Capítulo 2067

Fragmentos da Guerra (4)

Distante ao sul, os ventos uivavam nos profundos cânions que cortavam a superfície de uma planície inclinada. Ali, no fêmur da deidade morta, o antigo osso estava coberto de rachaduras, como se algo o tivesse despedaçado incontáveis anos atrás.

Entretanto, não havia vinhas escarlates brotando das fissuras, nem uma selva cobrindo as encostas do titânico fêmur. Todo o lugar estava morto e silencioso, banhado pela ardente radiância do céu nublado.

O fêmur se estendia até a superfície do Mar de Cinzas, onde nem mesmo o Lorde das Sombras ousava pôr os pés. Não estava claro se a tíbia e a fíbula da divindade morta estavam ausentes ou simplesmente enterradas nas cinzas — nenhum humano jamais alcançara aquele solo antes, e ninguém era louco o suficiente para tentar descobrir a verdade.

Atualmente, uma tropa exaurida de guerreiros avançava pela desolada extensão do osso branco, sofrendo sob o calor insuportável. Entre eles, havia três Santos, liderando uma força composta de Cavaleiros Ascendidos — aqueles que ainda estavam vivos, é claro. Muitos haviam perecido pelo caminho.

Sir Gilead, o Summer Knight, caminhava à frente da coluna. Sua armadura lustrosa estava coberta de poeira e perdera o brilho, e seu rosto normalmente bem barbeado agora ostentava uma curta barba. Sua pele havia escurecido pelo bronzeado, e seus olhos intensamente azuis se estreitavam contra a radiância impiedosa do céu cinzento.

Erguendo a mão, ele limpou o suor da testa e parou por um momento, ouvindo o uivo do vento.

Sua expressão escureceu.

O vento havia ficado mais forte, trazendo consigo uma refrescante sensação de frescor. Os cavaleiros exaustos pareciam revigorados pelo toque do vento, seus movimentos tornaram-se mais enérgicos.

No entanto, os Santos trocaram olhares sombrios.

Um deles — um homem usando uma pesada armadura e um capacete fechado, apesar do calor terrível — falou com uma voz rouca:

“O vento está aumentando.”

A outra, uma mulher carregando um parasol ornamentado, ergueu o lenço para cobrir o rosto e suspirou profundamente.

Gilead permaneceu alguns momentos em silêncio, depois assentiu.

“Está.”

Deu mais alguns passos, então parou e olhou para o céu distante. Após ponderar algo por alguns instantes, Gilead continuou andando.

“Tentaremos alcançar a fissura mais próxima a tempo. Talvez tenhamos sorte…”

Nessa altura, os cavaleiros também haviam notado que o vento estava se intensificando. Seus rostos empalideceram, e um leve terror contido apareceu em seus olhos.

“Movam-se! Não há tempo a perder!”

Após dar o comando, Gilead passou de passos medidos para uma corrida leve, liderando a expedição de conquista rumo ao sul. Os demais o seguiram.

Os homens em armaduras pesadas recuaram para proteger a retaguarda da tropa, enquanto a mulher com o parasol o alcançou.

Enquanto o vento os empurrava com força feroz, ela disse baixinho:

“Quantos de nós você acha que chegarão à Cidadela, Sir Gilead?”

Gilead lançou um breve olhar para ela, mas não respondeu.

A mulher riu amargamente.

“Isso significa que você não sabe? Ou que nenhum de nós chegará?”

Ele a olhou novamente, desta vez com desaprovação.

“Nós prevaleceremos.”

Ela balançou a cabeça.

“Você disse o mesmo quando nossos soldados estavam sendo massacrados ao atravessar a superfície da Coluna, e quando perdemos três coortes no Cintura também. Mesmo quando estávamos sendo devorados vivos na selva ao norte do Fêmur, você continuava dizendo essas palavras. E sim, claro… talvez prevaleçamos. Mas quem seremos? Uma dúzia de sobreviventes? Um punhado?”

Ela balançou a cabeça novamente.

“Sir Gilead… ainda não é tarde para desistir. Podemos voltar ao mundo desperto, levando os cavaleiros um de cada vez.”

Gilead franziu a testa e permaneceu em silêncio por alguns momentos.

“Podemos. Mas nossas ordens eram conquistar a Cidadela, então não desistiremos.”

A mulher abaixou o parasol, escondendo o rosto atrás dele, e suspirou profundamente.

“Sempre tão leal…”

Gilead sorriu melancolicamente e ergueu a mão para proteger o rosto do vento.

Os membros da expedição correram rumo ao sul, esperando encontrar abrigo antes que fosse tarde demais… por mais precário que fosse. Mas a sorte não estava ao lado deles.

Logo, a mulher praguejou e fechou o parasol, temendo que sua estrutura frágil fosse quebrada pela poderosa rajada. Em pouco tempo, o vento soprando das profundezas do Túmulo de Deus havia se tornado tão poderoso que até mesmo Mestres lutavam para manter o equilíbrio, rugindo enquanto enfrentavam a vastidão inclinada do fêmur do deus morto.

Pior ainda…

Flocos escuros começaram a cair do céu, trazidos pelo vento do distante Mar de Cinzas.

Sabendo que não havia mais tempo, Gilead parou e cerrou os dentes.

Então, ele comandou seus soldados em um tom sóbrio:

“Parem. Formem um círculo! Protejam seus irmãos!”

Os cavaleiros se moveram com a precisão impecável de veteranos experientes. Qualquer medo que pudessem sentir não afetava sua prontidão e coordenação — poucos momentos depois, a força expedicionária formou uma formação circular apertada, as lâminas afiadas de suas espadas apontando para fora como uma paliçada de aço.

A cinza continuava caindo do céu, e logo, todo o mundo estava envolto em um véu cinzento. A radiância do céu encoberto diminuiu, e o calor sufocante tornou-se ainda mais opressor, golpeando os humanos trêmulos como um martelo celestial.

A visibilidade foi reduzida quase a zero.

No crepúsculo da tempestade de cinzas, uma luz brilhante de repente surgiu, afastando as trevas. Gilead, que estava ombro a ombro com seus cavaleiros, havia assumido sua forma Transcendente, transformando-se em uma figura etérea que parecia tecida de pura e cálida luz solar.

Do outro lado do círculo, o homem de armadura pesada ergueu seu maça. No instante seguinte, seu corpo parecia se expandir, transformando-se em um gigantesco guerreiro de aço.

A mulher estava no centro do círculo, apoiando-se levemente no parasol. Seu lenço tremulava ao vento, e, embora seu rosto estivesse escondido pelo tecido, seus olhos verdes brilhavam no crepúsculo cinzento como duas chamas esmeralda.

Por um tempo, não havia nada no mundo cinzento além das nuvens ondulantes de cinzas rodopiantes. Não havia som ao redor deles, exceto o uivo do vento.

E ainda assim, os Cavaleiros de Valor pareciam aterrorizados, encarando o vazio cinzento com medo, desespero e antecipação cautelosa.

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