Capítulo 69: Feriado Romano (2)
Durante a tarde, quando o sol estava no seu ápice, energia mágica ondulava em um beco úmido. Um momento depois, a energia se transformou em um homem.
“Chegamos. Essa é Roma.” O falante era um teletransportador da Associação Coreana de Jogadores. Ele olhou por cima de seus ombros. O Presidente Shim Deok-Gu o tinha dado uma ordem pessoal, por isso ele estava nervoso, mas sua tarefa foi mais fácil do que ele imaginava.
‘Quem é ele?’
Era difícil de discernir a identidade do homem que ele escoltou, porque ele usava um chapéu de baseball, uma máscara e óculos escuros. Porém, se ele estava em uma missão secreta, deveria ser um Jogador de alto-nível.
“Eu completei minha missão. Espero que a sua vá bem também.”
O homem só concordou com a cabeça.
“Tenho outras tarefas, então até mais…” O teletransportador olhou o relógio e desapareceu no beco. Completamente sozinho, o Jogador olhou em volta.
“Então, essa é Roma.” O Jogador com o boné de baseball pressionado até quase cobrir as sobrancelhas era Seo Jun-Ho.
“Ho, esta cidade és a casa de muitos espíritos de valentes guerreiros.” A Rainha Gélida disse.
“Você consegue sentir?” Seo Jun-Ho estava surpreso.
“Até um certo ponto, sim.”
Escutando à avaliação da Rainha Gélida, Seo Jun-Ho saiu do beco. Eles tinham acabado de pisar na calçada e já estavam cercados por turistas.
“Vamos primeiro para o lugar aonde Torres sempre vai.”
Seo Jun-Ho se sentou em um banco e esperou por algumas horas em uma praça com uma fonte. Claro, Torres nunca apareceu.
“Não sejas desencorajado. Tu não deves esperar ficar satisfeito após sua primeira mordida.”
“Não estou desapontado. Em primeiro lugar, era para ele aparecer só semana que vem. Então não tem por que eu vê-lo hoje.” Era o suficiente para Seo Jun-Ho se familiarizar com a área. “Vamos procurar um lugar para ficar.”
Seo Jun-Ho se levantou. Nessa hora, ele sentiu algo passando pelo seu pulso esquerdo.
‘Um batedor de carteira?’
Ele pegou no braço do ladrão.
“Ei! Me solte!” Um garoto tinha por volta dos 15 anos. Sua camisa e jeans estavam desgastadas e rasgadas. Ele olhava para Seo Jun-Ho. “Qual que é a tua?”
“Algo de errado?” Turistas começaram a observá-los.
“Se você não me soltar agora, eu vou dizer que está me sequestrando.”
“Você acha que eles vão acreditar? Passa pra cá.” Seo Jun-Ho pegou seu Vita da mão do garoto.
“É um batedor de carteira?”
“Tsk tsk… Olhe para isso. Aqui não é seguro.”
“Ele tem dedos rápidos. Como conseguiu roubar um Vita?”
“Melhor você tomar cuidado também. Eles podem até roubar o seu nariz.”
Era algo comum de se ver, então as pessoas perderam o interesse. O menino se sentou no chão em frustação. “Tch, que azar. Você parecia presa fácil…”
“Minha nossa. Ele tem bons olhos para pessoas.” A Rainha Gélida gracejou.
“…”
Seo Jun-Ho encarou o pequeno espírito, depois se virou para o garoto.
“Tá olhando o quê? Quê? Tá esperando um pedido de desculpa ou algo do tipo?”
“Não, estava me perguntando se eu deveria reportá-lo a polícia.”
O menino o encarou, mordendo o lábio inferior.
‘Ele está com medo?’
Seo Jun-Ho inclinou a cabeça.
‘Ele não deveria estar reagindo assim. Afinal, ele provavelmente só receberia uma chinelada e um sermão dos pais.’
Seo Jun-Ho o analisou novamente e concordou lentamente.
‘Ele faz parte de uma Family.’ [1]
Era comum fugitivos na Itália e em outras partes da Europa fazerem parte de um grupo de batedores de carteira. Eles conheciam sua cidade como a palma de sua mão.
‘Não é um mal começo.’
Seo Jun-Ho sorriu para seu guia.
***
Mastiga mastiga.
Seo Jun-Ho tranquilamente bebia o seu café. Na sua frente, o menino estava devorando comida igual um animal.
“Vá com calam. Você vai ter uma indigestão.”
“…” O moleque ainda estava com o pé atrás com o Jun-Ho, mas ele desacelerou. Ele tinha terminado seu quinto prato e começou a examiná-lo.
“O que foi? Quer mais?”
“Ah, não. Estou cheio.” Conforme ele falava, o menino guardava no bolso os pães, um por um. “Eu tenho irmãos em casa… Lembrei deles porque estou cheio.”
Seo Jun-Ho deu de ombros. “Você sabe que não tenho nenhuma obrigação com eles, certo?”
“C-claro. Eu tenho um pouco de bom senso.”
“Bom.” Seo Jun-Ho chamou o garçom.
“Posso ajudá-lo?” Perguntou o garçom.
Seo Jun-Ho se virou para o garoto: “Quantos?”
“Q-quinze. Dezesseis, incluindo meu irmão mais velho.”
“Dezesseis porções de espaguete e dezesseis pães com manteiga e cebola. Para levar, por favor.”
“Com certeza.”
Assim que o garçom se foi, o molequinho abaixou a cabeça. “… Obrigado.”
“Olhe para isto. Tu não és um coração mole?” A Rainha Gélida provocou seu contratante, que a petelecou para longe do ombro.
“Você tem pais ou uma casa?”
“Não.”
“Você faz parte de uma Family, certo?”
“… Sim.” Talvez fosse por que foi a primeira vez que alguém demonstrou algum tipo de bondade há um bom tempo, mas o menino respondeu todas as suas perguntas. “Nós nos chamamos Marco Family. Os hyungs tomam conta dos outros e vivemos em um celeiro.”
“Seus irmãos mais novos são de sangue?”
“Não, todos nós nos encontramos nas ruas, mas somos como uma família de verdade.”
Nada mal. Se ele era afiliado a uma ‘Family’, então saberia bastante sobre Roma.
“O que acha de ser meu guia local? Posso te pagar em comida.”
“E-eu aceito! Eu conheço toda rua e beco em Roma. Eu prometo.” O menino concordou vigorosamente com a ideia de uma comida deliciosa e quentinha.
“Ótimo. Mas antes, eu preciso saber se você é bom o suficiente.”
“Pergunte o que quiser.” O menino estava confiante.
“Eu tenho um irmão mais novo que perdi muito tempo atrás. Ouvi dizer que ele estava em um orfanato em Roma.”
“Oh, um orfanato…” Ele citou vários orfanatos, sorrindo alegremente. Mas não era o que Seo Jun-Ho estava procurando.
‘São todos os orfanatos em Roma, mas é informação que eu poderia descobrir online.’
Obviamente, Shim Deok-Gu tinha pesquisado cada um online.
“Já fui em todos esses. Existe algum outro lugar?”
“Hm… Esses são todos os orfanatos nas redondezas…” O menino estava queimando seus neurônios, tentando se lembrar de mais alguma coisa. “Oh! Talvez ele esteja no Paraíso.”
“… Paraíso?” Seo Jun-Ho virou sua cabeça com a estranha palavra.
“Sim. Eu nunca fui lá pessoalmente e só ouvi sobre o lugar pelos hyungs, mas sei que existe.”
“O que eles fazem lá?”
“Hum, bem, existem vários batedores de carteira como nós em Roma. Eu acho que são umas seis Family.” O menino estava investido em sua história, usando até as mãos. “Todo mês, padres visitam cada família. Eles nos falam que vão nos livrar de nossos pecados e levam uma pessoa para o Paraíso.”
“Padres?”
“Sim. Eu acho que são do Vaticano.”
A Cidade do Vaticano ficava em Roma, então era uma visão comum ver pessoas em roupas de padre.
‘Então eles não pareceriam suspeitos.’
As coisas estavam ficando interessante. “O que tem de bom nesse Paraíso?”
“Eu ouvi falar que lá tem escolas, roupas limpas e você pode comer três refeições ao dia.”
“Como eles escolhem as crianças que vão para o Paraíso?”
“Eu não tenho certeza. Eles escolhem na hora.” Ele parou, murmurando baixinho. “Mas eu não quero ir para o Paraíso.”
“Por que não? Parece um ótimo lugar.”
“… Os padres são um pouco assustadores.” O menino se arrepiou. “Eles parecem bondosos, mas… Algo sobre eles me incomoda.”
“Sem motivo?”
Seo Jun-Ho se lembrou de algo.
‘Energia demoníaca gera medo nas pessoas.’
Se os padres fossem demônios com energia demoníaca, faria sentido o menino se sentir dessa forma, especialmente se ele tivesse sentidos afiados. Seo Jun-Ho não podia perdê-lo.
Dessa forma, Seo Jun-Ho chamou o garçom novamente: “Eu gostaria de umas pizzas para a viagem. Oito sabores.”
***
“É aqui que sua Family vive?” Seo Jun-Ho olhou para o celeiro velho. Fedia a bosta de cavalo como se tivesse uma fazendo por perto.
“Fede um pouco, mas é um bom lugar.” Disse o garoto.
“… Bem, tanto faz. Pode ir na frente.”
O menino saltitou até o celeiro e abriu a porta, carregando a comida.
“É o Max!”
“Hyung!”
“Ei, o que é isso? Algo tá cheirando bom!”
“Vocês não comeram nada hoje, não é? Hora de comer!”
‘Então o nome dele é Max.’
Os mais novos cercaram Max e ele sorria enquanto distribuía a comida. Um menino que estava deitado no canto se levantou.
“Max, o que é isso?”
“Oh, Marco hyung. Isso…” Max olhou para Seo Jun-Ho. Ele não parecia saber como explicar.
“Eu comprei, então não se preocupe.”
“Então, quem é você?” Marco fez cara de mal ao se aproximar. Parecia que ele tinha uns 19 anos. Ele parecia um adulto no meio de todas essas crianças, mas para Seo Jun-Ho, ainda era um moleque.
“É minha primeira vez em Roma, então ele será meu guia. Esse é o pagamento.”
“… Max, isso é verdade?”
“Sim. Foi mal não ter te falado antes, hyung.” Marco ficou olhando entre Max e Seo Jun-Ho, concordando lentamente.
“Faz o que quiser. Mas se você fizer algo para minhas crianças…” Com um aviso clichê, Marco parou do lado de Seo Jun-Ho e começou a observar as crianças comerem.
“Você não vai comer? Eu comprei o suficiente para todo mundo.”
“Eu vou comer as sobras quando eles terminarem.”
Seo Jun-Ho esperava que ele fosse algum tipo de gangster por ser o líder de um grupo de batedores de carteiras, mas Marco era surpreendentemente pragmático.
“O que você está realmente procurando? Você poderia ter contratado um profissional com o dinheiro que tu gastou nessa comida.”
Ele era esperto. “Estou procurando pelo meu irmãozinho. Max disse que ele pode estar no Paraíso, então eu quero conhecer os padres.”
“… Paraíso?” Marco concordou. “Entendo. Faz sentido.”
“Por acaso, você viu alguma das crianças depois que foram para o Paraíso?”
“Não. Às vezes eu me pergunto como elas estão e pergunto aos padres. Então eles me entregam cartas delas. Elas parecem estar indo bem.”
“Sério? Eu quero me encontrar com elas. Você sabe quando os padres virão de novo?”
“Você deu sorte. Eles virão em dois dias.”
“Dois dias…” Seo Jun-Ho pensou um pouco. “Vai ser no domingo.” Ele murmurou.
Ele estava ansioso para seu primeiro Feriado Romano.
[1]. Não é literalmente uma “Família”. No original já usava a palavra em inglês “Family”.
(N.T.: BTW, capítulo 69 – NICE!)