Capítulo  1507

Trono do Crepúsculo

Sunny olhou para o trono negro. O grande salão do palácio do Rei Serpente estava vazio e escuro, com destroços de pedra espalhados pelo chão e suspensos no ar, partículas de poeira congeladas nos raios de luz intensos. Apesar da batalha catastrófica acontecendo lá fora, estava perfeitamente silencioso — exceto pelos sons roucos de sua respiração.

‘Certo. Vamos fazer isso…’

Ele sentiu uma mistura complicada de alívio, antecipação e pavor. Alívio e antecipação porque ele havia chegado a tempo, pavor porque a batalha contra a horda da Profanação recomeçaria no momento em que ele concluísse sua tarefa.

O monstruoso Ladrão de Almas, o aterrorizante Senhor do Medo… eles teriam que lutar contra essas entidades. Sunny ainda lembrava o terror de enfrentar um Titã Corrompido em batalha. A Besta do Inverno sozinha tinha sido suficiente para dizimar os restos do Primeiro Exército de Evacuação e os milhões de refugiados em Falcon Scott. O gelo mortal daquele dia escuro tinha penetrado em seus ossos.

Mas hoje seria diferente.

Todos os membros da coorte estavam aqui. Mordret estava aqui também… e um vasto exército de guerreiros de um reino distante, todos veteranos experientes do Feitiço do Pesadelo.

Sunny também tinha ficado muito mais forte.

‘Vamos matar os dois.’

Sacudindo a hesitação momentânea, ele caminhou em direção ao trono negro.

Enquanto fazia isso, Sunny notou algo atrás do pedestal. A sala do trono não estava completamente vazia, afinal… alguém estava parado lá, congelado no meio de olhar para a cúpula em ruínas. Uma figura alta e elegante vestindo uma armadura de marfim, amarrada na cintura com uma faixa de umber queimado. Cabelos castanhos, olhos verdes…

Sunny congelou por um momento.

‘Kai!’

Então, era aqui que o Feitiço tinha enviado seu amigo. Kai tinha estado na sala do trono o tempo todo, congelado no tempo e nem sequer ciente do que estava acontecendo ao seu redor. Todos os longos meses que se passaram foram como um momento para ele.

Sunny nem sabia se deveria se sentir ciumento ou triste por seu amigo.

Desviando o olhar, ele colocou o pé no primeiro degrau do pedestal.

‘Aguente firme, amigo. Eu vou te libertar muito em breve…’

Sua essência estava perigosamente baixa.

Subindo no pedestal, Sunny parou em frente ao trono negro, incerto sobre o que fazer. A primeira ideia que lhe veio à mente foi sentar-se nele, como Daeron devia fazer quando presidia a corte no passado.

Mas, de alguma forma, Sunny não gostou dessa ideia. Ele nunca aspirou ser um rei de qualquer coisa, muito menos de uma cidade cujo antigo rei ele havia matado. Tronos magníficos não eram realmente sua praia… ele já estava bastante feliz com sua prática Cadeira das Sombras.

‘Ah, tanto faz.’

Sentindo um senso de urgência, Sunny deu um passo mais perto e de repente notou uma ranhura circular esculpida na parte de trás do trono. Seu tamanho e profundidade pareciam quase perfeitos…

Cassie tinha destruído o encantamento temporal da ilha de Aletheia inserindo a chave em uma fenda esculpida no fragmento do Estuário. Seguindo um impulso, Sunny tirou a Coroa do Crepúsculo e a levou até a ranhura circular.

Assim que fez isso, uma força invisível puxou a faixa de metal escuro de sua mão. A Coroa se encaixou perfeitamente na ranhura, fundindo-se com a pedra negra do trono. Felizmente, sua conexão com sua alma não havia sido cortada — Sunny ainda podia usar seus encantamentos.

Ele também sentiu… uma conexão diferente, muito mais vasta sendo estabelecida entre sua alma e algo imenso. A cidade em si, talvez.

Respirando fundo, Sunny olhou para a cúpula rachada do palácio…

E puxou essa conexão, dando um comando mental:

‘Em nome de Daeron, o Rei Serpente… em nome de Flor do Vento do Mar do Crepúsculo… e todos aqueles que caíram… Eu, Perdido da Luz, ordeno que o tempo volte a fluir!’

Por alguns momentos, nada aconteceu. O grande salão do palácio estava tão imóvel e silencioso quanto antes.

Mas então, um som alto rompeu o silêncio. Era o som de um fragmento de pedra caindo no chão.

Sunny se virou rapidamente e viu pedaços de destroços se espalhando pelos azulejos de mármore. Seus olhos se arregalaram quando percebeu o significado do que acabara de acontecer.

Então, foi como se uma onda invisível se espalhasse pelo mundo. A poeira que estava suspensa no ar, imóvel, se moveu e dançou nos raios de luz. Os fragmentos de pedra caindo da cúpula rachada do palácio despencaram um após o outro, quebrando contra o chão de mármore.

Um murmúrio abafado da batalha desastrosa infiltrou-se pelas paredes de pedra do palácio, soando como o mar em ascensão.

‘Eu… eu realmente consegui.’

E então, algo atingiu a cúpula com um som ensurdecedor, fazendo todo o palácio tremer.

Sunny sentiu garras de medo agarrar seu coração. Sim, ele realmente tinha conseguido… e agora, era hora de enfrentar as consequências do que ele havia feito.

Havia um dragão malvado bem acima de sua cabeça agora, determinado a massacrar todos os humanos no Crepúsculo.

Também havia os membros da coorte perdidos em algum lugar nas ruas da cidade, um terrível Titã do Espelho e um exército de guerreiros assustadores cuja lealdade precisava ser conquistada, de alguma forma.

Mas primeiro…

Arrancando a Coroa do Crepúsculo da ranhura cortada no trono negro, Sunny a colocou na cabeça e correu em direção à figura solitária de pé sob o pedestal.

Kai estava apenas começando a se mover. Ele balançou um pouco e deu um passo para trás, tropeçando no primeiro degrau do pedestal. Antes que ele pudesse cair, no entanto, Sunny o pegou e começou a arrastá-lo para longe do trono.

O arqueiro charmoso parecia muito confuso.

“S—Sunny? O que está acontecendo? Estamos no Pesadelo?”

Sentindo o palácio tremer mais uma vez ao seu redor, Sunny amaldiçoou internamente.

“Ei, Kai! Versão curta: sim, estamos no Pesadelo. Há uma versão maligna de você, que é um dragão abominável, tentando nos devorar agora. Não se preocupe, porém! Também há um exército de guerreiros alienígenas de um mundo destruído para nos ajudar a matar você… ele… o dragão! O resto da coorte também está aqui, em algum lugar. Nós nos separamos quando um Titã Corrompido nos atacou na versão espelhada desta cidade, que estava congelada no tempo. Mas agora, eu… descongelei, acho…”

Sunny olhou para Kai e sorriu.

“Ah! E também, Effie está grávida.”

O arqueiro o encarou com olhos arregalados por alguns momentos.

“Eu sei!”

Sunny quase tropeçou.

“O quê? Você sabe sobre as Pragas, o Mar do Crepúsculo e a matriz defensiva?”

Kai balançou a cabeça e estendeu um braço, invocando seu arco.

“Não… quero dizer, eu sei sobre Effie. Ela confiou em mim semanas atrás. Eu não tenho ideia do que o resto das coisas que você disse significa!”

Sunny o olhou incrédulo, sentindo-se magoado por algum motivo.

‘Então ela contou para o Kai, mas não contou para mim? Hmph!’

Ele não pôde evitar dizer vingativamente:

“Na verdade… eu sabia há meses…”

O que ainda era depois do Kai, mas tecnicamente verdade.

Kai lhe lançou um olhar estranho, depois abriu a boca para dizer algo. Mas naquele momento, Sunny congelou.

Algo… algo estava muito estranho sobre o palácio.

Demorou um momento para ele perceber o que havia mudado.

‘Por que tudo está tão quieto?’

Os sons abafados da furiosa batalha lá fora haviam desaparecido em algum momento, mergulhando o mundo em um silêncio assustador.

Sunny sentiu os pelos de sua nuca se eriçarem.

Ele teve uma premonição terrível… de que eles haviam cometido um erro terrível, em algum lugar…