Capítulo 153
O Selo (1)
Quando Gi-Gyu se levantou, El perguntou confusa: — Mestre! O que quer dizer?!
Com o rosto impassível, ele se virou para ela e solicitou: — Pare com isso.
— Perdão? — El parecia confusa.
Gi-Gyu gritou novamente: — Eu disse para parar com essa brincadeira!
Sua voz alta ecoou dentro do quarto do hospital, mas El apenas olhou para ele.
Após um breve silêncio, Gi-Gyu finalmente perguntou: — O que você é?
De repente…
Crack.
Tudo ao seu redor desmoronou, exceto El e a cama em que ele estava sentado. Agora, ele só podia ver a escuridão e os olhos indiferentes de El.
— Achei que você fosse lento, mas acho que supus errado. Você tem instintos muito bons — uma voz sugeriu. Assim como seus arredores, “El” rachou como um copo de vidro. O lugar onde El estava agora era ocupado por…
Uma figura escura semelhante a um humano estava diante de um Gi-Gyu chocado. Embora sua forma parecesse humana, não tinha olhos, nariz ou lábios. E apesar de ser totalmente escuro, era de alguma forma distinguível do espaço igualmente escuro ao redor deles.
— O que é você? — Gi-Gyu perguntou novamente.
— Eu sou… — a figura escura abriu sua longa boca, mostrando dezenas de dentes e uma língua bifurcada escorregadia — “você”.
E então, Gi-Gyu perdeu a consciência.
***
— Ranker Kim Gi-Gyu! Por favor, acorde!
A princípio, ele só podia ouvir alguém sussurrando para ele; logo, ele percebeu que era Sung-Hoon gritando com ele.
— Estou bem — Gi-Gyu murmurou, agarrando sua cabeça enquanto se levantava. Sua cabeça latejava como se fosse estourar. Ele lentamente olhou em volta para se encontrar ainda em um quarto escuro. Felizmente, não havia ninguém por perto olhando para ele.
— Uma ambulância estará aqui em breve, então você só precisa-
Gi-Gyu interrompeu: — Estou realmente bem.
— O que acabou de acontecer? — Sung-Hoon perguntou, mas apenas suspirou um pouco depois, percebendo que Gi-Gyu não estava pronto para explicar. Sung-Hoon então pegou seu telefone para fazer uma ligação. Parecia que ele estava cancelando a ambulância. Depois disso, Sung-Hoon se virou para ele novamente e perguntou: — Estamos na sala de espera reservada para o enlutado principal. Poderia me dizer o que aconteceu? Será que…
Sung-Hoon parou. Ele suspeitava que Sung-Hoon estava preocupado com a possessão de Lou novamente.
Gi-Gyu respondeu: — Não, não se preocupe. Estou muito bem. Acho que ultimamente ando exausto.
Sung-Hoon parecia impotente enquanto olhava para Gi-Gyu.
— Como estão as coisas lá fora?
— Surpreendentemente, o mestre de guilda Choi Chang-Yong assumiu a liderança com o vice-mestre de guilda Lee Bum-Jun para tranquilizar a todos. Acho que as pessoas acreditam que você está sofrendo com o choque de perder tantos jogadores — explicou Sung-Hoon.
— Isso é um alívio. — Gi-Gyu sorriu amargamente. Choi Chang-Yong provavelmente temia as perguntas curiosas do público e assim prontamente ajudou a dispersar o interesse delas.
Sung-Hoon perguntou: — Gostaria de voltar agora?
— Sim, acho que deveria — Gi-Gyu respondeu e se levantou. Seu corpo parecia perfeitamente bem, mas…
‘Tenho uma dor de cabeça horrível.’ Sua cabeça latejava muito.
“…”
Enquanto isso, Lou permaneceu quieto, mas com certeza parecia que tinha algo a dizer. Gi-Gyu se perguntou qual poderia ser o motivo.
Creak.
Quando Gi-Gyu abriu a porta, foi saudado pelas mesmas luzes brilhantes e famílias enlutadas. Os gritos, os murmúrios e também as pessoas que se interessaram por ele em uma fração de segundo.
Lee Bum-Jun se aproximou de Gi-Gyu e perguntou: — O que aconteceu? Você está bem?
— Ah, sim. Estou bem. Vim mostrar meu respeito, mas acabei te sobrecarregando. Peço desculpas — respondeu Gi-Gyu com uma reverência.
— Não há necessidade de se desculpar. Posso imaginar o quão difícil devem ter sido esses últimos dias… Você deveria descansar um pouco — Lee Bum-Jun parecia muito preocupado.
Shin Yoo-Bin, ao lado de Lee Bum-Jun, deixou escapar: — Acabei de chegar, oppa. O que aconteceu? Tem certeza de que está bem?
— Sim, eu estou bem. Só estou cansado. Então você veio também.
Quando Gi-Gyu deu um pequeno sorriso a Yoo-Bin, ela abaixou o rosto e respondeu: — Claro. Haa… Por favor, não me assuste assim.
— Vou tentar. Hmm… sinto muito, mas ainda não estou me sentindo muito bem. Acho que preciso ir, então te vejo mais tarde — Gi-Gyu sussurrou.
— Tudo bem. — Shin Yoo-Bin assentiu.
Gi-Gyu estava prestes a se virar e sair quando Yoo-Bin de repente gritou: — Ah, oppa!
Gi-Gyu se virou para ela e Yoo-Bin perguntou: — Se lembra da conselheira Lim Hye-Sook, certo?
Gi-Gyu ficou quieto. Ele se lembrava de Lim Hye-Sook; a senhora idosa havia pedido que ele a visitasse.
Shin Yoo-Bin explicou: — Ela me pediu para lhe dizer que você deveria visitá-la em breve. Não consegui entender exatamente o que ela quis dizer, mas…
Ela hesitou como se estivesse confusa sobre alguma coisa. Então, ela olhou para Gi-Gyu e continuou: — Ela me disse que o selo pode estar em perigo.
— …! — Os olhos de Gi-Gyu se arregalaram.
***
No caminho de volta para casa, Sung-Hoon sugeriu cautelosamente: — Acho que você deveria visitar a conselheira Lim Hye-Sook o mais rápido possível.
Sung-Hoon parecia estar escolhendo suas palavras com cuidado enquanto continuava: — A questão é… não, esqueça. Seria melhor se você ouvisse sobre isso da conselheira Lim Hye-Sook. Ela provavelmente quer te contar algo sobre seu pai, ranker Kim Gi-Gyu.
‘Meu pai?’
— Antes de falar com sua mãe… ouça primeiro da conselheira Lim Hye-Sook — Gi-Gyu relembrou as palavras de Sung-Hoon enquanto estava voltando para casa.
As coisas estavam ficando cada vez mais complicadas. Antes que ele pudesse resolver um problema, mais dois apareciam. Essa escalada de seu estilo de vida era exaustiva.
— Haa… — Gi-Gyu suspirou. Ele vinha tentando não suspirar tanto ultimamente, mas era difícil. Depois de conversar um pouco com sua mãe e Yoo-Jung, desceu para o porão. De forma séria, ele chamou: — Lou.
“Estou ouvindo.”
A resposta de Lou foi imediata, mas sua voz estava tensa.
— Pode me contar o que aconteceu?
“…”
Lou parecia muito hesitante; depois de um breve silêncio, ele respondeu:
“Não sei. Realmente não.”
— Então você também não sabe — Gi-Gyu caiu e sussurrou. Como Lou havia apagado suas memórias muitas vezes, Gi-Gyu podia entender o porquê ele não sabia. Lou ainda sabia muitas coisas úteis, mas isso era apenas uma parte de um todo.
“Não é por isso.”
— Hein?
“Eu não sei porque eu… não sei. Não tem nada a ver com minhas memórias apagadas. Aposto que El também não sabe. Quando aquela coisa estranha aconteceu, minha consciência mergulhou no fundo, abaixo da escuridão que tomou conta de você.”
Gi-Gyu ouviu em silêncio.
“E eu senti o que você sentiu. Tantas emoções extremas… Estávamos nos debatendo como se tivéssemos caído em um poço sem fim. Foi horrível. De qualquer forma, é por isso que não sei o que aconteceu com você. Só sei que algo incomum aconteceu.”
Gi-Gyu assentiu, já que a explicação de Lou fazia sentido. Ele também teve que contar a Lou o que sentiu antes; quando o fez, Lou ouviu atentamente.
“Hmm…”
Lou murmurou cautelosamente.
“É difícil dizer o que você experienciou, especialmente porque eu mesmo não vi ou senti.”
Gi-Gyu assentiu enquanto Lou continuava:
“Mas posso fazer um bom palpite.”
— Hm? O que seria?
“Lembra daquele pedaço de mim que ficou dentro de você depois que a Morte inundou seu receptáculo? Provavelmente foi isso.”
Gi-Gyu reconheceu isso como uma possibilidade real. A figura escura de fato o lembrava um pouco de Lou. Mas…
‘Também me lembrou de El.’ Esta criatura sombria o lembrou de Lou e El e…
Gi-Gyu estremeceu ao perceber que também podia se ver naquela figura sombria.
“Também.”
Parecia que Lou estava prestes a lhe dar uma grande dica.
“A coisa que está escondida dentro de você…”
— O quê? O que é?
“Desculpa. Penalidade.”
Lou não deu mais explicações a Gi-Gyu. Se Lou tivesse falado mais sobre o assunto, Gi-Gyu teria sofrido a penalidade.
‘Droga.’ O problema da penalidade estava se tornando cada vez mais irritante. Isso o lembrou por que ele tinha que subir ao 50º andar o mais rápido possível.
“Vou procurar nas memórias que consegui reter. Então você tem que seguir o conselho do jogador Heo Sung-Hoon.”
— Você quer dizer…?
“Vá encontrar aquela mulher Lim Hye-Sook. Acho que ela deve saber de alguma coisa.”
Gi-Gyu assentiu. Originalmente, ele planejava se encontrar com Lim Hye-Sook, mas agora não podia esperar.
***
— Por favor, espere aqui por um momento. A mestre da guilda e a conselheira chegarão em breve — disse uma mulher a Gi-Gyu.
— Ah, tudo bem — respondeu Gi-Gyu. Ele estava dentro da sede da guilda Gipsofila. Essa guilda incomum era composta apenas por algumas jogadoras de elite. Era um conceito interessante, mas Gi-Gyu estava muito preocupado para pensar muito nisso.
‘El… e todos os meus outros Egos…’ Disseram a Gi-Gyu que El e os outros experimentaram a mesma coisa que ele quando ele estava na funerária. Todos sentiram aquela estranha atração em direção à escuridão profunda e aquela onda de emoções.
‘É incrível que eu possa sincronizar com todos eles’, Gi-Gyu pensou maravilhado. Na funerária, quando sua visão escureceu, ele sincronizou com todos dentro da funerária. Felizmente, aparentemente ninguém percebeu isso, exceto Sung-Hoon. Porque ele havia sincronizado com eles, ele sentiu suas emoções.
E…
‘O incrível poder!’ O funeral foi para duas grandes guildas, então muitos jogadores de luto estavam presentes. Quando Gi-Gyu sincronizou com eles, todos os seus poderes se combinaram e se juntaram a ele. Alguns eram fortes enquanto outros eram fracos, mas suas forças combinadas eram suficientes para satisfazê-lo.
‘Por quê? Como?’ Gi-Gyu não conseguiu responder a essas perguntas. Por que isso era possível? Ele estava aqui, em parte, esperando obter uma resposta para esta pergunta. Mas Shin Yoo-Bin e Lim Hye-Sook ainda não estavam em lugar nenhum.
Gi-Gyu organizou seus pensamentos antes de retornar a um tópico delicado.
‘Pai…’
Kim Se-Jin.
Gi-Gyu não se lembrava dele. Ele tinha ouvido tudo o que sabia sobre seu pai de sua mãe, o que não era muito.
Bem, na verdade…
‘Me lembro de algo sobre ele’, Gi-Gyu pensou severamente. A única coisa que Gi-Gyu lembrava de seu pai era como ele olhava para ele.
— Me desculpe, estamos atrasadas. Ainda estamos lidando com as consequências do fechamento recente do portal — desculpou-se Shin Yoo-Bin ao entrar.
— Sinto muito também — Lim Hye-Sook também se desculpou. — Esperou muito?
— Não. Acabei de chegar aqui também — respondeu Gi-Gyu.
Lim Hye-Sook sorriu amplamente e murmurou: — Você deve estar exausto também.
O rosto da mulher idosa estava muito enrugado, mas isso só a fazia parecer mais calorosa e gentil. Se sentindo confortado, Gi-Gyu sorriu de volta.
Lim Hye-Sook perguntou: — Por que demorou tanto?
— Perdão? — Gi-Gyu não conseguia entender o que Lim Hye-Sook estava perguntando. Ela apenas sorriu com a confusão dele e se virou para Yoo-Bin.
Lim Hye-Sook pediu: — Yoo-Bin, você poderia nos trazer um pouco de chá?
— Sim, vovó — respondeu Yoo-Bin. Parecia que, em particular, Yoo-Bin chamava Lim Hye-Sook de “avó” em vez de “conselheira”.
Lim Hye-Sook elaborou: — Eu realmente apreciaria se você dedicasse um tempo extra para fazer este chá.
— Tudo bem. — Shin Yoo-Bin rapidamente percebeu o que Lim Hye-Sook estava pedindo e saiu depois de acenar para Gi-Gyu. Esta era a sede da guilda Gipsofila, então a mestre de guilda Shin Yoo-Bin deveria estar liderando a reunião. Mas, Lim Hye-Sook queria falar com Gi-Gyu em particular.
— As crianças estão observando, então tive que trazê-la aqui só para mostrar. — Lim Hye-Sook parecia estar se referindo a trazer Shin Yoo-Bin para a sala. Gi-Gyu respondeu respeitosamente: — Não tem problema, senhora.
— Tudo bem. Pedi para vir me ver porque tenho algo para dizer. É sobre seu pai, Kim Se-Jin.
Os olhos de Gi-Gyu se arregalaram quando a aparência de Lim Hye-Sook mudou diante de seus olhos. Ela era uma velha enrugada um segundo atrás; agora, uma jovem tão bonita quanto El estava sentada na frente dele.
Lim Hye-Sook continuou: — Ele foi o primeiro mercenário e aquele que surgiu com toda essa ideia do sistema de mercenários. Seu codinome era Cronos.
Havia uma razão pela qual Gi-Gyu nunca ficava muito curioso sobre seu pai. Gi-Gyu estava subconscientemente evitando ouvir sobre ele. Essa foi uma das razões pelas quais não visitou Lim Hye-Sook antes.
‘Lembro-me do ressentimento em seus olhos quando ele olhou para mim’, Gi-Gyu pensou desanimado.
Essa era a única coisa que ele lembrava de seu pai.