Capítulo 293
Dias estranhos (5)
O funeral de Tae-Oh foi um evento pequeno. Ninguém o conhecia realmente e ele não tinha mais família. Seu funeral aconteceu num canto do Éden. Os únicos participantes foram Gi-Gyu e Sung-Hoon. Não havia necessidade de quem não conhecia Tae-Oh comparecer.
Mas El esperou por Gi-Gyu até o funeral de Tae-Oh terminar.
— Mestre.
— El.
Com a cabeça baixa, Gi-Gyu se aproximou de El e ela o abraçou com força, sem dizer uma palavra. Ele ficou surpreso com a ação inesperada dela, mas não a afastou.
Ele permaneceu nos braços de El por um tempo.
— Você está indo muito bem, Mestre. Por favor, não duvide do caminho que seguiu. — El murmurou. — Não importa o que os outros digam, não pare. Você está fazendo a coisa certa, então siga em frente.
Ela, em essência, queria dizer que Gi-Gyu nunca poderia estar errado, o que era uma coisa bastante irresponsável de se dizer. No entanto, ele não pôde deixar de se sentir consolado.
— Obrigado, El.
— E você pode parar a qualquer momento. Pode buscar conforto se estiver muito cansado. Tudo o que quero fazer é ajudá-lo a encontrar a felicidade…
Gi-Gyu deu um passo para trás. El parecia um pouco confusa no início, mas sorriu timidamente. Ela parecia tão linda para ele.
‘Essa foi por pouco.’ Gi-Gyu suspirou secretamente. Em seu abraço reconfortante, ele quase começou a chorar. A morte de Tae-Oh certamente o entristeceu, mas ele tirou mais raiva do que tristeza disso. Ele não tinha vontade de chorar por causa disso.
‘Algo parece estranho…’ Gi-Gyu estava confuso, mas escondeu seus sentimentos, sorriu de volta e respondeu: — Sua presença me ajuda muito, El.
El se curvou profundamente, confundindo Gi-Gyu.
— …? — Gi-Gyu inclinou a cabeça, se perguntando o que El estava fazendo.
El olhou para ele e sussurrou: — Querido… estou aqui para ajudá-lo.
— …?
— Yoo-Bin disse… que irira te animar… se eu dissesse isso para você. Eu sinto muito! — El fugiu envergonhada, fazendo Gi-Gyu sorrir. Ele tinha que admitir que foi um pouco estranho, mas ela acabou fazendo com que ele se sentisse melhor.
Ele se sentiu grato a El e Yoo-Bin.
***
— Então… — Os olhos de Gi-Gyu se arregalaram em descrença. — Você quer que eu ordene que você faça alguma coisa?
— Isso mesmo — respondeu Paimon. Ele parecia irritado porque Gi-Gyu não estava fazendo o que ele havia pedido imediatamente. — Me dê uma ordem. Você sabe o quão forte é essa sincronização?
— Não.
— Então eu preciso verificar isso. Quero saber que tipo de poder você tem sobre mim. Por que não estudou seu próprio poder até agora? — Paimon parecia frustrado. Ele então se virou para o Velho Hwang, Hwang Chae-il e Hart, que se encolheu.
Paimon continuou: — Esses dois são apenas ferreiros, então posso entender a ignorância deles. Mas aquele lich ali. Hart! Por que você nunca aconselhou seu mestre a estudar isso? Tem certeza de que é um lich de raça pura?
Chacoalha.
— … — Hart caiu, tremendo de medo.
‘Paimon fez alguma coisa com Hart? Talvez um treinamento mental especial ou algo assim?’ Gi-Gyu se perguntou.
Enquanto isso, Paimon estalou a língua em desaprovação e ordenou: — Então me dê uma ordem.
— Ordenar o quê? — Gi-Gyu não conseguia pensar em nada.
— Por enquanto, tente qualquer coisa.
— Hmm… — Gi-Gyu esfregou o queixo e pensou um pouco antes de ordenar: — Dirija-se a mim de forma mais formal.
— … — Paimon franziu a testa por um momento antes de perguntar: — Esse é o fim do seu comando, Mestre?
— …! — Gi-Gyu estremeceu com o tom respeitoso de Paimon.
— Entendo, então é assim que funciona. Hmm… Suas palavras parecem me incentivar fortemente a segui-las, Mestre. — Paimon aparentemente percebeu algo.
Mas Gi-Gyu se sentiu tão desconfortável com a mudança no tom de Paimon que acrescentou: — Por favor, volte ao normal…
— Ah… então é assim que funciona. Se o seu pedido corresponder ao que desejo, a vontade fica ainda mais forte. Essa foi uma excelente ordem. — Paimon elogiou Gi-Gyu.
— Haa…— Gi-Gyu suspirou.
— Tente me dar outro pedido. Talvez algo maior desta vez.
— O que você quer dizer com ‘maior’? — perguntou Gi-Gyu.
— Algo que eu poderia odiar. Me dirigir a você formalmente não foi difícil, então, embora eu tenha sentido um pouco de hesitação, não foi um problema. Mas não sei o que acontecerá se me obrigar a fazer algo mais difícil.
— … — Gi-Gyu pensou por um momento antes de ordenar: — Corte sua mão.
Mas no momento em que ele disse as palavras, Gi-Gyu acrescentou rapidamente: — Pare!
Gi-Gyu cancelou o pedido porque Paimon estava prestes a cortar sua mão.
— Ah, vamos lá. Essa também foi fácil — resmungou Paimon.
— … — Gi-Gyu não conseguia acreditar que Paimon achava que se machucar era muito fácil. A dor era irrelevante para todos os demônios?
Paimon ofereceu: — Você precisa de um exemplo? Tudo bem, vamos tentar isso. Vou te dizer o que odeio.
Paimon começou a listar todas as coisas que ele não gostava. — Odeio ver armas mal feitas. Eu odeio como os ferreiros não qualificados me respondem. Não gosto de como as pessoas ficam impressionadas com o mistério…
Enquanto Paimon continuava, Gi-Gyu pensou o que deveria ordenar que ele fizesse. Ele entendia o que Paimon odiava, mas queria aproveitar a oportunidade para pregar uma peça no demônio.
‘Eu quero algo maquiavélico…’ Gi-Gyu queria algo que envergonhasse Paimon. Algo que o ajudasse a liberar um pouco de sua raiva. Paimon estava pedindo por isso e Gi-Gyu sabia que esta era uma chance rara.
Paimon ainda estava listando todas as coisas que odiava quando Gi-Gyu murmurou: — …Gyu.
— …? — Gi-Gyu falou tão baixo que Paimon não o ouviu. Paimon parou e se virou para Gi-Gyu.
— Dance como um louco enquanto finge ser um coelho e diga em voz alta que você é um idiota e servo leal de Kim Gi-Gyu.
— …!
— …!
— …!
O Velho Hwang, Hwang Chae-il e Hart ficaram boquiabertos em estado de choque.
Chacoalha.
Hart ficou tão surpreso que seu maxilar inferior se desfez.
— T-Tudo bem — Paimon murmurou e olhou para Gi-Gyu com sede de sangue. Lentamente, ele começou a dançar.
— Pff…
— Pff…
O Velho Hwang e Hwang Chae-il fizeram o possível para suprimir o riso.
— Eu sou um idiota… — Paimon começou a entoar.
Gi-Gyu só cancelou seu pedido depois de dez minutos completos.
— Haa… — Gi-Gyu suspirou, sentindo como se finalmente tivesse aliviado um pouco de seu estresse.
— … — Paimon olhou para baixo, seus olhos cheios de arrependimento.
— Ah. — Gi-Gyu se virou para Paimon como se tivesse se lembrado de algo. A sintonização de Paimon ainda estava incompleta; ele estava no último nível. Gi-Gyu ainda não tinha perguntado a ele como Ha Song-Su estava no inferno. Paimon deveria dizer isso a ele depois de sintonizar.
— Tenho uma coisa que quero te perguntar — sussurrou Gi-Gyu. Quando Paimon viu a expressão séria nos olhos de Gi-Gyu, ele se endireitou e o encarou.
***
Gi-Gyu terminou sua conversa com Paimon. As perguntas que ele fez eram coisas que apenas Paimon poderia responder.
‘Júpiter e minha fusão…’
Gi-Gyu havia se fundido com Júpiter, mas não tinha certeza se a consciência de Júpiter estava adormecida ou completamente desaparecida. Até agora, Gi-Gyu não teve nenhum contato com ele. Gi-Gyu não tinha ideia exatamente do que havia acontecido e qual foi o resultado.
Paimon demonstrou interesse em aprender mais sobre a sincronização, então Gi-Gyu ficou curioso sobre suas descobertas.
‘Paimon e eu somos muito parecidos’, pensou Gi-Gyu. Assim como ele e Júpiter, Paimon se tornou um com Min-Su.
Claro, a situação deles não era exatamente a mesma. Gi-Gyu e Júpiter eram um só em corpo e mente, enquanto no caso de Paimon, havia um corpo com duas consciências. Mas apesar da diferença, este era o mais próximo do caso de Gi-Gyu.
Outro caso que Gi-Gyu considerou foi o caso de El e Yoo-Bin. Elas compartilhavam um pedaço de Asmodeus, mas ele não sentiu que era igual ao seu caso.
‘Mas talvez o que aconteceu com Yoo-Bin seja semelhante ao que aconteceu comigo.’
El não absorveu o poder que a peça de Asmodeus ofereceu, mas Yoo-Bin sim. Por causa disso, até a personalidade dela mudou.
Gi-Gyu queria saber exatamente o que havia acontecido com ele, então pediu ajuda a Paimon. Ele pediu que sua condição fosse estudada e Paimon concordou sem hesitação.
Após o encontro com Paimon, Gi-Gyu saiu da sala. Ele estava saindo quando parou.
Alguém estava encostado na parede observando Gi-Gyu.
— Podemos conversar um pouco? — Soo-Jung perguntou.
— Ei, Soo-Jung.
Soo-Jung continuou encostada na parede e acrescentou: — Quero perguntar uma coisa.
Soo-Jung parecia calma, mas fria. Gi-Gyu a observou em silêncio, esperando que ela perguntasse o que a estava incomodando.
— Por que você não matou Kim Sung-Moo? Quero dizer, mesmo que não o mate, pensei… pelo menos descarregasse um pouco da sua raiva nele. — Soo-Jung parecia confusa. — Mas você não fez o que eu esperava. Você impôs restrições a Kim Sung-Moo e o deixou viver. Mesmo se o matasse, não teria sido um problema. Não é como se você tivesse feito um acordo com o governo porque realmente precisava dele.
Soo-Jung estava certa. Gi-Gyu poderia ter matado Kim Sung-Moo e ninguém teria reclamado. Ele duvidava que o governo se importasse se ele matasse Kim Sung-Moo. Pelo contrário, Kim Sung-Moo era um ponto sensível para o governo.
— Mas não havia razão para eu matá-lo — respondeu Gi-Gyu.
— … — Soo-Jung parecia chocada.
— Não tenho o direito de punir um ser humano dessa maneira.
Os olhos de Soo-Jung vacilaram enquanto Gi-Gyu continuava: — Se alguém me ameaçar diretamente ou alguém importante para mim, eu cuidarei deles. Mas…
Com um sorriso amargo, Gi-Gyu acrescentou: — Eu me tornei poderoso. Não posso sair por aí matando pessoas porque elas me irritam. Achei que seria melhor se eu simplesmente tornasse a vida deles miserável.
— Você mudou… — Soo-Jung murmurou enquanto olhava para Gi-Gyu. Um sorriso apareceu em seu rosto enquanto ela continuava: — Mas no bom sentido. Ou talvez você sempre tenha sido assim…
Algo mudou nos olhos de Soo-Jung, mas Gi-Gyu não entrou em pânico. Os olhos dela ficaram violeta, mas não eram hostis com ele.
Soo-Jung estudou Gi-Gyu silenciosamente por um momento antes de murmurar: — Talvez eu tenha julgado você mal desde o início.
Durante o primeiro encontro, ela alegou que ele era naturalmente mau e estava apenas suprimindo sua verdadeira natureza. Gi-Gyu se perguntou se ela se lembrava daquele dia.
— Seus olhos. — Gi-Gyu perguntou: — Eles não são apenas Olhos Malignos normais, são?
— …
— Eu também tenho um Olho Maligno violeta. — Os olhos de Gi-Gyu ficaram violetas assim como os de Soo-Jung. — Como você afirmou, o Olho Maligno violeta permite que você veja a verdadeira natureza do seu inimigo. Mas…
Gi-Gyu acrescentou calmamente: — O seu é diferente. Seu Olho Maligno é…
Antes que Gi-Gyu pudesse terminar a frase, Soo-Jung se afastou dele.
Ela disse: — Tanto faz. Tudo que eu queria saber era sua condição. Ainda está instável, mas… Neste momento… não sei. Acho que disse algo que não deveria. Você deveria descansar, aluno.
Soo-Jung saiu e Gi-Gyu não a impediu nem fez mais perguntas. Ele apenas sorriu.
Foi então que a voz de Hal soou na cabeça de Gi-Gyu.
– Go Hyung-Chul chegou.