Capítulo 82
Besta Mítica (5)
“Se eu puder melhorar a corda da marionete, vou conseguir controlar esse espírito de uma distância maior.”
Yeon-woo decidiu pensar melhor nisso mais tarde. Além da corda, as capacidades físicas do espírito eram melhores do que esperava.
Plaft!
O Espírito Familiar atingiu uma árvore com apenas alguns golpes até ela tombar. Yeon-woo notou o espírito olhando sorrateiramente para ele. Mesmo que não tivesse nenhuma expressão no rosto do familiar, podia dizer que estava esperando por aprovação, assim como um cão. Quando Yeon-woo deu alguns acenos de cabeça de reconhecimento, parecia que o espírito nebuloso e tenebroso vibrou em gratificação.
Não pôde deixar de sorrir, pensando em seguida: “A conversão só melhorou a habilidade original do espírito um pouco. Mas ainda é capaz de infligir danos físicos, então, se eu receber Espíritos Familiares suficientes, eles serão úteis.” Ele se lembrou do grupo de Espíritos Malignos que atacaram Bild juntos. Individualmente, os espíritos eram fracos e insignificantes, mas, como um grupo, podiam até fazer Yeon-woo recuar. “Aprendi muito sobre o controle de espíritos com este experimento, mas ainda tenho um longo caminho a percorrer. Não posso assumir que sei tudo agora sendo que só tenho um espécime. Além disso, ainda não sei o que vai acontecer quando controlar vários espíritos ao mesmo tempo. Nem sei se tem um limite para quantos espíritos posso ter.”
No entanto, Yeon-woo não pôde deixar de ter grandes expectativas para essa nova habilidade. “Ouvi dizer que criaturas mortas-vivas podem evoluir para criaturas de nível superior. Talvez meu espírito de xamã também possa evoluir para algo maior, como um Lich.” Sua mente se encheu de pensamentos sobre construir um exército de mortos-vivos.
Com o intuito de obter mais informações, Yeon-woo decidiu converter mais almas em Espíritos Familiares. Enquanto checava sua Coleção de Almas, acabou encontrando duas almas notáveis: Gnoll Gigante e Vulka. Eram as almas dos monstros mais fortes que poderia coletar na Zona Iniciante. Gnoll Gigante era o monstro que protegia a peça oculta do sexto andar, Folhas de Louro. Vulka era o monstro chefe oculto que tinha matado com Phante e Edora no nono andar. “Coletei suas almas apenas no caso de encontrar algum uso para elas, mas nunca pensei que viriam a calhar assim.”
Yeon-woo decidiu injetar sua mana. Acabou tendo que usar todas as almas que restavam na coleção, mas os resultados foram bem satisfatórios.
「Roar!」
「Graahh!」
Ao contrário do espírito do xamã, o Gnoll Gigante e Vulka rugiram assim que se tornaram Espíritos Familiares. Ambos eram enormes; o Gnoll Gigante tinha quase três metros de altura e parecia que Vulka poderia esmagar vários jogadores nos braços. No entanto, conseguiu distingui-los por causa de suas formas individuais, apesar da aparência fantasmagórica.
Yeon-woo começou a dar ordens a cada espírito, direcionando-os para as cordas de marionete que os conectavam a ele.
*****
Yeon-woo nomeou o xamã de Boo, em homenagem à primeira sílaba da palavra coreana para “xamã”. Deu ao Gnoll Gigante o nome “Nol” e mudou o nome de Vulka para “Ka”. Ele nomeou para ficar mais fácil dar as ordens, mas os espíritos saltaram de alegria com seus nomes.
Uma mensagem apareceu de repente.
『Você nomeou seu Espírito Familiar.』
『O Espírito Familiar receberá uma identidade, o que aumentará a moral do seu Espírito Familiar.』
『Você desbloqueou Afinidade Familiar.』
◈◈◈◈◈
『Afinidade Familiar』
◈Espírito Familiar◈
Boo (Xamã): 15/30;
Nol (Gnoll gigante): 8/41;
Ka (Vulka): 10/55.
◈◈◈◈◈
『Melhore sua afinidade com os espíritos. Quanto maior a afinidade, mais forte será o seu vínculo, e eles seguirão suas ordens com mais lealdade.』
Yeon-woo não pôde deixar de rir da situação estranha, porque nunca esperou que os Espíritos Familiares ficassem tão satisfeitos em receber um nome e ele até desbloqueou uma nova estatística.
“Uma identidade…” Os espíritos que coletou não tinham identidades, porque perderam o ego assim que foram capturados. Embora os Espíritos Familiares fossem de um nível mais alto do que os espíritos comuns, ainda não estavam cientes das vidas passadas e ser nomeado os dava um senso de importância.
Yeon-woo sentiu a conexão entre ele e os espíritos ficar mais forte. Não era nada ruim, e, com sua nova estatística, era capaz de realizar mais alguns experimentos com os Espíritos Familiares. Os resultados apoiaram sua teoria de que as habilidades dos espíritos se correlacionavam com as que possuíam quando ainda estavam vivos.
Nol, que costumava ser ágil enquanto estava vivo, era mais rápido do que os outros, e Ka, que costumava ser fortíssimo, era mais lento, mas fisicamente mais poderoso. Se usasse Boo como ponto de partida para comparação e atribuísse um ponto cada para a força, agilidade e vida, então Nol teria um ponto para força, três para agilidade e dois para vida. Ka teria cinco pontos de força, um de agilidade e três de vida. “Tenho que coletar almas de alta qualidade para criar bons Espíritos Familiares.”
Depois disso, tentou fazê-los lutar contra algumas bestas e ficou grato pelos instintos de luta deles ainda estarem intactos. Com uma ordem simples para matar as bestas, os três começaram a lutar juntos com um bom trabalho em equipe após um começo instável. Quanto mais lutavam, mais acostumados ficavam em lutar juntos como um grupo.
“Então eles possuem inteligência.” Era a maior diferença entre os Espíritos Familiares e os espíritos normais. Yeon-woo continuou observando as ações deles com entretenimento. No final do dia, conseguiu encher sua Coleção de Almas.
『Número de almas coletadas: 500』
“A capacidade se expandiu mais de três vezes.”
O limite costumava ser de 150 almas. Yeon-woo tentou usar todas as almas novamente e criar o maior número possível de Espíritos Familiares para ver quantos poderia criar a partir de 500 almas, bem como testar quantos poderia controlar. No final, conseguiu criar mais sete Espíritos Familiares, mas parecia que seu limite era dez.
“É muito menos do que imaginei.” Yeon-woo franziu a testa um pouco enquanto olhava para os novos espíritos ao lado dos três originais. Com exceção de serem convertidas em energia tenebrosa, as almas vinculadas na pulseira eram inúteis, a menos que fossem transformadas em Espíritos Familiares. Como criou os novos com pressa, eles acabaram sendo praticamente inúteis.
Yeon-woo olhou para o Desespero do Rei Obscuro enquanto passava a mão pela corrente enrolada no braço.
◈◈◈◈◈
◈Coletor de Almas◈
Chance fixa de colher a alma do alvo morto e adicioná-la à coleção. As almas colhidas perdem a memória e se tornam corrompidas, deixadas apenas com profundo ressentimento. A capacidade da coleta aumentará proporcionalmente à proficiência do usuário.
◈◈◈◈◈
“A capacidade aumentará junto com minha proficiência. Acho que tenho de depositar minhas esperanças nisso.” As habilidades da Pulseira Preta pareciam impressionantes, mas considerando que era um artefato que pertencia a um Lorde anterior, elas realmente não pareciam nada demais.
O outro artefato em sua posse deixado por outro Lorde — Espada Vampírica de Bathory — ostentava uma opção avassaladora que poderia roubar as estatísticas de um oponente e até mesmo algumas habilidades. Em contraste, as opções do Desespero do Rei Obscuro pareciam muito aquém. Talvez fosse porque não tinha proficiência, ou talvez as habilidades seladas fossem as que eram impressionantes de verdade. Assim, era possível que a pulseira contivesse segredos que ainda não tinha descoberto.
“Você destruiu Astrape, então preciso que seja igualmente boa.” Quando olhou para a pulseira com as sobrancelhas franzidas, Yeon-woo de repente teve uma ideia. “Calma aí, se eu quiser saber mais sobre esse artefato, talvez eu possa pedir ajuda para Edora.” Ela tinha uma habilidade muito semelhante aos Olhos Dracônicos dele, Perspicácia. Seus olhos poderiam ser capazes de ver algo que ele não podia.
Yeon-woo decidiu adiar as perguntas que tinha sobre o artefato até Edora chegar ao décimo primeiro andar. Além disso, adquiriu outro artefato divino para substituir Astrape.
『Você tem algo muito interessante com você, humano.』
Quando Yeon-woo estava prestes a pegar o escudo de nove camadas das costas, ouviu a voz da Fênix soar na sua cabeça. Ele olhou em volta, procurando-a, mas não conseguiu encontrá-la. “Ela está observando com algum tipo de habilidade?” Ficou claro que ainda estava no covil. — Pensei que você ia descansar.
『Sim, eu estava. Meus filhos estavam tremendo como se fossem sair das cascas a qualquer momento, mas se acalmaram. Ainda não sei quando vão chocar, então fiquei te observando para me manter acordada. Além disso, o artefato que você tem despertou meu interesse.』
Yeon-woo percebeu que, como a Fênix era uma Besta Lendária, ela poderia reconhecer um item divino como Égide, só que, assim que estava prestes a pegar mais uma vez, ele ficou sem reação no próximo comentário da Fênix.
『Pode me falar sobre a pulseira que está usando? O quê?』
*****
Um homem mancava pela floresta densa, coberto de queimaduras graves. Metade do seu rosto tinha derretido, deixando-o com uma aparência repulsiva, mas, mesmo que parecesse meio morto, seus olhos brilharam de raiva. Era Leonte, que conseguiu escapar do ataque de Bahal e agora estava correndo por sua vida. Ele não tinha mais nada depois que Bahal e a Fera Flamejante destruíram o portal e os jogadores do Cheonghwado. “Se ao menos eu tivesse a pedra. Se tivesse aquele coração, não teria sofrido essa humilhação.”
Leonte rangeu os dentes em ressentimento enquanto pensava em Bahal e no jogador desconhecido que tinha roubado sua pedra. — Vocês vão pagar pelo que fizeram e eu vou me certificar disso, não importa o que custe!
*****
As notícias sobre o confronto entre o Dragão Vermelho e Cheonghwado abalaram toda a Torre, concentrando-se em como Bahal e a Fera Flamejante haviam emboscado Leonte e como ele tinha escapado. O Dragão Vermelho emitiu uma declaração de guerra e colocou avisos nas tábuas das cidades de cada andar.
Dragão Vermelho e o Cheonghwado eram os dois maiores clãs da Torre e uma guerra entre eles causaria um caos enorme. Clãs, rankers e jogadores agiram imediatamente para obter uma imagem precisa da situação enquanto se preparavam para a guerra. A Tribo dos Unichifres não era exceção.
— É a única coisa que tenho ouvido desde que chegamos aqui. O que diabos aconteceu enquanto estávamos fora? — Phante e Edora caminharam ao longo de uma rua enquanto as pessoas passavam ocupadas por eles. Phante estava se sentindo muito irritado. Depois de terminar a provação no décimo andar, pensou que poderia finalmente continuar sua jornada com Yeon-woo no décimo primeiro andar, mas teve que dar uma pausa nos seus planos.
Enquanto estava falando com o Guardião Yvlke, o Corvo Vermelho de repente desceu do céu e se sentou silenciosamente na frente dele. O Corvo Vermelho era uma Besta Mítica usada como mensageiro por sua tribo por causa da capacidade de viajar entre os andares sem restrições. A mensagem que trouxe foi simples: “Retornem assim que receberem essa mensagem.”
Como os detalhes não foram inclusos, Phante não sabia o motivo seu pai os chamou para casa. No entanto, sabia que era urgente para seu pai enviar o Corvo Vermelho, e então, se encontrou com Edora rapidamente e deixou a Torre.
Assim que chegaram ao Distrito Externo, ouviram a notícia e imediatamente entenderam o porquê seu pai os convocou. Não demorou muito para chegarem a uma aldeia agrícola de aparência comum. Contudo, a atmosfera da aldeia era diferente das de outros lugares semelhantes na Torre.
Assim que Phante e Edora pisaram na entrada da aldeia, foram cordialmente recebidos pelos fazendeiros que aravam os campos.
— Hã…?
— Phante e Edora? O que vocês estão fazendo aqui?
— Ouvi dizer que a Torre está muito agitada ultimamente. Eles devem estar aqui por causa disso. Minha Senhorita! Como vai a busca por um marido?
Os aldeões apareceram um por um diante da notícia do retorno de Phante e Edora, e, logo, a entrada ficou bastante barulhenta. Os dois também aproveitaram para colocar a conversa em dia com os aldeões que não viam há um tempo. Embora fossem membros da família real, ninguém falou com eles de forma formal ou com reverência.
— Oh, Phante! Edora! Já chegaram? — Um homem de meia-idade usando um chapéu de palha saiu da aldeia. Ele era um homem robusto que era ainda maior que Phante e parecia um fazendeiro com a picareta pendura no ombro.
Edora ergueu as sobrancelhas, irritada com a expressão dele. — Pensei que era um assunto urgente, mas acho que não se alguém está perdendo tempo na agricultura.
— Sabe como é, comida é uma necessidade. Podemos até estar muito ocupados, mas precisamos fazer uma pausa de vez em quando. Por que está tão rabugenta hoje? Você está na…?
— Mais uma palavra e terei de desembainhar minha espada.
Os olhos do homem se arregalaram com a atitude fria da Edora. Em seguida, olhou para Phante como se perguntasse o que havia de errado com ela. Phante riu. — Eu sei o porquê dela estar assim. Ela estava tão animada para ir em uma jornada com o futuro marido, mas… urrghh!
— Cale essa boca imunda! — O chute repentino da Edora enviou Phante voando, de modo que ele pousou a uma grande distância e rolou no chão. Infelizmente, o homem de meia-idade e os outros aldeões já tinham ouvido suas palavras.
— O quê? Um futuro marido?
— Ó, minha senhorita! Finalmente!
— Ufa! Então, vamos comemorar com espaguete em breve? Devemos dar uma festa?
Edora cobriu o rosto com as mãos diante da conversa barulhenta. A intromissão da sua tribo era uma das razões pelas quais relutou em voltar. O homem de meia-idade colocou o braço sobre os ombros da filha e sorriu levadamente. — Hehehe. Então, quem é esse menino fantástico que roubou o coração da minha filha? Estou morrendo de vontade de saber quem é!
— Tire os braços.
— Ele pertence a que raça? É um semi-humano como nós? Ou é um humano? Onde ele está e o que está fazendo agora? — O homem de meia-idade a provocou sem se importar.
Edora tentou ignorar as palavras dele enquanto esfregava a cabeça dolorida. No entanto, suas mãos se moveram para Shinmado, o que fez o homem de meia idade finalmente recuar. — Tudo bem, tudo bem. Poxa, com essa atitude fria, nem sei de quem você gosta. Não posso nem fazer uma piada na sua frente?
Edora olhou furiosa para o pai, mas o sorriso largo dele ainda não saiu do rosto. Depois de dar uma boa risada com os aldeões, o homem então bateu palmas para mudar a atmosfera. — Ok, já chega de piadas. — Sua expressão ficou séria e seus olhos brincalhões tomaram uma luz séria. Apesar das roupas esfarrapadas, ele exalava dignidade. — Não escrevi muito, porque eu queria que vocês voltassem com a mensagem, mas provavelmente já notaram o que aconteceu na Torre enquanto vinham para cá, não é?