Capítulo 62

Por Trás da Capa (2)

Dilmond esmagava incansavelmente os mortos-vivos. Ele abatia quantos conseguia, independentemente de quem costumavam ser quando ainda estavam vivos – alguns eram plebeus que administravam um negócio até ontem, mas ainda eram seus camaradas que lutaram ombro a ombro com ele, e outros eram jovens cavaleiros que ele mesmo treinara. Embora Dilmond achasse os mortos-vivos desagradáveis no início, agora estava familiarizado o suficiente com eles para até tirar uma soneca ao lado sem problemas. Ele nunca imaginou que os mortos-vivos se tornariam seus inimigos novamente.

— Podem vir, filhos da puta!

A cabeça de um morto-vivo desapareceu ao ser atingida pelo martelo de Dilmond. Aquele morto-vivo havia sido um servo que costumava perguntar se também poderia se tornar um verdadeiro cavaleiro quando Ras ganhasse sua honra de volta. Quanto mais Dilmond matava, mais ativamente ele voava pelo campo de batalha. No entanto, ele sentia seu martelo ficando mais pesado à medida que se embebia de sangue. Sentia vontade de largar o martelo no chão e adormecer de vez.

— Sir Dilmond, você está bem? — Perguntou preocupado um dos cavaleiros da Ordem de Huginn ao vê-lo ofegante e começando a ficar para trás.

Felizmente, Dilmond encontrou um grupo de sobreviventes enquanto lutava ferozmente.

— Estou bem. Continue. — Disse Dilmond, empurrando as costas do cavaleiro.

Os cavaleiros estavam procurando por Anya. Agora que Ras estava morto, a capitã da Ordem de Huginn era Anya. Os cavaleiros esperavam que ela tivesse soluções para sair dessa situação trágica, considerando que ela havia sido treinada como uma necromante.

‘Me pergunto se ela ainda está viva.’

Dilmond chamou o nome dela várias vezes, mas não obteve resposta. Embora Anya fosse uma excelente cavaleira, era natural para Dilmond pensar que seria difícil para ela sobreviver a essa bagunça.

Nesse momento, Dilmond viu um cavaleiro vestindo uma armadura branca cambaleando ao caminhar. A armadura branca dos Templários se destacava mesmo na escuridão. O capacete e o escudo do Templário não estavam em lugar nenhum.

— Ei, você! Não fique andando por aí sozinho e…

Um dos cavaleiros da Ordem de Huginn abriu a boca, mas logo engoliu suas próximas palavras ao ver os olhos do Templário fervendo de raiva.

— Seus hereges nojentos! O que diabos todos vocês fizeram?!

O Templário avançou contra Dilmond como se tivesse enlouquecido. Os cavaleiros da Ordem de Huginn bloquearam apressadamente o caminho dele, mas o Templário os ignorou completamente e continuou sua tentativa de atacar Dilmond.

— Chega! Agora não é hora de estarmos lutando entre nós! — Disse um cavaleiro da Ordem de Huginn.

— Não é hora de estarmos lutando entre nós, você diz? Todos nós vimos o que aquele herege maligno, Ras Raud, fez! E vocês, corvos imundos, estavam devorando meus camaradas vivos nesta escuridão! E você diz o quê? Que “agora não é hora de lutar”?

Os cavaleiros da Ordem de Huginn ficaram sem palavras. Eles podiam entender por que os Templários pensariam assim. Afinal, eles próprios também estavam em dúvida sobre essa situação. Os cavaleiros da Ordem de Huginn nunca lamentaram terem se juntado à Ordem, mas não podiam deixar de suspeitar de Ras Raud em uma situação tão confusa.

— Mostrem o que são de verdade! Vocês, sujos servos do diabo…

O Templário não pôde terminar suas palavras. Com um som fraco e esmagador, Dilmond esmagou a cabeça do Templário com seu martelo. O sangue do Templário respingou até as faces dos cavaleiros da Ordem de Huginn, e Dilmond chutou o corpo do Templário sem cabeça com o pé.

— Vamos embora. — Disse Dilmond.

Os cavaleiros da Ordem de Huginn seguiram silenciosamente Dilmond sem dizer uma palavra. Dilmond conseguia ler as suspeitas nos olhares silenciosos dos cavaleiros. Também tinha muitas perguntas em sua cabeça. Ras realmente era servo do diabo? Ele realmente fazia parte da força que ia contra Sua Majestade? Foi ele quem liderou a Ordem de Huginn a transformar todas essas pessoas inocentes em servos da morte?

— Eu sei o que todos vocês estão pensando. — Dilmond falou em voz baixa. — Acho que suas suspeitas são justas e razoáveis. Seria mentira dizer que suas dúvidas são completamente infundadas.

— Sir Dilmond.

— Mas lembrem-se sempre de uma coisa, do motivo pelo qual se juntaram à Ordem de Huginn.

Todos os cavaleiros de Huginn concordaram com as palavras de Dilmond. Esses cavaleiros foram aqueles que se juntaram à Ordem de Huginn após enfrentarem incidentes injustos causados pela Igreja Imperial. Suas razões variavam. Alguns se juntaram porque suas famílias foram massacradas pela Igreja, enquanto outros se juntaram porque a Igreja tirou toda a sua fortuna e alguns mais se juntaram por causa de tortura e discriminação injustas.

A Ordem de Huginn nunca havia se envergonhado nesse sentido, até agora.

Dilmond sentiu a determinação retornando nos passos dos cavaleiros. Embora Dilmond tivesse confortado os cavaleiros, ele também tinha um olhar sombrio no rosto. Julgando pela reação dos Templários, parecia ser difícil pedir a cooperação deles.

‘A menos que eu consiga encontrar Anya o mais rápido possível…’

『Dilmond.』

A cabeça de Dilmond se virou repentinamente ao ouvir aquela voz. Os cavaleiros tinham expressões confusas ao verem Dilmond de repente olhando para o lado oposto da escuridão.

— Está tudo bem, sir Dilmond?

— Não ouviram uma voz chamando meu nome agora mesmo?

Os cavaleiros pareciam confusos, como se não entendessem o que Dilmond estava dizendo, e alguns até pareciam assustados.

Ao perceber que era a única pessoa que ouvira a voz, Dilmond decidiu seguir na direção de onde ela viera.

Ao mesmo tempo, os cavaleiros pareciam querer impedi-lo.

— Por favor, espere, sir Dilmond. Talvez você tenha ouvido um sussurro profano, pode ser alguma armadilha…

— Annabelle. — Disse Dilmond de repente.

Após algum tempo, Dilmond encontrou Anya tremendo em um buraco raso. Dilmond se aproximou rapidamente de Anya e verificou sua condição. As pupilas dilatadas de Anya tremiam sem parar, mas ela não parecia estar ferida.

— Annabelle! Volte a si!

— Muitos, muitos, muitos mortos estão… o deus da morte está…

Dilmond conseguiu entender o que estava errado com Anya. Como ela havia sido treinada como uma necromante, ela não conseguia lidar com o choque repentino de um encontro tão próximo com o deus da morte. Ao contrário dos plebeus que só viam a escuridão e os cadáveres à frente de seus olhos, Anya sentia a ressurreição, o movimento dos mortos, e até sentia o poder de Nigrato espalhado por toda a cidade com todo o seu corpo.

— Milhares, dezenas de milhares… Não, não há fim. Os mortos estão se levantando sob o comando do mestre da morte. — Murmurou Anya.

— Os números não importam. Desde quando contamos números quando lutamos? Acorde!

Dilmond deu um tapa nas bochechas de Anya. Os cavaleiros atrás dele ficaram surpresos ao ver uma palma tão grande quanto um martelo bater nas bochechas de Anya.

A bochecha de Anya ficou vermelha. Anya tremeu ao ser despertada de seu torpor, e logo cuspiu sangue.

— Se tivesse alguma fé em mim, um bom cutucão teria sido suficiente para me acordar, sir Dilmond. Pude sentir a profundidade de sua desconfiança em mim pela sua mão. — Disse Anya brincando.

— Ainda bem que está de volta! Não direi nada mesmo se você me esfaquear com sua espada da próxima vez que eu estiver em um estado semelhante, então vamos seguir em frente por enquanto.

Anya levantou o corpo enquanto reclamava que seus dentes pareciam ter sido abalados após o tapa de Dilmond. No entanto, era difícil para ela ficar em pé adequadamente com as pernas trêmulas.

— A presença de Nigrato está dificultando até mesmo os seus movimentos?

— Não. Parece que eu tive uma concussão com o seu tapa. Por favor, me ajude a ficar de pé.

Dilmond começou a andar com Anya nas costas, e Anya não se incomodou em recusar.

— Me avise se perceber algo ou souber em que direção ir. Está tão escuro que nem sei para onde ir.

— Bem, para onde estamos indo? — Anya perguntou curiosa com as palavras de Dilmond.

— Para qualquer lugar fora desse inferno, obviamente. Eu queria lutar pela Ordem de Huginn mesmo na vida após a morte, mas não assim.

— Fora desse inferno?

— Algum problema?

— Bem… Temos alguns problemas. Em primeiro lugar, éramos um dos grupos de pessoas mais próximos do centro do poder de Nigrato quando sir Ras morreu. Em segundo lugar, as rotas de fuga daqui estão cercadas por 17.382 mortos-vivos. Em terceiro lugar, mesmo que não houvesse obstáculos, Nigrato desceria antes que pudéssemos sair daqui. E, por último, o vento repentino soprando do inferno, causado pela preparação de Nigrato para retornar, está transformando muitos dos mortos-vivos comuns em mortos-vivos de alto escalão.

Dilmond percebeu o que Anya estava implicando e acabou deixando escapar em palavras.

— Não há esperança.

— Sim, não há.

Dilmond desistiu de escapar imediatamente. No entanto, ele não era o tipo de pessoa que se sentaria e choraria como um bebê só porque estava em uma situação como aquela.

— Quero dizer, alguma vez estivemos em uma situação esperançosa? Somos parte da ordem de cavaleiros que está lutando contra o império há quase cinquenta anos com menos de cinquenta cavaleiros. Seria ridículo desistir agora. — Disse Dilmond, virando a cabeça.

— Podemos correr, mas se decidirmos lutar, devemos vencer.

A Ordem de Huginn avançou animadamente.

***

Tess nasceu e cresceu em Hiveden. Era difícil encontrar um nativo de Hiveden como ele. Afinal, pessoas com origens desconhecidas frequentemente entravam em Hiveden como se fossem carregadas pelo vento e saíam rapidamente. Ele não conhecia seus pais, mas os imaginava como uma das pessoas desconhecidas trazidas para Hiveden pelo vento, assim como muitos outros.

Tess cresceu ao lado de muitos outros órfãos e não tinha fantasias sobre seus pais por esse motivo; ele só acreditava em sua antiga adaga que ele mesmo esculpira há muito tempo.

Mesmo quando os Templários invadiram Hiveden, Tess os considerou como o vento passageiro, assim como as inúmeras outras pessoas que visitavam Hiveden. Mesmo testemunhando aqueles que conhecia sendo massacrados e mortos em um instante, ele não duvidava de que isso também passaria – um nativo de Hiveden como ele estava destinado a permanecer e continuar ganhando a vida em Hiveden.

No entanto, quando o Patrulheiro da Montanha Laus que ele já havia matado se levantou novamente e o esfaqueou no estômago com uma espada, percebeu que era ele quem tinha sido carregado pelo vento.

Tess, que voltou à vida, ficou encantado com o fato de que o antigo mestre daquele mundo antigo estava retornando. Ele vomitou sangue e procurou uma oferenda sacrificial para seu novo mestre.

Sheela era uma serva da Ordem do Corvo Branco. Ela havia servido aos Templários enquanto era treinada. Para ser precisa, ela era uma soldado comum. No entanto, estava decapitando um Templário com sua espada quando deveria estar servindo aos Templários. Seu rosto estava coberto de sangue e lágrimas.

Na verdade, o Templário já tinha morrido há algum tempo devido aos mortos-vivos que haviam aparecido repentinamente, mordendo seu pescoço. O Templário ofegava enquanto sangrava e morreu em menos de dez segundos. Sheela repetia para si mesma que um Templário nunca morreria devido a um ferimento tão insignificante, mas o que estava acontecendo diante de seus olhos era mais verdadeiro do que nunca.

O corpo do Templário havia se levantado novamente pouco tempo depois de sua morte. Sheela percebeu que era tarde demais ao olhar nos olhos completamente negros do Templário que se aproximava. Ela não teve escolha a não ser cortar a cabeça do Templário para proteger seu pescoço de ser mordido. Quando finalmente cortou a cabeça do Templário, Sheela suspirou aliviada.

Nesse momento, um cavaleiro da morte a atingiu no pescoço.

O cavaleiro da morte atendia pelo nome “Carl”. No entanto, já havia passado muito tempo desde que ele se lembrara de quem era. A Ordem de Huginn elogiava os cavaleiros dos mortos e os chamava de seus sêniores com respeito, mas o ego de “Carl” se desgastara e desaparecera há muito tempo.

Quando sentia a vontade do mestre que havia servido, ele a atendia. Se não, saía em busca dos inimigos de seu mestre, esses eram os únicos pensamentos que ele tinha.

“Carl” abateu outro inimigo. Enquanto o sangue espirrava sobre ele, se lembrou de um cavaleiro a quem deixara escapar. O cavaleiro tinha um rosto familiar que permanecia em suas lembranças frágeis que haviam se desgastado lentamente e desaparecido. Ele havia passado pelo cavaleiro porque tinha a memória de o cavaleiro servir ao mesmo mestre que ele uma vez. No entanto, ele sentiu como se tivesse cometido um erro por algum motivo.

Nesse momento, algo se aproximou de “Carl” vindo de além da escuridão. Era um rosto familiar, era o cavaleiro de martelo, a quem Carl não havia cortado anteriormente. Pensando que era melhor tarde do que nunca, “Carl” se aproximou do cavaleiro para cortá-lo desta vez.

Quando “Carl” se aproximou, os inimigos levantaram suas espadas. “Carl” instantaneamente dividiu ao meio o inimigo mais próximo. Quando gritos e exclamações irromperam, o cavaleiro de martelo avançou contra ele. Foi um golpe feroz, mas fraco.

Quando “Carl” estava prestes a cortar o cavaleiro, uma vontade desconhecida o impediu de fazer isso.

Uma mulher estava exercendo sua força de vontade sobre ele. No entanto, não era suficiente para controlá-lo. Comparada ao poder infinito que “Carl” havia recebido, sua força de vontade era nada mais do que um obstáculo trivial, como uma teia de aranha.

“Carl” ergueu sua espada e tentou acabar com o cavaleiro de martelo quando…

Crack!

…algo perfurou sua cabeça.

O fogo irrompeu da espada curta cravada em sua cabeça, e o crânio de “Carl” explodiu e se espalhou por toda parte. As chamas nos pedaços espalhados do crânio queimaram, consumindo o restante do corpo dele.

A pessoa que esmagou “Carl” pisou no que restava de seu corpo e o esmagou.

— Vejo que ainda está viva e bem.

— Juan!

Juan havia retornado.

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