Capítulo 68
Armadilha
O florete afiado encontrou seu alvo com precisão, perfurando a garganta do pesado orc.
Em movimento, eles eram presas ardilosas, mas um orc, sem membros e mancando, era um alvo fácil. Julie não pôde deixar de admirar a eficiência de um jogador de alto nível. — Eu nunca imaginei que a caça pudesse ser tão simples — ela pensou em voz alta, sua voz gentil rompendo o silêncio misterioso do campo de batalha repleto de corpos sem vida.
Se um orc tivesse testemunhado isso, poderia ter engasgado com a descrença, literalmente.
Ryu Min perguntou: — Quantos derrotamos até agora?
— 52 em apenas 30 minutos — foi a resposta de Julie, com a voz cheia de orgulho. — Isso é impressionantemente rápido, não é?
Ryu Min optou por não responder, pois pelos seus próprios padrões, era apenas eficiente, não excepcional. Afinal, ele costumava derrubar impressionantes 300 em uma hora – um feito que agora se tornou natural para ele.
‘No entanto, o tempo que gastei vagando foi muito longo’, ele pensou.
‘A população de monstros daqui está longe de ser abundante.’
O ato de matá-los era quase fácil demais. O verdadeiro desafio estava na própria caça.
‘Mas é arriscado ir longe demais, especialmente com Julie ao meu lado’, pensou ele.
Imagine ser subitamente cercado por 50 deles. Sozinho, poderia ser tranquilo, mas com Julie ao seu lado, protegê-la completamente não era garantido.
‘Parece que devo ir até o Orc Xamã. Dessa forma, posso agilizar o processo de localização de orcs.’
O Orc Xamã possuía a habilidade de convocar seus irmãos. Ao usar este recurso, Ryu Min poderia deixar de fazer a laboriosa tarefa de rastrear orcs.
‘Além disso, o caminho para o covil do xamã está no nosso caminho. Se seguirmos o plano, vamos fazer bons progressos.’
Eles poderiam derrotar alguns orcs ao longo do caminho, enquanto se aproximavam do domínio do chefe.
Julie sorriu abertamente, nem mesmo sabendo que estavam indo em direção a um chefe.
— Nesse ritmo, vamos chegar a 300 em 3 horas.
— 3 horas é muito demorado. Vamos tentar em menos de 1 hora.
Perplexo, Julie perguntou: — Hm? Só 1 hora?
Preocupada com a possibilidade de ter ouvido mal, ela perguntou para confirmar, e recebeu a mesma resposta.
— Pretendo completar a missão em menos de uma hora.
— Sério? Como?
— Usando o Orc Xamã.
Julie, perplexa, perguntou: — O que é isso?
Ryu Min revelou sua estratégia: utilizar o Orc Xamã para convocar orcs e atingir a marca de 300 sem eliminar o xamã. Essencialmente, uma tática para maximizar os ganhos mantendo o xamã vivo.
— Mas como sabia sobre o Orc Xamã? Você nunca o encontrou antes, certo?
Sem perder o ritmo, Ryu Min inventou uma mentira perfeita. — Eu o encontrei brevemente antes de te encontrar, e é assim que sei da localização dele.
— Ah…
— Não se preocupe. Vou protegê-la contra todas as possíveis ameaças.
A surpresa inicial de Julie deu lugar a um sorriso caloroso. — Surpreendentemente atencioso — ela comentou. Talvez, como diz o ditado: “Você só conhece alguém de verdade quando fala com ele.”
— Chegamos.
A dupla chegou a uma vila adornada com modestas cabanas de madeira. Não era grande e não havia sentinelas orcs à vista.
— Um chefe nesta vila pequena? — Julie expressou seu espanto, pois a aldeia não tinha mais que cinco cabanas.
No entanto, as aparências enganam. Ryu Min sabia que esta era uma armadilha preparada para atrair jogadores desavisados. — Entrar pode parecer fácil, mas os jogadores que o subestimam muitas vezes são vítimas dos orcs convocados pelo Orc Xamã.
Um cenário semelhante se desenrolou na regressão anterior. Enquanto circulava atrás da vila, ele descobriu uma montanha de cadáveres de jogadores escondidos pelo astuto Orc Xamã. Era uma prova de sua inteligência e malevolência.
‘Mas, basicamente, significa que é covarde. Ele não tem coragem de entrar em combate aberto. Sem sua invocação de orcs, ele é um fracote.’
Portanto, embora Ryu Min pudesse facilmente eliminar o Orc Xamã, ele pretendia mantê-lo vivo, pelo menos por enquanto, para ajudar em seus esforços de caça.
— Por aqui.
Enquanto Ryu Min assumia a liderança, Julie o seguia.
‘Como é que não consigo ver os orcs?’
Ela olhou em volta, mas não conseguiu ver um único orc.
Mas isso era normal.
Porque orcs não viviam ali.
‘Apenas o Orc Xamã mora aqui.’
Depois de passar por três ou quatro casas de palha, encontraram uma grande casa de palha diferente de antes.
— Dentro deste lugar o Orc Xamã se esconde, criando armadilhas silenciosamente, esperando nossa entrada — explicou Ryu Min.
— Orcs armam armadilhas? — Julie perguntou.
— Sim. Como chefe, ele possui certa inteligência. Essas cabanas aparentemente inofensivas aqui são apenas disfarces, projetadas para atrair jogadores. Na realidade, esta vila não abriga ninguém além do Orc Xamã.
— Aha… Não admira que esteja estranhamente silencioso.
— No final das contas, essa vila inteira é uma armadilha, meticulosamente preparada para capturar e matar jogadores.
— Então, caímos na armadilha?
Ryu Min acenou com a cabeça afirmativamente.
— Pelo menos aos olhos do Orc Xamã.
— Você tem um plano? — Julie perguntou.
— Sim, podemos virar a armadilha contra ele.
— Se for uma armadilha…
— A armadilha é simples. Jogadores inexperientes que entrarem na casa irão acionar as armadilhas. Nesse instante, o Orc Xamã que está esperando invoca orcs para derrotar os jogadores. Cerca de 10 a 20 orcs são invocados e, quando ficam cercados, não tem como escapar.
Ryu Min, é claro, estava confiante de que poderia lidar com qualquer número de orcs.
— Mas nosso objetivo agora não é matá-lo; é mantê-los quase vivos…
— Mas se todos saírem simultaneamente, pode ser problemático.
— Isso é verdade. Mas há uma solução.
Ryu Min detalhou seu plano para atrair os orcs.
Os olhos de Julie se arregalaram enquanto ela ouvia.
— Então, realmente pode ser tão simples assim?
— Sim.
— Você acha que o Orc Xamã vai cair nessa?
— Não tenha medo; o plano já foi testado.
Com dúvida nos olhos, Julie parecia ter se decidido e acenou com a cabeça.
— Vou cuidar da primeira parte do plano.
— Quer fazer isso sozinha?
— Sim. Não há necessidade de nós dois ficarmos presos, certo? Fazer com que nós dois agimos como filhotes indefesos esperando para serem comidos é suspeito, e…
— Você está confiante de que não vai cometer um erro?
— Claro. Eu entendi o plano e deveria ser capaz de lidar com isso, certo? Posso pelo menos tentar ajudar.
Quando Julie se ofereceu para assumir a tarefa, Ryu Min não se opôs mais.
— Tudo bem. Vou esperar lá fora.
Com uma expressão determinada, mas um tanto nervosa, Julie abriu a porta da cabana.
Creak…
Ela cautelosamente entrou sozinha.
Não havia sinal de ninguém lá dentro, nenhuma indicação de qualquer presença.
Creak… Creak…
A cada passo no caminho barulhento, ela entrava em uma área espaçosa.
Vinte orcs caberiam facilmente neste espaço.
‘Este deve ser o ponto de armadilha que o Ceifador Negro mencionou…’
O que era peculiar era o tapete vermelho fora do lugar.
Julie engoliu em seco nervosamente ao relembrar o plano que ouvira momentos atrás.
***
— Lá dentro tem um Orc Xamã escondido. Ele só está focado no som da porta se abrindo e nos passos, esperando que os humanos entrem.
— Podemos usar isso a nosso favor, enganá-lo e encurralar os orcs. O método é simples. Se você avançar um pouco mais, chegará a uma área com tapete vermelho. Esse é o ponto de armadilha que o Orc Xamã preparou. No momento em que pisar nele, ele invoca orcs para bloquear sua fuga. Cerca de 10 a 20 orcs serão convocados e, quando eles o cercarem, não há saída. Você vai só até o tapete e tem que sair imediatamente da sala. Depois disso, os orcs vão pensar que perderam a presa e vão enviar alguns batedores para nos atrair de volta. Tudo o que precisamos fazer é capturar esses batedores.
— Isso parece bastante simples. Vou tentar.
Julie chegou ao tapete vermelho e relembrou nervosamente o plano.
Creak…
Fazendo um barulho para sinalizar sua presença, ela rapidamente se virou sem olhar para trás e saiu da sala.
— Ufa. Não é grande coisa, mas está me deixando nervosa sem motivo.
Enquanto recuperava o fôlego, de repente ela olhou para cima e viu Ryu Min olhando casualmente para a porta.
— Você está bem?
— Haha… sim.
Ver seu comportamento inabalável a fez se sentir estranhamente aliviada.
— Como foi?
— Segui o plano e cheguei ao tapete vermelho.
— Bom, isso é o suficiente.
— Eles realmente vão enviar batedores atrás de nós?
— Descobriremos se esperarmos.
Os dois se pressionaram contra a lateral da cabana, esperando a porta se abrir.
Um momento depois…
Creak…
A porta se abriu e seis orcs surgiram.
Eles receberam novas ordens para atrair os humanos que fugiram, e os orcs correram, seguindo as instruções diligentemente.
Naquele exato momento, Ryu Min deu um passo à frente, empunhando sua foice com propósito.
— Por que estão tão empenhados na procura? — ele perguntou.
— Chwiik!?
— Bem aqui — Ryu Min afirmou calmamente.
Com um movimento rápido e brutal, os membros de um orc caíram, o som sombrio de sua queda enchendo o ar.
Antes que os orcs restantes pudessem levantar os machados da cintura, suas mãos e pés foram cortados rapidamente.
Thud, thud, thud!
Os seis orcs desmoronaram como uma pilha de blocos de brinquedo derrubados.
Ryu Min, como se seu papel estivesse cumprido, recuou.
Agora era a vez de Julie, seu florete encerrando graciosamente a vida dos orcs.
Essas criaturas invocadas forneciam pontos de experiência e ouro, assim como os orcs reais, apesar de suas origens não naturais.
— Ufa, está feito — Julie suspirou de alívio.
— Então, vamos atraí-los novamente — ordenou Ryu Min.
— Eles vão cair nessa de novo? — Julie perguntou.
— Eles podem possuir alguma inteligência, mas esquecem as coisas tão rapidamente quanto os peixes dourados.
Julie se aventurou mais uma vez em casa, repetindo o processo.
Ela alcançou o tapete vermelho e saiu, liderando habilmente os orcs.
Thud, thud! Thud, thud!
Enquanto Ryu Min cortava membros, Julie rapidamente acabava com os orcs.
Os seus esforços coordenados se tornaram cada vez mais eficientes à medida que continuavam a sua tarefa, quase como uma equipe bem treinada.
No momento em que os orcs invocados se transformaram em cadáveres empilhados ao lado das cabanas, a voz de Julie soou de alegria.
— Ceifador Negro! Derrotamos todos os 300!
Ryu Min verificou sua janela de progresso, observando: — Se passou exatamente uma hora.
Em apenas uma hora, conseguiram capturar 248 orcs, chegando ao impressionante total de 300.
— Graças a você, Ceifador Negro, consegui caçar com conforto e rapidez. Estou realmente grata — Julie expressou sua gratidão.
Ryu Min sorriu calorosamente, apreciando sua sinceridade.
— Quanto seu nível subiu? — ele perguntou.
— Já alcancei o nível 19! — Julie orgulhosamente proclamou.
— Apenas mais 10.000 pontos de experiência e você vai subir de classificação — comentou Ryu Min.
A classificação lhe daria a capacidade de aprender novas habilidades e aprimorar as existentes, tornando-a uma aliada ainda mais valiosa.
‘Isso significa que posso receber Bênçãos mais eficientes. E novos tipos de buffs também.’
Na verdade, o crescimento dela também beneficiaria Ryu Min, e ele estava satisfeito com o progresso que estavam fazendo.
— Não preciso mais ajudar com isso, certo? — ele perguntou.
— Claro que não! Já recebi mais ajuda do que pedi — respondeu Julie com gratidão.
— Mas e se eu ajudar você a alcançar o nível 20? — ele propôs.
— Oh… realmente não precisa fazer isso… — Julie hesitou.
‘Não, eu preciso. Ajudá-la a alcançar o nível 20 vai me beneficiar, preciso obter um buff seu para poder estabelecer um recorde quando capturar o Orc Superior.’
Na quinta rodada, havia quatro chefes formidáveis: Orc Guerreiro, Orc Xamã, Orc Arqueiro e Orc Superior.
Entre eles, o Orc Superior era um inimigo particularmente poderoso, quase no mesmo nível de um chefe intermediário.
‘É por isso que o Orc Superior é diferente de outros chefes. Até a regra Tempo para Matar se aplica de maneira diferente a ele.’
Tempo para Matar se refere a uma regra em que você recebe uma recompensa com base na rapidez com que derrota um monstro específico.
‘Tenho que aumentar o nível de Julie para 20, receber os dois buffs. Então poderei tentar quebrar o recorde.’
Pela primeira vez, ele poderia estabelecer um recorde sem precedentes.
Mesmo sem saber disso, Julie levantou a mão para recusar, mas Ryu Min estava determinado.
— Você não precisa mais me ajudar.
— Então isso significa que não caçaremos mais juntos?
— Sem chance. Como eu poderia fugir depois de receber uma ajuda tão grande? Desta vez, tenho que ajudar você.
— Se quiser ajudar, faça isso depois de atingir o nível 20. Vou cuidar de você até lá.
— Mas…
— Me escute. Até chegar ao nível 20, por favor, aceite com calma tudo o que eu lhe der.
Julie permaneceu em silêncio, seu rosto não refletindo aborrecimento ou frustração, mas sim um pensamento profundo.
‘Não acredito que você se importa tanto comigo…’
Sua expressão revelou sua gratidão pela ajuda inesperada.
— Uh, é um pouco vergonhoso, mas estarei sob seus cuidados — ela finalmente concordou.
— Claro. Vamos começar o trabalho de novo…
A conversa deles foi interrompida por um som estrondoso vindo de trás.
Ryu Min e Julie viraram simultaneamente a cabeça para ver um grupo se aproximando.
