala sagrada se abriu e a Grande Sacerdotisa entrou, sendo seguida por duas atendentes.
“Você recebeu a palavra de Sua Excelência?” A Grande Sacerdotisa perguntou.
“Sim”, Est respondeu.
“Bom. Há algo mais em que possamos ajudá-lo.”
“Eu preciso ir para o terreno de julgamento. Pode enviar alguém para me guiar?”
“É um assunto trivial”, respondeu. “Minhas duas atendentes vão levar você lá depois do café da manhã. Seus protetores já estão te esperando na sala de jantar.”
“Obrigado.”
“Este é meu dever. Não há necessidade de agradecimentos.”
Est foi guiado pelas duas atendentes para um quarto próximo para se trocar. Enquanto vestia as roupas, o garoto pensou a respeito da conversa que teve com a Deusa. Ela havia explicitado que o julgamento seria muito difícil.
Era previsto para que ele o completasse quando fosse mais velho, mas as circunstâncias não permitiram que a Deusa esperasse até ele crescer. A Maré de Bestas tinha transformado tudo em um caos e algo tinha que ser feito para restaurar a proteção do Reino.
Para isso, Est precisava passar com êxito pelo julgamento para que Astrid concedesse sua bênção ao Reino Hellan. Era por isso que falhar não era uma opção. Seu pai e mãe haviam lhe dado essa missão e Est tinha o dever de completá-la.
‘Pai, Mãe, eu darei o meu melhor’, pensou. ‘Custe o que custar, vou ter sucesso.’
“Jovem Mestre, você tem certeza que o Senhor Herman e a Senhora Nana não podem ajudar no julgamento?” Isaac perguntou.
“Existe uma idade limite para o Terreno do Julgamento”, respondeu. “Qualquer um acimas dos quinze anos vai ser impedido de entrar.”
“Pode contar conosco, Jovem Mestre”, Ian prometeu. “Vamos te auxiliar com tudo o que tivermos.”
Est tinha dez anos de idade, enquanto tanto Isaac quanto Ian tinham onze. Os gêmeos foram treinados deste pequenos para se tornarem os protetores de Est e para o ajudarem incondicionalmente.”
“Obrigado”, Est disse com um sorriso. “Estou contando com vocês dois.”
“”Sim, Jovem Mestre!””
Os três andaram em direção à caverna que os levaria para os campos do julgamento. Depois de dez minutos de caminhada, eles saíram dela e se encontraram em um lugar parecido com um jardim cheio de flores coloridas.
Um portão grandioso feito de bronze estava a cem metros deles. Tinha mais de dez metros de altura e diversas runas estavam gravadas em sua superfície.
O olhar de Est, Isaac e Ian pousaram em um rebanho de cabras que estava atualmente na frente do Portão de Bronze. Todas estavam olhando para cima com determinação, como se fossem soldados que em pouco tempo iriam para a guerra por sua pátria mãe.
Um garoto ruivo familiar estava sentado nas costas da maior cabra do rebanho. Ele estava carregando um cajado de madeira e tinha um sorriso despreocupado no rosto.
William acenou para os três garotos enquanto os assistia andar em sua direção.
“O que você está fazendo aqui?” Ian bufou. “Esse é um lugar fora dos limites para aqueles não afiliados ao Panteão da Coragem.”
“Me diz, você é uma garota?” William perguntou. “Por que está sempre irritado? Está de TPM?”
“Você que está de TPM!” Ian retrucou com raiva. Seu estava tingido de um vermelho profundo enquanto olhava para William com ódio.
“Não entendo o porquê de você sempre bater cabeça comigo.” William deu de ombros. “Espera, não me diga que se apaixonou por mim? Desculpe, mas eu não vou pra esses lados não.”
Linhas pretas apareceram no rosto de Ian ao mesmo tempo em que ele dava um passo para frente com a intenção de esmurrar William, que estava com uma expressão presunçosa.
Felizmente, Isaac e Est o seguraram, um de cada lado, o que o preveniu de começar uma luta com o pastor na frente dele.
“William, o que está fazendo aqui?” Est perguntou. Mesmo que já soubesse a resposta, ainda decidiu perguntar para confirmar.
“Vim aqui porque meu Deus Patrono me disse para ajudar uma pessoa a concluir um julgamento”, respondeu. “Você é quem vai passar pelo teste?”
“Sim.” Est acenou com a cabeça. “Você realmente está aqui para me ajudar?”
“Sim. Porém, como uma certa pessoa me insultou, eu não estou mais com vontade de ajudar”, William disse.
“Nós não precisamos da sua ajuda!” Ian interveio. “Minha irm- meu irmão e eu somos o bastante para auxiliar o Jovem Mestre a concluir este julgamento!”
“É assim mesmo?” William levantou uma sobrancelha. “Ouvi que é um bem difícil. Se vocês realmente não precisam da minha ajuda, não vou forçar. Além disso, não quero estar no mesmo time com um garoto que está de TPM.”
Ian estava prestes a responder o comentário de William quando o olhar de Est pousou nele. O olhar o fez tremer e as palavras que estava prestes a falar ficaram presas na sua garganta.
“Will, este julgamento é importante para mim”, Est declarou. “Eu ficaria muito feliz se você pudesse me ajudar com ele. Está tudo bem se eu te der uma comissão formal depois de o concluirmos?”
“Claro.” William prontamente aceitou.
Não iria rejeitar a oferta de Est porque eram apenas brindes para ele. Apesar de Ian estar dificultando as coisas, não tinha intenção de permitir Est a começar o julgamento por conta própria. Este julgamento também era importante para ele, já que era a missão que Gavin o deu para romper seu gargalo.
William estava mais que disposto a fazer vista grossa ao garoto irritante que parecia ser seu inimigo mortal em sua vida passada.
“Todos prontos?” William perguntou.
“”Meeeeeeeeeh!”” As cabras responderam em uníssono.
“Espera, as cabras também podem entrar nos campos do julgamento?” Est perguntou. Ele olhou para elas esperançosamente. Durante a batalha, tinham mostrado uma proeza de combate impressionante e tê-las dentro do julgamento definitivamente aumentaria as chances de sucesso deles.
“Só há um jeito de descobrir”, William sorriu. Ele então tocou no portão de bronze com seu cajado de madeira. A porta tremeu por alguns segundos antes de se abrir. Um portal prateado, que fez William se lembrar dos portais no Ciclo da Reencarnação, apareceu no centro do portão.
“Depois de você”, William fez um gesto para Est entrar primeiro.
“Te vejo do outro lado”, Est disse enquanto entrava no portal.
Isaac e Ian entraram em seguida. O último não esqueceu de dar a William um olhar de ódio antes de passar pelo portal.
“O que há com ele?” William franziu. Ele então balançou a cabeça impotentemente enquanto acariciava levemente Mama Ella, a apressando para entrar no portal.
Logo, ele e seu rebanho passaram pelo portal. Lá no fundo, William se sentia animado. Estava bem curioso sobre que tipo de Julgamento enfrentaria. Também estava ansioso para completá-lo para que pudesse dar uma olhada nos itens na Loja Divina.
De acordo com Gavin, havia diversos produtos à venda na loja que o permitiriam obter Profissões bem raras. Com tal incentivo, William estava animado para terminar a missão o mais rápido possível.
Mal ele sabia que o Julgamento nos campos sagrados não foi preparado somente para Est, mas para ele também.
Vol. 1 Cap. 70 Separando-se
Eles se encontraram na entrada de uma floresta estranha onde Est e os gêmeos estavam os esperando. Com apenas um olhar, William podia dizer que aquela floresta eram más notícias.
< Ding! >
< Você aceitou a Missão – “Julgamento da Coragem” >
< Missão: Julgamento da Coragem >
< Objetivo da Missão: Escolte Est até o Altar da Coragem localizado no centro da floresta. >
< Objetivo Secundário: Est deve sobreviver. >
< A Missão vai falhar automaticamente uma vez que Est ou o Hospedeiro morram. >
< Recompensa da Missão: A Segunda Fase de Transcendência será desbloqueada. >
‘Ela soa um pouco sinistra’, William suspirou ao terminar de ler o conteúdo da missão.
Ele então voltou sua atenção para a floresta e a observou mais precisamente.
O ar cheirava decadência e podridão, enquanto as árvores enormes bloqueavam a luz do sol. Não havia trilha para seguir. O que significava que eles teriam que atravessar a mata sem nenhuma forma de navegação.
Claro, isso não se aplicava a William devido ao sistema que tinha com ele. A função de mapeamento ganhou vida ao exibir a localização atual de William no mapa. De acordo com sua estimativa, a extensão da floresta no mínimo era de cinco quilômetros em todas as direções.
Felizmente, ele viu um ponto dourado brilhante no centro da projeção. O garoto ruivo assumiu que este era o local onde eles precisavam ir para concluir o julgamento. Também havia diversos pontos roxos ameaçadores que se moviam pelo mapa que deram a ele uma sensação de perigo mortal.
‘Acho que esses pontos roxos estão fora de questão’, pensou. ‘São provavelmente monstros pertencentes à categoria de Bestas Centenárias ou Milenares.’
Mais de trinta pontos estavam espalhados ao longo do território e circulavam o ponto dourado que William analisou ser o objetivo da missão.
Est, Ian e Isaac pensaram que William ainda estava atordoado devido ao fato dele estar olhando pra o espaça na frente dele. Ian não queria se aproximar dele por causa da vontade de espancá-lo, enquanto Isaac não queria ofender seu irmão, então permaneceu ao lado dele.
Quanto a Est, ele estava escaneando os arredores com uma carranca. Era bem sensitivo em relação ao perigo e podia sentir que a floresta estranha abrigava muitas entidades fortes que poderiam matá-los.
“Est, venha aqui por um momento”, William disse enquanto gesticulava para o garoto se aproximar.
“Sim?” Est respondeu enquanto parava a um metro de distância dele.
“Você recebeu alguma informação deste local da Grande Sacerdotisa?”
“Não, mas algo dentro da floresta está me chamando. Acredito que é o lugar onde tenho que ir.”
“Pode me dizer de que direção este sentimento está vindo?” William perguntou.
Est fechou os olhos e aguçou seus sentidos. Ele então apontou na direção em que o sentimento de atração era mais forte.
William acenou com a cabeça porque Est acabou de confirmar sua suspeita. A direção em que ele estava apontando era exatamente o ponto onde o ponto dourado brilhante estava localizado.
“Ok, escutem. Vamos estabelecer algumas regras antes de entrarmos na floresta”, William disse com uma expressão séria. “Eu quero me apontar como líder dessa expedição. Todos devem seguir minhas ordens, não importa o quão irracionais elas pareçam.”
“Por que deveríamos seguir você?” Ian zombou. “Nós só obedecemos o Jovem Mestre.”
“I-Isso mesmo”, Isaac deu suporte ao seu irmão. “Nós só seguimos as ordens do Jovem Mestre.”
William olhou para Est e esperou sua decisão. Ele sabia que Ian definitivamente rejeitaria a proposta dele e estava esperando que Isaac suportaria a decisão de seu gêmeo. Contudo, eles não eram aqueles que mandavam.
Enquanto Est acenasse com a cabeça, os dois irmãos não tinham escolha além de seguir suas ordens.
“William, como você aceitou esta comissão, isso significa que eu sou seu empregador”, Est levantou a cabeça para olhar para o pastor que estava montado nas costas da Cabra Angorá. “O empregador tem o direito de ordenar seus subordinados durante uma missão.”
Est era uma pessoa orgulhosa. Ele estava acostumado com o fato de todos obedecerem suas ordens. Pensou que, desde que William se tornou parte do grupo dele, o pastor iria seguir suas ordens.
Quem teria pensado que a primeira coisa que ele faria seria assumir o papel de líder e pedir a eles que seguissem suas ordens. Isso era algo que Est não aceitaria tão facilmente.
“É assim?” William perguntou de uma maneira casual. “Desculpe, eu não vim aqui para brincar de casinha com vocês três. Se quer fazer da sua maneira, então faça sozinho.”
“V-Você! Você está desobedecendo minhas ordens?” Pela primeira vez na vida, Est sentiu que sua autoridade estava sendo desafiada.
“Te desobedecendo?” William bufou. “Não me trate como um dos seus servos. E tenho só um mestre e ele não é você.”
Est rangeu os dentes e cerrou os punhos com raiva.
“Então você finalmente decidiu mostrar suas verdadeiras cores”, Ian cuspiu no chão. “Eu sabia que você era uma pessoa superficial no momento em que te vi. Acho que estava certo.”
William preguiçosamente se deitou nas costas de ele e apoiou a cabeça na palma da sua mão. Ele então deu um olhar de soslaio a Ian antes de responder. “A primeira vez que te vi, eu sabia que era um pequeno goblin disfarçado. Acho que estava certo. Até mesmo sua respiração cheira mal.”
“V-Você!” Ian desembainhou sua espada curta e estava prestes a investir contra William quando as Cabras Angorás avançaram e formaram uma formação de batalha. Seus chifres afiados e pontudos apostados para frente.
Claramente, elas não hasitariam em atacá-lo caso se movesse para ferir seu Mestre, William. Mesmo Ella mudou para sua forma de Íbex de Guerra Angorá. A aura intimidante dela pressionando o garoto que parou seus movimentos.
“Meeeeeeeeh!” Ella baliu. A cor de seus chifres e cascos mudando para um Mithril Azul e seu olhar fixo em Ian.
Est podia dizer facilmente que o olhar do Íbex de Guerra não era amigável. Ele imediatamente fez um gesto para Ian se controlar e não provocar as cabras ainda mais.
As três crianças tinham que admitir que mesmo que se juntassem, não seriam páreos para Ella e as Cabras Angorá ao seu lado. Sem mencionar que William também era um mago. Mesmo que não soubessem o porquê de um mago como ele estar agindo como um pastor, não duvidavam de sua habilidade de luta.
“Não há necessidade de lutar uns contra os outros”, Est disse depois de se recompor. “Não somos inimigos.”
“Minhas condições continuam as mesmas”, William comentou em um tom preguiçoso. “Ou eu lidero o grupo ou nos separamos. Não há espaço para negociação.”
Est sabia que William já havia se decidido e que não mudaria de ideia. Agora, ele estava em um dilema. Ou eles continuavam o julgamento somente os três ou deixavam William fazer o que queria.
Se ele escolhesse concluir o julgamento só os três, a dificuldade certamente aumentaria. Além disso, ele não sabia quais tipos de perigos enfrentariam dentro da floresta.Havia segurança nos números e as cabras tinham uma vantagem por causa do seu trabalho em equipe.
Porém, ainda estava lutando lá no fundo porque não gostava de alguém assumindo sua autoridade à força. No fim, fez sua decisão enquanto gesticulava para Ian e Isaac para ficarem ao seu lado.
“Vamos nos separar aqui.” Est disse de uma maneira firme. “Não esquecerei que você salvou minha vida do Troll da Montanha. Certamente pagarei este favor no futuro.”
Sem esperar por uma resposta, ele se virou e andou para dentro da floresta. Isaac e Ian se apressaram para alcançá-lo.
William assistiu aos três irem com uma expressão calma. No entanto, fundo no seu coração, ele estava ansioso.
‘Tudo bem, vamos ver o que vocês podem fazer’, William pensou. ‘Quero ver o quão longe conseguem ir sem a minha ajuda.’
William observou os três pontos verdes, que representavam Est e seus subordinados, entrarem na floresta. Ele estava bem curioso sobre o tipo de habilidades que eles possuíam. Eles não foram capazes de mostrá-las mais cedo quando ele lutou contra o Troll da Montanha.
O garoto considerou que era melhor saber a extensão da capacidade de batalha deles para que pudesse tomar as decisões certas se fossem trabalhar juntos.