Capítulo 27
Julie
Julie e Ryu Min foram até um parque próximo, seu local de escolha.
— Vamos sentar aqui — disse Julie, gesticulando para um banco próximo.
Sem perder tempo, ela entregou o envelope para Ryu Min, pegando-o desprevenido.
— Não posso aceitar isso — disse ela.
— Mas esse é o dinheiro que dei para o chefe — retrucou Ryu Min.
— Não podemos aceitar tanto dinheiro, pegue de volta. — Julie insistiu.
Para ela, dez milhões de won eram uma quantidade grande demais, entretanto, para Ryu Min, que possuía bilhões, era apenas troco de bala.
“Com certeza é um valor significativo para eles. Bem, eu já havia antecipado isso.” Ryu Min pensou consigo mesmo.
“Ela é o tipo de pessoa que não aceita ficar devendo para ninguém, não importa a situação.”
De personalidade, preferências e até mesmo comidas favoritas, Ryu Min tinha orgulho de possuir um bom entendimento sobre Julie.
Ele havia gasto muito tempo coletando informações para conseguir se aproximar.
Além disso, Ryu Min acreditava que poderia trazer Julie para o seu lado.
— Pega logo, meu braço dói. — Insistiu Julie, balançando o envelope.
No entanto, Ryu Min não tinha a intenção de aceitar.
“Se eu pegar esse envelope, minha relação com ela chegará ao fim, preciso encontrar uma conexão entre nossas vidas usando a loteria como desculpa.”
Com uma expressão determinada, ele balançou a cabeça.
— Não vou aceitar.
— O quê? — Julie recuou com a resposta.
— Eu já disse para o chefe, mas este dinheiro foi dado por um senso de culpa. Isso é o mínimo para que minha consciência fique limpa. — Explicou Ryu Min.
— Mas é muito dinheiro…
— Não importa quanto seja, espero que o chefe aceite. De outra forma, continuarei me sentindo culpado. — Declarou Ryu Min.
Mesmo que falasse essas palavras, Ryu Min não se sentia culpado.
Afinal de contas, quando a próxima rodada terminar, haverão diversos perdedores, o que vai abalar a economia.
“No fim, o mercado de loterias iria cair em alguns meses.”
Ele apenas acelerou o processo ao monopolizar o dinheiro.
Não seria errado dizer que usar informações do futuro não é algo ético, então não é como se ele estivesse retirando sua culpa.
— De qualquer modo, o dano foi causado por minhas ações, e esta é a compensação.
É por isso que ele insistiu em oferecer dez milhões, mesmo que Julie continue recusando.
— Considere isso como um pagamento para vocês. Por favor, aceite
— Mas é demais! É problemático. — Julie persistiu.
— Esse dinheiro foi separado para este propósito, independente do valor. — Ryu Min riu internamente, mas sua expressão permaneceu estóica.
Para receber a ajuda de Julie, ele não tinha escolha senão fazê-la dever algo para ele.
— Por favor, entregue esta mensagem para o chefe. Deixe-o sabendo que me sinto culpado, e que não é um valor significativo para mim.
Julie sentiu-se derrotada depois que Ryu Min recusou sua oferta.
— É assim que você realmente é? Por que é tão teimoso…? — Julie parou e suspirou.
— Se terminamos aqui, posso ir? — Ryu Min levantou-se, surpreendendo Julie.
— Espera um pouco! Sendo assim, já que dez milhões é muito dinheiro, vou aceitar apenas um milhão. Que tal?
— Por que está decidindo? Você deveria falar com o chefe — questionou Ryu Min.
— Meu pai não aceitaria receber tanto dinheiro assim.
— Pai? — Ryu Min fez uma expressão surpresa, pego com a guarda baixa.
— Então o dono da loja é seu pai?
— Sim.
— Uau… visito o local com muita frequência, então é bem memorável.
— Também é incrível para mim. E pensar que o grande vencedor da loteria é meu colega de classe…
— Um colega de classe…
Eles não se falavam, mas eram colegas de classe.
Considerá-los bons amigos era difícil.
— Você não tinha mesmo ideia de que estávamos na mesma turma? Percebi isso no momento que te vi na loja de conveniência. — Julie exclamou.
— Foi mal. Sou realmente terrível lembrando de rostos. Além disso, essa é nossa primeira conversa. — Ryu Min desculpou-se.
— Entendo…
Mesmo que tenham sido colegas de classe por um ano inteiro, eles nunca tiveram a oportunidade de conversar.
Com a diferença de gênero e a natureza tímida de ambos, era difícil se aproximarem.
É claro, o Ryu Min daquela época e o Ryu Min de agora são pessoas totalmente diferentes.
Ele parecia uma pessoa totalmente diferente.
Para Julie, que estava tendo sua primeira conversa genuína com ele, era difícil de notar.
— Então isso quer dizer que você também aprendeu meu nome hoje? — Julie questionou.
— Foi mal, mas sim. — Ryu Min admitiu.
— …
Os lábios de Julie abriram, chocada com a revelação.
Ela não tinha antecipado que Ryu Min não soubesse seu nome.
— Não consigo acreditar que você não sabia meu nome. É meio triste, mas não vou desistir. — Disse julie, e seus olhos queimaram em determinação.
Ela pareceu restabelecer sua autoestima ao invés de manter um olhar de desapontamento.
— Como mencionei antes, meu nome é Julie. Nós somos colegas de classe e, como pode ver, é assim que me pareço… Consegue lembrar disso?
— Uh…
— Não me responda. Olhe de perto e faça questão de lembrar. — Julie insistiu, estendendo sua cabeça como se estivesse forçando-o a cravar o rosto dela em sua mente.
O olhar resoluto de Julie fez Ryu Min piscar em confusão.
“…”
— Phew… agora que percebi, o que estou fazendo? A graduação está quase chegando, e aqui estou eu falando sobre conhecer um colega de classe… parece tão estranho. — Julie suspirou.
— Bem, pelo menos agora eu sei. Não é como se não pudéssemos continuar nos falando depois da graduação. — Ryu Min comentou.
Os olhos de Julie mudaram subitamente com essas palavras, mas Ryu Min fingiu que não percebeu a mudança.
— Então, pode me passar o seu número? — Ryu Min questionou.
— M-meu número?
Julie recuou, e Ryu Min demonstrou uma expressão confusa.
— O que foi? Não é comum colegas de classe trocarem contato? — Ryu Min comentou.
— C-certo. Vou colocá-lo. Me dê seu celular.
Assim que Ryu Min entregou o telefone, ela rapidamente colocou seu número.
Em um instante, o telefone de Julie vibrou com uma ligação.
— É meu número, pode salvar — instruiu Ryu Min.
— Ah, ok.
— Já que nos encontramos assim, vamos continuar nos falando.
— C-claro…
— Bem, vou sair primeiro. Tenho algumas coisas para fazer.
— Espera, o envelope…
Ryu Min despediu-se e partiu sem pensar duas vezes.
Julie permaneceu ali, olhando para a figura de Ryu Min desaparecendo à distância.
Badum, badum, badum…
O coração dela bateu como se estivesse à beira de parar.
— Pedir meu número do nada…
O coração dela acelerou ainda mais, deixando-a em um estado de frustração e confusão.
Em uma relação entre amigos, é claro, seria comum aceitar isso.
— Mas ele não me vê como amiga…
Julie nunca se confessou para ninguém, mas ela tinha sentimentos por Ryu Min.
Inicialmente, quando ela o viu pela primeira vez, não se interessou muito.
Ele parecia quieto, e alguém que se mesclava ao ambiente sem chamar muita atenção.
Mas então, o destino interveio, e ela viu uma cena inesperada.
Ryu Min sendo maltratado pela gangue de Hwang Yongmin em uma rua próxima.
“Naquele momento, não consegui juntar coragem para impedir e chamei a polícia… Ele ainda não deve saber que fui eu.”
E provavelmente nunca vai saber.
Ela ficou parada, observando até a polícia chegar e lidar com a situação, sem conseguir intervir.
Desde então, Julie observou Ryu Min secretamente.
“Imagino o que passava pela minha cabeça na época…”
Foi por empatia?
Ou talvez por um senso de dever como aquela que reportou?
“Parando pra pensar, foram as duas coisas.”
As intenções de Julie eram duas: assegurar que Ryu Min chegasse em sua casa seguro e reportar novamente caso a gangue apareça novamente.
Mas algo inesperado aconteceu.
Ryu Min entrou em um pequeno açougue em uma rua, trocando suas roupas.
Ao observá-lo trabalhar lá, ela percebeu uma coisa.
“Ele é forte, muito mais do que os olhos podem ver.”
Apesar de parecer frágil no exterior, sua força interior superava as expectativas de muitos.
“Foi quando meu interesse no Ryu Min começou.”
Durante os intervalos, ela discretamente observava o que Ryu Min fazia e, às vezes, o seguia em seu caminho para casa.
Neste processo, ela descobriu que ele tinha um irmão mais novo, e presenciou um lado de Ryu Min que nunca havia visto antes.
“Eles tem uma boa relação…”
Observando como Ryu Min se importava com seu irmão mais novo fez com que o interesse de Julie crescesse ainda mais.
Um apreço foi criado.
Apesar de seguí-lo, encontrar aquela gangue múltiplas outras vezes e até mesmo denunciar para a polícia novamente, Julie não conseguia criar coragem para falar com ele.
“Me faltou coragem…”
Ela poderia apenas observar de longe e ajudá-lo quando necessário.
Se ela tivesse a bravura de falar com ele antes.
“Mas é tarde demais agora. Meus sentimentos por ele cresceram demais para ignorar…”
Um interesse por coincidência acabou se tornando em uma afeição genuína.
Observar a força de vontade de Ryu Min fez com que uma admiração muito grande fosse criada.
Mas a falta de coragem preveniu que ela iniciasse uma conversa.
“Ainda assim, queria falar com ele antes da graduação…”
Talvez seja por estar na presença de alguém que gostasse, mas as coisas nunca foram como planejado.
Estar ocupada ajudando seu pai e trabalhando na loja de conveniência não deixou oportunidade para que se aproximasse dele.
“Não esperava o encontrar por aqui.”
Ela nunca teria imaginado que iria se encontrar com o rapaz pelo qual secretamente se apaixonou na loja de conveniência.
E ela com certeza nunca antecipou ele tomar a iniciativa de pedir seu número.
“Foi surpreendente. Não esperava que ele fosse tão assertivo sobre nossa amizade…”
Sua impulsividade não a enganou.
Apesar de sua aparência frágil, a personalidade dele não era nada tímida.
E haviam ainda mais surpresas.
“Não consigo acreditar que ele nem sabia meu nome…”
Mesmo que não tenhamos muitas oportunidades de conversarmos como amigos, não saber o nome de uma colega de classe já é demais.
Será que é falta de interesse?
Subitamente, o orgulho de Julie foi ferido.
“Ele não conseguia nem lembrar do meu rosto, não é? Terei certeza de deixar minha marca.”
Sob o pretexto de uma amizade, ela iria gravar seu rosto na mente de Ryu Min.
Para ter certeza de que ele não se esqueceria dela.
Ela manterá contato, fazendo questão de manter sua presença na mente de Ryu Min.
Para ter certeza de que ele não esqueceria seu nome ou rosto.
“Agora é hora de juntar minha coragem e me esforçar mais. Essa é uma oportunidade que me foi dada pelo destino.”
No passado, ela perdeu a chance por falta de coragem, mas não dessa vez.
Ela não poderia deixar passar a chance de ficar mais próxima daquele que ela tanto admirou, Ryu Min.
“Estou curiosa. Como ele passou as férias? Ele ainda está sendo assediado por aquela gangue? Será que é fácil pra ele caçar goblins? Qual o nível dele?”
É uma pena que não tenham tido a oportunidade de conversar antes, mas isso vai mudar agora.
O número de Ryu Min estava salvo no celular de Julie.
“Ele não pode fingir que não me conhece, principalmente depois disso.”
Mesmo que ela queira devolver o dinheiro, já que ele não vai aceitar, decidiu se considerar em dívida.
“Dessa forma, posso usar os dez milhões de won como desculpa para continuar em contato com ele.”
Um sorriso alegre apareceu no rosto de Julie.
[Julie: Já comeu alguma coisa? Tenho algo a te contar, podemos nos encontrar às 1 da tarde? Vou te pagar um lanche!]
[Ryu Min: Claro, vamos nos encontrar. Pode deixar que eu pago.]
[Julie: Não, não. Eu insisto, hehe.]
[Ryu Min: Eu tenho dinheiro. Haha.]
[Julie: Isso não é algo que você deva tirar vantagem. O que vai querer?]
[Ryu Min: Eu? O que você vai querer?]
[Julie: Estou bem com qualquer coisa, então escolha algo que gosta.]
Ryu Min sorriu enquanto trocava mensagens com Julie.
— Como esperado, ela está pensando nisso como uma dívida.
Era um bom sinal.
Ao continuar interagindo com Julie dessa maneira e construindo uma relação naturalmente, ela poderia se tornar uma aliada.
— No passado, não prestei atenção suficiente nela, mas não dessa vez. Vou encontrar uma forma de salvá-la, não importa o que aconteça.
Até a vigésima rodada.
— Já está na hora.
Verificando o relógio, Ryu Min colocou suas roupas casuais.
Seu irmão mais novo perguntou: — Para onde vai, Hyung?
— Encontrar um amigo.
— Por acaso é uma garota?
— Descubra.
Ryu Min sorriu com a expressão de seu irmão mais novo.
— Vou comer fora, então pode comer sozinho. Ainda está com o cartão que te dei, não é?
— Ah, sim.
— Certo, então estou indo.
Conforme Ryu Min se retirava, Ryu Won sussurrou na entrada.
— Poderia ser… um potencial interesse amoroso?
