Seishun Buta Yarou – Capítulo 4 – Vol 10 - Anime Center BR

Seishun Buta Yarou – Capítulo 4 – Vol 10

Capítulo 4

Tendo terminado seu turno no restaurante, Sakuta saiu da loja e encontrou o céu nublado. Talvez isso fosse resultado do tufão que pairava sobre as Ilhas Ogasawara durante toda a semana. No momento, o tufão estava se dirigindo para o norte sem desacelerar. Contudo, o relatório meteorológico previu que ele se transformaria em um ciclone extratropical antes de atingir o continente e passaria pelas águas ao sul de Kanto no início da próxima semana. Provavelmente, não ficaria muito ruim por aqui.

Mas isso não significava que não haveria efeitos. Já era metade de outubro, mas o ar havia retornado aos níveis de umidade do meio do verão. Ele ia sair com Mai hoje, mas o tempo não estava cooperando. Eram 15h10, e eles se encontrariam em cinco minutos. Mai havia dito para encontrá-lo em frente ao restaurante onde ele trabalhava, então tudo o que ele tinha que fazer era sair, e ele estaria lá.

Imaginando que ela viria da estação, ele olhou naquela direção e deu alguns passos na estrada a partir da entrada. Já eram quase 15h15. Ainda não havia sinal de Mai. Ela era pontual e quase nunca se atrasava. Mas Sakuta não viu ninguém chegando que se parecesse com ela. Ela não estava aparecendo na hora certa; isso era realmente um atraso. O que ele poderia arrancar dela como desculpa?

Seu coração se encheu de esperança, ele apertou os olhos em direção à estação novamente, e um carro vindo da direção oposta parou ao seu lado.

“……?”

Era quase como se aquele carro estivesse lá para ele. Confuso, ele se virou na direção do veículo.

Era um carro de dois tons. A carroceria era branca, mas as molduras das janelas e o teto eram pretos. Os para-lamas e os retrovisores laterais também eram pretos, e o carro todo tinha curvas arredondadas. Parecia um pouco com um panda. O carro era um compacto fabricado por uma empresa alemã, o design o tornara bastante popular, e ele o via pela cidade com bastante frequência. Esse modelo tinha cinco portas, incluindo o espaço para bagagem. A porta se abriu, e alguém saiu do assento do motorista.

“Entre”, uma voz veio de cima do teto. Inconfundivelmente, era a voz de Mai.

“Hum… Mai?” ele disse, sem saber por onde começar.

“Depressa.”

Ela se sentou novamente no banco do motorista sem esperar por uma resposta. Ele tinha infinitas perguntas, mas ela claramente estava com pressa, então ele subiu no banco do passageiro. Era mais espaçoso do que parecia.

“Estou dentro.”

“Cinto de segurança?”

“Colocado.”

“Então, vamos sair.”

Com as mãos no volante, Mai verificou os espelhos. Ela esperou um carro passar, ligou o pisca-pisca e acelerou suavemente. O carro saiu silenciosamente. Gradualmente acelerou, afastando-se do restaurante. Logo, o teto do prédio estava fora de vista.

Eles seguiram direto pela estrada, a escola preparatória dele passando num piscar de olhos. Quando ele se virou para olhar, já havia sumido. Ele olhou de lado para Mai. Ela parecia completamente confortável ao volante. Ela usava óculos falsos, o cabelo preso frouxamente e caindo na frente. Isso deixava a nuca exposta, o que sempre era sexy.

“Hum, Mai?”

“O que?” Ela mantinha os olhos na frente.

“O que é isso?”

“Um carro. Já ouviu falar?” Claro que ele tinha.

“Você comprou um?”

Isso era menos uma pergunta e mais uma confirmação. Mai era a Mai Sakurajima, então comprar um carro dificilmente contava como uma grande despesa. Ela havia comprado um apartamento enquanto ainda estava no ensino médio… tornando isso uma compra relativamente trivial.

“Logo antes das férias de verão. Mas então eu estava em gravações, então pedi para adiarem a entrega.”

“Sua carteira?”

“Eu tenho uma, obviamente.” Dirigir sem uma era ilegal.

Eles foram pegos por um sinal logo depois da Estação de Fujisawa, então ela pegou sua bolsa, tirou a carteira e mostrou a carteira de motorista para ele.

Certamente dizia Mai Sakurajima, com seu endereço de Fujisawa listado. O artigo genuíno. E, claro, tinha uma foto dela para acompanhar. Fotos de identidade tendem a ficar horríveis, mas a de Mai parecia exatamente com a Mai Sakurajima. Surpreendente.

Pensando bem, a foto da carteira de estudante dela também parecia totalmente com a Mai Sakurajima. Havia algum truque para isso? Ou era apenas uma questão de material bruto superior? Provavelmente ambos, então ele decidiu não perguntar.

Não faria diferença para ele se a foto do seu cartão de estudante tivesse olhos de peixe morto. Ele sempre podia arrancar risadas ao mostrá-la para as pessoas, espalhando um pouco de alegria pelo mundo.

“Então, quando você tirou a carteira?”

“No ano passado, enquanto eu estava gravando a novela da manhã. Frequentei a autoescola conforme a agenda permitia.” De outono a primavera, então.

“Se você tivesse tempo livre, poderia ter saído mais comigo.”

“Você estava muito ocupado estudando, e você sabe disso.” Então, isso agora era culpa dele?

“Você não tinha tempo para mim, então fui forçada a tirar a carteira para me manter ocupada.”

E, no entanto, ela ainda havia feito sua parte para ajudá-lo a estudar. Impressionante.

“Suspiro…”

“O que foi isso?”

“Eu estava planejando fazer aulas eu mesmo, uma vez que tivesse economizado um pouco.”

“Não deixe que eu o impeça.”

“Tirar minha carteira em segredo, então surpreendê-la com um encontro de carro.”

Ele imaginou que isso poderia permitir que passasse mais tempo com alguém tão famosa quanto ela. Ela era boa em passar despercebida, mas seu escritório estava sendo extra cuidadoso ultimamente, e a maior parte do tempo de viagem dela era agora na van do gerente.

“Bem, eu fiz exatamente a mesma coisa,” disse Mai, sorrindo.

“Você tirou a carteira para me levar a um encontro?”

“Exatamente. Um carro torna muito mais fácil sair.”

“E não porque você precisava para uma gravação?”

“Bem, isso também.”

“Eu imaginei.”

“Pare de resmungar e navegue.”

“Para onde?”

“Odaiba. Vamos assistir a um show, certo?”

Enquanto ele começava a dar as direções, Mai ligou o estéreo e tocou músicas do Sweet Bullet para criar o clima.

Mai fez alguns desvios a caminho do local do show, e eles ficaram presos em alguns trechos de congestionamento, mas chegaram a Odaiba logo após as cinco, quando o sol começava a se pôr. Ela certamente deu um susto em Sakuta quando disse:

“Ouvi dizer que você e Hirokawa saíram para um encontro?”

Mas estar sozinho com Mai em um carro fechado era uma experiência nova, e ele aproveitou cada segundo.

“Nós só fomos a Misakiguchi, comemos um pouco de atum e andamos de bicicleta pelos campos de rabanetes.”

“Isso é o que chamamos de encontro.”

Ele fez desculpas, mas vinha pensando a mesma coisa o dia todo, então mudou de assunto o mais rápido possível. O tráfego havia aumentado em Odaiba, mas por volta das cinco e meia, conseguiram encontrar uma garagem com vagas e deixaram o carro lá. Quando saíram da garagem, já eram 17h40.

O show em si estava previsto para começar às seis. Os portões já estavam abertos, e o saguão provavelmente estava lotado de fãs ansiosos para ver seus ídolos favoritos. Sakuta e Mai não estavam com pressa, e caminharam tranquilamente pela calçada. Eles sempre planejaram entrar no último segundo, evitando chamar a atenção. As estradas estavam mais movimentadas do que o esperado, mas, provavelmente, isso significava que chegaram no horário certo.

Sendo sábado, Odaiba estava cheia de pessoas buscando diversão. A multidão era predominantemente jovem. Muitos tinham vinte ou trinta e poucos anos. E muitos turistas estrangeiros. Mai estava andando ao lado dele. Ela havia trocado seus óculos falsos por um chapéu e máscara. Ela usava um suéter fofo no carro, mas agora vestia uma jaqueta larga, escondendo uma figura invejada por mulheres em todos os lugares. Nem sua expressão nem sua silhueta se pareciam com a Mai Sakurajima que todos conheciam. Talvez para facilitar a direção, ela estava usando calças skinny, então esse visual realmente enfatizava suas pernas longas e esguias, jaqueta larga ou não. Mesmo disfarçada, Mai sempre conseguia projetar uma aura de beleza.

Enquanto atravessavam um cruzamento movimentado, Mai passou o braço ao redor do de Sakuta, com os dedos descansando levemente logo acima do cotovelo dele.

“Para você não se perder”, ela explicou.

“Eu não tenho um telefone, então não se atreva a soltar.”

Estava tão lotado que tiveram dificuldade em não esbarrar nos pedestres que vinham na outra direção. Se ele perdesse Mai ali, estaria perdido.

“Você já esteve aqui antes, Sakuta?”

“Não. Nunca tive motivo para vir.”

Então ele realmente não sabia para onde estavam indo. Mai parecia estar indo com propósito, então ele a seguia.

“Você vem aqui com frequência?”

Havia uma estação de TV nas proximidades, então ele podia ver por que ela conhecia bem o local.

“Não com frequência, mas ocasionalmente. Principalmente para trabalhar.”

Logo ele avistou um grande shopping à frente. Havia um robô gigante na frente que parecia ter mais de vinte metros de altura. Partes dele estavam brilhando em vermelho. Sakuta não pôde deixar de ficar boquiaberto.

DiverCity Odaiba não brincava em serviço. Esse lugar tinha de tudo. Uma verdadeira cornucópia.

“Ele se transforma”, disse Mai.

“Sério?”

Parecia valer a pena ver, mas Mai nem desacelerou. Ela o puxou além do robô em direção ao local do show mais adiante.

Lá dentro, Mai avistou a recepção para funcionários e convidados.

“Vá em frente”, ela disse, soltando-o.

“Eu?”

“Nodoka não te disse que haveria dois ingressos em nome de Azusagawa?”

“Ela não disse.”

Colocar os ingressos em nome de Mai Sakurajima provavelmente atrairia atenção indesejada.

Sakuta dirigiu-se à recepção, e uma mulher de terno perguntou:

“Posso saber seu nome, por favor?”

“Azusagawa.”

A mulher conferiu a lista sobre a mesa e encontrou o nome dele imediatamente. Ele pôde perceber pelo olhar dela.

“Aqui estão dois ingressos. Pode entrar.”

“Obrigado.”

“De nada.”

Ele deixou a recepção e se juntou a Mai, e seguiram mais para dentro. Descendo um pequeno corredor, abriram as portas à prova de som e entraram no salão do show.

A área de pé já estava lotada. Mesmo no fundo, não havia espaço para os cotovelos. Isso ainda era menos de duas mil pessoas? Eles se moveram ao longo da parede de trás, encontrando um pequeno espaço para ocupar. E, enquanto faziam isso, um locutor começou a ler as regras: nada de gravações, nada de subir no palco, não incomodem os outros, animem-se, mas não exagerem, etc.

Esse show era conjunto, com quatro grupos de idols diferentes se apresentando três ou quatro músicas cada. Sweet Bullet era o segundo grupo a se apresentar. Ele havia ouvido um homem perto da recepção, provavelmente outro espectador, dizer que havia rumores de um convidado secreto, então poderia haver mais um grupo.

Mas o convidado mais secreto provavelmente era Mai.

“A qualquer momento agora,” ela disse, conferindo a hora no celular.

Um segundo depois, a música começou a tocar alto, e o primeiro grupo correu para o palco.

“Vamos lá, Odaiba!”

Seis garotas ao todo, vestidas inteiramente de preto, sua música era áspera e poderosa. Nem todos os grupos de idols eram fofos, bem-comportados e pop. Havia grupos que se inclinavam para estilos de rock, metal ou punk.

Uzuki havia dito que havia milhares de grupos de idols por aí. Embora muitos seguissem as principais tendências, era natural que alguns desafiassem a moda. Esse tipo de competição ajudava a criar novas coisas e as tendências do futuro.

Nem todos na indústria tinham o que era necessário para ser a próxima Mai Sakurajima. Superestrelas como ela eram raras.

Sakuta virou-se para olhar para ela, e ela percebeu sua atenção, olhando de volta para ele, com os olhos perguntando: ‘O que foi?’ Ele balançou a cabeça, indicando que não era nada. Ela revirou os olhos com uma risada. Nada de especial nesse vaivém, mas foi um momento feliz, mesmo assim.

O primeiro grupo cantou três músicas. Seus fãs gritavam os nomes dos membros, e seus aplausos chegavam ao palco. As garotas acenaram de volta e então correram para fora. Assim que o palco foi liberado, as luzes se apagaram intencionalmente.

“Ooooh!”

A antecipação do público era como um murmúrio baixo subindo do chão. Um momento depois, um brilho suave iluminou o palco. O espaço vazio agora estava preenchido com as cinco integrantes do Sweet Bullet, de costas para a plateia. Uma a uma, elas se viraram, cantando um breve solo. A última a se virar foi a garota no centro, Uzuki. A música começou com um arranjo do refrão, mas agora o  principal cantor se destacava.

As vozes dos fãs ecoaram pelo intro. “Zukki!” “Doka!” “Yanyan!” “Ranran!” “Hotarun!” Mas eles não queriam estragar a música em si, então, quando a melodia principal começou, limitaram-se a agitar as varinhas de luz, movendo-se com a música logo abaixo do palco.

O grupo foi impulsionado por seus fãs, embora fosse Uzuki quem conduzia os vocais do grupo. Sua voz acertava cada nota e capturava a emoção por trás de cada letra, e o resto das garotas seguiam seu exemplo. Ela era o núcleo da apresentação, e era sua performance que unia a música. Mesmo com o volume de um show, cinco vozes em harmonia se sentiam estranhamente confortáveis.

Já fazia um ano desde que Sakuta havia ido a um show do Sweet Bullet. Durante o verão do ano anterior, um problema familiar fez com que Kotomi Kano desistisse na última hora, e Kaede havia forçado seu ingresso nas mãos dele. Ele não voltara desde então. Estava claro que haviam feito melhorias dramáticas. Todas eram melhores cantoras agora. Elas realmente cantavam com força.

A coreografia sempre fora polida, mas agora estava ainda mais unificada. Do membro mais alto ao mais baixo, todos os movimentos eram como um só, sincronizados. Esse nível de polimento realmente chamava a atenção. Era difícil desviar o olhar.

Mesmo os membros do público que estavam ali para os outros grupos foram atraídos. Ele podia ver mandíbulas caindo ao seu redor. Mas, mesmo com esse nível de magnetismo, Uzuki havia dito que estavam longe do Budokan. Precisavam de cinco vezes mais fãs do que tinham agora.

O que mais poderiam fazer? Sakuta não acreditava que a performance do Sweet Bullet fosse de alguma forma inferior. Elas tinham as habilidades, então por que o crescimento estava estagnado? Sakuta não era a pessoa indicada para encontrar a resposta. Se a solução fosse tão fácil de descobrir, elas já teriam resolvido e estariam no palco do Budokan agora.

Enquanto esses pensamentos passavam por sua cabeça, o show impecável do Sweet Bullet começou a desmoronar. A princípio, era algo menor, quase como se ele estivesse imaginando. Mas parecia que a dança de Uzuki estava ligeiramente atrasada. Talvez fosse intencional.

Isso só se tornou óbvio quando Uzuki e Nodoka trocaram de posição. Os olhos de Nodoka mostraram uma preocupação momentânea. Ele olhou para Mai, e ela estava franzindo a testa. Algo estava errado. Os fãs começaram a perceber, e os bastões luminosos tremulavam. Todos os olhares se voltaram para Uzuki.

Uzuki continuava dançando ligeiramente fora do ritmo, seus olhos fixos no vazio. Seu sorriso não desaparecia, mas ela não estava olhando para os fãs. Sakuta estava realmente preocupado. Ele não sabia o que estava acontecendo. Não sabia se algo estava prestes a acontecer. Mas, no mínimo, sentia que isso não era algo que pudesse ser justificado como ‘um mau dia’.

E esse instinto se provou correto.

Quando chegaram ao segundo refrão, aconteceu. A voz de Uzuki falhou, como se as palavras ficassem presas na garganta. Seu microfone captou um som rouco, quase como um gemido de dor. Mas a música do Sweet Bullet não parou. Nodoka e as outras integrantes assumiram o solo de Uzuki. Uzuki estava no meio delas, ainda segurando o microfone e cantando. Mas parecia que seu microfone não estava captando nenhum som.

“Problemas de áudio?” Mai sussurrou. Mas ela claramente estava preocupada com outra coisa. O mesmo que Sakuta.

A primeira música terminou. Todas as integrantes do Sweet Bullet estavam de frente para a plateia em uma linha.

“Olá, pessoal!” Yae Anou disse, como se nada estivesse errado. Como esperado da sublíder do grupo, ela assumiu o comando com facilidade.

“Nós somos…”

“…Sweet Bullet!” Todas gritaram em uníssono. Mas os microfones só captaram quatro vozes. A de Uzuki não estava entre elas. Ela mexeu os lábios, mas Sakuta não conseguiu entender nada. Provavelmente não entenderia mesmo se estivesse bem na frente.

Possivelmente ciente do problema, Yae manteve a conversa breve, dizendo:

“Estamos com pouco tempo, então vamos voltar à música! Temos mais duas músicas para vocês!”

Antes da próxima música começar, todas, exceto Uzuki, trocaram olhares rápidos. Havia muito significado por trás de cada olhar, um testemunho de quanto tempo haviam passado juntas.

Sweet Bullet passou pela segunda e terceira músicas sem incidentes maiores. Como na primeira música, Uzuki estava ligeiramente fora de ritmo e claramente apenas mexendo os lábios, mas não mostraram sinais de cancelar a apresentação. Durante todo o tempo em que estavam no palco, estavam todas brilhantes e radiantes como idols deveriam ser, sorrindo.

Quando saíram correndo, o terceiro grupo subiu ao palco, mantendo a animação. Antes da primeira música começar, Mai disse:

“Vamos.” E Sakuta a seguiu para o hall.

Pouco ruído passava pelas portas à prova de som. Era como um mundo diferente lá fora. Como se estivessem de volta à realidade. Eles saíram do prédio e caminharam em direção ao estacionamento. Enquanto atravessavam o primeiro semáforo, Sakuta se forçou a falar.

“Mai, isso foi…?”

“Acho que a voz dela morreu.” Ele havia suspeitado disso.

“Duvido que receberemos uma resposta em breve, mas vou mandar uma mensagem para Nodoka,” ela disse, e saiu do caminho principal.

Sakuta ficou ao lado dela, as palavras de Mai ecoando em sua mente.

“Acho que a voz dela morreu.” Ele se perguntou o que isso significava para alguém que cantava.

A resposta de Nodoka chegou uma hora depois. “Estamos no hospital.” Uma mensagem curta para o telefone de Mai. Parece que, assim que saíram do palco, levaram Uzuki para um médico.

Mai perguntou onde estavam, dizendo que iria buscá-la, e descobriu que o hospital ficava perto de Odaiba. Quando Sakuta e Mai chegaram ao hospital, já eram oito e meia da noite. O estacionamento estava quase vazio. Mai puxou o freio de mão, soltaram os cintos de segurança, abriram as portas e saíram do carro.

“É essa a entrada certa?” Mai perguntou.

O horário de atendimento ambulatorial havia terminado. A entrada dos fundos tinha uma luz vermelha acesa para pacientes de emergência, e era a única passagem que parecia ter luzes acesas. Pensando que poderiam entrar por outro lugar se os funcionários dissessem, eles seguiram em direção a essa entrada. No caminho, encontraram alguns rostos familiares.

Uzuki, com um casaco de banco sobre os ombros. Ela ainda estava com o traje de palco e nem sequer havia removido a maquiagem. Quase como se tivesse tirado as joias e corrido direto para lá. Ao seu lado estava sua mãe, Sakuta a conhecera uma vez, há um tempo. Ela tinha sido adolescente quando teve Uzuki e ainda não havia deixado os trinta para trás, definitivamente não parecia ter uma filha na faculdade.

As duas viram Sakuta e Mai se aproximando.

“Sakuta! Há quanto tempo,” a mãe chamou.

“E Mai.” Ambos acenaram com a cabeça. Então se voltaram para Uzuki.

“Você está bem, Zukki?” Sakuta perguntou.

“……”

Ela não respondeu. Apenas sorriu de maneira constrangida.

“Desculpe, a voz dela simplesmente não está funcionando agora,” a mãe dela disse, sem mudar o tom.

“……”

“……”

Isso deixou Sakuta e Mai sem palavras. Mai havia acertado. Sua voz realmente havia morrido. No carro, a caminho do hospital, Mai contou a Sakuta algumas histórias sobre pessoas com esses sintomas. Muito estresse ou más notícias no trabalho que as deixavam temporariamente incapazes de falar, por mais que tentassem. Ela já havia visto pessoas perderem a audição ou começarem a falar de forma arrastada, também.

Ele não achava isso difícil de acreditar porque havia vivido a perda de memória causada pelo transtorno dissociativo de Kaede. As emoções e os corpos humanos estão mais entrelaçados do que a maioria das pessoas pensa.

“Nos disseram para descansar por enquanto. Ela tem estado ocupada,” disse a mãe de Uzuki.

“Bem, provavelmente não tanto quanto você, Mai.”

Uzuki parecia querer dizer algo, mas…não conseguia. Sua boca se abria e fechava constantemente. Sakuta estava observando-a fazer isso, e ela notou, encontrando seu olhar. Ela conseguiu sorrir e rapidamente desviou o olhar.

“Se vocês estão aqui por Nodoka, ela ainda está lá dentro, conversando com o gerente, sobre amanhã….”

O Sweet Bullet tinha um concerto no domingo também. Isso exigiria planos de contingência.

A mãe de Uzuki tirou as chaves do carro do bolso do casaco. As luzes de uma minivan atrás deles piscavam.

“Odeio ir embora, mas vou levá-la para casa.”

“Se cuida.”

O que mais ele poderia dizer? Uzuki acenou para ele, fez um aceno com a cabeça na direção de Mai e entrou no banco do passageiro. Sua mãe certificou-se de que o cinto de segurança estava colocado, acenou para eles e dirigiu para longe.

A van saiu silenciosamente do estacionamento do hospital.

Metade das luzes nos corredores do hospital estavam apagadas, e estava bastante sombrio. Não havia ninguém por perto. Os passos de Sakuta e Mai ecoavam. O corredor seguia por um bom tempo, mas quando viraram a esquina, ficou muito mais iluminado. Eles ouviram vozes.

“Então você está falando em fazer Uzuki seguir carreira solo?”

O falante parecia irritado. Era Nodoka? Eles pararam, espiando à frente. Cinco figuras estavam diante do balcão de atendimento ambulatorial de medicina interna. Estavam em uma pequena área de reunião, mas nenhuma delas havia se sentado. As integrantes do Sweet Bullet estavam todas usando os mesmos casacos de banco que Uzuki. Nodoka Toyohama, Yae Anou, Ranko Nakagou e Hotaru Okazaki. Todos os quatro pares de olhos estavam voltados para uma mulher adulta que enfrentava elas.

“A manager da Nodoka,” Mai sussurrou.

Ela parecia ter cerca de trinta anos. Usava um blazer bem cortado e óculos que a faziam parecer inteligente e calma. Definitivamente, não estava tendo o melhor dia, mas não parecia defensiva.

“E então?” Yae disse.

“Você tem que nos contar!” Hotaru disse. Ela tinha uma voz meio infantil.

“Manager!” A última súplica veio de Ranko, a integrante que parecia mais adulta.

“…Tudo bem,” a gerente disse, levantando as mãos.

“O chefe disse para manter isso em segredo, mas é verdade. Há conversas sobre ela seguir carreira solo.”

“Isso significa que ela vai se formar?” Hotaru perguntou.

Ela não especificou se formar do quê, porque todos já sabiam, e provavelmente ela não queria dizer isso em voz alta.

“……”

Mas nenhum dos lados disse mais nada.

Se ele tivesse cronometrado, o silêncio provavelmente teria durado apenas cinco segundos. Mas com certeza pareceu agonizantemente longo.

“O chefe acha que isso é o melhor.”

“……!” As quatro garotas morderam os lábios.

“Mas Uzuki rejeitou a ideia.”

“……”

Nodoka olhou para cima, franzindo a testa. Ela não estava pronta para comemorar.

“Por quê?” ela perguntou.

“Eu não saberia dizer.”

“Quando isso aconteceu?” Yae perguntou.

“Logo depois que filmaram o comercial. Tipo… no final de agosto?”

“Isso é…” Ranko ofegou. Provavelmente quis dizer ‘há tanto tempo?’

“Na época, o chefe deixou isso de lado. Mas depois de ver como as pessoas reagiram… bem, ele não conseguiu deixar pra lá. Ele quer que mais pessoas vejam como ela é incrível. A verdade é que temos recebido ofertas para lançar uma carreira solo dela de alguns grandes nomes.”

Sakuta presumiu que isso significava grandes produtores do ramo musical.

“E vocês contaram isso para Uzuki?” Yae perguntou, certificando-se.

Parecia que ela estava digerindo cada pedaço de informação, um de cada vez. Nodoka estava ao lado dela, com a mesma expressão no rosto, pensando profundamente.

“Não contamos. O chefe disse que estava esperando o momento certo.”

“Então por que Zukki está agindo de maneira estranha?” Hotaru perguntou. Essa pergunta foi direto ao ponto da questão.

“……”

Mas parecia que as integrantes do grupo não tinham respostas.

Todas haviam percebido. Todas notaram a mudança em Uzuki.

E todas secretamente assumiram que isso devia estar relacionado à oferta de carreira solo. Mas, pelo que a gerente disse, essa teoria estava equivocada.

Mas elas não podiam ter certeza. Não tinham pistas suficientes. O que Uzuki estava carregando que a deixou sem voz?

“E vocês?” a gerente perguntou.

“Alguma ideia do que poderia estar pesando sobre ela?”

“……”

Ninguém disse nada. Outro longo silêncio. Mas este tinha um significado muito diferente. As garotas estavam se olhando. E definitivamente tinham ideias.

“Vou tomar isso como um sim.”

“……” Mas ainda assim nenhuma delas falou.

“Se não quiserem me contar, tudo bem. Podem descobrir?”

Yae assentiu, por todas.

“Então estaremos lá amanhã, conforme planejado.”

“SIM”  as quatro disseram em uníssono.

“Apenas estejam preparadas para o pior.” Mesmo Sakuta sabia o que isso significava.

Se Uzuki ainda não tivesse sua voz…

Ninguém falou durante o caminho de volta para casa. Havia um passageiro a mais desta vez, mas o silêncio reinava. Com as mãos no volante, Mai se concentrou na direção. Sakuta estava no banco do passageiro, e Nodoka estava atrás dele, olhando pela janela, observando o mundo passar. No espelho lateral, ele podia ver uma expressão melancólica no rosto dela.

Por um tempo, o carro seguiu pelas vias principais, mas ao passarem por Yoga, Mai fez uma grande curva e entrou na estrada pedagiada Daisan Keihin. Eles passaram pelo portão de coleta eletrônica de pedágio e aceleraram. Quando o rio Tama passou por baixo deles, o carro de Mai já estava integrado ao tráfego, a uma velocidade de oitenta quilômetros por hora. A partir daí, eles continuaram a viagem, cobrindo uma boa distância.

Incapaz de suportar o silêncio opressivo por mais tempo, Sakuta abriu o refrigerante que comprou na loja de conveniência antes do concerto. Sabor de pêssego. Ele deu um gole.

“Está bem gostoso.”

“……”

“……”

Mai e Nodoka não se deram ao trabalho de responder. Lá se foi sua tentativa de aliviar o clima. Que recompensa cruel.

Ele ainda estava atordoado quando uma voz do banco de trás o atingiu.

“No camarim antes do show…”

Quando todas as outras emoções estavam sendo contidas, apenas o arrependimento permanecia. Não havia traço da vivacidade usual de Nodoka em sua voz. Soava tão diferente que, por um momento, Sakuta nem percebeu que era ela.

Ele verificou o espelho novamente, e ela estava com o cotovelo apoiado no batente da porta, a cabeça encostada no vidro. Seus olhos ainda estavam na paisagem, mas provavelmente não viam muita coisa.

“Uzuki nos perguntou algo.”

Mai não disse nada. Sakuta seguiu seu exemplo, esperando.

As próximas palavras de Nodoka foram muito suaves.

“Vocês acham que conseguimos chegar ao Budokan?”

“……”

“Em qualquer outro dia, eu teria dito: ‘Você sabe que conseguimos.’ Ou ‘Vamos fazer acontecer.’ Eu sempre digo.

O sussurro de Nodoka quase se perdeu no ronco do motor.

“Era algo que sempre fazíamos. Quando estávamos chateadas por um show ser cancelado ou cometíamos um erro no trabalho e perdíamos a confiança. Quando nos dedicávamos às aulas de canto e dança, mas não víamos aumento no número de fãs e sentíamos vontade de chorar. Quando Aika e Matsuri se formaram. Sempre que uma de nós se sentia esmagada por tudo isso, era como nosso código. ‘Vamos alcançar o Budokan juntas.’ Era assim que sempre nos reerguíamos.”

Sua voz estava embargada. Não de tristeza, nem de solidão, e obviamente não de alegria. Era arrependimento. Ela estava decepcionada consigo mesma. Seus olhos estavam se enchendo de lágrimas.

“Eu sempre disse isso, mas hoje não consegui.”

“……”

“Nem eu, nem ninguém. As palavras são tão fáceis, mas quando Uzuki perguntou, ninguém disse nada.”

“……”

“E eu sei por quê. A primeira a falar sempre era Uzuki. Ela sempre foi quem nos tirava dos nossos desânimos.”

Era fácil seguir depois. Alguém já tinha dito. Alguém já tinha feito a escolha. O fardo não estava sobre elas.

“Uzuki estava mantendo todas nós de pé. E agora ela é quem está perdida… e não pudemos fazer nada por ela.”

Sakuta não achava que isso fosse completamente verdade. Quando a voz de Uzuki falhou no meio do show, todas as integrantes do Sweet Bullet se uniram para ajudar. Foi um problema que poderia facilmente ter arruinado tudo, mas elas escolheram não cancelar e continuar a apresentação. Apenas elas poderiam ter conseguido isso.

Definitivamente, havia fãs que perceberam que algo estava errado. Mas, como o show continuou, eles não se preocuparam. Os resultados falaram por si mesmos. Foi o melhor resultado possível, dado o que elas estavam enfrentando. Não era um truque que se pudesse realizar de última hora. Nodoka havia mencionado que estavam passando muito menos tempo juntas ultimamente, mas o concerto de hoje demonstrou a profundidade do poder delas como grupo. E o público estava tão envolvido porque isso transpareceu.

Mas dizer isso agora significaria pouco para ela.

“Eu apenas assumi que Uzuki sempre ficaria bem.”

O carro ainda estava em movimento. Mai ainda não estava dizendo nada. Sakuta olhou de lado para ela, mas ela apenas mantinha uma distância segura do SUV branco à frente.

O carro de Mai já tinha passado por Kawasaki e estavam entrando nos limites da cidade de Yokohama. Ela pegou uma saída para o Yokohama Shindo. A tela do navegador mostrava que só precisavam passar pelo pedágio em Totsuka e depois seguir pela Rota 1 até Fujisawa. Por um tempo, eles dirigiram em silêncio. Finalmente, Mai perguntou:

“O que você vai fazer amanhã?”

Ela perguntou em um tom totalmente comum. Suas mãos descansavam no volante e sua expressão estava relaxada.

Nodoka se sobressaltou com a pergunta e tirou o rosto da janela. Ela endireitou a postura, suas costas um pouco rígidas demais.

Talvez ela pensasse que seria repreendida por todo aquele desabafo.

Mai geralmente era super legal e, embora não dissesse isso frequentemente em voz alta, ela realmente desejava todo sucesso para Nodoka. Ela sempre baixava a música quando lançavam uma nova canção e comprava o CD também. Hoje, no caminho para o show, ela tinha colocado músicas do Sweet Bullet no carro.

Mas o outro lado disso era que ela podia ser meio dura quando alguém reclamava das dificuldades da vida de celebridade. Ela era tão dura consigo mesma, e isso era parte do motivo pelo qual mantinha sua popularidade.

O próprio Sakuta tinha se deslocado para o lado da janela do banco. Ele já havia sofrido danos colaterais de uma dessas discussões antes. Ela provavelmente não começaria a dar tapas em ninguém no carro, mas seu reflexo de fuga havia sido ativado.

Mai percebeu e lançou um olhar rápido para ele, mas não disse nada. Ele quase preferia que ela tivesse dito algo. O silêncio era assustador.

“Amanhã seremos só nós quatro. Sem Uzuki.”

“Vocês conseguem?”  Mai perguntou.

“Sim. Obviamente.”

O tom de Nodoka não parecia muito confiante. Ela ainda estava com medo. Elas não tinham certeza se conseguiriam fazer isso. Mas ela queria que desse certo, e é por isso que disse que sim.

“Ok” disse Mai. Um sorriso brincava em seus lábios.

“Não podemos deixar Uzuki continuar surtando. Temos que manter a cabeça no lugar.”

 

Quando ele abriu as cortinas, havia nuvens montanhosas flutuando lentamente de oeste para leste. De vez em quando, uma mancha azul se revelava. Estava parcialmente nublado ou parcialmente ensolarado? Poderia ser qualquer um dos dois.

“Como será o concerto de hoje?”  Ele se perguntou.

Ensolarado? Nublado? Ou choveria? Uma tempestade estava a caminho? Ele tinha verificado a previsão do tempo ontem, e havia tanto um sol quanto uma gota de chuva. Ensolarado com chance de chuva, um tipo de imprevisibilidade bem típica do verão. O homem que leu o relatório disse de forma direta: ‘O céu pode estar limpo, mas leve um guarda-chuva de qualquer maneira, essa chuva pode aparecer do nada.’

Sakuta olhou para esse céu indeciso com os olhos semi-cerrados. Ele claramente não tinha dormido o suficiente e estava pronto para cair de volta na cama.

No dia anterior, ele havia trabalhado um turno, se encontrado com Mai, assistido a um concerto e lidado com as consequências. A visita ao hospital os fez chegar em casa tarde, mas ainda assim pouco depois das onze, então não foi por isso que ele não dormiu.

A principal razão era que, no momento em que entrou pela porta, Kaede o bombardeou com um milhão de perguntas sobre Uzuki. ‘Ela está bem?!’ ‘E amanhã?!’ ‘O que Nodoka disse?!’ Ela até falou com ele através da porta do banheiro, então isso durou um tempo.

“Como você soube do problema da Zukki?”ele perguntou.

Kaede não tinha ido ao show. Há artigos sobre isso online!

Quando ele saiu do banho, ela mostrou a tela do laptop. Havia vários artigos sobre o que aconteceu durante o show.

Era basicamente tudo especulação. Nenhum fato definitivo. E os títulos eram puro clickbait, tentando agitar os fãs dela. Eles inventaram uma história sobre brigas dentro do grupo, sugeriram sem fundamento que Uzuki poderia se formar em breve, tudo apenas para causar alvoroço.

Desde que Uzuki estava sob os holofotes, era fácil para esses artigos atrair visualizações. Por isso havia tantos cobrindo o mesmo assunto. É assim que essas pessoas ganhavam a vida.

“Ela vai ficar bem.”

“Sério?”

“Quero dizer… é a Zukki.”

E ela tinha Nodoka e as outras integrantes do Sweet Bullet cuidando dela. Ela tinha seus fãs. Sempre os animou, e agora eles fariam o mesmo por ela. Então não adiantava ninguém mais ficar deprimido.

“Mm, verdade.”

Kaede deve ter entendido a mensagem, então jurou estar lá para Uzuki, mesmo que chovesse. Isso não significava que todas as suas preocupações desapareceram, mas ela obteve o que precisava por enquanto e se retirou para o quarto.

Bocejando, Sakuta rolou até a sala de estar, e encontrou Kaede pronta para sair. Já passava das nove da manhã, e cada segundo os aproximava das dez.

“Saindo já?”

O concerto ao ar livre começava à uma. O local era na Ilha Hakkei, então levaria apenas uma hora para chegar lá. Ele sabia que ela estava empolgada, mas ainda era um pouco cedo demais.

“Vou encontrar a Komi na Estação Yokohama, e vamos almoçar juntas.”

Com isso, Kaede se dirigiu para a porta. Sakuta e Nasuno apenas a observaram partir.

“Se cuida!” Ele disse.

“Vou!” A porta se abriu, e ela saiu.

“Ela cresceu tanto”  murmurou Sakuta, genuinamente tocado.

Sozinho em casa, Sakuta preparou um café da manhã tardio, lavou a roupa e limpou seu quarto. Ele só saiu de casa às onze e meia.

A viagem de Fujisawa até a Ilha Hakkei era quase a mesma que ele fazia para a faculdade, idêntica até a Estação Kanazawa-hakkei. Ele provavelmente poderia ter economizado dez minutos pegando um caminho diferente, mas essa rota significava que a maior parte da tarifa era coberta pelo seu passe de trem.

Mesmo no mesmo trem, a multidão de domingo era totalmente diferente. O clima era super de “dia de folga”. Especialmente uma vez que ele pegou a Linha Keikyu,eram casais e famílias com crianças. Eles deviam estar indo para Misakiguchi. Ou parando na Estação Yokosuka-chuo no caminho. Talvez até indo para a Ilha Hakkei, como Sakuta.

Quando o trem chegou a Kanazawa-hakkei, muitas pessoas desceram. Incluindo várias com crianças pequenas e jovens casais. Através dos portões, todos fizeram uma linha reta para a Linha Seaside, Sakuta estava entre eles.

A estação da Linha Seaside originalmente ficava a uma curta caminhada, mas a reforma tornou a transferência muito mais fácil. Como o nome sugeria, o trem os levava por trilhos elevados ao longo da costa. Dessa altura, era possível ver uma ampla extensão do oceano.

As janelas faziam seu trabalho. Enquanto ele olhava distraído para a água, pararam em três estações e então chegaram ao destino, a Ilha Hakkei. Assim como as estações chamadas Enoshima não ficavam em Enoshima, essa estação não ficava realmente na Ilha Hakkei.

Ele passou pelos portões e saiu da estação, seguindo a multidão do seu trem em direção ao oceano. Seus olhos estavam fixos na ilha à frente e na ponte que levava a ela.

Não faltava muito agora.

Sakuta caminhou sozinho, cercado por casais e famílias. Mai tinha trabalho e não pôde vir. Era raro ela ter longos períodos de folga nos fins de semana, o dia anterior tinha sido uma exceção. Um pouco consciente dos olhares que estava recebendo, ele atravessou com segurança a Ponte Kanazawa-hakkei, alcançando a ilha artificial além. Com sua visita a Odaiba no dia anterior, ele estava passando muito tempo em terras recuperadas neste fim de semana.

A ilha estava coberta de aquários, atrações de parque de diversões, shoppings, hotéis e uma arena, uma enorme instalação de lazer com tema marinho. Aparecia bastante na TV, então ele sabia que existia, mas essa era a primeira vez de Sakuta ali. Quando se mora perto o suficiente para ir a algum lugar a qualquer momento, é fácil nunca acabar indo. Na sua mente, este era apenas um desses lugares.

Mas agora que estava ali, era maior do que ele pensava. O clima era de ‘parque bem cuidado’. Ou talvez parque temático, especificamente. Como era outubro, tinham decorações de Halloween, o que certamente aumentava essa impressão. Ele seguiu as placas para o local do concerto, indo mais para dentro.

Olhando para os trilhos de uma enorme montanha-russa, ele passou pela sombra de um prédio, e a vista se abriu à frente. Ele tinha chegado ao outro lado da ilha. Era uma praça com vista para o oceano, e muitas pessoas estavam nela.

O palco estava montado de um lado, e alguém já estava se apresentando, ele não reconhecia o nome. Era uma banda de rock de quatro integrantes. Pareciam bastante populares entre as mulheres, havia uma multidão apaixonada na frente.

Parece que hoje não seria só idols.

O próximo ato era uma cantora e compositora de Kanagawa. Ela tinha um violão e uma gaita, e suas melodias suaves enchiam o local com uma atmosfera acolhedora.

A multidão era bastante variada. Fãs que vieram ver um artista favorito se misturavam com pessoas que simplesmente estavam na Ilha Hakkei e decidiram dar uma olhada no show. Era claro qual metade estava mais empolgada. Os fãs tentavam se aproximar o máximo possível do palco, enquanto o resto ficava mais ao fundo, aplaudindo de forma meio desanimada. Havia outro grupo assistindo ao palco de ainda mais longe.

Havia muito espaço para se movimentar. Muitas pessoas comentavam:

“Tem um show acontecendo?” e paravam para assistir.

Sakuta era uma delas. Enquanto os níveis de entusiasmo variavam, a multidão em si era considerável. Talvez dois mil fãs animados perto do palco, como no show do dia anterior. E uns bons cinco ou seiscentos não-fãs.

Kaede e sua amiga Kotomi Kano deviam estar por aí em algum lugar, mas a multidão era grande demais para encontrá-las. Esse não era um ambiente adequado para encontrar alguém.

“Obrigada, Ilha Hakkei!” disse a cantora e compositora de trinta e poucos anos. Ela acenou e saiu do palco.

Ela foi substituída por uma jovem,a mestre de cerimônias. Ela se aproximou da beirada do palco, microfone na mão.

“A próxima atração é Sweet Bullet!”  gritou ela.

A música de introdução começou, e as integrantes do grupo correram para o palco.

Yae Anou a sublíder, ela vinha se dedicando bastante a shows de variedades com temas esportivos ultimamente. Hotaru Okazaki, que vinha conseguindo mais trabalhos como atriz na TV, inclusive contracenando com Mai. Atrás dela estava Ranko Nakagou, que também trabalhava como modelo. A quarta no palco foi Nodoka Toyohama, com seus cabelos loiros brilhando.

Eram apenas quatro. Sweet Bullet tinha cinco integrantes, mas a quinta não estava lá.

Os fãs na frente naturalmente notaram a ausência de Uzuki Hirokawa. Um murmúrio de ansiedade percorreu a multidão. Como se tentassem afastar isso, o Sweet Bullet começou a cantar com toda a energia.

Sem mencionar a ausência de Uzuki, se apresentaram como sempre, todos sorrindo para os fãs. Rotinas coreografadas com energia e precisão. Vocais que se destacavam mesmo em um palco ao ar livre.

O palco em si era um pouco grande para as quatro, mas isso não significava que pareciam pequenas. E os fãs responderam à energia delas. Gritaram, aplaudiram e pularam junto. Algumas gotas de chuva caíram, mas ninguém se importou. Isso talvez até tenha aumentado a energia.

Elas passaram pela primeira música sem deixar a animação cair.

Cabelos molhados, gotas brilhando em seus pescoços, e não apenas da chuva. Ofegantes, fizeram uma pausa para recuperar o fôlego. Sem que ninguém pedisse silêncio, um silêncio se instalou na multidão. Todos esperavam para ver se o Sweet Bullet falaria sobre a integrante ausente. O único som era o suave tamborilar da chuva.

“Olá, pessoal!” Gritou Yae.

“Nós somos…”

“…Sweet Bullet!”  todas as quatro vozes em harmonia, sua saudação padrão.

“Espera, não deveriam ser mais de nós?”  Perguntou Hotaru, aproveitando sua carinha de bebê.

“Er, vamos falar sobre isso?” zombou Nodoka.

“É difícil cantar as partes da Zukki!”  resmungou Ranko.

A multidão riu.

“Então onde ela está?” perguntou Hotaru, assumindo a liderança novamente.

“Olha, a plateia aceitou”

“só segue em frente!” sussurrou Nodoka. Outra risada.

“As partes da Zukki são difíceis!”  disse Ranko, evidentemente ainda reclamando.

“Eu estou em metade delas! Eu sei! Yae, não fica aí parada, faz alguma coisa.”

Nodoka estava claramente cansada disso e culpando a sublíder. Toda essa interação parecia incrivelmente natural. Os fãs vinham aos shows para ver esse tipo de interação.

“Não se preocupem”  disse Yae, voltando-se para a multidão. Todos os olhos se fixaram nela.

“Uzuki vai voltar para nós!”  gritou.

“Por enquanto, vamos cantar!” Com isso, a segunda música começou. Era uma das músicas padrão delas, uma canção que sempre fazia a multidão pular. Com o entusiasmo dos fãs garantido, todos se encaixaram perfeitamente na rotina no palco.

Um casal da multidão que estava perto de Sakuta comentava.

“Uau, isso é loucura.”

“Mm.”

E faziam caretas um para o outro. Os fãs de idols estavam um pouco animados demais para eles. Mas eles não estavam se afastando. Seus olhos continuavam no palco, interessados. Curiosos. E não eram os únicos.

Enquanto a música passava do segundo verso para o refrão, os fãs ficavam ainda mais animados. E a chuva começava a cair mais forte. Estava chegando ao ponto em que Sakuta queria um guarda-chuva.

Sakuta olhou para o céu e viu nuvens escuras sobre sua cabeça. Havia céu azul há pouco, e ele ainda podia vê-lo à distância. Como a previsão do tempo havia dito, nuvens aleatórias haviam surgido e trouxeram mudanças climáticas repentinas. Não dava para saber o que alguns minutos trariam.

Mas uma vez que essa música terminasse, o Sweet Bullet teria apenas mais uma última música, e então terminariam. O show delas tinha apenas três músicas.

E essa música só tinha o refrão final restante. Deveriam terminar bem.

Mas, enquanto ele pensava nisso, houve um estalo. Todas as luzes do palco se apagaram.

Uma onda de surpresa percorreu a multidão, batendo contra ele. Os olhos das idols se ergueram, olhando para as luzes. A música havia parado também. Os microfones não estavam captando suas vozes. Os alto-falantes estavam mortos.

Todo mundo ficou bem quieto. Todo o local ficou parado. Problemas elétricos? A energia estava desligada em todo o local. A chuva era a causa mais provável…

…mas isso deixou as quatro idols abandonadas. Apenas paradas lá no palco. Um murmúrio correu pela sala. Um homem saiu das coxias, uniformizado como staff. Ele estava segurando um megafone.

“Estamos verificando o problema!”  ele chamou.

“Por favor, tenham paciência.”

Ele simplesmente anunciou uma pausa no show e depois saiu novamente. Alguém correu com casacos para as meninas no palco, para mantê-las aquecidas. Sem saber o que mais fazer, elas os vestiram.

Isso era terrível. Obviamente para os fãs, mas também para todos do Sweet Bullet. Elas queriam muito realizar esse concerto sem Uzuki ali. Essa emoção as tinha levado ao palco. E ter essas esperanças frustradas dessa forma foi um golpe sério. E é provável que seja por isso que elas ficaram no palco, mesmo quando o staff as instigava a sair. Elas queriam terminar. Queriam continuar. E isso as manteve onde estavam.

Mas, apesar do que queriam, o concerto estava parado, e parte da multidão começava a se dispersar. Especialmente aqueles na parte de trás, que haviam apenas se deparado com o show. A chuva estava caindo mais forte. Sakuta realmente desejava ter um guarda-chuva. Ele puxou o capuz, tentando se virar.

Até a multidão na frente começava a se desintegrar, querendo sair da chuva. Um ou dois de cada vez, pequenos grupos se afastando. Sem saber quando o show recomeçaria, eles devem ter decidido procurar refúgio. E, do palco, era fácil ver isso. Ele podia ver as integrantes do Sweet Bullet com os lábios comprimidos, visivelmente frustradas pela falta de opções.

Mais e mais pessoas estavam deixando a frente do palco. Mas a multidão diminuindo o ajudou a identificar alguém no meio delas. A razão pela qual ele estava lá hoje. A pessoa por quem ele havia vindo.

Uzuki estava ali, em um espaço na multidão. Ela usava um boné de beisebol e um capuz sobre ele. Seus olhos estavam fixos no palco, parecendo mais preocupados do que qualquer outra pessoa presente. Sakuta havia imaginado que ela estaria lá. Até ele havia ficado preocupado o suficiente com este show para ir até lá, não havia como ela ficar em casa. Ele se aproximou dela lentamente e ficou ao seu lado.

“Você vem a esses shows com frequência?”  perguntou, como se não a conhecesse.

“……” Os olhos de Uzuki o olharam de relance. Mas sem voz, logo se voltaram para o palco.

‘Não vou contar a ninguém.”

“ ……?”

“Mesmo se você falar comigo.”

“……”

Sua expressão não mudou. Ela não mostrou surpresa nem confusão. Não insistiu que havia perdido a voz. Isso era a verdade.

“Você sabia que eu estava mentindo?”

“Mentirosos são bons em identificar outros mentirosos.”

Ele havia suspeitado pela primeira vez no hospital. Ela parecia calma demais. Não havia sido emocional, e isso parecia antinatural. Era como se estivesse escondendo algo,e naquela situação, Uzuki tinha apenas uma coisa a esconder.

“E você é um mentiroso, Sakuta.”

“Sim, somos ambos furões.”

“Isso é cruel com os furões.”

“Eles são criaturas magnânimas.”

“São?”

Uzuki soltou uma risadinha, como se estivesse tentando reanimar seus sentimentos. A conversa deles se interrompeu, e houve um breve silêncio. Ela foi a primeira a rompê-lo.

“Eu realmente perdi a voz durante o show”  ela disse, tentando se justificar.

“Embora eu suponha que você não vá acreditar nisso.” Uzuki lançou-lhe um olhar nervoso.

“Eu acredito em você. Eu estava lá.”

Aquilo não havia sido atuação. Sakuta havia entendido aquilo como um choque para todos.

“Você estava no fundo, certo?”

“Você me viu?”

“Você pode ver muita coisa do palco.”

“Então, provavelmente, eles já nos viram.”

Sakuta olhou para o palco, onde o Sweet Bullet ainda esperava com coragem.

“…Sim.”

Uzuki esboçou um sorriso constrangido. A chuva constante estava encharcando seu moletom.

“Eu venho a todos os shows.”

“……?”

“Sua primeira pergunta.”

“Oh.”

“Eu estive no primeiro show do Sweet Bullet e nunca perdi um, não importa o quão pequeno fosse o local.” Ela falou suavemente.

“Eles já tiveram problemas assim antes?”

Ele correspondeu ao fingimento, agindo como se ela fosse apenas uma fã. Afinal, ele tinha começado com isso.

“Sim. Não em um palco tão grande, mas eles já tiveram problemas com os alto-falantes antes.”

“Como eles lidaram com isso?”

“Continuaram cantando sem microfones. Pelo menos, a vocalista principal fez isso.”

Enquanto Uzuki falava…

…Sweet Bullet começou a tirar seus casacos. O palco estava bem longe, mas ele viu elas fazerem contato visual e respirarem fundo em uníssono. Um momento depois, quatro vozes soaram em harmonia.

Sem acompanhamento. Nada saindo pelos alto-falantes. Os microfones não captavam nada, e a própria chuva estava ficando bem alta. O som da chuva nas roupas e no pavimento era muito perceptível. Mas as quatro idols alinhadas no palco, cantando juntas.

Onde Sakuta e Uzuki estavam, eles mal conseguiam ouvir. Uma música quase inaudível. Mas isso foi suficiente para mudar o clima.

Alguém perto da frente começou a bater palmas. Com cada palma, mais pessoas se juntavam, espalhando-se para trás através da multidão. Partes da plateia que estavam indo embora pararam. Meio confusas, meio curiosas, e ficaram, observando as garotas no palco e os fãs.

Não era uma performance impecável. Elas tinham abandonado a ideia de dançar, focando apenas na música, fazendo-a soar mais como uma balada. O som das palmas chegou a Sakuta e Uzuki. Um senso de unidade além das idols, fãs ou qualquer outro rótulo.

Mas nem isso conseguiu parar totalmente o êxodo da multidão. Metade do público já havia ido embora. E mais pessoas ainda estavam saindo.

Atrás de Sakuta e Uzuki, as pessoas murmuravam.

“Então ela nunca apareceu?”

“Isso é uma perda de tempo. Vamos embora.”

Eles se viraram e foram embora. E não estavam sozinhos. Os membros da audiência que estavam ali por acaso não se importavam com o que o Sweet Bullet estava passando. Eles só tinham parado para assistir porque a garota do comercial poderia aparecer. E se ela não aparecesse, eles iam embora. Puro e simples.

“Essa é a nossa realidade,” Uzuki sussurrou. Mas ela falou alto o suficiente para que ele pudesse ouvir.

“Elas colocaram seus corações nisso, mas isso não vai fazer dez mil mãos aplaudirem.”

Talvez restassem cerca de seiscentas pessoas.

“Eles têm o poder.”

“Sim. Foi um bom show.” Nada soava falso nessa frase.

“Então por que ficar aqui atrás? Vá até lá na frente.”

A voz de Uzuki estava funcionando bem. Ela também poderia cantar.

“Eu não tenho o direito.”

“Você é uma integrante do Sweet Bullet. A líder delas. O centro delas.”

“Eu sou como eles.”

Ela claramente se referia às pessoas que haviam zombado e se afastado. Sakuta olhou por cima do ombro, mas eles já haviam ido embora há muito tempo.

“Eu tenho essa voz dentro de mim. Parte de mim está rindo delas por trabalharem tanto em um sonho que elas… nunca vão realizar.”

“……”

“E agora que eu sei disso, não posso subir lá com elas.”

Ela não estava lamentando isso, nem abertamente chorando. Era apenas uma constatação de fato. Seus olhos estavam fixos no palco, com apenas um toque de nostalgia.

No dia anterior, quando ela perguntou às outras se elas poderiam chegar ao Budokan, ela quase certamente usou esse tom de voz. Distante, avaliando objetivamente a realidade. Essa era a única maneira que ela podia abordar isso.

Sakuta olhou para seu perfil e ela parecia perdida.

“Eles riram de mim também?”

Ela havia descoberto a verdade naquele dia. Se isso fosse tudo, Uzuki não estaria aqui, olhando para o palco. Havia algo mais que ela havia percebido.

Ela entendeu por que as pessoas riam dela. Porque ela havia aprendido a ler o ambiente. Ela havia aprendido a reconhecer sarcasmo e desprezo. E se encontrou dividida entre o que dizia e o que realmente queria dizer, zombando dos outros pelas costas.

Mas e daí? Isso é apenas o que as pessoas fazem. Todo mundo se sente assim. Todo mundo faz isso. Então…

“Toyohama entende.”

“……?”

“Ela sabe que é uma idol sem sucesso.”

“……”

“E ela sabe muito bem que as pessoas zombam dela por isso.” Mas ela ainda estava lá em cima no palco, cantando com todo o seu coração.

“Eu aposto que as outras também sabem.” E elas continuavam cantando.

“Elas sabem que, desse jeito, nunca chegarão ao Budokan.”

“……?!”

“Elas sabem da realidade.”

“…E daí?” A voz de Uzuki tremia.

“Você está realmente perguntando isso?”

“……”

“Essa é tão fácil que até eu posso descobrir.”

Ele sabia que Uzuki entendia. Ela passou tempo suficiente com as outras, trabalhou tanto quanto elas, esteve nos mesmos palcos. Não importa o quão pequenas fossem as multidões, não importa quantas pessoas as ignorassem, todas trabalharam juntas.

Ele imaginou que ela sabia melhor do que ninguém. Ela deveria saber isso na alma. Ninguém sabia como aquelas garotas no palco se sentiam melhor do que a própria Uzuki.

“O que… eu devo fazer?”

A música estava entrando no segundo refrão. Não havia muito tempo.

“Leia o ambiente, Zukki.”

Isso era tudo que Sakuta realmente podia dizer. A cabeça de Uzuki se levantou e ela olhou para ele, levemente surpresa. Lágrimas começaram a brotar, mas ela rapidamente as enxugou e voltou sua atenção para o palco. Aquela era a Uzuki Hirokawa que ele conhecia.

Ela jogou o capuz para trás. Jogou-lhe seu boné de beisebol. Deixou seu longo cabelo cair pelas costas.

O segundo refrão já havia acabado. O público estava aplaudindo durante o interlúdio sem vocal, e Sweet Bullet estava cantarolando sobre isso.

Antes do refrão final, havia a ponte, que sempre era o solo de Uzuki. Mesmo na versão original, essa era uma batida tranquila, acompanhada apenas por um piano. Os fãs que conheciam a música do Sweet Bullet sabiam que deveriam parar de aplaudir pouco antes da ponte começar. Isso era para que pudessem se concentrar na voz dela.

Um silêncio caiu. A chuva chorava. Uzuki respirou fundo. E sua voz ecoou. Todos os olhares no local se voltaram e a encontraram na multidão. As garotas no palco estavam olhando para Uzuki. Ela deu um passo à frente, depois outro. Sem que ninguém dissesse uma palavra, a multidão diante do palco se abriu, formando um corredor para ela. Uzuki caminhou pelo centro dele. Cantando e dançando. Quando a ponte terminou, ela estava logo abaixo do próprio palco.

“Zukki!” Quatro vozes gritaram juntas.

“Zukki!” A multidão respondeu.

“Vamos!” Yae gritou, e elas juntaram as mãos e a puxaram para o palco. Um raio de luz perfurou as nuvens. Como uma escada descendo do céu. Iluminou o mar, a multidão e o palco. Como um holofote do paraíso.

Houve um guincho, e os alto-falantes voltaram a funcionar. Todos perceberam que a energia estava de volta. Alguém entregou a Uzuki um microfone reserva, e as cinco se reuniram no centro do palco antes de cantarem juntas o refrão final.

Os fãs aplaudiram. Uma ovação de pé. No centro daquela júbilo, Sweet Bullet derramou lágrimas… e sorriu.

In this post:

Deixe um comentário

Ads Blocker Image Powered by Code Help Pro

Adblock detectado! Desative para nos apoiar.

Apoie o site e veja todo o conteúdo sem anúncios!

Entre no Discord e saiba mais.

Você não pode copiar o conteúdo desta página

|