Tradução: Eudarda
Volume 2
Capítulo 5 – Separados Um a Um
I
Exército Imperial, Castelo Windsam, Escritório do Comandante
O tenente coronel Volmar Ganglet foi morto em batalha!
Quando recebeu essa notícia, Gaier correu para o escritório da comandante.
— Vossa Excelência, tem um relatório urgente.
— Posso adivinhar o que é pela sua cara… mas vamos ouví-lo de qualquer forma, seja breve.
Rosenmarie gesticulou para as pilhas de documentos na sua mesa. Ao olhar mais de perto, havia olheiras debaixo dos seus olhos, ela provavelmente estava trabalhando de noite na papelada. Vendo isso, Gaier olhou de relance para os atendentes que estavam na sala, que abaixaram a cabeça com medo.
— Não seja tão feroz, eu é que insisti em trabalhar a noite toda. Além disso, o que quer relatar?
— Sim, minha lady. O tenente coronel Volmar entrou em conflito com o sétimo exército nas planícies Almheim e enfrentou aquele monstro dos rumores. O tenente coronel morreu corajosamente pela nossa nação e 2.500 homens das nossas tropas perderam suas vidas. Foi uma perda terrível.
Gaier apresentou o relatório. Rosenmarie pegou o relatório, o folheou e atirou na mesa.
— Esse monstro forçou o exército Swaran a se teriar do Forte Peshita e agora ela matou o Volmar. Então o perisher dos humanos foi morto por um monstro. Não acha que é engraçado, Gaier?
Rosenmarie falou com uma risada.
— Vossa Graça…! Isso não é motivo de riso. O exército Swaran não importava mas Volmar ser morto assim é um problema.
Todos os membros de Volmar foram arrancados e seu coração foi perfurado. Isso encaixava no estilo de um monstro mas Gaier não estava com disposição para piadas como Rosenmarie. A morte de Volmar teve um grande impacto em toda companhia de cavaleiros.
— Não entra em pânico. Como eu disse, vou matar todos quando chegar a hora – Então, quem é esse home do seu lado?
Rosenmarie olhou para o homem vestido de preto ao lado de Gaier – Alvin.
— Perdoe minha introdução tardia. Esse é o primeiro tenente Alvin da Miragem. Ele tem uma mensagem do monstro para você.
— Mensagem do monstro para mim? – Interessante, vamos ouví-la.
Rosenmarie acenou com a mão e Alvin deu um passo à frente.
— Sim, mademoiselle, vou passar a mensagem como recebi. Ela disse “limpe seu pescoço e espere. A sua cabeça é minha”.
— O quê!?
Gaier ficou chocado com as palavras. Alvin insistiu em reportar diretamente à Rosenmarie, então ele não tinha ouvido a mensagem antes da hora.
“Entendo. Ele pensou que eu o pararia se eu soubesse disso previamente e recusou me contar. A Miragem tem autoridade para fazer isso mas ainda é revoltante.
Gaier olhou para Alvin mas ele estava indiferente. Gaier olhou para Rosenmarie e viu que ela estava tremendo um pouco.
— Vossa Graça…?
— Ahahah! Ela quer a minha cabeça? E quer que eu limpe meu pescoço e espere? Isso é impagável!
Ele pensou que ela estava tremendo de raiva mas estava batendo na mesa aos risos em vez disso. A reação de Rosenmarie chocou seus atendente mas isso era apenas natural dada a cena bizarra.
— …Lady Rosenmarie, posso lhe oferecer um conselho?
Alvin não se importou com o surto de Rosenmarie e parecia calmo e contido.
— Mesmo que seja da Miragem, você já passou dos limites. Primeiro tenente Alvin, está sendo mal educado com a Vossa Graça.
A Miragem não era limitados pela cadeia de comando normal do exército imperial, por isso, mesmo que Gaier seja superior à Alvin, ele não podia lhe dar ordens diretas. Essa era a razão pela qual ele não podia pedir a mensagem mais cedo. O máximo que Gaier podia fazer era repreendê-lo um pouco.
— Ahaha… Tudo bem. Esse seu aviso despertou meu interesse, por favor, me deixe ouví-lo.
Rosenmarie cruzou as mãos para apoiar o queixo e pediu intrigada.
— Sim, mademoiselle. Aquele monstro matou quatro dos meus soldados de elite num instante. Eu só estou vivo por causa dos caprichos dela. Com isso dito, espero que Vossa Graça seja mais cuidadosa.
O conselho de Alvin surpreendeu um pouco Rosenmarie.
— He, de pensar que a Miragem vai tão longe. E com a morte de Volmar, isso despertou meu interesse.
Rosenmarie levantou a mão direita.
— Não diga mais nada, eu entendi. Vou levar o aviso da Miragem a sério.
A coleta de informação e a habilidade de batalha da Miragem eram bem conhecidas e Gaier sentiu que além desses dois pontos, o mais valioso neles era a sua excelente análise. Rosenmarie não podia facilmente descartar o aviso da Miragem.
Com isso, Alvin deixou o escritório da comandante. Depois de ouvir a porta fechar, Gaier olhou para Rosenmarie.
— …O que vamos fazer então?
— Para onde estão indo?
— Como o esperado, o sétimo exército tinha montado a sua base na cidadela Emreed. As suas principais forças provavelmente vão aparecer em breve.
— Entendo… Continue observando eles.
Rosenmarie fechou os olhos e se inclinou para trás.
— Só precisamos observá-los?
Ele estava sugerindo a ela que podiam para de enviar unidades atrás do inimigo. Gaier sabia que enviar mais homens seria inútil e não queria perder seus homens por nada.
No entanto, Rosenmarie disse que estava interessada naquele monstro, então não podia ser mesquinha quanto aos métodos. Gaier precisava fazer tudo o que pudesse para impedir Rosenmarie de mandar mais tropas por um capricho.
— Sem problema. Enquanto os cavaleiros carmesim estiverem em pé, eles não podem retomar o norte. Mesmo que não queriam, vão ter que vir até mim.
Com isso, Rosenmarie cerrou os olhos arregalados, quanto a inquietação permanecia no coração de Gaier.
Exército Real, Cidadela Emreed, Centro de Comando
Duas semanas após a chegada do regimento de cavalaria independente em Emreed, a força principal de Paul de 25 mil homens se uniu à eles. Quando soube dos detalhes da batalha anterior com os cavaleiros carmesim, Paul convocou Hosmund para o centro de comando, apesar de estar cansado da longa jornada.
— Bom? Major general Hosmund, por que começou a batalha antes de se juntar ao regimento de cavalaria independente?
— Sim, senhor, eu pensei que teria um efeito negativo na moral da tropa se esperássemos…
— Imbecil!
O furioso Paul griou, o que fez Hosmund e todos os outros no centro de comando hesitarem. A única exceção era Otto que estava sempre ao lado de Paul.
“As coisas ficaram difíceis.”
Hosmund não foi completamente irresponsável. Os batedores foram mutilados e seus corpos expostos ao ar livre. Se ele não reagisse de alguma forma, a moral definitivamente despencaria. No entanto, era óbvio que haveria uma armadilha. E o resultado mostrou que as ações de Hosmund foram um fracasso completo.
Se o regimento de cavalria independente de Olivia não tivesse chegado a tempo, as unidades de Hosmund teriam sido aniquiladas. Eles ganharam no final mas a lei militar não perdoaria tudo só por causa de uma vitória. Hosmund perdeu metade das suas tropas por nada, um total 1.500 homens. Com uma grande batalha à sua frente, isso foi um golpe doloroso.
Acima disso, o inimigo era os famosos cavaleiros carmesim. Os dois exércitos entrariam em confronto numa tentativa de retomar o norte do Reino. Eles não podiam perder as suas tropas em esforços fúteis, uma vez que os números eram o poder.
— Está tão ansioso por ganhar méritos de guerra e ser promovido?
— !? N-Nada disso, só quero proteger a cidade–
Os olhos de Hosmund começaram a vacilar e ele começou a inventar desculpas. Paul o cortou e disse:
— Você é um general, porra, pare com essa merda! Não importa o que você disser, isso não muda o fato de ser responsável pela perda de metade dos seus homens.
— Sim, minhas profundas desculpas…
— Vou aplicar a sua punição no futuro. Até lá, fique à espera no seu quarto.
— Sim, senhor.
Paul olhou para Hosmund que saia da sala e se inclinou fortemente na sua cadeira. Ele mordeu um charuto.
— Ele é um homem capaz quando se mantém calmo, no entanto.
Paul soprou uma fumaça e comentou com um suspiro. Otto falou com um sorriso irônico:
— Major general Hosmund provavelmente estava ansioso demais.
— Promoção, huh… O Reino é como uma vela trêmula ao vento nesse momento e ele ainda está pensando em tudo isso?
— Sua Excelência está certa mas não parece convincente da nossa parte já que tinhamos acabado de ser promovido…
Otto tinha razão mas Paul não conseguia perdoar Hosmund, cujas ações egoístas custaram a vida de muitos soldados.
Não havia nada de errado com a decisão de manter a cidade longe das chamas da guerra. Se Paul estivesse no seu lugar, ele teria feito o mesmo julgamento. No entanto, morder a isca do inimigo e atacar sem pensar direito era totalmente idiota.
Selim, que persistia em aconselhar Hosmund, era muito mais calmo. As ações de Hosmund não eram aceitáveis para um general.
— Isso é realmente difícil.
Paul estava perturbado sem saber o que fazer com Hosmund. Ele ouviu passos se aproximando do centro de comando. Os passos tinham um ritmo e se sentiu leve por dentro.
— Parece que a nossa “criança problemática” está aqui.
Otto olhou para o relógio e olhou para a porta.
— Mas ela não é realmente uma criança problemática. Otto, você não é muito rigoroso com a major Olivia?
— É porque a Vossa Excelência está mimando ela demais!
As veias de Otto estavam borbulhando de raiva. Quando Paul se sentia perturbado, uma batida alegre veio da porta, seguida de uma voz cantarolante.
— Major Olivia, reportando bem na hora!
— Entre.
Otto permitiu a entrada dela com uma voz amarga. A porta foi aberta e a Olivia apareceu com um relógio de bolso na mão.
Uma garota com brilhantes cabelos prateados e delicados traços de boneca entrou na sala. O uniforme verde escuro realçava ainda mais a beleza de Olivia. Ele não a via há um mês mas ela estava animada como sempre.
— Então você veio.
— General Paul, já faz tanto tempo! – Oh, você também, adjunto Otto.
— …Major, por que a sua saudação à mim é tão negligente?
— Deve ser a sua imaginação!
Olivia estava sorrindo brilhantemente mas o olhar de Otto era muito frio. Paul sorriu gentilmente com essa interação e entrou no tema principal:
— Major Olivia, você teve um desempenho esplêndido dessa vez. Graças a você, a unidade de Hosmund foi salva da aniquilação. Quero te agradecer por isso.
— Sim, senhor! Obrigada você pelo elogio!
— Ótimo, ótimo. Bom, então o que pensa depois de lutar com os cavaleiros carmesim? Já recebi o relatório da primeira tenente Claudia mas ainda quero ouvir a sua opinião.
— Os meus pensamentos sobre a batalha?
Olivia repousou a bochecha na palma da mão e parecia um pouco perturbada.
Pelo relatório, os cavaleiros carmesim eram tão formidáveis como esperado. Se não tivessem cuidado ao lidar com eles, podiam perder a batalha.
Paul pensou enquanto esperava Olivia.
— Eles são bem disciplinados e as habilidades dos seus soldados individuais são impressionantes. No geral, sinto que o inimigo é superior à nós.
— Entendo… Isso não vai ser fácil, afinal de contas.
Se a habilidosa Olivia falou então deve ser verdade. Eles poderiam compensar a diferença na qualidade com a quantidade, o que era uma regra não dita. Infelizmente, o sétimo exército não tinha vantagem numérica.
— Mas não se preocupe, general Paul, vai ficar tudo bem.
Olivia falou com um sorriso brilhante.
— Hm? Pode me explicar porquê?
Não havia nenhuma justificativa para ele não se preocupar. Em resposta ao questionamento de Paul, Olivia explicou alegremente:
— Eu vou derrotar o comandante inimigo. Já pedi a um agente da Miragem para passar a mensagem ao comandante do inimigo. Não importa quão forte seja um exército, ele se tornará fraco quando perder seu comandante. Vai ficar tudo bem.
As palavras confiantes de Olivia transformaram o cenho franzido de Paul num sorriso. Como a pessoa que matou o comandante inimigo na planícies Iri, isso foi muito convincente.
Olivia agora era uma existência indispensável no sétimo exército. A consciência de Paul sofria por explorar uma garota tão nova mas ela era uma luz nessa árdua campanha. Paul sentiu que era necessário usá-la ao máximo.
— Hahaha, entendo. Vou contar com você dessa vez.
— Sim, deixa comigo! – Não, por favor, me deixe lidar com isso!
Olivia respondeu animada.
— Tem algo que quero confirmar com você, major. Tudo bem?
Paul atendeu o pedido de Otto com um sorriso e um aceno de cabeça.
— Major, no relatório sobre o seu encontro com a Miragem na cidade deserta Keffin, você mencionou o exército imperial no norte – Vamos chamá-los de exército do norte por agora. O objetivo do exército do norte é destruir o sétimo exército, isso é verdade?
— Sim, senhor. Consegui essa informação do agente da Miragem. Não creio que seja verdade. A dedução de Ashton estava certa.
Olivia enfatizou novamente o quão bom era o seu estrategista e a cara de Otto ficou azeda. Isso foi um tapa na cara de Paul, já que ele rejeitou a proposta de Ashton durante a conferência de guerra. Para ser honesto, Otto não esperava que Ashton tivesse uma compreensão tão extraordinária da situação e tinha aumentado ainda mais a sua avaliação sobre Ashton.
— Mas por que o inimigo está tão preocupado com a nossa retomada do Castelo Kasper? Não sei dizer o que o exército imperial está pensando.
A retomada bem sucedida do Castelo Kasper tinha expulsado as forças imperiais do sul do Reino. Mas isso foi tudo, o Império ainda tinha um domínio firme do Forte Kiel e ameaçava o Reino. Resumindo, não foi uma vitória decisiva o suficiente para afetar o quadro geral. Mas por que o exército do norte estava tratando o sétimo exército com tanta hostilidade? O motivo não era claro e Otto concordou com Paul nisso.
— Para o exército imperial, perder o Castelo Kasper não é exatamente um golpe grave. Se eu tivesse que dizer –
O olhar de Otto era afiado ao afirmar sua especulação:
— Talvez um ressentimento pessoal? Por exemplo, alguém próximo do comandante inimigo morreu pelas nossas mãos.
— Ressentimento pessoal, huh…
Paul ponderou sobre a especulação de Otto. O comandante do exército do norte seria alguém que colocava suas mágoas pessoais acima dos deveres oficiais? Otto foi quem disse, mas também não tinha certeza disso. A melhor prova era a forma como ele continuava coçando o queixo.
Paul apagou seu charuto usado no cinzeiro e tirou um novo do bolso do peito.
— Não importa, não conseguimos obter uma resposta independente do quanto pensamos nisso. Tem uma coisa que é certa, o verdadeiro alvo do exército do norte somos nós.
A ação do inimigo era, obviamente, uma investigação de reconhecimento, já que havia apenas um regimento de cavaleiros carmesim naquela batalha. O exército do norte pode aparecer em força a qualquer momento e eles devem planejar uma batalha futura tendo isso em mente.
— Tem razão, excelência. Vou me preparar cuidadosamente para isso.
— Vou deixar isso com você – Além disso, major Olivia.
— Aqui!
— A major Olivia será o centro dos planos de batalha do sétimo exército a partir de agora também. Espero que consiga cumprir com as suas palavras então.
— Sim, senhor! Ouço e obedeço!
Olivia saudou perfeitamente e seus olhos estavam cheios de espírito de luta, como de costume. Paul sentiu que algo parecia estranho.
“Hm? O que ela tem hoje? Está bem animada… e não está pedindo bolo como de costume.”
Ele olhou para Otto e encontrou-o olhando para Olivia com olhos duvidosos. Oto também parecia desconfiado. O motivo era claro, mas seu animo era uma coisa boa.
— Isso é tudo. Dispensada.
— Sim, senhor! Peço licença!
Olivia deixou a sala como ordenado e murmurou algo. Paul, mais alerta, ouvu coisas como “peixinho” e “biblioteca”.
Paul ficou completamente perdido e confuso com tudo isso.
II
Como tinha uma dupla função, de fortaleza e cidade, a cidadela Emreed foi dividida em três distritos: o distrito residencial, o distrito de armazém que estoca os grãos colhidos do norte e o distrito militar para as forças armadas.
Ashton e Olivia partiram de uma das muitas instalações militares e se dirigiram para o local no distrito residencial que tinha o maior número de lojas – Estrada Central.
— Ashton, tem bastante lojas mas bem poucos clientes.
Olivia falou enquanto andava intrigada pelas barracas de rua. Antes da guerra, esse lugar era cheio de vida, mas agora não vinha nem metade da aglomeração. Ashton sentiu que os rostos dos pedestres pareciam um pouco sombrios.
— Não tem o que fazer, é assim que o mundo – hm?
Olivia, que estava do seu lado, desapareceu do nada. Ashton procurou freneticamente e a encontrou parada como uma estátua na frente de uma banca de rua. Ele soltou um suspiro de alívio e sentiu o cheiro de algo bom.
— Não suma sem avisar. Vai me deixar preocupado.
Olivia não respondeu, toda sua atenção estava no kebab diante dela. A carne de pássaro recém cozida estava coberta com uma camada de molho dourado tentador.
kebab é o nome de um prato oriental de carne
O kebab parecia realmente bom bom e Ashton teria comprado um se não fosse o fato de ter comer um café da manhã.
— Isso é um petisco famoso em Emreed. É delicioso, prove um.
A senhora dona da loja com seus quarenta anos e um corpo grande promoveu seu produto com um sorriso de negócio.
— Ashton, quero comer isso.
— Eh? Ainda quer comer? Você não acabou de tomar café da manhã uma hora?
— Sim! Ainda estou em fase de crescimento!
Ashton suspirou.
— O que eu faço com você. Quanto é isso?
Ashton desistiu fácil quando Olivia olhou para ele com olhos esperançosos. A dona da loja falou calmamente com Ashton que estava pegando sua carteira com relutância:
— Um espeto vai ficar uma moeda de prata.
— Isso é caro…!? Não é demais – Me deixe dizer primeiro, sou filho de um comerciante então tenho uma ideia dos preços.
Era normal aumentar o preço se o status do cliente fosse alto. Para Ashon, um Kebab custaria apenas dez moedas de cobre no máximo. Ele notou que a dona estava olhando para a sua insígnia de classificação. Já que Emreed tinha um distrito militar, ela deveria estar acostumada a lidar com soldados e não seria surpresa se ela pudesse dizer sua patente.
— Senhor subtenente, não estou cobrando mais por causa da sua patente. Acha mesmo que plebeus como nós ousariam tirar dinheiro dos soldados?
— Eh!?
Ashton ficou surpreso por ela ter o lido completamente. A dona suspirou vencida.
— Já que o sr. subtenente é filho de um comerciante então deve saber que os preços dos alimentos foram muito inflacionados.
Ashton sabia muito bem sobre o problema apresentado pela dona. Mas em comparação com os preços da capital, isso era extremamente caro. Se a dona não aumentou o preço, então só havia um motivo para isso. A invasão do exércio do norte tinha afetado todo o norte do Reino.
Ashton tirou duas moedas de prata de sua carteira e entregou à dona.
— Perdão por duvidar de você. Por favor me dê dois kebab.
— Ahaha, parece que estou usando uma história triste para vender meus produtos, lamento por isso.
A mulher riu alto e passou dois espetos em movimentos rápidos. Olivia os recebeu com um grande sorriso e comeu com entusiasmo. A dona olhou para ela com olhos carinhosos, como se estivesse olhando para sua própria filha.
— Senhorita major, como está?
— É muito gostoso!
Olivia respondeu num tom alegre. Quando ouviu isso, o rosto da mulher se tornou subitamente triste.
— Entendo… quando ouvi que o exército imperial estava se aproximando de Emreed, pensei que estava tudo acabado, mas vocês os expulsaram, certo? É que nunca tinha te visto aqui antes.
— Bom, acho que tem razão.
abnormalPor isso meu palpite está certo. Deixando o senhor subtenente de lado, a senhorita major ainda é uma criança… A nação está preparada?
A mulher olhou para longe com um olhar vazio. Ela podia não saber, mas ela tinha violado a Lei da Ordem Pública. Se um policial militar a ouvisse, ela seria presa. Ashton fingiu que não ouviu já que enviar uma garota como Olivia para a batalha não era estranho. A mulher provavelmente sentiu uma sensação de perigo devido a esse ato.
Depois de terminar seu primeiro kebab, Olivia olhou para a mulher com curiosidade e perguntou:
— Se esse país desmoronar, você ficará triste? Vai chorar muito?
— Bom… Ele tem a sua parcela de problemas mas esse é o lugar onde eu nasci e fui criada. Se desmoronar, provavelmente vou chorar.
— Fufu… Não se preocupe, vamos expulsar o exército imperial do norte. Você nunca precisará chorar.
Olivia arregaçou as mangas e forçou os músculos, o que fez a dona rir.
— Ahahaha! Estou vendo, estou vendo. Senhorita major vai afastar o exército imperial, ótimo. Aguardo com expectativa o dia que isso acontecer.
A senhora empacotou todos seus espetos cozidos e levou todos para Olivia. Olivia piscou surpresa depois de ter conseguido tantos espetos de uma só vez.
— Eh!? Posso?
— Aqui, leve esses. Em troca, pode me prometer algo?
— Prometer? Sem problemas, definitivamente vou expulsar o exército imperial.
— Não isso.
Com isso, a senhora abraçou Olivia gentilmente.
— Huh…?
— Ouça, não morra. Porque você ainda tem uma longa vida em frente, senhorita major.
O que ela pediu, foi a segurança de Olivia. Ela ficou chocada e lentamente sorriu.
— Sim, eu prometo. Afinal, não vou poder comer comida e espetos deliciosos se eu morrer. E nem esses kebabs.
Com isso, Olivia soltou a senhora e deu uma grande mordida no segundo kebab.
Ashton se despediu da senhora e seguiu com Olivia para o seu destino original.
— Ei, onde estamos indo?
— Nãos e preocupa, só me segue.
Olivia perguntou enquanto comia o kebaba e Ashton constinuou sem dar uma resposta clara. Os dois caminharam pela estrada centrar, passaram por alguns becos e finalmente chegaram no seu objetivo.
— Aqui estamos, Olivia.
Diante deles estava uma casa de tijolos rodeada por uma cerca de madeira. Uma nuvem de fumaça saia da sua chaminé e se não tivesse a placa discreta, nunca saberia que se tratava de uma loja.
De fato Ashton ficou andando em círculos na sua primeira visita.
— Isso é… um ferreiro?
Ashton não respondeu a pergunta de Olivia, abriu a porta e entrou. Com um agradável sino, o dono da loja que estava concentrado no trabalho apareceu diante eles. Ele parecia completamente com um ferreiro profissional mas o avental cor-de-rosa que estava usando parecia não combinar.
— Com licença, não estou recebendo encomendar agora – Ah, você é…
O dono da loja olhou para Ashton, devolveu o martelo à sua caixa de ferramente e se ergueu preguiçosamente.
— Desculpe o incômodo enquanto está ocupado. Minha encomenda está pronta?
— Sim, terminei ela ontem mesmo. Não estou tentando te animar, mas isso é uma obra-prima. Por favor, espere um segundo.
O dono sorriu de forma arrogante e sumiu dentro da loja. Um tempo depois ele voltou com uma caixa de madeira.
— Dêem uma olhada.
Como instruído pelo dono, Ashton abriu a tampa do caixote na mesa de trabalho. Dentro havia uma bela armadura feita de prata. No ombreira direita e no peito havia o brasão Valedstorm – duas foices cruzadas com um crânio rodeado por uma rosa carmesim na frente.
Estava melhor do que ele tinha pedido e Ashton assentiu satisfeito.
— Como esperado de um dos três melhores ferreiros do Reino Farnesse. O trabalho está impecável.
— Não vou te dar um desconto mesmo falando isso.
O dono grunhiu ao cruzar seus braços grossos.
— Claro, isso vale cada centavo.
Ashton falou a frase de efeito de seu pai. Os Comerciantes Senefelder eram uma organização enorme, graças aos olhos de seu pai para mercadorias boas.
— Hmph, você tem bons olhos para a sua idade.
O dono riu verdadeiramente. Olivia que viu a armadura por trás de Ashton faloua admirada:
— Ashton, isso é…
— Vamos ter uma dura batalha em breve, certo? Você pode ser forte, Olivia, mas também pode se machucar. Então preparei um conjunto de armadura resiste para você.
Ashton explicou e o ferreiro continuou:
— É verdade, posso garantir a resistência. Isso é trabalhado em camadas de várias peças de aço fino e ataque normais nem sequer arranham. Eu tinha minhas dúvidas quando ouvi isso de você, mas agora consigo ver porquê. Não sei explicar mas tem muito mais nessa garota do que os olhos vêem. Se eu a visse no campo de batalha, seria o primeiro a fugir.
O ferreiro olhou para Olivia com olhos medrosos. Quando ele era novo, criou um grande nome para si como um mercenário. A sua experiência o ajudou a sentir algo vindo de Olivia.
— Ainda bem que acredita em mim.
Ashton se virou para Olivia.
— O que acha? É da mesma cor da sua espada, Olivia. Espero que goste.
— …Posso tocar?
— É claro, isso é feito à medida para Olivia.
Ashton colocou as mãos nos ombros de Olivia e a empurrou até a armadura. Olivia tocou a armadura com um rosto sério raramente visto.
“Na verdade, a cor é para tornar o sangue menos visível. Todos os recrutas têm medo de Olivia quando está coberta de sangue.”
Ashton também ficava assustado no início, então entendia o que eles sentiam.
— Obrigada, Ashton! Isso é maravilhoso, eu realmente gostei!
— Entendo, fico feliz que você gostou.
O sorriso de Olivia era tão lindo que Ashton ficou profundamente hipnotizado. Ele tentou disfarçar com uma tosse e encontrou o olhar do ferreiro nele com um sorriso desonesto.
— O quê?
— Ah, não é nada. Estou apenas pensando que a juventude é ótima ou algo assim.
O ferreiro falou enquanto coçava a cabeça careca e seu sorriso se aprofundou um pouco. Isso deixou Ashton desconfortável e ele rapidamente pagou a conta pendente.
— Vamos voltar para a base logo! Quero mostrar isso para Claudia!
Olivia agarrou sua mão repentinamente e o puxou em direção à saída.
— E-Eu posso andar sozinho, não precisa me puxar!
— Ah, então dê seu melhor.
Ao partirem, o ferreiro continuou sorrindo de forma desonesta.
III
Reino do Norte, Zona Galesa, Forte Larswood
— Kiluz, você sabe? Aquela pessoa dos rumores aparece durante noites ventosas e sem luar como essa.
O vigia Lloyd olhou para o céu notruno enquanto as nuvens cobriam a lua e falou para seu parceito Kiluz que estava bocejando.
— Huh? – Ah, você está falando daquela deusa da morte. Parece ser o caso.
Kiluz falou com outro bocejo.
— Ei, você não está relaxado demais?
— Mesmo que me diga isso, não acho que alguém atacaria um forte inútil como esse no meio do nada. Você provavelmente é o único que está levando isso a sério.
Kiluz olhou em volta do forte de madeira improvisado e zombou. Sons fracos de soldados se divertindo podiam ser ouvidos do interior do forte. Lloyd suspirou com a falta de disciplina.
Tudo começou um mês atrás. Uma garota de cabelos prateados e armadura negra repentinamente atacou as unidades imperiais posicionadas nos vários territórios tomados. Os soldados posicionados foram dizimados e o lugar saqueado. E agora, essa garota era considerada uma deusa da morte que poderia aparecer do nada.
Talvez os deuses estivessem olhando por eles e a unidade em Gales ainda não tinha sido atacada.
— Mesmo se for verdade, vocês estão muito relaxados-
— Espera! Tem movimentos no mato?
Kiluz pôs o dedo nos lábios, gesticulando silêncio. Lloyd pensou que ele estava brincando para mudar de assunto, mas Kiluz parecia muito sério. Apesar do que disse, ele estava vigiando devidamente.
— Não vejo nada… Talvez seja um coelho malhado?
Lloyd olhou para o mato mas não ouviu nada.
— Não, não é isso… Vou dar uma olhada.
— Vai ficar bem sozinho?
— Está me zoando, né? Somos os únicos vigias aqui e não podemos os dois se afastar do portão.
O rosto irritado de Kiluz tinha um tom vermelha da fogueira. Ele tinha razão e Lloyd não pode refutar isso.
— Tem razão. Grita se ver alguma coisa.
— É claro… Tenha cuidado com o seus arredores também, Lloyd.
— Eu sei.
Kiluz segurou sua lança rente ao chão e se aproximou cautelosamente do mato. Quando sua figura já não podia ser vista, Lloyd ouviu ruídos. Kiluz provavelmente estava vasculhando o mato com sua lança para verificar a existência de anomalias.
Lloyd olhou para o apito pendurado em volta de seu pescoço. Se algo acontecesse, ele precisaria utilizar ele imediatamente como alarme.
Um vento quente soprou de algum lugar. Lloyd estava em alerta máximo mas mesmo assim não conseguia detectar qualquer anormalidade. Ele lentamente relaxou seus nervos.
“Kiluz provavelmente está enganado. Mas ele não está demorando demais?”
Já passaram mais de dez minutos desde que Kiluz foi até o mato. ELe não tinha um relógio de bolso então era apenas uma estimativa de Lloyd, não ele não podia ficar desligado. Isso o deixou um pouco ansioso e o som dos ruídos também tinha parado. Os rumores sobre a deusa da morte passaram subitamente pela mente de Lloyd.
“Haha, isso é impossível. Como Kiluz disse, a deusa da morte não virá para essa região afastada.”
Sua mente rejeitou a ideia mas seu corpo permaneceu honesto. Lloyd sabia que estava suando frio. Seu nervosismo começou a ganhar espaço de novo.
— Ei, volta logo. Se não encontrou nada depois de tanto tempo procurando tudo bem!
Lloyd fingiu estar calma e chamou Kiluz com a voz clara. Ele não seria capaz de ficar calmo se não o chamasse. Mas não importava quanto tempo esperasse, não houve qualquer resposta de Kiluz. Lloyd gritou alto de novo mas os resultados foram os mesmos.
Havia apenas o som dos grilos.
“Algo está errado, ele devia ter me ouvido.”
Lloyd pegou seu apito – e foi morto.
— Ufah, essa foi por pouco. Muito bem, comandante.
— Ahaha, nâo vai ganhar nada a mais mesmo se me elogiar. Mas pode ter algum vinho bom que possamos encontrar aqui.
— Hehe, estou ansioso por isso.
Olivia guardou Chachamaru e se levantou do mato. Gauss seguiu com uma espada ensanguentada no ombro. Atrás deles estava os soldados do regimento de cavalaria indepentente.
Chachamaru é o nome que Olivia deu para sua besta.
— Falando nisso, quão bons são seus olhos, comandante? Mesmo com a luz da fogueira, nessa distância, sua visão é incrivelmente boa.
Gauss ficou chocado com o cadáver com uma flecha na testa.
— Está exagerando. Com prática suficiente, também pode fazer isso, Gauss.
— Não, não, sem chance disso acontecer.
— Se você diz.
Pessoas diferentes têm coisas diferentes em que eram boas. Por exemplo, Ashton não conseguia empunhar uma espada corretamente, por mais que treinasse.
Olivia interrompeu seu raciocínio e ordenou que as tropas preparassem flechas de fogo. Sob as instruções de Gauss, eles silenciosamente cercaram o forte e prepararam seus arcos.
— Comandante, estamos todos prontos. Estamos fazendo mesmo isso?
Gauss perguntou e Olivia assentiu.
— Esse forte não tem nenhum valor estratégico para o exército real agora. Nesse caso, vai ser mais eficiente incendiá-lo junto com as pessoas dentro dele. Isso também vai minimizar nossas baixas.
Olivia sorriu suavemente. Gauss assentiu com firmeza enquanto olhava para ela.
— Atirem.
Olivia ordenou e as flechas de fogo choveram como meteoros. O ar estava seco por causa do clima e o forte foi engolido pelas chamas em pouco tempo.
Quando o forte desmoronou no incêncio, Olivia se virou para o portão.
— Os sobreviventes provavelmente vão escapar pelo portão, atirem neles. Também vou trabalhar duro.
Olivia falou com Chachamaru erguida. Os soldados foram inspirados pela suas palavras. A maior parte do inimigo morreria no incêncio, mas tinham que manter a guarda alta.
— Uwah! Fogo! Fogo!
— Andem, abram o portão!
Gritos e choros de raiva vieram do forte. Como era de se esperar, haviam sobreviventes. Com o som da barra do portão sendo movida, o portão abriu lentamente. Quando havia espaço suficiente para uma pessoa escapar, os soldados imperiais começaram a se espremer para passar.
Eles foram atingidos por um salve de flechas, transformando-os em porcos-espinhos mortos. Apesar disso, ainda havia soldados que sobreviveram aos disparos e atacaram desesperadamente os soldados reais.
— Merda, seus demônios! Não vão escapar dessa!
— Hm? Estou sem flechas.
Olivia manteve Chachamaru nas costs e atacou com sua espada o soldado inimigo que atacou. Sangue e vísceras jorraram do soldado divido ao meio por todo o lado. Olivia sacudiu o sangue de sua espada e a embainhou. Ela podia ouvir o suspiro dos recrutas atrás dela.
— …A propósito, sabe como o exército imperial está te chamando, comandante?
Gauss olhou para a ombreira esquerda na armadura negra de Olivia e perguntou. Olivia se perguntou porque ele usou o termo ‘á propósito’ e respondeu:
— Deusa da morte, certo? Isso é muito melhor do que me chamar de monstro.
— Então monstro não é legal mas você está feliz com deusa da morte?
— Sim!
— Eles não me parecem muito diferentes. Então por quê?
— Bom, me pergunto porquê.
Olivia sorriu gentilmente e emitiu a ordem para se retirassem com Gauss. Enquanto o Forte Larswood ardia em chamas, o regimento de cavalaria independente desaparecia na escuridão.
IV
O regimento de cavalaria independente executou a estratégia de derrotar o inimigo separadamente. O lorde no norte do Reino tinha ido para o lado do Império, mas o povo continuava sendo hostil com o Império. Uma faísca podia se transformar em um incêncio num instante. Para evitar isso, depois de Rosenmarie ter conquistado a região, ela enviou suas tropas para todo lado.
Essa estratégia expôs a falha do plano de Rosenmarie. Como os territórios do norte foram capturados pelo Império de uma vez só, o sucesso da sua campanha fazia com que eles se esquecessem do perigo espalhar tanto suas forças. O ataque noturno e repentino do regimento de cavalaria independente tinha dizimado 15 companhias imperiais e três fortes.
Como resultado, o lorde que traiu o Reino involuntariamente criou uma situação favorável para o sétimo exército. Ashton, que formulou esse plano, estava desfrutando de um jantar atrasado ao lado de uma fogueira junto com Olivia e Claudia.
— O plano de Ashton vem avançando sem problemas até agora.
Claudia tinha um pedaço apetitoso de ave numa mão e com a outra marcou uma cruz no mapa.
— Parece que sim.
A partir das informações que coletaram, o exército do norte tinha 70.000 soldados. Em contraste, o sétimo exército contava com apenas 28.000. Mesmo depois de reduzir o número do inimigo em cerca de 60.000 com a estratégia de dividir e conquistar, ainda estavam em desvantagem numérico de 1 soldado para cada 2 do inimigo. Eles definitivamente perderiam num confronto direto.
— Os nossos adversários não são burros. Eles já devem ter percebido as desvantagens de espalhar suas tropas. Seria ruim se eles juntassem elas agora.
— Tem razão, primeira tenente Claudia. Temos que parar com o plano de dividir e conquistar por agora.
— Hm? Não entendi o que quer dizer. Não deveríamos reduzir o número deles o máximo possível antes deles juntarem suas tropas?
Claudia franziu o senho enquanto voltava seu olhar para o mapa.
— Desculpe não ter explicado claramente. Mais precisamente falando, não tem qualquer necessidade de continuar essa operação. Vocês entenderão se lerem isto.
Ashton pegou uma carta e passou para Claudia. Ela era de uma unidade de informação que Ashton praparou para essa operação.
— Deixe-me ver.
Claudia abriu a cara e a leu. Dizia que as realizações do regimento de cavalaria independente tinham levado os sentimentos anti-imperialistas a novos patamares. Ashton também enviou agentes para se infiltrarem no inimigo e espalhou rumores de que o povo estava planejando uma revolta.
— Entendo, você fez isso tudo em segredo. E agora o inimigo vai hesitar em juntar suas tropas. Afinal, ninguém quer ser apunhalado pelas costas. Esse é o verdadeiro objetivo da nossa estratégia de dividir e conquistar?
— Isso mesmo. Tem um limite para o quanto podemos reduzir o número deles. Assim como a carta mencionou, os sentimentos anti-imperialistas estão a mil, e o Império deve ter ficado sabendo, mas não serão capazes de ignorar. Sabe quantos habitantes têm na região norte do Reino?
— Acho que… tem 3 milhões.
Claudia pensou por um momento e rapidamente deu a resposta correta.
— Isso. Só esse fato deveria ser o suficiente para prender as unidades imperiais na região.
As cadeias inatingíveis de “suspeita” eram mais seguras do que correntes de verdade. Ashton deduziu que pelo menos 30.000 soldados imperiais tinham sido presos.
— Você… é um homem realmente assustador.
Claudia olhou para Ashton com uma pitada de medo e respeito. Ashton arranhou as bochechas um pouco acanhado.
— Estou apenas botando meu cérebro para funcionar. E agora, estamos até com a mesma quantidade das principais tropas dos Cavalheiros Carmesim. As nossas chances agora são 50.
Os Cavalheiros Carmesim tinham 27.000 soldados no Castelo Windsam. Ele podia estar dizendo que as chances são de 50% mas Ashton não se sentia otimista em relação à batalha. Após a batalha nas terras de Almheim, ele sabia muito bem quão fortes eram os Cavalheiros Carmesim.
— Sim, foi você quem nos trouxe até aqui, Ashton. Deixe o resto com a gente, afino, você é um inútil lutando.
— Haha, você está certa.
A zombaria de Claudia fez Ashton soltar uma risada tímida. Olivia o ensinava de vez em quando mas sua esgrima e esportividade não mostraram nenhuma melhoria. Guile, que se alistou junto com ele, mostrou talento na área e era completamente diferente do novato que tremia de medo de bandidos. Isso era um fato para todos os recrutas que participaram da reconquista do Forte Lamburg.
Recentemente, Olivia tinha começado a acalmar Ashton num tom suave dizendo “tem coisas que os humanos são capazes e outras que não são”. Guile também mencionou isso cuidadosamente no passado, por isso Ashton aceitou bem.
As pessoas devem estar acostumados com suas melhores habilidades. Esse equilíbrio era o mais importante, por isso ele não ficou muito aborrecido com isso.
— De qualquer forma, a major está realmente dormindo pesado.
Claudia olhou para Olivia encostada no tronco de uma árvore dormindo. Ela devia estar exausta e ainda tinha um pedaço de carne de pássaro meio comido. Seus lábios cheios de óleo babavam. Era difícil imaginar que ela fosse o Deus da Morte que causava medo nos soldados do Império.
— Estamos correndo por todo lado nos últimos dias, deve ser difícil para ela.
— É verdade… mas eles estão chamando a major de deusa da morte, que revoltante. Como uma garota tão bonita seria um deusa da morte. Chamá-la de anjo faria mais sentido.
E assim, Claudia começou a se queixar enquanto balançava os punhos. Seus argumentos às vezes eram contra o senso comum, mas na verdade ela estava falando sério. Ashton ficou sem palavras no início mas decidiu concordar com um riso casual. No entanto, isso trouxe a ira de Claudia por alguma razão e ela o olhou com olhos ressentidos.
— Por que você está tão descontente com isso? Além disso, é tudo culpa sua, Ashton. Você acrescentou o brasão dos Valedstorm na armadura dela.
Claudia estava se tornando ridícula, então Ashton voltou seus olhos para a sua armadura branca prateada – e para seu brasão: um escudo e um capacete com asas.
— Mas será que todos os nobres não colocariam seus brasões na suas armaduras e escudos? Primeira tenente Claudia, a sua armadura também tem o brasão do clã Jung, certo?
— P-Pode ser que tenha, mas…
Claudia agarrou seu corpo como se estivesse tentando esconder seu brasão de armas. Recentemente ela advertia Ashton sempre que falavam sobre o brasão, como se Ashton fosse o principal culpado que causou tudo isso.
Ela parecia muito triste por Olivia ter sido chamada de deusa da morte. Quando Ashton lhe perguntava o porquê, ela respondia vagamente e ela ainda não entendia o que estava a deixando tão triste.
— O brasão dos Valedstorm parece sinistro mas não acho que esse é o motivo pelo qual os outros estão chamando Olivia de deusa da morte…
Um crânio rodeado de rosas carmesim com duas foices cruzadas atrás. Esse símbolo era muito comparável a um Deus da Morte, mas Ashton achava que as ações de Olivia contribuíram muito mais para isso. Ela estava massacrando os soldados imperiais como se estivesse cortando mato.
Graças a isso, Ashton se acostumou com os cadáveres despedaçados. Guile chegou até a chamar de “a mais fina obra de arte”. Ele era um fã fanático de Olivia e não demoraria muito para começar a chamá-la de deusa.
Mas as coisas não pareciam ser assim na visão do exército imperial. Era muito simples.
— Então qual você acha que é a razão, Ashton?
Claudia se inclinou para mais perto com um rosto sério. Ashton não ousou falar “porque ela mata pessoas como se estivesse cortando mato”.
— Bom… Erm… D-De qualquer forma, Olivia não se importa de ser chamada de Deus da Morte.
— Sim, sei disso também. Apesar d’ela ficar bem perturbada quando é chamada de monstro.
Claudia ficou perplexa com isso.
Olivia não se importava de ser chamada de deusa da morte. Ou melhor, ela estava feliz com isso. Era por isso que Claudia não podia reclamar muito disso e tinha acumulado muita frustração. A forma como ela atirava os galhos com raiva na fogueira era a melhor prova disso. O desafortunado Ashton se tornou seu alvo de desabafo.
— Olha, Deus da Morte também é uma divindade. Talvez ela esteja feliz com as pessoas a chamando de deus?
— Que merda é essa que você disse!? – tosse tosse, d-desculpa. Não quis dizer isso.
Claudia fingiu uma tosse. Ashton continou olhando para ela, então Claudia lhe lançou um olhar afiado antes de virar a cabeça. Ashton percebeu que as bochechas dela estavam vermelhas, parecia que tinha ficado com vergonha da sua explosão.
— Hehe, então a primeira tenente Claudia fala coisas desse tipo também.
— …Do que está rindo?
— Nada, só estou um pouco surpreso. Isso pode soar imprudente para um oficial superior, mas achei isso muito fofo.
— F-Fofo!? C-Cala boca! Você é só o Ashton, pare de agir tão arrogante!
As bochechas de Claudia ficaram vermelhas e ela atirou os galhos que tinha em mãos nele. Ashton protegeu a cabeça enquanto ria.
— Ashton, Claudia, vocês são muito barulhentos!
Eles rapidamente se viraram e viram Olivia ainda dormindo. Ela estava apenas falando dormindo. Ashton e Claudia fecharam os olhos inconscientemente e riram.
— Bom, então logo será o evento principal. Nós dois temos trabalho para fazer.
Claudia sorriu suavemente e ofereceu uma mão para Ashton.
Seus números eram iguais mas seus adversários eram os Cavalheiros Carmesim. Essa seria uma luta difícil contra um inimigo formidável.
Mesmo assim…
— Sim, estarei ao seus cuidados a partir de agora.
Ashton agarrou a mão dela com firmeza. Enquanto ele estivesse com as duas, Ashtons entia que poderia enfrentar qualquer julgamento e dificuldade que pudesse surgir em seu caminho.
Ele olhou para as estrelas brilhantes no céu noturno.
Exército Imperial, Sala de Conferências do Castelo Windsam
Na sala que era originalmente utilizada pra entreter os convidados, havia uma mesa grande e forte. Em volta dessa mesa redonda era realizada uma conferência de guerra. A ordem dod ia era a garota Deus da Morte que tinha atacado por todo lugar.
— Sua Excelência, os ataques violentos da deusa da morte haviam feito os anti-imperialistas aumentarem entre os habitantes locais. Os rumores de revoltas se espalharam e todas as unidades estão pedindo reforços.
Rosenmarie franziu as sobrancelhas com esse relatório.
— Reforços? Hah! Eles estão falando dormindo?
— Devo negar?
— É claro. Diga às unidades para resolverem os problemas com as tropas que têm em mãos. Se realmente houver uma revolta, então destruam uma ou duas aldeias como aviso.
A população era facilmente influenciada pelo ambiente. Mesmo que começassem uma revolta, suas cabeças iriam se esfriar se uma aldeia ou cidade fosse saqueada. Rosenmarie deu aquela ordem com isso em mente.
— Sim, mademoiselle, vou transmitir suas ordens.
Depois que o oficial terminou seu relatório e saiu, outro entrou e sussurrou no ouvido de Gaier. As rugas na teste de Gaier lentamente se aprofundaram.
— O que aconteceu?
— Minha senhora, os soldados que estavam vigiando Emreed enviaram um relatório. As principais tropas inimigas estão saindo em grupos e marchando para o Castelo Windsam.
— As principais tropas? Entendo. Fomos manipulados por eles direitinho. O estrategista do sétimo exército é muito bom.
Todos os oficiais estavam confusos com o que Rosenmarie disse, então Gaier perguntou:
— O que quer dizer, minha senhora?
— Literalmente o que eu disse.
Rosenmarie falou num grunhido. Gaier ficou paralisado por um momento e então se levantou.
— Vossa Graça, está dizendo que o sétimo exército criou essa situação intencionalmente?
Um segundo depois o lugar estava um tumulto. Eles finalmente perceberam que se tratava de uma armadilha preparada pelo sétimo exército. Era lamentável, mas Rosenmarie também não tinha notado até agora, então não estava em posição de repreender seus subordinados.
— Todos vocês também são oficiais, portanto pensem no quadro geral também. O inimigo estar lançando um grande ataque ofensivo nesse momento é a melhor prova.
Considerando o ritmo deles, os dois exércitos entrariam em confronto em três ou quatro dias.
— …Em outras palavras, exceto os Cavalheiros Carmesim, nossas tropas estão imobilizadas.
Uma jovem oficial lamentou calmamente.
— Isso mesmo.
Quando a sala de conferência foi a mil, Rosenmarie intencionalmente se encolheu. Gaier ficou chocado e seus olhos estavam vidrados.
— …S-Se isso tudo é verdade, então como pode estar tão calma, Sra Rosenmarie? A vantagem do inimigo tinha aumentado tanto, então por que não estão preocupada?
Um velho oficial estava confuso e os outros também sentiam o mesmo.
— Hm? Quer me ver em pânico? Não me importo de lhe mostrar isso se assim desejar.
— N-Não, de modo algum!
O velho oficial não aceitou e os outros evitaram a olhar de forma embaraçosa. Rosenmarie estava apenas brincando mas ninguém percebeu.
— Não importa, de qualquer forma, não tem necessidade de entrar em pânico. De acordo com o relatório, o sétimo exército tem 28.000 solados. As nossas forças são de 27.000 no total. Estão sugerindo que nós, os Cavalheiros Carmesim, vamos perder numa batalha equilibrada?
Rosenmarie perguntou aos oficiais com um brilho nos olhos, então todos eles trincaram o maxilar e concordaram.
— Claro que não, mas…
Gaier falou com um olhar expressivo. Ele não terminou sua frase, mas Rosenmarie sabia muito bem o que ele queria falar, mesmo assim decidiu perguntar já que seria mais interessante.
— Mas o quê?
Gaier hesitou por um momento, então tomou uma decisão e falou:
— O inimigo tem a deusa da morte que venceu o tenente coronel Volmar. Isso é algo que não podemos simples… E ela também está atrás de você, Vossa Graça.
— Haha, isso é uma honra. Uma garota que passou de um monstro para uma deusa da morte está atrás da minha vida. Tenho que preparar uma grande recepção.
Antes de Gaier falar alguma coisa, Rosenmarie ordenou que eles se preparassem para a batalha. Isso encerrou a conferência de guerra e Rosenmarie saiu da sala animada.
Espere por mim, deusa da morte Olivia. Eu, Rosenmarie, irei pessoalmente arrancar sua cabeça. Então levarei, junto com o relatório da destruição do sétimo exército, ao túmulo do general Osborne para o homenagear no lugar das flores!