— Três anos.
Debaixo da chuva forte caindo como as lágrimas de um Deus, eu pressiono meu capuz para baixo e ando com pressa.
Três anos.
Foi esse o tempo que passou desde que comecei a morar aqui.
Para uns pode ser curto; para outros, longo.
Mas posso garantir com certeza que esses três anos nunca me deixaram memórias felizes.
— Por Valtherus!!
— Pelo nosso Deus Lactus!
Uma espada afiada cria a morte, e a morte empilha os cadáveres como uma montanha.
E então esses cadáveres são refinados novamente em novas espadas.
Há três anos, eu me tornei um peregrino em um mundo bastante cruel.
Caw Caw~
Shoo~
Sentindo uma presença, o corvo que se alimentava da carne dos cadáveres mexeu as asas e voou para longe.
Os prados verdes estavam manchados de sangue e devastados pelas consequências da guerra.
Um cenário que era implacavelmente sombrio.
Os cadáveres empilhados se tornaram como uma montanha; e as bestas famintas, assim como os humanos que não estavam na melhor, entreolharam-se e se aproveitaram disso.
— Uh, ei. Ei. Olha lá! É um Peregrino.
— É verdade. O rosário da espada pendurado no pescoço e o estigma nas costas da mão… Ele é um verdadeiro Peregrino.
Ao contrário das bestas selvagens que desenterravam cadáveres apenas para encher os estômagos, as figuras das crianças que vieram em busca de saque estavam sendo refletidas naquelas pupilas cinzentas.
— Um Peregrino da Espada…
Ele usava um capuz branco leite, mas seu cabelo preto se destacava bastante. Os olhos cinzentos e afiados que podiam ser vistos pareciam não pertencer a um ser humano comum.
O colar pendurado no pescoço era um rosário.
O estigma de um deus em forma de espada estava no dorso da mão.
Essas pessoas eram frequentemente vistas nos campos de batalha como seguidores de Valtherus.
Peregrinos que vagavam em busca de uma espada ao chamado de Deus, ou melhor…
— Louco por espadas.
Uma criança que estava vasculhando os corpos jogou rapidamente uma pedra, que voou em um arco parabólico e longo, mas só caiu sem força nos pés do Peregrino, visto que fora jogada por uma criança.
— Saia daqui, espadachim!
A fome e a pobreza causadas pela guerra herdam a violência. Os olhares ressentidos daqueles que não tinham escolha a não ser culpar alguém para sobreviver se voltaram para o Peregrino.
Os rostos das crianças estavam franzidos com um ódio notável, mas suas pernas vacilantes foram dominadas pelo medo.
As crianças se encolheram quando foram encaradas por aqueles olhos cinzentos e indiferentes.
— Esta guerra aconteceu por causa de vocês, loucos, que transformaram a princesa em uma espada!!
— Sim, isso mesmo! Saia daqui!
— Tudo isso é culpa sua!
Os peregrinos eram devotos da esgrima, que adoravam apenas espadas e o Deus Valtherus.
Só uma coisa importava para eles.
O poder divino que concede milagres.
— Não temos um corpo para oferecer a alguém como você!!
— Vai para puta que pariu!!
Tirar a alma de um corpo que perdeu o calor e transformar em uma espada; esse é o poder de Deus.
O poder exclusivo fornecido por Valtherus.
Espada Carcaça (주검)– Espada Residente (駐劍); comumente chamada de milagre divino.
Os peregrinos da Espada são sacerdotes que fazem milagres transformando os cadáveres dos mortos em espadas, essa é a essência deles.
— Vocês transformaram pessoas em espadas e foi isso o que aconteceu!
O milagre de Deus é excepcionalmente discriminatório, então o poder da espada é diferente dependendo da origem dela.
Havia muitos peregrinos que secretamente matavam pessoas com grande potencial e as transformavam em espadas. Sempre que um vizinho desaparecia do nada, isso sempre levava alguns a suspeitar que fosse obra de um Peregrino…
Aqueles que tinham ouvido falar da notoriedade dos peregrinos, ou cuja família fora levada assim, naturalmente não gostava das pessoas que realizavam esses milagres divinos.
Em vez disso, eles…
— Demônio!!
(…) eram desprezados e chamados de demônios.
Um seguidor de Deus sendo chamado de demônio, o que poderia ser mais desdenhoso do que isso?
No entanto, esse Peregrino seguiu seu caminho sem responder, como se estivesse há muito acostumado com esses insultos.
As crianças, que estavam olhando para ele como se não fosse humano, voltaram a procurar na montanha de cadáveres.
Foi nesse momento que o som áspero de ferraduras ressoou.
Clop, clop, clop~
— Peregrino dos Deuses que serve o grande Valtherus! Espere um pouco!
O Cavaleiro na vanguarda parou na frente do Peregrino e disse em voz alta.
O Cavaleiro, que percorreu todo o caminho até a frente do Peregrino, nem sequer desceu do cavalo e falou com uma postura digna.
— Ó Filho do grande Valtherus, o senhor que entrou no território de Lutens. Em nome do Lorde das Províncias Ocidentais, Quardal de Lutens, o senhor está convidado para o castelo do Lorde.
O Peregrinou encarou os Cavaleiros.
O nível deles era alto, e estavam orgulhosos o suficiente para perfurar os céus. Talvez tivessem acabado de ganhar a guerra.
Eles se comportaram como se o outro não tivesse escolha a não ser seguir a ordem deles.
Os olhos do Peregrino se estreitaram friamente, franzindo os lábios secos.
— Somente o Deus Valtherus pode bloquear o caminho de um Peregrino. Saiam da minha frente.
Uma rejeição óbvia.
Os Cavaleiros imediatamente desembainharam as espadas como se já esperassem por isso.
Sreung~
— Precisamos de um Peregrino.
— Você não precisa de um Peregrino, mas de um milagre de Deus.
— Isso mesmo. O Lorde quer transformar todos os cadáveres aqui em espadas.
— Você vai começar outra guerra logo depois de toda essa matança? Vocês são malucos.
Tirar a vida de alguém significa também criar um fio de ressentimento.
‘Sangue pede mais sangue.’
Uma nova guerra não causará nada além disso.
O Peregrino balançou a cabeça em desaprovação.
— Sinto muito, mas também estamos desesperados, então não vou aceitar um não.
Uma enorme quantia de dinheiro foi gasta a fim de se preparar para a guerra, e para compensar essa quantia o Lorde estava tentando pegar os peregrinos passando por suas terras, a fim de transformar os cadáveres empilhados como uma montanha em espadas com o milagre de Valtherus!
Era uma ideia viável desde que tivesse peregrinos trabalhando para ele.
— Você estão fazendo algo que merece punição. Não estão com medo da ira de Deus?
— Para nós, o inimigo diante de nossos olhos tem precedência sobre a ira de Deus.
A boca do Peregrino se fechou.
O status do Deus adorado por este Reino no caminho da destruição havia desmoronado há muito tempo.
Olhando para ele em silêncio, o Cavaleiro na vanguarda continuou falando.
— Claro, vamos tratar o senhor com o maior respeito. Com a guerra se aproximando, claro, não será o bastante, mas farei o meu melhor para servir o senhor. Está cansado da longa peregrinação? Não é uma má ideia ruim se estabelecer aqui por um tempo e depois ir embora de novo.
— O poder divino do Peregrino parece infinito? É melhor parar de usar imediatamente.
No momento em que o Peregrino estava prestes a dar outro passo.
Tum~
Taeeng, tang~
Um capacete de ferro caiu da montanha de cadáveres.
— Quem?
— Tem um ladrão?
Os olhos do Cavaleiro, frios como gelo, perfuraram a criança escondida entre os cadáveres.
— Ei!
Ele era a criança que disse as palavras desdenhosas ao Peregrino e agora foi esmagado pelo espírito do Cavaleiro e não conseguiu escapar.
— A recompensa aqui pertence a Lutens. Pague pelo crime de roubar com sua vida.
O Cavaleiro pegou o arco, puxou a corda do arco e disparou uma flecha, que voou através do vento e perfurou o coração da criança.
Os olhos da criança que morreu sem um único grito chegaram ao Peregrino.
Foi uma morte vazia.
No entanto, não havia emoção nos olhos do Peregrino.
Crianças e velhos morrem; é só uma questão de ser mais cedo ou mais tarde.
Justo quando queria desviar o olhar, os olhos do Peregrino mudaram completamente.
O corpo da criança morta brilhava com uma luz prateada que só ele podia reconhecer.
— Peregrino…
O olhar do Cavaleiro que havia disparado a flecha se voltou para o Peregrino novamente, só que não o conseguiu encontrar.
Quando o Cavaleiro procurou por onde havia ido, o Peregrino já havia se aproximado da criança que estava perdendo o calor.
No momento em que os Cavaleiros estavam prestes a se mover.
O homem que parecia ser o líder deles levantou a mão e os bloqueou.
— É um milagre de Deus.
Saaaa~
Grãos de luz prateada fluíram do corpo da criança morta. A luz reunida na ponta dos dedos do Peregrino logo se condensou e formou uma única forma: uma espada de dois gumes.
No entanto, era diferente de uma espada normal, já que a borda da lâmina estava brilhando em um azul deslumbrante.
Os Cavaleiros sabiam que esse era o milagre de Valtherus do qual mostraram uma antecipação com certo ceticismo.
O poder exclusivo que Ele concedeu.
Uma Espada Carcaça!
Os olhos dos Cavaleiros que testemunharam a luz dos milagres ficaram expressivos.
— Se ao menos esse milagre…
Se armar os soldados com Espadas Cadáveres mais fortes que o aço, a vitória na guerra poderia ser garantida, então os olhos dos Cavaleiros foram tingidos pela ganância.
— Peregrino…
No entanto, o Peregrino não respondeu ao chamado deles, porque ainda estava olhando para a espada emitindo uma luz suave.
E quando a luz se dissipou, a boca do Peregrino se abriu.
— Então é um rancor?
O Cavaleiro Capitão franziu as sobrancelhas.
‘Rancor? Do que está falando?’
Ele queria perguntar imediatamente, mas não conseguiu, porque foi então que a figura do Peregrino desapareceu com o som do vento.
Shhh~
— Hã?!
O Cavaleiro Capitão ficou surpreso por um momento.
— Uh…
Seu olhar girou, quando viu seu próprio corpo em cima do cavalo e depois caiu no chão.
— Oh!
— Capitão!
A cabeça do Cavaleiro Capitão foi cortada, e então os gritos dos Cavaleiros e seus cavalos ressoaram com espanto.
— Vinguem o capitão!
— Peguem o Peregrino!
Chaeeng~
A espada do Peregrino foi empunhada.
A Espada Carcaça na sua mão destruiu a espada de um Cavaleiro e rasgou sua armadura de ferro de uma vez.
Havia uma diferença esmagadora entre suas armas.
O Peregrino pensou com ceticismo.
Depois de um tempo.
Drip, drip.
Apenas as gotas de sangue escorrendo pela Espada Carcaça do Peregrino podiam ser ouvidas na planície calma e desolada.
Saaaa.
Uma luz prateada vazou da espada segurada pelo Peregrino. Logo, a forma da espada se espalhou como cinzas e desapareceu.
O Peregrino deixou a espada desaparecendo para trás como se nada tivesse acontecido e continuou caminhando silenciosamente ao longo da estrada.
A luz brilhava por meio do estigma no dorso da mão, que simbolizava seu status de peregrino de Valtherus.
『Rancor de Cente』
『Força +1』
Um sorriso pequeno se espalhou pelos lábios do Peregrino e depois desapareceu.