Capítulo 190
Reagrupando (1)
O corpo físico de Lou estava completo. Gi-Gyu sorriu e perguntou ao Velho Hwang: — E como ele se parece?
Se o sorriso brilhante no rosto do ferreiro não era suficiente para lhe dizer que o produto final era uma obra de arte, o produto final diante dele certamente era.
Até Lou parecia sem palavras.
“…”
Gi-Gyu sabia que Lou estava satisfeito com isso, e isso o fez sorrir.
— Mas… — O velho Hwang parecia preocupado.
Percebendo que algo estava errado, Gi-Gyu perguntou baixinho: — Tem algo de errado?
A pedido de Gi-Gyu, o Velho Hwang criou o corpo físico de Lou depois de trabalhar por muito tempo. El poderia se materializar em forma humana e o Velho Hwang havia ressuscitado, então Gi-Gyu acreditava que poderia conseguir algo semelhante para Lou também.
— A primeira parte deste trabalho foi fácil, graças à ajuda de Min-Su. — O velho Hwang ficou sério ao explicar: — Paimon me ensinou minhas habilidades, mas como não sou descendente dele, não sou como Min-Su. Consequentemente, meus Egos são apenas metade do que poderiam ser.
Gi-Gyu assentiu em compreensão.
O ferreiro continuou: — Mas Min-Su é descendente direto de Paimon. Com o sangue de Paimon fluindo dentro dele, ele pode usar muito mais do poder de Paimon, e é por isso que pude ser ressuscitado. Eu sabia que, com a ajuda dele, seria possível criar um corpo físico para Lou.
Gi-Gyu podia adivinhar o que o Velho Hwang diria a seguir.
O homem idoso falou hesitantemente: — Min-Su participou da primeira metade da criação. Mas… tive que cuidar da última parte sozinho. E já que você estava fazendo o teste, a entrada do portal estava bloqueada… então…
— Você está dizendo que o corpo de Lou pode não ser perfeito — disse Gi-Gyu.
O velho Hwang respondeu: — Sim.
O ferreiro caminhou e acrescentou: — É possível que não funcione.
O velho Hwang havia sugerido que a transferência do Ego de Lou para este corpo físico poderia falhar.
Gi-Gyu apenas respondeu: — Está tudo bem.
Gi-Gyu não estava com medo, nem culpava o Velho Hwang. Como Gi-Gyu parecia confiante, o ferreiro também se iluminou um pouco.
Gi-Gyu afirmou: — Se Lou conseguir um corpo físico, será uma grande ajuda.
Lou parecia orgulhoso ao concordar.
“Totalmente.”
— Mas… — Gi-Gyu disse tranquilizador: — Mesmo que isso não funcione agora, vai ficar tudo bem. Se falharmos, podemos tentar novamente depois.
Gi-Gyu olhou diretamente nos olhos do Velho Hwang enquanto anunciava: — Vamos resgatar Min-Su, é claro. Se falharmos agora, podemos trabalhar nisso novamente depois de salvar seu neto. Ainda temos muito tempo, senhor. Por favor, não se preocupe.
O velho Hwang parecia mais tranquilo.
Lou também concordou.
“Bem… Tudo bem. Acho que você está certo.”
Gi-Gyu pensou que tudo estava resolvido, mas o Velho Hwang murmurou: — Mas tem mais uma coisa…
O ferreiro parou de caminhar diante de um local coberto por um pano escuro. O corpo físico de Lou não estava ali.
O Velho Hwang continuou cautelosamente, — Paimon tem outro descendente, lembra…?
Os olhos de Gi-Gyu se arregalaram. Quando o Velho Hwang removeu o pano escuro, o que Gi-Gyu viu o deixou sem palavras.
— …
Gi-Gyu podia sentir a determinação do ferreiro. Havia escuridão no rosto do Velho Hwang novamente. Não era por medo do fracasso; ele estava se forçando a enfrentar seu maior arrependimento.
Era hora do ferreiro enfrentar seu passado.
— Estou me referindo ao meu filho — sussurrou o Velho Hwang. A remoção do pano escuro revelou uma estátua de aparência grotesca olhando para Gi-Gyu.
***
— Você disse que podemos tentar fazer o corpo físico de Lou novamente, se necessário, mas… posso dizer que não será fácil. — O velho Hwang não tirou os olhos da estátua de aparência estranha.
‘Posso ver a semelhança’, pensou Gi-Gyu. A estátua parecia horrível; não parecia nada humano. A estátua não tinha pernas; em vez disso, tinha oito braços e um rosto em chamas. Parecia tudo, menos humano. Apesar de seu rosto estranho, Gi-Gyu tinha que admitir que se parecia com o filho do Velho Hwang, Hwang Chae-il.
— Os materiais necessários para fazer o corpo físico de Lou não serão fáceis de conseguir de novo. Se a transferência do Ego falhar, não sei se posso reutilizar os materiais. Eles podem atuar como insumos. É por isso que estou dizendo que não é tão simples quanto você pode acreditar.
O velho Hwang continuou: — Os materiais que usei para fazer este corpo para Lou não têm preço. Tornam o corpo físico dele quase perfeito. Mas se eu usar outra coisa… não haverá garantias. Podemos nem ter outra chance de fazer um corpo para Lou. Eu só…
Lou estudou o ferreiro enquanto ele murmurava,
“Esse corpo provavelmente é instável. Pode até ser como aqueles Egos falsos que ele costumava fazer antes. Acho que ele está preocupado com isso. Ele… só não quer fazer mais “falsificações”.”
O medo do velho Hwang era baseado em seu desejo de ser o maior artesão.
— Foi por isso que decidi trazer meu filho de volta. Pedi a Min-Su para fazer um corpo para meu filho, e agora está pronto. Mudei um pouco a aparência, mas foi feito usando os materiais e habilidades de Min-Su. — O velho Hwang acariciou a estátua de maneira cuidadosa, mas rude.
O homem idoso continuou: — Min-Su conseguiu me ressuscitar por causa do poder que possui como descendente direto de Paimon. Já que meu filho tem o mesmo sangue correndo em suas veias, ele pode aperfeiçoar ainda mais o corpo de Lou.
— Isso é… o corpo do Hwang Chae-il? — Gi-Gyu perguntou enquanto apontava para a estátua.
— É sim.
Gi-Gyu ficou quieto. Mesmo que dispensasse a ajuda de Hwang Chae-il com a situação de Lou, ele ainda teria que ressuscitar Hwang Chae-il. Afinal, Hwang Chae-il tentou abrir a porta para o mundo subterrâneo da Torre com a guilda Caravan, criada por Andras. Eles estavam atualmente em guerra com a mesma guilda e Andras, então eles precisavam desesperadamente do conhecimento de Hwang Chae-il.
‘Com ele, podemos aprender muito sobre a Primeira Poção e os segredos da herança de Paimon.’ Gi-Gyu sabia que precisavam de Hwang Chae-il. Eles adiaram isso só porque o velho Hwang era contra a ideia. Hwang Chae-il cometeu parricídio e quase sacrificou seu filho. Não cabia a Gi-Gyu perdoá-lo. O perdão tinha que vir do pai e do filho dele.
O velho Hwang construiu um novo corpo para o filho que o matou. Isso significava que o ferreiro o perdoou?
‘Ou ele fez isso apenas como um artesão?’ Gi-Gyu se perguntou se o único propósito do Velho Hwang para fazer isso era aperfeiçoar o corpo de Lou.
Gi-Gyu não conseguiu responder, mas não importava. Agora não era hora de refletir sobre os sentimentos do Velho Hwang. Já que o Velho Hwang havia criado voluntariamente o corpo, por que Gi-Gyu hesitaria?
— Esta estátua vai se tornar o corpo do meu filho… posso contar com você? — O velho Hwang pediu.
Gi-Gyu assentiu e perguntou: — Posso perguntar uma coisa, senhor?
Gi-Gyu se aproximou da estátua que seria Hwang Chae-il.
— Vá em frente — respondeu o ferreiro.
— Por que o corpo de Hwang Chae-il ficou dessa maneira? — perguntou Gi-Gyu. A estátua parecia grotesca e horrível. Ele não conseguia entender por que foi feito dessa maneira.
— É um castigo. — O velho Hwang explicou com tristeza: — Este é um castigo que estou dando ao meu filho para perdoá-lo.
Gi-Gyu assentiu, caminhou até a estátua e murmurou: — Atribuir.
O difícil processo finalmente começou. Lentamente, o Ego de Hwang Chae-il deixou o corpo de Gi-Gyu.
***
Depois que Gi-Gyu passou no teste do 50º andar, seu cargo se tornou Mestre de Egos. Mas ele não sentiu nenhuma mudança significativa. Seu nível de assimilação aumentado exponencialmente aumentou seus atributos. E tudo o que ele mantinha dentro de seu receptáculo era muito mais fácil de usar agora. Mas, Gi-Gyu esperava muito mais, considerando que passou por algo tão significativo quanto a mudança secundária de função.
‘Isso não é suficiente.’ Gi-Gyu não pôde deixar de se sentir desapontado. A mudança secundária de função era como uma bênção para os jogadores; era como ganhar na loteria. Mas era verdade que, embora alguns jogadores se tornassem incrivelmente poderosos com a mudança secundária de função, outros não. Gi-Gyu supôs que ele era o último.
Mas logo percebeu que havia se enganado.
[Como resultado de se tornar um Mestre de Egos devido à mudança secundária de função, uma habilidade oculta será revelada.]
[Atribuir será renomeada como Inserção.]
Esta foi a primeira mudança que Gi-Gyu experimentou.
[A Inserção do Ego desencadeou um início automático de outros processos.]
[Um determinado período de tempo será necessário para obter o melhor resultado.]
Gi-Gyu tirou a mão da estátua quando ouviu o sistema, ou a voz de Gaia.
O velho Hwang perguntou: — Acabou?
— Não tenho certeza — respondeu Gi-Gyu. A mudança abrupta tirou todas as garantias que Gi-Gyu tinha. Enquanto isso, a estátua permaneceu inalterada, ao contrário do que aconteceu quando o Velho Hwang ressuscitou.
O velho Hwang e Gi-Gyu observavam a estátua em silêncio quando…
— Hm? — Gi-Gyu engasgou, percebendo uma enorme quantidade de energia o deixou. Era, claro, uma pequena quantia em comparação com o total que ele possuía, mas ainda assim era uma grande quantidade.
— Ugh… — Gi-Gyu gemeu.
O velho Hwang perguntou preocupado: — O que há de errado?
Em seguida, a Morte deixou seu corpo. Embora perder energia não fosse grande coisa, a Morte o deixando era. Consequentemente, uma dor repentina o envolveu. Mas, finalmente, Gi-Gyu pôde ver algo acontecendo.
‘Estou sincronizando com ele.’ Gi-Gyu viu uma conexão fina como um fio entre ele e a estátua de Hwang Chae-il.
— Haa… — Gi-Gyu ofegou quando a Vida o deixou, por último. A experiência foi diferente de injetar Vida em espadas sagradas. Atribuir foi renomeado como Inserção, mas eram dois processos muito diferentes. Todos os componentes necessários foram automaticamente transferidos para a estátua de Hwang Chae-il.
— Isso é conveniente — comentou Gi-Gyu. Ele se sentia um pouco letárgico, mas era suportável. Animado sobre isso, ele olhou para o ferreiro.
— Hm…? Você está bem? — O velho Hwang olhou para ele com preocupação.
— Estou bem, senhor. Mas parece que esse processo levará um dia para ser concluído.
— Hmm…
— A propósito… — Gi-Gyu parou. Nenhuma energia deixou seu corpo, e a estátua de Hwang Chae-il começou a mudar. Então, era hora de discutir outra coisa.
— Tem algo que precisa falar comigo? — perguntou o ferreiro.
Gi-Gyu disse o nome do jogador paparazzo: — Go Hyung-Chul.
Go Hyung-Chul foi capturado no quarto de hospital de Suk-Woo e foi preso dentro do portal de Brunheart.
‘Ele tem os olhos de um demônio.’ Gi-Gyu se lembrou dos olhos vermelhos. — O que aconteceu com ele?
O velho Hwang deu a Gi-Gyu um sorriso cruel.
***
(*Isto é da perspectiva de Go Hyung-Chul)
‘Como isso aconteceu…?’
Ele não sabia mais quando era dia ou noite. O lugar não tinha sol nem lua, então ele teve que usar seu instinto de jogador para contar as horas, mas não foi fácil.
Ele desenterrou uma pá cheia de terra e sussurrou: — O que deu errado naquele dia…?
Com seus incríveis atributos, ele não deveria estar sentindo nenhuma dor, mas seus braços doíam muito. Há quanto tempo ele estava cavando? Quando foi a última vez que comeu uma refeição adequada? Ele não tinha ideia. Ele era um alto ranker respeitado, mas, agora, ele não tinha ideia do que estava fazendo neste lugar.
— Fique quieto — ordenou uma voz baixa de barítono. A voz sombria o encheu de medo. Mas, ao mesmo tempo, não pôde evitar a fúria que explodia dentro dele.
— Eu… eu…! — Ele não aguentava mais. Ele tentou escapar inúmeras vezes, mas não conseguiu uma vez. O que eram essas criaturas? Como conseguiram conter um jogador de alto nível como ele tão facilmente?
Este lugar era estranho. Isso o deixou imóvel e atordoado.
‘Não!’ Ele voltou a si e se virou.
‘Preciso correr agora.’ Havia apenas uma criatura o guardando. Ele acreditava que poderia lidar com essa criatura…
De repente, um chicote rasgou o ar bem na frente dele. O chão em que ele estava trabalhando rachou com a força, fazendo-o ofegar.
A voz feia perguntou: — Por que você não está trabalhando?
‘Acho melhor ficar por aqui mais um pouco’, disse a si mesmo. Só mais um pouco, e ele acreditava que poderia ter outra chance de escapar. A coisa que havia rasgado o ar agora não era um chicote, mas o rabo da criatura. Se ele fosse atingido por esta cauda, ele iria…
‘Eu vou morrer.’
Go Hyung-Chul ainda não podia morrer porque tinha que cumprir um objetivo. Ele pegou a pá novamente e olhou em volta.
No momento ele estava…
— Como puderam me pedir para cavar um canal sozinho? — ele murmurou.
Nesse momento, uma voz familiar o chamou: — Go Hyung-Chul.
Fazia muito tempo que não ouvia seu próprio nome. Go Hyung-Chul se virou lentamente em direção ao som.