Roshidere — Volume 3 - Prólogo - Anime Center BR

Roshidere — Volume 3 – Prólogo

PRÓLOGO

Tradução: Misael Farias | Revisão: Kild / Saki

Na parte residencial da cidade, considerada de alto padrão, onde grandes casas alinhavam-se nas ruas, havia uma certa mansão. Era uma casa de estilo ocidental com um jardim bem cuidado e uma rica história expressa por sua arquitetura clássica. Essa mansão histórica era datada de centenas de anos atrás e, mesmo assim, chamava a atenção mesmo entre todas as outras casas luxuosas da vizinhança, mas era conhecida simplesmente como “A casa da família Suou”.

Três membros da família estavam jantando em uma longa mesa retangular e a atmosfera era serena e elegante. O chefe da família, Gensei Suou, sentou-se na ponta da mesa, de costas para a lareira. Embora tivesse sessenta e nove anos de idade, seu corpo ainda era forte, não mostrando absolutamente nenhum sinal da idade, ele tinha a postura perfeita de um indivíduo distinto. As rugas em seu rosto o faziam parecer mais do que apenas digno, mas também inconquistável. Elas eram como os anéis no tronco de uma grande árvore que havia passado por tempestades devastadoras ao longo dos anos. Sentadas em frente a Gensei estavam sua filha, Yumi, e sua neta, Yuki. Com exceção da altura e do corpo, Yuki tinha uma semelhança impressionante com a mãe. De fato, olhar para Yumi era como ver Yuki no futuro. Embora Yuki tivesse o nariz, a boca e o perfil da mãe, elas não tinham os mesmos olhos. Ao contrário da filha, os olhos de Yumi pareciam estar permanentemente caídos, e ela tinha uma verruga embaixo do olho direito. Isso e sua expressão melancólica a faziam parecer tímida – o completo oposto de seu pai, Gensei.

“Ouvi dizer que você teve uma assembleia de alunos no outro dia.”, disse Gensei lentamente no meio da refeição. “Além disso, ouvi dizer que Masachika e a jovem da Construtora Taniyama participaram?”

“Sim, mas para deixar claro, meu irmão era o assistente de Alisa Kujou.”

Yuki explicou apenas para que não houvesse mal-entendidos, mas ela sabia que Ayano, que estava atrás dela, já havia lhe dado um resumo detalhado. Gensei, no entanto, bufou com altivez, como se não se importasse nem um pouco, o que era totalmente normal para ele.

“Pensei que ela fosse lutar mais, já que me lembro de ela ter sido sua última rival no ensino fundamental, mas… ela saiu correndo no meio do debate? Francamente!”

“Tenho certeza de que ela teve seus motivos.”

“Hmph! O motivo não importa. A questão é que ela fez o Masachika parecer um bom candidato a vice-presidente do conselho estudantil.”

Ele bebeu seu vinho com desgosto e colocou o copo vazio de volta na mesa. A avó de Ayano, que estava atrás dele, imediatamente lhe serviu outra taça. Depois que ela terminou de servir, Gensei voltou seu olhar penetrante para Yuki.

“Escute. Não me importa quem você está enfrentando… Perder não é uma opção. Você vai se tornar a presidente do conselho estudantil, não importa o que aconteça.”

“Sim, vovô. Eu vou.”

“Embora você possa não ser tão talentosa quanto o Masachika, você entende suas obrigações como alguém que nasceu com um dom como o seu… ao contrário do Masachika, que pegou o talento e o ambiente com os quais foi abençoado e jogou tudo fora.”

Falando isso, Gensei cuspiu amargamente e restando apenas a opção para Yumi de baixar sua cabeça junto de seu olhar.

“Está ouvindo? O mundo não é um lugar justo. Riqueza, família, aparência, talento… Ou você nasce com isso ou não. Yuki, você nasceu com tudo isso e é por isso que você tem que retribuir ao mundo. Essa é a responsabilidade daqueles que têm privilégios.”

O conjunto absoluto de valores do Gensei Suou, como esse sobre responsabilidade, foi gravado na mente de Yuki e Masachika desde que eles eram crianças.

“É um pecado nascer com uma habilidade e ainda assim desperdiçá-la. Aqueles que têm um dom são obrigados a usá-lo para o bem da sociedade. É por isso que, não importa o que aconteça, você não deve perder para alguém que abandonou suas obrigações. Você entendeu, Yuki?”

As palavras duras do avô em relação ao irmão – a quem ela amava mais do que qualquer outra coisa no mundo – feriram seu coração, mas ela não expressou nem um pouco de dor. Ela respondeu com um sorriso gracioso e um aceno de cabeça:

“Sim, vovô.”

 

*****

 

“Yuki.”

“Sim, mãe?”

Yuki estava voltando para seu quarto depois do jantar quando sua mãe a parou, o que era bastante fora do comum, então ela se virou com curiosidade.

“Há algum problema?”, Yuki perguntou.

Apesar da iniciativa, Yumi continuou a olhar para o chão em silêncio. Parecia que ela estava tendo dificuldade para dizer as palavras. Ela acabou lutando contra isso e perguntou em voz baixa:

“Você e Masachika… estão se dando bem?”

“Sim, é claro.”, Yuki respondeu com um sorriso.

“Ah…” Sua mãe assentiu com a cabeça, desviando o olhar.

“Hã… Há algo errado? Você queria falar sobre ele?”

“Ah, não. Não é nada… Você ainda tem aula de chinês hoje à noite, certo?”

“Sim. Mas é on-line.”

“Ah, tudo bem… Divirta-se.”

“Vou me divertir.”

Depois de fazer uma reverência graciosa, Yuki voltou para seu quarto com Ayano ao seu lado, Yumi observando sua filha a cada passo do caminho.

“Ufa…”

Yuki suspirou baixinho quando fechou a porta de seu quarto.

“Ayano.”, ela chamou a garota atrás dela sem se virar.

“Sim, senhora Yuki.”

“Preciso que você seja meu travesseiro por um minuto.”

“Como desejar.”

A maioria das pessoas pensaria que tinha ouvido mal o que ela disse, mas Ayano concordou prontamente e se deitou na cama como se estivesse acostumada a isso. Yuki então se arrastou silenciosamente para cima dela, envolveu os braços em torno da outra garota e enterrou o rosto no peito de Ayano. Yuki rolou de um lado para o outro enquanto segurava Ayano com força, esfregando o rosto em círculos nos seios de Ayano. Ayano simplesmente permitiu que Yuki fizesse o que queria com ela, sem abraçar Yuki nem esfregar a cabeça. Ela sabia que isso feriria o orgulho de sua mestra, então não disse uma palavra e se comprometeu a ser um travesseiro de corpo. Alguns minutos se passaram quando, de repente, Yuki levantou a cabeça, ajoelhou-se na cama e exalou com profunda satisfação.

“Estou de volta e melhor do que nunca!”

“Foi o suficiente?”

“Sim. Obrigada. Os seios são realmente incríveis, não são?”, elogiou Yuki com paixão enquanto se levantava da cama e se dirigia ao computador.

“Permita-me escovar seu cabelo.”

“Oh, obrigada.”

Ayano começou a pentear o cabelo de Yuki, que havia se desgrenhado de tanto rolar na cama. Cada pincelada era suave e carinhosa e os olhos de Ayano estavam cheios de afeto ilimitado.

“Mas você não precisa fazer com que fique perfeito. Certo? Eles só poderão me ver dos ombros para cima. Mais importante, você acha que poderia me trazer algo para beber?”

“Muito bem. Você gostaria de um café?”

“Claro. De qualquer forma, tenho que ficar acordado até tarde hoje para poder assistir ao ‘Brain Hazard’ e ‘Ao Dream’. O Brain Hazard deve ser especialmente bom hoje à noite. He-he- he… Não vou deixar você dormir hoje, irmão.”

Yuki sorriu com uma diversão inconfundível, antecipando a discussão sobre anime no final da noite, um costume noturno sempre que algo bom estava passando. Ayano, enquanto isso, saiu silenciosamente do quarto, exalando um suspiro aliviado em sua mente quando sua mestre voltou ao normal.

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