Seishun Buta Yarou – Capítulo 5 – Vol 02 - Anime Center BR

Seishun Buta Yarou – Capítulo 5 – Vol 02

Tradução: Ivo | IlustraçõesDraconic Translations

 

 

Sakuta foi acordado por um leve tremor.

“Onii-chan, já é hora de levantar.”

Sakuta, o irmão mais velho, levantou-se lentamente em resposta ao entusiasmo de sua irmã.

“Bom dia.” ele a cumprimentou.

“Bom dia.”

Sakuta esfregou seus olhos cansados.

“Sabe Kaede…”

“Sim?”

“Existem coisas chamadas férias de verão.”

Ele poderia descansar hoje e deixar a energia para os alunos do ensino fundamental que faziam calistenia*.

(NT: é um treinamento/exercício físico onde não se usa equipamento.)

“As férias começam amanhã, certo?” Perguntou Kaede, inclinando-se curiosa.

‘O que foi que ela disse?’ Ele pensou para si mesmo.

“Nah, é hoje, certo?”

“Não, é amanhã.”

Sakuta pegou seu relógio e olhou para o familiar display LCD. Na tela estava escrito ‘18 de julho’, sexta-feira. Se as memórias de Sakuta estivessem certas, isso seria ontem…

O dia dezoito era, tal como Kaede dissera, antes do início das férias, era o último dia do semestre.

Aparentemente, aquela estranheza que ele desconsiderou quase completamente havia acontecido novamente, o dia havia se repetido como o dia 27 de junho.

No entanto, Sakuta não ficou estranhamente surpreso. Ele pode ter tido algum pressentimento de que isso poderia acontecer, havia uma sensação de desconforto remanescente dos dias que passara com Tomoe.

Tomoe passou o dia inteiro se divertindo na praia ontem, transbordando de sorrisos quando eles se separaram e sem demonstrar preocupação.

Mas foi isso o que causou o sentimento. Estava muito vazio.

Sakuta silenciosamente saiu da cama e deixou seu quarto. Ele ligou a TV e ela mostrou os resultados do jogo da noite anterior com o Fresh All-Stars Pro-baseball.

Era o mesmo que vira ontem… Ou melhor, o primeiro dia 18 de Julho.

Foi uma sensação estranha, mas ainda um tanto nostálgica.

“Onii-chan?”

“Kaede, você quer comer uma melancia?”

“Eh? Eu quero.”

“Vou comprar uma rodada mais tarde.”

Ele então tomou café da manhã com Kaede e se preparou para a escola.

“Vejo você mais tarde, Onii-chan.” Kaede falou enquanto acenava para ele com um sorriso enquanto Sakuta saía em seu segundo dia 18 de julho.

Sakuta embarcou no Enoden com Yuuma. Ele tinha chegado ao lado de Sakuta e segurava uma alça de mão da mesma maneira.

“O que você está planejando para o verão, Sakuta?”

“Trabalhar.”

“Bem, Koga-san estará lá.” Yuuma disse provocativamente, seguindo a conversa familiar.

“E você?”

“Trabalho, coisas do clube, encontros.”

“Seu jovem idiota.”

“Você não deve chamar as pessoas assim.” Yuuma bateu com o ombro de brincadeira em Sakuta da mesma forma que fez da última vez.

Qualquer coisa e tudo que Sakuta conseguia se lembrar era o mesmo do primeiro dia 18 de julho que ele experimentou.

Sakuta deixou Yuuma nas prateleiras de sapatos e não se dirigiu para a classe do segundo ano, mas para a classe do primeiro ano, para a aula de Tomoe.

Quando ele olhou pela porta, ele pode ver Tomoe imediatamente. Ela estava com Rena, Hinako e Aya em volta da mesa da professora rindo de alguma coisa.

Hinako o notou e cutucou Tomoe. Koga pareceu surpresa por um segundo, mas logo saiu da a sala de aula, prestando um pouco de atenção ao ambiente.

“Não apareça assim do nada na minha sala de aula.” disse Tomoe timidamente, consciente dos olhares atrás dela.

“Eu me senti mal por fazer isso, mas eu tinha que fazer.”

Sendo a situação o que era, Sakuta queria verificar as coisas o mais rápido possível.

“Aconteceu algo de ruim?” Ele perguntou.

Pelo que Sakuta sabia, nada de especial havia acontecido, tudo havia corrido conforme o planejado e o esperado. Eles enganaram a todos e chegaram às férias de verão. Eles viram a oportunidade de Tomoe explicar a todos como o largou e se tornaram amigos íntimos. A fofoca teria se espalhado por toda a escola sem eles nem mesmo tentarem, então tudo deveria ter terminado.

“Por que?” Perguntou a Tomoe inclinando a cabeça, parecendo intrigada.

“Como assim ‘por que’?” Sakuta percebeu que eles estavam conversando com objetivos opostos. Tomoe não parecia estar preocupada ou tensa, “Estamos fazendo o loop novamente.”

“Eh?” A boca de Tomoe caiu aberta. Essa reação resolveu tudo, ela não parecia saber o que estava acontecendo.

“Esta é a segunda vez que o hoje acontece, certo?”

“…Não.” Tomoe respondeu hesitante, como se ela estivesse preocupada com Sakuta.

“Espere, esta é a sua primeira vez!?”

“Sim.” Tomoe acenou com a cabeça ligeiramente, seu olhar fixo em Sakuta.

A campainha que sinalizou o início da primeira aula soou.

“Entendi, esqueça isso por enquanto.”

“E depois da escola?” Ela perguntou.

“Vamos continuar como planejamos.”

“C-certo.”

“Até mais.”

Tomoe acenou um tanto inquieta quando Sakuta deixou aquelas palavras para trás.

Terminadas as aulas, ele recebeu o boletim de que já conhecia o conteúdo, as mesmas notas da última vez, o mesmo aviso indireto do professor sobre a luta.

“Tenha cuidado para não se machucar brincando neste verão.”

Assim que ouviu o aviso do professor, Sakuta saiu da sala de aula da classe 2-1. A sala de aula ao lado parecia ter terminado a aula antes deles. Ainda havia vários alunos na sala de aula, mas Futaba Rio não estava à vista. Ela provavelmente estava no mesmo lugar de sempre.

Pensando assim, Sakuta se dirigiu ao laboratório de física e, assim como pensava, Rio estava lá, escrevendo algum tipo de equação no quadro.

Sakuta falou atrás dela e a deixou saber que os loops estavam acontecendo novamente.

“O que você acha?” Ele terminou pedindo a opinião de Rio.

“Azusagawa, você está bem da cabeça?”

Rio se virou e se sentou em frente à mesa de Sakuta.

“O quê há com essa pergunta?”

“Não responda a uma pergunta com uma outra pergunta como essa.”

“O quê exatamente você quer dizer?”

“É porque você está fazendo perguntas que um aluno do ensino fundamental poderia responder.”

Aparentemente, os alunos do ensino fundamental eram bastante espertos atualmente, o futuro do país estava garantido, pensou Sakuta.

“Se, como você pensa, aquela primeiro ano-” Rio começou.

“Koga Tomoe.” Sakuta interrompeu.

“Se ela é o Demônio de Laplace, a resposta é simples.”

“Simples?”

“Existe alguma diferença definida entre o décimo oitavo e o décimo nono? Como uma mudança no relacionamento entre vocês?”

Sakuta permaneceu em silêncio. A lógica de Rio estava certa. Sakuta nunca disse uma palavra à ela, mas ela já estava desconfiada sobre isso.

“Duvido que você continue assim para sempre.” disse ela, também ciente da personalidade dele, “Você já percebeu, não é?”

“Percebeu o quê?”

“A razão pela qual ela está jogando o dado novamente.”

Sakuta olhou para o teto como se quisesse evitar seu olhar.

Não era como se ele não tivesse nenhuma ideia, ele admitiria que tinha alguma suspeita.

“Mas nesse momento, Koga não sabe que é a segunda vez.”

Essa foi a única parte que não parecia verdadeira. Sakuta estremeceu ao se lembrar de sua reação confusa naquela manhã.

“Entendo… Então talvez como eu disse antes, você é o demônio.” Rio não parecia interessada, pelo contrário, ela nem parecia acreditar em suas próprias palavras enquanto o chamava de demônio. Era como se ela estivesse apenas dizendo isso para mexer com ele.

“Não sou eu.”

“Então, há apenas uma explicação.”

“Só essa, hein…”

“Sim, que ela… Está mentindo.”

Sakuta não negou suas palavras.

Sakuta deixou o laboratório de física e se encontrou com Tomoe antes de ir para a praia. Como da última vez, comeram milho grelhado nas barracas da praia, fizeram castelos de areia, encheram a cara de raspadinha e brincaram no mar.

Tomoe parecia gostar de tudo.

Antes de irem para casa, Tomoe agradeceu e finalmente apertou a mão dele como no primeiro dia.

Nada mudou. Se o amanhã chegasse, não haveria necessidade de dizer nada.

No entanto, quando Sakuta acordou na manhã seguinte, era mais uma vez dezoito de julho. Isso tornou o terceiro dia que era o final do semestre, as férias de verão simplesmente não estavam chegando.

No dia vinte e sete de junho, não havia alcançado a quarta vez. Com base nessa experiência, Sakuta mais uma vez passou o dia sem mudar nada, pensando que poderia ser baseado no número de repetições.

Tomoe, sem saber dos loops, voltou a brincar no mar hoje.

 

2

 

As tênues esperanças de Sakuta foram frustradas e no quarto dia de julho, o dia dezoito, amanheceu novamente.

Portanto, não havia outra maneira além de lidar com o Demônio de Laplace para sair dessa situação.

Ele pegou o trem no mesmo horário de sempre e pegou o mesmo trem que Yuuma mais uma vez.

“Yo.”

“Ei.” Sakuta respondeu sem rodeios enquanto o último sorria brilhantemente.

Yuuma não pareceu se preocupar com isso e agarrou a alça ao lado de Sakuta.

Sakuta abriu sua boca e começou a falar enquanto eles olhavam para as ruas tranquilas.

“Diga-me, Kunimi…”

“Hmm?”

“Você tem namorada, certo?”

“Felizmente, sim.”

(NT: alguém gosta da namorada dele além dele?)

“O que você faria se alguma outra garota tivesse sentimentos por você?”

A expressão de Yuuma ficou ligeiramente cautelosa quando ele fez uma pausa.

“O quê você faria se notasse os sentimentos dela?”

“De quem você está perguntando?” Yuuma perguntou, tentando descobrir a intenção de Sakuta.

“É apenas hipoteticamente.”

“Hipoteticamente, hein?”

Nada de concreto foi dito, mas apenas com a conversa deles até agora e a seriedade de Yuuma, Sakuta havia percebido algo. Yuuma percebeu os sentimentos de Rio.

Mas por causa disso, ele ouviu a pergunta de Sakuta sem tentar sair dela.

“Ela… Sabe que eu percebi?”

“Ainda não.”

Ambos evitaram citar nomes.

“Ainda, hein?” Yuuma disse com um sorriso triste: “Honestamente, prefiro não revelar sentimentos que ela está escondendo.”

Yuuma ficou sem dar nomes e olhou para o mar, estreitando os olhos contra o brilho.

“Também sinto que estaria sendo muito egocêntrico, e me faria perguntar quem eu penso que sou…” Yuuma continuou, escolhendo cuidadosamente suas palavras. “Mas eu não acho que deixar assim é uma boa ideia, qual é a resposta certa para isso?”

“Isso é o que eu perguntei.”

Eles chegaram a Shichirigahama ainda sem a resposta.

Toda a escola se reuniu no ginásio para a cerimônia de encerramento, a quarta vez de Sakuta. Claro, porque era a quarta vez que ele estava ouvindo o discurso do diretor, ele não ouviu uma palavra e apenas pensou em outras coisas.

Tomoe para ser mais exato.

Ele olhou para ela entre os primeiros anos no ginásio. Ela pareceu notar seu olhar e olhou para ele. Ela pareceu ligeiramente surpresa quando seus olhos se encontraram, mas um sorriso logo apareceu em seu rosto.

Tudo se encaixou para Sakuta quando ele a viu sorrir.

“Sim, ela… Está mentindo.”

Isso era exatamente o que estava acontecendo.

Depois da escola, eles se encontraram na estação de Shichirigahama e fizeram três paradas no Enoden enquanto falavam sobre os resultados.

Eles saíram para a rua Subana pavimentada com tijolos, cruzaram a rota 134 usando o metrô e seguiram em frente.

“Senpai? A praia é por aqui.” Disse Tomoe, apontando para a esquerda para as cabanas de praia alinhadas na praia de Higashihama. A propósito, havia a praia de Nishihama à direita.

“Esta já é a minha quarta vez.”

“Você está entediado com a praia?”

“Estou feliz que você pode ler bem a atmosfera.” disse ele enquanto cruzavam a ponte para Enoshima.

“Vamos para Enoshima?” Ela perguntou enquanto saltava atrás dele, e Sakuta olhou de soslaio para o rosto dela.

“Bem, não tivemos a chance de ir em nosso primeiro encontro.”

“Ah, isso é verdade.”

Naquela época, eles tinham visto uma das colegas de turma de Tomoe em apuros quando estavam cruzando a ponte… Ela, Yoneyama Nana, tinha perdido a alça que comprou com a amiga dela.

“A ilha, o céu, o mar.”

No caminho, eles não conseguiam ver nada além da própria Enoshima, o céu azul e o mar que se estendia.

Tomoe esticou os braços como se quisesse segurar o céu.

Gaivotas pretas voavam pelos céus, muitas vezes roubando comida dos banhistas.

Assim que cruzaram a ponte de quatrocentos metros, foram recebidos por lojas de souvenirs para turistas e lojas de frutos do mar locais. O mar estava em uma boa temporada de pesca no momento.

Eles passaram por um torii* e o caminho mudou para uma inclinação que ficava ao lado de um erro geográfico. O caminho se estreitou e a atmosfera nostálgica e tradicional aumentou ainda mais. Em ambos os lados da rota havia lojas que vendiam a famosa isca branca da área e bolsas e carteiras coloridas que chamaram a atenção.

(NT: Torii são aqueles portões vermelhos que sinalizam a aproximação de um santuário. Tem de outras cores também, quem quiser saber mais, pode pesquisar.)

Eles passaram por alguns estudantes universitários, compartilhando um enorme biscoito de arroz com lula.

Sakuta sentiu uma sensação de desejo próximo a ele.

“Se você compra comida de rua enquanto caminha, você engorda.” disse Sakuta, mesmo enquanto entregava o dinheiro para a mulher atrás do balcão.

“Estou fazendo dieta a partir de amanhã.”

“Hmm?”

Ele se conteve de mais comentários e pegou o biscoito de arroz assim que foi cozido na frente deles.

“É enorme.” disse Tomoe.

Era maior do que os rostos de Sakuta ou Tomoe.

Dividindo-o entre eles, eles continuaram subindo o caminho para o santuário próximo enquanto comiam.

Um conjunto de escadas apareceu com um torii vermelho no meio do caminho. No topo ficava o Santuário Enoshima, composto por três santuários menores.

Eles terminaram o biscoito de arroz na frente do torii antes de continuar subindo um degrau de cada vez.

Eles escalaram em silêncio e finalmente alcançaram o topo e o primeiro santuário, Hetsumiya, completamente sem fôlego.

“Minhas pernas estão mortas.” Tomoe reclamou.

“Você deveria ser do primeiro ano.”

“O que há com essa lógica?”

“Você é jovem.”

(NT: e tu é muito velho, né?)

Depois de um tempo, eles recuperaram o fôlego e visitaram o santuário apropriadamente.

“Koga, eles têm amor ema.” Sakuta apontou próximo Musubi-no-ki com muitas das placas votivas anexadas a ele, “Vamos escrever uma.”

(NT: acho que nem todos sabem o que é, mas no japão, os casais escrevem seus nomes em uma placa, amarram ela em um fio vermelho, e penduram em uma árvore de santuários, (nem todos tem), pra desejar que o casal fique junto para sempre. Eu realmente recomendo pesquisarem mais à fundo pq apesar de ser simples tem uma explicação longa, além de vários tipos.)

“Eh? Estamos mentindo para os deuses?” Tomoe perguntou.

Ignorando-a, Sakuta comprou um ema com a donzela do santuário.

“S-Senpai.”

Talvez pensando que a reação de Tomoe foi de vergonha, a mulher entregou a ema com um sorriso.

Sakuta pegou uma caneta emprestada e usou-a para escrever seu nome completo, ‘Azusagawa Sakuta’ no símbolo em forma de coração.

“Aqui.” ele disse.

“Nós estaremos pecando.” respondeu ela.

“Quando você decidiu mentir para todos, você estava preparada para cair no inferno, certo?”

“Eu não me importo… Mas não quero arrastar você junto.”

Tomoe virou o ema confusa. Estava escrito para que tipo de pessoa o ema era ali, e bem no topo estava: “alguém com um amor não correspondido”.

(NT: Sakuta pegou pesado)

Um suspiro silencioso deixou a boca de Tomoe.

Tomoe escreveu ‘Koga Tomoe’ ao lado de ‘Azusagawa Sakuta’ em escrita ondulada com uma expressão preocupada no rosto. Sakuta então arrancou a ema das mãos de Tomoe e a amarrou na árvore.

“Senpai! Definitivamente vamos ser castigados se mentirmos com todos os desejos reais! Me dê, eu vou levá-lo para casa!”

Tomoe estendeu os braços e silenciosa e freneticamente tentou impedi-lo, tentando garantir que a donzela do santuário não ouvisse a palavra ‘mentira’.

“Eu sou o único mentindo, então está tudo bem.”

“Eh?”

A força deixou os braços de Tomoe e Sakuta usou essa chance para amarrar o ema firmemente na árvore, não seria facilmente removida agora.

Eles mais uma vez subiram as escadas em silêncio como se estivessem treinando, alcançando os impressionantes pilares vermelhos de Nakatsumiya. Caminhando mais adiante, eles chegaram a uma plataforma de observação que podia ser vista de longe. Eles passaram por ali e apontaram para o santuário mais distante, Okutsumiya.

O caminho era estreito com lajes antigas de pavimentação e tinha certo ânimo sobre isso. Depois de um pouco mais de caminhada, havia lances de escada que subiam e desciam, com lojas de souvenirs e cafés, e vários restaurantes preenchendo o espaço.

O cenário era como algo que teria sido usado em filmes antigos para mostrar o calor das pessoas, havia uma atmosfera gentil criada por pessoas que moravam nas proximidades vindo e encontrando amigos e conhecidos. Às vezes, um gato cruzava seu caminho e, a cada vez, Tomoe tentava acariciá-lo, mas ele fugia.

“Senpai, sobre mais cedo…”

“Hmm?”

“Quando estávamos na árvore…”

Sakuta não respondeu.

“Não é nada.”

Ele sabia o que ela estava tentando perguntar. Na frente da árvore, Sakuta disse:

“Eu sou o único mentindo, então está tudo bem.”

Ele podia sentir Tomoe querendo saber exatamente o que ele quis dizer com isso. Mas antes que ela abrisse a boca novamente, eles alcançaram Okutsumiya.

Eles visitaram o santuário em silêncio. O rosto de Tomoe, quando ela juntou as mãos, estava terrivelmente sério. O que ela estava desejando, ele se perguntou.

O caminho se estreitou ainda mais à medida que continuava, os degraus estreitos descendo para a borda oeste de Enoshima… Chigogafuchi.

Era uma faixa de rocha de quinze metros de largura. A água correndo sobre a superfície removeu as pedras da superfície, alisando-as. A própria rocha havia subido no Grande Terremoto de Kanto em 1923 e agora se parecia com isso.

Era uma visão agradável da pedra, com o tempo como estava, o Monte Fuji era claramente visível.

A brisa do mar envolveu seus corpos. Outros casais pararam na estranha saliência natural.

“Hinako-chan disse que o pôr do sol fica lindo daqui.” Tomoe murmurou para si mesma com as duas mãos no parapeito.

Ela provavelmente percebeu.

Percebeu o porque de Sakuta a convidou aqui…

Percebeu o significado por trás de suas palavras antes…

Ela percebeu e estava fingindo que não.

“Vamos. ”Sakuta sugeriu.

“Sim.”

À medida que falavam, suas frases foram ficando mais curtas.

Eles caminharam silenciosamente de volta ao longo do caminho que haviam tomado.

Sakuta e Tomoe mal falaram. Eles desceram lentamente as escadas que tinham sido tão difíceis de subir, passando sob o primeiro torii.

Chamadas de vendedores os seguiram enquanto eles deixavam Enoshima para trás.

As praias se estendiam à esquerda e à direita de ambos os lados da Ponte Benten enquanto a cruzavam. Voltar significava que lado havia mudado. Nishihama estava à esquerda e Higashihama estava à direita. O sol estava subindo no céu do sul, mostrando a atividade nas praias. Provavelmente havia grupos que tinham ido direto da escola para a praia. Sakuta e Tomoe também pretendiam no início.

“Ei, Senpai, vamos para a praia agora?” Tomoe perguntou, olhando para a praia. “Estou usando meu maiô por baixo, afinal.”

Sua voz estava alegre, ela era a mesma de sempre.

Sakuta tomou sua decisão naquele ponto, parando na ponte. Tomoe levou um momento para perceber, então se virou para olhar para ele em questão cerca de três metros à frente. Os dois pararam bem no meio da ponte, com o mar dos dois lados.

“Senpai?”

“Koga, vamos acabar com essa mentira.”

“Eh? Ah, certo, a mentira do namoro acaba hoje.”

“Não é isso que eu quero dizer.”

“…Senpai? Você parece meio assustador…” Tomoe olhou para ele confusa.

Mesmo assim, Sakuta não deixou sua expressão dura escapar.

“O quê? O quê aconteceu?” Ela perguntou.

“Você achou que eu não notaria?”

“Notar o quê?”

“Mesmo que fosse uma mentira, eu fui seu namorado por cerca de três semanas.”

Koga ficou em silêncio.

“Você disse antes que eu podia ler a atmosfera, mas só não o fazia.”

“Senpai, você está sendo estranho.”

O rosto de Tomoe estava confuso, mas Sakuta ainda continuou.

“Se você não vai dizer, eu vou.”

Koga ficou em silêncio novamente.

“OK?” Tomoe não desviou o olhar de Sakuta durante todo o tempo em que ele falou, mas ela caiu um pouco enquanto Sakuta continuava: “Não importa quantas vezes você role os dados novamente, você não mudará os sentimentos das pessoas.”

Ele fez uma pausa para permitir que Tomoe respondesse, mas ela não o fez.

“Mentiras não se tornarão verdades, e a verdades não se tornarão mentiras.”

Em resposta a essas palavras, Tomoe agarrou-se com força à bainha do uniforme, como se estivesse tentando resistir a algo…

“…Mesmo depois de cem vezes?”

A voz estrangulada de Tomoe foi varrida pela brisa do mar enquanto sua cabeça permanecia baixa.

“Sim.”

“…Mesmo depois de mil vezes?” A voz dela tremeu.

“Isso mesmo.”

“Nem mesmo depois de dez mil vezes?”

“Não vai mudar mesmo depois de cem milhões de vezes. Eu amo apenas a Mai-san.”

Mais uma vez, Tomoe voltou ao silêncio.

“Mesmo que você continue repetindo as mesmas coisas, seus sentimentos também não vão mudar.”

Um silêncio pesado caiu sobre os dois, mesmo quando grandes gotas de chuva começaram a cair do céu de repente.

O céu acima deles estava azul, um banho de chuva em meio ao sol brilhante.

“Você é um mentiroso… Senpai…” A voz fraca de Tomoe saiu, misturada com a chuva torrencial, “…Os sentimentos mudam.”

A chuva estava tão forte que doeu quando caiu.

“Eles se vão se acumulando com a repetição… Eles se acumulam…”

A voz de Tomoe ficou rouca quando ela admitiu sua mentira. Tomoe sabia que o dia estava se repetindo e fingiu que era a primeira vez depois disso. Ela brincou no mar todas as vezes como se não tivesse percebido na segunda ou terceira vez, atuando.

Era tudo para esconder seus sentimentos.

“Decidi que ia esquecer… Mas não consegui. Achei que fosse conseguir dessa vez, mas… Não consegui, mesmo tendo decidido abandonar esses sentimentos!”

Uma sensação trêmula apunhalou o peito de Sakuta. Os sentimentos esmagadores de Tomoe finalmente apareceram ligeiramente em seu rosto. Foi uma reação extremamente humana, não algo que um demônio teria.

“Hoje tive um último encontro divertido com você… E queria terminar nosso falso relacionamento com um sorriso. Então, quando as coisas correrem bem com a Sakurajima-senpai no próximo semestre, eu queria provocar você com ‘que bom para você’.”

“Koga…”

“E então eu seria sua amiga, uma amiga com quem você poderia conversar sobre qualquer coisa. E você seria meu amigo um pouco mais velho, que me mimaria um pouco. Você teria ficado feliz com isso também… E poderíamos ter nos lembrado de como tudo isso foi divertido e ser bons amigos para sempre!” Tomoe ergueu o rosto e tentou sorrir, mas não conseguiu. “Isso é o que eu queria fazer…” Sua tristeza apareceu em sua voz, apertando tanto que machucou seu peito.

“Isso é tudo que eu queria…” ela continuou, “Eu não queria nada de especial. Eu não ia ser egoísta. Eu não ia causar problemas a ninguém, sabe? Mas… Mas por que o amanhã não chega para mim!?”

Sakuta não tinha a resposta para ela.

“Decidi deixar esses sentimentos, então por que eles são sempre mais fortes a cada dia que eu acordo!?” Isso era óbvio, mesmo se esconder emoções profundamente em seu peito não as faria desaparecer, elas nunca iriam, esses sentimentos viviam por dentro. Tentar desesperadamente negar seus sentimentos apenas os faria ficar cada vez mais fortes… “Isso é horrível…”

As emoções das pessoas não eram programas de computador, você não podia simplesmente desligá-los. Um número de telefone ou ID salvo poderia simplesmente ser excluído, mas as emoções não. As pessoas estavam presas a coisas diferentes, e essas três semanas haviam aproximado Sakuta e Tomoe.

“Decidi não me sentir mais assim… Foi isso que decidi!”

“Você não precisa fazer isso.”

“Eu preciso!” Tomoe veria através de seu estilo de vida e isso a estava prejudicando, “Mas você gosta de Sakurajima-senpai. Eu estou apenas atrapalhando! Amigos não se sentem assim, eles não precisam disso!”

Foi isso que Sakuta pediu a Tomoe.

“Assim que terminarmos com essa mentira, seja minha amiga.”

Tomoe decidiu suportar seus próprios sentimentos para atender a esse pedido. Ela teve que suportá-los, então ela não sobrecarregou Sakuta. É por isso que ela desistiu sem dizer nada, ela tentou esmagar seus sentimentos, agir como se eles não existissem desde o início e ser amiga de Sakuta.

Sua amiga mais nova era apenas um pouco atrevida.

Mas dividir seus sentimentos e seguir em frente com o que ela decidiu era potencialmente impossível. Seus sentimentos eram tão fortes que ela não conseguia controlá-los, sentimentos que ela mesma realmente não entendia.

Esta pode ser a primeira vez que Tomoe enfrentou esses sentimentos.

O relacionamento deles começou com uma mentira.

E ainda, antes que ela percebesse, seus sentimentos se tornaram verdade, a coisa real.

Mesmo assim, o dia de sua separação por causa da mentira chegou… E os sentimentos agora reais de Tomoe foram as únicas coisas que restaram, mantidas fortemente em seu coração e não resolvidas. As emoções que ela queria expressar estavam apenas retidas na escuridão dentro dela.

O senso de valores de Tomoe não permitiria isso. Expressá-los incomodaria alguém, incomodaria Sakuta. Portanto, ela só poderia continuar tentando matar seus sentimentos para ser a “Koga Tomoe” que Sakuta queria, acumulando resistência sobre resistência.

Foi doloroso, solitário e não deu a ela nenhum lugar para ir, então mais uma vez acordou o demônio adormecido.

Essa era a verdadeira identidade do demônio, o senso de identidade que Tomoe encerrou dentro dela. Seus verdadeiros sentimentos se recusavam a permitir que o verão chegasse assim. Mesmo que fosse uma mentira, Sakuta tinha sido seu namorado… Então ela não queria que o amanhã chegasse.

Mesmo assim, Tomoe ficou em silêncio e tentou esquecer Sakuta, para fazer com que nunca tivesse acontecido, é por isso que ela mentiu.

“Koga.”

Tomoe soltou um gemido quando ele se dirigiu a ela.

Mesmo que isso a magoasse, havia algo que ele tinha a dizer.

“Quando eu disse que você estava no caminho?”

“Você é horrível, Senpai…”

“Você só está percebendo agora?”

“Eu não gosto de você, eu te odeio! Você é terrível! Você foi muito gentil comigo… ”

“Isso mesmo. Então você não precisa tentar poupar meus sentimentos.”

“Eu também não gosto de mim, eu me odeio… Isso não sou eu!”

“Errado, é você, essa também é você.”

“Não! Esta não sou eu! Eu quero que as férias de verão cheguem! Quero ser amiga e me divertir já com você! Isso é tudo o que eu quero!”

Mesmo agora, Tomoe não derramou uma única lágrima, ela parecia saber que se começasse então, seria o fim de tudo, pois ela olhou para Sakuta com os olhos marejados.

“Pare de mentir para si mesmo agora.”

Tomoe não respondeu.

“Você é uma estudante do ensino médio aliada da justiça, certo?”

“Isso não é justo… Você não pode dizer assim…”

“Não há nada que você não possa fazer.”

“Isso não é justo, não é, Senpai…”

“Você não precisa mais suportar.”

“Seu idiota, Senpai! Seu idiota! Eu te odeio, eu te odeio! Mas…” A voz de Tomoe estava tingida de lágrimas, “Mas… Eu gosto de você…” Lágrimas brotaram ainda mais em seus olhos.

“Eu gosto de você, Senpai…” Ela respirou fundo pelo nariz, fungando, “Eu te amooooo!”

Os sentimentos que Tomoe manteve dentro de si por tanto tempo vieram à tona, atingindo Sakuta, pura e sem restrições.

“Koga…” ele falou baixinho, fazendo todo o possível para ser gentil… Ela segurou as lágrimas por um momento, mas as palavras de Sakuta não a deixaram continuar. “Bom trabalho.”

O rosto de Tomoe estava desgrenhado quando ela soltou o início de um choro, as lágrimas brilhando em seu rosto.

“Você trabalhou muito duro.”

“Uuu… Uwaaaahhhhh…”

Ela soluçou alto, incapaz de falar, chorando enquanto suas lágrimas caíam com a chuva a seus pés, pingando… pingando…

O céu azul olhava para eles, alto, distante e claro até onde a vista alcançava. As chuvas tinham parado.

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