Capítulo 260
Templo Shaolin (3)
— Entre, por favor. — Sun Won gesticulou para Gi-Gyu entrar em seu quarto.
Gi-Gyu olhou para ele estranhamente. Sun Won disse que queria mostrar algo a Gi-Gyu, mas acabou de convidá-lo para seu quarto.
Gi-Gyu não pensou por muito tempo. Ele podia ler as emoções de Sun Won, que estavam descompassadas. Não havia hostilidade em seu rosto em relação a Gi-Gyu.
Ele pensou sem jeito: ‘Posso sentir o coração dele palpitando de emoção.’
Um monge careca estava animado por ter Gi-Gyu em seu quarto particular. Gi-Gyu estranhou, mas entrou devagar.
Sun Won entrou primeiro no quarto, e quando Gi-Gyu deu um passo para dentro…
Os olhos de Gi-Gyu se arregalaram. Algo em seu entorno mudou de repente. Tudo o que ele fez foi entrar no quarto de Sun Won, mas o espaço se deformou sutilmente. O quarto ainda parecia perfeitamente normal, mas a energia dentro parecia muito estranha. Era uma experiência totalmente nova para Gi-Gyu.
— Que alívio — disse Sun Won. Gi-Gyu tinha acabado de dar o primeiro passo para dentro, então aquele comentário não fazia sentido. Ainda assim, ele rapidamente retirou sua suspeita e o seguiu.
***
— Isto é para você. — Sun Won entregou a Gi-Gyu uma xícara de chá que ele havia preparado.
Gi-Gyu engoliu o chá quente antes de cuspi-lo de volta.
Sun Won brincou: — Você é um homem impaciente, não é? Está fervendo, então, por favor, tome cuidado.
A voz de Sun Won soou quase infantil, como se ele estivesse antecipando algo empolgante. Ele parecia relaxado, o que era o oposto de como Gi-Gyu se sentia. Ele estava morrendo de vontade de aprender sobre algo nesta sala, então beber chá e conversar assim parecia uma perda de tempo para ele.
Controlando sua impaciência, Gi-Gyu respondeu: — O chá está delicioso. Agora, por favor, mostre-me do que você estava falando.
Mas para a decepção de Gi-Gyu, Sun Won permaneceu sentado.
Ele perguntou: — Você sabe alguma coisa sobre Bodhidharma?
Era uma pergunta um tanto aleatória, mas Gi-Gyu respondeu calmamente: — Ouvi dizer que ele é o fundador das artes marciais Shaolin.
Havia muitas histórias sobre esse monge, mas Gi-Gyu não conhecia a fundo essa figura. Tudo o que ele ouviu foi que havia um homem chamado Bodhidharma que havia criado as artes marciais Shaolin. Ele aparentemente cortou as pálpebras porque acreditava que dormir era uma perda de tempo. Muitos chineses até o reverenciavam como um deus.
Sun Won sorriu e disse: — Bodhidharma veio da Índia para a China e criou o Templo Shaolin e suas artes marciais.
— …
— O que você acha das artes marciais de Shaolin? — perguntou Sun Won.
Gi-Gyu respirou fundo e respondeu: — Acho incrível. Foi criado em uma época sem magia, mas seus movimentos sugerem que seu criador sabia da existência dela. Acho que esses movimentos podem dar poder adicional aos jogadores.
Isso era exatamente o que Gi-Gyu pensou quando viu as artes marciais Tao Chen e Shaolin.
Gi-Gyu adivinhou que foi criado por um dos clones governantes que Gaia havia criado. Claro, ele não estava 100% certo sobre isso.
— Isso mesmo. — Sun Won terminou seu chá e explicou: — As artes marciais de Shaolin mudaram muito desde o seu início. E várias décadas atrás, a Torre e os jogadores apareceram.
Gi-Gyu estava ficando entediado. Este era definitivamente um tópico interessante, mas não era o que ele queria descobrir agora.
— Há algo interessante… — Sun Won continuou: — Quanto mais perto você chegar da raiz das artes marciais Shaolin, mais conectado se sentirá com a magia. Quando Bodhidharma criou suas técnicas pela primeira vez, há muito tempo, ele podia doar habilidades para aqueles que treinavam suas artes.
— …! — Gi-Gyu ficou boquiaberto.
— Isso não é interessante?
— Você está dizendo que tem algo a ver com o que estou sentindo aqui agora? — perguntou Gi-Gyu.
— Não sei. — Sun Won balançou a cabeça. — Estou apenas adivinhando o que deve ser. É por isso que eu queria te mostrar este lugar, Morningstar. O Templo Shaolin foi reparado e modificado muitas vezes. Mas, certos lugares sempre foram deixados intocados.
Sun Won levantou-se e continuou: — Por exemplo, o quarto do líder do templo. Todos os monges chefes anteriores trabalharam duro para manter esta sala inalterada, independentemente da situação. Depois que me tornei o chefe…
Sun Won lentamente empurrou um velho armário para o lado, revelando uma parede simples. Mas Gi-Gyu sentiu algo estranho e avassalador com isso.
— Descobri por que eles trabalharam tanto… Era por isso.
Gi-Gyu se levantou e caminhou até a parede também. Sun Won empurrou lentamente a parede, que se moveu com uma vibração suave.
— Você sabe por que Shaolin foi criado? — Sun Won soou misterioso.
Gi-Gyu não respondeu.
Sun Won respondeu à sua própria pergunta: — Foi para proteger esta sala. Pode dizer que o Shaolin original existiu para proteger esta sala.
A parede se abriu e Sun Won perguntou: — Gostaria de entrar?
***
Gi-Gyu não conseguiu esconder seu choque.
Em primeiro lugar, ele não fazia ideia de que havia um espaço escondido atrás do armário. Além disso, parecia um espaço normal até ele entrar. Ele se perguntou por que era assim.
Segundo, a energia que ele sentia desse espaço estava se aprofundando. Isso não fazia sentido. Nada que ele soubesse poderia explicar esta sala.
Em terceiro lugar…
Sun Won parou.
— O que você está fazendo? — Gi-Gyu perguntou.
— Aqui é o máximo que posso entrar. — Sun Won explicou que nunca havia chegado ao final da sala secreta. — Todos os líderes anteriores do templo sabiam sobre esta sala, mas nenhum conseguiu chegar ao fim.
A área atrás da parede lembrou Gi-Gyu do espaço que ele havia visto durante o teste do 50º andar – a câmara das memórias. Este espaço cheirava a nada, fazendo-o sentir como se estivesse entrando em um mundo completamente diferente.
Era como um…
‘O mundo dentro de um receptáculo, Gi-Gyu pensou maravilhado.
— Vou te mostrar o porquê. — Sun Won deu um passo à frente de Gi-Gyu, mas ele se chocou contra algo como uma parede invisível com um baque alto.
— Os chefes anteriores deste templo não conseguiram descobrir o que é este lugar. Tudo o que sabemos é que Bodhidharma criou este espaço e nos ordenou protegê-lo — explicou Sun Won.
Uma pergunta surgiu na cabeça de Gi-Gyu. — E um dos ex-monges principais traiu o Templo Shaolin?
Muito tempo se passou desde que este templo foi construído. Não havia como todo monge-chefe da história ter sido um homem ético e honesto. Sempre que havia algo raro envolvido, como um tesouro ou artes marciais, a ganância inevitavelmente seguia.
Tinha de haver alguém que quisesse saber mais sobre este espaço e torná-lo seu. Alguém que queria vender esse segredo por riqueza ou poder.
E após o aparecimento da Torre e dos jogadores, o valor do segredo deve ter aumentado drasticamente. Então, todos os ex-monges chefes mantiveram esse segredo em segurança?
— Fico constrangido de dizer que nenhum dos monges-chefes do passado traiu o templo. Se foi voluntário ou não, não sei. Mas ninguém foi capaz de revelar esse segredo ao público — respondeu Sun Won.
— Por causa do feitiço Tabu? — perguntou Gi-Gyu.
— Sim.
Gi-Gyu achou isso chocante. Como alguém poderia colocar o feitiço Tabu quando nenhuma magia existia neste mundo naquela época?
Quem foi Bodhidharma? Gi-Gyu não achava que ele era simplesmente um dos governantes.
Sun Won murmurou: — O segredo desta sala não pode ser falado para alguém que não é digno. No momento em que sairmos desta sala, não nos lembraremos de nada. Consequentemente, ninguém foi capaz de comunicar o mistério desta sala a qualquer estranho. E se alguém indigno de alguma forma descobrir o segredo…
Gi-Gyu finalizou a explicação de Sun Won: — A energia desta sala mata tanto quem fala quanto quem ouve.
Gi-Gyu não percebeu que a estranha energia na sala tinha um poder tão mortal.
— Sim, é um castigo. A lenda diz que o digno encontrará este lugar quando chegar a hora. Não duvido que essa pessoa seja você, Morningstar. A prova é que consegui me lembrar do segredo da sala quando te vi. Honestamente, eu sabia disso no momento em que te conheci, mas não queria acreditar. Pelo menos não até você me derrotar. — Sun Won se virou. Ele aparentemente planejava sair da sala, deixando Gi-Gyu para trás.
— Deixe-me perguntar uma coisa. — Gi-Gyu parou Sun Won, que estava saindo. — Já houve outra pessoa digna no passado?
Sun Won não parou nem respondeu. Gi-Gyu não fez mais perguntas, mas de repente ouviu a voz de Sun Won.
— Apenas um — respondeu Sun Won. — Acredito que houve apenas uma pessoa antes de você.
Gi-Gyu não se incomodou em perguntar quem era. Ele sabia que descobriria em breve, uma vez lá dentro.
Ele caminhou um passo de cada vez, sem sentir nenhuma resistência como Sun Won.
‘Acho que isso significa que sou digno.’
Ou pode significar que o selo deste lugar e a habilidade Tabu não conseguiram detê-lo. De qualquer forma, o motivo não importava.
— Consigo sentir o poder de deus aqui… Por que isso? — Gi-Gyu entrou, ciente de que encontraria a resposta lá dentro.
***
A sala era mais longa do que ele esperava. Ele continuou andando apesar de não acreditar que aquele era um espaço físico real.
— Acho que é mais como uma porta conectada a uma dimensão diferente.
Seu primeiro palpite foi que aquilo era um portal. Pelo menos era muito parecido, por isso ele achou fascinante.
Os portais apareceram depois da Torre. E para ser preciso, eles apareceram apenas quando os jogadores descobriram os andares superiores da Torre.
— Mas este lugar foi criado muito antes disso.
Esta porta foi criada bem antes da Torre e os jogadores aparecerem. A energia que preenchia este espaço contou a Gi-Gyu sobre sua longa história.
Conforme continuou, Gi-Gyu não pôde deixar de ficar entediado. Ele queria correr, mas não podia. A energia do quarto de Sun Won saturava esse espaço. Parecia tão instável que, se ele usasse muito de seu poder, havia uma chance de o espaço explodir.
Gi-Gyu deu cada passo com cuidado.
— Por que o poder de deus está aqui? — Ele queria abrir o portal do Éden e perguntar, mas não foi possível.
Depois que deus morreu, Gaia assumiu seu poder e Gi-Gyu ficou com uma pequena parte dele. Ele não esperava encontrar mais disso tão cedo. Não havia muito. Comparado com o que ele tinha, a quantia aqui era mínima. Mas era o suficiente para preencher todo esse espaço.
O mistério da energia o surpreendeu.
— Simplesmente não consigo entender. — Gi-Gyu continuou andando. Ele pensou que estava perto de aprender todos os segredos, mas…
— Encontrei outro segredo.
Felizmente, ele poderia encontrar a resposta para isso muito em breve.
De repente, Gi-Gyu parou ao sentir uma energia diferente de longe.
— É algum tipo de guardião?
Uma criatura com poder incrível estava à frente dele. Gi-Gyu não achava que esse ser pudesse usar o poder de deus, mas era tão poderoso quanto um alto ranker, despertando ainda mais sua curiosidade.
Gi-Gyu avançou e estava diante do guarda em um piscar de olhos.
O soldado parecia feito de barro porque estava rachado em muitos lugares. Mas, apesar de sua aparência, o poder que detinha era surpreendente.
– Eu permito… o digno…
Quando a boca do soldado de barro se abriu, uma voz desumana soou na cabeça de Gi-Gyu. Como a comunicação era mental, não havia barreira de idioma.
– …entrar.
Com a permissão do soldado de lama, a parede atrás do mausoléu foi aberta. Gi-Gyu pensou que era uma parede branca, mas era uma porta.
– Eu permito… o digno…
O soldado de barro agia como uma boneca quebrada, se repetindo infinitamente. Gi-Gyu ignorou e entrou pela porta atrás do soldado. Mas, de repente, ele parou.
– Eu permito… o digno…
O soldado continuou a se repetir. Gi-Gyu se virou, se dirigiu a ele e viu os olhos do soldado brilhando em vermelho. Foi apenas por um momento, mas ele pôde sentir a magia selvagem e a hostilidade por trás dos olhos.
Mas…
Gi-Gyu agarrou a cabeça do soldado. — Eu não planejava usar meu poder, mas…
Isso era bom demais para ignorar.
Gi-Gyu anunciou: — Sincronizar.
