Capítulo 290
Dias Estranhos (2)
Bzzz.
— Hm? — Gi Gyu olhou para baixo. Ele não conseguia se lembrar da última vez que usou ou interagiu com seu telefone. Ele verificou o identificador de chamadas e viu que era de outro país.
— Um número estrangeiro?
Após uma breve pausa, ele respondeu: — Alô?
Recentemente, depois que seu status de procurado foi dissolvido, Gi Gyu ligou seu telefone e começou a andar com ele novamente. Seu celular muitas vezes era destruído durante as batalhas, então ele costumava mantê-lo no Éden por segurança.
– Como tem passado?
Um sorriso se espalhou nos lábios de Gi Gyu. — Senhor Tao Chen?
Era Tao Chen.
– Cheguei em segurança na China. Não estar sincronizado com você com certeza é inconveniente.
— Eu ouvi a notícia. — Gi Gyu já tinha ouvido falar da chegada de Tao Chen à China. — E ouvi dizer que outra pessoa será o presidente. Isso é verdade?
– Sim, provavelmente. Não tenho capacidade para liderar um país grande como a China. Para mim, ficar ao seu lado e continuar lutando seria melhor.
Gi Gyu riu. — Então você não recusou o cargo porque isso colocaria muitas limitações em você como jogador?
– Hahaha.
Tao Chen riu antes de acrescentar:
– Voltarei para a Coreia em breve. Espero que me chame antes de sua próxima grande batalha.
— Claro. — Gi Gyu estava prestes a desligar.
Tao Chen acrescentou: — Tenho novidades.
— …
– Há um boato circulando sobre o governo coreano. Eles estão fingindo formar um bom relacionamento com você por enquanto, mas na verdade o veem como uma ameaça e…
— Eu já sei.
– Foi o que eu pensei. Se precisar, você será bem-vindo na China.
— Obrigado, Tao Chen. — Gi Gyu finalmente desligou. Ele já sabia que o governo coreano estava planejando algo. Depois que a ACJ entrou em colapso e as guildas Caravan e Ferro assumiram sua posição apenas em espírito, o Departamento de Assistência de Jogadores da Coreia finalmente ganhou alguma autoridade.
Eles poderiam finalmente manter os jogadores sob controle, então nunca iriam querer abrir mão de tal posição de poder. Eles estavam usando Gi Gyu por enquanto porque precisavam dele. Mas não havia dúvida de que gostariam de retomar o poder.
— Era Tao Chen? — Soo-Jung, que estava ao lado de Gi Gyu, perguntou. Ela estava bem vestida hoje e parecia muito diferente.
— Sim. Ouviu tudo agora há pouco, não foi? — perguntou Gi Gyu.
— Sim. Então o que você vai fazer?
— Sobre o quê?
Soo-Jung explicou calmamente: — O governo coreano ainda controla a área ao redor da sua casa. Se eles o considerarem uma ameaça, as coisas podem ficar muito chatas, não acha?
— Tenho certeza de que Sung-Hoon e Rohan cuidarão de tudo — respondeu Gi Gyu.
E se algo que ele não aprovasse acontecesse…
‘Não quero pensar nisso ainda.’ Gi Gyu já estava cansado de todas as outras coisas que precisava cuidar. O mundo inteiro estava em perigo, então ele não esperava que o governo coreano fizesse algo idiota por um tempo.
— Então vamos almoçar agora — anunciou Soo-Jung.
Logo, Soo-Jung e Gi Gyu estavam em Gangnam. Já fazia muito tempo que eles não andavam juntos pelas ruas. Eles passearam perto da antiga sede da ACJ.
— Espere, temos mais gente vindo — disse Gi Gyu a ela.
— O quê? — Soo-Jung ficou confusa, mas logo sentiu duas presenças familiares se aproximando deles. Ela sorriu amargamente. — Ugh…
— Unnie!
— Sinto muito pelo atraso, Mestre.
O portal de Gi Gyu se materializou; Yoo-Bin e El saíram.
Gi Gyu explicou a Soo-Jung: — Você disse que deveríamos sair para almoçar juntos, não foi? Então pensei que seria ótimo se todos fôssemos juntos.
Soo-Jung queria dar um tapa nele, mas apenas balançou a cabeça e olhou para o semblante triunfante de Yoo-Bin e El.
— Tudo bem, vamos… — Soo-Jung murmurou.
O grupo começou a caminhar. Um casal que estava por perto cochichou entre si.
— Aquelas pessoas não apareceram do nada? — uma mulher perguntou.
— Do que você está falando? Isso não faz sentido — respondeu um homem de moletom.
— Eles não estavam falando sobre Tao Chen…? Não é esse o nome do ranker chinês?
— Pare de falar bobagem. Vamos nos atrasar para a nossa reserva — insistiu o homem.
— Mas eu juro que… — A mulher parecia curiosa, mas seu companheiro a arrastou embora.
De longe, outro homem assistiu a tudo. Ele pegou o telefone e relatou: — Morningstar está em movimento. Ah, sim, sim. Ele está com aquela anjo e a ranker Shin Yoo-Bin. Sim, tudo bem. Vou mantê-lo atualizado.
O homem desligou e começou a seguir Gi Gyu.
***
Gi Gyu pegou uma garfada grande de macarrão, pintando os lábios com o molho.
— Mestre.
— Oppa!
Yoo-Bin e El tentaram limpar sua boca para ele, mas já era tarde demais. Gi Gyu rapidamente limpou sozinho. A dupla agiu rápido, mas não foi tão rápido quanto ele.
— Ah! Isso é… loucura — Soo-Jung murmurou enquanto comia seu risoto.
Gi Gyu parecia confuso. Ele sussurrou: — Vocês não precisam fazer isso, El. E… — Enquanto olhava em volta, ele perguntou hesitantemente: — Você poderia não me chamar de ‘mestre’ quando estivermos aqui fora…?
Eles estavam em um restaurante caro, então não havia muitas pessoas lá dentro. No mar de sussurros do restaurante, a frase de El atraiu alguns olhares. Afinal, com que frequência alguém poderia ouvir “mestre” em um restaurante público?
El parecia angustiada. — Então como devo chamá-lo?
Ela não conseguia se imaginar chamando Gi Gyu de outra forma que não de “mestre” . Ela parecia tão estressada quanto quando estava lutando contra Ha Song-Su.
Gi Gyu sugeriu: — Você pode se dirigir a mim de maneira mais informal.
— Mas como eu poderia…?! — El parecia chocada.
— Então você deveria chamá-lo de ‘oppa’ também, unnie! — Yoo-Bin sugeriu.
— O…ppa…? — El parecia ainda mais confusa.
Percebendo que isso não levaria a lugar nenhum, Gi Gyu rapidamente mudou de assunto. — Vamos descobrir isso mais tarde. Por enquanto, vamos apenas comer. Estou comendo uma massa tão gostosa depois de muito tempo. Vocês estão gostando da comida?
— Sim, é boa — respondeu Soo-Jung.
— Eu teria preferido que fosse só você e eu, oppa. Ugh… — Yoo-Bin reclamou
— O…ppa… — El sussurrou com incerteza.
Gi Gyu olhou para as três mulheres e sorriu. Ele nem conseguia se lembrar da última vez que esteve tão relaxado. Então, ele estava gostando muito desse descanso.
Soo-Jung limpou os lábios e perguntou: — O que Lou está fazendo?
— Acho que ele está se sentindo melhor porque voltou a treinar. Lou também absorveu um monte de energia mágica da última vez, então acho que encontrou uma maneira de ficar mais poderoso — explicou Gi Gyu.
— Isso é ótimo. E a situação com Paimon ainda é a mesma? — perguntou Soo-Jung.
— Sim.
Eles conversaram por mais algum tempo antes de sair do restaurante.
O homem que observava Gi Gyu da mesa de canto do mesmo restaurante fez outra ligação. — Sim, sim. Morningstar acabou de sair.
***
Como todas as outras pessoas normais, eles aproveitaram o dia. Os portais e a Torre ameaçavam o mundo, mas os não-jogadores ainda levavam vidas normais. Gi Gyu e seu grupo assistiram a um filme antes de passear na rua.
Gi Gyu olhou em volta e murmurou: — Este parece um mundo totalmente diferente.
O golpe chinês, o plano de dominação mundial de Andras, a invasão do Éden por Ha Song-Su, a morte de milhares de monstros…
— Tudo parece um sonho — murmurou Gi Gyu. Enquanto caminhava pela rua, a cena que via parecia surreal comparada à realidade que enfrentava diariamente. O mundo exterior parecia tão pacífico. Mesmo agora, novos portais se abriam continuamente. Independentemente das ações de Andras, Cronos e Gi Gyu, os portais ainda estavam abrindo e os jogadores normais ainda faziam o possível para fechá-los.
‘Claro, eles não estão fazendo isso apenas para salvar o mundo…’
Os jogadores faziam o seu trabalho principalmente para obter ganhos financeiros, mas ainda assim arriscavam as suas vidas para manter a paz.
— Este é o outro lado da paz — Soo-Jung entrou na conversa. Assim como ela havia dito, todos viviam do outro lado da paz. Eles estavam travando batalhas perigosas e sangrando pelos não-jogadores.
Gi Gyu franziu a testa de repente ao ouvir a conversa entre alguns estudantes do ensino médio próximos.
— Então se chama Éden? Ouvi dizer que a ACJ está sendo reformulada.
— É idiotice. Porque eles estão fazendo isso? Tão irritante.
— Tudo parecia tão pacífico e tranquilo, mas agora, isso.
Eles estavam conversando sobre a nova associação que Sung-Hoon estava construindo. Os meninos do ensino médio continuaram a conversar.
— Eu também gostaria de ser jogador. Tudo que eu teria que fazer seria matar alguns monstros e ganharia muito dinheiro. E as pessoas te respeitam por isso. É uma vida fácil.
— Hahaha! Você fala como se respeitasse os jogadores!
— Bem, eu respeito! Eles ganham muito dinheiro, então merecem ser respeitados!
A conversa deles fez Gi Gyu franzir a testa, mas ele sabia que isso era realidade. Ele não os culpou por seus pensamentos. Além disso, ele atualmente tinha coisas mais importantes com que se preocupar.
— O que há de errado? — Soo-Jung perguntou.
— Espero que todos estejam bem — perguntou Gi Gyu.
— Quem?
— Tae-Shik hyung, Suk-Woo e… — Gi Gyu parou. Ele estava pensando em sua mãe e em Yoo-Jung. Ele nem sabia onde elas estavam ou se ainda estavam vivas. Ele tentava acreditar que elas estavam seguros, mas não conseguia deixar de se preocupar com elas a cada momento do dia.
Gi Gyu estava fazendo tudo ao seu alcance para localizá-las, mas…
‘É como se eles tivessem desaparecido deste mundo.’
Isso explicava por que ele não conseguia encontrar nenhuma evidência física de suas existências.
Onde elas estavam?
Sua mãe e irmã deveriam estar aproveitando suas vidas assim como todos os outros não-jogadores do mundo. Mas Gi Gyu temia que sua família estivesse em algum lugar sofrendo sem o seu conhecimento.
Ele se sentia frustrado e desesperado. Ele tentava ser paciente, mas esses pensamentos o assombravam.
— Achei que você estivesse irritado com outra coisa. — Soo-Jung olhou para eles com os olhos semicerrados. — Você não fez nenhum movimento, então não fiz nada, mas… me incomoda.
De repente, Soo-Jung se virou para olhar alguma coisa.
Gi Gyu concordou. Realmente, ele tinha sido muito paciente.
— Ei! — Soo-Jung gritou quando Gi Gyu desapareceu de repente. Ele foi tão rápido que elas nem perceberam para onde ele foi.
— Oppa! — Yoo-Bin também o chamou, mas já era tarde demais. Ele se foi.
— O…ppa…? — El parecia ser a única que ainda não tinha percebido o que estava acontecendo.
— Haa… — Soo-Jung suspirou e esfregou a testa. — Devíamos voltar agora.
Ela presumiu que Gi Gyu cuidaria de tudo. Ela estava preocupada que Gi Gyu pudesse explodir.
‘Ele é como uma bomba-relógio… Ele deveria aproveitar esta oportunidade para liberar um pouco de seu estresse.’
Realmente, Gi Gyu estava reprimindo sua raiva. Se algo o acionasse, Soo-Jung não tinha ideia de como ele poderia liberá-lo. Por enquanto, ele parecia ter pelo menos um controle decente sobre si mesmo. Então ele precisava liberar em cada oportunidade que tivesse.
Uma oportunidade como agora.
Gi Gyu apareceu de repente na frente do homem que estava fazendo outro relatório.
— Sim… Morningstar agora está… — O homem não conseguiu continuar. Ele tremeu e Gi Gyu tirou seu celular.
– Por que você não está reportando?!
A voz do outro lado do telefone gritou.
Gi Gyu atendeu o telefone: — Este é o secretário assistente Kim Sung-Moo?
Realmente era Kim Sung-Moo.
– …
Não houve resposta. A ligação foi rapidamente desconectada e Gi Gyu transformou o telefone em pó.
Fwoosh.
Gi Gyu se virou para o homem que se reportava a Kim Sung-Moo. Ele perguntou: — Onde está o homem com quem você estava conversando?
— …!
— Responda, por favor. Não estou de bom humor agora — acrescentou Gi Gyu baixinho. Ele temia ter deixado Kim Sung-Moo subestimá-lo.