MICA EARTHBORN
“Mica está ridícula.” Eu resmunguei, olhando no espelho enquanto me virava para me ver de vários ângulos.
Nós voamos da Clareira das Bestas para Greengate durante a noite, entrando sorrateiramente na cidade nas primeiras horas da manhã. Não havia sinal dos alacryanos, então entramos em uma casa abandonada para esperar.
Pelo menos, pensamos que estava abandonado até que encontramos o cadáver de uma jovem pendurado em uma viga exposta na cozinha. Varay a cortou, nós a colocamos na cama de solteiro da casa e a cobrimos com um cobertor. Depois de cantar uma canção de morte dos anões, nós a deixamos descansar.
Era um início sombrio para nossa missão.
Nós nos escondemos dentro da casa da mulher morta por dois dias antes que os alacryanos chegassem. Foram dois dias calmos e reflexivos. Varay havia percorrido círculos intermináveis e inquietos ao redor da casa enquanto Aya sentava e observava por uma fresta na janela fechada. Eu disse a ela que isso era desnecessário, pois sentiríamos no momento em que um funcionário aparecesse na cidade, mas, surpreendentemente, ela não me ouviu.
Passei o tempo pensando. Foi uma pena perder um tempo de qualidade que eu poderia ter gasto atormentando as outras lanças, mas a descoberta do corpo da mulher tinha sido uma espécie de tapa na cara, um lembrete do custo desta guerra. Como general, eu me acostumei com a visão de corpos de soldados espalhados pelo campo de batalha, mas essas nunca foram as únicas vítimas.
Quem ela perdeu na guerra? Eu me perguntei. Quem é a pessoa a fez se matar por sentir tanta saudade?
Os nomes dos mortos zumbiam em minha cabeça como tambores de barril. Olfred, Dawsid Greysunders, Glaundera Greysunders, Rahdeas, Alea Triscan, Bairon Wykes, Virion Eralith, Arthur Leywin. Meus amigos, meus companheiros… e quantos aos outros de Darv? E os anões que eu conhecia de Vildorial ou do Instituto Earthborn? Como deve estar a minha família? Havia tantos rostos que eu nunca veria novamente, vozes que eu nunca mais ouviria.
Eu corria o risco de ficar bastante deprimido quando finalmente sentimos a reveladora onda de mana anunciando a chegada do retentor.
“Por que Mica tem que usar as roupas dessa mulher morta, de novo?” Eu perguntei, ainda me examinando no espelho.
“Quero ver o que enfrentaremos antes de arriscar um ataque.” Respondeu Varay. “Se marcharmos até lá vestidas como lanças, eles atacarão imediatamente ou fugirão, mas não queremos que nenhuma dessas coisas aconteça.”
Varay e Aya também trocaram suas armaduras por roupas simples e mantos com capuz. Ambos eram mais próximas do tamanho do dona anterior e conseguiram evitar parecer completamente estúpidos. A túnica de Aya talvez estivesse um pouco esticada e as calças de Varay acabavam acima do tornozelo, mas a única coisa na casa que me servia era uma túnica de homem que encontramos amarrotada na parte de trás do guarda-roupa.
“Parece um saco de batatas.” Disse eu, mantendo meu fluxo constante de reclamações. “Mica deveria ser a fofa, não a desalinhada e atarracada.”
Aya zombou. “Ninguém vai se lembrar do que estamos vestindo. Agora vamos—”
Ela ficou em silêncio enquanto algo fazia as partículas de mana ao nosso redor vibrarem sutilmente. Uma voz melosa vinha de fora. “Povo de Greengate. Sua presença é obrigatória na praça da aldeia. Vocês tem dez minutos.”
Nós três trocamos um olhar e provavelmente tivemos o mesmo pensamento.
“Suprimam suas assinaturas de mana. Vamos lá.”
Aya e eu seguimos Varay para fora e rua abaixo. A casa da mulher morta ficava perto do limite oeste da aldeia, então foi fácil misturar-se à multidão de habitantes confusos que caminhavam lentamente em direção à praça.
O medo deles era óbvio, mas não os culpei por isso. Eles teriam sido estúpidos em não ter medo, considerando o que os esperava. Mesmo assim, eu sabia que eles ficariam realmente surpresos quando as lanças aparecessem de repente.
Com nossos rostos escondidos sob nossos capuzes, tive que segurar a barra da minha capa para evitar que se arrastasse no chão, seguimos junto com os fazendeiros de rostos pálidos e silenciosos até que nos encontramos em uma ampla praça.
A multidão estava em torno de uma coluna de pedra que se erguia três metros acima das pedras. Um anel de magos alacryanos guardava a coluna, mas os olhos de todos estavam na mulher que estava em cima dela.
Ela estava vestindo o uniforme cinza e vermelho de Alacrya. Seu cabelo era da cor do fogo e parecia mover-se com vida própria, como a chama de uma vela bruxuleante. Ela olhou para a multidão com um sorriso sutil enquanto cruzava suas mãos.
A retentora estava deixando sua intenção pressionar as pessoas abaixo dela. Não era uma intenção assassina e esmagadora, mas que não podia ser combatida por eles. Para esses humildes fazendeiros, ela deve ter se sentido uma divindade.
Mas eu já vi coisa muito melhor.
Ela era bonita, com certeza, e ela era poderosa o suficiente, qualquer feitiço de desvio de som que ela usou para projetar sua voz do jeito que ela fez era legal, mas ela não era assustadora.
Enquanto o silêncio durava, eu examinei os magos com ela, mas eles não eram nada de especial. Apesar de serem soldados de alto escalão com várias runas exibidas ao longo de suas costas, eles estavam lá mais para exibição do que para segurança. Não é como se os aldeões fossem uma ameaça a retentora.
Parece muito fácil, pensei, as palavras de Aya sobre isso ser uma armadilha voltando para mim.
Fechando os olhos, tateei a cidade em busca de qualquer outra assinatura de mana, mas o único mago que pude sentir foi um homem velho na multidão, que parecia que uma forte rajada de vento poderia levá-lo até a Muralha.
Um mago suficientemente poderoso, como outro retentor, poderia esconder sua assinatura de mana, portanto, não rejeitei inteiramente a possibilidade de algum tipo de armadilha.
Não seria tão ruim, pensei preguiçosamente. Como uma venda dois rentetores alacryanos por um. Dois coelhos, uma cajadada só.
“Povo de Greengate.” As palavras escorreram em meus ouvidos como mel. Que nojo. Enfiei um dedo no ouvido como se pudesse para de ouvir a voz da mulher. “Vocês já sabem que seu Conselho se foi, seus exércitos foram destruídos e seus guerreiros mais poderosos o abandonaram. O castelo voador é nosso. Xyrus, Blackbend, Etistin, Vildorial, Zestier… todos de Sapin, Elenoir e Darv são nossos. Mas não se desesperem, pois não viemos como saqueadores.”
Ela deu à multidão uma pausa treinada, deixando que isso chegasse no fundo de seus corações e mentes.
Quando ela falou novamente, sua voz se suavizou em um tom caloroso e acolhedor. “Não viemos aqui como colonizadores, mas como salvadores. Vocês conhecem os asuras, os seres que muitos veneram como divindades. Disseram que eles cuidam de vocês, mas isso é mentira. Os asuras abandonaram vocêm, eles abandonaram todos nós… exceto um. Um desses seres se preocupa com vocês e é pela vontade de nosso Alto Soberano, um verdadeiro asura, que Alacrya venceu esta guerra. Tínhamos que vencer, para que pudéssemos mostrar a vocês essa verdade.”
A retentora fez uma pausa novamente, como se ela esperasse a explosão de resmungos que se seguiu às suas palavras.
Encontrei os olhos de Varay, ansiosos para calar a boca da mulher alacryana, mas ela balançou levemente a cabeça. Rangendo os dentes, voltei-me meu olhar para a retentora, esperando para ver que outras mentiras derramariam de seus lábios vermelhos.
“Meu nome é Lyra Dreide. Eu vim aqui para estender a vocês a boa vontade do Alto Soberano, para expressar que é hora de superar nosso conflito e estender um ao outro as mãos da amizade.”
“É com ‘amizade’ que você tortura alunos em Xyrus?”
Um silêncio caiu sobre a multidão enquanto todos olhavam em volta para ver quem havia falado. Um pequeno grupo de pessoas apavoradas estavam se afastando de um jovem loiro, deixando-o isolado e abandonado sob o olhar firme da retentora.
O orador parecia menos confiante agora que o foco da retentora caíra sobre ele, mas ele seguiu em frente mesmo assim. “É com amizade que vocês separam nossas famílias, fazendo com que qualquer um que te desafie, que enfrente as coisas horríveis que você faz, desapareça no meio da noite?”
O olhar de Lyra Dreide varreu de volta a multidão silenciosa, sua expressão era suave. “Sempre haverá aqueles que recusarão a paz que oferecemos, mas para o bem de todos, os agentes do caos e da ruptura devem ser tratados com firmeza.”
O chão tremeu quando um pilar de terra se ergueu sob os pés do jovem, levando-o para o alto e causando pânico. A multidão lutou para se afastar ainda mais.
“Não tenho prazer em praticar esse tipo de violência.” Continuou a retentora. “Mas a paz só pode ser mantida através da aplicação cuidadosa da força. Peço que todos observem e lembrem-se do destino deste homem.”
Eu encontrei os olhos de Varay novamente e arregalei os meus próprios como se dissesse: “Mica pode derrubar essa alacryana safada com língua de cobra de seu pedestal, né?” A lança humana me deu um aceno de cabeça afiado antes de se lançar no ar, colocando-se entre a mão estendida da retentora e o garoto loiro da fazenda.
Todos congelaram e tudo ficou congelou.
Aldeões aterrorizados olharam para Varay com expressões de confusão e choque. Os lábios pintados de Lyra Dreide se curvaram para baixo em uma carranca profunda. O anel de soldados ativou suas runas enquanto avançavam com as armas em punho.
“Cada palavra que você fala está carregada de mentiras.” Disse Varay friamente. “Você é uma mentirosa e uma assassina.
Eu sou Varay Aurae e não vou deixar você machucar outro dicatheano.”
Lyra Dreide alisou o uniforme e se endireitou. “Varay Aurae, codinome Zero.
Você e seus associados, Mica Earthborn, Ohmwrecker; Aya Grephin, Phantasm; e Bairon Wykes, Thunderlord, são fugitivos procurados pelo Alto Soberano. Vou permitir que você tenha uma chance de se entregar pacificamente.”
Soltei uma risada feliz antes de voar alguns metros acima do solo. “Bem, mentirora Deides.” Bufei com a minha própria pronúncia errada do nome dela. “Nós a acusamos de ser incrivelmente burra!”
Ela fez uma careta para mim antes de examinar rapidamente a multidão até encontrar Aya também. “Três das famosas lanças juntas em um só lugar. É o meu dia de sorte, eu acho.” “Não é não, alacryana burra.” Respondi alegremente.
A retentora caiu sobre um joelho e seus guardas foram arrancados do chão para se chocar contra a coluna em que ela estava enquanto ela se tornava sua própria fonte de gravidade. Um escudo cilíndrico de gelo de pelo menos trinta centímetros de espessura condensou-se ao redor da coluna e dos alacryanos, separando-os da multidão, e então, uma névoa rastejante se espalhou do solo sob seus pés, subindo pelas pernas e torsos dos soldados.
Gritos e o crepitar de feitiços ecoaram do escudo gélido enquanto os alacryanos tentavam se opor aos nossos ataques, mas seus feitiços apenas ricochetearam neles e os soldados rapidamente se viraram enquanto as ilusões de Aya se infiltravam em suas mentes. A cidade inteira parecia prender a respiração enquanto assistia à carnificina que se desenrolava, mas foi de curta duração. Em instantes, os soldados estavam todos mortos.
No topo do pilar, Lyra Dreide se levantou lentamente. Eu liberei o feitiço da gravidade e tentei empurrar seu controle da coluna de pedra e transformá-la em areia, mas ela segurou a estrutura contra mim.
O pilar gêmeo, onde ela deteve o jovem que falou contra ela, desmoronou em vez disso, fazendo-o despencar nos restos irregulares. Eu pensei que ele seria empalado nos escombros, mas Aya o agarrou pelas costas de sua túnica no último momento.
O escudo de gelo explodiu com um estrondo ensurdecedor, enviando estilhaços afiados para a multidão. Varay gritou enquanto ela forçava os projéteis a explodirem em uma rajada de neve derretida inofensiva, mas não antes de vários aldeões caírem no chão com gritos de dor.
Muitas oportunidades para danos colaterais. “Corram, seus pedaços de carvão!” Eu gritei, encorajando a multidão a sair.
Um globo azul cintilante apareceu ao redor da retentora enquanto Varay se concentrava em outro feitiço. O ar lá dentro ficou tão frio que a umidade começou a condensar e esvoaçar como grandes flocos de neve, mas o vapor estava subindo da pele da retentora.
“Ela está combatendo nossos feitiços!” Eu gritei, me abaixando e enfiando minha mão no chão. Uma enorme maça de pedra se formou em meu punho. Apesar da arma ter a metade da minha altura, a manipulação da gravidade em torno dela a fez parecer leve como uma pena.
Esperei até que a superfície da bolha congelada estourasse antes de me lançar na retentora, minha maça gigante arqueando no ar. Antes de alcançá-la, no entanto, algum tipo de vibração separou minha arma, deixando-me segurando nada além de um punhado de areia.
Então, em vez disso, dei um soco nela.
Sua cabeça balançou para trás quando meu punho fez contato com seu nariz, mas sua perna estava indo em direção ao meu joelho ao mesmo tempo. Eu me tornei pesada o suficiente para que meus pés rompessem a coluna, e quando o chute dela me acertou, ele ricocheteou novamente.
Eu dei a ela o que considerei meu sorriso mais frustrante antes de o pilar abaixo de mim desmoronar, me enviando para o chão como uma pedra catapulta devido ao meu peso. Junto com quinhentos quilos de rocha, colidi com os restos mortais dos soldados alacryanos, transformando-os em polpa vermelha.
“Eca,” eu gemi enquanto puxava um pedaço de algo molhado do meu cabelo.
Acima de mim, dois feitiços de gelo diferentes colidiram com a retentora, que estava flutuando em uma corrente de mana de atributo do vento. Eu era capaz de ver as vibrações, como linhas pretas onduladas escritas no ar, enquanto faziam o gelo se quebrar antes de alcançá-la.
Lyra Dreide parecia ter um controle muito preciso de mana, influenciando diretamente para neutralizar nossos feitiços, em vez de lançar seus próprios feitiços, o que lhe permitia neutralizar sutilmente quase tudo que estávamos jogando contra ela.
Procurando mana de terra nos pedaços de pedra ao meu redor, eu os enviei de volta para o céu. Em vez de se desintegrar, uma rajada de vento girando os pegou e os jogou pela praça da cidade, de modo que choveram sobre a multidão que se retirava.
Oops.
“Cuidado com os aldeões!” Varay gritou.
“Aff, que merda.” Eu murmurei enquanto me puxava para fora dos escombros.
Vendo nossa hesitação, a retentora soltou uma risada que ressoou por toda a cidade, rolando sobre si mesma, crescendo em onda após onda de barulho que cresceu até o vidro estourar e a madeira estilhaçar.
Eu coloquei minhas mãos em meus ouvidos, mas parecia que o barulho estava dentro da minha cabeça. Eu podia sentir meus ossos doendo com isso, meu batimento cardíaco saltando com o ritmo da risada, mas então ela se foi.
Varay foi igualmente afetada, fiquei feliz em ver, mas Aya foi capaz de conter o feitiço desviante com um dos seus próprios. Mica não pode ser a lança mais fraca. Isso seria humilhante. Ao contrário de nós três, os aldeões que ficaram na praça da cidade não tinham mana para se protegerem contra os ataques. Cada um deles desabou no chão e eu não poderia ter certeza se eles estavam vivos ou mortos.
Embora o ataque tenha sido eficaz, parecia ter esgotado nossa oponente. Lyra Dreide desabou, o cabelo rebelde caindo frouxamente em volta do rosto amuado, os braços pendurados ao lado do corpo.
“Cylrit, seu arrombado, onde em nome dos Vritra você está?” Ela murmurou, sua voz ecoando pela praça em seu próprio feitiço do vento.
“As coisas não estão indo como planejado?” Eu zombei, enfiando meus polegares no cinto grosso que eu usei para manter meu saco de batata de uma roupa junta e olhando para ela como se eu não tivesse nenhuma preocupação no mundo. Não havia motivo para ela saber que seu feitiço havia me deixado com um assobio persistente em meu ouvido esquerdo, que achei que poderia ter um pouco de sangue escorrendo dele.
“Chega de conversinha fiada.” Aya estalou da minha esquerda. “Vamos terminar isso!”
A retentora rosnou, sua arrogância e porte real se foram. “Vocês vão se arrepender de terem saído do esconderijo, lanças. Da próxima vez, não estarei sozinha.”
“Na próxima vez?” Eu perguntei, inclinando minha cabeça para o lado questionadoramente. “É algo bem fofo achar que vai haver uma próxima vez.”
As linhas pretas irregulares de seu feitiço protetor rasgaram o ar ao seu redor, formando uma barreira sólida.
Aya lançou uma barragem de chakram redondo formado a partir do vento condensado que girava, cortava e girava ao redor do campo de batalha, atingindo Lyra Dreide de todas as direções, mas eles se dissiparam assim que passaram pelas vibrações. Varay conjurou uma tempestade de balas congeladas que deveriam ter rasgado a retentora, mas nenhuma conseguiu passar.
Lyra Dreide gritou. Ao contrário da risada, que era uma onda ondulante de construção, ruído debilitante, esta foi uma única nota aguda que cortava como uma faca. Eu me envolvi em mana, reforçando a camada dura que já grudava na minha pele e Aya conjurou uma névoa espessa que vibrava com um tom baixo para conter o ataque, mas ainda assim era o suficiente para tirar o fôlego de meus pulmões.
Atordoada, olhei para a retentora.
Dentro de sua gaiola, Lyra Dreide puxou algum tipo de dispositivo de um anel dimensional. Não consegui ver claramente através das ondulações negras no ar, mas experimentei um momento de vago reconhecimento antes que se encaixasse no lugar. Eu tinha visto algo assim anos antes, na Academia Xyrus.
“Ela está tentando fugir!” Varay gritou, chegando à mesma conclusão que eu: a retentora tinha algum tipo de dispositivo de teletransporte e ela estava tentando ganhar tempo suficiente para ativá-lo.
“Como podemos quebrar essa barreira?” Aya gritou enquanto redirecionava a névoa para condensar em torno da magia da retentora, mas ela sibilou e estourou ao passar pelas vibrações, dissipando-se sem causar danos.
Pisquei para o lança elfa. “Deixe isso para Mica.”
Lyra Dreide havia neutralizado facilmente todos os nossos feitiços que utilizavam gelo, vento ou solo, mas ela definitivamente lutou para escapar do aumento da gravidade que eu criei. Parecia provável que ela não pudesse contrariar todo tipo de magia e eu conhecia exatamente o feitiço perfeito. Se funcionasse contra uma foice…
Focalizando alguns metros acima da barreira, comecei a condensar a gravidade em um único ponto. Meus ouvidos zumbiam e suor corria em meus olhos enquanto concentrei todas as minhas capacidades prodigiosas naquele feitiço, deixando a mana jorrar do meu núcleo o mais rápido possível.
Em segundos, a atração gravitacional do feitiço Singularidade foi forte o suficiente para que a retentora notasse. Seu cabelo flamejante estava queimando de sua cabeça e ela estava sendo jogada ao redor na corrente de ar que a mantinha em vôo, enquanto ela lutava para manter sua concentração, ela tentava ativar o artefato de teletransporte.
As vibrações visíveis ao redor dela começaram a se distorcer, perdendo sua forma quando a barreira desabou sob a pressão do buraco negro. Toda a barreira estava sendo puxada para cima, mas Lyra Dreide não podia se deixar levar por ela ou seria atraída pelo feitiço e esmagada.
Não era exatamente isso que estávamos tentando alcançar, mas se acontecesse… tudo bem.
Varay e Aya ficaram por perto, com seus feitiços prontos, e quando a gaiola de mana vibrante estourou, como a casca sendo arrancada de uma laranja, as duas atacaram. Uma bala de vento perfurou o artefato de teletransporte apenas um instante antes de um bloco retangular de gelo transparente se formar ao redor da retentora, encapsulando-a dentro.
O bloco ficou suspenso no ar por um momento antes de cair no chão com um baque pesado. Dentro dele, Lyra Dreide estava perfeitamente presa, incapaz de se mover um centímetro. Seus olhos dispararam ao redor, inconstantes e selvagens de medo e frustração.
Eu podia ver seus lábios se movendo quando ela começou a implorar por misericórdia, ou nos amaldiçoar, era difícil dizer, mas nenhum som escapou da prisão gelada.
“Isso é maravilhoso. Como se chama?” Perguntei a Varay casualmente, pulando para ficar no topo do bloco de gelo e fazendo uma pose apropriadamente vitoriosa.
“Frozen Tomb.” Disse ela, seu olhar varrendo a praça da cidade destruída.
“Isso não é muito bom, não é?” Eu perguntei. “Mica inventou este feitiço chamado Black Diamond Vault. Esse é um bom nome para feitiço. Agrad—”
“Mica?”
“Hm?”
“Vá ajudar Aya a verificar os aldeões.”
Eu ignorei o tom gelado na voz de Varay e abri um sorriso para ela enquanto voava em direção ao corpo mais próximo. Quando eu o cutuquei, ele gemeu e lutou para se sentar direito. Era o jovem que foi corajoso, ou estúpido, o suficiente para desmentir as falas da retentora.
Vendo que ele não estava morto, dei-lhe um tapinha amigável nas costas. “Não tenho certeza se você pode me ouvir, considerando o sangue que sai de seus ouvidos, mas você está vivo. Parabéns!” Eu o deixei com uma piscadela e fui para o próximo, assobiando alegremente.