Capítulo 318
Os Anjos Caídos (2)
Fwoosh.
Um vento gelado soprava no campo de batalha silencioso. Podia-se ver uma montanha de cadáveres pingando sangue verde. A carne estava caindo das carcaças e o sangue verde era venenoso o suficiente para queimar o chão.
A montanha de cadáveres era tão alta quanto a Torre Inclinada de Pisa. E Lou se sentou no topo da montanha, bocejando.
— Acho que está quase terminando agora. — Ele olhou ao redor para ver várias áreas ainda em chamas. Ele ainda podia ouvir muitos gritos, mas isso diminuiu dramaticamente desde que ele começou. Parecia que a batalha estava quase acabando agora.
— E essas coisas estão fechando também. — Lou olhou para o céu e viu os raios de luz desaparecendo gradualmente. À medida que a manhã se aproximava, o brilho artificial dos feixes de luz diminuía.
Anjos desceram de todos os feixes de luz. Havia quase mil deles.
‘Não tão ruim quanto a Grande Guerra, mas…’ Lou percebeu que era quase tão ruim. Muitos anjos participaram da guerra; claro, nenhum sobreviveu.
— Ugh — grunhiu um dos anjos na pilha de corpos, suas asas se contraindo.
— Ainda não morreu? — Lou olhou para ele e o esfaqueou. — Vocês amam tanto a paz, então descansem em paz.
A espada negra na mão de Lou acabou com a vida do anjo. Enquanto ele recuperava sua espada, Lou sorriu: — Bem, acho que talvez você não consiga descansar de verdade.
Um momento depois, o cadáver do anjo se contorceu estranhamente antes de se transformar em pó negro, que Lou absorveu.
— Não posso acreditar que todos vocês se tornaram corruptos. Que ridículo. — Um sorriso estranho apareceu no rosto de Lou. Ele quase parecia um pouco desgostoso.
‘El… Aquela garota deve estar muito triste e zangada.’
El finalmente encontrou os outros anjos, mas todos eles se corromperam e queriam matar seu precioso mestre. Lou não percebeu isso a princípio, mas à medida que lutava com mais deles, ele aprendeu a verdade.
— A esta altura, ela também deve saber. — Lou tinha certeza de que El, que acompanhara Gi Gyu ao Vaticano, também descobrira a verdade.
‘Não existe mais alguém da espécie dela.’
El estava desesperada para encontrar e proteger seus anjos. Ela queria recuperar a antiga glória de sua espécie, mas os reverenciados anjos que trabalhavam para Deus já não existiam mais. Agora, não eram anjos nem demônios. Eram seres grotescos que queriam a extinção de todas as outras criaturas.
— Tsk — Lou estalou a língua quando percebeu que estava preocupado com El.
— Eu queria tanto que ela morresse… — Ele não conseguia acreditar como as coisas haviam mudado. Era tudo por causa de Kim Gi Gyu.
— De qualquer forma, acho que finalmente acabou. — O último feixe de luz desapareceu e não houve mais portas do Vaticano que iluminassem Roma. Quanto aos anjos que desceram a Roma, estavam todos mortos.
— Coff… coff… O que é tudo isso…? — Tao Chen subiu a pilha de cadáveres. — Isso está bem ruim…
Sun Won e Tao Chen estavam por perto, mas Lou não se incomodou em cumprimentá-los. Na verdade, ele olhou friamente para Tao Chen. Parecia que Sun Won tinha dificuldade para respirar por causa da fumaça tóxica. Ele se afastou um pouco.
— Precisamos cuidar disso quando Kim Gi Gyu retornar. Apenas se certifiquem de que os humanos não se aproximem — Lou ordenou.
— Ah… claro.— Sun Won se curvou respeitosamente para Lou. Ele não sabia a identidade exata de Lou, mas os dois chifres na testa de Lou eram demonstrativos. Sun Won teve dificuldade em manter a calma diante de uma criatura tão poderosa.
Lou disse a Tao Chen: — Você é muito bom. Estou impressionado com quantos Querubins derrotou.
O olhar frio de Lou se transformou num estranho interesse.
Tao Chen respondeu: — Todas as lutas terminaram. Os jogadores estão atualmente protegendo os cidadãos romanos, então…
Tao Chen desembainhou a Lâmina Crescente do Dragão Verde e apontou para Lou. O rosto de Lou se contraiu, mas ele também sacou a espada.
Tao Chen perguntou categoricamente: — Eu adoraria aprender com você.
— Você… — Lou desceu da pilha — As coisas tomaram um rumo interessante para você, não foi?
Uma expressão estranhamente competitiva apareceu no rosto de Lou. Quando Tao Chen estava no Éden, ele desafiou Lou destemidamente. Lou o derrotou instantaneamente, é claro.
Ao contrário dos outros que costumavam treinar gentilmente com Tao Chen, Lou lutava sem piedade.
— Aquela ferida que você me deu ainda dói — murmurou Tao Chen. Lou deixou um longo corte nas costas e nem mesmo El conseguiu curá-lo. Desde então, Tao Chen pediu outra partida a Lou várias vezes, mas ele o ignorou.
E agora, no meio da Roma em chamas, onde os gritos e berros ainda eram abundantes, Tao Chen pediu a Lou para um duelo.
— Isso vem de algum tipo de sede de sangue? — perguntou Lou.
— Você sabe que não é isso— murmurou Tao Chen.
— Hehe. — Lou sorriu. — Tudo bem. Vamos fazer isso.
Era a primeira vez que Lou aceitava o desafio de Tao Chen desde a primeira e única batalha.
Lou explicou: — Eu quero ver o que um governante recém-desperto pode fazer.
— …
Assim como Lou havia afirmado, Tao Chen se tornou governante durante a batalha. Anteriormente, ele tinha ouvido a voz de Gaia.
[Você satisfez todas as condições para se tornar um governante.]
[Você obteve o direito de se tornar um governante.]
***
— Temos que criar um lugar para abrigar os não-jogadores! — ordenou o líder de um grupo de jogadores.
— Mas há muitos deles! E por causa dos edifícios destruídos e dos cadáveres, não há espaço suficiente! — seu subordinado respondeu.
A batalha acabou, mas agora eles estavam enfrentando outro problema. Seus inimigos pararam de se mover, mas os gritos e berros do povo continuaram.
— Droga! Onde está o gerente de filial Alberto?! E quanto a todos os outros líderes?! — gritou um funcionário da associação que ajudava os evacuados. Todos ficaram frustrados porque todas as figuras políticas de nível de liderança e o gerente da filial da associação estavam desaparecidos. Ninguém sabia onde eles estavam. Pelo que sabiam, essas figuras importantes já poderiam ter morrido.
Ou talvez eles tivessem fugido em busca de segurança.
— Por favor, venham por aqui!
— Ajudem primeiro os idosos e as crianças!
Os jogadores das guildas italianas, chinesas e coreanas trabalharam duro para recuperar a ordem. Era impossível dizer como essas guildas conseguiram chegar tão rápido. Se não fossem eles, Roma teria desaparecido do mapa.
Só então, alguém se aproximou dos jogadores que trabalhavam. Ele parecia muito familiar para eles.
— Sr. Heo? — o jogador responsável perguntou.
— Prazer em conhecê-los — cumprimentou Sung-Hoon. Os jogadores italianos já haviam sido informados de que Heo Sung-Hoon liderava os jogadores coreanos como chefe da nova associação chamada Éden.
— O gerente da filial, Alberto, e os outros líderes ficaram gravemente feridos — explicou Sung-Hoon.
— …!
— Então posso confiar em você para assumir? — Sung-Hoon perguntou.
O homem não hesitou por muito tempo. — Claro.
O jogador italiano gostaria que alguém lhe tivesse contado isso antes. Ele estava trabalhando cegamente enquanto sua frustração aumentava. Como o líder dos jogadores coreanos o convidou oficialmente, ele agora poderia assumir legitimamente o comando. Afinal, se o gerente da filial e os demais dirigentes se lesionassem, era ele quem deveria comandar os jogadores italianos.
Observando o jogador italiano, Sung-Hoon murmurou: — Ele tem talento.
Gi Gyu e Alberto lhe contaram com antecedência sobre esse jogador em particular. Eles lhe garantiram que este homem não era um espião ou outro tipo de inimigo. Foi por isso que Sung-Hoon lhe pediu ajuda.
— Haa… — Sung-Hoon suspirou, com as pernas latejando. Lenta mas seguramente, a ordem regressou a Roma. Agora, ele tinha que voltar ao Coliseu.
‘Alberto…’ Sung-Hoon se preocupou. Alberto ficou gravemente ferido durante a batalha.
— Ranker Kim Gi Gyu… — Sung-Hoon começou a arrastar a perna para andar. Se não fosse pelas penas de El e de Alberto, a gigantesca explosão de energia teria matado ele e Alberto. Alberto usou todo o seu poder para salvar Sung-Hoon, o que resultou em Alberto recebendo a maioria dos ferimentos que Sung-Hoon deveria sofrer. Por isso Alberto ainda estava no Coliseu sendo tratado.
— Droga — Sung-Hoon xingou. Ele desejou que Gi Gyu voltasse logo e resolvesse esta situação. — Acho que devo rezar para que as coisas no céu estejam indo bem.
Sung-Hoon fez tudo que pôde. Ansioso, ele correu mais rápido em direção ao Coliseu.
***
— As coisas também devem estar melhorando por ali — sussurrou Gi Gyu, olhando para baixo. Depois de entrar no Vaticano, ele não conseguiu contatar seus Egos. Parecia quase a mesma dificuldade que ele teve quando Michael tentou contatá-lo. Mas Gi Gyu ainda sabia como seus Egos estavam se sentindo.
— Fico feliz em ouvir isso — respondeu El.
— El…
El suspirou ao ouvir Gi Gyu e parou. Depois de entrar no castelo, ela estava se movendo mais rápido. Até Gi Gyu sugeriu que ela fizesse uma pausa.
— O que há de errado? — Gi Gyu perguntou. Não havia inimigos ao seu redor. Aqueles que os atacaram já estavam mortos no chão. E como a maioria dos residentes – anjos – havia descido, fazia sentido que eles não tivessem que lutar muito.
O problema era que o castelo era enorme e tinha um layout complicado. Consequentemente, eles estavam avançando lentamente.
— Este lugar também é familiar para você? — perguntou Gi Gyu.
El se moveu sem hesitação, como se conhecesse muito bem o lugar.
El assentiu. — Sim.
Ela deve ter pensado que deveria aceitar a sugestão de Gi Gyu para descansar porque começou a andar.
— Este lugar é… — ela fechou os olhos como se estivesse relembrando — …o sétimo Keter.
— Keter?
El abriu os olhos e olhou para Gi Gyu. — Este é o castelo onde eu e outros arcanjos residíamos.
— …
— Não é o mesmo castelo, mas eles conseguiram… reproduzi-lo bem.— El olhou em volta.
— El, você realmente acha que Gabriel está aqui?
— … — El parou quando Gi Gyu perguntou.
Os dois não vieram até aqui cegamente apenas para matar anjos. Eles notaram algumas coisas estranhas, uma das quais era que os anjos pareciam se ressentir de El. Tanto El quanto ele leram as memórias de cada anjo quando chegaram aqui. Eles não conseguiam ler tudo, talvez porque suas memórias estivessem parcialmente bloqueadas de alguma forma, mas aprenderam o suficiente para saber que este lugar era governado por um papa chamado Gabriel.
Gi Gyu e El sabiam que o dono desse nome era diferente do papa da Terra.
— Você acha que Gabriel corrompeu todos os anjos aqui? — Gi Gyu perguntou. No caminho para cá, eles descobriram que todos os anjos do Vaticano foram corrompidos. Gi Gyu suspeitou que El sabia mais, mas que optou por não contar a ele. Era difícil para ele entender por que El e os anjos se odiavam tanto.
— Tenho certeza de que ele está aqui — respondeu El.
Gabriel havia caído no espaço onde Caos residia. Tinha trabalhado com Cronos para traí-la.
— E aqui está ele. — El se virou para olhar alguma coisa.
Creak.
Uma porta apareceu de repente. Abriu e quando uma figura saiu, Gi Gyu murmurou: — Michael…
O homem que saiu não era outro senão o homem que eles estavam aqui para resgatar.
