Capítulo 4
O Aeroporto de New Chitose contava com uma pousada com fontes termais. Já passava da uma da manhã, e todos estavam dormindo profundamente. O local ficava aberto a noite toda, e eles estavam matando o tempo ali antes de um voo cedo para Tóquio.
As banheiras internas e externas eram igualmente grandes. O lugar tinha restaurante, salas de descanso e até um spa com pedras quentes. Sakuta aproveitou um bom banho, vestiu o jinbei fornecido e se sentou em uma poltrona reclinável na sala de relaxamento. Ele folheava um volume da estante de mangás do local.
Depois de um tempo, Takumi se juntou a ele na cadeira ao lado, usando o mesmo jinbei cinza.
“Notícia da Akagi. Ela reservou o primeiro voo de volta pela manhã.”
“A que horas?”
“Sete e meia. Deve chegar em Haneda um pouco depois das nove.”
Os olhos de Takumi estavam no celular, lendo o que Ikumi havia enviado pelo aplicativo de mensagens.
“Onde ela está?”
“Descansando na sala de relaxamento das mulheres.”
“Agradece a ela por mim.”
“Nem pensar. Faça isso você mesmo.”
Com isso, Takumi jogou o celular para ele. Sakuta teve que largar o mangá para pegá-lo, perdendo a página. Ele estava só folheando, então não era grande coisa. Colocou o mangá de lado e olhou para a tela. O aplicativo de mensagens ainda estava aberto. A conversa estava rotulada como “Ikumi Akagi”.
{Ele escreveu: Obrigado por conseguir os ingressos. Azusagawa.} Logo, a mensagem foi marcada como lida.
{De nada.} Muito educada. Bem a cara da Ikumi. Ele soltou uma risadinha abafada.
“Valeu pelo celular,” disse, jogando de volta para Takumi. Takumi deixou escapar um grito de surpresa, mas pegou facilmente.
“Ei, Azusagawa.”
“Hum?”
“A Sakurajima sabe que você está aqui com a Akagi?”
“Eu liguei para avisar antes de entrarmos aqui.”
“O que você disse?”
“Que, de alguma forma, a Akagi acabou vindo junto.”
“O que ela disse?”
“Disse ‘Hmm’.” Takumi olhou para ele horrorizado.
“Então ela está super brava?” ele perguntou, tentando sorrir, mas sem sucesso.
“Não se preocupe, vou culpar você por tudo.”
“Parece que eu deveria estar preocupado.”
“Mas é a verdade.”
“Ah, certo.” Takumi desistiu e se afundou de volta na cadeira. A conversa foi morrendo.
“……”
“……” O silêncio reinou.
Sakuta não pegou o mangá novamente, e Takumi não olhou para o celular. Os dois apenas ficaram sentados, como se estivessem esperando por algo. Passou-se um minuto inteiro antes de Takumi falar novamente.
“Ei, Azusagawa…”
“O quê?”
“O que vai acontecer com a Nene?”
Aquele longo silêncio havia sido um prelúdio para isso.
“Agora, ela perdeu o senso de quem é Nene Iwamizawa. Se você e eu a esquecermos, é como se ela não existisse mais.”
Miori também tinha sido capaz de vê-la, mas ele não se preocupou em mencionar isso.
“O que eu devo fazer?” Takumi perguntou, com a voz séria, mas não desesperada.
“O poder do seu amor é a única coisa que pode salvá-la.”
“Um cara que esqueceu dela por quase um ano? Quem sou eu pra falar de amor?”
“Se não for você, então… não há mais ninguém que possa. Se recomponha.”
Sakuta manteve os olhos para frente, dizendo o que precisava ser dito.
Takumi parecia surpreso.
Mas, então, riu alto.
“Ah-ha-ha, faz tempo que alguém me deu uma resposta tão dura.”
“Recupere sua namorada para que ela possa te dar um sermão de volta.”
“A Nene é super assustadora quando está brava.” Mas ele falava com carinho e afeição.
Takumi e Nene. Ele podia sentir o tempo que eles passaram juntos.
“Ela ficou brava quando eu a pedi em namoro também. ‘Demorou, hein!’ foi o que ela disse.”
“E quando você reprovou nos exames?”
“Na primeira vez, ela chorou. ‘Por quê?!’ Na segunda, ela me apoiou. ‘Não se pressione demais.'” Takumi riu, como se isso fosse pior.
“E na terceira vez, você passou?”
“Ela chorou de novo, dizendo: ‘Estou tão feliz.’ Ela estava em pedaços.”
“……”
“Pensando bem, aposto que ela já estava passando por algumas coisas.”
“……”
“Ela era realmente famosa na cidade natal. Fazia trabalhos de modelo em Tóquio. Ninguém além da Nene fazia algo assim. Eles até sabiam o nome dela em outras escolas, as pessoas passavam só para dar uma olhada. Pode não parecer muito para você, mas…”
Takumi sorriu de maneira desajeitada, porque estava se referindo a Mai. Ninguém realmente podia competir com ela na categoria “famosa”. Ela não era apenas uma celebridade local, mas nacional.
“Mas vindo para Tóquio, não parecia que ela conseguia tantos trabalhos quanto esperava. Não que Nene quisesse falar sobre isso.”
“Ela venceu o concurso de beleza.”
“Por isso ela estava tão feliz. A música que ela cantou tocou as pessoas. E assim, ela começou a gravar vídeos cantando. Feliz por ser reconhecida por algo. As pessoas diziam que ela soava igual à Touko Kirishima, como se fosse a verdadeira, Nene estava curtindo isso.”
“Foi isso que ela queria fazer?”
“Ela me disse que queria ser apresentadora de uma emissora de TV de Tóquio. Mais um motivo pelo qual ela ficou tão empolgada com a vitória no concurso de beleza. Eu sabia que ela cantava bem por causa do karaokê, mas…”
“Agora ela está alegando ser Touko Kirishima de verdade. E parece que ela realmente acredita nisso.”
“O que deu errado?”
“Muitas coisas, com ela e com você. Mas você ainda pode consertar.”
“……”
Takumi apenas o encarava. Sakuta ignorou isso.
“Talvez eu consiga,” Takumi murmurou.
“Você consegue,” Sakuta disse, assentindo.
“Azusagawa…,” Takumi disse, sem olhar para ele.
“Hum?”
“Eu amo a Nene.”
Uma confissão do nada. Embora talvez não fosse tão inesperada para Takumi. Falar sobre ela provavelmente trouxe de volta esses sentimentos, junto com todas as suas lembranças dela.
“Eu amo a Nene,” ele repetiu.
“Diga isso a ela amanhã.”
Sakuta se levantou da poltrona reclinável e se dirigiu para a porta.
“Aonde você vai?”
“Banheiro.”
“Faça valer a pena.”
“Vai dormir, Fukuyama.”
“Como se fosse possível?”
Sakuta não se deu ao trabalho de responder, apenas saiu da sala. Como anunciado, ele foi ao banheiro, mas em vez de voltar para Takumi depois, desceu as escadas. Um andar abaixo ficavam as fontes termais, e dois andares abaixo, o restaurante.
O restaurante estava fechado para a noite; havia uma luz acesa perto do balcão de bebidas grátis, mas o resto estava escuro. Ele se serviu de um chá quente, houjicha.
Uma voz chamou por trás.
“Azusagawa?”
Ele se virou para encontrar uma mulher de yukata sentada na beirada do chão de tatame elevado. Ikumi.
Ela devia ter passado por ali para pegar uma bebida também. Estava com uma caneca na mão. Sakuta se sentou a uma distância respeitosa dela.
“Obrigado por reservar o voo de volta.”
“Você já disse isso.”
“Akagi, você foi de grande ajuda.”
“Essa é nova.” Ikumi tomou um gole do chá, sem mostrar muita emoção.
“Você até pesquisou e encontrou este lugar.”
Ela havia sido quem sugeriu que eles passassem o tempo ali. Antes do voo em Haneda, ela também disse:
“Vamos chegar tarde. Melhor comprar uma troca de roupa aqui.” Sakuta sorriu.
“Bem, isso me beneficia,” Ikumi disse agora.
“Ainda assim, ajudou.”
“Mm.” Ikumi tomou outro gole de chá, parecendo desconfortável. Apesar de todo o seu trabalho ajudando as pessoas, ela não estava ficando melhor em receber um elogio.
“……”
“……”
Não havia mais ninguém ali àquela hora, então, se eles não estivessem conversando, nada quebrava o silêncio. Exceto, talvez, o zumbido do ar-condicionado.
“Akagi…”
“O quê?”
“Qual é a sua opinião sobre a namorada do Fukuyama?”
Foi uma pergunta fácil de fazer. Simples de colocar em palavras. Mas extremamente difícil de responder. Um problema bem espinhoso.
Para sua surpresa, Ikumi não precisou pensar sobre isso. Nem parecia estar perdida. Ela respondeu como se já tivesse suas observações preparadas.
“Acho que é algo bem típico.”
Ela não parecia nem um pouco abalada. Não estava hesitando. Apenas sendo racional. Um pouco demais racional.
“Você acha?” Sakuta perguntou, expressando essa dúvida.
As palavras dela não tinham sido suficientes para transmitir sua intenção.
“Isso nunca aconteceu com você, Azusagawa? Você nunca se perdeu e teve que se reencontrar?”
Essa pergunta o fez estremecer. Desta vez, ela tinha sido clara e direta.
“Com certeza já,” ela disse.
“Nada estava dando certo, ou eu simplesmente estava indo com o fluxo… e, no meu caso, acabei em outro mundo completamente.”
“Já passei por isso também. Totalmente me perdi.”
Aquilo parecia certo. As palavras de Ikumi permitiram que ele finalmente compreendesse o enigma que era Nene Iwamizawa. Elas faziam a situação dela parecer familiar.
“No caso da namorada do Fukuyama, ela deixou esse fluxo transformá-la em Touko Kirishima.”
As coisas não tinham funcionado em Tóquio, e isso parecia uma rejeição de tudo o que ela era. E então, a própria Mai Sakurajima tinha aparecido. Ela lutou, se esforçou… e não chegou a lugar nenhum. E se perdeu. Não sabia mais quem era.
E, enquanto afundava, agarrou-se àquelas palavras.
“As pessoas diziam que ela poderia ser a verdadeira Touko Kirishima, e isso tocou fundo quando ela estava mais vulnerável.”
“Tenho algo parecido,” Ikumi disse. “No jardim de infância, a mãe de uma amiga disse: ‘Você é uma menina tão boa, Ikumi.'”
“……”
“Isso me deixou tão feliz que eu tentei ser uma menina ainda melhor para que as pessoas me elogiassem mais.”
“Isso é bem a sua cara, Akagi.”
“O resultado, todos no ensino fundamental riram de mim por ser séria demais.”
“Eu percebi.”
“Você não percebeu.”
“Percebi.”
“Sério?”
“Bem, eu fui lembrado disso. Você limpava o quadro-negro melhor do que qualquer outra pessoa, certo? Fazia com que os apagadores ficassem como novos. Usava um limpador que aspirava o pó de giz—ninguém mais fazia isso.”
“Meu único feito.” Ela riu de si mesma. Não de Sakuta, mas de seu próprio passado.
“Mas na época, eu achava que aquilo era eu. Não parecia difícil.”
“E tudo começou com um simples ‘Boa menina.'”
“Sim.”
“Talvez Nene Iwamizawa tenha ouvido as pessoas dizendo que ela era como Touko Kirishima, e ela pensou que isso a ajudaria a se encontrar.”
Era, pelo menos, um raio de esperança. Ela confundiu aquilo com um caminho a seguir.
“Isso já aconteceu com você, Azusagawa?”
“Alguém me disse que eu era capaz de ser gentil. E eu senti que valia a pena tentar.”
“Você ainda acredita nisso, hein?”
“O que significa que você pode estar certa.”
“Mm?”
“Isso é bem típico.”
Cantar as músicas de Touko Kirishima deu a Nene a atenção que ela desejava. Um gostinho de seus objetivos. O que ela sempre quis.
A pessoa que ela queria ser. Seu eu ideal, Deve ter sido bom.
No caso de Nene, isso acabou sendo Touko Kirishima. Ser alguém digno de atenção era mais importante do que ser Nene Iwamizawa.
“Mais uma vez, Akagi, estou feliz que você tenha vindo.”
Ele colocou a caneca vazia no chão e se jogou para trás no tatame. Os tetos altos da pousada o encaravam de volta.
“É melhor você subir se vai tirar uma soneca,” ela disse.
“Eu sei.” Mas seus olhos já estavam fechados.
Na manhã seguinte, o Aeroporto de New Chitose estava coberto por uma quantidade de neve muito maior do que o previsto pela previsão do tempo. Tanta neve que Sakuta acordou, olhou para fora e temeu que o voo não decolasse.
“Vai dar tudo certo. Talvez haja um pequeno atraso, porém.” disse Takumi.
Sakuta e Ikumi estavam olhando pela janela, horrorizados, mas Takumi, que era de Hokkaido, estava acostumado com a neve.
Demorou um tempo para limpar as pistas, mas Takumi estava certo, o voo decolou com uma hora de atraso. Eles deixaram o Aeroporto de New Chitose às oito e meia.
O voo durou aproximadamente uma hora e meia, e eles pousaram no Aeroporto de Haneda logo após as dez da manhã. Um ônibus os levou até o saguão de desembarque e, quando chegaram aos portões da Linha Keikyu, já passava das dez e meia.
Eles embarcaram em um trem expresso com destino a Yokohama e se sentaram juntos. A viagem terminou na estação de costume — Kanazawa-hakkei. Do lado de fora, no ponto de táxi, chamaram um carro e deram ao motorista o endereço de Nene. Era uma caminhada de dez minutos, então o táxi os deixou lá em menos de cinco.
Eles olharam para o prédio de três andares onde Nene morava. Sakuta havia estado lá no dia anterior.
“Vocês dois podem ir na frente. Eu pago o motorista.” disse Ikumi.
Sakuta e Takumi saíram do carro assim que ele parou. Subiram as escadas até o segundo andar, no apartamento 201. Sakuta apertou o botão do interfone o mais rápido que pôde.
O som do toque ecoou dentro do apartamento, mas não ouviram mais nada. Ninguém respondeu. Parecia que não havia ninguém em casa.
“Azusagawa, sai da frente.” disse Takumi, com uma mão no bolso e a outra empurrando o ombro de Sakuta.
Sakuta deu passagem, e Takumi puxou um objeto fino de metal. Duas chaves presas em um chaveiro, e uma delas entrou na fechadura da porta.
“Você tinha uma cópia da chave?” perguntou Sakuta.
“Sou o namorado dela.” respondeu Takumi.
“Invejável.” Sakuta comentou.
“Agora não é hora pra isso.” Takumi virou a chave e abriu a porta.
“Nene, sou eu. Posso entrar?” disse ele, mantendo um mínimo de cortesia, mas já entrando no apartamento.
Sakuta o seguiu. O tapete da entrada não havia mudado, mas o lugar parecia vazio. Não havia sons vindos de dentro, e as luzes estavam apagadas.
“Nene? Está em casa?” perguntou Takumi, abrindo a porta nos fundos da cozinha.
“Hein? O quê?!”
Ele fez sons estranhos. Parecia estar preso na porta, olhando incrédulo para o quarto à frente, chocado com o ambiente totalmente decorado para o Natal. Sakuta ficou igualmente surpreso, mas eles não tinham tempo para isso.
“Ela provavelmente vai estar vestindo uma fantasia de Mamãe Noel de minissaia, então não se assuste com isso.” avisou Sakuta.
“Estou ansioso por isso.” respondeu Takumi.
“Esse é o espírito.” Sakuta disse com um sorriso.
Enquanto conversavam, olhavam ao redor. A cabana de blocos de brinquedo estava sobre a mesa dobrável, concluída. Nene havia terminado o trabalho que Sakuta tinha começado.
“Não estava assim da última vez que estive aqui.” disse Takumi, movendo uma pequena árvore que estava na mesa dela.
“É aqui que ela guarda o troféu.” acrescentou, puxando o troféu e colocando-o de volta no lugar de honra.
Enquanto fazia isso, sua manga roçou no laptop aberto, que estava em modo de espera. A tela se acendeu, e o ventilador do computador começou a funcionar.
“Azusagawa…” disse Takumi, apontando para o laptop.
O computador mostrava a conta oficial de Fujisawa e uma postagem sobre Mai Sakurajima, que seria chefe de polícia por um dia. O evento seria realizado no espaço ao ar livre próximo ao shopping em Tsujido, o mesmo local onde a banda Sweet Bullet havia feito um show. O evento seria às duas da tarde.
“Como Futaba disse…” comentou Sakuta.
“Nene realmente não vai fazer nada contra Sakurajima, vai?”perguntou Takumi, preocupado.
“Não podemos ter certeza, então precisamos encontrá-la.” respondeu Sakuta.
“Vamos vigiar o local?” sugeriu Takumi.
Sakuta esperava encontrá-la ali no apartamento. “Se o voo não tivesse atrasado”, pensou ele, enquanto caminhava em direção à porta. Seus olhos se voltaram para o escorredor de louças na cozinha. Havia uma caneca ali, ainda visivelmente molhada. Ele olhou para a chaleira elétrica ao lado do fogão. A tampa estava aberta, e a água dentro ainda estava quente e soltando vapor.
Isso significa…” começou Sakuta. Ele e Takumi trocaram olhares.
“Ela não deve estar longe.” disse Sakuta.
Takumi concordou. “Se ela está indo para Tsujido… Será que foi para a estação?” perguntou ele.
“Ela pegou um carro emprestado para ir a Motomachi. Pode estar fazendo isso de novo.” respondeu Sakuta.
“Tem um ponto de compartilhamento de carros perto da estação!” lembrou Takumi. Nene certamente pegaria um!
Eles colocaram os sapatos e saíram correndo. Descendo as escadas, encontraram Ikumi os olhando com uma expressão de dúvida. Mas os olhos de Sakuta estavam focados no táxi que eles haviam pegado, parado no semáforo.
“Mais uma corrida!” gritou Sakuta, acenando com os braços. O semáforo ficou verde, o táxi ligou o pisca e encostou.
Com uma rápida palavra para Ikumi, Sakuta voltou para o táxi e disse ao motorista para levá-los até o estacionamento perto da estação. O táxi os levou de volta pelo mesmo caminho que haviam vindo.
“Esse é o estacionamento que você mencionou?” perguntou o motorista, apontando para um edifício de cinco ou seis andares à frente.
“Sim, pare em frente a ele.” O carro parou.
“Akagi, eu vou te pagar de volta.”
“Eu sei.”
Mesmo enquanto ela falava, Sakuta e Takumi já estavam fora do carro. Eles correram para o estacionamento, apertaram o botão do elevador e subiram.
Eles foram até o último andar.
“Você foi para Motomachi no meu aniversário?”
“Ela me fez comprar seu presente.”
“Ciúmes.”
“Vai você da próxima vez.”
“Parece um plano.”
Takumi assentiu com firmeza, e o som de um “ding” sinalizou sua chegada. Quando as portas se abriram, eles viram o estacionamento no topo do edifício. Havia quatro ou cinco carros do serviço de compartilhamento de veículos. As luzes de um deles piscaram. Era o mesmo compacto que Nene havia usado da última vez. O motor estava ligado e o carro estava saindo.
Nene Iwamizawa estava no banco do motorista, vestida com sua roupa de Mamãe Noel de minissaia.
“Ali!”
Mas o carro já estava indo embora. Eles chegaram um momento tarde demais. Enquanto o ânimo de Sakuta caía, Takumi saiu correndo.
“Nene!” ele gritou, perseguindo o carro pela rampa. Ele chamou o nome dela novamente, fechando a distância e se aproximando do carro.
“Espere, Nene!”
Quando o carro não parou, ele se jogou na frente dele, com os braços estendidos. Não era uma ação racional.
“Fukuyama, não!” gritou Sakuta, assustado.
Esperando o impacto, ele desviou o olhar. E as luzes de freio piscaram em vermelho. O carro parou a um centímetro de distância. Perto demais para o conforto.
Indiferente às palpitações de Sakuta, Takumi ainda bloqueava a passagem do carro.
“Nene, me escuta!” implorou ele ao motorista, com arrependimento na voz.
A porta se abriu. As botas de Mamãe Noel apareceram primeiro. Depois suas pernas, seus joelhos. Takumi seguiu a linha para cima. Então, o corpo vestido de vermelho e branco apareceu. O olhar de Takumi continuou subindo. Ele claramente estava vendo todo o corpo dela. Nene estudava o rosto dele com atenção. A porta se fechou com um estrondo.
Sakuta passou por Takumi e ficou ao lado dele. Nene lhe lançou um olhar irritado, mas apenas por um segundo. Seus olhos logo voltaram para Takumi.
“Estou surpresa que outra pessoa possa me ver” disse ela.
“Eu não sou qualquer outra pessoa! Sou eu, Takumi!”
“E você seria… quem?” perguntou Nene, com uma expressão vazia.
Isso fez Takumi congelar. Seus olhos se arregalaram de choque. Sakuta havia o avisado sobre isso; ele tentou se preparar. Mas, ao se deparar com essa realidade, ainda foi um choque. Parte dele esperava que ela ainda se lembrasse. Ele não havia conseguido abandonar essa vã esperança, mas agora esses desejos estavam destruídos.
“Você realmente não me conhece” disse Takumi, parecendo desolado.
Nene olhou para Sakuta.
“Você conhece esse cara? O que ele está falando?”
“Este é Takumi Fukuyama. O namorado de Nene Iwamizawa.”
“Nada do que você está dizendo faz sentido. Eu não sei quem ele é.”
Ela voltou a olhar para Takumi.
“E como eu continuo perguntando, quem é Nene Iwamizawa? Eu sou Touko Kirishima.” Ela declarou isso com firmeza.
Como eles deveriam lidar com suas negativas? Sakuta nunca tinha enfrentado nada assim e não conseguia encontrar as palavras certas para nenhum dos dois.
Takumi foi o primeiro a quebrar o silêncio.
“Certo” disse ele. Não estava claro o que exatamente ele estava aceitando.
“Se você diz, Nene, eu acredito em você.”
Sua cabeça se ergueu de repente e ele a olhou diretamente nos olhos. Nene poderia não reconhecê-lo, mas ele não iria fugir disso.
O comportamento de Takumi pareceu deixá-la um pouco desconcertada.
“Você tem um tempinho para conversar?” perguntou ele, parecendo mais ele mesmo.
“Não muito” ela respondeu, mas não estava dizendo não.
“Obrigado” disse Takumi, interpretando aquilo como um sim.
Seus dedos brincavam com a ponta do cachecol.
“Nene me deu isso” disse ele.
“Meu primeiro aniversário depois que começamos a namorar.”
“Está uma bagunça.”
“Eu uso há cinco invernos seguidos.”
“É bastante tempo.”
Eles estavam tendo uma conversa, mas com níveis de entusiasmo bem diferentes. Takumi falava com emoção, enquanto Nene estava indiferente.
“Nene me deu isso, então tem significado. Como um amuleto da sorte” não consigo me desfazer dele. Usei no meu vestibular.”
“Deu certo?”
“Reprovei na primeira vez. Fiquei como “ronin” por um ano, e falhei de novo.” Takumi fez uma careta ao lembrar.
“Nene começou a dizer que o cachecol era azarado e que eu deveria jogá-lo fora. Essa talvez tenha sido nossa maior briga.”
“Aham.”
“Mas acho que falar sobre o passado não significa muito para você.”
“Estamos falando da sua namorada, certo?” Nene não demonstrava nenhuma reação emocional.
“Você não se lembra de eu ter ficado alguns dias na sua casa durante as provas?”
“Não.”
“Nem de como eu encontrei o cachecol no lixo quando acordei?”
“Não.”
“Ou de como brigamos novamente quando eu o tirei de lá?”
“Não.”
Não importava o que ele dissesse, Nene respondia da mesma maneira, com o mesmo tom, como se fosse uma gravação. Ela não sabia do que ele estava falando, não se importava com o que ele dizia e não se lembrava dele. Suas bochechas e sobrancelhas permaneciam imóveis. Nene Iwamizawa não estava ali. Isso era óbvio demais.
Takumi entendeu o recado, mas ele não desistiu.
“Então você não sabia que eu usei o cachecol no terceiro conjunto de provas sem contar à Nene.”
“E o resultado?”
“Passei.”
“Parabéns.”
A palavra dita de forma mais desprovida de emoção que Sakuta já tinha ouvido. Os lábios de Takumi se curvaram, e ele riu de si mesmo, apesar de tudo.
“Azusagawa me disse…”
“O quê?”
“Que você me comprou um novo cachecol.”
“Isso é novidade para mim.”
“E que você foi ao aeroporto para me entregar. Desculpe por não ter conseguido te ver.”
“……”
“Não me importo se você não me conhece. Eu te esqueci por boa parte do ano, Nene. É justo que você me esqueça também.”
“……”
“Mas eu não vou te esquecer de novo. Não vou desistir até que você se lembre de mim, não importa quanto tempo leve.”
“E daí?” Nene perguntou, olhando diretamente para ele. Sem mais emoções do que tinha antes.
“Hã?” Takumi respondeu, confuso.
“O que você está falando?” ela perguntou, verificando o celular, entediada.
“Desculpa, meu tempo acabou.” Ela se virou em direção ao carro.
“É simples,” disse Takumi. Nene pegou a maçaneta da porta.
“Eu, Takumi Fukuyama, amo Nene Iwamizawa.” A mão de Nene parou, sem puxar a maçaneta.
“Eu te esqueci durante o ano inteiro, então talvez você já tenha terminado comigo. Se tiver terminado, deixe-me pedir para sair com você novamente.”
“……” Ela não respondeu. Apenas ficou ali, segurando a maçaneta.
“Se você não terminou comigo, então… vamos continuar com isso.”
“……” Somente o silêncio respondeu.
“……” Então ela se virou para olhá-lo. Seus lábios tremeram.
“Por quê…?” Seu sussurro quase inaudível.
“Por quê…?” Desta vez, um pouco mais alto, mas ainda muito baixo.
“Porque eu te amo, Nene.”
Takumi colocou seus sentimentos em palavras, falando suavemente, devagar, mas com uma ternura infinita. Parecia que ele estava explorando suas próprias emoções.
“Não… minta para mim,” disse Nene, com a cabeça baixa. Sua voz estava tremendo?
“Eu não estou mentindo.”
“Você não quer dizer isso…!”
Desta vez, sua voz definitivamente tremeu. Seus ombros também e, provavelmente, seu coração.
“Eu estou falando sério!” Takumi insistiu.
“Como você pode me amar? Eu sou um desastre!”
Um súbito surto de raiva. Sua voz tão alta que ecoou. Um grito que agarrava seu coração e apertava forte.
“Eu estava tão certa sobre a minha mudança para Tóquio! Mas eu não consegui nenhum trabalho extra! Eu só tenho meu nome nos registros da agência, uma modelo só no nome!”
“……”
Essa explosão de emoção deixou Takumi sem palavras. E também Sakuta. Parecia que a melancolia de Nene estava pesando sobre eles.
Ela era uma pessoa diferente. O mesmo rosto, mas alguém que ele não conhecia estava vestindo aquela fantasia de Papai Noel com minissaia.
“Eu pensei que poderia conseguir! Achei que poderia ser alguém! Mas olhe para mim. Olhe para a bagunça que eu fiz! Eu falhei tanto que o melhor que consegui ser foi uma falsa Touko Kirishima!”
“…Você é a Nene, certo?” Takumi disse.
“Nene!” Ela olhou para cima, sorrindo fracamente.
“Vai em frente,ria de mim. Eu não sou ninguém!”
“Eu nunca faria isso!” Takumi parecia realmente bravo. Não com Nene, claro. Com ele mesmo, por não estar lá para ela, com tudo que a levou a isso.
“……Me deixe em paz.”
“Eu vou rir de qualquer um que rir de você, Nene. Combinado?”
“Desculpa, Takumi. Nene Iwamizawa não tem nada! Minha única opção é me tornar Touko Kirishima.”
“Eu estou apaixonado por você, Nene. Fique quem você é!”
“Mas quem sou eu?!”
“……” Isso o fez hesitar.
“Se eu soubesse quem eu era, nada disso teria acontecido!”
“Mesmo assim!” Takumi começou a responder emocionalmente. Mas ela apenas o encarou.
“Eu preciso pensar que estou melhor do que a maioria,” ela soltou.
“Eu posso ser um desastre, mas ainda quero ser alguém!”
“……” Isso calou Takumi. Houve um silêncio muito pesado. Mas não durou muito. Sakuta se manifestou.
“Viu? Você sabe.”
“……” O olhar de Nene era como punhais.
“Você se conhece perfeitamente bem.”
“……”
“Aquilo foi muito Nene Iwamizawa. Se você quer ser alguém, vá lá e faça. Diga isso ou o que for.”
“É só isso que você tem a dizer?” ela perguntou, com uma carranca.
“Eu ainda não terminei.”
“……”
Nene franziu a testa, claramente achando difícil acreditar que ele poderia ser tão direto.
Sakuta fingiu não perceber.
“Você disse que não tem nada, mas isso é uma bobagem arrogante.” Essa frase até abalou Takumi.
“…O que você está querendo dizer?” Nene retrucou, sem nem disfarçar sua irritação.
Ser chamada de arrogante geralmente provoca esse tipo de resposta.
“Iwamizawa, você tem o Fukuyama,” disse Sakuta, olhando-a diretamente nos olhos.
“Você tem alguém que ama e que te ama de volta.” Ele nunca desviou o olhar. E nem ela.
“……” Ela não rejeitou as palavras dele. Não discutiu com elas. Apenas ouviu.
“Você não pode chamar uma vida assim de fracasso. Você tem amor.”
“…É só isso que você tem a dizer?”
“Exato!”
Ele disse isso de maneira tão alegre que os ombros de Nene estremeceram. Não estava reprimindo sua fúria, mas sim segurando o riso. Ela falhou, e uma gargalhada escapou.
“Você, logo você? Falando sobre amor?!” Nene bateu palmas, segurou a barriga e se dobrou de tanto rir.
O sorriso de Takumi era um tanto forçado.Quando ela se recuperou, Nene fungou.
“Vindo de você, isso é pura provocação!” Takumi assentiu em concordância.
“É, você está apenas esfregando isso na cara.”
“Mas, pensando bem, ver as coisas dessa forma tornaria a vida muito mais divertida.”
Nene não estava falando diretamente com nenhum dos dois. Era como se ela estivesse explorando seus próprios sentimentos.
“Então acho que vou aguentar o Takumi por mais um tempo.”
Isso foi quase um sussurro. Mas Sakuta ouviu. E Takumi também.
“Ufa!” ele disse, desabando no chão.
“Ah, levanta,” Nene disse, estendendo as duas mãos. Takumi as pegou, e ela o puxou de volta para cima.
“Deu tudo certo?” Ikumi perguntou. Ela estava bem ao lado de Sakuta.
“Você consegue vê-la, Akagi?”
“Consigo. Uma Papai Noel de minissaia sorridente.”
“Então está resolvido.”
Sakuta ficou surpreso com o alívio em sua voz. A ameaça a Mai deveria ter acabado agora. A viagem para Hokkaido valeu a pena. Finais felizes.
“Espere,” Nene disse, virando-se para ele, com uma expressão grave.
“Eu não acho que isso tenha acabado.”
“O que você quer dizer?”
Eles acabaram de resolver o problema de ‘Nene Iwamizawa se chamando Touko Kirishima’. O que mais poderia haver?
“Eu não sou a única.”
“Hã?”
“Existem mais Touko Kirishimas.” Isso foi a última coisa que ele esperava ouvir.
Ele entendeu as palavras dela. Mas não o que ela queria dizer com elas. Sua mente não estava acompanhando. Mas ele não hesitou.
Existem outras Touko Kirishimas. Mai ainda estava em perigo.
No momento em que ele compreendeu isso totalmente, virou-se e correu em direção ao elevador.
“Azusagawa!” Takumi gritou.
“Desculpa, estou com pressa!” ele disse, sem se virar.
“Para onde você vai?”
“Para Mai!”
“Então entra no carro!” Nene gritou.
“Eu te levo!”
Ele parou. E se virou. Nene estava entrando no carro. Takumi já estava meio sentado no banco do passageiro.
“Obrigado!” ele disse, e abriu a porta de trás.
Ele viu Ikumi parada do outro lado e disse: “Akagi, você vem também” enquanto subia no carro.
Ela entrou um segundo depois. As portas se fecharam ao mesmo tempo. Quando colocaram os cintos de segurança, o carro já estava saindo.
“Tsujido, certo?”
“Sim.” O GPS já tinha o destino programado.
O carro parou em frente à Estação Tsujido, uma parada antes de Fujisawa. A impressionante quantidade de pessoas já era evidente.
“Fama de verdade,” disse Nene, sua amargura direcionada para si mesma.
“Chegamos a tempo?” murmurou Takumi. O relógio no carro marcava 1h55.
“Takumi e eu vamos encontrar um lugar para estacionar, então vocês dois descem aqui,” disse Nene, parando no ponto de ônibus.
“Obrigado,” disse Sakuta. Ele e Ikumi saltaram do carro.
O shopping ficava do outro lado da rua, então eles precisavam primeiro atravessar. Não havia faixas de pedestres próximas, e o trânsito era intenso demais para atravessar fora do sinal.
Sakuta já estava subindo as escadas da passarela de pedestres que conectava o shopping à estação. Uma ponte conveniente, que não só permitia que os pedestres cruzassem a rua, como também os levava diretamente à entrada do shopping no segundo andar.
Muitas pessoas estavam saindo pelos portões da estação. Casais com filhos, duplas de garotas do ensino médio, pessoas de todos os tipos. Algumas delas certamente estavam falando sobre Mai Sakurajima.
Ele avançou, abrindo caminho pela multidão. Ikumi estava logo atrás dele.
O evento da “chefe de polícia por um dia” já estava em andamento, e conforme se aproximavam, podiam ouvir a voz de uma apresentadora feminina pelo sistema de som.
“Por favor, respeitem as pessoas ao seu redor enquanto assistem ao evento. Pedimos que evitem tirar fotos ou gravar vídeos. Se o fizerem, os oficiais em patrulha terão uma conversa com vocês.”
Definitivamente era um evento patrocinado pela polícia. A segurança estava a cargo de policiais de verdade. Poucos eventos poderiam ser mais seguros.
Com esse pensamento, Sakuta e Ikumi cruzaram a passarela e saíram pela saída norte da estação. O imponente shopping os saudava.
Muitas pessoas estavam paradas na passagem elevada que levava à entrada. Os lados da passarela estavam lotados, sem nenhum espaço na multidão. Todos se inclinavam sobre a grade, olhando para baixo, tentando ver o palco montado na área aberta entre o shopping e o círculo de tráfego.
Havia uma enorme multidão em frente ao palco também. Não eram apenas algumas centenas, mas bem mais de mil pessoas. Se contasse a multidão na passarela, possivelmente o dobro desse número.
“Ela é realmente tão popular assim,” Ikumi sussurrou, espiando através de uma brecha na multidão.
Sua voz chegou aos ouvidos de Sakuta, mas ele já estava além do ponto de conseguir responder. Seus olhos estavam fixos na multidão perto do palco, incapaz de registrar qualquer outra coisa.
Ele não podia acreditar no que estava vendo. Chapéus vermelhos, espalhados pela multidão. Não eram cinco ou seis. Nem dez ou vinte. Muito mais do que isso.
“Caramba,” ele murmurou.
“Azusagawa? Você está bem?” Ikumi colocou a mão em seu ombro, percebendo que algo estava errado.
“Você consegue vê-los, Akagi?”
“Ver o quê?” Isso provou que ela não podia vê-los.
“Ali, ali, ali, e ali.”
Eles estavam apenas parados na multidão. Cinco ou seis na primeira fila. Outros cinco ou seis logo atrás. Dez mais atrás deles. Ele ergueu os olhos e encontrou mais jovens vestidos de Papai Noel espalhados ao longo da passarela. Homens e mulheres, quase todos com idades entre vinte e poucos anos.
Eles não estavam fazendo nada estranho. Apenas assistindo ao palco. Com interesse. Mas só isso já era estranho. Bizarro.
“Tem tantos assim?” Ele não sabia o número exato.
“Facilmente uns cem.”
“……” Ikumi engoliu em seco. Ela olhou ao redor, inquieta com o que não conseguia ver.
“Eles são todos…?” A voz da apresentadora a interrompeu.
“E agora, o momento que todos estavam esperando! Fomos informados de que ela está quase aqui!”
A oradora era uma policial em cima do palco, conduzindo o evento. A antecipação da multidão aumentou.
“E aqui está ela!” disse a mestre de cerimônias, olhando para o lado direito do palco, em direção ao círculo de tráfego.
Um sedã preto chegou, seguido por uma viatura da polícia. Eles se aproximaram da área de despejo e pararam.
Primeiro, um policial masculino saiu e abriu a porta traseira do carro de patrulha. Uma policial uniformizada desceu, era Mai Sakurajima, usando uma faixa que dizia ‘Chefe de Polícia por um Dia’. A multidão aplaudiu. Mai sorriu para eles e seguiu o policial até o palco.
“Tenho certeza de que ela dispensa apresentações! Nossa chefe de polícia por um dia, a única e inigualável, Mai Sakurajima!”
Os aplausos ficaram ainda mais altos, saudando Mai. Os ‘Papai Noéis’ estavam aplaudindo junto com a multidão. Ninguém estava fazendo nada estranho. Mas Sakuta achou isso assustador. Tudo sobre aquela situação alimentava seus medos. Ele não tinha a menor ideia do que estava prestes a acontecer ou se poderia fazer algo a respeito. Ele estava enfrentando cem ‘Papai Noéis’.
Sua boca ficou seca. Sua garganta parecia desidratada.
“Chefe Sakurajima, você está pronta para falar?”
“Estou pronta!”
Mai se moveu para o centro do palco e se posicionou diante do microfone. Ela respirou fundo e começou seu discurso.
“Meu nome é Mai Sakurajima, e estou atuando como chefe de polícia por um dia para ajudar a promover a segurança no trânsito.”
Assim que Mai começou a falar, a multidão ficou em silêncio, ouvindo atentamente. Os “Papai Noeis” também.
“No ano passado, tirei minha carteira de motorista. Estudar para isso foi uma ótima revisão sobre práticas de segurança nas estradas e a importância da prevenção de acidentes.”
“Vou descer,” Sakuta sussurrou para Ikumi.
Ele pegou a escada rolante para descer. De onde estava, ele não podia fazer muito; se não estivesse perto de Mai, não conseguiria mantê-la segura.
“Espero que este evento sirva como um lembrete de que as regras de trânsito, óbvias, mas muitas vezes esquecidas, existem por um motivo. É uma honra ajudar a reforçar essa ideia.”
A escada rolante o levou para trás do palco, no chão abaixo da passarela.
A essa altura, ele já estava vendo sinais de alerta.
A multidão estava avançando, tentando se aproximar de Mai. Ninguém conseguia ver os “Papai Noeis”, então parecia haver espaços vazios à frente. “Aproximem-se!” “Vamos nos mover!” A multidão na parte de trás empurrava em direção à frente.
Havia ainda mais “Papai Noeis” perto do palco, e as coisas já estavam chegando ao ponto de ruptura. Pressionados por trás, os “Papai Noeis” da primeira fila estavam encostados nas barreiras metálicas ao redor do palco.
Mas os policiais que faziam a segurança não perceberam o problema.
Com um som de raspagem, a cerca foi empurrada em direção ao palco.
Os policiais finalmente notaram e começaram a levantar as mãos para tentar parar a multidão. Mas não estavam enfatizando o risco, por que fariam isso? Os “Papai Noeis” eram invisíveis, e aos olhos deles, ainda havia espaço. Nada naquela situação parecia perigoso. Só Sakuta podia ver o quão grave era a situação.
“E enquanto devemos fazer todo o esforço para evitar acidentes, também gostaria de lembrar a todos que, se o pior acontecer, ser um doador de órgãos pode significar salvar a vida de outra pessoa.”
As barragens estavam prestes a romper. Ele não conseguia ver outro desfecho.
“E isso é tudo o que eu tinha para dizer.”
Aplausos ecoaram.
O tiro de largada para o desastre.
“Pare! Parem de empurrar!” alguém gritou.
Um momento depois, houve um estrondo. A cerca entre o palco e a multidão havia tombado. A multidão avançou, os “Papai Noeis” junto com eles. Trinta ou quarenta pessoas, todas de uma vez, a onda era incontrolável. Cambaleando, tropeçando, como uma avalanche.
“Mai!” Sakuta gritou, pulando no palco. Os olhos dela encontraram os dele. Confusa, preocupada.
Um “Papai Noel” foi empurrado contra a grande caixa de som ao lado do palco.
O impacto fez com que a caixa de som se inclinasse em direção a Mai.
Gritando algo, Sakuta colocou toda sua força em uma corrida e então pulou na frente dela.
Ele levantou ambas as mãos para segurar a caixa de som que estava caindo.
Ele não conseguiu segurá-la totalmente. Ela atingiu sua cabeça.
“Sakuta!”
Houve um baque. Ele não sabia o que havia acontecido com ele.
Abriu os olhos e viu a caixa de som caída ao seu lado. Além dela, os rostos da multidão, expressando choque. Bocas abertas. Os “Papai Noeis” igualmente surpresos.
Sakuta não estava pensando claramente.
Então ele não considerou muito bem sua próxima ação.
Ele apenas se levantou como se nada tivesse acontecido.
“Estou bem. Todos, fiquem calmos,” ele disse, se dirigindo à multidão.
“Vai ficar tudo bem,” ele acrescentou, olhando para os “Papai Noeis”.
Ninguém disse uma palavra. Todos apenas encaravam Sakuta.
Os “Papai Noeis” também o encaravam. Todos pareciam prestes a gritar.
Ele começou a recobrar os sentidos.
Algo desagradável e úmido estava cobrindo metade de seu rosto.
Curioso, ele colocou a mão no local, e seus dedos ficaram vermelhos.
“Não se mexa, Sakuta,” disse Mai, preocupada.
Ele se virou para ela para tranquilizá-la, e sua cabeça girou. Sentiu-se tonto. Sua visão ficou embaçada. Quando percebeu isso, caiu de costas no chão duro.
Mas ele não sentiu o quão duro ou frio estava. Algo macio o amparou.
Mai havia colocado os braços em volta de Sakuta antes que ele caísse. Aliviado, ele deixou-se escorregar para a inconsciência.
“Chamem uma ambulância!” Mai disse, soando exatamente como uma chefe de polícia.
Sakuta não a ouviu.
“Por que há tantos ‘Papai Noeis’?”
“Isso foi um evento de Natal?!”
“‘Papai Noeis’ por toda parte! Para quê?!” Ele também não ouviu a confusão que se espalhava pela multidão.
Quando recobrou a consciência, sentiu seu corpo balançando. Ele devia estar em um veículo. Então ouviu as sirenes. Não pareciam se aproximar nem se afastar. Sakuta abriu os olhos. O interior era apertado. Paredes e teto próximos.
“Ele acordou,” alguém disse. Ele reconheceu aquela voz. Rio estava sentada ao lado da cama.
“Provavelmente uma concussão. Não parece grave, mas ferimentos na cabeça sempre merecem uma análise mais detalhada assim que chegarmos ao hospital.”
Explicou um paramédico que havia verificado suas pupilas e tirado seu pulso. O homem parecia ter seus trinta e poucos anos.
Só então Sakuta percebeu que estava em uma ambulância.
“Por que você está aqui, Futaba?” Essa foi a primeira pergunta que lhe veio à mente.
“Eu te disse ontem que estaria no evento.”
“Ah, é.” Finalmente se lembrou de por que precisava de uma ambulância.
“E a Mai?”
“Ela está bem,” respondeu Ikumi, que estava sentada ao lado de Rio.
“Uma dupla curiosa.”
“Ah, tem mais gente,” disse Rio, olhando para o assento do motorista.
“Sakuta, não me assuste assim.” De onde estava deitado, Sakuta não conseguia ver, mas conhecia aquela voz. Era seu amigo do colégio, Yuuma Kunimi. Ele agora trabalhava no corpo de bombeiros.
“Não achei que precisaria dos seus serviços tão cedo, Kunimi.”
“Não deixe isso acontecer de novo.” Ele ria, mas claramente falava sério.
“Vou tentar.”
“Por favor, faça!” A ambulância parou em um semáforo, o pisca-pisca ligado. Virou à direita.
“O que aconteceu com os ‘Papai Noeis’?” ele perguntou, olhando para Ikumi e depois para Rio.
“A polícia está interrogando eles,” disse Rio.
“Sakurajima disse que se juntaria a nós depois que os policiais a informassem,” acrescentou Ikumi.
“Faz sentido. Ela é a chefe deles hoje!”
“Estamos quase chegando. Preparem-se,” disse Yuuma, com o tom profundamente tranquilizador de um profissional.
A ambulância chegou ao hospital. Ele foi levado direto para uma sala de exames, onde o ferimento na cabeça foi costurado. Depois disso, verificaram novamente suas funções cognitivas. Perguntaram se ele sentia náuseas ou tontura, ou qualquer dormência nas mãos ou pés.
“Eu me sinto bem.”
“Você está andando direito, mas vamos fazer uma tomografia só para garantir.”
“Ok.”
“Por aqui.” Uma enfermeira o levou para outra ala do hospital.
A sala de tomografia tinha uma máquina que parecia que o enviaria de volta no tempo. O ambiente estava cheio de um zumbido misterioso, e ele foi deitado em uma cama fria, seguindo as instruções de um médico na sala ao lado. O exame terminou sem que ele soubesse exatamente o que havia acontecido.
“Fique na sala de espera até que os resultados saiam,” disse a enfermeira, e o encaminhou para fora.
Ele voltou pelo corredor sozinho. Sua cabeça virava de um lado para o outro, tentando não se perder, e ele encontrou a sala de espera com sucesso. E, ainda mais, encontrou rostos familiares.
“Ah, Azusagawa, está tudo bem?” Takumi perguntou, levantando-se rapidamente.
“Você não parece bem,” disse Nene, olhando para o curativo dramático em sua cabeça.
“Estou esperando os resultados finais, mas o médico que fez a tomografia disse que eu ficarei bem,” ele respondeu.
Seu olhar pousou nas roupas de Nene. Ela devia ter se trocado depois de se separarem na Estação Tsujido. Ela não estava mais com a fantasia de ‘Papai Noel’ de minissaia.
Essa não era exatamente uma roupa para andar pela cidade, especialmente agora que todos podiam vê-la.
“Se você está bem, então estamos no caminho. Vamos,” Nene disse, cutucando Takumi.
“Hã? Acabamos de chegar?”
“É um hospital.”
Ela não estava aceitando um “não” como resposta.
“Ah, ok então. Azusagawa, vejo você no campus.”
“Sim.” Ele acenou enquanto eles se afastavam. Logo sumiram da vista ao virar a esquina.
“Eu vou indo também. Tenho uma aula para dar,” disse Rio.
“Ah, desculpa. Obrigado. Kunimi…?”
“Já está a caminho de outro trabalho.” Com isso, Rio saiu, deixando apenas Sakuta e Ikumi.
“Você não precisa ficar aqui também,” ele disse.
“Você está bem sozinho?”
“Devo estar. Minha irmã está aqui.” Rio e Kaede haviam se esbarrado na esquina, e Rio apontava o caminho.
Seus olhares se encontraram no corredor. Kaede lhe deu um olhar meio irritado e caminhou rapidamente em sua direção.
“O que você estava pensando?” ela exigiu, os lábios cerrados.
“Sinto muito por isso,” ele disse, sinceramente.
“Você devia estar!” Kaede não se acalmava tão facilmente.
“Parece que está tudo bem, pelo menos,” ele disse.
“Se você está em um hospital, nada está bem.” Ele não podia discutir com isso. Sobre o ombro de Kaede, viu Ikumi dar uma risada.
Dez minutos depois, Sakuta foi chamado para ouvir os resultados da tomografia. Ikumi aproveitou a oportunidade para sair.
“Você parece bem,” disse, e saiu de cena discretamente. Kaede insistiu em ficar com ele.
“Nada fora do comum,” disse o médico.
“Você está livre para ir.” E foi só isso. Sakuta saiu sentindo-se um pouco desapontado e encontrou dois policiais esperando por ele. Ele sabia o motivo. Tinham vindo perguntar sobre os eventos do dia.
A conversa durou cerca de meia hora. Para não atrapalhar outros pacientes ou a equipe do hospital, encontraram uma sala de descanso com um sofá e uma máquina de venda automática. Sakuta contou basicamente que viu a multidão avançando e achou que Mai estava em perigo, então saltou para ajudar.
As perguntas cobriram suas ações naquele dia, desde quando chegou ao local até sua relação com Mai Sakurajima. Eles abordaram vários ângulos. Um dos policiais anotou tudo o que Sakuta disse, mas ele não achava que havia mencionado nada que pudesse impactar a investigação.
Sakuta gostaria mesmo que alguém explicasse aqueles “Papai Noéis”. Quando a conversa estava prestes a terminar, ele perguntou: “Então, qual era a história com todos os Papai Noéis?” Os policiais trocaram olhares.
“Estamos investigando isso. Obrigado por nos ceder um tempo, apesar de seus ferimentos.” Eles fizeram uma reverência e saíram.
Sakuta olhou pela janela. Já estava escuro. O relógio marcava quase cinco e meia. Ele havia voltado de Hokkaido naquela manhã, que dia longo.
“Acabou, Sakuta?” Kaede perguntou. Ela havia ficado esperando por perto. Ele não tinha feito nada de errado, mas claramente ela estava desconfortável ao ver o irmão falando com a polícia.
“Acabou. Foi tranquilo. Embora ser interrogado pela polícia nunca seja tranquilo.”
“Verdade.”
“Ah, olha ele ali! Sakuta-sensei!”
Essa voz alegre soava totalmente fora de lugar em um hospital. Ele a reconheceu na hora, poucas pessoas o chamavam assim.
“Por que você está aqui, Himeji?”
“Vim te visitar, claro!”
“Eu estava de saída… Como você soube?”
“A Tomoe me contou.” Sara virou-se, olhando pelo corredor. Tomoe estava atrás dela, com um olhar desconfortável.
“Como você soube, Koga?”
“Eu soube pela Kaede. Avisei a Himeji. Decidimos passar aqui durante a folga.”
“Faz sentido.”
Ambas estavam usando os uniformes de garçonete sob os casacos.
“Sakuta, você deve um favor à Tomoe,” Kaede disse.
“Eu deveria estar trabalhando, mas ela me substituiu de última hora.”
“Eu não estava fazendo nada,” Tomoe disse, antes que Sakuta pudesse responder.
“Uma pena tirar isso de você,” ele disse.
“Sensei, como você está?”
“Estou bem. Mas vocês podem não estar, só têm uma hora de folga.”
Já estava quase na hora do pico do jantar, e o restaurante logo estaria cheio. Não dariam conta com duas garçonetes a menos.
“Ah, droga! Himeji, temos que ir!”
“Ah, já?”
“Nós combinamos de dar só uma passada rápida!”
“Foi o que você disse.”
“Eu disse que era tudo o que teríamos tempo para fazer. Não acredite nela, Senpai!” Tomoe respondeu. Ela pegou Sara pelo braço e a puxou para fora. Uma mentora confiável. Sakuta as observou ir embora com um sorriso caloroso.
“É melhor irmos também,” ele disse.
“Ah, espere!” Kaede disse, enfiando a mão no bolso do casaco. Ela tirou o celular e olhou para a tela.
“A Mai está vindo para cá.”
“Então, é melhor eu esperar.”
“Eu vou para casa, então, para Yokohama. Vou avisar à mamãe e ao papai que você está bem.”
“Boa ideia. Diga a eles que não há com o que se preocupar.”
“Você que deve ligar para eles depois!”
“Eu vou.”
“Ótimo.” Kaede guardou o celular e saiu apressada. Isso arrancou mais um sorriso caloroso dele.
Mai chegou ao hospital cerca de vinte minutos depois que Kaede saiu. Ela havia trocado de roupa e o encontrou esperando no saguão.
“Dói?” ela perguntou, olhando para a cabeça dele.
“Nem tanto.”
“Seu rosto estava todo vermelho. Foi bastante assustador.”
“Você me pegou e evitou que eu batesse a cabeça no chão também.”
“Eu disse que te protegeria.” Eles já estavam se dirigindo para as portas.
“O uniforme de policial fez você parecer incrível, Mai,” ele disse, lançando um olhar desanimado para suas roupas normais. Ele preferiria que ela tivesse mantido o uniforme.
“Se você está fazendo piada, então está bem.” Na porta, eles passaram pela enfermeira que ajudou com a tomografia.
“Se cuide!”
“Obrigada pela ajuda.”
E, com isso, eles estavam do lado de fora. Sakuta queria falar sobre o uniforme de policial de Mai por mais um tempo, mas deixou para lá por enquanto. Tinham outras coisas a discutir.
A caminho do estacionamento, ele fez a primeira pergunta que estava em sua mente.
“Descobriu algo sobre os Papais Noéis?”
“A polícia ainda não terminou de interrogar todo mundo, então não estão dizendo nada.”
“Ah.”
“Mas eles fizeram algumas perguntas básicas onde eu pude ouvir, e todos disseram a mesma coisa.”
“O quê?”
“Eles pensaram que eu era Touko Kirishima.”
“……” Isso o deixou perplexo.
Ele até esqueceu de dar o próximo passo. A notícia de Mai foi tão surpreendente assim. Era difícil de acreditar. Mas depois de ver todos aqueles Papais Noéis lá, como ele poderia não acreditar? Sakuta sabia exatamente o que havia acontecido com Nene, então tinha que aceitar a verdade.
“Todos eles ouviram rumores de que eu era Touko Kirishima, por isso estavam lá. Nenhum deles tinha intenção de fazer nada contra mim, no entanto.”
“E eles não conversaram entre si?”
“Não.”
Nene tinha sido apenas mais uma no meio de muitos. Seria isso o que significava? Nene havia dito que só estava indo ao evento. Ela jurou que não tinha outros planos além disso. Ele não sabia muito mais do que isso. Pensar sobre isso agora não o levaria a lugar nenhum. Mas ele sabia uma coisa com certeza. A mais importante de todas.
“Bem, fico feliz que você esteja segura, Mai.” Esse fato por si só já era motivo para comemorar.
“Essa é a minha fala,” ela respondeu.
“Então vale para nós dois.”
“Ah, Nodoka disse que queria falar com você.”
“Eu tenho que?” Mai empurrou o telefone em sua mão. Ela já tinha discado o número de Nodoka. Ele desistiu e colocou o telefone no ouvido.
“Mana?” Nodoka disse alegremente.
“Sou eu.”
“Não a faça se preocupar,” ela rosnou.
“Você não estava preocupada, Toyohama?”
“Estava!” Essa era uma voz diferente,Uzuki.
“Eu estava tão, tão preocupada que só consegui comer três onigiris antes do nosso show.”
“Isso parece bastante, Zukki.” Ela parecia estar com a boca cheia, como se estivesse comendo algo durante a ligação.
“De qualquer forma! Obrigada por mantê-la segura, Sakuta,” Nodoka disse. Ela desligou imediatamente.
Sakuta olhou para o telefone.
“O que está acontecendo hoje?” ele murmurou, e devolveu o telefone para Mai.
“O que você quer dizer?”
“Parece que eu encontrei todo mundo que conheço.”
Takumi, Nene e Ikumi, depois Rio, Yuuma, Tomoe e Sara. Kaede esteve lá, e agora ele tinha falado com Nodoka e Uzuki. E Mai estava ali com ele.
“Se machucar nunca é bom, mas se você vê todos os seus amigos, é um bom dia,” disse Mai. Isso parecia convincente. Palavras para viver.
“Talvez tenha sido,” ele disse. Enquanto caminhavam, deram as mãos.
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