A mansão estava alvoroçada.
Passos duros o suficiente para que parecesse que as tábuas de madeira iriam se quebrar sob eles, a cacofonia das louças sendo esmagadas e a comoção dos residentes confusos.
Cada vez que ele ouvia uma voz áspera misturada com esses barulhos, ele sentia os dedos em suas mãos tremerem.
Sentoor estava ansioso.
Quem poderia ter imaginado que, em tal momento crítico, Yukama, o tio de seu lorde, iria de repente agir de forma tão drástica.
— Princesa! Por favor, se apresse.
Sentoor se virou. A irmã mais velha de seu lorde, a Princesa Yunoha, estava olhando de volta para ele com uma face pálida. O lustroso cabelo famoso por parecer com os mais finos fios de um ka’ikoh, estavam agora desgrenhados sobre as bochechas de sua face ovalada.
Os dedos em suas mãos eram tão finos que ele pensou que poderia quebrá-los com apenas um aperto. Eles estavam congelando, então ele pensou que a tensão e a ansiedade deviam ter afetado sua circulação, assim Sentoor cuidadosamente envolveu suas mãos grosseiras ao redor das dela de novo.
Ele tinha que permitir que a princesa fugisse.
O alvo de Yukama era aquela conhecida como a beldade número um da nação, a Princesa Yunoha, assim como a posição de rei.
O rei anterior havia morrido no ano passado e seu filho, Setsugen, herdou sua posição como o rei de Triht. Setsugen era um jovem com um pouco mais de vinte anos, mas ele estava plenamente qualificado para ser rei. Nesses últimos dois anos, ele sempre esteve nas linhas de frente e se esforçou para proteger seu clã e nação.
Yukama não gostava muito disso.
Contrário às suas expectativas, ele abusou de sua autoridade como o guardião de Setsugen e almejou a irmã dele, a Princesa Yunoha. Seu plano era se casar com a princesa e roubar a posição de rei.
A armação suja de Yukama foi impedida por Setsugen e seus talentosos subordinados. Apesar de eles terem tido muitos problemas para impedir definitivamente Yukama, ainda sim, eles protegeram a Princesa.
Porém, nesse ano, Triht sofreu com um frio severo, de um tipo nunca visto nos últimos anos.
Com a terra congelada por causa da respiração do legendário Suu’rin, um ser que vivia no subterrâneo, os fazendeiros tiveram dificuldade para até mesmo arar os campos, para não falar nada sobre cultivar plantas. Além disso, o armazém de comida de emergência foi atingido por um raio e metade dele foi transformado em cinzas.
Nesse ritmo, muitas pessoas morreriam de fome no próximo inverno.
A beira da ruína, briga após briga, um dia uma notícia completamente inesperada chegou aos seus ouvidos.
Yohk’Zai, a nação que governava o Zaharya para além do Monte Pirenia, havia caído numa disputa pelo trono e estava à beira de uma guerra civil.
Para Triht, isso era como um presente dos céus.
Tomando vantagem do caos doméstico, eles se aliariam com a tribo Kak’Kenah que vivia ao sul do Monte Pirenia e juntos eles iriam tomar uma parte do Zaharya. Esse era o objetivo de Setsugen e seus seguidores.
Yohk’Zai era uma nação com uma história superficial.
De nenhuma forma a lealdade havia chegado a cada canto da nação, a cada canto de seus corações. O plano com certeza correria bem. Assim acreditava Setsugen quando ele começou sua jornada com apenas alguns companheiros.
Seguindo contato após contato, eles apenas recentemente haviam recebido uma resposta positiva.
Embora apenas mais um pouco e Triht fosse ser salva, graças as ambições supérfluas de Yukama, isso tudo poderia acabar em nada.
Os ouvidos de Sentoor perceberam o som dos passos dos intrusos enquanto ele corria na direção da porta dos fundos. Eles estavam vindo nessa direção de um canto da mansão. Dois deles, não, parecia que eram três. Sentoor estalou a língua. Isso não era uma conduta apropriada para um guerreiro, mas não havia ninguém ali para repreendê-lo agora.
— Por aqui!
Abrindo uma porta próxima, ele se esgueirou para dentro e silenciosamente fechou a porta.
Eles haviam escapado para dentro de um quarto para entreter convidados. Dentro do quarto havia uma simples mesa de madeira e de cada lado havia assentos de palha trançada feitos de talos de sen. Embora a porta estivesse fechada, por não haver fogo ali, o ressinto estava congelando.
Sentoor rapidamente examinou o quarto, mas não havia lugar nenhum para se esconder. Do outro lado da parede de madeira de correr estava o jardim, mas era bem provável que os subordinados de Yukama também estivessem ali.
“Esse é o mais longe que nós conseguiremos ir?”
Sentoor estava pronto para morrer a qualquer hora. Mas e a Princesa Yunoha? Pensando que era necessário que ela protegesse a sua honra se isso chegasse a esse ponto, ele se virou e seus olhos encontraram com os da princesa que havia tirado um punhal de dentro de sua cinta.
Sua mão trêmula agarrou o cabo e ela olhou para Sentoor. Ele viu a determinação inabalável em seus olhos ultramarinos, como o céu logo após o alvorecer. Ele inconscientemente se ajoelhou no chão como um servo.
Como ele havia pensado, ele podia servir apenas a esses irmãos.
Os barulhos vindos do corredor estavam ficando mais altos.
“Faça quando desejar!”
Sentoor se levantou e ficou na frente de Yunoha como se a protegesse.
Enquanto ele desembainhava sua espada e ficava de guarda de forma vigilante, uma moldura retangular de repente apareceu na frente dele.
Belos relevos estavam gravados na moldura e dentro dela havia uma tábua translúcida.
Sentoor tremeu. Se até uma mística tivesse se unido a Yukama, então…
Com um ruído, a tábua translucida deslizou para o lado. Sentoor estocou a espada em sua mão na direção da moldura. No momento seguinte ele sentiu uma resposta em sua espada.
“GYOEHH-”
Um som como o grito de morte de um goeru esmagado sob as rodas de um vagão ecoou dentro do quarto.
“Eles não deveriam estar hibernando debaixo da terra nessa estação?” Sentoor se perguntou enquanto inclinava a cabeça para o lado, antes de ficar perplexo com a cena diante dele.
Uma mulher nua estava parada ali com o que parecia ser um balde branco sem alças na frente de seu peito.
A espada de Sentoor havia atravessado diretamente o meio daquele objeto branco.
“Habilidosa.”
Suor frio escorreu por suas costas.
Bloquear uma estocada com força total de um espadachim como ele significava que essa mulher não era nenhuma inimiga comum. Ela era uma assassina contratada pela mística ou a própria mística era uma especialista?
— Eu gostaria de saber seu nome.
Seu sangue de espadachim estava se aquecendo.
— Eh? Izumi.
A mulher disse seu nome, parecendo atônita. E pensar que ela havia até mesmo se treinado para agir de forma que incitasse o descuido. Até o fato de ela estar nua era sem dúvidas uma tática para distrair o inimigo. Sentoor estava sem palavras. Ela não tinha nenhuma falta como oponente.
— Meu nome é Sentoor. Eu te desafio.
Após soltar a espada que estava completamente presa no escudo branco, ele esticou a mão para a outra espada em sua cintura.
— Hahh? Espere um pouco! O que diabos você está dizendo após atravessar uma espada no meu balde keropii?¹ Não, é serio, se você acabou então eu estou fechando a janela!
Apesar de estar confusa, a mulher ainda estava com raiva de Sentoor.
— Correndo com o rabo entre as pernas após encontrar resistência durante um assassinato? Ridículo!
Sentoor assumiu uma postura de guarda com a espada.
— Ei-! Você tem problemas mentais?
Sentoor estava desanimado. Ele havia pensado que em seus últimos momentos, ele havia encontrado um oponente digno, mas aparentemente ele estava errado. No momento em que ele pensou em cortar essa desagradável assassina no meio de suas desculpas, a mulher virou seus olhos para a pessoa atrás dele.
— Ei, você ai! Você não pode fazer alguma coisa com esse tio? Ele não está me ouvindo. Eu não sou uma assassina! Eu estava apenas prestes a tomar um banho e pensei que já que a água estava muito quente, eu devia abrir a janela para esfriá-la um pouco. Para começar, em que tipo de mundo você encontraria uma assassina nua e desarmada! Não me diga que os assassinos do seu mundo são exibicionistas? Eles são todos exibicionistas!?
Após tagarelar sem nem mesmo parar para respirar, ela lançou um olhar suplicante para a princesa Yunoha.
Sentoor começou a achar que havia algo estranho nessa mulher e no seu vigor.
— Sentoor, abaixe sua espada. Essa pessoa não parece estar relacionada com o Tio Yukama.
A Princesa Yunoha apoiou essa sensação dele em voz baixa.
— Você não é uma assassina contratada pelo Yukama?
A mulher assentiu como se isso fosse natural.
— Eu nunca ouvi falar do nome Yukama.
Sentoor olhou para a mulher de frente. Seus olhos escuros pareciam de alguma forma sem fundo e até um pouco assustadores, mas ela não parecia estar mentindo.
— E assim, eu não estou relacionada a ele, então você se importaria se eu fechar a janela?
A mulher colocou a mão na tábua translúcida. Em seus movimentos, era possível ver impaciência e ansiedade.
“Então ela realmente é uma pessoa suspeita…?” Suspeitou Sentoor mais uma vez, mas no momento em que ele estava prestes a virar seu olhar na direção dela novamente, um grito raivoso de Yukama soou do corredor.
— Yunoha! Onde está você? Você não vai aparecer de uma vez? Você ainda será minha!
Os estreitos ombros de Yunoha tremeram com o susto.
—Yunoha! Yunoha!
A medida que os gritos pela Princesa os alcançavam um após o outro, a mulher franziu o cenho e olhou para a princesa.
— Yunoha… Essa é você?
— Sim.
A Princesa Yunoha brandiu a adaga que ela estava segurando perto de seu peito.
Embora pálida, sua face não parecia realmente patética.
— Esse é o mais longe que nós vamos. Sentoor, por favor, seja meu segundo.
Sentoor fechou os olhos e assentiu. Enquanto lentamente erguia as pálpebras, ele colocou força no braço que segurava sua espada.
A Princesa Yunoha olhou para Sentoor e ergueu os cantos de sua boca apenas um pouquinho. Era um sorriso chocantemente belo. Ela seria capaz de morrer sem sobrecarregar seu lorde… Seu irmão mais novo. Aquele sorriso devia estar repleto desse tipo de satisfação.
Se ajoelhando no lugar, a Princesa Yunoha apontou a lâmina para si mesma.
— Que Triht seja abençoada com alegria. — Ela murmurou antes de abaixar a cabeça. Após ter certeza de que o golpe da lâmina iria encontrar a nuca branca e exposta dela, Sentoor ergueu sua espada bem alto.
— Hã-? Em-? E-, Espere um pouco!
Uma voz em pânico distraiu Sentoor.
A mulher jogou o escudo branco em sua mão para trás, antes de colocar suas mãos na moldura e se inclinar para frente.
— Vocês estão com algum problema!?
Isso parecia com o grito de alguém em desespero.
— Vocês estão com problemas, certo!? Ummm, ummmm, por favor, deixe isso comigo. Eu irei salvá-los!”
A mulher colocou uma mão no queixo e pareceu pensar.
— A voz rouca lá de fora é do Yukama e vocês estão sendo perseguidos por ele. Eu estou certa?
Ainda segurando suas lâminas, Sentoor e Yunoha assentiram juntos.
— Eu vou escondê-los, então venham aqui. Subam por essa moldura, vamos.
A mulher os convidou.
— O que vocês estão esperando? Rápido!
Os passos de Yukama pareciam cada vez mais próximos. A hesitação dele só durou um instante. Ele se lembrou de um antigo ditado: você não conseguirá pegar um filhote de tura sem entrar no covil de um tura.
Sentoor levantou Yunoha e, encontrando sua determinação, passou pela moldura retangular.
No momento em que ele pisou no chão, seu pé encontrou água quente.
“Falando nisso, ela de fato mencionou que estava indo tomar banho…”
O pano molhado grudou em suas pernas e pareceu que ele ia cair, mas quando isso estava prestes a acontecer, ele corrigiu sua postura e mudou a forma como estava carregando Yunoha, para que ela não ficasse molhada.
— Se nós a fecharmos completamente, vocês podem não ser capazes de voltar, então eu vou apenas deixar um pouco aberta, certo? Eu vou procurar alguma coisa para usar como arma.
— Espere, Mística-dono. E nós!?
— Apenas fiquem no banheiro ou algo do tipo! Ouçam, vocês não podem de forma alguma sair, certo? Em particular, vo-, vocês definitivamente não podem passar por essa porta.
Deixando essas palavras para trás, a mulher apressadamente correu para fora.
Sendo deixados para trás, não havia nada para Sentoor e Yunoha em seus braços fazerem, exceto olhar um para o outro perplexos.
A mulher voltou depois de algum tempo com seu corpo envolvido em um pano branco que cobria tudo de seu peito até sua bunda. Ela estava segurando um cilindro com a ilustração de um assustador monstro alado.
— O que é isso?
— É um inseticida. Para matar vespas.
Sem nem se importar com sua vestimenta ficar molhada, a mulher entrou no enorme balde com água quente e ficou ao lado de Sentoor.
Ela espiou pela fissura na tábua translúcida.
Os sons da porta sendo violentamente golpeada podiam ser ouvidos.
— Yunoha!… O que é isso?
Era a voz de Yukama. Seus gritos raivosos haviam se transformado em uma voz de confusão.
— Yunoha? É você aí dentro?
— Ela não está! De o fora logo, careca!
Em resposta à voz inquisitiva de Yukama, a mulher gritou de volta vigorosamente em resposta.
Mas isso não era o mesmo que admitir que ela estava ali…?
— O que você está fazendo Yunoha? Sentada aí com uma mística suspeita como essa.
Sendo cego para seus próprios defeitos, ele realmente podia falar. Sentoor gentilmente abaixou a Princesa ― para o chão de uma misteriosa substância branca ― antes de esticar a mão para a espada em sua cintura, mas ele foi parado pela mulher.
— Deixe isso comigo.
O que ela pretendia fazer? ― Eles encontraram o olhar um do outro, mas a mulher apenas assentiu e não tinha nenhuma intenção de falar. Entretanto, ela mesma já havia declarado que eles deviam deixar isso com ela, então ela provavelmente tinha algum tipo de plano. Sentoor respeitou a vontade dela e ficou ao seu lado.
Avançando com passos violentos e barulhentos e sem nem mesmo tentar esconder sua irritação, Yukama entrou no quarto. Atrás dele estavam vários de seus subordinados.
As faces dos homens visíveis pela fenda na tábua eram familiares. Era um grupo que só ligava para o dinheiro e não sabia nada sobre lealdade, mas suas habilidades eram reais.
Sentoor começou a ficar ansioso.
Porém, mesmo quando eles passaram da mesa redonda, a mulher não exibiu nenhum sinal de movimento.
Um passo e então outro passo. Eles diminuíram a distância. Ainda assim, a mulher não se moveu.
— Esse é o limite.
Sentoor agarrou o cabo de sua espada.
Yukama estava exatamente do outro lado da moldura.
E nesse momento a mulher escancarou a tábua translúcida, esticou os dois braços para frente e ergueu o cilindro.
— Coma isso! Duplo Spray Livre de Abelhas!²
Junto com a entoação de uma maldição, uma névoa foi violentamente esguichada de dentro do cilindro.
Yukama cobriu seus olhos com as duas mãos.
— O-o que é isso… E-, eu não consigo ver.”
Olhando para Yukama sofrendo, a mulher declarou em voz alta.
— Eu te amaldiçoei. Se você não lavar seus olhos por três dias e três noites com água vinda de neve perpétua derretida, seus olhos irão se tornar inúteis. Se você os lavar um pouco, você poderá até ser capaz de ver novamente por um tempo, mas a menos que você continue por três dias e três noites, a dor irá retornar depois de um tempo.
Que assustador.
Sentoor sentiu medo da mulher e reflexivamente cobriu seus próprios olhos com as mãos. Parecia que os seguidores de Yukama também estavam com medo da maldição e nem uma única pessoa se moveu.
Finalmente, Yukama caiu no chão.
— Você não acha que seria melhor para você voltar para casa?
A mulher disse isso enquanto olhava para Yukama no chão.
Encolhido no chão, do meio das fendas de seus dedos, os agora brilhantes olhos vermelhos de Yukama se viraram na direção dela. Aqueles olhos, até mesmo agora cheios de ambição, rolaram para lá e para cá, antes de se fixarem na Princesa Yunoha atrás de Sentoor.
— Yunoha. Ouça bem. Seu irmão já ficou frio muito tempo atrás. Eu paguei ao irmão mais novo do Chefe do Clã Kak’Kenah em Zaharya para envenenar o vinho dele no banquete. O corpo dele deverá chegar logo.
Sentoor foi assaltado por uma raiva que fez com que sua corrente sanguínea parecesse ter sido invertida. Sentimentos irreprimíveis subiram de seus interiores e impeliram seu corpo a uma ação.
— VOCÊÊÊ-
Puxando sua espada, ele pisou sobre a moldura. Os capangas paralisados de Yukama voltaram aos seus sentidos e correram até o lado de seu lorde. Superado em números, poderia não ser possível para ele tomar a vida de Yukama, mas no fim, ele não seria capaz de se acalmar a menos que atacasse alguém. Seguindo sua raiva, no momento em que ele estava prestes a pisar para fora da moldura, um braço nu agarrou sua cintura.
— Acalme-se. O que você precisa agora é proteger a Yunoha, certo? — Um sussurro baixo alcançou seus ouvidos.
— Você é muito barulhento! Se apresse e vá logo embora. Ou você não se importa de ficar cego?
Com seus braços ainda em volta de Sentoor, a mulher disse para Yukama.
Yukama gemeu de frustração.
— Ouça bem, Yunoha. Esse país já é meu!
— Que velho teimoso. Será que eu devo usar uma ainda mais forte dessa vez? Mais do que apenas seus olhos, dessa vez eu vou fazer a sua pele apodrecer.
A mulher ergueu a lata em uma mão e Yukama soltou um grito patético. Agarrando seus subordinados para tentar escapar mesmo que um segundo mais rápido, ele cambaleou para fora do quarto.
—Preparem neve derretida! Chamem um místico! Eu não ligo! Tirem eles de lá! Cerquem esse quarto até não poder mais! — A voz de Yukama os alcançou, vindo de cada vez mais longe.
A mulher soltou a cintura de Sentoor e afundou dentro da banheira.
— Graças a Deus isso acabou bem.
— Não acabou bem não.
Respondendo ao murmúrio de alívio, Sentoor franziu o cenho e abaixou a cabeça.
— Setsugen-sama… Setsugen-sama… Merda…
Incapaz de aguentar isso, ele golpeou a parede. A dor em seu punho enfatizou o fato de que isso não era um sonho.
— Setsugen… Não pode ser… Setsugen…
A voz levemente chorosa da Princesa Yunoha encheu o estranho espaço retangular.
— Ummm, eu acho que ele está bem entretanto.
— Huh?
Se sentando dentro da água quente com os braços ao redor de seus joelhos, a mulher olhou para Sentoor.
— Essa pessoa chamada Setsugen, eu acho que ele está bem.
— Por que você acha isso…?
Ele espremeu a voz rouca para fora de sua garganta.
— Porque eu o encontrei. Vê isso? Eu ganhei isso dessa pessoa chamada Setsugen.
Dando uma olhada no que a mulher estava apontando, ele percebeu que havia folhas verdes dentro de um tubo fino.
— Isso é grama de geada?
— Isso mesmo, eu ganhei elas numa troca. Esse tal de Setsugen estava dentro de uma cabana e depois de conversar um pouco com ele, ele disse que não precisava mais ir ao Zaharya e que ele estava voltando para casa. Ou algo do tipo. E naquela hora, eu recebi essa grama de geada dele. Aquele Clã Kak’Kenah ou algo do tipo fica em Zaharya, certo?
— Será que é possível que o Setsugen não foi ao Zaharya? — Concluiu a mulher, antes de dobrar a grama de geada com seu dedo e fazer ela emitir um som claro e refrescante.
— Uma cabana com grama de geada… Poderia ser a cabana da montanha no topo do Monte Pirenia!? Quando foi isso? Quando isso aconteceu?
Sem ligar para a água, ele se ajoelhou ao lado da mulher, pegando na mão que estava cutucando a grama de geada e fazendo essas perguntas. A mulher se mexeu desconfortavelmente.
— Uma semana… Sete dias atrás, mas?
Se eles usassem a cabana da montanha a sete dias atrás como base, então já estava na hora dele chegar à capital.
Os olhos de Sentoor ficaram quentes. Embora ele não tivesse chorado nem quando seus pais morreram, não poderia ser…
Sentoor colocou suas mãos na superfície embaixo da água.
— Mística-dono! Obrigado. Obrigado.
Ele curvou sua cabeça para baixo e seu corpo inteiro ficou submerso na água quente. Isso era sufocante, mas agora ele estava grato pela água. Sentoor derramou suas lágrimas dentro da água sem ninguém perceber.
— Mística-sama, eu também gostaria de te agradecer… Você salvou não apenas a mim, mas a toda a nação de Triht. Não importa o quanto eu te agradeça, isso não será o suficiente.
Embora encharcado, quando Sentoor levantou a cabeça, a Princesa Yunoha que estava fora da água também estava executando uma reverência com as pontas dos dedos no chão.
— Não, um, bem, isso é ótimo… Eu acho. As coisas ficarão bem assim que Setsugen retornar? Aquele careca vai voltar, vocês sabiam?
— Não, os corações de quase todas as pessoas de Triht pertencem ao Setsugen. Talvez meu tio irá correr por aí e causar problemas por proclamar que meu irmão está morto. Mas assim que Setsugen retornar, não deverá haver mais ninguém que seguirá Yukama.
— Então está bem. — Relaxou a mulher.
— Um, o que nós devemos fazer até o Setsugen-sama voltar?
Sentoor olhou ao redor da caixa retangular na qual ele estava dentro. Eles já estavam sob os cuidados da mulher há muito tempo e ele queria retornar o favor mesmo que só um pouco. Ao ponto de ele não ver problema em cortar lenha, limpar o banheiro ou qualquer coisa do tipo.
— Vamos ver, então a partir de agora…
A mulher esticou uma mão para dentro de uma caixa que estava no canto e após agarrar alguma coisa, ela se virou novamente. Sua mão estava segurando um cilindro transparente. Seu interior estava cheio de um líquido com uma única folha de grama de geada flutuando dentro dele.
A mulher deixou escapar um sorriso.
— Vamos beber!
Nota(s):
1 – A marca do balde, acredito eu.
2 – “Bee Easy Spray Double” – Aqui eu estou com uma pequena dúvida de tradução, seria ‘Abelha Fácil’ o que seria a tradução literal, ou seria algo como ‘livre de abelhas’, porque ‘easy‘ poderia querer passar a ideia de acalmar alguma coisa, ou tirar a preocupação de alguma coisa, como na expressão ‘at ease‘. No caso, por causa do sentido decidi colocar ‘livre de abelhas’. Mas pode ser um nome literal também visto que supostamente é uma marca.