Volume 6
Capítulo 2
O nome do garoto era Tote Col.
Depois que o garoto tirou uma soneca, o estômago de Holo começou a roncar, então Lawrence entregou um pão, que Col comeu com cautela, como um cão selvagem.
Mas suas feições não eram profundamente desgrenhadas, o que o fazia parecer mais um cachorro abandonado do que estritamente selvagem.
“Então, quanto você pagou por esses papéis?”
Col não tinha comprado apenas uma ou duas falsificações em suas viagens; em sua bolsa esfarrapada, ele tinha um livro inteiro.
Comer um pão do tamanho de um punho em duas mordidas, Col respondeu rapidamente, “Um trenni… e oito lute.”
O fato de que ele murmurou as palavras com relutância não tinha nada a ver com o pão na boca.
Dada sua aparência, lembrar que gastou mais de um trenni deve ter sido desesperadamente frustrante.
“Isso é um grande investimento… O vendedor que te vendeu era tão impressionante?”
Foi Ragusa quem respondeu à pergunta de Lawrence.
“Dificilmente. Ele estava vestido de trapos e sem o braço direito.”
Col olhou para cima e assentiu, surpreso.
“Ele é famoso por aqui,” disse Ragusa. “Anda por aí vendendo seus papéis. Aposto que ele disse algo assim para você. ‘Olhe para este meu braço — eu arrisquei tudo por isso, mas não anseio mais por este mundo. Estou pensando em voltar para casa, então vou te entregar esses papéis’.”
Os olhos de Col estavam vidrados — deve ter coincidido com o que ele ouviu quase palavra por palavra.
Os vigaristas geralmente tinham um aprendiz com eles, e essas frases eram passadas de mestre para aprendiz.
Quanto à questão da falta do braço direito do homem, sugeria que ele já fora pego por um guarda em algum lugar, e seu braço foi levado como punição.
Um ladrão que roubava dinheiro perdia um dedo, mas um vigarista que traía a confiança — isso era um braço. Um assassino que tirava a vida perdia a cabeça. Se o crime era especialmente hediondo, o enforcamento era evidentemente pior que a decapitação.
De qualquer forma, o garoto caiu e olhou para baixo, a desonra de ter sido enganado por um vigarista cujas artimanhas eram bem conhecidas, acrescentava insulto à ferida.
“Você sabe ler?” perguntou Lawrence enquanto folheava as falsificações.
“Um pouco…” veio a resposta incerta.
“Mais de metade destes não são nem mesmo falsificações.” “O-o que quer dizer, senhor?”
Lawrence ficou um pouco impressionado com a educação de Col. Talvez ele já tivesse trabalhado para um mestre respeitável alguma vez. Levando em conta como Lawrence e Col se conheceram, tornava isso um pouco surpreendente.
A expressão de Col era de total derrota; ele dificilmente poderia parecer mais deprimido que isso.
Talvez sentindo pena dele, Holo, que estava sentada ao lado do garoto, ofereceu um pouco mais de pão.
“Muitos desses documentos foram roubados de alguma empresa em algum lugar. Veja, existem até cobranças de pagamentos,” disse Lawrence, entregando as folhas a Holo — mas, embora Holo pudesse ler, ela não sabia nada sobre cobranças.
Ela inclinou a cabeça, mas quando tentou mostrá-las a Col, ele se negou a olhar.
Talvez fosse demais encarar o próprio fracasso.
“Se foi esse tipo de coisa que você comprou, eu os vejo por aí o tempo todo. Esses documentos não servem para obter dinheiro — mas servem para os mercadores darem umas boas risadas. Eles foram roubados de alguma guilda comercial em algum lugar e foram passando de um vigarista para outro,” disse Lawrence.
“Um dos meus clientes também foi enganado por eles,”
acrescentou Ragusa, afastando a proa do barco de uma rocha no rio.
“Quem roubaria isso?” Perguntou Holo.
“Geralmente, um aprendiz da empresa que se cansa de ser explorado demais — eles os roubam ao sair, como parte do pagamento. Empresas rivais pagam um preço decente por alguma informação contida ali, e, claro, existem os vigaristas que também podem comprar. É um conselho que passa de um aprendiz para outro. Se você receber dinheiro, a empresa virá atrás de você. Mas dessa forma, a empresa tem sua reputação a considerar, por isso é mais difícil perseguir o culpado.”
“Hã?”
“Considere como seria uma empresa perseguir loucamente uma folha perdida do seu livro — as pessoas pensariam que havia algo extraordinário naquele livro, não é? E isso é ruim para os negócios.”
Holo assentiu, impressionada com esse ângulo que ela não havia considerado.
Lawrence folheou página após página enquanto falava, mas parecia achá-las genuinamente interessantes.
Não era todo dia que se podia ver com facilidade quais empresas encomendavam quais mercadorias de quais lojas e em quais cidades.
No entanto, a situação de Col era triste.
“Você sabe o que eles dizem: ‘A ignorância é um pecado.’ O que me diz, rapaz — já que você está sem dinheiro mesmo, o que acha de trocar estes papéis em troca de comida e da sua tarifa?”
As sobrancelhas do garoto tremeram em surpresa, mas ele não olhou para cima, mas olhava fixamente para a parede interna do barco.
Sem dúvida, ele estava fazendo alguns cálculos em sua mente.
Poderia haver algo genuíno escondido em algum lugar naqueles pedaços de papel, ou as páginas poderiam ser inúteis, mas se ele deixasse essa oportunidade passar, nunca mais encontraria alguém disposto a negociá-los. E, no entanto — ele pagou mais de um trenni por eles…
Assim como Holo costumava se gabar de sua capacidade de reconhecer as intenções de Lawrence, o próprio Lawrence estava confiante em sua capacidade de calcular lucros e perdas.
No entanto, diferentemente de Holo, isso não vinha da capacidade de discernir as mudanças mais sutis nas pessoas, mas de sua longa experiência como mercador.
“Q-quanto pagaria?” Perguntou Col.
Como se estivesse ressentido, ele olhou cuidadosamente para Lawrence — talvez porque sentisse que, se demonstrasse alguma brecha, o preço seria reduzido.
Seu esforço era bastante encantador, e Lawrence teve que se forçar a não sorrir; ele tossiu e se acalmou. “Dez lute.”
“…” O rosto de Col se contorceu e ele respirou fundo antes de responder. “I-isso é muito pouco.”
“Entendo. Fique com eles, então,” respondeu Lawrence imediatamente, empurrando o maço de volta para Col.
A pouca vitalidade que Col reuniu foi drenada imediatamente de seu rosto.
Sua decepção transparecendo tão claramente o fez parecer mais esfarrapado e desgastado do que se ele não tivesse tentado fazer uma cara corajosa em primeiro lugar.
Col mordeu o lábio enquanto olhava do maço de papéis para Lawrence.
Sua teimosia ao tentar vender os papéis um pouco mais caro reduziu seus lucros a zero. A mesma teimosa agora seria um obstáculo se ele quisesse pedir mais alguma coisa.
Certamente era isso que ele estava pensando.
Quando se acalmou um pouco, viu os sorrisos indulgentes de Holo e Ragusa e deve ter percebido que era demonstrando sua fraqueza que conseguiria escapar.
Um mercador jogaria fora todo o seu orgulho se isso desse lucro. É claro que Col não era mercador e ainda era jovem.
Lawrence pegou a pilha de papéis, coçando o queixo com o canto da mesma. “Vinte lute, então. Não posso subir mais.”
Os olhos de Col se arregalaram, como se seu rosto tivesse acabado de romper a superfície da água, mas ele imediatamente olhou para baixo.
Seu alívio era óbvio, e óbvio era seu desejo de escondê-lo.
Lawrence olhou para Holo, que lhe mostrou as presas, como se dissesse: “Não provoque o garoto demais.”
“Eu aceito sua oferta…”, disse Col.
“Isso não é o suficiente para chegar até Kerube, no entanto. Nós vamos ter que deixá-lo no caminho, ou então…” Lawrence olhou de soslaio para o bem-humorado barqueiro que tinha se divertido com o processo até agora.
“Ah, tudo bem,” disse Ragusa rindo, como resposta para Lawrence. “Haverá pequenos serviços ao longo do caminho. Ajude e tenho certeza de que posso fazer valer o seu tempo.”
Col parecia um filhote de cachorro perdido, depois deu um aceno hesitante.
Postos de controle ao longo do rio eram tão comuns que chegavam a ser incômodos.
Tudo o que você precisava para coletar algum dinheiro era a capacidade de interromper o tráfego de barcos, por isso era compreensível — mas sem eles, a jornada teria sido duas vezes mais rápida.
Pior ainda, os proprietários mais abastados podiam se dar ao luxo de construir postos de controle que conectam estradas em ambos os lados do rio, que se transformavam em lugares onde os barcos poderiam carregar e descarregar cargas.
Logo as pessoas se reuniam para vender comida e bebida para os barqueiros, e o posto de controle assumia aspectos de uma estalagem à beira da estrada, levando muitos a praticamente se tornarem cidades em miniatura.
Tudo isso atrasa o tráfego fluvial, e haveria momentos em que caminhar teria sido mais rápido.
Ragusa tentava apressar seu barco o máximo que podia, mas não havia nada que ele pudesse fazer sobre os transportadores de pele.
Os comerciantes de peles precisavam chegar a Kerube o mais rápido que fosse possível e dariam tanto dinheiro para os coletores de impostos que eles dificilmente poderiam reclamar e, apesar do rio estreito e da habilidade de Ragusa, seu barco era ultrapassado.
“Não vamos chegar a lugar algum desse jeito…”
Eles foram parados no último de sabe-se lá quantos postos de controle, onde Ragusa evidentemente tinha algum compromisso que tinha que manter.
Ele imediatamente começou a conversar com um mercador que se aproximava e, chamando Col, começou a mover a carga.
Foi assim que um barco passou por eles e depois outro; Holo estava encostada em Lawrence enquanto cochilava, mas seus olhos se abriram, ela observou os barcos vagamente e murmurou.
Desde que embarcou, Holo estava extremamente sonolenta, então Lawrence imaginou se ela estava se sentindo mal, mas depois lembrou-se de como ela chorou quando foi buscá-la após ser entregue como garantia para a Companhia Delink.
Fazia um ano que o próprio Lawrence havia chorado, ele havia esquecido — o choro consumia uma quantidade surpreendente de energia.
“Ainda assim, é mais rápido que uma carroça,” respondeu
Lawrence vagamente, olhando os papéis que havia comprado de Col.
“Eu tenho minhas dúvidas,” disse Holo.
O barco balançando começou a parecer um berço.
As ondas do oceano podiam facilmente deixar alguém doente, mas o movimento suave do rio era bastante propício para cochilar e estava longe de ser desagradável.
“Aquele garoto, ele é muito sério.” “Hmm? Ah, sim.”
Holo estava assistindo Col mover carga no píer.
Assim como ela disse, Col estava seguindo as instruções de Ragusa sem reclamar, enquanto ajudava na preparação de mercadorias para embarque. Ele não conseguia carregar as grandes sacolas cheias de trigo do barco de Ragusa; então, carregava sacolas menores a bordo, que pareciam estar cheias de algum tipo de leguminosa.
Observando-o trabalhar, Lawrence mal podia imaginar que este era o mesmo garoto que gritou “Mestre” enquanto se agarrava a um fio de esperança.
Os seres humanos eram capazes de feitos incríveis quando pressionados.
“Ah, de fato, para ser enganado do jeito que foi, ele teria que ser sincero.”
Dada a quantidade insignificante de um trenni e oito lute, Lawrence imaginou que Col foi extorquido de tudo o que tinha.
A maioria das pessoas enganadas era bastante sincera, gananciosas ou não. Eles nunca imaginavam que a história que lhes era contada era uma mentira.
“Ouvi em algum lugar que quanto mais sério o homem, mais fácil ele é como alvo.” Holo voltou à boa forma.
Lawrence se distraiu com o maço de papéis.
“Heh. Então, você encontrou algo interessante?”
“…Algumas coisas, suponho.”
“Hmph. Por exemplo?” perguntou Holo, olhando casualmente para o píer, quando algo pareceu surpreendê-la.
Lawrence seguiu o olhar e viu uma mula carregada com tanto peso que parecia à beira do colapso.
Ragusa e Col estavam carregando mercadorias na mula de um mercador viajante.
Sua expressão era meio que um ato, mas Holo fez uma careta como se ela simpatizasse com a besta.
“Por exemplo, veja. Uma carta solicitando moedas de cobre.”
“Moedas de… cobre? Por que você compraria logo dinheiro? Ainda existem pessoas naquele esquema?”
“Não, isso é só porque eles precisam dessas moedas. Eles pagaram um pouco acima do preço de mercado, veja. ‘Normalmente, os custos de transporte e os direitos aduaneiros são de responsabilidade do comprador.’ Isso é prova de compras regulares.”
“Hmm… espere um pouco. Sinto como se já tivesse ouvido algo do tipo. Por que eles fariam isso…? Acho que me lembro…” Holo fechou os olhos enquanto rugas apareciam na sua testa franzida.
Além de especulação, haviam várias razões para comprar moeda.
Mas no caso das moedas de cobre de baixo valor registradas na folha, havia apenas uma.
Holo olhou para cima e sorriu. “Entendo. São para pequenas negociações!”
“Oh ho, você anda prestando atenção.”
Holo se encolheu e sorriu com os elogios de Lawrence.
“De fato,” continuou Lawrence. “Elas estão sendo compradas especificamente para serem usadas como moeda de troca. Se alguém quiser comprar algo, mas você não tiver troco, o negócio não será feito de forma apropriada. Viajantes constantemente levam essas moedas de menor valor para fora da cidade. Essa moeda provavelmente está cruzando o canal através de Kerube. O reino insular de Winfiel fica do outro lado do canal e é famoso por ter pouco dinheiro de troca. É por isso que a moeda que circula dessa maneira é chamada de ‘moeda de rato’.”
Holo olhou para ele sem expressão.
Algo no rosto dela fez Lawrence querer cutucar o nariz com o dedo.
“Quando a guerra é iminente ou a situação de uma nação é instável, viajantes e dinheiro fluem para fora da região, como ratos fugindo de um navio afundando — daí o termo.”
“Entendo. Uma expressão bastante apropriada.”
“De fato, eu gostaria de conhecer quem a inventou… hmm?”
Enquanto continuava a ler o papel em questão, Lawrence parou de falar quando seus olhos notaram algo.
Ele sentiu como se já tivesse visto o nome da empresa em algum lugar.
Um pequeno grito veio da direção do píer enquanto Lawrence tentava se lembrar por que o nome parecia familiar.
Quando olhou para cima, viu Col prestes a cair da borda — mas, felizmente, ele se livrou do afogamento quando Ragusa o agarrou pela gola e o puxou para cima; ele se contraiu como um gatinho indefeso.
O que Lawrence ouviu a seguir eram risos e o que viu foi o sorriso tímido de Col.
Ele não parecia ser de má índole.
O julgamento afiado de Holo sobre as pessoas parecia ter sido confiável mais uma vez.
“Então? O que foi?” Ela perguntou.
“Hmm? Ah, sim, o nome da empresa que está escrito aqui… sinto como se tivesse visto em algum lugar. Talvez tenha sido em algum outro papel.”
Enquanto Lawrence os folheava, o barco subitamente ganhou peso.
Ragusa e Col haviam terminado seus trabalhos e retornado.
“Muito bom. Você é muito trabalhador — disse Holo a Col, que havia retornado à proa do barco, e seu rosto rígido ficou um pouco mais suave.”
Ele provavelmente era um rapaz quieto por natureza, mas parecia ter notado Lawrence folheando a pilha de papéis como se procurasse alguma coisa.
O rosto de Col estava curioso enquanto observava Lawrence. “Infelizmente, não há nada que valha dinheiro aqui,” disse Lawrence sem olhar para cima; ele sentiu o garoto se encolher.
Holo sorriu levemente, dando um soco no ombro de Lawrence como se dissesse: “Não o provoque.”
No entanto, Lawrence entendeu as esperanças do garoto.
Ele próprio já foi atraído por algo semelhante. “Ah, aqui estamos nós.”
“Oh?”
Lawrence pegou uma única folha de papel. Ainda estava limpa, e a escrita era organizada.
Era datado de aproximadamente um ano antes e parecia ser um registro dos vários bens que a empresa havia carregado a bordo de um navio. Se houvesse omissões quando os registros foram inseridos, eles não poderiam ser alterados, de modo que este funcionava como uma espécie de rascunho. Portanto, a lista aqui não teria diferido do que foi realmente anotado nos livros de contabilidade e incluía descrições claras de mercadorias, quantias e destinos.
As redes de informações de empresas como essas, embora isso não fosse regra, traziam relatórios de filiais distantes e aliados e, quando somadas à coleta proativa de notícias de fontes locais, eram como uma montanha de joias para um mercador independente.
Olhar para uma lista dos produtos que uma empresa estava enviando para locais distantes era como olhar para um espelho refletindo as informações que a empresa havia reunido.
Claro, era preciso saber interpretar esse conhecimento. “É por isso que não dá para estimar um valor para esse tipo de coisa.”
“Er, hum, quero dizer—” Col estava atrás de buracos na bolsa de moedas de Lawrence, mas confuso, ele desviou o olhar.
Lawrence sorriu, depois se levantou e estendeu a mão. “Aqui.”
Col olhou para Lawrence com perspicácia, depois voltou os olhos para o papel.
“Vê? ‘Registrado por Ted Reynolds, da Jean Company’, é o que está dizendo.”
O balanço do barco dificultava a leitura. Apesar do frio, Lawrence saiu debaixo do cobertor e se sentou ao lado de Col. O garoto olhou para Lawrence com apreensão, mas seu interesse parecia estar no papel.
“O que mais?” ele pressionou Lawrence infantilmente, seus olhos tinham um tom azul enevoado.
“Seu destino é uma nação insular além do canal de Kerube, rio abaixo. Chama-se reino de Winfiel. Ah, também é o lar das raposas.” Essas últimas palavras foram dirigidas a Holo.
Lawrence viu seus ouvidos tremerem sob o capuz.
Mesmo que ela não pretendesse perseguir a mulher, Holo parecia não ter sentimentos calorosos por ela.
“De qualquer forma, este é um memorando de uma variedade de produtos diferentes coletados no porto de Kerube que seriam vendidos para outra empresa — o nome não está aqui — em Winfiel. Estes são os bens. Você pode ler?”
Para esta pergunta, Col respondeu: “Um pouco.”
Ele apertou os olhos como se sua visão fosse fraca, encarando atentamente as palavras escritas na página.
Sua boca parecia colada por um tempo, mas finalmente se abriu. “…Cera, garrafas de vidro, livros… fivelas? Chapa de ferro… er… estanho, ourivesaria. E… ah, nee-?”
“Eni. É uma espécie de moeda.” “Eni?”
“Você lê muito bem.”
Quando ele era um aprendiz, Lawrence nunca havia ficado mais feliz do que quando seu mestre o elogiou e bagunçou seu cabelo. Ele reconheceu que não era tão áspero quanto seu mestre, então acariciou a cabeça de Col um pouco mais levemente do que seu mestre teria feito.
Col abaixou a cabeça surpreso, depois sorriu timidamente. “Ao lado dos nomes das mercadorias estão os valores e os preços. Infelizmente, não podemos balançar isso no ar e esperar que alguém nos dê dinheiro por isso. Seria uma história diferente se houvessem evidências de contrabando.”
“Não existe?”
“Infelizmente não. Desde que eles não escrevam: ‘São mercadorias contrabandeadas,’ não há como dizer. A menos que eles estejam trazendo algo obviamente proibido.”
“Entendo…” disse Col assentindo, olhando para o papel. “Er, então…”
“Sim?”
“E esse papel?”
Sem dúvida, ele queria saber por que Lawrence procurou essa folha em específico.
“Oh, em outra folha havia um registro de uma compra de moedas de cobre, e essa foi a empresa que fez o pedido. Embora sejam feitas do outro lado do mar, em Ploania, elas são uma moeda de cobre usada principalmente em Winfiel para pequenas negociações…”
Enquanto Lawrence falava, um sentimento estranho tomou conta dele.
Ele olhou para cima e depois se levantou.
Em frente a ele, Holo estava vagamente folheando o maço, mas agora ela olhou surpresa. “O que foi?”
“Cadê o outro papel?” “Aqui.”
Holo entregou para Lawrence uma página com um som farfalhante.
Segurando o memorando na mão direita, Lawrence pegou a folha de pedidos de Holo com a esquerda.
Enquanto olhava de um para o outro, ele descobriu a origem do incômodo.
Os dois documentos eram datados em um intervalo de dois meses. A empresa era a mesma.
As moedas de cobre compradas no papel na mão esquerda haviam sido exportadas no memorando à direita.
“Oh ho. Uma coincidência interessante, de fato,” disse Holo, seu interesse despertando enquanto olhava para os papéis que Lawrence segurava; à sua frente, Col timidamente tentava ver por conta própria.
Desde o vigarista supostamente operava fora desta área, ele provavelmente teria conseguido esses materiais de alguma empresa ao longo do Rio Roam.
Por coincidência, ele pegou pedidos e vendas a montante e a jusante.
Mas o que deu Lawrence aquela sensação estranha não era a coincidência.
Ninguém era mais obcecado por números do que um mercador. Apenas um adivinho chega perto dessa fixação.
“Mas os números não batem,” disse Lawrence.
“Hmm?” Respondeu Holo. Col se inclinou mais para perto —
evidentemente sua visão não era muito boa.
“Aqui diz que compraram cinquenta e sete baús, mas a exportação foi sessenta. São mais três.
“…Há algo de errado nisso?”
Lawrence colocou as duas folhas de papel no deque e apontou para os pontos relevantes, mas Holo e Col pareciam confusos.
“Bem, quero dizer… se tratando de dinheiro, para quem fabrica, quanto mais fabrica, mais lucra. Mas como há muito lucro, o número de peças que eles podem emitir é estritamente limitado. Se ‘o dinheiro é a raiz de todo mal,’ como se costuma dizer, isso é ainda mais verdadeiro para a fabricação de dinheiro. A tentação é muito forte. Então, normalmente, eles são muito cuidadosos em fazer a quantia solicitada.”
“Mas eles podem ou não enviar tudo o que têm em mãos, não podem? Se o destino estiver do outro lado do mar e o navio estiver instável, talvez seja necessário enviar menos do que a quantidade usual. Então eles adicionam o restante lá.”
Não era uma má ideia, mas apenas três baús de sobra — era difícil de imaginar.
Em todo caso, Lawrence sabia que havia uma circunstância que explicava melhor a situação.
Era natural que um mercador desconfiasse diante de um fenômeno estranho.
“Bem, pode ser que sim, mas no fim se resume a uma questão de confiança. Simplesmente acredito que há algo estranho aqui.”
Holo apertou os lábios e deu de ombros. “E então, o que são esses baús? O que os baús têm a ver com a contagem de moedas?”
Lawrence estava prestes a perguntar a Holo se ela estava brincando quando viu Col assentir, evidentemente também confuso.
Confrontado pelos olhares de ambos, Lawrence ficou levemente surpreso — até perceber que havia esquecido que o senso comum de um mercador não era o mesmo das outras pessoas.
“Basicamente, você não carrega uma grande quantidade de moedas balançando em uma bolsa. Leva muito tempo para contar.”
“Suas piadas são inteligentes,” disse Holo levemente, provocando um sorriso de Col; seus olhos se encontraram.
A sabedoria de um mercador nascia da experiência. E grande parte dessa sabedoria era contraintuitiva.
“Suponha que você precise transportar dez mil moedas. Quanto tempo você acha que a contagem dessas moedas levará? Se você as juntou em um saco, é preciso retirá-las, pegá-las uma de cada vez, depois alinhá-las e contá-las. Para uma pessoa, é certamente meio dia de trabalho.”
“Então use dez pessoas.”
“Verdade. Mas quando se preocupa com ladrões, duas pessoas são piores que uma, ainda mais três. Se apenas uma pessoa estiver contando, e a contagem sair errada, você só precisa duvidar dessa pessoa. Mas com dez, você teria que suspeitar de todos eles, e ainda precisa de um supervisor para evitar roubo. Não dá para fazer negócio assim.”
“Hum,” disse Holo com um aceno de cabeça; Col inclinou a sua com curiosidade. Eles pareciam não entender a vantagem de um baú. “Além disso, você pode não notar que um saco foi roubado enquanto estiverem em trânsito.”
“Mas isso não é o mesmo para um baú?”
“…Oh! E-entendi!” Os olhos de Col brilhavam enquanto ele levantava a mão exaltado.
Então ele pareceu perceber que acabara de levantar a mão sem pensar e a abaixou às pressas — como se tentasse esconder um erro.
Holo inclinou a cabeça em curiosidade, mas quanto a Lawrence, ver a reação do garoto foi uma surpresa.
Ele agia como um estudante.
“Você é um estudante?” Ele perguntou.
Certamente teria explicado a curiosidade do garoto, seu discurso estranhamente educado e seu conhecimento surpreendentemente profundo das coisas.
No entanto, Col se encolheu com a pergunta. Quando instantes atrás, ele parecia estar finalmente se abrindo, que a expressão desapareceu, e ele se afastou de Lawrence, o medo transparecendo no rosto.
Lawrence ficou pasmo — mas é claro, ele sabia o motivo dessa reação.
Ele se acalmou e sorriu. “Sou apenas um simples mercador viajante. Está tudo bem, rapaz.”
Col tremeu e Lawrence sorriu.
Holo olhou de um para o outro, confusa, mas parecia adivinhar mais ou menos a situação.
“Hmph,” ela murmurou, depois se aproximou de Col, que não podia mais se afastar para que não caísse no rio. Ela estendeu a mão para ele.
“Meu companheiro é um mercador ganancioso, mas ele também tem um coração gentil demais, às vezes eu não sei o que fazer com ele. Você não precisa ter medo.”
O mesmo sorriso tinha um valor bastante diferente quando usado por uma mulher e não por um homem.
Além disso, os atributos de Holo eram certamente agradáveis.
Ainda assustado, Col tentou se afastar quando Holo segurou seu braço, mas quando ela o puxou para perto, ele parou de resistir — a seu modo, ele era exatamente como Holo.
“Heh. Venha cá, não chore. Está tudo bem.”
Havia uma novidade em ver Holo confortar Col com tanta habilidade, talvez porque Lawrence sempre a via de forma mais abrasiva.
As linhas delgadas de seu corpo pareciam incitar os instintos protetores dos homens, mas dentro de seu corpo havia uma loba que protegeu uma vila por séculos — certamente uma criatura digna de ser chamada de deusa.
Mesmo os grandes heróis da região certamente não poderiam se igualar à sua generosidade.
“É exatamente como ela diz. Então, o que você entendeu?” Perguntou Lawrence. Por outro lado, seria melhor demonstrar que ele não tinha interesse no fato de Col ser um estudante e, em vez disso, falar sobre algo totalmente sem relação.
Holo parecia se sentir da mesma maneira, e ela lentamente soltou o braço dele enquanto dizia algo baixinho.
Embora seu medo anterior permanecesse em seus olhos, Col parecia recuperar um pouco de calma.
Talvez fosse por um sentimento de orgulho masculino que ele tentou esconder suas lágrimas enxugando-as e depois olhou para cima. “V-você realmente não vai…?”
“Não. Juro pelos deuses.” Essas eram as palavras mágicas. Col respirou fundo e fungou.
Já Holo, ela tinha um olhar complicado no rosto enquanto sorria tristemente.
“E-então… você quer saber por que… as moedas estão em baús?” “Sim.”
“Não é porque, er… com um baú, as moedas podem ser embaladas de forma mais segura?”
Holo franziu a testa.
“Uma excelente resposta. É só isso. Baús de um tamanho específico são escolhidos e as moedas são embaladas de forma precisa. Desde que a espessura e o tamanho da moeda não mudem, elas sempre se encaixarão perfeitamente, e se uma única peça for roubada, será imediatamente óbvio. Além disso, você sempre saberá exatamente quantas moedas um determinado baú possui. Não há necessidade de guardas nem mão de obra extra para contar moedas. É um sistema superior em todos os aspectos,” disse Lawrence, sorrindo para Col. “Anos atrás, eu nunca teria notado isso. Parece que você é realmente um rapaz educado.”
Col endireitou-se surpreso, depois sorriu timidamente.
Em contraste, Holo parecia totalmente desinteressada. Era difícil saber se ela realmente não tinha entendido a pergunta — seu coração amável poderia tê-la levado a ficar quieta.
“Mas se essa discrepância de três baús realmente apontar para algo fora do comum, isso seria interessante,” disse Lawrence, insistentemente, para Holo, que deu de ombros como se dissesse: “Eu já tive problemas com isso.”
Se ela estivesse assim agora e se Lawrence decidisse que ele queria perseguir Eve, ela poderia desenterrar mil razões para não o fazer.
“Er, uhm—” Col interrompeu a disputa sem palavras.
“Mm?”
“O que poderia ser ‘fora do comum?’ Quero dizer, apenas como um exemplo.” O sorriso tímido de Col desapareceu, substituído por uma expressão séria.
Lawrence ficou um pouco surpreso e Holo olhou para Col, depois encontrou o olhar de Lawrence.
“Apenas como exemplo, hein? Hmm. Digamos que seria a prova de cunhagem ilícita de moedas.”
A respiração de Col ficou presa na garganta. A cunhagem ilícita era um crime sério, de fato.
Lawrence sorriu nervosamente. “Mas isso é um exemplo —
apenas um exemplo!” Desapontado, Col se retraiu.
Era um pouco estranho — ou melhor, ele não parecia alguém que havia sido enganado e só queria seu dinheiro de volta.
Talvez ele precisasse de dinheiro.
Talvez o dinheiro que havia usado para comprar esses papéis era emprestado.
O pensamento ocorreu a Lawrence quando olhou para Holo, que apenas sorriu e deu de ombros.
Holo podia ser capaz de ler as intenções das pessoas, mas suas ideias eram um mistério para ela.
“Só que pensar em várias possibilidades é uma boa maneira de matar o tempo a bordo de um barco,” acrescentou Lawrence.
Col assentiu com pesar.
O garoto tinha uma imaginação ousada — ele fez uma tentativa desesperada de chamar Lawrence de mestre justamente quando sua carta de privilégios de impostos falsificados o estava causando problemas no píer. No entanto, ele se revelara um garoto bem- comportado, exceto por sua estranha fixação pelo dinheiro.
E ele era um estudante.
No caminho para a cidade de Ruvinheigen, Lawrence conhecera uma pastora cuja situação despertou seu interesse; esse garoto era mais ou menos interessante.
Como ele chegou nessa região e o que o fez comprar essa pilha de documentos e livros falsos?
Lawrence queria tirar todas as informações do garoto, mas se ele pressionasse demais, a boca de Col se fecharia como um molusco assustado. Era uma história comum — um estudante se perdia em bebidas e jogos de azar e, finalmente, roubava. Ninguém era tão perseguido quanto um estudante que se desviou das suas atividades.
O medo de Col certamente era moldado por ele saber muito bem quão frio o mundo poderia ser.
Então, Lawrence colocou seu melhor sorriso de mercador e perguntou: “Há vários tipos de estudante, então, que tipo você é?”
Metade dos “eruditos” itinerantes no mundo era apenas autointitulados e não haviam feito nem um dia de estudo verdadeiro em suas vidas. Mas Col sabia ler, então ele parecia não ser um deles.
Enquanto Lawrence ajeitava os papéis, a resposta de Col foi hesitante. “Er… L-leis da i-igreja.”
“Oh?” Agora isso foi uma surpresa.
Estudando a lei da Igreja — ele pretendia se tornar um padre de alto escalão?
Aqueles que se tornavam estudantes ou estudiosos fizeram isso porque sua família era rica e podiam pagar ou porque queriam uma maneira de se tornar um alto membro da sociedade sem herdar os negócios da família — ou porque simplesmente não queriam trabalhar e, em vez disso, se chamavam de estudiosos.
De qualquer forma, os alunos que estudavam com um desejo genuíno de aprender eram raros.
E entre eles, aqueles que estudavam a lei da Igreja eram ainda mais raros.
Eles não queriam se tornar monges, mas desejavam subir nas ordens da Igreja.
O campo demandava muito esforço, de fato.
“Você foi expulso da escola?”
Esperar que Col respondesse pode demorar até o sol se pôr, então, em resposta à pergunta de Lawrence, Col deu um pequeno aceno de cabeça.
Era esperado que os estudantes contratassem um tutor, alugando um quarto em uma estalagem ou pensionando uma mansão para dar palestras — então, é claro, aqueles que não podiam continuar pagando eram expulsos.
Havia histórias de santos que mandavam pássaros espiar essas lições e depois voltavam para recitá-las — mas até milagres tinham limites.
E Lawrence ouvira dizer que a maioria dos tutores não responderia a uma pergunta sem um presente.
Era um caminho difícil, a menos que alguém viesse de uma família rica ou fosse um gênio em ganhar dinheiro.
“Então, para uma escola nesta área… Erisol, talvez?”
“N-não… era Aquent.”
“Aquent?” Lawrence perguntou, olhando surpreso. Col se encolheu como se tivesse sido repreendido.
Os olhos acusadores de Holo eram quase dolorosos.
Mas a cidade de Aquent estava tão longe que Lawrence não pôde deixar de levantar a voz surpreso.
Enquanto observava Holo dar tapinhas encorajadores nas costas de Col, Lawrence acariciou sua barba. “Desculpe. Parecia um pouco longe, só isso. Levaria algum tempo para fazer a viagem a pé.”
“…Sim.”
“Se bem me lembro, Aquent é um lugar onde sábios e estudiosos se encontram — um lugar onde correntes de água límpida fluem em direção ao centro da cidade, onde as maçãs da sabedoria crescem o ano todo; a conversa trocada em um único dia se compara a todas as palavras de quatro nações e, se você anotasse estas conversas, daria para chegar ao fundo do oceano. O nome da cidade é Aquent, um paraíso da razão e da sabedoria.”
“Parece um lugar incrível! E ainda tem maçãs durante todo o ano. Um paraíso, de fato!” disse Holo, praticamente lambendo os lábios. Col pareceu um pouco surpreso, mas logo um leve sorriso apareceu em seu rosto.
Até ele sabia quando Holo estava exagerando. “Hum, isso é… não é verdade,” disse ele.
“Hmm? S-sério…?” Respondeu Holo, parecendo muito decepcionada quando ela se voltou para Col.
Talvez se sentindo obrigado devido à bondade que ela tinha demonstrado, Col rapidamente tentou acalmar as coisas. “Er, hum, bem, mas — há muitas frutas diferentes à venda o ano todo nas lojas. Até algumas raras.”
“Oh?”
“Como uma fruta peluda desse tamanho, que não se quebra mesmo quando é atingida por um martelo — mas por dentro é um leite doce.”
Ele estava falando do coco.
Quando fosse a estação certa, quando os grandes navios mercantes parassem nos portos quentes do Sul, às vezes você via essas coisas — mas Holo certamente nunca tinha visto um.
E a imaginação poderia correr ainda mais se não tivesse realidade com a qual se ancorar.
Holo olhou para Lawrence.
Os olhos dela brilhavam com uma luz que era inteiramente sincera. “Se virmos um desses, eu te compro alguns.”
Não eram conservas de pêssego com mel, mas eles dificilmente se deparariam com cocos, então Lawrence não estava preocupado em manter essa promessa.
Claro, se eles encontrassem alguns, ele estaria com problemas. “Mas, realmente, Aquent não é um paraíso. Há muita disputa por lá,” interveio Col.
“Sem dúvida, as pousadas estão cheias de ladrões. Se você dormir sozinho, suas roupas desaparecerão na manhã seguinte e, se você for a um bar, se envolverá em muitas brigas. Quando os ânimos aumentam, as faíscas também, não duvido que seja assim,” disse Lawrence.
Com uma montanha de estudantes vagabundo que vão desde a idade de Col até a de Lawrence, seria como jogar piratas e bandidos na mesma sala.
Lawrence estava exagerando um pouco, mas o sorriso arrependido de Col não negou nada do que ele disse.
Um lugar cheio de escolas seria realmente animado, para o bem ou para o mal.
“Hum, mas eu conheci alguns professores maravilhosos lá, e eu aprendi muito.”
“De fato, ser capaz de ler tão bem na sua idade é impressionante.” O sorriso tímido de Col era incrivelmente encantador.
Holo sorriu também.
“Então, como você chegou até aqui?” Lawrence perguntou, e Col
— ainda sorrindo — olhou para baixo.
“Eu tentei minha sorte no comércio de livros…” “Comércio de livros?”
“Sim. O assistente do meu professor me disse que ele escreveria novas anotações para um determinado livro e, portanto, eu deveria comprar cópias desse livro antes que o preço subisse…”
“E você?”
“Sim.”
Lawrence habilmente manteve o rosto neutro.
Quando um erudito famoso escrevia notas sobre um determinado livro, os pacotes do livro com as anotações vendiam muito bem.
Era bastante comum um estudioso e uma livraria cooperarem — a livraria comprava cópias de um livro impopular e, em seguida, o estudioso escrevia anotações para esse livro.
A escassez levava a preços crescentes, o que, por sua vez, trazia maior atenção.
Isso era bastante plausível que em cidades com escolas ou universidades nas proximidades, falar de um planejamento acadêmico para anotações de escrita para este ou aquele livro seria comum.
Um mercador poderia facilmente comprar peles de ovelha ou farinha de trigo um ano antes de vendê-lo, mas o negócio editorial era menos confiável do que o clima de amanhã, e Lawrence nunca se envolveu nele.
Mas Col, que aparentemente nunca havia olhado para a avareza e o clamor ao seu redor, em vez de se dedicar ao estudo, não tinha a menor ideia das armadilhas desse negócio.
O que Col investiu não foi em um negócio. Foi uma fraude magnífica.
“Eu sabia que não tinha dinheiro suficiente para levar meus estudos até o fim, então pensei em tentar lucrar. E o preço do livro estava subindo quase todos os dias, então eu sabia que se quisesse ganhar dinheiro, teria que comprar em breve. Mas eu não tinha o suficiente, então pedi o dinheiro de um mercador amigo do assistente.”
Foi uma armadilha de livros didáticos.
O aumento do preço foi um ardil por parte da livraria ou surgiram rumores que levaram ao aumento da demanda.
E, à medida que o preço começava a subir, mais e mais pessoas passavam a acreditar que os rumores de novas anotações eram verdadeiros, o que elevava ainda mais o preço.
Depois disso, era uma ótima aposta ver quem seria o azarado.
Se houvesse alguém mais tolo, este poderia vender para obter lucro.
Mas não é raro o comprador original ser o maior tolo.
Lawrence esperava que Holo estivesse revirando os olhos com a história, mas quando ele a olhou, ela observava Col com uma expressão de profunda simpatia — uma expressão que ele nunca tinha visto antes.
Não era muito engraçado.
“Mas por alguma razão, o professor não escreveu as anotações, e… o livro ficou realmente barato,” Col terminou com um sorriso envergonhado, e com a história terminando exatamente como Lawrence havia imaginado, ele entendeu.
Col tropeçou em uma armadilha e até pediu dinheiro emprestado para comprar livros.
Obviamente, ele não podia mais pagar sua mensalidade, isso sem falar em comer ou pagar a dívida — então ele havia fugido rapidamente.
Ele poderia ter acabado em uma cidade do norte como essa porque as conexões entre os estudantes eram mais fortes do que as de qualquer mercador desajeitado. Havia tantos estudiosos indiferentes nessa área que era fácil acompanhar quem estava em qual cidade.
A maioria das escolas e estudiosos ficavam no Sul, mas em uma cidade grande o suficiente, havia pessoas que tentavam aprender de graça com os pregadores da esquina. Quando Lawrence e Holo estavam em Ruvinheigen, grupos de jovens parecidos com Col se reuniam para ouvir.
Mas, quando Lawrence e Holo chegaram a essa região, esses grupos desapareceram.
Estava frio, afinal, e passar o inverno era difícil. “Então, depois eu, er, comecei a viajar, dependendo da caridade, e acabei por aqui. Ouvi que no inverno muita gente passar por aqui, então haveria muito trabalho.”
“Ah, as campanhas de inverno, hein?”
“Sim”.
“Entendo.”
Mas, quando Col fugiu dos cobradores de dívidas e se dirigiu para o norte, as campanhas de inverno foram canceladas e não havia trabalho. Para sobreviver durante o inverno a esse ritmo, seria preciso o pouco dinheiro que ele tinha em mãos.
Foi quando o misterioso vigarista apareceu.
Embora Col tentasse estudar a lei da Igreja, parecia que o tratamento de Deus com ele tinha sido frio.
Ou talvez isso tenha sido um teste de Deus.
“E assim, depois de todas essas voltas e mais voltas, você veio parar no nosso barco,” disse Holo.
“Sim, parece que sim.”
“É um encontro incrível. Você não diria?” Voltando-se para Lawrence, Holo sorriu.
As bochechas sujas de Col ficaram avermelhadas.
“Embora não se possa dizer que tenha sido uma viagem feliz, deu certo no final. O mundo é realmente cheio de malícia, mas existem algumas armadilhas que é possível evitar quando se sabe sobre elas
— no fim das contas, a ignorância é um pecado. Mas você não precisa mais se preocupar,” disse Holo, orgulhosa. Se o capuz estivesse puxado para trás, suas orelhas certamente estariam se contorcendo.
A calma maternal que ela possuía um momento atrás já desapareceu?
Não, espere, pensou Lawrence.
Ele percebeu que Holo era assim porque, apesar de ter dito coisas tão corajosas quando estendeu a mão para Col, ela não pretendia assumir essa responsabilidade.
“A ignorância é… um pecado?”
“Certamente. Mas você não precisa se preocupar. Afinal, meu companheiro resistiu a todos os tipos de adversidades para se tornar um excelente merca… mmph…!”
Enquanto olhava para Holo com os olhos estreitos, Lawrence colocou a mão sobre sua boca grande.
Depois que ela parou de murmurar, ele percebeu que ela tentava mordê-lo, então ele afastou a mão.
“Talvez você queira ensiná-lo com todo o conhecimento e experiência que adquiriu?” Disse Lawrence.
“Hmm? Você certamente diz as coisas mais estranhas, senhor. Apesar de eu ser uma garota na tenra idade, você está dizendo que seu conhecimento e experiência seriam inferiores aos meus?”
“Urgh—”
Devido à necessidade de esconder sua verdadeira natureza, Lawrence não podia dizer nada para refutar Holo, mas ela podia falar como quisesse.
Col ficou perplexo ao olhar para os dois.
Os olhos vermelhos de Holo pareciam estar sorrindo, mas ela não fez nenhum movimento para recuar.
Embora ela tenha exaltado alegremente a simpatia do garoto, era Lawrence quem estaria em uma posição ruim se fosse forçado a bancar o mentor — embora ele soubesse que um poderia evitar problemas caso aprendesse com outro. O que Col realmente precisava aprender não era onde estavam as armadilhas, mas como procurá-las.
Não era algo fácil de ensinar em um dia. Holo sabia disso muito bem.
E, no entanto, ela estava pressionando para que Lawrence fizesse isso de qualquer maneira.
“Por que você cuidou tão bem de mim, hein?” Holo pegou na ponta da orelha e sussurrou as palavras em seu ouvido. “Foi porque eu era tão adorável? Você é um homem tão superficial?”
“Essa—”
Essa não era a única razão, mas certamente era uma delas.
Se ele se recusasse a emprestar sabedoria e ajuda a Col agora, não teria como refutar a acusação.
O olhar de Holo o perfurou.
“Tudo bem — tudo bem! Agora pare,” disse Lawrence. Se ela continuasse esticando sua orelha, poderia ser perigoso.
Holo finalmente o soltou. “Muito bem. Esse é meu companheiro,” ela disse com um sorriso satisfeito, sacudindo suas orelhas.
Lawrence queria rebater, mas não havia como dizer o nível de raiva que ele teria que lidar se o fizesse. “Então, o garoto em questão realmente quer aprender?”
Ele voltou o olhar para o perplexo Col.
Col, que parecia um filhote, certamente sabia quem era o dono de quem, assim como um cachorro poderia dizer.
Embora ele tenha ficado boquiaberto por um momento com a pergunta repentina, ele era um garoto esperto.
Col endireitou a postura e respirou fundo. “Eu ficaria honrado em receber sua instrução.”
Holo assentiu, satisfeita.
Claro, não era ela que iria ensinar. Lawrence coçou a cabeça e suspirou.
Embora ele gostasse de ensinar, ele não estava confortável com todas as formalidades necessárias.
Mas não podia deixar que isso o impedisse.
Afinal, não foi apenas a bela forma de Holo que o levou a trazê-la junto com ele.
“Acho que não tem outro jeito. Agora você está realmente viajando conosco.”
Assim que Lawrence acabou de falar, o barco balançou levemente. Col ficou vermelho e Holo deu um suspiro exagerado.
Embora Lawrence lamentasse ter dito isso, Holo falou.
“Não precisa se preocupar. É isso que eu amo em você.”