Capítulo 105
40º andar (8)
— O que aconteceu? — Gi-Gyu estudou suas mãos novamente e murmurou. A memória de ser apunhalado no coração ainda estava em sua mente, então como ele ainda estava vivo?
El sorriu e sugeriu: — Vamos dar um passeio, Mestre?
Ela se levantou primeiro e estendeu a mão para Gi-Gyu, que ainda estava no chão. Ele prontamente pegou a mão dela e também se levantou.
— Ugh! — De repente, todas as suas terminações nervosas se ativaram, espalhando uma dor entorpecente por todo o corpo. Mas um calor calmante gradualmente se espalhou da mão de El para ele, aliviando a dor.
— Isso é incrível — Gi-Gyu disse a ela. A situação atual deles tinha muitas coisas inacreditáveis: a capacidade de cura incrivelmente poderosa de El, como ele se sentia confortável com alguém que tentou matá-lo e o corpo físico dela. Quero dizer, ele estava passeando com El de mãos dadas.
Parando por um momento, Gi-Gyu a chamou: — El.
— Sim?
— E Lou e os outros Egos? — Gi-Gyu perguntou, finalmente examinando seu corpo. Ele não conseguia ouvir nenhuma das vozes de seus outros Egos em sua cabeça, ele usava um pedaço de pano frágil e nem conseguia sentir seus outros Egos.
— Este é um espaço separado. Os outros Egos estão temporariamente em outro lugar. — Quando El respondeu, Gi-Gyu aceitou sua explicação sem questionar, pois ela não tinha motivos para mentir. Ainda segurando a mão dela, ele podia sentir sua sinceridade. Eles estavam conectados um ao outro, então ele podia sentir as emoções dela.
— Entendi. — Gi-Gyu acenou com a cabeça em compreensão enquanto continuava: — Devo ter sobrevivido por causa da habilidade especial de Calleon.
El não disse nada, mas Gi-Gyu continuou a se perguntar como ele sobreviveu enquanto caminhavam em silêncio. Mesmo o jogador mais poderoso não sobreviveria ao ser apunhalado no coração. Mas aqui estava ele, ainda vivo. Com base na calma de El, Gi-Gyu suspeitou que ele também passou no teste.
Gi-Gyu nunca havia recebido dano fatal antes, então se esqueceu completamente de Calleon – a habilidade que El tirou da espada sagrada do Escudo de Ferro, Calleon. Podia ser usada apenas uma vez, mas com certeza era uma chance de se recuperar de um ferimento fatal. Provavelmente foi ativado quando Gi-Gyu foi atingido.
Gi-Gyu tocou seu peito e sentiu uma cicatriz. Quando El assentiu, Gi-Gyu continuou: — Ah, era por isso que Lou estava tão calmo naquela hora. Sei que Lou pode ser insensível, mas mesmo assim achei estranho que ele fosse tão indiferente à minha morte.
— À medida que seu poder aumenta, ele será capaz de se lembrar e usar mais do conhecimento dele. — Assentindo com a resposta de El, Gi-Gyu começou a andar novamente. A brisa suave era muito agradável enquanto caminhavam juntos.
— Mestre. — Quando El murmurou, Gi-Gyu se virou para ela e respondeu: — Sim?
— Por que não me apunhalou? Afinal, sou uma traidora que ousou erguer minha espada contra meu mestre — perguntou El enquanto abaixava o rosto, falhando em olhá-lo nos olhos.
— Já que você não estava no controle, você não tem culpa — Gi-Gyu murmurou.
— Mas… eu sei que meu corpo estava se movendo contra a minha vontade, mas…
— Eu sei — Gi-Gyu sussurrou e abraçou El. Sentindo seu calor, ele percebeu que a forma física de El se assemelhava a de um humano.
Gi-Gyu continuou: — Eu sei. Você sabia que algo assim poderia acontecer. — El agiu de forma estranha nos andares que conduziam ao 40º; agora que ele parou para pensar sobre isso, percebeu que ela sabia o que poderia acontecer durante o teste.
El explicou: — Eu queria te contar. Queria impedi-lo de fazer o teste. Desejei desesperadamente que não entrasse no 40º andar. Talvez você pudesse ficar satisfeito com o que já tinha e viver uma vida segura.
Ela olhou para cima com seus olhos cheios de lágrimas. Ela gaguejou: — M-Mas…
El o abraçou com força. — Você tinha que continuar subindo a Torre, e eu não queria atrapalhar, Mestre. Se eu fizesse, eu queria que você… com suas próprias mãos…
— Já chega — Gi-Gyu interrompeu El. — Tudo deu certo no final, então não precisa explicar.
Ela não teve que se forçar a verbalizar tudo, já que ele entendeu o dilema dela. Ela não poderia tê-lo impedido de subir a Torre, seu objetivo, só porque ele teria que enfrentar sua traição. Então, não pôde evitar fazer o que fez.
Gi-Gyu murmurou baixinho: — Não consigo imaginar o quão difícil deve ter sido para você.
Os dois, a traidora e seu mestre, continuaram a se abraçar e chorar silenciosamente.
***
Caminhando pelo prado, Gi-Gyu e El conversaram sobre muitas coisas. Ela revelou muitos segredos, mas ele não sofreu nenhuma penalidade. Era porque ele se tornou mais poderoso? Ou era porque estavam em um lugar especial separados do resto? Quase parecia que Gi-Gyu estava em um espaço paralelo onde o sistema da Torre não conseguia impor suas regras.
El explicou: — Fui criada para seguir a vontade dele, então seguir outro mestre me confundiu. Comecei até a questionar minha própria existência, o que me fez duvidar de você, Mestre.
Esta foi a razão pela qual El ficou tão quieta ultimamente. Bem, ela não era tão falante nem no começo; e se tornou ainda menos depois.
El continuou: — Todas as espadas sagradas eram originalmente anjos. Nem todos os anjos são espadas sagradas, mas todas as espadas sagradas são anjos.
Anjos eram criaturas com vontades nobres, então sacrificavam seus corpos e mentes e se rebaixavam a ferramentas quando cometiam um pecado. Foi assim que surgiram as espadas sagradas.
El acrescentou: — Eu sou a imperatriz de todas as espadas sagradas. Fui a primeira espada sagrada, e todas as outras que se seguiram foram criadas com minha permissão e vontade.
Gi-Gyu assentiu em compreensão, pois já sabia que El era a Imperatriz das Espadas Sagradas.
— Mas minhas memórias são muito nebulosas. Me lembro de receber o dever de me tornar uma espada sagrada, mas não consigo me lembrar do resto com muita clareza.
— Isso é… — Quando Gi-Gyu murmurou, El abaixou o rosto com um olhar desesperado e respondeu: — Depois do que aconteceu no 40º andar, decidi esquecer minhas incertezas e dúvidas sobre você. Acredito que não consigo me lembrar por causa da minha decisão: Servir a você como meu único e verdadeiro mestre.
Seria possível que El perdesse sua conexão com seu senhor original porque reconheceu Gi-Gyu como seu novo mestre? E ela perdeu suas memórias como penalidade?
Gi-Gyu perguntou: — E aquele demônio que você manteve preso? Se lembra de alguma coisa sobre isso?
El deu um pequeno aceno de cabeça e respondeu: — Sim, mas não muito. Só me lembro que ele era um dos governantes da Torre.
— Um dos governantes da Torre? — Gi-Gyu murmurou. Quando ele obteve El, esse suposto governante da Torre quebrou o selo e fugiu.
— Isso é tão complicado. — Gi-Gyu balançou a cabeça. Quanto mais ele aprendia, mais sua confusão crescia. Depois que os portais e a Torre apareceram, tudo ficou tão complicado que ele só conseguia fantasiar sobre conceitos mais fáceis de entender. Havia muitos segredos neste mundo, e Gi-Gyu sabia que não entenderia facilmente.
— Vamos cuidar dessas complicações mais tarde — anunciou Gi-Gyu. Havia uma boa chance de que ele aprendesse mais segredos enquanto subia a Torre, então se preocupar com eles agora era danoso.
— Não é como se eu não tivesse perigos imediatos com os quais me preocupar. — O governante fugitivo da Torre era apenas um deles, e não tão alto na lista de prioridades atual. Gi-Gyu ainda precisava lidar com o Escudo de Ferro, Lee Sun-Ho – o inimigo em potencial – depois de um ano, e havia a guilda Caravan e Andras.
Então, os demônios e os governantes da Torre terão que esperar por enquanto.
— Devagar. — Quando Gi-Gyu murmurou, El perguntou: — Perdão?
— Vamos devagar — respondeu Gi-Gyu, fazendo El sorrir.
Gi-Gyu não sabia há quanto tempo eles estavam andando; quando voltaram para a árvore gigante, El disse a ele: — Mestre. Obrigada.
— Pelo quê? — Gi-Gyu olhou para ela confuso quando El agradeceu inesperadamente.
Ela explicou: — Por me valorizar e me deixar viver. Por estar sempre ao meu lado.
— O que está fazendo…? — Gi-Gyu parou nervosamente já que El estava agindo como se estivesse prestes a sair.
El continuou: — Por favor, ouça Lou e confie em seus conselhos. Ele se tornou alguém confiável.
— El?
— E você é muito mais poderoso do que pensa.
— El! — Gi-Gyu gritou o nome dela novamente, mas El continuou, serena. Uma sensação sinistra o envolveu, lhe dizendo para impedi-la de voltar, mas a dor terrível voltou de repente, o impedindo de fazer qualquer movimento. El havia soltado sua mão, então a dor estava de volta com força total.
El acrescentou: — Tanto Lou quanto eu vivemos há muito tempo e temos um vasto conhecimento. Ainda assim, não podemos controlar ou direcionar sua existência, Mestre. Você tem habilidades e potencial incríveis.
— El… O-o que está acontecendo? — Gi-Gyu mal conseguia falar em meio à agonia. Com um sorriso, El continuou: — Mestre, continue subindo a Torre. Mate tudo que estiver em seu caminho, sejam demônios ou anjos.
Os olhos de Gi-Gyu começaram a borrar, mas ele ainda podia ver as lágrimas rolando pelas bochechas de El.
— Por favor, destrua todos os seus inimigos e os governantes da Torre. E… — ela enxugou as lágrimas com sua bela mão — se torne o Mestre da Torre. Eu sei que você consegue.
— Isso… — Gi-Gyu não conseguiu terminar a frase. Ele achou estranho que um anjo, nada menos que a Imperatriz das Espadas Sagradas, sugerisse algo assim. Ele queria expressar suas dúvidas, mas sua consciência deixou seu corpo e tudo que ele pôde fazer foi fechar os olhos silenciosamente.
***
— Ackkkkk! — Uma dor latejante e impiedosa se espalhou de seu peito. Parecia que havia um buraco em seu coração, e acabou sendo exatamente isso.
— Ack! — Quando Gi-Gyu gritou novamente, o sangue jorrou de seu peito.
“Acorda!”
-Mestre!-
Gi-Gyu podia ouvir as vozes desesperadas de Lou e Brunheart.
— Ackkkkk! — Tudo o que Gi-Gyu podia fazer era gritar em agonia. Ele não conseguia descrever a dor, pois não havia sentido nada parecido antes.
“Eu disse pra acordar, seu idiota!”
Lou rugiu novamente.
Whack! Whack!
Gi-Gyu agitou as mãos, acertando o que quer que estivesse à sua frente. Durante suas lutas para se livrar da dor e dos gritos, ele esqueceu a passagem do tempo. Sua voz ficou rouca; felizmente, a dor em seu coração também começou a diminuir.
Seus olhos estavam embaçados, então ele não podia ver nada. Era como se houvesse uma névoa nebulosa ao seu redor. Ainda com dor, Gi-Gyu soluçou, fazendo Lou suspirar.
“Haa…”
Lou parecia aliviado porque seu mestre havia sobrevivido ao pior da dor e sabia que Gi-Gyu sobreviveria.
-Hic.-
Gi-Gyu podia ouvir os soluços de Brunheart de tanto chorar e os gemidos preocupados de Bi por perto.
— Ugh… — Finalmente capaz de respirar, Gi-Gyu percebeu que estava vivo. Apesar do que a dor que abalava a realidade o fazia pensar, ele estava vivo. Seu rosto estava pegajoso, e o espaço branco ao seu redor agora estava sujo de muito vermelho.
— Haa… — Gi-Gyu respirou fundo outra vez.
‘Este espaço em branco…’
Isso o lembrou abruptamente de alguém muito importante. — El!!!
Quando sua visão voltou, ele usou suas mãos trêmulas para alcançar uma espada lascada em muitos lugares. Estava tão danificado que nem parecia mais uma espada.
‘El.’
[Você passou no teste.]
[Agora você receberá uma recompensa.]
O sistema fez seu anúncio com calma, como de costume.
— Ahhh!!! — Gi-Gyu gritou novamente: Não era dor física, mas a dor de seu coração. Ele chorou porque podia sentir.
Sua ligação com El foi quebrada.