Seishun Buta Yarou – Capítulo 3 – Vol 12 - Anime Center BR

Seishun Buta Yarou – Capítulo 3 – Vol 12

Capítulo 3

“Hmm. Então agora você está dando instruções diretas sobre romance para ela?” Mai disse, espetando um garfo em sua salada com um estalo audível.

“Foi o que ela pediu, mas não ofereci garantias. Não estou fazendo nada diretamente.”

O fim de semana havia acabado, e era segunda-feira, 12 de dezembro. A correria do almoço havia terminado. Os assentos começavam a ficar disponíveis no refeitório, e o barulho começava a diminuir. Os assentos ao lado deles também estavam vazios. Isso significava que estavam livres para falar sobre isso.

“Sakuta, você está tentando descobrir a Síndrome da Adolescência dessa garota para mim, certo?” Mai perguntou, parecendo bastante entediada com sua salada.

“Sim. Porque você está em perigo.”

“Não vejo a conexão.”

O garfo saiu de sua boca. Será que ela estava propositalmente apontando os dentes prateados do garfo para ele? Mesmo a leitura mais generosa sugeria que sim.

“Uau, agora você é o perigo.”

O aviso de Rio não era motivo de riso. Isso precisava ser resolvido prontamente. Mas ele não sabia como convencer Mai.

Uma voz bem cronometrada o salvou de seu dilema.

“Posso me juntar a vocês?” Miori os avistou e se aproximou.

“Sente-se onde quiser, por favor.”

“Oh? Sério?” Ela foi quem perguntou, então por que estava surpresa?

“Você geralmente diz: ‘Eu preferia que não’.”

“Estou de melhor humor hoje,” ele mentiu, olhando para a cadeira.

“Então vou aceitar,” Miori disse. Ela olhou para ele, depois para Mai, e se sentou ao lado de Sakuta.

“……”

“Prefiro muito mais olhar para a Mai,” ela explicou, respondendo à pergunta não expressa dele.

“Vocês pareciam estar se divertindo. Qual é o assunto?”

Miori deu uma grande mordida em seu katsu curry. Seus olhos rapidamente se fixaram no garfo brilhante na mão de Mai. Era bem típico de Miori perceber a tensão entre eles e caracterizá-la como “divertida”.

“Estamos falando sobre como se apaixonar.”

“Profundo.” Ela parecia impressionada.

“Oh? É bem básico,” ele disse. Essa era a opinião oposta.

“Mas o que trouxe isso à tona?”

“Uma aluna fofa do Sakuta perguntou sobre isso.”

“Uma garota, então?” Era necessário esclarecer isso?

“Uma estudante, sim.”

“Uau.” Miori fez uma careta de nojo. Como se ele fosse um professor velho e sujo. Mas a piada logo desapareceu.

“Ainda assim, acho que entendo,” ela continuou.

“Já me perguntei o que é o amor.”

Uma mordida de katsu desapareceu entre seus lábios. Sentado ao lado dela, Sakuta podia ouvi-la mastigar.

“Você é fã de katsu curry, Mitou?”

“Amo.” Ela pegou mais uma grande colherada.

“Então é isso que é o amor.”

Mas a explicação cortês de Sakuta provocou uma carranca. Ele podia perceber pelos olhos dela que ela já tinha uma reclamação pronta, mas sua boca estava muito cheia para falar.

Ela mastigou por um minuto, depois engoliu. Ela acompanhou isso com um grande gole de água. Quando finalmente falou, estava olhando para Mai em vez disso.

“Mai, o que te fez se apaixonar por Azusagawa?”

“Excelente pergunta, Mitou,” ele disse, seguindo o olhar dela.

Miori provavelmente esperava que Mai a ajudasse a revidar contra ele. Era óbvio que ela esperava que Mai o repreendesse. Mas essa era uma estratégia condenada. Quer Mai escolhesse responder à pergunta ou repreendê-lo, Sakuta consideraria uma recompensa.

Ambos os olhos estavam fixos em Mai.

“Ele me ama.”

“……”

A mão de Miori parou no meio do caminho para a boca. Ela claramente não esperava uma resposta tão boa. Sua colher vacilou no ar.

“Um adágio para viver,” ela sussurrou por fim. Sua colher mergulhou de volta no curry enquanto ela esquecia seu propósito original em favor de saborear as palavras de Mai.

“Ah. Sim. Isso bastaria,” ela murmurou.

“Não vai me perguntar por que eu amo a Mai?”

“Eu já sei disso.” Nesse momento, o telefone de Mai vibrou. Ela o pegou da mesa e atendeu.

“Sim, sem problemas. Ok, estou a caminho.” Ela desligou e guardou o telefone na bolsa.

“Ryouko está aqui para me buscar, então tenho que ir.”

“Indo trabalhar, Mai?” Miori perguntou.

Sakuta já sabia. Ela estava filmando um comercial para um hidratante que fazia a pele brilhar. Um produto perfeito para Mai.

“Sim. Até mais!” Mai sorriu e se levantou.

“Eu vou recolher seus pratos.”

“Obrigada. Por favor.”

Mai colocou a bolsa no ombro, acenou com a mão que tinha o anel e saiu do refeitório.

Depois que Mai foi para o trabalho, Sakuta relaxou no refeitório que estava esvaziando o suficiente para desfrutar de uma xícara de chá. Enquanto fazia isso, ele contou a Miori um pouco sobre sua aluna, Sara. Claro, ele omitiu a Síndrome da Adolescência.

Quando ele havia mais ou menos explicado a situação, era hora de ir para a aula da terceira aula. Do refeitório, eram cerca de cem metros até o prédio principal da escola.

“Essa garota é algo mais.”

“Mm?”

“Sua aluna.”

“O jeito como os garotos todos se apaixonam por ela?”

“Mais o jeito como ela está aproveitando ser a inveja de todas as outras garotas.”

“Você não está aproveitando isso?”

A partir do que ele podia ver, Miori era igualmente popular. Simplesmente caminhando ao lado dela, ele podia perceber os olhares dos garotos. E as outras garotas notavam isso, o que tornava fácil atrair inveja.

Na verdade, na festa da turma que eles compartilhavam, Miori tinha se tornado alvo de um rapaz que uma amiga dela estava interessada em conquistar. Ele chegou ao ponto de tentar conseguir o número dela. Ela acabou se juntando à mesa de Sakuta para tentar se livrar do problema. Isso provavelmente gerou algum ressentimento. Pelo que ele sabia, a amiga ainda não havia superado o ocorrido.

“Eu não consigo, não. Elas estão bravas comigo, mas sentem que não podem vencer, então acabam desistindo. Mas há vantagens em me ter por perto, então elas não conseguem se convencer a me afastar,e isso me faz pensar, ‘Que incômodo.'”

Ela manteve um tom leve, mas estava sendo bastante direta. Ele ficou genuinamente impressionado com o fato de Miori conseguir dizer tudo isso sem rancor. Isso o convenceu de que ela não guardava nenhum tipo de mágoa.

“Quer dizer, não é como se eu não sentisse nenhuma satisfação superior com isso.” Ela encerrou a conversa como se tudo não passasse de uma piada.

“Superioridade, hmm?” Isso não era necessariamente uma coisa ruim. Era uma emoção que andava de mãos dadas com a confiança.

“Com Himeji, acho que essa sensação supera todas as outras emoções.”

“Ela deve gostar muito de si mesma, então. Muito mais do que gosta de qualquer outra pessoa.”

“……”

Para Miori, isso pode ter sido apenas uma observação casual. Soou como uma. Mas para Sakuta, aquelas palavras incrivelmente precisas dissiparam a névoa que pairava em sua mente num piscar de olhos. Parecia que Miori havia conseguido encapsular Sara com um simples comentário.

Ele se lembrou da opinião de Tomoe. Sara já era muito procurada no ensino fundamental, e Tomoe não se sentia totalmente à vontade perto dela. Seus sentimentos surgiam de uma sensação persistente de inadequação, Tomoe se reinventou no início do ensino médio. Parte dela se sentia como uma fraude e via Sara como a verdadeira.

A alegria de Sara era livre de maldade. Ela era amigável, sem intenção de ferir. Mesmo quando provocava Kento, não era com más intenções. Ela não deixava que soasse assim. E é por isso que ele não levava para o lado pessoal.

Sara estava acostumada a ser querida. Era algo natural para ela. Usar as palavras e gestos certos fazia parte dela. Nada disso era forçado. Ela não precisava se esforçar para isso.

Nunca houve uma razão para questionar por que ela sempre estava no centro da atenção, foi isso que a ensinou a agir dessa maneira.

Pelo que Toranosuke havia contado a ele, Sara estava em uma posição invejável no ensino fundamental, na escola primária e até no jardim de infância. Essa era a realidade dela; era normal para ela. Todos a viam de forma diferente, e ela tomava isso como algo natural. Ela estava no centro da atenção por tanto tempo que nunca questionou isso.

Mas, por sua vida escolar ter sido tão satisfatória, por ter sido tão abençoada socialmente, talvez ela tivesse caído em uma grande armadilha sem nem perceber. Afeto era algo que os outros davam a ela. Tudo o que ela sempre fez foi aceitá-lo. O ciúme era um efeito colateral inevitável. Na sua mente, isso poderia até ser um tempero que constantemente aumentava sua confiança.

E depois de tanto tempo assim, em vez de amar outra pessoa, ela aprendeu a amar ser amada. As palavras de Miori sugeriam isso.

“Se você quer entender uma garota popular, pergunte a outra.”

“Estou cheia de insights,” Miori se gabou.

“Então deixe-me perguntar também, o que você acha que eu deveria fazer?”

“Sobre sua adorável aluna?” Ela colocou um tom provocativo em ‘adorável’.

“Sim, a fofa.” Sakuta não se deixava afetar por isso. O nível de fofura de Sara era um fato objetivo.

“Faça o que ela diz e ensine-a a amar como você ama.”

“Como?”

“Faça ela se apaixonar por você.” Miori não conseguiu terminar a frase antes de começar a rir.

“Ideia brilhante,” Sakuta disse, com uma expressão de repulsa. Essa era claramente a resposta que ela queria.

Como prova, seu sorriso se alargou. “Juro que não vou contar para Mai,” ela insistiu.

“Uau, obrigado.”

“Oh, mas é melhor você tomar cuidado, Azusagawa,” ela disse, lançando-lhe um olhar de soslaio.

“Cuidado com o quê?”

“Não é óbvio? Você está entrando na toca da aranha. Não vire o terceiro professor tarado dela.” Ela estava rindo de sua própria piada antes mesmo de terminá-la.

“Eu pertenço a Mai.”

“Reeeealmente? Eu não ouvi você falar sobre ninguém além dessa sua aluna fofinha hoje.”

“……” Isso o atingiu em cheio.

“E não é exatamente isso que sua aluna quer, Azusagawa-sensei?”

Ela realmente sabia onde enfiar a faca.

Talvez Sara já tivesse seus fios enrolados ao redor dele. Se ele não fosse cuidadoso, poderia acabar preso na teia dela. Só de imaginar isso, ele fez uma careta.

“Vou tomar cuidado.”

Ouvir o conselho impecável de Miori os havia levado ao prédio da sala de aula. Estava quase na hora de começar a terceira aula.

 

Dois dias depois. Quarta-feira, 14 de dezembro. Sakuta teve aula até o quarto período, recusou o convite de Takumi para um encontro e foi direto para a Estação Fujisawa. Mas, uma vez lá, ele se dirigiu não para o seu apartamento, mas para o outro lado, em direção ao cursinho.

Ele chegou lá pouco depois das cinco e meia. Guardou suas coisas e trocou de roupa, depois foi para a sala dos professores e começou a preparar a aula.

Preparou alguns problemas para que Kento e Juri revisassem o que haviam aprendido da última vez. Para Sara, encontrou alguns problemas em um nível mais próximo ao do exame de admissão da faculdade. Ele tentou ajustar a dificuldade ao que poderia ser esperado no Teste Comum, acrescentando alguns voltados para universidades de ponta, quando sentiu alguém o observando.

Ele olhou para cima e viu Juri o observando por cima do balcão entre a área dos professores e o espaço livre.

“Um, Azusagawa-sensei,” ela disse quando seus olhos se encontraram. Ela estava relutante em interromper o trabalho dele.

“O que houve, Yoshiwa?” Não era comum ela vir até ele. Ele se levantou e foi até o balcão.

“É possível mudar a data da aula de sábado que vem?”

“Claro, mas…?” Ela tinha outros planos?

“Tenho um torneio de vôlei de praia. Esqueci de mencionar antes, desculpa.”

“Você joga nessa época do ano?”

Para Sakuta, o esporte era sinônimo de sol de pleno verão. Areia branca. Pele bronzeada e trajes de banho coloridos.

“Era para ser em setembro, mas foi adiado por causa de um tufão.”

“Até dezembro?”

“Vai ser em Okinawa.”

“Acho que ainda está quente o suficiente lá.”

A foto que Shouko havia incluído em uma carta recente sugeria que todos ainda estavam vestidos para o verão.

“Nesta época do ano, a maioria de nós estará vestindo algo mais quente.”

“Você tem opções?” Muitas informações novas ali. Ele presumiu que só se podia jogar no verão.

“De qualquer forma, por mim tudo bem. Boa sorte no torneio.”

“Ok. Obrigada.”

“Quando você quer a aula?” ele perguntou, olhando para o calendário.

“Você está livre no dia 23?”

“Claro. Funciona.”

“Ótimo.” Eles disseram o que precisavam dizer, e a conversa morreu.

“……” Juri não disse nada, mas também não foi embora.

“Mais alguma coisa?” ele perguntou. Seus ombros se contraíram.

“……Um, isso é sobre uma amiga,” Juri disse, sua voz muito suave, seus olhos estudando o padrão no balcão. Ela não pretendia fazer isso e, possivelmente, nem percebeu que estava fazendo. Sua mente estava completamente em coisas desconectadas da sua visão.

“Aham, uma amiga.”

“Tive um sonho em que essa amiga chamou alguém para sair e foi rejeitada.”

“Esse negócio de sonhar realmente está se espalhando.”

“Sim. E… o que você acha que eu deveria fazer?”

“Estamos falando de Yamada e Himeji?”

“?!”

Ela nem confirmou nem negou. Estava simplesmente completamente surpresa. Tão chocada que não conseguiu dizer uma palavra. Seu rosto gritava silenciosamente ‘Como?!’

“Quero dizer, Yamada é bem óbvio.”

“……”

Novamente, Juri não disse sim ou não. Ela parecia perplexa, talvez um pouco irritada. Ou talvez estivesse apenas tentando se acalmar.

“Mas isso não funciona a seu favor?”

“……De jeito nenhum. Eu não quero que aquela garota horrível brinque com o garoto de quem gosto.”

Seus olhos tremiam mais do que sua voz. Ambos estavam cheios de frustração e raiva.

“Se isso está te incomodando tanto, é melhor fazer ele seu.”

“Não posso,” Juri retrucou imediatamente. Recusa instantânea, nem havia espaço para uma brecha.

“Como posso competir com Himeji?” ela sussurrou, tão baixo que ele mal conseguiu ouvir. Seu olhar estava novamente no balcão. Não, ainda mais baixo. Agora estava fixo nos próprios pés.

Ele sabia que Sara fazia sucesso com os garotos. Mas não achava que Juri estava tão atrás quanto ela imaginava. Pelo menos, não havia razão para ela ser tão pessimista.

“Não fique com raiva de mim por sugerir isso…”

“……O quê?”

Seus olhos se levantaram um pouco, mas ela já parecia mal-humorada. Provavelmente não estava zangada com Sakuta. Apenas esse assunto desagradável estava a colocando de mau humor.

Mas quando os olhos de Juri encontraram os dele, ele captou um vislumbre de expectativa. Ela acabou se agarrando ao balcão, esperando ansiosamente as próximas palavras dele.

“Com Yamada, mostre as marcas do seu bronzeado, e você vai matá-lo de vez.”

“……”

Ela não respondeu imediatamente.

Talvez ela ainda não tivesse processado o que ele disse. Seu rosto não se mexeu. Ela piscou várias vezes.

Finalmente, a realização chegou, e seu olhar se desviou para a direita e para a esquerda.

“……Sério?”

Ele meio que esperava que ela reagisse mal, mas, em vez disso, recebeu um pedido muito leve de confirmação. Ela não estava exatamente olhando para ele. Mas a luz da esperança estava definitivamente mais forte.

Talvez esse fosse o conselho errado a dar.

“Eu certamente acho que sim.”

Mas ele não podia recuar agora. Ele quis dizer isso, então era melhor manter sua posição.

“……”

Juri ficou muito quieta novamente. Pensando. Sakuta adoraria saber o que ela achava da sugestão dele, mas o tempo não permitia isso.

“’Sup!” veio a voz animada (ainda que também desmotivada) do sujeito em questão, Kento.

“Ah, Sakuta-sensei, como vão as coisas?”

Juri não se virou para olhar. Ela manteve as costas voltadas para ele, então ele não pôde ver seu rosto, que estava completamente vermelho.

“Bem, se todo mundo está aqui, vamos começar a aula.”

“Hmm? Himeji já está aqui?” Kento perguntou, sem perceber, mencionando o nome dela.

Não era de se surpreender que as mãos de Juri apertassem a alça da bolsa.

“Himeji vai ter uma aula diferente, então eu pedi para ela vir mais tarde.”

“H-hum…,” Kento disse, enfiando as mãos nos bolsos, fingindo indiferença.

“Eu já volto, então esperem lá dentro.”

“Sakuta-sensei, o que tem no currículo de hoje?”

“Revisão da última aula.”

“Eu nunca mais quero ver outro seno ou cosseno!”

“Temos tangentes também.”

“Você está me matando!” Kento lamentou, e ele seguiu para o cubículo. Juri o encarou de volta o tempo todo.

A aula começou às seis e durou oitenta minutos, terminando pontualmente às 19h40.

“Bom trabalho, Yamada. Isso é tudo por hoje.”

“Finalmente! As aulas desse lugar são muuuuuito longas.”

Certamente eram muito mais longas do que as aulas do ensino médio. Provavelmente pareciam duas vezes mais longas.

“Na faculdade, você terá algumas palestras de noventa minutos.”

“Definitivamente não vou para a faculdade. Decidi isso aqui e agora.” Kento se jogou na mesa.

“Ah, certo, Yamada.”

“O que?” Kento virou a cabeça para poder ver.

“Sobre o próximo sábado. Algum problema se adiarmos para o dia vinte e três?”

“Hmm? Sério? Vou ter o próximo sábado de folga?”

“Adiado.”

O número real de aulas permanecia o mesmo. Mas Kento estava totalmente focado no próximo dia de folga.

“Mas por quê?”

“Yoshiwa tem uma partida em Okinawa.”

“Ah, o campeonato nacional?” Juri estava guardando seus lápis, mas Kento se virou para falar com ela.

“Sim.”

“Como caloura? Isso é incrível!”

“Não é nada de especial.”

“Claro que é. Boa sorte!”

“……” Ela não esperava por isso, e ficou congelada por um segundo, sem expressão. Então, ela baixou a guarda.

“Obrigada,” ela disse e imediatamente se arrependeu, desviando o olhar.

Seus olhos estavam praticamente girando. Felizmente, Kento estava deitado na mesa e não podia ver isso.

“Tchau,” Juri disse, e saiu da sala sozinha, sem nem colocar o casaco, apenas carregando-o com a bolsa. Ela estava literalmente fugindo.

Isso deixou apenas Sakuta e Kento. Ele permaneceu esparramado na mesa, sem se mexer.

“Você não vai embora, Yamada?”

Ele normalmente era o primeiro a sair. Como se não pudesse suportar passar um segundo a mais do que precisava ali. Mas não hoje.

“Ah, Sensei…”

“O que?”

“Himeji está saindo com alguém?”

“Você é o colega de classe dela. Sabe mais do que eu.”

“Bem, não parece que ela esteja.”

“Mas?”

“Ela tem alguém em mente?”

“Isso parece uma pergunta para ela, não para mim.”

“Estou perguntando para você porque não posso perguntar para ela! Você pergunta por mim?”

“Nem pensar.”

“Por favor!” Ainda com a cabeça baixa, Kento juntou as mãos em súplica. E alguém entrou sorrateiramente na sala atrás dele.

“Oh, a aula ainda está em andamento?” Era o assunto do dia, Sara.

Ela olhou para Kento, o suplicante, e Sakuta, o protetor.

“Isso não parece uma aula,” ela disse com um sorriso.

“Kento tem uma pergunta para você.”

“Ei! Sakuta-sensei!”

Kento se levantou de repente. Ele se moveu tão rápido que praticamente saltou para ficar de pé.

“O que é, Yamada?”

“N-nada importante.”

“Então, apenas pergunte. Estou morrendo de curiosidade!” Ela usou as próprias palavras dele contra ele, deixando-o sem saída.

“Ah, então… quero dizer, está quase chegando o Natal.”

“Uhum.”

Kento começou a milhas de distância do assunto. Ele tinha um plano para realmente chegar ao ponto? Não parecia provável.

“E há muitos casais novos na escola.”

“Te faz se sentir deixado de fora, não é?”

“Himeji, você está saindo com alguém agora? Sakuta-sensei e eu estávamos nos perguntando.”

Uma virada brusca em direção à meta… então ele abruptamente arrastou Sakuta para a conversa. Sara estava olhando fixamente para ele o tempo todo, o que explica por que ele desviou no último segundo.

Sakuta não ficou feliz por ter sido arrastado, mas ele podia perceber que esse tinha sido um esforço sólido por parte de Kento.

Mas ele cometeu um erro fatal. Sara tinha uma resposta poderosa pronta.

“Por que você quer saber?”

“Hã? Por que…?”

Kento desistiu de encará-la. Seu olhar fraco estava agora fixado em Sakuta, implorando por um resgate.

Tudo bem, só desta vez, Sakuta pensou.

“Se você estiver ocupada, não podemos ter aulas durante o Natal.”

“Tenho certeza de que é você que não quer agendar nada nessa época, Sensei.” Seu plano era simples, se tornar o alvo.

“Sim, veementemente contra.”

“Sensei, o que importa mais? Nós ou sua namorada?”

“Por favor. Minha namorada.”

“Você não precisa ser tão direto sobre isso! Por que está ficando tão sério com a gente?” Sara perguntou, fingindo raiva, mas sorrindo.

“Exatamente, Sensei.”

Fazer dele o vilão ajudou Kento a sair de fininho. Ele também estava colocando o casaco e se preparando para ir. Ele devia um grande favor a Sakuta por isso.

 

 

 

 

 

 

Primeiro, a folha do Teste Comum. Ele conseguiu resolver os três problemas sem dificuldade. Em seguida, as questões antigas do exame para a faculdade difícil. Essas não foram tão fáceis. Quando ele as escolheu, havia visto as respostas-modelo e achou que tinha entendido, mas, ao tentar resolver por conta própria, descobriu que não tinha compreendido totalmente.

Isso não seria suficiente, então Sakuta pegou um guia de estudos. Enquanto ele se debatia com as explicações, o tempo passou, e quarenta minutos se esgotaram antes que ele conseguisse terminar de resolver. O cronômetro soou, e eles terminaram.

Sara soltou um suspiro e colocou o lápis sobre a mesa, como se tivesse acabado de fazer uma prova. Ela não parecia satisfeita.

“E então?”

“Só consegui resolver os dois primeiros.” Haviam sido cinco no total: três do Teste Comum e dois da faculdade difícil.

“Isso já é muito bom para o seu estágio.” Ela ainda estava no primeiro ano. Faltariam dois anos antes de precisar fazer o exame de verdade.

Ele conferiu o trabalho dela no caderno. Os dois que ela considerou ‘resolvidos’ mostravam, de fato, as respostas corretas. O terceiro problema era uma daquelas perguntas capciosas. Sara caiu na armadilha e tentou resolver da maneira errada. Parecia que ela percebeu que algo estava errado no meio do caminho, mas não teve tempo suficiente para descobrir a resposta correta.

“Então, vamos começar pelo problema três.”

Ele escreveu a resposta-modelo no quadro branco. Quando ele rabiscou a primeira fórmula no quadro, Sara exclamou:

“Ah, você usa essa?!”  Ela já havia percebido o erro.

“Sim, a função aqui não está relacionada.”

Desde que se fizesse a escolha inicial correta, o restante dos cálculos era bem simples. O problema testava mais suas habilidades linguísticas do que seu conhecimento de matemática. A armadilha era inteligente, disfarçada como um tipo diferente de problema, e a tentativa de solução de Sara havia usado o método errado. Estudantes que dominavam essas estratégias eram ainda mais propensos a cair nesse erro.

“Professor, esse problema é exatamente como você.”

“Eu não sou nem de longe tão ardiloso.”

“Eu adoro esse seu jeito descarado.”

“Próximo problema.”

“Não ignore a confissão da sua aluna!”

“Eu não me importo com esse seu lado, Himeji.”

“…….”

Os olhos de Sara se arregalaram, aparentemente surpresa. Ignorando isso, ele se virou e desenhou um gráfico de função quadrática no quadro.

“Mas me preocupa se você age assim com qualquer outra pessoa.”

“ …….”

“O que isso significa?”

“Exatamente, esse é o problema todo. Esse simples y = x bagunça tudo.”

“Não é disso que estou falando! Explique-se, professor!”

Sakuta parou de escrever e se virou para olhá-la.

“…….” Ela estava olhando para ele.

Como ele deveria expressar isso? Enquanto ela o observava buscando as palavras certas, um sorriso brincava em seus lábios. E atrás dela, Rio passou pela entrada da sala de aula.

“Oh, Futaba! Espere um pouco!” Rio parou e voltou.

“O que foi?”

“Venha aqui um segundo.” Ele fez um gesto para ela, que franziu a testa, mas entrou.

“Você não está ensinando?”  ela perguntou, lançando um olhar para Sara.

“Eu realmente não entendo esse problema. Me ajude!”

“Que tipo de professor de cursinho você é.”

“Por favor!”

Ele entregou o problema para ela, e Rio o examinou. Ela considerou por cerca de trinta segundos, depois apagou tudo o que ele havia escrito no quadro branco.

Em seguida, redesenhou todo o gráfico, explicando o que o gráfico significava e como ele representava a função. Ela não negligenciou nenhum dos cálculos necessários, também.

Esse era um problema tão difícil que Sakuta ficou confuso por bons vinte minutos, e Rio o resolveu em menos de cinco. Quando terminou, o quadro branco estava completamente coberto.

“Entendeu?” Rio perguntou, colocando a tampa no marcador.

“Completamente”  Sakuta disse antes que Sara pudesse responder. Ele havia se sentado ao lado dela e estava ouvindo com total atenção.

“Eu não estava perguntando para você, Azusagawa,” disse Rio, com a voz seca. Os olhos de Rio estavam fixos em Sara, que assentiu.

“Eu segui você direitinho,” ela admitiu.

“Foi bem claro.”

“Matemática não é sua única matéria boa, certo?” perguntou Sakuta.

Sara e Rio olharam para ele. Parte da expressão delas era de confusão, mas a outra parte parecia ser de desconfiança.

“Elas definitivamente não são ruins, mas…” disse Sara, claramente sem entender onde ele queria chegar.

“Notas médias no primeiro trimestre?”

“Algo entre oito e nove.”

Isso era ainda melhor do que ele imaginava. Havia uma boa chance de essa ser a nota dela na maioria das disciplinas, com alguns setes ou dez misturados. Difícil para ele imaginar, pessoalmente, mas os boletins de Mai eram praticamente exatamente assim.

“Himeji, se você tiver um professor adequado te ensinando, provavelmente vai passar nos exames das faculdades mais difíceis na primeira tentativa.” Rio percebeu onde ele queria chegar e lançou-lhe um olhar levemente irritado.

“O que isso quer dizer?”

“Até você achou que a Futaba era melhor nisso do que eu.” Quanto mais difícil o problema, mais essa tendência se tornava evidente.

“Tendo ela como professora…”

Antes que ele pudesse terminar, Sara interrompeu: “Eu já tenho uma professora.” Havia uma verdadeira urgência no tom dela.

Ela não levantou a voz, mas havia uma rejeição categórica que cortou qualquer argumento futuro. O ar na sala ficou gelado, frágil, como se fosse se despedaçar ao menor toque. E, à medida que o momento se prolongava, uma tensão fria se espalhava.

Rio parecia surpresa. Sakuta escondeu, mas também ficou surpreso. Esta foi a primeira vez que Sara realmente deixou suas emoções transparecerem. Mas Sara parecia ainda mais chocada do que qualquer um.

Ela havia falado por impulso. Deixou que suas emoções a controlassem. Falou mais alto do que pretendia, tudo isso parecia tê-la pego de surpresa.

“Algo acontecendo aqui? Está tudo bem?” O diretor enfiou a cabeça pela porta. Provavelmente estava circulando pelas salas, dando uma olhada.

Ele olhou primeiro para as costas de Sara, depois deu a Sakuta um olhar preocupado. Provavelmente porque sabia que Sakuta era o terceiro professor de Sara. E sabia o que tinha acontecido com os dois anteriores.

“Desculpe. Eu não me preparei direito para esse problema e tive que pedir para a Futaba me ajudar,” explicou Sakuta.

“É mesmo?”

Sara assentiu com a resposta do diretor, e, uma vez que ela fez isso, Rio confirmou. Então, eles ficaram em silêncio novamente. Isso foi interrompido pelo cronômetro sinalizando o fim da aula. O som era desconcertantemente alegre. Mas foi mais do que suficiente como desculpa para se levantar.

“Obrigada por hoje,” disse Sara, com os olhos baixos. Ela juntou suas coisas e pegou o casaco.

“Até a próxima,” acrescentou, inclinando a cabeça. Com isso, ela saiu da sala.

O diretor quase disse algo, mas no final decidiu não dizer nada. Em vez disso, ele se virou para Sakuta.

“Está tudo bem?” perguntou novamente, sem ser muito específico. Não era difícil perceber que ele não queria entrar em detalhes.

Então Sakuta manteve a resposta vaga, apenas dizendo: “Está.” Não significava nada. Apenas um ritual para permitir que todos seguissem seus caminhos separados.

“Bem, boa sorte,” disse ele e saiu da sala. Seus passos desapareceram. Isso deixou Sakuta e Rio ali com aquele clima.

Rio respirou fundo e depois perguntou: “O que foi aquilo?” Seu tom era inconfundivelmente interrogativo.

“O que você quer dizer?”

“Você a irritou de propósito, certo?” Ela formulou como uma pergunta, mas estava claramente sem dúvidas.

Já que ele a envolveu nisso, devia-lhe pelo menos uma explicação.

“Resumindo, estou protegendo Mai.” Isso era basicamente a única coisa em sua mente, nos últimos dias.

“Então está tudo conectado àquelas mensagens de alguma forma? As que diziam que Sakurajima estava em perigo e que você deveria encontrar Touko Kirishima?” Rio perguntou.

Ele assentiu.

“Futaba, nós falamos sobre se Touko Kirishima em si significa algum mal para Mai ou se alguém a quem ela deu Síndrome da Adolescência acabaria representando uma ameaça.”

“E a primeira opção não é provável, certo?”

“Sim.” Ele chegou a essa conclusão depois de conversar com Touko.

“Então, se focarmos na segunda ideia… Azusagawa, você descobriu qual é a Síndrome da Adolescência dela?”

“Nem um pouco.”

“……Agora estou confusa.” Ela raramente fazia uma expressão tão confusa assim.

“Eu não sei quais são os sintomas, mas tenho uma boa ideia do que a causou.”

Isso deveria ser o suficiente para Rio ligar os pontos.

“……Ah, entendi. Isso é bem a sua cara, Azusagawa. Você está tentando curar a Síndrome da Adolescência dela resolvendo o problema que ela tem, achando que não precisa saber quais são os sintomas reais.”

“Bom plano, não?”

Cada caso que eles encontraram estava diretamente ligado a questões do coração. Esse era o cerne da questão. Se o objetivo principal dele era curá-la, na verdade não importava o que estava acontecendo de sobrenatural com Sara. Ele só precisava resolver o problema real. Uma solução alternativa. Havia mais de um caminho para o resultado desejado.

“Mas irritar uma garota do ensino médio desse jeito não é muito maduro da sua parte.”

“Ela pode guardar rancor.”

“Você quer que ela guarde. Mas… mesmo que esse fosse o seu objetivo, a resposta dela foi um pouco extrema, não?”

“Oh, isso é culpa sua.”

“É mesmo?”

“Eu te contei por que Himeji teve Síndrome da Adolescência, certo?”

“Alguém partiu o coração dela?”

“E essa pessoa foi Kasai.”

“……” O queixo de Rio literalmente caiu.

“Azusagawa,” ela sussurrou.

“Mm?”

“Quando você me envolve, me conte o motivo antes.”

“Se eu tivesse contado, você teria ajudado?”

“Em um caso como esse, absolutamente não.”

É por isso que ele não contou. Além disso, ele realmente não teve chance de contar mesmo.

 

No dia seguinte, uma quinta-feira, Sakuta acordou e já estava chovendo. Todos aqueles dias brilhantes e secos de inverno fizeram com que a chuva fosse uma bênção. A temperatura em si se manteve estável, mas parecia mais quente,seria a umidade, talvez?

Mas uma vez que a chuva parasse, as temperaturas cairiam entrando no fim de semana. Na TV, a garota do tempo estava vestida para a estação. “Vamos enfrentar um frio de verdade no inverno!” ela disse.

“O Natal estava realmente frio naquele sonho.”

Era muito cedo para pensamentos tão sombrios. Sakuta saiu de casa com o guarda-chuva aberto.

Além da chuva, o trajeto matinal não teve nada de notável. A Estação de Fujisawa, o interior da Linha Tokaido, e o burburinho ao trocar de trem na Estação de Yokohama… tudo estava igual ao de sempre.

Nada diferente de ontem, do dia anterior ou de uma semana atrás. As mesmas ruas, as mesmas multidões.

A única diferença real foi na Linha Keikyu da Estação de Yokohama, onde havia uma notável ausência dos trens que tocavam música quando saíam. Encontrar um desses sempre alegrava o dia dele, e saber que tinham retirado os últimos de circulação era uma verdadeira pena. Menos uma coisa para esperar no caminho para a escola.

Pode parecer que o mundo nunca muda, mas ele sempre está mudando, pouco a pouco.

As aulas de fim de semestre estavam quase todas terminadas, e as que restavam se concentravam principalmente em delinear os trabalhos necessários para obter crédito ou revisar o que seria cobrado nas provas que fariam no início do próximo ano.

Sua primeira aula era de estudos de língua estrangeira primária,inglês,e a prova envolveria componentes escritos e de escuta. O segundo período era de currículo básico e exigia um trabalho escrito. O terceiro período era de matemática básica exigida para sua especialização em ciência estatística, e obviamente seria uma prova. Sua quarta aula envolvia processamento de dados em computadores, e o professor tinha uma tarefa fora do comum de criar uma página inicial.

Quando essa aula terminou, ele ouviu amigos conversando ao redor.

“E essa tarefa?”

“Quando começamos?”

“Não é pra agora, só no ano que vem! Temos tempo!”

Não parecia que alguém planejava começar imediatamente. Conversando animadamente, a sala se esvaziou. No corredor, ele podia ouvir o assunto já se afastando.

“Estou morrendo de fome! Vamos comer!”

“Estou sem grana!”

Sakuta ficou sozinho em sua mesa, procurando por postagens com a hashtag #sonhando envolvendo Mai Sakurajima.

Se alguém tivesse um sonho sobre algo ruim acontecendo com ela, ele poderia descobrir a verdade por trás daquela mensagem ominosa.

A fama de Mai tornava essa abordagem possível.

Mas, como nas tentativas anteriores, ele não encontrou mensagens relevantes online.

Ele tentou procurar por Touko Kirishima em seguida.

Se ele pudesse obter mais informações lá, talvez descobrisse por que deveria encontrá-la.

Mas, mais uma vez, não encontrou nada que parecesse conectado.

Apenas especulações erradas alegando que Mai Sakurajima era Touko Kirishima.

‘As vozes delas são parecidas! Ela cantarolou naquele programa de TV, dá pra perceber! Ouvi dizer que elas vão se revelar em breve!’

Todos tentavam parecer legítimos, mas estavam apenas falando besteiras.

Mai obviamente não era Touko.

Sakuta sabia disso por experiência própria.

Mas muita gente parecia acreditar nos boatos.

Talvez Sakuta se sentisse assim apenas porque as conhecia pessoalmente. Se ele não estivesse tão envolvido, por que duvidar dos rumores? Talvez ele simplesmente dissesse: ‘Ah, é?’ Se as pessoas realmente não se importavam se era verdade ou não, essas reações faziam sentido.

Era assim que especulações infundadas se espalhavam como fogo.

“O que está vendo, Azusagawa?”

A voz vinda do assento ao lado dele era de Takumi, que tinha ficado por ali sem dizer uma palavra.

“Uma dor de cabeça.” Era difícil explicar tudo, então ele apenas respondeu evasivamente.

“Isso parece uma dor de cabeça!” Takumi apenas riu, sem insistir no assunto.

“E você, Fukuyama?”

Os olhos de Takumi estavam na tela, e ele parecia incomumente concentrado. Sakuta vinha se perguntando o porquê.

“No festival da escola, eles fizeram aquele concurso de beleza, escolhendo o Mr. e Miss Campus?”

“Sim, eu ouvi.” Isso tinha acontecido no início de novembro, quase um mês atrás agora.

Sakuta não tinha assistido ao concurso pessoalmente, mas Nodoka e o Sweet Bullet foram convidados como apresentadores e entregaram os troféus aos vencedores.

“E este site lista os vencedores anteriores.”

“Procurando ver qual era a mais bonita?”

Algo bem típico de um garoto. Ele podia imaginar um grupo se reunindo e dizendo: ‘Ah, eu gosto dela.’ ‘Não, cara, essa é muito melhor.’

“Eu pretendia, mas não há perfil listado para a garota do ano passado. Só para o mister!”

“O site cometeu um erro?”

“Com o concurso de miss?”

“……”

“Olha, isso é problema seu.”

“……”

“Tratamento de silêncio?!”

Ignorando-o, Sakuta pegou o mouse e voltou aos resultados da busca por Touko Kirishima. Mas a mesa tremeu; o telefone de Takumi estava sobre ela, e as vibrações o faziam deslizar.

Ele olhou naquela direção, viu a tela e reconheceu o nome.

Ryouhei Kodani, um estudante do segundo ano de negócios internacionais que eles conheceram no mixer.

“Sim, o que houve?” Takumi perguntou, atendendo.

“Teve uma desistência no mixer de hoje. Você topa, Fukuyama?”

O volume do telefone era alto o suficiente para Sakuta ouvir cada palavra.

“Claro que sim!” Nem pensou por um segundo.

“Legal, vou te mandar os detalhes.”

“Mal posso esperar!”

Após essa breve troca, Takumi desligou. Ele saltou da cadeira, colocou o casaco.Ele acenou com a mão e foi em direção à porta.

“Seu computador ainda está ligado!” Sakuta disse.

“Desliga pra mim!” A resposta veio do corredor.

Ele saiu correndo sem nem saber quem mais estava nesse mixer, então Sakuta fez uma prece pelo bem-estar dele e pegou o mouse para desligar o computador de Takumi.

Mas sua mão parou ali, sem se mover mais um milímetro. Seus olhos estavam colados na tela. Na vencedora feminina do concurso de beleza do ano passado. Takumi tinha dito que ela não tinha perfil, mas ele estava lá, sim. Takumi simplesmente não conseguia vê-lo. Ele não tinha sido capaz de percebê-lo.

Cabelos longos e bem cuidados, de cor preta. Blusa branca e limpa. Um sorriso levemente envergonhado dirigido à câmera de um rosto que ele conhecia. A minissaia de Papai Noel que ele havia avistado no campus. A própria Touko Kirishima.

Ele leu o resto do perfil. E não reconheceu o nome no topo.

“Nene Iwamizawa?”

Em outras palavras, Touko Kirishima era um nome artístico. Ela tinha sido uma aluna do segundo ano no ano passado, então, se tivesse terminado o ano, deveria estar no terceiro ano agora. Se ela tivesse entrado na faculdade na primeira tentativa, seria dois anos mais velha que ele.

Sua especialização era artes liberais internacionais, assim como Mai e Nodoka. Ela era de Hokkaido, seu aniversário era em 30 de março, e ela tinha um metro e sessenta.

Isso é tudo que o perfil dizia.

Esse encontro casual certamente o deixou agitado. Como se tivesse testemunhado algo incrível em primeira mão, isso fez seu coração acelerar. Mas quanto mais ele pensava sobre isso, ele percebeu que tudo o que tinha descoberto era o nome real dela, sua especialização, ano escolar, lugar de nascimento, data de nascimento e altura.

Eram apenas detalhes superficiais. Nada que chegasse à essência de Touko.

Mas talvez isso o levasse a descobri-la.

Com essa esperança, ele digitou “Nene Iwamizawa” no teclado e clicou no botão de busca.

Sakuta finalmente desligou o computador uma hora inteira depois de ter começado a buscar por Nene Iwamizawa. Já passava das seis.

Ele saiu do prédio, seus passos ecoando como o único som que se ouvia. A chuva tinha mantido o céu escuro o dia todo, mas agora realmente estava escuro. As luzes no caminho arborizado já estavam acesas, e já parecia noite.

Ainda havia alguns alunos espalhados pelo campus. Enquanto Sakuta se dirigia para fora, um estudante de jaleco branco ia na direção oposta. Provavelmente um aluno do quarto ano trabalhando em sua pesquisa para a tese. Ele carregava uma sacola de loja com alguns noodles instantâneos e uma garrafa de café dentro.

Talvez Sakuta acabasse como ele um dia.

Com isso em mente, ele foi até a estação a tempo de pegar um trem expresso. Após vinte minutos balançando na Linha Keikyu, ele trocou de trem na Estação de Yokohama, como tantos outros.

Mais vinte minutos balançando na Linha Tokaido.

Quando chegou à Estação de Fujisawa, já passava das sete, e o lugar estava lotado de adultos.

Aquela chuva simplesmente não parava, e ele reclamou sobre isso, mas abriu o guarda-chuva e foi para casa.

Com a mente em outras coisas, ele deixou seus pés o guiarem pelas ruas até seu apartamento.

Ele havia aprendido várias coisas enquanto pesquisava.

O primeiro resultado para Nene Iwamizawa foi a conta dela nas redes sociais. Uma com fotos acompanhadas de legendas breves. Navegar por isso provou que, mesmo antes do concurso de beleza, ela já estava fazendo trabalhos como modelo, desde o segundo ano do ensino médio, lá em Hokkaido.

Ela havia se mudado para a província de Kanagawa para a faculdade. Os resultados do concurso de beleza a ajudaram a conseguir uma agência de modelos e trabalhos em revistas de moda. A conta parecia orgulhosa de suas ofertas de trabalho, que aumentavam gradualmente. Mas as coisas só correram bem até a primavera deste ano. A última atualização foi em 6 de abril.

“Talvez seja quando as pessoas pararam de vê-la.”

Até onde Sakuta sabia, ele era o único que podia ver Touko como uma Mamãe Noel de minissaia. Ninguém mais podia percebê-la. Ela não poderia exatamente modelar assim.

Mas essa conta nas redes sociais nunca mencionou Touko Kirishima. Ele não viu uma palavra sobre música em lugar nenhum.

Será que ela simplesmente manteve a carreira de modelo separada disso? Só ela sabia o motivo.

“Terei que perguntar da próxima vez que nos encontrarmos.”

Ao chegar a essa conclusão, ele encontrou um veículo familiar estacionado em frente ao prédio.

Uma minivan branca.

Aquela que era dirigida por Ryouko Hanawa, a gerente de Mai.

Ele se aproximou e a encontrou no banco do motorista. Ela fez um aceno de cabeça quando o viu se aproximando, e ele retribuiu com uma reverência.

Mas logo o olhar dela se desviou para a porta do prédio. Ele seguiu o olhar e viu Mai saindo.

Quando ela foi abrir o guarda-chuva, Sakuta se aproximou e segurou o dele para ela.

“Bem-vindo de volta, Sakuta. Você demorou bastante.”

“Bom estar de volta, Mai. Eu estava pesquisando algumas coisas.”

“Tarefas da faculdade?”

“A outra tarefa.”

“Conseguiu descobrir algo?”

“Não o suficiente para afirmar isso, então não sei o que dizer.”

Ele não havia chegado a nenhuma conclusão, então qualquer tentativa de explicar seria um desastre.

“Bem, sem tempo agora, então eu ligo esta noite.”

“Indo para o trabalho, Mai?”

“O trabalho é amanhã; hoje é só a viagem. Vou participar de um festival de cinema em Fukuoka.”

“Isso envolve um vestido bonito?”

“Envolve. Um realmente lindo.”

“Queria poder ver isso.”

“Ryouko vai tirar muitas fotos.”

“Eu quis dizer pessoalmente.”

Mai começou a caminhar, então ele também se dirigiu para o banco de trás da van, mantendo-a seca. A porta deslizante abriu-se automaticamente para recebê-la.

“Preparei o jantar para você e a Kaede, então comam juntos.”

Mai entrou e colocou o cinto de segurança. E agradeceu a ele pelo guarda-chuva.

“Oh, Sakuta…”

“Sim?”

“Eu reservei aquela estadia nas fontes termais de Hakone.”

“Para o Natal?”

“Se você estiver disponível.”

“Eu estarei! Eu juro!”

“Se você não puder ir, a Ryouko disse que vai comigo. Não precisa se esforçar tanto.”

“Sempre quis ficar lá,” Ryouko interveio com uma piada,não, ela provavelmente realmente queria ficar lá. Havia um guia de Hakone no banco. Ela estava ansiosa para ir.

“Bem, se isso acontecer, aproveite por mim,” ele disse.

“Não estou ansiosa para ficar com a Mai naquele humor.”

“Vocês dois são incorrigíveis.”

Sakuta e Ryouko riram alto. Ainda rindo, ele deu um passo para trás da porta e acenou para Ryouko.

A porta deslizou-se para fechar, encaixando-se no lugar como uma peça de quebra-cabeça.

A van partiu lentamente, desaparecendo na noite. Por um minuto, ele ainda conseguia ver as luzes traseiras, mas então elas desapareceram em uma curva.

“Uma estadia nas fontes termais com a Mai. Mal posso esperar!” Acomodando-se na banheira, ele deixou essas palavras escaparem espontaneamente.

O calor permeava seu corpo. Sua barriga estava cheia dos rolinhos de repolho em consomê que Mai havia preparado. Seu coração estava cheio de pensamentos sobre a viagem de Natal deles.

Mas ele tinha bons motivos para não contar vantagem antes da hora.

“Seria ótimo se pudéssemos resolver tudo isso até o Natal…”

As chances de isso acontecer eram pequenas. Hoje era dia quinze. Ele tinha pouco mais de uma semana.

Será que ele conseguiria curar a Síndrome da Adolescência de Touko Kirishima até lá? E a de Sara Himeji?

A primeira parecia quase impossível. Ele tinha feito algum progresso hoje, mas não havia conseguido nada que chegasse ao cerne dos problemas de Touko.

Os problemas de Sara também pareciam improváveis de se resolverem tão cedo. Ele teria que ver como ela reagiria na próxima aula; ainda poderia ir para qualquer lado.

No final, a Síndrome da Adolescência residia no coração do indivíduo. Não importava o quanto Sakuta cutucasse e provocasse, no longo prazo, Sara teria que resolver as coisas sozinha. Ele não podia fazer tudo por ela. Nunca pôde, e isso não estava prestes a mudar.

“O que acontecer, aconteceu.”

Ele desistiu de se preocupar com isso, e, como já estava completamente aquecido, saiu do banho.

No vestiário, ele secou o cabelo com uma toalha, depois secou o corpo de cima a baixo. Enquanto fazia isso, o telefone tocou.

“Sakuta! Número desconhecido!” Kaede gritou.

“Você pode atender?”

Um número desconhecido poderia muito bem ser Touko. Nesse caso, ele não podia deixar essa chance passar. Ele queria falar com ela sempre que pudesse. Cada oportunidade o aproximava um pouco mais de saber quem ela era. E isso poderia ajudá-lo a encontrar uma pista para curar a Síndrome da Adolescência dela.

“Ah, eu não quero…”

Mas, apesar das reclamações, o toque parou.

Kaede tinha atendido.

Sakuta apressou-se em terminar de se secar e colocou sua roupa de baixo.

“……Sim, é isso mesmo.”

Ao sair para a sala de estar assim, viu Kaede com o telefone no ouvido.

“Sakuta, alguém do cursinho,” ela disse, estendendo o aparelho.

“Quem…?”

“Algum cara.” Sem saber, ele pegou o telefone.

“Alô? É o Sakuta,” ele disse.

“Oh, Azusagawa!” A voz do diretor.

“Sobre o que é isso?”

“Desculpe ligar tão tarde. Acabamos de receber notícias de Himeji.”

“O que aconteceu?” O nome de Sara o fez perguntar de novo.

“Nada sério. Ela só queria saber seu número. Algo sobre querer discutir a data da próxima aula, mas como o número é uma informação pessoal, quis verificar com você primeiro.”

“Oh, obrigado. Não me importo. Pode dar meu número a ela.”

“Ok. Continue com o bom trabalho.”

“Pode deixar.” Ele esperou o clique, depois colocou o receptor no gancho.

Ele imaginou que o telefone tocaria em alguns minutos, assim que Sara tivesse o número.

O diretor provavelmente estava ligando para ela agora. Quanto tempo levaria para ela anotar o número, agradecê-lo e desligar? Seu telefone poderia tocar a qualquer minuto. Mas cinco minutos se passaram, depois dez, sem sinais de que iria tocar. Talvez o diretor não tivesse conseguido falar com ela imediatamente.

“Sakuta, você vai pegar um resfriado.”

Kaede estava assistindo a uma videoaula em seu laptop, no kotatsu. Ela tinha razão; não era exatamente a estação para ficar por aí só de roupa de baixo.

Sakuta voltou para o quarto para se vestir. Naturalmente, foi quando o telefone finalmente tocou.

“Kaede, atende isso!”

“Ah, de novo?”

Mas ele a ouviu se levantando e seus passos firmes cruzando a sala. Três e meio passos até o telefone. Nesse ponto, parou de tocar.

“Eles desligaram!”

Ele terminou de se vestir e voltou para a sala de estar.

Kaede voltou para o kotatsu, e ele tomou seu lugar junto ao telefone.

Ele estendeu a mão para o botão para verificar o último número, e o telefone tocou de novo. Um número de onze dígitos começando com 070.

Sakuta atendeu.

“Azusagawa falando.”

“Oh. Uh, sou Himeji, aluna do professor Azusagawa.” Ela parecia um pouco tensa.

“Himeji? Sou eu.”

“Ufa! Que bom que é você, Professor!”

“Você está fazendo muito caso por uma simples ligação. Por que desligou da primeira vez?”

“Quem liga para um telefone fixo hoje em dia? Fiquei toda nervosa e acabei desligando.”

“Justo.” Ele não possuía um celular, então realmente não entendia isso.

“Professor, você precisa arranjar um celular,” ela resmungou.

“Foi um pesadelo conseguir seu número pelo cursinho.”

“Desculpe por isso. Deveria ter mencionado isso antes. Ah, mas você poderia ter pedido o número pela Koga?”

“Não posso fazer isso duas vezes,” ela disse, parecendo muito firme quanto a isso.

Deve ser uma questão de princípio para ela, mas não fazia sentido para ele. Ele não via como poderia machucar pedir. Ela simplesmente esqueceu de pedir o número na última vez que se encontraram.

“O ponto é que isso foi horrível!” Mesmo pelo telefone, ele podia perceber que ela estava emburrada.

“É assim que as coisas são. Você disse que isso era sobre nossa próxima aula?”

“Isso foi só uma desculpa para conseguir seu número.”

“Então, sobre o que é realmente?” Sem rodeios. Ele ouviu Sara respirar fundo.

“Eu queria me desculpar pelo meu comportamento inadequado ontem.” Seu tom mudou completamente, e ela parecia devidamente envergonhada.

“Não precisa. Você não passou dos limites. Na verdade, fiquei até bastante satisfeito.”

“Hã?”

“Você disse algo como, ‘Eu tenho um professor.'”

“Ah! Esquece que eu disse isso!” Sua voz subiu e depois diminuiu. Ele mal conseguiu ouvir o final.

“Mas você poderia ter dito tudo isso na nossa próxima aula.”

Certamente não valia a pena todo o esforço para conseguir o número dele.

“Eu não podia esperar. Precisava resolver isso o mais rápido possível.”

“Sério, eu não fiquei chateado.”

“Você devia ficar! Parece que eu não importo para você.”

“Você importa, e é por isso que acho que você deveria considerar seriamente o que conversamos ontem.”

“Você quer dizer as aulas da Futaba?” Ele podia sentir que ela nem queria falar sobre isso.

“Não precisa ser especificamente ela, mas acho que seria melhor para você ter um professor no seu nível.”

“Tenho pensado nisso.” Isso soava como uma sugestão.

“O quê?”

“E se você se colocasse no meu nível, Professor?” Ela intencionalmente fez sua voz soar pomposa.

“Acho que meu nível já atingiu o limite.”

“Você consegue! Estou torcendo por você!”

Ele certamente não se importava de ouvir isso. Até o fez querer tentar. Mas ele não chegou a fazer promessas.

A decisão de Sara nesse assunto poderia afetar seus planos para a faculdade. Seria melhor se ele evitasse dizer qualquer coisa imprudente e deixasse ela refletir mais sobre isso. Eles deveriam conversar direito.

“Himeji, você tem tempo amanhã à tarde?”

“De onde veio isso?”

“Eu pensei que deveríamos nos encontrar e falar sobre isso.”

“Suponho que sim. Ah, mas… amanhã…”

“Não é um bom momento?” Parecia que ela tinha planos.

“Não, só que…”

Ela parecia estranhamente relutante. Escolhendo as palavras, procurando a frase certa.

“Se você não puder dizer, tudo bem.”

“Não, está tudo bem. Eu estava considerando te contar de qualquer maneira.”

“Oh? O que está acontecendo?”

“A questão é que o Sekimoto-sensei realmente quer me ver de novo.”

Esse nome o confundiu por um segundo, mas ele vasculhou suas memórias e encontrou uma correspondência.

“Não é o seu antigo…?”

“Sim. Ele me ensinou antes de você.”

O que significaria encontrá-lo? No mínimo, o mundo não veria isso com bons olhos. Ela havia mudado para a aula de Sakuta porque esse Sekimoto havia se apaixonado por ela. Não havia como saber como ele se sentia agora, mas, de qualquer forma,essas emoções eram totalmente unilaterais. Não parecia certo para Sara vê-lo neste momento.

“Himeji, que horas você vai se encontrar com ele? Onde?” E, tendo ouvido essa notícia, ele não podia simplesmente ficar de fora.

“Cinco horas, na estação de Fujisawa.”

“Entendi. Então vamos fazer o seguinte…”

Ele ofereceu uma proposta. Uma que a fez ofegar.

 

O dia seguinte foi sexta-feira, 16 de dezembro. Sakuta teve aulas até o terceiro período. Quando o sinal tocou, ele saiu apressado, dirigindo-se diretamente para a estação de Fujisawa. Ele chegou à plataforma pouco depois das quatro e meia, conferindo a hora com o quadro de chegadas.

Ele seguiu as pessoas à sua frente subindo as escadas e passou seu passe de transporte no portão. Saiu na passarela fora da saída norte e viu que o céu ao leste ainda estava tecnicamente azul. Mas o céu a oeste estava ficando laranja, e a noite estava rapidamente se instalando.

Sakuta sentou-se em um banco na clareira ao lado da loja de eletrônicos, observando a noite se aproximando. Em menos de dez minutos, o céu ficou visivelmente escuro, e as luzes ao redor da estação se acenderam.

Por um momento, as multidões na praça levantaram os olhos dos seus celulares. Com as iluminações de Natal, a estação parecia muito festiva.

O relógio da praça mostrava quatro e quarenta e cinco.

O homem que ele esperava apareceu antes que o relógio marcasse 4:46. Um homem de calças pretas e casaco cinza carvão. Cabelo curto, arrumado com gel. Parecia ter cerca de vinte e cinco anos.

Ele olhou ao redor da praça, procurando por alguém. Seus olhos encontraram os de Sakuta, mas o homem não o reconheceu. Eles não tinham trabalhado juntos de perto, então isso era compreensível. O próprio Sakuta provavelmente teria passado por ele na rua sem perceber quem era.

Não encontrando a pessoa que procurava, o homem sentou-se no banco em frente a Sakuta. Ele tirou o celular do bolso do casaco, deu uma olhada e tocou a tela algumas vezes. Provavelmente estava enviando uma mensagem de ‘Estou aqui’ para a pessoa que estava esperando.

Mas ela não viria. Sakuta estava aqui em seu lugar.

Ele se levantou e caminhou diretamente até o homem. Eles estavam a apenas dez metros de distância para começar. Sakuta parou na frente dele, e o homem levantou os olhos com uma expressão de desaprovação.

“Sensei Sekimoto, certo?” perguntou Sakuta.

“Er, ah… você é…” O homem finalmente o reconheceu.

“Azusagawa. Trabalho meio período na escola preparatória.”

“Ah, certo.”

Ele respondeu como se isso esclarecesse as coisas, mas ainda havia uma pergunta em seu olhar. Ele não sabia por que Sakuta estaria ali, falando com ele.

“Receio que Himeji não venha. Estou aqui no lugar dela.”

“Hã…?”

Seus olhos se arregalaram ao finalmente entender o que estava acontecendo.

Captando a tensão entre eles, algumas pessoas por perto lançaram olhares na direção deles. Ninguém estava olhando diretamente, mas claramente estavam prestando atenção.

“Não tenho nada a dizer a você”, disse Sekimoto, levantando-se. Havia um toque de pânico em sua voz, e ele claramente não estava controlando sua frustração. Ele tentou ir embora.

“Espere um segundo.”

“……”

Ele parou, como se fosse por reflexo. O impulso de ouvir Sakuta parecia um sinal de que Sekimoto havia sido bem educado. O mundo poderia vê-lo como um mau professor que tentou se envolver com uma aluna, mas no fundo, ele tinha uma alma sincera. Foi assim que Sara o fisgou. Suas brincadeiras lúdicas haviam fisgado seu coração.

Sakuta continuou falando para as costas do homem.

“Não tente mais contatar Himeji.” Sekimoto se virou lentamente.

“Não tente vê-la novamente.” Sekimoto deu alguns passos na direção dele.

“Não…” Antes que ele pudesse terminar…

“Não o quê?!” Sekimoto gritou, agarrando a camisa de Sakuta.

Todos os olhos estavam sobre eles, mas ninguém sequer diminuiu o passo. Sekimoto respirou fundo duas ou três vezes, seu peito subindo e descendo. Sakuta esperou que isso acalmasse um pouco antes de falar novamente.

“Não responda, mesmo que Himeji entre em contato com você.”

Ele olhou diretamente nos olhos de Sekimoto, dizendo o que precisava ser dito.

“……”

Os olhos do homem vacilaram. Estavam praticamente perdidos. Ele entendeu o que Sakuta estava dizendo.

“Acho que isso é o melhor para Himeji, então, se você se importa com ela… por favor.”

Ainda nas mãos do homem, Sakuta inclinou a cabeça em um gesto de respeito.

A mão de Sekimoto afrouxou e depois se afastou, como se tivesse perdido o lugar.

“A escola já foi informada…?” ele perguntou, dirigindo-se às costas da cabeça ainda inclinada de Sakuta.

Sakuta levantou a cabeça e encontrou Sekimoto claramente perdido. Ele estava tentando esconder isso, mas não sabia como, e isso o deixava ainda mais perdido. Não havia saída para essa situação. Somente Sakuta conhecia o caminho para a liberdade.

“Acho que vou informar o diretor sobre o resultado.”

“Quer dizer…?”

“Nada aconteceu. Não acho que será um problema.”

“……Agradeço por isso.”

Isso foi provavelmente o mais próximo de um “obrigado” que ele poderia dar naquele momento.

“Posso fazer uma pergunta?”

“Claro.”

“Er…” Sekimoto abriu a boca, mas reconsiderou. “Não, esqueça.”

A pergunta não dita provavelmente era sobre Sara. Ela tinha dito algo sobre ele? Como ela estava? Suas notas estavam indo bem? Talvez todas essas. Mas ele balançou a cabeça e acabou não dizendo nada.

“Então, posso perguntar algo?”

“……”

Sekimoto não concordou, mas também não recusou. Ele não podia fazer nenhum dos dois.

“Você não pode esperar até ela se formar no ensino médio? Se ainda estiver interessado então.”

Sekimoto conseguiu dizer um ‘Vamos ver’ sem entusiasmo. Isso parecia um sinal de desistência. Ele estava apenas seguindo os procedimentos para manter as aparências e soar como se não se importasse. Mas esses procedimentos tinham significado. Às vezes, as pessoas sentem a necessidade de manter as aparências, independentemente de qualquer coisa. Se nada mais, isso era importante para Sekimoto naquele momento.

“É melhor eu ir. Cuide de Himeji.”

“Vou cuidar.”

“E tome cuidado.”

Sekimoto forçou um sorriso e ofereceu palavras de despedida que poderiam ser interpretadas como uma piada ou um desabafo antes de se virar para a estação, desaparecendo rapidamente na multidão.

Os olhos que perfuravam as costas de Sakuta desapareceram assim que Sekimoto saiu. Exceto por um par…

Ele se virou, procurando a origem daquele olhar. Não foi difícil encontrar.

Uma figura esguia, perto dos canteiros de flores. Sara, olhando para ele com preocupação.

Quando seus olhos encontraram os dela, ela estremeceu, como se tivesse sido pega no flagra.

Ele se aproximou lentamente.

“Você concordou em esperar na escola.”

“…Você perdeu um botão.”

Os olhos de Sara estavam no colarinho dele. Deve ter se soltado na confusão.

“Eu tenho um extra.”

Ele mostrou o botão costurado na etiqueta.

“Sempre me perguntei para que serviam esses botões extras, mas acho que são para momentos como este.”

Ele levantou a barra da camisa e mostrou os botões, mas isso não parecia melhorar o humor dela. Sara normalmente teria se oferecido para costurá-lo com um sorriso travesso, e ele esperou por sua resposta habitual, mas ela não disse nada.

 

“Bom, isso está resolvido, então vamos terminar aquela conversa de ontem.”

“…Sim.” Até essa resposta foi extremamente suave.

Sakuta e Sara estavam sentados em lados opostos de uma mesa, sobre a qual havia um soda italiano, um café com sorvete e uma porção de pizza de torrada. Eles haviam entrado em um café retrô a poucos minutos da estação, em um beco estreito.

As cadeiras, mesas e cardápios tinham um estilo da era Showa. Sakuta não havia nascido naquela época, mas, de alguma forma, aquilo lhe parecia nostálgico. Em algum momento, a conexão entre a era Showa e a nostalgia foi implantada em sua mente.

O gelo no soda italiano derretia, e o sorvete começava a afundar.

“Não vai tirar uma foto?” Sakuta perguntou, observando o derretimento.

Sara havia escolhido o lugar, dizendo que sempre quisera ir lá, mas a clientela era, em sua maioria, de adultos, então ela e suas amigas nunca tiveram coragem. Seu desejo havia se realizado, mas ela apenas estava sentada ali, nem mesmo tirando uma foto da sua bebida.

“Posso beber o meu?” ele perguntou, estendendo a mão para o café com sorvete.

“Ah, espera! Eu quero tirar uma foto!”

Sara rapidamente pegou o telefone e tirou fotos de tudo o que haviam pedido. Mesmo assim, ela não parecia tão empolgada quanto estivera da última vez com os donuts. Era mais como uma obrigação profissional, sem alegria. Metade de sua mente ainda estava em outra coisa.

“…Hm, Professor.” Ela guardou o telefone.

“Hum?”

“Eu ainda… quero você como meu professor.” Seus olhos estavam fixos nele. Ela vinha pensando nisso o tempo todo.

“Entendo,” ele respondeu sem muito entusiasmo.

O olhar de Sara desviou-se para o soda italiano. Ela colocou o canudo nos lábios e deu um gole.

“Isso é um ‘não’?” ela perguntou, olhando para ele. Agora era a vez dele de escapar para sua bebida.

“Você já decidiu para qual faculdade quer ir?” ele perguntou.

“Ainda não.” Ela mexia o canudo, e o sorvete afundava no líquido verde.

“Faz sentido. Você ainda está no primeiro ano.” Sakuta enfiou o canudo no sorvete do seu café e o misturou.

“Professor, por que você escolheu a sua faculdade?”

“Eu queria aproveitar o campus com minha namorada.” Isso foi tão óbvio que Sara começou a rir. O primeiro sorriso que ele viu naquele dia. Ainda não era exatamente radiante. Ainda havia nuvens sobre ele.

“Você realmente se importa com ela.”

“É amor verdadeiro.” Ele a encarou enquanto dizia isso, e ela desviou o olhar, corando.

“Não estou falando com você, Himeji.”

“Eu… Eu sei disso! Você só me pegou de surpresa! E eu sou uma aluna de cursinho! Pelo menos finja que teve motivos mais decentes para escolher uma faculdade.” Ela estava despejando tudo de uma vez.

“Eu tento não mentir para os alunos.”

“Tá bom, deixa eu mudar a pergunta.” Ele não sabia exatamente o que estava bem.

“Professor, por que você decidiu ir para a faculdade, afinal?”

“Bem…”

“Nem pense em dizer que foi para passar mais tempo com sua namorada.” Sara leu sua mente.

Agora ele precisava dar uma resposta real. Mesmo que fosse apenas um cursinho, ela ainda era uma aluna, e ele lhe devia isso.

“Tá bom. Eu não tinha certeza quando estava estudando para os exames, mas agora? Eu estou na faculdade para conseguir uma licença de ensino.”

“Como é? Professor, você realmente vai ser um professor?” A voz de Sara saiu em um tom de surpresa. Seus olhos raramente se abriam tanto.

“Bem, vou pelo menos obter o certificado. Não tenho certeza se é para mim. Ah, mantenha isso em segredo, eu ainda não contei a ninguém.”

“Nem para sua namorada?”

“Não.”

“Nem para a Futaba-sensei?”

“Nem para ela.” Isso era verdade. Ele não tinha nada contra contar a elas, mas isso não surgiu. Seria estranho simplesmente anunciar, então ele estava esperando o momento certo.

“Então, isso é um segredo só entre você e eu, Sakuta-sensei.” Sara parecia encantada. Ela estava um pouco mais como ela mesma novamente.

“Mas se você vai realmente ensinar, você definitivamente tem que melhorar.”

“Acho que parte de ser um bom professor é considerar o futuro dos alunos e dar-lhes conselhos apropriados.”

“Você odeia tanto me ensinar?” Sara olhou para ele, mexendo o sorvete no copo.

“Claro que não.” Sakuta pegou uma fatia da pizza de torrada e deu uma grande mordida.

“Então…”

“Mas acho que você deveria experimentar outros professores. Para o seu próprio bem.”

“…”

“Se você encontrar um professor de quem goste mais do que eu, mude para ele. Se não, então eu vou ter que melhorar. Combinado?”

“…Você não se importa se eu escolher outro professor?” Ela ainda estava mexendo o soda italiano. Já não havia mais distinção entre o creme e o refrigerante. Os olhos de Sara se recusavam a sair daquele copo.

“Se suas notas melhorarem, como seu ex-professor, ficarei muito feliz.”

“Mesmo que você não tenha ensinado aquelas coisas?”

“Isso não importa para mim.”

“Então eu não importo para você?”
“O que importa para mim é o quanto posso te ajudar. Como seu professor de meio período no cursinho.”

“É realmente assim que você pensa?”

“É,” ele disse, sem hesitação.

Sara estava olhando fixamente para ele. Ignorando isso, Sakuta deu outra mordida na pizza de torrada. Ele quis dizer cada palavra que disse, então não havia necessidade de rodeios. Ou qualquer razão para se explicar demais. Sara pode estar estudando sem um propósito claro agora, mas eventualmente, ela provavelmente encontraria um. E quando isso acontecesse, ele não queria que ela se arrependesse da escolha que fez agora. Ela já era uma aluna brilhante, então não faria mal focar em melhorar ainda mais. Isso lhe daria mais opções no futuro. Se ele estivesse pessoalmente envolvido nessa melhoria ou não era irrelevante. Ele sempre escolheria o que tornasse o futuro dela mais promissor.

“…Sakuta-sensei, entendo que você está levando minha vida a sério,” disse Sara.

Depois de um longo silêncio, ela tomou o resto do seu soda italiano. Quando o copo ficou vazio, ela acrescentou: “Então, vou levar seu conselho a sério.”

Ela não parecia totalmente convencida. Sabia que ele tinha razão, mas isso não correspondia ao que ela sentia. Seu tom e os lábios comprimidos mostravam que ela não estava satisfeita com o rumo da conversa.

“Acho que é o melhor a se fazer”, ele disse, acenando com a cabeça. Sara evitou o olhar dele, desviando para as janelas.

“Mas se eu não encontrar um professor melhor, eu volto para você.”

“Nesse caso, você vai ter que me ajudar a crescer como professor.”

“Combinado! Isso funciona para mim!”

Sara sorriu, mas as nuvens ainda não haviam se dissipado completamente. Ele imaginou que levaria um tempo até que tudo fosse absorvido. E enquanto ela olhava pela janela, ele sentiu que seu perfil parecia determinado. Como se sua mente já estivesse no próximo passo. E ele tinha quase certeza de que isso não era uma mera imaginação. Ele pagou a conta, e eles saíram.

“Obrigada”, disse Sara, balançando a cabeça.

Eles caminharam juntos em direção à estação, até o ponto de ônibus dela. Nenhum dos dois falou a princípio. Eventualmente, ficaram presos em um sinal de pedestres, e Sara disse:

“Ah! Sakuta-sensei.” Sua voz estava estranhamente alegre.

“Hum?” ele perguntou, curioso sobre o que viria.

“Você já resolveu sua lição de casa?”

“Lição de casa?” O sinal ficou verde, e eles atravessaram a faixa de pedestres.

“Não finja que não sabe. Minha Síndrome da Adolescência!”

“Ah, isso. Nenhuma ideia!”

“Sakuta-sensei, você nem está tentando resolver o problema.” Ela sorriu triunfante, como se visse através dele.

“…?”
Ela definitivamente acertou na mosca, o que só aumentou suas suspeitas.

“Você está tentando resolver o problema ao contrário, curando minha síndrome dessa forma.”

“…”

Sara estava realmente martelando esse ponto, e isso fez seu coração disparar. A surpresa em si passou rapidamente, mas deixou-o afogado em um mar de perguntas, com uma nota gelada de medo tomando conta. Sara poderia ser uma garota inteligente, mas ele não conseguia entender como ela descobriu aquilo.

Antes de chegarem ao ponto de ônibus, Sakuta parou no círculo de desembarque sob a passarela de pedestres.

“Para o seu próprio bem, acho que é melhor você não curar minha Síndrome da Adolescência”, ela disse, parando alguns passos à frente.

“O que você quer dizer?” Ambos estavam banhados pela luz alaranjada do pôr do sol. O sorriso de Sara não alcançou seus olhos quando ela se virou para ele.

“Eu pesquisei. Eles chamam isso de ‘visão remota’.” Ela estava com o telefone na mão.

“Visão remota?” Essa não era uma expressão com a qual ele estava familiarizado.

“Não importa quão longe eu esteja, sei o que alguém está fazendo e pensando.”

“…”

“Então, eu sei muitos dos seus segredos, Sakuta-sensei.”

“Os únicos segredos que tenho são aquela coisa da licença de ensino e talvez meu número PIN.”

“E o fato de que você está procurando por Touko Kirishima.”

“…”

“Surpreso?”

“Honestamente, estou perplexo.”

“Também sei seu número PIN. É o aniversário da sua namorada!”

“Você também sabe a cor da minha roupa íntima?”

“Isso é simplesmente inapropriado!” ela disse, sua raiva parecia bastante genuína.

“Não se preocupe, não estou espiando você no banho.”

Sakuta não se importava realmente se ela estivesse, mas achou que dizer isso seria ainda mais inapropriado.

“Essa ideia é totalmente inapropriada”, disse Sara, corando levemente. Então, muito para a liberdade de pensamento.

“Voltando ao ponto, Himeji, você sabe onde Touko Kirishima está? Ou o que ela está fazendo?”

“De jeito nenhum.” Essa não era a resposta que ele esperava. Sua atitude havia sugerido que ela sabia, então o que estava acontecendo aqui?

“Eu não consigo ver qualquer pessoa. Só pessoas que conheci, e que bati bem forte.” Ela balançou a mão que segurava o telefone, demonstrando.

“Ah, entrelaçamento quântico.”

“O que é isso?”

Sara piscou para ele. Isso esclareceu uma coisa, ela poderia ser capaz de ler seus pensamentos conscientes, mas não tinha acesso às suas memórias. Lendo esse pensamento, ela assentiu.

“Entrelaçamento quântico é um fenômeno misterioso que ocorre em nível microscópico. Eu não entendi muito bem a explicação além disso.”

Os detalhes não eram realmente tão importantes. Ele tinha outras coisas em que pensar. Como aproveitar a Síndrome da Adolescência de Sara. Usado da maneira certa, isso poderia lhe dar alguma visão sobre a mente de Touko Kirishima. E ele tinha que admitir, isso era uma verdadeira vantagem.

“Sem ser curada, eu posso te ajudar.”

“Himeji, você poderia ver Touko Kirishima?” Tudo dependeria disso.

“Eu poderia! A Mamãe Noel de minissaia.” O maior obstáculo já havia sido superado.

“Tudo o que você tem que fazer é nos colocar juntas.”

“Ela não é alguém que você pode simplesmente encontrar quando quiser.” Aparições eram raras e imprevisíveis.

“Mas você prometeu ajudar ela em uma transmissão ao vivo.”

Ele tinha prometido. Aparentemente, Sara estava acompanhando isso.

“Se é que podemos chamar isso de promessa.”

A data era um verdadeiro problema. Touko havia dito a ele para ajudá-la no dia 24 de dezembro. Véspera de Natal, o último dia em que ele queria outros compromissos.

“Isso explica, certo? É por isso que nós dois estaremos juntos na véspera de Natal!”

Sara parecia satisfeita consigo mesma, como se tivesse acabado de resolver um problema difícil. Por outro lado, Sakuta parecia apenas desanimado. Haveria alguma maneira de escapar dessa reviravolta do destino? Ele pensou seriamente nisso, mas não viu nenhuma esperança. Se ele pudesse aprender algo sobre Touko Kirishima, essa seria sua principal prioridade, mesmo ao custo de um encontro com Mai.

Desde que Ikumi Akagi havia transmitido aquela mensagem do outro mundo potencial… até ele saber o que significava, ele teria que seguir qualquer pista.

“Himeji, você está livre no dia 24?”

“Se você absolutamente insistir, Sakuta-sensei, eu posso fazer disso um encontro.”

“Vai estar frio, então se vista de forma quente.” Essa era a única batalha que ele tinha uma chance de vencer aqui.

 

“Isso está ficando estranho.” Relaxando na banheira, Sakuta estava falando consigo mesmo novamente. Ele olhou para a água e viu seu próprio rosto meio bobo refletido de volta. Realmente tinha tomado um rumo estranho. No entanto, apesar disso, duas coisas estavam claras.

Primeiro, o sonho que ele teve sobre a véspera de Natal. Pelo menos agora ele sabia por que estava com Sara. Segundo, a natureza da Síndrome da Adolescência de Sara. Ele não havia observado nada sobrenatural acontecendo ao redor dela, e isso explicava o porquê.

“Visualização remota…” Ela havia dito que, não importa quão longe ela estivesse, podia saber o que alguém estava fazendo e pensando. Tudo acontecia inteiramente dentro da mente dela, o que tornava difícil para ele perceber. Mas como seria isso?

Se ele aceitasse o que ela disse ao pé da letra, ela poderia até vê-lo agora, no banho. Mas, assumindo que ela havia cumprido a palavra, estava mostrando discrição e não espiando-o em momentos como aquele. Em outras palavras, ela não estava o vendo naquele exato momento. Logicamente, não importava o que ele fizesse ou pensasse, Sara não saberia.

“Se a causa realmente for entrelaçamento quântico…” Uma ideia começou a se formar em sua mente.

Rio havia lhe dado uma aula sobre entrelaçamento quântico há um tempo. Duas partículas que colidiam com uma certa força inexplicavelmente começavam a se comportar da mesma forma. Uma vez conectadas assim, não importava o quão distantes estivessem, sempre agiriam da mesma maneira, um fato desconcertante.

Naturalmente, tudo isso ocorria em uma escala muito pequena para ser vista a olho nu. Rio havia insistido que era ridículo aplicar isso em um nível macro. Mas se ele escolhesse ser ridículo, então, não importava quão distantes ele e Sara estivessem, seu estado seria comunicado a ela. É assim que ela podia ver o que ele via e saber o que ele estava pensando.

E se isso fosse verdade, o inverso poderia ser também. Será que Sakuta poderia compartilhar o estado de Sara? Talvez ele já estivesse compartilhando. E apenas não tivesse percebido. Não sabia que estavam entrelaçados. Ou não acreditava nisso. A verdade se manifestava quando era percebida.

“Parece um tiro no escuro…” Mas ele tentou fechar os olhos.

Naturalmente, ele não conseguia ver nada. Tudo o que podia ouvir era o zumbido do ventilador do banheiro. Ele não conseguia ver ou ouvir mais nada. Isso era normal. O resultado natural. Fazia sentido que as coisas não fossem tão fáceis. As ideias de Sakuta raramente davam certo. Talvez se Rio tivesse sugerido…

Mas mal esse pensamento cruzou sua mente, ele ouviu música tocando.

“……” Ele não estava imaginando coisas. Aquilo era música. Parecia que ele estava com fones de ouvido. E agora ele tinha certeza de que era exatamente o que estava ouvindo. Ele já tinha ouvido essa música antes. Era uma das canções de Touko Kirishima.

Ele abriu os olhos e percebeu que sua mente não estava mais na banheira. Ele estava deitado em uma cama, em um quarto completamente novo. De bruços, com um travesseiro como apoio, mexendo em um telefone. Olhando roupas de inverno para encontros. Obviamente animado. Aquela emoção de antecipação. Havia pensamentos claros também.

“Isso é fofo. Será que Sakuta-sensei gosta desse tipo de coisa? Urgh, eu simplesmente não sei. O que eu escolho? Vamos achar algo melhor.” Os dedos passavam pela tela.

“Preciso decidir para onde ir. Se acabarmos indo para a faculdade dele… Temos que ir a Kamakura primeiro, né. Nesse caso…” Como se interrompendo o fluxo de pensamentos, uma voz veio de fora do quarto.

“Sara, vai tomar banho. Ou o papai vai primeiro!”

“Ah, espera! Estou indo!”

A música parou, e os fones de ouvido foram retirados. Ao se levantar da cama, ele viu de relance um quarto de menina todo fofo. O padrão das cortinas, as pequenas decorações na mesa, incluindo um cacto em miniatura… A garota abriu o armário e pegou um pijama e roupa íntima limpa. Ele podia ver Sara refletida no espelho próximo.

Toda a sequência parecia como olhar em um espelho e ver outra pessoa. Ele se assustou e abriu os olhos.

“……” De volta ao velho banheiro. Seu rosto bobo ainda flutuava na água.

“Acho que é assim que se sente.”

Quando Sara falou sobre visualização remota, ela não quis dizer que podia vê-lo. Ela via o que ele via. Seus pensamentos ecoavam dentro da cabeça dela. Uma experiência estranha, de fato. Ele pensou em experimentar mais… Mas Sara estava prestes a tomar banho, então não era o momento adequado. E seria melhor não deixá-la saber que ele podia vê-la de volta. Ela provavelmente não apreciaria isso.

Sakuta considerou o que havia visto. Ela estava realmente ansiosa para isso. Para o dia 24 de dezembro. Era isso que ele queria… Mas ver isso por si mesmo trouxe uma pontada de culpa. Não era um sentimento agradável. Ele não estava confortável com boa parte disso, especialmente tentando tirar vantagem da Síndrome da Adolescência dela.

“Yeesh…” Mas ele não podia se dar ao luxo de recuar. Ele não tinha intenção de recuar.

“Sakuta, ligação da Mai.” A voz de Kaede veio de fora da porta.

“Diga a ela que eu vou ligar de volta!” ele disse, levantando-se da banheira.

Ele tinha ficado na água por mais tempo que o normal e se sentia um pouco tonto. Mas não tinha tempo para ficar sentado se abanando. Mesmo nesse estado, ele precisava pensar rápido. Como ele iria contar a Mai sobre o dia 24?

“Seria ótimo se pudéssemos adiar a viagem…” Fora do banheiro, ele fez uma oração silenciosa e discou o número de Mai.

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