— Helena de Bolivian.
— O que há com você, Callius?
Ela inclinou a cabeça e perguntou, meio sedutora.
Mas eu sabia que era tudo apenas camuflagem.
Controlar sua aparência e expressão é o básico de ser um comerciante. Para alguém que nasceu em uma família de comerciantes e se tornou uma peregrina, sua vida também não tinha sido fácil.
Mas…
— Por que vocês estão aqui?
A questão era: por que Helena estava no Norte?
— Porque eu fui chamada para o Norte, é claro, huh?
— Você?
— Sim. Não sabia? O próprio Senhor do Norte solicitou pela nossa família.
Elburton fez isso?
— Que estranho.
Entre tantas opções, ele chamou o Grupo Comercial Bolivian e Helena, em particular.
— O que é que te surpreendente tanto? Nosso Grupo Comercial Bolivian paga os melhores preços por cadáveres e subprodutos demoníacos, então o Senhor do Norte nos chamou, não é isso?
— Se você diz…
‘Entendo. Ainda não estou familiarizado com o panorama político do reino.’
Eu já sabia que a família Bolivian tinha um futuro promissor como comerciantes, mas não esperava que eles já tivessem uma reputação tão alta.
— Sim. Quem seria louco o suficiente para vir aqui nesse frio nortenho se não fosse por isso.
O nariz e as bochechas de Helena estavam manchados de vermelho, como se não estivesse acostumada com o frio.
Atrás dela estava um homem de aparência franca que parecia ter a idade dela, mas, a julgar pela sua roupa, ele parecia ser um servo da família.
Ele tinha uma espada na cintura, e seu jeito de olhar era bastante irritante.
— Callius. É assim que trata seus hóspedes no Norte? Deixando a gente aqui fora no frio?
— Era você quem estava me esperando aqui.
— Porque já faz alguns dias desde que você voltou, mas não vi sua pele nem seu cabelo!
— Por que você está brava?
— Quem está brava? Não seja ridículo…
Mas que merda! Vendo Helena caminhando até o castelo, fungando, Bruns sussurrou.
— Essa vadia atrevida. Como ela se atreve a agir com tanto desrespeito.
— Bruns.
— Sim! Mestre. Devo ir cuidar dela agora? Você sabe, uma vez nos becos de Tristar, acabei fazendo um casal se mijar com apenas minhas palavras…
— Cale essa sua boca vulgar.
Bruns fez uma cara triste quase de imediato.
— Você não pode fazer nada, de todo modo.
Helena não era apenas uma filha de uma família mercante. Ela era alguém que já havia terminado sua peregrinação.
Ela, que completou sua peregrinação transformando o rosário em uma bainha, é chamada de paladina.
— Você viu aquelas espadas gêmeas nas costas dela?
— Sim, o que tem?
— O rosário de um peregrino se torna uma bainha quando eles completam sua peregrinação. Até eu hesitaria em lutar com uma paladina assim.
Talvez bastante surpreso com a minha resposta, Bruns perguntou com os olhos arregalados.
— Mestre, você está dizendo que ela é forte o suficiente para que nem você queira lutar com ela?
Não dei uma resposta a ele.
Ela era realmente forte.
Um rosário transformando em uma bainha significa que já se tornou uma com a espada.
Não adianta lutar contra um paladino que se tornou um com sua espada e que já assimilou suas habilidades únicas, sem motivo.
‘Se eu colocar a Espada Relâmpago no rosário, por exemplo.’
Eu ganharia a habilidade única da Espada Relâmpago.
E seria capaz de lançar raios de todo o meu corpo sem ter que desembainhar minha espada.
A energia divina contida no rosário, e o sangue e a alma do espadachim, tornariam isso possível.
União do corpo e da espada (身劍合一).
Significa misturar a alma desperta da espada e sua própria alma em uma só.
‘Então, você pode usar livremente o poder da espada como se fosse seu.’
Claro, a Espada Relâmpago seria inútil como exemplo, porque é uma espada demoníaca que já tem uma bainha.
Visto que já tem uma alma misturada.
O mesmo vale para a Espada Predadora e a Espada Forte. A Espada do Julgamento era uma opção, mas não havia necessidade.
A Espada Tirana por outro lado…
‘Se eu fizer uma bainha da Espada Tirana…’
Eu teria a capacidade de manipular livremente a gravidade e seria significativamente mais forte.
Mas um rosário dura uma vida toda.
Não pode ter uma segunda vez, porque é criado a custo de sua própria alma.
‘A Espada Relâmpago seria definitivamente uma boa escolha, mas…’
Era uma oportunidade única na vida.
Não queria desperdiçar essa oportunidade com uma espada espiritual.
Não deveria ser pelo menos uma espada da visão?
Qualquer outra espada seria simplesmente um desperdício de uma oportunidade tão rara.
— Mestre, você conhece a habilidade da espada dela por acaso?
As espadas de Helena eram um par, então não era fácil de esquecer.
Sua habilidade única… também era igualmente rara.
Categorizadas como um atributo…
— Cobras e Sombras.
Em um refeitório dentro da cidadela.
Elburton e Helena estavam jantando juntos, discutindo o comércio entre os Jervain e os Bolivian.
E eu fui arrastado junto.
— Eu não sabia que vocês dois se conheciam.
— Tivemos um relacionamento leve. Quando ele estava começando sua peregrinação. O Senhor Deus havia colocado uma série de provações no caminho dele.
Provações, uma ova. É isso que você chama de pessoas correndo aos montes, espumando pela boca, querendo te matar?
— Aqueles desgraçados simplesmente não sabiam seu lugar.
— Ainda assim, se não fosse pela minha ajuda na época, Mestre Callius estaria em apuros.
O que ela disse não era mentira.
Morrer teria sido um golpe de sorte.
Poderia ter sido pego e preso por uma daquelas vadias malucas.
— Então você é a benfeitora do meu filho.
— Não, não. Foi tudo vontade de Deus. Dizem que as bênçãos de Deus só vêm se você não desperdiçar seu fôlego pedindo por isso. Callius. Sua boa sorte de me conhecer não é simplesmente o resultado de todo o seu trabalho árduo e esforço incansável?
Que chamativo.
No final, são apenas palavras vazias, falando como um amuleto da sorte.
Contudo.
Mesmo sabendo disso, Elburton de alguma forma não sentiu repulsa. Seus olhos estavam cheios de interesse.
— Lady Helena. Você tem um noivo?
— Quê?
Esse velho cavalheiro louco.
Você está tentando comprá-la e então colocar uma coleira nela?
— Não, mas…
— Entendo. Perguntei porque um jovem e uma mulher naturalmente se completam. Fico feliz.
— Como assim?
Ele pousou os talheres na mesa e continuou, como se suas palavras fossem completamente naturais.
— Callius. Agora você também tem vinte e seis anos. O Senhor do Norte também deve considerar herdeiros. Claro, ainda não é tarde demais.
Você estava falando de mim e não de si mesmo? Eu tinha entendido errado…
— Onde eu encontraria uma jovem disposta a lidar com um cara como eu?
O maior tolo do reino, o filho pródigo da Ordem.
Esse era o filho mais velho dos Jervain.
Quem vai considerar seriamente tal partido?
— Callius. Seu sobrenome é Jervain. Se você se decidir e procurar por parceiras de casamento, não é impossível.
Ele não estava errado.
Uma das quatro nobres famílias fundadoras de Carpe.
As quatro famílias nobres não são a personificação da aristocracia, com a graça de Deus em seus corpos?
Entre eles, o Escudo de Carpe, permanecendo inquebrável por quase um milênio firmemente protegendo às terras do norte…
Os Jervain são os pilares de Carpe.
Não devem faltar mulheres jovens que se casariam por motivos políticos.
Uma palavra silenciosa de Elburton, e os nobres, sem dúvida, fariam fila para me vender suas filhas.
A posição dos Jervain era tão alta assim.
No entanto.
— Não vou fazer isso.
Mas casar com essas mulheres?
Besteira.
Estou tão ocupado tentando salvar minha própria vida, e um casamento além disso?
Não posso me dar ao luxo.
— Entendo. Se já tem uma mulher no seu coração, você pode esperar um pouco.
— Essa mulher não existe.
E de fato não havia.
Além disso, já tenho a Emily.
Eu não quero complicar as coisas, e… Não quero fazê-la se preocupar com nada.
Não quero mostrar mais do meu lado feio para uma criança que não pode nem chamar o pai dela de “pai”.
— Eu ouvi você, Lady Helena. Você disse que salvou a vida de Callius.
— Sim? Hã, isso foi apenas uma coincidência…
— É comum um homem se apaixonar pela mulher que salvou sua vida.
Uma veia apareceu na testa do Callius.
Esse era o tipo de conversa que faz você entender por que Callius se tornou um bastardo.
Quase esmaguei a mesa, mas…
‘Uau.’
Paralelamente aos meus pensamentos, minhas mãos já haviam virado a mesa.
A mesa já estava rodopiando no ar com pratos e comida voando.
Kadadang!
Ah… Acontece que não consegui me controlar.
— Droga!
Quando a mesa bateu contra a parede com uma rachadura, os cavaleiros e servos ao redor saltaram de espanto.
Pessoas piscando com olhos arregalados, perplexas.
Estou me sentindo tão perplexo quanto eles.
Mas ainda pude manter minha compostura.
Limpei meus lábios com um guardanapo.
Então me levantei e o joguei fora.
— O que você acha que está fazendo na frente da nossa hóspede!
Eu já fiz isso, no entanto.
De alguma forma, fiquei com raiva sem perceber.
Então, é melhor apenas colocar para fora o que eu tenho em meus pensamentos.
— Eu já te dei uma neta maravilhosa chamada Emily. Não há necessidade de pensar em me casar.
— …!
Elburton provavelmente não sabia que eu já sabia sobre Emily.
— Pare de tratar sua própria neta como uma estranha. Chega. Não faça uma criança guardar esse tipo de segredo.
Depois de toda a comoção diminuir.
Os rumores pareciam ter se espalhado por todo o Castelo Jevariano.
Espalharam-se bem rápido.
— Sério? Não é de admirar. O Mestre Callius a ama tanto.
— Certamente. Muitas vezes vejo o Mestre Callius treinando a Senhorita Emily. Mas pensar que ela era filha dele…
Os dois conversando eram Allen e Aaron, é claro.
— Pensando bem, eles são parecidos. Como ela se assemelha à aparência do Mestre Callius, a Senhorita Emily também parece muito nobre.
— Eu realmente não sabia disso. Fiquei em choque.
Desta vez eram Jack e Orphin.
E o resto dos cavaleiros também.
O fato de que o pai biológico de Emily era na verdade Callius se espalhou como fogo.
— Ficou sabendo?
— Sim. Os servos dos Jervain ficaram de bicos calados, no entanto.
— E daí? Quem é essa Emily?
Helena e Alfredo entraram no quintal do castelo.
Havia uma criança lutando sozinha com os cavaleiros dos Jervain.
Olhos cinzentos, o símbolo dos Jervain.
E cabelo preto e curto.
— Aquela garota é a filha de Callius? Ela não é muito grande? Deve ter cerca de quatorze anos.
— Dizem que ela tem doze anos.
— O quê!? Doze anos. Doze anos, e ela está lutando com os cavaleiros? E está lutando muito bem, também…
Ela tinha um nível decente de habilidade.
Não era uma esgrima de uma criança de 12 anos, porque era prática. Podia ainda ter alguns movimentos desnecessários, mas seus cortes eram limpos.
Não apenas sua esgrima não combinava com sua idade, mas seu próprio corpo havia crescido muito para ser chamada de criança.
— Emily von Jervain uma criança que apareceu do nada há cerca de dez anos. Dizem que ela foi abandonada em frente aos portões do castelo.
Crianças abandonadas eram comuns nos dias de hoje.
Mas e se os olhos da criança forem cinzentos?
Os habitantes do Norte não eram ignorantes o suficiente para evitar olhar um bebê chorando com aqueles olhos.
— Eu pensei que de alguma forma um filho ilegítimo do chefe da família tinha aparecido, mas olhando para as várias histórias, parece que não é o caso.
— Ela é realmente filha de Callius?
— Não tenho certeza, mas não é possível? Foi ele mesmo quem disse.
Mais do que qualquer outra pessoa, ele quem disse.
Tinha de ser verdade.
— Huh… bem. A palavra pródigo não era à toa. Quem é a mãe?
— Bem. Não tenho certeza.
Porque tinha um monte de garotas que poderiam ser.
— Mas é realmente dele? Callius tem uma irmã mais nova. Poderia ser a filha dessa pessoa?
Sabia-se que a irmã mais nova de Callius tinha partido para a Igreja há muito tempo e nunca mais voltou.
— Não é que eu não tenha pensado nisso, mas ela é muito jovem para se envolver em um incidente com mais de uma década.
A irmã mais nova do Callius…
Violet tinha uma grande diferença de idade com o irmão, então era uma história impossível.
— Eles dizem que a criança chamada Emily originalmente tinha um bloqueio no sangue divino.
— Sério?
— Mas de alguma forma foi curado, e ela de repente ganhou destaque durante a guerra.
E por trás disso…
— Eles dizem que foi o Mestre Callius quem fez isso.
— É incrível, sério.
— Esta informação é bastante valiosa.
— Eu sei.
Mas era muito surpreendente.
— Ele mudou depois de ter uma filha? Nunca imaginei que ele seria tão sensível à menção de casamento.
Para uma família como os Jervain, alguns bastardos não são nem um pouco dignos de nota.
Mas, pelo bem de sua filha, Callius ficou bastante zangado.
— Que situação inesperada.
— Está interessada?
— Nah. Ele é bonito e um pedaço de mal caminho, mas não é um bom partido para casamento.
— Devido a esta guerra, a reputação do Mestre Callius se espalhou pelo Norte. Ele não está sendo chamado de herói sem motivo. E não é ruim como um parceiro de casamento, porque a sucessão de título já está em andamento. Se você se casar com o Mestre Callius, vai se tornar a Dama do Norte.
A Dama do Norte.
Até mesmo para Helena, esse título tinha uma atração fatal.